Volume 2

Capítulo 3.5: Faíscas Dispersas no Baile Noturno (2)

O baile noturno no Castelo Libelle era algo pomposo e típico da Nobreza.

Menou estava no salão de dança do Castelo Libelle. Como muitos castelos da Nobreza, o interior estava decorado extravagantemente, com comida e arranjos colocados sobre mesas por todo o salão. Os convidados conversavam entre si enquanto uma música ao vivo fluía pelo salão. Empregados patrulhavam o espaço, constantemente trocando as taças dos convidados. Um magnífico lustre estava pendurado no teto acima de tudo.

Em meio aos diversos convidados usando smokings e vestidos estilosos, Menou está rente a parede como uma flor solitária.

Ela também está usando um vestido deslumbrante.

No fim, Momo cumpriu sua promessa e portanto Menou estava vestindo o resultado de seus esforços. Tecnicamente, também servia como um disfarce.

O vestido lhe dava um ar muito diferente do que quando ela estava usando sua túnica de sacerdotisa. Seu cabelo, normalmente preso em um rabo de cavalo, estava arrumado em um coque solto. Sua marca registrada, sua fita, estava ao redor de seu pescoço.

O olhar de Menou estava fixado em Manon Libelle.

Como o chefe de sua casa e da cidade, Trizista Libelle, estava confinado em seu leito, Manon estava assumindo sua posição. O objetivo principal dessa festa era apresentá-la ao público como tal.

Como anfitriã, ela estava constantemente migrando de grupo em grupo, conversando com a Nobreza e os Plebeus mais ricos.

Inversamente, não havia um único membro da Faust à vista.

Sicilia, a pastora, apenas a cumprimentou brevemente. Era praticamente inédito para alguém da Faust participar proativamente desses tipos de atribuições. A Faust tem tão pouco envolvimento político com as outras classes do reino que é frequentemente vista como arrogante, indiferente, ou extremamente fastidiosa.

E mesmo assim, é a Faust que realiza todos os julgamentos finais entre o certo e o errado.

De certa forma, era compreensível que a Nobreza ficasse insatisfeita com isso. Na verdade, era estabelecido dessa maneira quase que deliberadamente. O desprazer da Plebe era direcionado para a Nobreza, que por sua vez direcionava seu desprazer para a Faust. Essa era a natureza do sistema de três classes.

E o desprazer da Faust? Justo quando ela estava pensando nisso, um sorriso radiante preencheu sua visão.

“Menou! Está se divertindo?”

Era Akari.

Diante dos olhos de Menou estava uma vista familiar e ao mesmo tempo completamente estranha. Assim como Menou, Akari estava usando uma roupa diferente do habitual, mas era uma que Menou via diariamente.

Akari estava usando uma túnica de sacerdotisa.

Seu traje era simples, não alterado como o de Menou ou Momo. Percebendo o olhar de Menou, Akari abriu os braços para se exibir.

Hee-hee, o que achou? Eu sou uma sacerdotisa pura, justa e forte!”

“Idiotas não deveriam usar essas vestes…”

“Você acabou de falar algo muito cruel?”

Menou cobriu seu rosto com uma mão e resmungou enquanto Akari olhava para ela fazendo beicinho.

No fim, ela não conseguiu impedir Akari de acompanhá-la.

Ela não poderia vestir seu uniforme escolar, mas elas não tinham um vestido para Akari. Quando Menou pediu a Momo para modificar o vestido que ela fez para Menou para corresponder às medidas de Akari, Momo teve um ataque de fúria e disse que preferia queimar o vestido do que atender a tal solicitação, então Akari acabou fingindo fazer parte da comitiva da Pastora Sicilia para vir junto.

Sicilia forneceu um traje de sacerdotisa reserva da igreja para ela, mas o resultado não caiu bem, mesmo para uma Executora como Menou.

“Francamente…isso é um insulto e tanto para verdadeiras sacerdotisas e freiras que passam por rigorosos treinamentos e exames.”

“Ah, para, está mesmo tão ruim assim?”

Obviamente, afinal, Menou tinha orgulho como integrante da Faust. Mesmo sendo para uma missão, ainda era vergonhoso permiti-la usar aquele traje.

“Apenas lembre-se de não seguir nenhum estranho, mesmo se eles falarem com você, tudo bem? E não encoste em nenhuma comida ou bebida aqui, não importa o que aconteça. Eu sei que já falamos sobre isso, mas a anfitriã dessa festa tem distribuído uma droga estranha.”

“Eu sei. Você já me disse. O que você pensa que eu sou, afinal?”

“Uma idiota com mentalidade de dez anos, assim como acredito ter dito anteriormente.”

Akari inflou suas bochechas. “Isso não é verdade. Uma pessoa mais cedo disse que eu sou uma moça adorável. Então eu obviamente sou uma verdadeira adulta!”

“São coisas como essa que realmente fazem eu me preocupar com você…”

Akari parecia ser do tipo que cairia em uma conversa suave muito facilmente.

Mesmo assim, desde que elas estivessem aqui, Sicilia provavelmente ficaria de olho nela caso Menou precisasse se afastar.

Esse baile noturno era uma oportunidade perfeita. A equipe do castelo estava ocupada mantendo a festa em funcionamento, e a própria Manon Libelle sem dúvida ficaria presa no salão a noite toda. A segurança do Castelo Libelle estaria com falta de pessoal.

Menou tinha apenas uma preocupação sobre infiltrar-se no interior do castelo.

Ela olhou ao seu redor pelo salão, mas não viu a pessoa em questão em lugar algum.

“Menou? O que houve?”

“…Preciso me ausentar por um minuto. Lembre-se, não deixe ninguém te convencer a acompanhá-los.”

