Volume 1
Capítulo 1: No início de um mistério, os peitos estão lançados
“Você é o Lendário Detetive?
Foi depois da escola, a sala de aula estava coberta pelo pr do sol, e eu fui questionado por alguém puxando meu peito.
Não consegui ver muito bem o rosto, eu ainda estava meio sonolento.
Tentei ordenar minhas memórias, mas não me lembrava de já ter ouvido essa voz.
Pelo que parecia, eu estava sendo intimidado por uma garota que não conhecia.
Mas não entendi por quê.
Eu estava deitado na mesa desde o sinal da manhã, então imaginei que uma garota do comitê disciplinar não poderia deixar um colega de turma apodrecer, e havia me acordado violentamente… Eeh, provavelmente não.
Não, espera, se estivéssemos na mesma turma eu teria alguma lembrança dela.
Acho que esta garota e eu éramos apenas estranhos.
Então, o que ela queria? Por que eu estava sendo puxado pela camisa e erguido?
Minha cabeça sonolenta não podia deduzir nada.
Bem, claro, já que não sou um detetive.
– detetive?
Esta garota acabou de dizer “detetive”?
“Chega de silêncio, me responda. Você é o Lendário Detetive –Kimihiko Kimizuka, não é?”
Detetive – faz um ano que não ouço essa palavra, e eu odiei.
“Pegou a pessoa errada, com licença.”
“Espera.”
“Guuh.”
Minha garganta soltou uma voz realmente deselegante para um humano.
É inacreditável, mas a essa altura, eu tive um dedo enfiado na minha boca.
“Se você pretende desconsiderar minha questão, vou tocar sua úvula.”
“I-Isso é irracional…”
Finalmente, no meio da coação desta situação, vi o rosto da garota.
Olhos grandes e agressivos, cílios longos, um nariz arrebitado e lábios tensos.
Seu cabelo longo estava amarrado de lado, e ela realmente lembrava uma típica colegial moderna.
… Mas a gente realmente tem uma pessoa assim na nossa escola?
Nunca notei uma pessoa tão perigosa antes. Quanto descuido meu.
“Ei, você é Kimihiko Kimizuka, não é?”
Ela me chamando pelo meu nome soou estranho, e não me deixou escolha, eu só podia acenar com a cabeça em confirmação.
“Se você for, fale.”
“… Kaa!”
O dedo da garota tocou meu palato, e o ácido do meu estômago refluiu.
“Uau, você é horrível. Encheu de saliva o dedo de uma garota que acabou de conhecer. Você é um pervertido?”
“Ei, de quem você acha que é a culpa?” Eu ia refutá-la. Mas a garota continuou a enfiar o dedo na minha boca enquanto segurava minha camisa com a outra mão. Era como uma técnica de tortura totalmente nova.
“Guh… Huh…”
“Eh, quê? Você tá chorando? Você é um cara crescido de dezoito anos, e você não só tá babando no dedo de uma garota, mas também vai chorar e pedir por todo o tipo de ajuda?”
Naquele momento, minha dignidade enquanto humano colapsou. Eu não conseguia mais deter minhas lágrimas e minha saliva.
“Aaaaah, entendi. Você definitivamente quer um abraço, certo?”
Meu rosto foi apertado contra seu peito.
Eu senti uma maciez de marshmallow, junto com o aroma suave de perfume, que derreteu minha cabeça.
E, por um momento, pude ouvir uma batida do seu coração – por alguma razão isso soou nostálgico. Eu experimentei algo maternal de uma garota com a mesma idade que eu?
…Não, como pude deixar isso acontecer.
Preso entre alegria e sofrimento, eu gritei, freneticamente me libertando das mãos dela.
“Que pena, eu poderia ter brincado com você um pouquinho mais.”
“…Aah … Aah, se você estava só brincando, não exiba seu corpo, e não ofereça seus seios pra um cara que você não conhece."
Assim eu falei, e a garota mostrou um sorriso leve pela primeira vez.
“Nagisa Natsunagi.”
Ela me disse seu nome, que era realmente adequado à estação, e estendeu sua mão direita
“…Antes de tudo, vá lavar sua mão.”
***
O assistente e a cliente – O detetive não está aqui
“Eu tenho um pedido.”
Vários minutos depois, Natsunagi voltou do banheiro, sentou-se à minha frente e ficamos nos encarando.
“Primeiramente, você tem algo a me dizer, certo?”
