Volume 1

Capítulo 9: Ilha Jaisen

Um pirata aproximou-se da porta da cabine e deu um chute forte, quebrando a madeira em pedaços. Ele era alto, por isso teve que abaixar a cabeça para entrar nela. Do lado de dentro, observou a sala. O pirata também carregava uma espada consigo, que era uma lâmina curvada similar a um sabre.

Ele conseguiu ver um bando de tralha inútil em cima de uma mesa, um quarto pequeno que achou insultante para alguém como ele e, em cima de uma cama, viu o enorme monstro verde grotesco que mal cabia nela.

Atrás do ser, ele observou um homem vestido de preto oculto nas sombras, apenas a silhueta dele podia ser vista. 

— Capitão Amon! Eu encontrei eles! — Ele virou-se para o quarto e deu uma segunda olhada. — Não tem nenhuma menina aqui, acho que ele mentiu! Corte mais um dedo para ele aprender a não mentir! Hahaha

O pirata riu em voz alta e continuou a observar a silhueta que continuava parada. Ele sentiu o coração acelerar, mas não recuou. O homem não entendia a razão para o seu coração acelerar, mas apenas observar aquela sombra lhe causava calafrios.

“Eu estou com medo dessa sombra?”, pensou o pirata ficando cheio de raiva.

Adentrando na cabine, deu alguns passos na direção da sombra. De repente, a silhueta também se moveu, dando um passo à frente, fazendo o sol tocar o seu rosto. Fumaça começou a ser expelida pelo rosto do elegante homem que apareceu.

Vendo aquilo, o pirata ficou boquiaberto, nunca antes presenciou um olhar tão obscuro e frio. Aquele homem na sua frente parecia lhe olhar de cima e isso o irritou profundamente.

— Você! Quem você acha que é?! — exclamou o pirata, mas não recebeu atenção.

Morpheus deu alguns passos à frente, aproximou-se de Ângela e tocou seu rosto com certo carinho.

— Deixe que eu cuido disso, descanse.

Ei! Seu desgraçado! Não me ignore! 

O pirata enfurecido correu na direção do inimigo, partindo com sua espada desembainhada. Ele segurava a lâmina para frente, acertando o teto de madeira e deixando uma marca profunda. Ao aproximar-se de Morpheus, cortou para baixo e soltou um sorriso, pois achou que havia eliminado o inimigo.

“O capitão pediu para levar ele vivo, mas eu não me importo”, pensou ele.

Morpheus viu a lâmina se aproximar. Em sua visão, os movimentos eram todos falhos, não havia técnica, apenas pura brutalidade, era até risível. 

A lâmina chegou perto, tão perto que Morpheus conseguia sentir o cheiro de ferro no ar, mas, com um único passo para o lado, ele desviou do ataque e, posicionando sua mão para frente, com um rápido movimento, ele jogou seu corpo em direção ao inimigo em uma velocidade absurda.

O pirata grosseiro nem mesmo viu o que lhe atacou, pois achou que havia acertado em cheio, porém, logo em seguida, sentiu o ar fugir dos pulmões. Em desespero, ele viu o próprio corpo ser levantado até o teto da cabine e, com um forte impacto para cima, sua cabeça atravessou a madeira.

A dor percorreu o seu corpo e o sangue começou a escorrer das feridas, caindo diretamente na cabeça do seu atacante que o levantava com uma única mão. O pirata tentava fugir, arranhava e puxava as roupas de seu atacante, porém, nenhum resultado foi visto.

Com um olhar vazio, Morpheus observou o pirata e pressionou ainda mais o pescoço do homem que já tinha as veias saltadas e o rosto pintado em uma cor arroxeada.

— Soco-orro... — engasgou o homem com os olhos revirados.

Ao olhar para baixo, encarou os olhos negros do atacante e viu o seu próprio sangue pintado no rosto dele. Entretanto, algo chamou sua atenção.

“Ele... está pegando fogo?” Esse foi o último pensamento do homem, pois, com um movimento rápido com o pulso, Morpheus quebrou o pescoço dele.

Desde que chegou a ilha, Morpheus sempre mantida um rosto frio, ilegível, mas, naquele momento, um pequeno sorriso surgiu no canto do rosto dele enquanto abria a boca e sentia o sangue do pirata cair em sua língua.

— Que gosto horrível... mas é melhor que nada. 

Morpheus arremessou o pirata para o lado de fora e seguiu em direção ao convés. 

“Eu vou cuidar de tudo...”

Amon sentava-se no corpo do gordo e brincava com uma pequena adaga, passando ela entre os dedos. A lâmina estava suja de sangue e, observando o gordo no chão, era um tanto perceptível que se tratava do sangue dele. A alguns metros do corpo havia um pequeno dedo no chão, o capitão pirata queria ter certeza de que tudo que ouvia de Willy fosse verdade.

— Necessitou de apenas um dedo para ele cantar feito passarinho! — exclamou um dos piratas.

— Capitão, o que vamos fazer com eles? — perguntou outro com um sorriso perverso na direção dos marujos que tremiam no chão.