Aww…”

Ignorando a lamentação de Akari, Menou entrou em ação.

A festa estava começando a atingir o seu ápice. Decidindo que esse era o melhor momento para agir, ela se afastou da parede. Ela tinha uma ideia aproximada de onde os guardas estavam localizados. Menou começou a andar com passos casuais.

Desprendendo-se do seu papel como flor solitária, ela se esgueirou pela multidão de pessoas. Colocando sua taça intocada na mesa, ela tem o cuidado de considerar como os outros a vêem, conscientemente se comportando da forma mais natural possível para não se sobressair na mente ou nas memórias de alguém.

Nenhum dos convidados notou Menou.

Evitando a atenção dos outros com sucesso, Menou atravessou o salão sem ser chamada ou notada por alguém.

Ao sair para o terraço, o ar frio da noite acaricia sua pele. Olhando para o céu, ela respira fundo. O tempo parecia estar nublado, pois a lua e as estrelas estavam invisíveis no céu noturno.

“Sem proteção da Santa Marta, então…”

Enquanto se dirigia para a área residencial, Menou despreocupadamente murmurou uma frase de um conto de fadas sobre uma santa que controlava os milagres da lua, cujo retrato estava esculpido na moeda de cinco in.

Muito provavelmente, os guardas dentro da propriedade não seriam um problema. Enquanto ela estava investigando, apenas uma questão a preocupava.

Se por acaso ela cruzasse com esse problema, como ela lidaria com ele?

Menou cogitava sobre isso conforme caminhava. A única maneira de deixar o terraço era indo em direção à mansão por um caminho rodeado com arbustos altos. Ela seguiu esse caminho para o círculo interno do castelo, separado do jardim por arbustos cuidadosamente arrumados, quando de repente escutou uma voz.

“Devo admitir, você se destaca em ocultar sua presença.”

Alguém estava se dirigindo a ela do jardim do outro lado dos arbustos.

Menou estreitou seus olhos e congelou. Ela sentiu que havia alguém além dos arbustos, mas certamente não esperava que este falasse com ela.

Em seguida, escuta-se o barulho de arbustos sendo empurrados. A pessoa do outro lado estava tentando forçar seu caminho pelo muro de arbustos.

Enquanto Menou ficou espantada com a pura força, a pessoa atravessou os arbustos atrás dela. Menou começou a se virar, depois decidiu continuar olhando para frente.

A pessoa que acabou de aparecer dificilmente a atacaria pelas costas.

“Você se mistura com seus arredores muito bem. Ao invés de evitar os olhares das pessoas, você se certifica de que elas não notem você mesmo se a verem, né? Sua invisibilidade foi tão natural que você até poderia ter passado despercebida por mim.”

Menou silenciosamente condenou a voz familiar. Ela soube através de Momo que essa pessoa havia sido convidada. Ela ficou atenta a essa pessoa no baile e até suspeitava que isso pudesse acontecer.

E efetivamente, ela também já estava infiltrada na área interna. Era coragem da parte dela tentar fazer isso sem nem conhecer a estrutura, ou apenas imprudência? Menou hesitou por um momento antes de julgar que ela era exatamente como os rumores diziam.

“Uma amiga minha disse que eu não parecia ser boa em me espreitar, então queria provar que ela estava errada. Eu investiguei um pouco, mas não esperava encontrar outra pessoa fazendo o mesmo. Parece que Manon Libelle também tem muitos inimigos.”

Essa mulher não faz nenhum esforço para esconder sua natureza, não importa a quem esteja se dirigindo. Seu tom é imperioso, e não há um sinal de hesitação em sua presença avassaladora. Mesmo sem se virar, Menou sabia claramente que ela estava exibindo um largo sorriso enquanto falava.

Provavelmente, tudo isso fazia ela parecer não servir bem para se esgueirar, mas claro que nada disso importava para Ashuna.

No que lhe dizia respeito, ela não precisava esconder nada sobre si mesma.

“Eu sou Ashuna Grisarika, uma cavaleira e Princesa do adjacente Reino de Grisarika.”

Era ninguém menos do que a Princesa Cavaleira que orgulhosamente se apresentou para Menou. Ela era tão cheia de vida que muitos a admiram.

“E quem seria você?”

Seu tom era confiante. Pressionada, Menou contorceu o rosto.

Em seu traje atual, ela deveria ser capaz de lidar com isso facilmente. Ela estava usando um vestido, então poderia apenas fingir ser uma jovem mulher da Nobreza ou algo parecido. Pelo menos, não havia nada que pudesse revelar o fato de que ela realmente era uma sacerdotisa. Ela poderia simplesmente dizer que foi até o jardim para tomar um ar.

Mas considerando as futuras possibilidades, ela não queria que Ashuna visse seu rosto.

Será que ela conseguiria se safar dessa? Menou tentou respondê-la sem se virar.

“Acontece que uma de minhas criadas saiu de fininho do trabalho para um encontro secreto. Pensei em procurá-la e repreendê-la.”

“Que desculpa esfarrapada.” Ashuna viu através de sua mentira instantaneamente. “Uma pessoa da Nobreza não seria ensinada a esconder sua presença dessa forma. Não se espera que essas pessoas lutem, afinal.”

“...Seguindo essa lógica, como você foi capaz de detectar minha presença, isso não significaria que você também não é da Nobreza?

“A Ordem dos Cavaleiros é uma exceção. Cavaleiros buscam o campo de batalha pelo bem da paz. Não se espera que sejamos meigos, mas sim fortes. Você alega ser uma cavaleira?”

O raciocínio de Ashuna era egocêntrico, porém lógico. Menou encolheu os ombros.