“Quero que você se desculpe por sujar meu dedo.”
“Eu, me desculpar!?”
É tão irracional. Mais irracional que tudo que é irracional nesse mundo combinado.
“Mas é normal se desculpar depois de você ter feito algo nojento, certo?”
“Vou devolver essas palavras diretamente pra você.”
“Que, você tá fazendo parecer que fui eu que fiz algo errado.”
É isso que eu quis dizer mesmo.
O que está acontecendo? É o nosso primeiro encontro, mas por que esta mulher está fazendo essa cena¹ comigo?
“Então você não se importa se alguém faz esse tipo de brincadeira com você?”
“Hã… C-Claro.”
Os olhos de Natsunagi vibraram ansiosamente, por alguma razão.
“É verdade que eu seria odiada se fizesse esse tipo de coisa, normalmente…”
“Hã? Por que seu rosto está ficando corado? E o que você quer dizer, normalmente?”
Ah, aquele olhar sádico simplesmente desapareceu. Na verdade, eu comecei a ficar um pouco suspeito.
…Só para confirmar.
“Você gosta de ser amada pelos outros?”
“Você gosta de amarrar os outros?”
“Eu seria a amarrada…”
“Estou meio sem dinheiro este mês.”
“Eu pago, quanto?”
“Uma masoquista…”
“Quê…?!”
A boca de Natsunagi estava entreaberta, como se ela tivesse sido atingida por esse fato chocante.
O que aconteceu com a agressividade que você tinha no início?
“N-Não é isso! Eu não tenho esse tipo de interesse peculiar! …De qualquer modo, você não pode mudar de assunto? Estou aqui te procurando porque eu tenho um pedido!”
As bochechas de Natsunagi estavam um pouco vermelhas, de raiva de sua vergonha, ou do pôr do sol, e ela levantou-se, de repente, batendo na mesa. Entendi, então a agressividade que ela mostrou agora a pouco foi só para parecer durona.
“Ufa, Ufa.” Natsunagi levantou os ombros violentamente.
“Estou procurando alguém.”
Ela disse com uma atitude realmente séria.
Entendi, elas tá procurando por alguém. É por isso que ela queria um Lendário Detetive.
“Você é Kimihiko Kimizuka, certo?”
…E ela não vai me deixar em paz enquanto eu não responder.
“Ahh o nome da minha família, era Kimizuka, desde antes de eu nascer, e o nome que me deram no dia do meu nascimento foi Kimihiko.”
“Você é o Lendário Detetive, certo?”
“Desculpa, meu avô não é um Lendário Detetive, e eu não sou alguém que foi drogado e transformado em uma criança. Você pegou a pessoa errada.”
“Estou errada?”
Natsunagi levantou as sobrancelhas imediatamente.
“Eu vi os jornais.”
“Jornais?”
Assim que ouvi isso, tentei vasculhar minha memória… mas ainda não entendi a que Natsunagi estava se referindo.
“O noticiário noturno, três noites atrás. Um ladrão foi preso e foi um colegial que o pegou.”
“Ahh, aquilo?”
“Sim, aquilo – mas eu não estaria te procurando se fosse só isso.”
Natsunagi disse, abriu sua mochila, a virou e esvaziou seu conteúdo no chão.
“Essas são reportagens sobre você.”
Eram vários recortes de jornal.
“…Você investigou?”
Todas essas reportagens tinham o meu nome e o meu rosto… Ahh, eu só não sabia exatamente o que Natsunagi queria dizer quando falou que viu as notícias.
“Vejamos, [O supercolegial aparece para impedir uma fraude!] [Encontrar um bichinho perdido é tudo por um dia de trabalho! O jovem K encontrou um gatinho perdido hoje] [O especialista em salvar vidas salva duas pessoas à caminho da escola] – Se isso não é o que a gente chama de ‘Lendário Detetive’, o que você é então?”
É meu cotidiano. Estou acostumado. Minha boa e velha natureza problemática.
Não há necessidade de me rotular como um Lendário Detetive… Bem, eu até que entendo o que ela quer dizer.
“Você está exagerando. Não há necessidade de hipérbole aqui.”
O motivo pelo qual me envolvo nessas situações, e como de algum jeito, por sorte, as soluciono, era parecido por causa da minha própria natureza. Mas eu realmente não tinha nenhuma habilidade.