Os piratas riam dos marujos desesperados, por outro lado, Amon continuou calmo, apenas observando à porta da cabine que ficava no canto do convés perto do timão, um de seus homens havia entrado ali, mas não saiu.

Logo, Amon descobriu o que houve com o homem. Um cadáver saiu voando de dentro da cabine, em seguida, um homem todo de preto saiu. Suas roupas pegavam fogo, mas ele parecia não se importar, apenas encarava os piratas.

“Onde está Sienna?”, pensou Morpheus. Ele procurou a menina rapidamente pelo convés, conferindo toda a situação, também notou o estranho homem magro. Ele sentiu o sol queimar sua pele e soltou um suspiro. “Tenho que acabar com isso rápido...”

Erguendo a mão esquerda para cima da sua cabeça, começou a reunir mana. O cadáver caído chão se revirou, contorceu e tremeu, batendo com força na madeira e assustando todos que estavam por ali.

— Capitão, ele não está morto?

— Silêncio! — Amon encarou a figura estranha e o cadáver com atenção. — Esse homem é interessante.

O cadáver continuou se debatendo como se estivesse possuído por algum demônio, a pele dele começou a ficar branca, os braços e pernas secaram e ficaram iguais a galhos de uma árvore seca. Logo, o corpo inteiro secou por inteiro e apenas uma múmia restou caída no chão.

Sangue começou a vazar pela boca, ouvidos e olhos do cadáver. Vendo aquela cena grotesca, muitos marujos desmaiaram e alguns piratas, mesmo fazendo coisas brutais, vomitaram nauseados pela cena. 

Amon puxou um par de espadas curtas curvadas na ponta e ficou em guarda. Ele percebeu no momento em que encarou o homem em chamas, aquele ser era um verdadeiro monstro.

Hahaha sorriam homens! A morte chegou. 

 

 

Os dois caminhavam em um ritmo lento, pois a estrada era tortuosa, cheia de buracos e galhos de árvores. Truman estava em uma situação bem melhor que Sienna, para ela dar cada passo era como um inferno.

— Vai demorar muito para chegarmos?

— Não, a cidade é logo após aquela colina.

Eles já caminhavam há horas, Sienna estava toda molhada de suor, seus pés doíam e uma raiva se acumulava em relação ao jovem. A menina não aguentava o calor, sentia falta de sua mãe e os pontos que Truman tinha com ela já estavam no negativo.

“Será que o Senhor Furlan está bem?”

Apesar do curto espaço de tempo que permaneceram juntos, Sienna se importava com a segurança do homem, mesmo ele sendo sempre frio com ela. Em sua mente, ela já enxergava Morpheus como seu mestre.

A magia que ele usou chamou muito a atenção de Sienna. A jovem, apesar de tudo, ainda tinha um sede insaciável por conhecimento e aquele homem poderia lhe proporcionar algo que nem imaginava.

Ao final, Sienna não conseguia distinguir isso. Ela não sabia se realmente se importava com o homem ou apenas com o conhecimento que ele tinha, para ela era quase a mesma coisa, um pensamento um tanto egoísta, mas quem poderia culpá-la por desejar o saber?

Os dois continuaram atravessando o caminho de terra. Logo aproximaram-se da colina de areia e a escalaram devagar. Truman foi o primeiro a chegar no topo.

— Venha ver, Sienna! É uma visão majestosa! — exclamou o jovem com entusiasmo.

“Visão majestosa?”, pensou Sienna com ironia. A jovem não conseguia ligar a palavra “majestosa” com aquela terrível ilha pirata. “O que teria de majestoso neste lugar?”

No topo da colina, Sienna teve que fechar os olhos por um momento pelo brilho do sol. Ela acostumou-se com o brilho e, após colocar a mão acima do rosto, conseguiu enxergar a cidade portuária à frente.

Edifícios rústicos feitos de barro constituíam a maior parte da cidade, todos pintados com belas cores, alternando entre vermelho e amarelo, também havia tapetes grossos e grandes que ficavam nas janelas, portas e telhados.

A cidade era toda lotada de vida. Crianças de todas as idades corriam pelas ruas, belas mulheres vestidas com turbantes coloridos feitos de um fino tecido passeavam por aí com cestos, haviam homens de negócios usando roupas aparentemente calorentas vendendo coisas pelas ruas.

A cada esquina da bela cidade havia um artista. Animais como elefantes e vacas percorriam as ruas transportando pessoas ou materiais em cima deles. No final da cidade havia um majestosos porto que tinha múltiplos navios diferentes atracados, navios mercantes, barcos piratas e até frotas navais de outros países.

No meio da cidade havia alguns edifícios diferenciados, três chamaram a atenção de Sienna. Uma estátua enorme no centro da cidade, um enorme prédio na área leste do porto e um estranho coliseu de pedra na zona oeste.

Boquiaberta, Sienna olhou para Truman que, com um sorriso, proclamou:

— Sienna, seja bem-vinda a minha cidade natal com o mesmo nome dessa ilha, Jaisen! 



Comentários