Então não havia maneira dela escapar disso na conversa. Não era uma situação ideal. Ou talvez… Menou subitamente pensou numa possível razão para as coisas terem se desdobrado dessa forma.

Talvez Manon Libelle houvesse convidado Ashuna e deixado ambas se esgueirarem para que batessem de frente.

“Que exasperante…”

“Disse alguma coisa?”

“…Não.”

Se ela caminhou direto para uma armadilha, foi um erro inteiramente dela.

Suponho que não tenho escolha, então, Menou pensou enquanto se virava.

 

*

 

Quando a outra pessoa finalmente se virou, Ashuna ergueu suas sobrancelhas.

Mesmo agora elas estando frente a frente, Ashuna não conseguia ver seu rosto.

A princípio, parecia ser um truque da luz, ou talvez ela estivesse usando um véu fino, mas não. Seu rosto estava obstruído por algo como uma neblina negra. Obviamente era um fenômeno proposital.

Esconder seu rosto é a maneira mais efetiva de evitar que os outros obtenham qualquer informação pessoal sobre você. E o mais intrigante de tudo, Ashuna não conseguia compreender como ela estava produzindo a névoa para fazer isso.

Deveria ser algum recipiente Etéreo incomum, ou um brasão contínuo que ela ativou de antemão, ou talvez uma técnica totalmente nova que Ashuna nunca havia ouvido falar.

Em todo caso, estava claro que essa pessoa realmente não queria que seu rosto fosse visto. Parece que sua voz foi alterada, também. Ela estava usando um vestido adorável, mas era óbvio que ela não era apenas uma jovem mulher nobre comum.

“Acabaram-se as mentiras, é? Aprecio que tenha largado as desculpas fracas, mas você é realmente tão tímida ao ponto de não conseguir me mostrar seu rosto?”

“Eu levo uma vida humilde, então sei o meu lugar, só isso. Se honestidade lhe agrada, então se importaria de me deixar prosseguir?”

“Sinto muito, mas eu sempre sinto a ânsia de lutar contra figuras suspeitas.”

“…Perdoe-me por dizer isso, mas estou impressionada que tenha conseguido se tornar uma cavaleira com essa atitude.”

A Ordem dos Cavaleiros tem a permissão para carregar uma espada na cidade. Como a função vinha com uma autorização de porte de arma, o treinamento requerido para aderir era intenso o bastante para se equiparar ao das sacerdotisas. Ashuna entendeu porque a mulher misteriosa podia estar perplexa, mas a Princesa simplesmente riu.

Pah, um pouquinho de imprudência é permitido se for pelo bem de proteger a paz, só isso. Agora, no que me diz respeito, ficarei feliz em manter minha espada embainhada se você me mostrar seu rosto e se explicar. Na verdade, eu até estaria disposta a considerar ajudá-la, dependendo do seu objetivo.”

“Acho que você sabe tão bem quanto eu que não farei isso. Em outras palavras, Sua Alteza, a senhorita deseja lutar comigo?”

“Fico contente que seja tão rápida na absorção.” Ashuna sorriu e sacou sua espada. “Sabe, eu posso dizer o quão forte alguém é só de olhar. Sabia que pessoas fortes são bonitas? Por isso estou disposta a apostar a vida na minha jornada em busca de força.”

“É mesmo…?”

Enquanto a jovem mulher respondia, ela virou a bainha do vestido para cima e colocou a mão em sua coxa. Com uma agitação de sua saia, ela sacou uma adaga e ficou em postura de batalha.

Oh-ho…” Ashuna olhou para a lâmina silenciosamente sacada e assobiou, impressionada.

O corpo de sua inimiga parecia relaxado, e ela segurava a adaga com espontânea familiaridade. Sua postura parecia natural, quando na realidade, não havia brechas em suas defesas. Ashuna num instante sabia que sua proficiência era louvável.

O prolongado eco de sua conversa deixou o ar entre elas ligeiramente relaxado. E então, ambos os seus corpos se iluminaram com o brilho de Luz Etérea.

Aprimoramento Etéreo é uma técnica que extrai poder da alma e a utiliza para aumentar a força física geral do usuário. Uma vez que ambas estavam fortalecidas, Ashuna foi a primeira a atacar.

Não era uma investida tão imprudente como se ela estivesse tentando vencer no primeiro golpe, mas assertividade estava na própria natureza de Ashuna Grisarika.

Hyah!” Ashuna fez um corte para baixo com uma respiração aguda, mas sua oponente não tentou bloquear o ataque com sua adaga.

Ao invés disso, ela manteve sua adaga levantada enquanto deslizava para o lado, esquivando-se do golpe de Ashuna. Um meio passo a moveu para fora do trajeto da espada longa, e ela balançou seu braço enquanto a lâmina passava por ela.

Antes que Ashuna pudesse mudar a direção de seu golpe, a adaga de sua oponente atingiu a espada.

Ela não conseguiu mover sua lâmina imediatamente. No instante seguinte, a outra combatente lançou-se para perto dela, colocando-a no alcance da adaga. A espada de Ashuna não seria útil a uma distância tão curta. A lâmina de sua oponente brilhou.

Ashuna rangeu seus dentes. Com um sorriso feroz, ela usou a junta de proteção do cabo de sua espada e afastou a adaga vindo em sua direção. Socando para frente com o cabo, ela se moveu para atingir sua oponente com seu pomo, ou assim parecia.

Era uma finta.

Ainda inclinada para frente, Ashuna disparou sua perna em direção à cabeça de sua oponente. Seu chute era tão forte que se colidisse com o nariz dela, provavelmente esmagaria seu rosto. Se ela insistisse em permanecer no alcance da adaga, seria difícil desviar.