Eu costumava ser confiante demais na minha experiência, mas foi só há um ano que percebi que essas experiências não valiam porcaria nenhuma.
É por isso que prefiro me abster do mérito exagerado. Desculpe, eu não poderia assumir o papel de detetive – A esta altura, eu preferia ser um sapo na água quente.
“Você está sendo humilde.”
“Obrigado por isso.”
“Não estou te elogiando.”
“Não disse que estava.”
“Por que eu elogiaria alguém que nem consegue determinar sua força direito?”
Entendi, parece que era a forma peculiar de insulto dela.
“Certo, eu não posso determinar minhas próprias habilidades, mas tenho que deixar isso para os outros decidirem?”
“Você está dizendo que se entende mais? Isso é que eu chamo de arrogância.”
Natsunagi cruzou os braços, humph, e bufou.
“A subjetividade é a coisa menos confiável no mundo. O mais importante é um fato objetivo.”
“Estou errada.” Falou Natsunagi, agarrou meu colarinho e me puxou pra perto dela.
Seus lábios úmidos estavam a centímetros, e eu podia sentir o calor do seu hálito.
Os olhos de rubi encaravam intensamente os meus, como se fossem atravessá-los.
“Tudo que você fez é fato. Outras pessoas, como eu, tem a liberdade de decidir como elogiar ou avaliar os resultados, certo?”
Aqueles olhos arrogantes e diretos pareciam familiares aos de uma pessoa que não está mais por aqui.
“…Você disse que estava procurando alguém.”
Afinal, é ruim manter esta conversa a essa distância.
Coloquei minhas mãos nos ombros de Natsunagi, empurrei-a e fiquei de pé diante dela.
“Certo…?”
Até eu senti que era alguém fácil de lidar.
Não, espera. Preciso acrescentar algo, pelo bem do meu orgulho. Eu não vacilei especificamente pelas palavras de Natsunagi. Eu não aceito seu ponto de vista e não pretendo ser convencido por ela.
É só que, de repente, me lembrei daquela silhueta, e não sabia como recusar.
Meu deus, eu realmente fui bem treinado.
“Você está disposto a aceitar trabalho de detetive?”
O rosto de Natsunagi mudou para surpresa, de repente. Ela pareceu inesperadamente infantil, só uma garota cujas expressões facilmente se transformavam.
“Não, não posso ser um detetive, mas–”
“Pra que tudo isso?” O olhar perplexo de Natsunagi sugeriu, e ela exibiu um sorriso irônico.
Desculpe, estive nessa posição há quatro anos.
“Então? Quem você está procurando?”
Se ela está procurando por alguém, não vai demorar muito. Flexionei meu corpo, e Natsunagi falou, com um olhar sério.
“Na verdade, eu não sei. Quero que você me ajude a descobrir quem eu estou procurando.”
Entendo, é o tipo de problema que ela tinha, quando tinha dito “A subjetividade é a coisa menos confiável neste mundo.”
Ei, de quem é esse coração?
“Então, basicamente, Natsunagi, você está me dizendo que [Sinto que me esqueci de alguém recentemente, mas não consigo dizer quem é essa pessoa], certo?”
Depois daquela conversa, estávamos indo para casa.
Nós paramos em uma cafeteria, e bebemos café enquanto começávamos a discutir sobre o pedido de Natsunagi.
“Sim, tem alguém que desejo encontrar e falar, não importa como… Mas não sei quem é essa pessoa. Não sei nada sobre a idade, gênero, ou onde essa pessoa mora… Ah, está delicioso.”
Natsunagi deu um leve sorriso enquanto colocava a xícara em seus lábios. Um mero gole de café a fez parecer encantadora, e tenho que dizer que me sentia um pouco invejoso.
Já perdi as contas de quantas vezes minha parceira me disse “seu rosto é tão entediante, parece que eu esqueceria você se nos separássemos por dois dias”.
“…Quê? Por que você está me encarando assim…?”
Natsunagi rapidamente percebeu meu olhar, e afastou um pouco a cadeira enquanto me espiava, a ponta dos dedos agarrando a barra de sua minissaia.
“…Você gosta de ser encarada?”
“…!”
Então, de repente, minha cabeça foi golpeada por um leque.
“…Isso é irracional.”
“Hã? A culpa é sua por causar esse tipo de mal-entendido estranho, Kimizuka… de qualquer modo, esse é seu vício de linguagem para sair de qualquer situação? [Isso é irracional]?”
“Não posso fazer além de dizer isso quando tem uma existência irracional na minha frente?”
Graças a ela, eu finalmente consegui desfazer do ferimento um ano depois.
“Agora, voltando ao assunto.”
Bebi um pouco de café, e disse.
“Natsunagi, você está procurando por uma pessoa desconhecida – vou chamar essa pessoa de X – Você não tem ideia de quem seja X?”
“Não, não sei porque estou obcecada com esse X, mas isto parece ter começado em um certo momento. Eu realmente quero conhecer esse X.”
E você não conhece a pessoa.
Após falar isso, Natsunagi olhou pela janela.
“Bem, na verdade, quando começou? Foi quando você tomou consciência de seus arredores, foi quando você entrou na escola, ou…”
“Um ano atrás.”
Ela responde rapidamente e decidida.
Natsunagi disse que não sabia nada sobre o gênero, nacionalidade ou idade de X, mas nisso ela estava bem confiante.
“Algo aconteceu há um ano?”
“Eu fui salva à beira da morte – não, eu fui puxada de volta para vida.”
Devia haver alguma razão para ela poder dizer isso tão decididamente.
A vida de Natsunagi esteve em risco por alguma razão, e sua vida não foi simplesmente salva. Em outras palavras–"
“Você ouviu a batida do meu coração na sala de aula, mas, na verdade, ele não é meu.”
“–Um transplante?”
Natsunagi acenou suavemente.
“Lembro-me de ter alguma doença do coração desde nova. Fiquei esperando por um transplante, e continuei entrando e saindo do hospital… é por isso que não pude frequentar a escola.”
“Entendi, não me admira não te conhecer.”
“Sim, não teria como uma garota fofa como eu não ser notada.”
“Desculpe-me, na verdade, minhas orelhas estavam cheia de cera até ontem, não consegui ouvir o que você disse. Wowowowowowow! Para de agarrar meu dedinho! Vai quebrar!”
“Foi você quem pediu!”
“Qual a lógica disso?”
Chega de suas brincadeirinhas sádicas.
Natsunagi ignorou, suspirou, e continuou.
“Então, um ano atrás, eles encontraram um doador compatível, e eu finalmente fiz o transplante. Foi aí que tudo começou, e a existência de X simplesmente apareceu na minha mente.”
“Então Natsunagi, você está procurando X desde o ano passado?”
“Não, tive que descansar por um tempo depois da operação então eu não podia fazer nada, mesmo que quisesse. Até que recentemente, eu pude finalmente vir para a escola, e vi as reportagens sobre você… Kimizuka.”
Entendo, finalmente posso visualizar o período de tempo e a situação. Isso parece surpreendentemente fácil de resolver.
“Uma transferência de memória.”
Natsunagi chacoalhou a cabeça ligeiramente em resposta a minhas palavras.
Parece que essas palavras tomaram a forma um katakana nela.
Bem, ela deveria ser capaz de entender as seguintes palavras então.
“Natsunagi, a verdadeira forma desse X que você está procurando – é alguém que o dono original do coração quer encontrar.”
“…Isso é impossível.”
“Se você acha que isso está errado, então porque você mencionou tão prontamente o transplante de coração?”
Natsunagi continuou calada.
“Você disse que sentiu a existência de X apenas há um ano. Quando te perguntei [algo aconteceu um ano atrás?], você mencionou ter sido salva por um transplante. Em outras palavras, a existência de X e o transplante estão ligados, até mesmo do seu ponto de vista, estou errado?”
“…Kimizuka, você é horrível.”
Natsunagi me encarou com os olhos entreabertos. Acho que estou certo.
“Esse evento de transferência de memória não é comprovado cientificamente, mas vários testemunhos mostraram que isso realmente aconteceu. Em 1988, uma judia americana chamada Claire Sylvia fez um transplante de órgãos. Dias depois, houve uma mudança em sua dieta. De repente, ela começou a gostar de pimentões verdes, que ela normalmente nem tocaria, e sendo dançarina de balé, ela começou a gostar de fast food, que ela antes evitaria. Depois disso foram perguntar à família do doador, e descobriram que esses eram gostos do homem que havia doado o órgão.”
“Isso não é só coincidência?”
“Isso não é tudo. Claire via o primeiro nome do doador em seus sonhos, depois de conferir com a família ela descobriu que esse era o seu nome real. Ainda existem mais casos parecidos… Quer ouvir mais?”