Mas em vez disso, sua oponente abriu mão de sua curta distância e saltou para trás. Ambas assumiram posturas ofensivas novamente, como se tivessem voltado à estaca zero.

“…Hmph.” Ashuna soltou um suspiro descontente.

Após trocarem alguns golpes rápidos, diversas coisas ficaram claras para ela. Essa oponente era forte. Ela tinha um talento notável. Mas também era óbvio que seu coração não estava nesta luta. Suas reações moderadas mostravam que ela não queria uma batalha total.

“Então seu coração não está nisso, né? Bom, suponho que fui eu quem veio atrás de você primeiro.”

“De fato.”

Também não havia entusiasmo em sua resposta. Evidentemente, ela não iria atender ao desafio de Ashuna. Neste aspecto, Momo era fácil de entender e charmosa à sua maneira, mas… Ashuna apertou seus lábios.

Então irei simplesmente extrair seu desespero. Ashuna impulsionou o nível de seu Aprimoramento Etéreo.

A luz ao redor de seu corpo ficou mais brilhante, expelindo a escuridão da área ao seu entorno.

Essencialmente, ela queria que sua oponente sentisse que não tinha escolha a não ser lutar devidamente, ou ela nem seria capaz de fugir. Respirando fundo, Ashuna preparou sua espada longa.

A postura de sua oponente não mudou nem um pouco.

Uma confiança impressionante. Os cantos dos lábios de Ashuna curvaram-se para cima.

A partir de uma posição de prontidão para um ataque instantâneo—ela saltou para frente rápido o bastante para atear fogo no ar. Em seu passo seguinte, ela estava no alcance de sua oponente e lançou uma estocada rápida como um relâmpago.

Aparentemente surpreendida com o súbito impulso de velocidade, sua oponente defendeu diretamente com sua adaga. Tola. Seus ataques não eram tão leves para poderem ser bloqueados com apenas uma adaga; ela atravessaria com seu corte. Tomando uma decisão rápida, Ashuna dobrou a força de sua estocada.

O brasão na adaga de sua oponente brilhou.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]

Uma rajada de vento saiu da adaga.

A conjuração foi construída e invocada num piscar de olhos, pressionando Ashuna para trás. Isso deu à portadora da adaga a força extra que ela precisava para bloquear a espada da princesa.

Com seu ataque impedido, Ashuna murmurou em admiração apesar disso. “Magnífico.”

Foi uma manobra digna de um elogio sincero.

Seu controle sobre a Força Etérea era perfeito. Seu julgamento da força que ela precisava para repelir a estocada de Ashuna, impecável. Sua coragem em impedir um ataque que poderia facilmente tê-la matado se ela cometesse um único erro, notável. E acima de tudo, sua construção da conjuração de brasão foi exponencialmente mais veloz do que Ashuna seria capaz. Ela não se considerava ruim em invocação de brasões de forma alguma, mas claramente a pessoa diante de seus olhos estava em outro nível.

Ela só poderia ter realizado isso com treinamento diligente e uma vontade inflexível.

Quando duas pessoas usando Aprimoramento Etéreo cruzam espadas, o tamanho de suas lâminas escolhidas dita o quanto de Força Etérea elas podem utilizar para carregar suas armas. Os materiais podem afetar o quão bem seu poder flui, mas geralmente, quanto maior a arma, mais ela pode conter.

Isso significa uma diferença de peso e força.

Mas a pessoa que Ashuna estava enfrentando agora estava compensando a diferença em suas Forças Etéreas com pura habilidade.

Força Etérea: Conectar—Espada Real, Brasão—

Experimentalmente, enquanto mantinha sua oponente travada no lugar com suas lâminas colidindo, Ashuna carregou sua espada com Força Etérea à queima roupa.

O brasão da espada real começou a invocar um fenômeno, enviando ondas de calor. Seria uma questão de segundos antes de desencadear a conjuração.

Então, a adaga na mão de sua oponente brilhou novamente.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Invocar [Vendaval]

Antes que as chamas criadas por Ashuna pudessem se contrair e explodir, uma rajada de vento saiu da adaga.

Invocar [Rajada de Chamas]

A explosão foi invocada um instante depois, mas a maior parte das chamas já haviam sido sopradas para longe. Teve tanta força quanto um fogo de artifício humedecido. Normalmente, ela iria em direção ao alvo, mas o vendaval que havia interrompido a invocação dispersou a maior parte de seu combustível e reduziu bastante a força por trás.

As chamas enfraquecidas queimaram ligeiramente a bochecha de Ashuna conforme se dispersaram.

“…Oof!

O brasão que ela começou a invocar primeiro foi completamente superado. Sua oponente viu Ashuna invocar seu brasão, deduziu qual conjuração ela estava tentando usar e construiu uma própria com incrível velocidade e controle.

Quem quer que ela fosse, suas habilidades eram absolutamente lindas.

Era raro ver esse nível de talento em todos, exceto os cavaleiros da maior elite, através do continente, ou até dentre a Faust. Ela tinha a habilidade de reagir a todos os tipos de situações, em vez de simplesmente tentar matar. Ela não era uma pessoa que havia sido treinada para ser usada e descartada. Ela estava destinada a cumprir suas missões, sobreviver às batalhas e viver mais um dia.

Um arrepio de prazer percorre a espinha de Ashuna.

“Muito bem.”

Suas bochechas estavam tão coradas que o calor das faíscas se dispersando tinha pouco efeito. Seu coração estava acelerado e havia um anseio em seu peito que propagou um tremor de excitação por todo seu corpo. Era como se uma estranha corrente elétrica estivesse correndo por ela. A Luz Etérea ao redor do corpo de Ashuna ficou mais forte com seu espírito elevado.