“…Kimizuka, você é horrível.”
Desde que você aceite, não importa.
“Então, o quê? Não é que eu queria encontrar esse X, mas que o coração quer encontrar X?”
“Sim, eu acho. Por isso que, provavelmente, esse X é da família do então vivo doador, ou amante, ou amigo… um desses.”
“Entendo…”
Natsunagi colocou a mão no lado esquerdo de seu peito e mordeu os lábios.
“Bom, é assim que é, ainda bem. Agora o problema está resolvido.”
Já que ajudei ela tanto assim, ela poderia me ajudar a pagar o café, como recompensa.
Foi o que pensei enquanto colocava a conta na mesa e me levantava – Mas então.
“Hã? Onde você está indo?”
O olhar afiado de Natsunagi me apunhalou.
“Se disser que está indo para casa agora, eu te mato.”
“Essa sua ameaça é bem assustadora.”
Rendido por essa intenção assassina, me sentei de volta com os olhos cheios d’água.
“Mas acho que o problema está resolvido.”
“Como você pode tirar essa conclusão olhando para uma garota apática, mordendo os lábios e a mão no peito?”
“Na verdade, achei que você só estava presa em um epílogo trágico.”
“Realmente te faltam as emoções que um ser humano deveria ter.”
Emoções que um ser humano devia ter? Eu já as perdi em algum lugar numa sarjeta há um ano.
“Se você diz, Natsunagi. Mas como falei, não é você que quer encontrar X, mas o dono original desse coração. Mas é só essa memória vívida, não tem nada a ver com você.”
“Você está errado!”
Natsunagi bateu na mesa e se levantou.
“Você está certo, não é apenas mera memória – é uma memória persistente. O corpo físico morreu, mas o coração foi dado para mim, e esse coração quer procurar por essa pessoa. Ganhei uma vida por causa deste coração, então eu quero, pelo menos, retribuir por isso. Eu quero que esse coração encontre X.”
As palavras que ela disse eram muito diferentes de antes.
Ela está falando com seus próprios sentimentos, sua própria voz. Esta era a prova.
“Isso não é só autossatisfação?”
“Sim, é autossatisfação. Este coração é meu. É por isso que quero encontrar essa pessoa.”
“Isso contradiz o que você acabou de dizer.”
“…Cala a boca. De qualquer jeito, você vai me ajudar.”
Um pano molhado voou em mim.
Acertou bem na minha cara.
Se sentir encharcado não é legal.
“…Você vai me recompensar, certo?”
Eu removi o trapo molhado, e olhei aborrecido para Natsunagi.
“Eu já não te deixei tocar meu peito?”
“Que tipo de escambo é esse?”
“Se você não aceitar isso. Vou revelar seus fetiches para todos os alunos da escola.”
“É por isso que digo o mesmo para você.”
“Uuu… minha situação é assim, tão…”
“Esta é a pior sessão de terapia…”
De qualquer modo, brincadeiras à parte.
“…Bem, de qualquer jeito, eu já aceitei esse pedido.”
Eu já aceitei este trabalho. Não poderia simplesmente abandoná-la.
–Em qualquer situação, os interesses do cliente devem ser protegidos à qualquer custo.
Essas eram as palavras que aquela pessoa repetiu inúmeras vezes.
“Vejo você às duas da tarde amanhã; Nos encontramos na estação.”
“Hã, amanhã?”
“Sim, já está um pouco tarde hoje.”
Agora eu deveria ser capaz de voltar. Sem escolha, peguei a conta e me levantei.
“Você quer encontrar X, certo?”
***
Claro que isto não é um encontro
“Te fiz esperar.”
É fim de semana e estamos na estação.
Eu estava encostado à sombra de uma coluna, olhando meu relógio, e algo bateu nas minhas costas, ou alguma coisa assim.
Olhei para trás e vi Natsunagi vestida casualmente, segurando uma bolsinha.
Seu tomara que caia deixava visível sua clavícula branca, e suas pernas pareciam se alongar por causa do shorts curto. Era realmente um figurino digno de seu nome.
“Por favor, pare de cobiçar uma garota da sua idade que não é nem sua namorada.”
“O que você está falando? Não foi você que pressionou os peitos contra um cara da sua idade que nem é seu namorado?”
“E você gostou.”
“…”
Uh-Oh. Eu não poderia negar.
“O mais importante, Natsunagi, você está quinze minutos atrasada. Por favor, seja pontual.”
Eu não poderia negar, então mudei de assunto.
“Garotas precisam de tempo para se arrumar.”
Natsunagi franziu os lábios enquanto falava, e um tom vermelho brilhante apareceu.
Claro, é verdade que ela está aparentando ser uns 30% mais adulta do que ontem.
“Entendo, desculpe por isso.”
“Você está inesperadamente honesto.”
“Bem, na verdade, estou contente por ter uma beldade ao meu lado.”
“…Hmph. Nada mal.”
Natsunagi murmurou, e olhou meu rosto, de uma altura dez centímetros abaixo de mim.
“…quê?”
“Nada.”
“O quê?!”
“Nada.”
Não, o que está acontecendo…
Eu olhei para Natsunagi, que claramente estava tentando exibir seu decote.
“…Você não está encarando por tempo demais já?”
É uma inversão. Natsunagi me lançou um olhar aborrecido, os braços cruzados.
“Não, não estou olhando pros seus seios. Estou olhando pra isso, a clavícula.”
“Isso é assustador! Preferia que você estivesse olhando pro meu peito.”
“Natsunagi, você realmente tem uma bela clavícula pra sua idade.”
“Não sei o que uma clavícula tem a ver com idade! Você é algum crítico de clavículas? …Não, o que seria um crítico de clavículas, afinal?!”
“…Hm, nós já não tivemos essa conversa?”
“Se essa conversa vai acontecer de novo, em que tipo de inferno eu me meti?”
Natsunagi parecia ter emagrecido em questão de minutos, ela apoiava o rosto nas mãos.
“…Enfim, quando foi que virei a pessoa que retruca?”
“Os papéis têm que se alternar de vez em quando.”
Na verdade, eu não queria mesmo assumir aquele papel?
“De qualquer modo, a gente tem que ir.”
Dei uma batidinha no ombro de Natsunagi, e saí na frente dela.
“Onde? Ah, você vai ser preso se for pelado.”
“Pare com isso. E eu não vou cair nesse truque.”
…Mas, como eu poderia dizer isso…
A piadinha de Natsunagi foi inesperadamente o ponto central do porque estávamos aqui.
Depois de caminhar mais ou menos dez minutos, nosso destino apareceu diante de nós.
“Ei Kimizuka, é impressão minha ou nós realmente vamos entrar lá?”
“Estamos procurando por alguém, não é de se espantar que estejamos aqui, certo?”
Entretanto, Natsunagi não pareceu aceitar isso, e franziu a testa.
“Lá você vai achar onde X está?”
“Não, essa é só a primeira fase. Atire no cavalo primeiro.”
“Se o general é X… então o cavalo é o coração?²”
“Sim, primeiramente, Natsunagi, vamos começar investigando o doador que salvou sua vida.”
Essa pessoa X que Natsunagi estava procurando devia ser alguém bem próximo do dono original do coração.
Então a primeira questão de ordem seria investigar quem era esse doador.
“Você diz isso, mas não deveríamos ir ao hospital primeiro?”
“Eu preferia fazer isso também, mas infelizmente não tenho conhecidos médicos.”
“…Mas você tem conhecidos neste lugar?”
“Bem, não fique tão nervosa. Vamos entrar.”
Então entramos na construção com ares de arranha-céu, a delegacia de polícia.
***
Eu vou dar um tiro na sua cabeça
“Ei, já faz um tempo moleque. Finalmente veio aqui para se entregar?”
Entramos na recepção, e essa pessoa sentou-se no sofá em frente Natsunagi e eu, abrindo suas longas pernas.
“Fuubi-san, você não deveria sentar-se com as pernas tão abertas.”
“Cala a boca, todos somos coisas viventes, gênero não importa.”
Ela disse, enquanto acendia um grande cigarro.
Para a aparência deslumbrante e chamativa dela, seu uniforme era realmente de má qualidade.
Seu cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo meio bagunçado, como cabelo vermelho que estivesse pegando fogo.
Qualquer um que a encontrasse pela primeira vez jamais adivinharia que ela é uma policial.
Fuuby Kase – Inspetora adjunta.
Ela era só uma patrulheira comum quando a conheci, cinco, ou seis, anos atrás, e ela parecia estar progredindo bem em sua trajetória de promoções, para alguém que estava no fim dos vinte anos (provavelmente).