Ela sorriu ferozmente.

“Parece que não sou párea para você em termos de controlar Luz Etérea—mas tenho a vantagem em combate a curta distância!”

Sua espada soltou um estrondo.

Houve um clarão poderoso que pareceu ter envolvido o ar em torno delas. Sua oponente desviou para o lado com uma suave manobra evasiva. Esse era o movimento correto: um único golpe de Ashuna era forte demais para defender mesmo com Aprimoramento Etéreo. Ela partiu para um voleio de ataques rápidos demais para bloquear sem ser esmagada.

Mas não tinha como sua oponente continuar desviando sem defender ou contra atacar por muito tempo.

Seu volume de Luz Etérea era mediano, no máximo—não chegava nem perto da quantidade de Ashuna. Por isso ela decidiu superá-la com puro poder. Ao invés de uma batalha de habilidade, Ashuna estava forçando ela a uma competição de força com seus ataques agressivos.

Finalmente, sua oponente foi empurrada para a defensiva. Ela conseguiu defender um ataque. Mas o recuo deve ter adormecido sua mão, forçando ela a derrubar sua adaga.

Ashuna havia vencido.

Ou assim ela pensou.

Força Etérea: Conectar—Adaga, Brasão—Dupla Invocação [Fio Etéreo, Vendaval]

Antes que Ashuna pudesse brandir sua espada novamente, sua oponente usou uma conjuração de brasão.

A adaga em queda foi empurrada de volta para o ar e partiu em direção à garganta de Ashuna.

Seus olhos arregalaram. Ela se curvou para trás, conseguindo desviar por muito pouco. Mas a adaga não parou. A direção do vendaval mudou, e dessa vez, acelerou diretamente para baixo em sua direção.

Uma conjuração remota, sem contato direto. Ashuna estreitou os olhos, tentando enxergar como ela estava controlando a adaga, e notou um fio reluzente de Luz Etérea se estendendo do cabo. A outra ponta estava na mão de sua oponente.

Ela estava usando uma conjuração de brasão por meio do fio Luz Etérea para controlar a direção do Vendaval, manipulando a adaga em pleno ar.

O vento cuidadosamente controlado lançou a adaga voando em direção à lâmina de Ashuna com movimentos de uma serpente. Mas isso era tolice. Sem o fator surpresa, seria uma simples questão de defletí-la. Um ataque conduzido apenas pelo vento seria fácil de abater.

Ashuna exibiu seus dentes com um sorriso determinado e se preparou para bloquear o ataque.

Luz Etérea: Conectar—

E então, ela sentiu sua oponente construir uma conjuração.

Impossível! Seus olhos arregalaram. Essa pessoa era realmente capaz de invocar outra conjuração enquanto ainda controla remotamente a adaga?

Se fosse o caso, então ela deveria estar planejando esse como sendo o golpe final.

Ashuna inclinou para o lado rapidamente. A adaga passou de raspão em seu flanco, deixando uma ferida. Ela ignorou. O que ela realmente precisava se defender era da próxima conjuração de sua oponente, a qual deveria ser poderosa se fosse sua intenção principal. Preparando-se para cortar o ataque em dois, Ashuna reuniu toda sua força, agarrou firme no cabo de sua espada—e encarou em choque.

Sua oponente estava mostrando a língua como se estivesse caçoando.

Na ponta de sua língua estava uma moeda, com poder correndo fluindo.

Moeda de Cinco in, Brasão—Invocar [Bolha Etérea]

Uma única bolha flutuou no ar.

Era perfeitamente inofensiva, um truque para entreter uma criança. Assim como as bolhas de Luz Etérea na lenda de Santa Marta, ela balançou levemente pelo vento e atingiu a bochecha de Ashuna.

Pop! A bolha de luz explodiu com um impacto menor do que uma briza.

As duas mãos de sua oponente estavam vazias. A única razão para ela ter colocado a moeda em sua língua foi para zombar de Ashuna. Ela cuspiu a moeda no chão. “Ptooey.” Ao mesmo tempo, a adaga finalmente caiu, perfurando o chão com sua lâmina.

Um instante depois, sangue escorreu da lateral de Ashuna. Seus ombros tremeram.

Pff…heh-heh.

Ela usou o fio de Força Etérea para manter o brasão de vento ativado e controlar os movimentos da adaga, mantendo Ashuna em alerta. Paralelamente, ela usou a perfeitamente inofensiva moeda de cinco in para distrair Ashuna e criar uma oportunidade para atacar.

Foi uma jogada incrível.

Talvez até sobre-humana. Fazia tempo desde que alguém se segurou contra Ashuna, que a fez cair que nem um patinho e até a fez pensar que ela estava em desvantagem. Ela teve a irresistível vontade de rir. Algo dentro dela havia estalado.

Ha-ha-ha-ha-ha!” Seus olhos flamejavam enquanto ela segurava sua espada. “Você tem coragem! Estou impressionada!!”

Ela ergueu sua lâmina sobre a cabeça, apontando a ponta para o céu. Isso a deixava exposta para um ataque frontal, mas tornava perigoso se aproximar demais.

A outra combatente usou seu fio para puxar sua adaga de volta para sua mão. Ela apontou a lâmina afiada e brilhante para Ashuna.

“Irei te retribuir por isso. Em dobro, mesmo se eu tiver que forçá-la a aceitar!”

Força Etérea: Conectar—Espada Real, Brasão—Dupla Invocação [Corte: Expansão, Rajada de Chamas]

Uma onda de calor afastou o ar noturno.

O jardim ficou iluminado por uma flamejante lâmina de fogo. O ataque cortante, alargado e incendiado pela Força Etérea de Ashuna, estendeu-se. Não estava tão enormemente carregada como aquela que havia cortado um certo castelo há não muito tempo atrás, mas seu poder ainda estava longe do comum. Ela se certificou de que sua oponente não conseguiria bloqueá-la, pelo menos não com as técnicas que havia demonstrado até então.

Essa oponente a supera em habilidade, e até em estratégia e reflexos.

O único método restante para dar cabo de um inimigo tal como esse era extremamente simples: bater de frente, com pura força.

Nada mais do que força bruta. Ela reconhece que não consegue competir em termos de técnica. Tudo bem assim. O único ponto no qual ela claramente supera sua oponente é na quantidade de energia de Força Etérea que ela naturalmente possui ao seu dispor. A maneira mais garantida de vencer uma batalha é aproveitando suas vantagens.

Superar o inimigo com poder bruto. Essa era a abordagem real de Ashuna.

Neste caso, sua oponente parece calma.

Ashuna também não hesita. Ela simplesmente brandiu sua espada como seu coração enfurecido lhe disse. Porém—

Força Etérea: Conectar (via Fio Etéreo)—

Ela foi pega desprevenida.

Uma conjuração quase instantânea. A única coisa que Ashuna conseguiu mover a tempo foi seus olhos.

Como ela estava construindo essa conjuração? Suas mãos, as quais estavam segurando a adaga há instantes atrás, agora estavam vazias. Não—observando melhor, ela estava segurando uma linha fina feita de Força Etérea que se estendia até o chão.

Adaga, Brasão—

A adaga ainda estava fincada no chão, coberta com o sangue de Ashuna.

Como?

Avistando a adaga inesperadamente de volta no seu lugar, Ashuna hesitou por apenas um instante, confusa enquanto começava a puxar a lâmina de fogo para baixo em um ataque.

Invocação Remota [Vendaval]

O chão explodiu.

A conjuração de brasão produziu uma rajada de ar pela lâmina que ainda estava enfiada no chão. A pressão de ar repentina na rasa camada de terra lançou sujeira e poeira para todo lado, bloqueando a visão de Ashuna.

Ela perdeu completamente a chance de atacar com sua espada. Pega de surpresa, Ashuna ficou parada por um momento. Como ela não conseguia ver sua oponente em uma nuvem de poeira, ela não podia baixar sua arma e sua guarda.

Quando sua visão clareou, não havia ninguém lá. Sua oponente com o rosto oculto fugiu em um instante.

A ameaça que ela estava enfrentando se foi, mas Ashuna ainda permaneceu parada, confusa.

Ela sabe o que produziu a nuvem de poeira. A conjuração do brasão da adaga havia produzido vento. Lançado no subsolo, a pressão do vento quebrou a superfície da terra e arremessou poeira. Essa parte ela entendeu.

Mas como ela…?

Ashuna definitivamente viu sua oponente segurando a adaga em sua mão.

Ela não a tinha puxado de volta às suas mãos com o fio? Então como ela ainda acabou fincada no chão? Como Ashuna não percebeu? Seus olhos a enganaram sobre o paradeiro da adaga? Não, Ashuna nunca cometeria um erro tão básico em batalha. Então ela estava escondendo uma segunda adaga? Mas isso não explicaria o momento em que ela a puxou de volta para suas mãos.

A lista de dúvidas de Ashuna apenas cresce.

Ela não conseguia descobrir como ela não percebeu aquele último truque.

Ashuna liberou a conjuração de brasão que ainda estava em processo e colocou sua espada de volta na bainha.

A noite retornou ao jardim.

Ela se abaixou e pegou a moeda de cinco in caída. Porém, não importava o quanto ela a inspecionasse cuidadosamente, era apenas uma moeda comum. Não carregava nenhuma pista sobre a identidade de sua oponente misteriosa.

Ashuna colocou mais força em seus dedos.

O rosto de Santa Marta esculpido na moeda de cinco in foi perfeitamente dobrada ao meio.

Um sorriso selvagem formou-se nos lábios de Ashuna.

“...Ha-ha. Já faz um bom tempo desde quando alguém se meteu comigo dessa forma.”

Não poderia haver tantas pessoas no mundo com tamanha habilidade. E por isso Ashuna tinha um pequeno palpite sobre quem aquela pessoa poderia ser.

Era comum as sacerdotisas darem preferência a armas de uma mão.

Como elas geralmente carregam uma escritura em sua mão esquerda, elas tendem a preferir armas que podem usar apenas com a direita. E com esse nível de habilidade, tudo faria mais sentido se ela estivesse em uma posição que expressasse muita experiência de batalha.

Então ela era uma elite da Faust em Libelle? O instinto de Ashuna lhe dizia o contrário. Se houvesse alguém aqui em uma posição pública com tanto poder, seria impossível Ashuna não conhecê-la.

Então ela deve ser alguém que trabalha por baixo dos panos.

Imediatamente, algo que Momo gritou durante o incidente em Garm duas semanas antes lhe veio à mente.

“Todos, menos a minha querida, deveriam morrer!!”

Ela não tinha prova alguma. Era apenas um palpite. Mas considerando que Momo veste um traje de sacerdotisa branco, fazia sentido.

Em muitos casos, sacerdotisas com vestes brancas são assistentes de sacerdotisas completamente treinadas.

“Então aquela era a ‘querida’ da Momo.”

Quando elas se encontrassem no dia seguinte, ela teria o assunto perfeito para trazer à tona e provocá-la.

Enquanto Ashuna descartava a moeda amassada, um sorriso satisfeito formou-se em seu rosto.

 

*

 

Uma espécie de pilar de fogo surgiu no jardim.

“Nossa, o que é aquilo?”

Vagando inquietamente pelo salão de festa, o queixo de Akari cai ao ver aquilo. As chamas eram tão brilhantes que pareciam transformar a noite em plena luz do dia. O pilar de fogo cessou em pouco tempo, mas a comoção resultante continuou.

Akari estava se dando conta de que poderia ter algo a fazer com o lugar para onde Menou foi, quando houve um leve lampejo de Luz Etérea.

Força Etérea: Auto-Conectar (Condições Atendidas)—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Lançar [Regressão: Memórias, Alma, Espírito]

Num piscar de olhos, a consciência de Akari mudou.

Sua expressão despreocupada de repente se tornou sombria.

“…Isso não está certo.”

Tirando sua tiara, Akari vasculhou suas próprias memórias e murmurou para si mesma.

A tiara em sua mão com a decoração semelhante a uma flor era um presente que ela já havia recebido antes. Não é como se acontecesse frequentemente, mas essa não foi a primeira vez que Menou comprou isso para ela em Garm.

Mas a situação se desenrolando nesta cidade era mais do que apenas incomum.

“Isso não pode estar certo. Eu nunca…”

“Boa noite.”

Akari procurou de onde veio o cumprimento inesperado.

Ela ficou espantada ao descobrir que a garota falando com ela estava usando um kimono. Nem mesmo essa versão de Akari tinha visto essa garota em particular antes.

“Está preocupada com aquele pequeno espetáculo? Não há necessidade. Foi apenas uma pequena aposta—seria adorável se funcionasse, mas não fará mal algum se for o contrário. Ambas são pessoas racionais, então não haverá nenhum ferimento sério.”

Do que raios ela estava falando?

Uma onda de agitação estava percorrendo o salão com a ocorrência claramente anormal. Mas a garota não parecia nem um pouco preocupada enquanto se apresentava inquisitivamente para Akari.

“Meu nome é Manon Libelle. Acredito que nunca fomos formalmente apresentadas, não é?”

Foi uma saudação bastante normal. Se essa fosse a Akari de poucos momentos atrás, ela certamente teria sorrido de volta sem suspeitar.

Mas essa Akari sabia que havia um significado oculto nas palavras da garota. Escrito nas entrelinhas estava a implicação de que elas talvez tivessem se encontrado antes de alguma outra forma.

Isso deve ter alguma relação com a estranheza da situação atual.

“Você é…”

“Ah, não se preocupe comigo. Afinal, não passo de uma mera representante.”

Akari tinha ouvido falar um pouco sobre ela antes. Ela era a representante do real chefe da família, Conde Libelle… Foi isso que ela quis dizer? De algum modo, parecia que ela estava insinuando outra coisa.

“Confesso que estava na esperança de poder te conhecer, mesmo que brevemente.”

“Perdão?” Akari não entendeu.

Esta era inequivocamente a primeira vez que ela e Manon estavam frente a frente.

Manon estendeu a mão e tocou suavemente o cabelo de Akari. “Minha mãe tinha cabelos pretos iguais aos seus.”

Ela sorriu de forma suave e nostálgica. Seu próprio cabelo era um tom de anil intenso que se aproximava do preto. Neste mundo, o poder na alma de alguém pode afetar a cor de seus cabelos. A genética não era o único fator determinante.

“Suponho que você não irá me contar. Sobre o lugar onde você estava antes de vir para cá.”

“…Me desculpe. Não me lembro.”

Isso não era uma mentira inocente.

Logo antes delas entrarem nesta cidade, Akari falou em tom de brincadeira para Menou:

“Eu não tenho mais nenhuma lembrança dos meus últimos dezesseis anos.”

Embora fosse brincadeira, também estava enraizado na verdade.

A Akari que normalmente estava com Menou não tinha completa ciência disso, mas ela realmente já havia perdido todas as lembranças da sua vida no Japão.

Akari usou o Puro Conceito de Tempo o suficiente para apagar dezesseis anos de memórias.

“É mesmo…? Entendo. Então você também já usou demais o seu poder.” Manon entendeu exatamente o que as palavras de Akari significavam. “Eu te invejo. Sabe, você tem exatamente o que eu sempre quis. Você tem o poder para mudar o mundo precisamente como bem quiser, quantas vezes forem necessárias.”

Manon retirou sua mão e curvou sua cabeça educadamente.

“Perdoe-me pela intrusão. Se você conseguir deixar esta cidade…bem, espero que viva sua vida livremente.”

Com essas palavras misteriosas, Manon foi embora. Akari se sentiu ainda mais confusa enquanto a olhava se afastar. Esta situação continuava cada vez mais estranha.

Como Akari sabia o futuro, ela normalmente selava esse conhecimento e deixava as coisas nas mãos do seu eu mais alheio.

Haviam diversas condições diferentes que poderiam invocar a conjuração que ativa esse lado da sua consciência.

Quando ela estava longe dos olhos de Menou. Quando Menou estava em perigo. E quando algo que Akari nunca havia visto acontecia. Também havia algumas outras, mas essas três condições eram as mais importantes.

“Eu sabia. Está tudo errado.”

O primeiro dia em Libelle parece ter corrido perfeitamente.

Mas desde que ela entrou no Pandemônio no segundo dia e reviveu com a Regressão, algo estava fora do lugar.

Todos os incidentes ocorrendo nesta cidade atualmente eram completamente desconhecidos até para esta Akari.

“……”

Ela precisava saber o que estava acontecendo. Se as coisas mudassem muito drasticamente dessa vez, ela perderia a vantagem de saber o futuro.

Akari tinha que viajar com Menou sem suspeitar de nada e finalmente ser morta por ela.

Deixar Menou matá-la era o único método que Akari conseguia pensar para salvar Menou das mãos daquela sacerdotisa de cabelo vermelho.

Com uma expressão determinada, Akari deu meia volta e foi até uma área onde ninguém pudesse vê-la.

E então, ao confirmar que ninguém estava olhando, seu dedo indicador brilhou com Luz Etérea.

Força Etérea: Conectar—Vínculo Indevido, Puro Conceito [Tempo]—Invocar [Teletransporte]

Sem esperar Menou retornar, Akari desapareceu em um clarão de Luz Etérea, deixando apenas um fraco brilho para trás.

 

*

 

“Aquela mulher certamente sabe como ser um incômodo…”

Após fugir para um quarto da mansão, Menou resmungou para si mesma.

O vestido que Momo havia feito tão generosamente para ela agora estava coberto de terra. Eu devia ter sido mais cuidadosa, ela pensou se auto-repreendendo. Essa era a extensão de suas preocupações sobre a luta.

Aquele último movimento foi um ardil usando Camuflagem Etérea.

Ela a usou por meio do Fio Etéreo que estava conectado à adaga ainda fincada no chão. Enquanto movia sua mão como se estivesse puxando a adaga de volta, ela em vez disso usou o fio para criar uma ilusão com Camuflagem Etérea da adaga retornado à sua mão.

Consequentemente, Ashuna ficou convencida de que a adaga que ainda estava no chão, estava realmente na mão de Menou.

Quando Ashuna não estava mais focada na adaga, Menou utilizou o Fio Etéreo que ainda estava ligado a ela para ativar o brasão de Vendaval. Isso produziu uma nuvem de terra, permitindo com que Menou escapasse para o edifício enquanto Ashuna estava cega e confusa.

“Não tenho tempo para pactuar com seu desejo absurdo de lutar.”

Limpando a sujeira de si mesma, ela continuou reclamando. Ao contrário de Momo, Menou não era abençoada com uma grande quantidade de Força Etérea. Ela não pensava necessariamente que teria perdido se continuasse lutando com Ashuna diretamente, mas Menou também não ganharia nada vencendo aquela luta. Então ela a interrompeu o mais rápido que pôde e fugiu.

Ela suspirou com alívio por ter conseguido escapar.

Menou não usou sua escritura e estava usando um vestido: seu penteado estava diferente, e ela escondeu seu rosto e mudou sua voz. Uma vez que trocasse para seu traje de sacerdotisa, ela deveria estar livre de ser detectada desde que Ashuna não visse sua adaga ou algo do tipo. Mesmo se elas se cruzassem em algum lugar no futuro, Ashuna não teria razão para suspeitar que Menou havia sido sua oponente.

Porém, conhecendo Ashuna como ela conhece, todo cuidado era pouco para Menou. No pior dos casos, ela pode ter conseguido descobrir que ela é uma sacerdotisa baseada apenas no seu estilo de luta.

“Pode ser muito arriscado fazer uma busca no interior agora…”

Ashuna poderia muito bem ainda estar perambulando pela região.

Na verdade, não havia nenhum mal mesmo se Ashuna a identificasse. Isso só significaria que ela saberia que havia uma sacerdotisa errante por perto que era habilidosa em batalha. Independente do que ela possa suspeitar, ela não teria provas de que Menou era uma Executora.

O único problema era que se envolver com Ashuna parecia atrair todos os tipos de problemas.

Isso ficou especialmente claro após sua breve batalha. Ela era uma Princesa ainda mais incontrolável do que os rumores diziam. Do fundo do seu coração, Menou realmente não queria ter nenhum envolvimento com Ashuna a não ser que fosse absolutamente necessário.

Acima de tudo, foi exaustante ela ter se metido em uma luta tão chamativa sem nada em particular para revelar pela noite.

Ela limpou o vestido o bastante para não se destacar e cogitou sobre o que fazer em seguida. Graças à Ashuna e sua espada flamejante ridiculamente chamativa, as pessoas estavam começando a se reunir fora da mansão. Sua melhor opção era usar isso como uma chance para se reagrupar com Akari e deixar a festa.

“Suponho que isso seja tudo para a operação de hoje.”

Ela não conseguiu obter nenhuma informação, mas não há nada que ela possa fazer sobre isso agora. Seria muito imprudente tentar continuar a investigação.

“Bom, estou certa de que Momo está indo melhor na parte dela, pelo menos.”

Momo deve ser capaz de destruir uma base boba pertencente à Fourth sem problemas.

Colocando sua fé em sua talentosa assistente, Menou saiu do quarto.

Foi uma suposição otimista demais.

O vento soprava da terra para o mar na cidade portuária à noite.

Momo corre contra o vento pela escuridão.

Sua respiração estava irregular enquanto ela saltava de telhado em telhado, evitando ser vista. Ela estava fazendo careta e segurando sua lateral.

Sangue fresco escorre por seus dedos. Mas o problema não era o ferimento pungente.

“……Ngh!

O rosto de Momo estava torcido por causa do veneno que entrou em sua corrente sanguínea por meio da ferida recente.

“Isso é péssimo…”

Foi a pior asneira que ela poderia ter feito. Sua cabeça gira com vergonha e frustração.

Mas Momo ainda tinha que passar aquelas informações.

Entrando em um beco escuro, Momo verificou seus arredores e parou. Não parecia haver ninguém por perto.

Ela abriu sua escritura, encheu-a com poder e construiu uma conjuração.

Força Etérea: Conectar—Escritura, 1:4—Invocar [A vontade do Senhor é transmitida por todo o céu e terra, reinando vastamente.]

Abaixo da superfície do berrante baile noturno, algo sombrio estava em curso na noite.

Momo usou a conjuração de comunicação da escritura para relatar o que havia acontecido com ela.



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