“Então, o que você fez desta vez? Roubo? Assassinato?”
“Nada disso. Na verdade, fui elogiado por ter pego um ladrão.”
“Em todos os crimes na cidade, você é o primeiro a aparecer em 70% os casos. Não surpreende que eu suspeite que você tenha começado todo eles, né?”
“Essa é a minha natureza…”
Meu relacionamento com a Fuubi-san começou quando ela apareceu na cena de um crime como policial.
Para ela, eu podia ser só um colegial suspeito que acabou indo parar em uma cena de assassinato.
Eu realmente queria desfazer o mal-entendido, mas parece que, até hoje, ela ainda duvidava de mim.
“Que natureza, hein… Então você até atraiu uma detetive de verdade com essa habilidade?”
“…Vai saber? Para ser honesto, tenho a impressão de que ela me arrastou, me carregou nas costas, e depois só foi para um mundo distante, sozinha.”
Sim, um mundo distante…
Era realmente um lugar distante, tão distante que não havia registro de mapa nenhum.
“Ah, você pode estar certo.”
Fuubi-san estreitou os olhos e riu com uma voz rouca.
“E então, você está trabalhando sozinha de novo?”
“…Não, na verdade eu não faço nada sozinha. Esses caras não colocam os olhos em mim, e isso é assustador.”
“Aah, um tipo bem cruel você, não? Os mortos não podem falar agora, né?”
Não queria ter dito isso. Senti como se fosse acabar com um fantasma me assombrando.
“Ei.”
De repente, senti uma dor aguda no meu pé.
Olhei para meu pé e vi o tênis de Natsunagi pisando nele.
“Quê?”
“Hmm… nada, só não consegui me segurar, sabe? De qualquer jeito, não entre na sua própria conversa e me ignore aqui.”
Não exerça violência como, e quando, você quiser. Sério.
“Ééé… de qualquer forma, Fuubi-san, voltando ao assunto, gostaria de falar sobre esta garota.”
“Namorada.”
“Só uma garota.”
Fuubi-san olhou para Natsunagi, que estava sentada ao meu lado.
“Prazer em conhecê-la, meu nome é Nagisa Natsunagi. Estou aqui por sugestão do Kimizuka-kun.”
Kimizuka-kun… essa foi nova pra mim.
De qualquer jeito, Natsunagi, você é inesperadamente educada com os outros.
“Discussão, apresentação, hein? Tanto faz, fala logo.”
Seja breve, foi o que Fuubi-san disse enquanto acendia o segundo cigarro.
Vários minutos depois.
“Entendi.”
A conversa terminou. Fuubi-san finalmente soltou uma longa lufada de fumaça e colocou a bituca no cinzeiro.
“Entendo o que está dizendo… Mas por que estão aqui?”
Seu olhar, originalmente afiado, parecia mais afiado ainda.
“Vocês querem encontrar alguém que doou um coração… mas eu não sou médica.”
“Já que estamos procurando por alguém, isso deveria ser um trabalho para a polícia, certo?”
“Procurar doadores está além do nosso trabalho.”
Fuubi-san parecia completamente irritada, e dobrou as pernas exageradamente.
“Entendo, então estamos procurando no lugar errado, afinal.”
Natsunagi murmurou, enquanto gentilmente me dava uma cotovelada nas costelas. Bem, só espera um pouquinho.
“Mas a polícia não fica totalmente de fora desses assuntos. Afinal, sem vocês, não há como determinar se o cérebro do doador realmente morreu.”
Todos os casos de morte cerebral tinham que ser relatados à divisão de investigação criminal 1, era um dever previsto por lei. Todos os cadáveres precisavam ser tratados sob a gerência e a supervisão do inspetor chefe de cada jurisdição. Não estávamos realmente enganados em procurar a polícia, e –
“Não estou procurando a polícia, estou procurando você.”
Não poderíamos só continuar procurando, precisávamos pedir a ajuda da Fuubi-san.
“E o que você espera conseguir pedindo a mim?”
“Fuubi-san, você é diferente de um policial comum.”
“Diferente? Como?”
“Você resolve.”
Ou melhor, ela objetiva.Ela é diferente dos policiais que estão atrás de dinheiro ou autoridade. Desculpe-me, mas o senso comum não se aplica a ela.
“Eu não posso simplesmente revelar as informações particulares de um doador para uma pessoa comum.”
“Eu sei.”
“E isso não é da minha jurisdição. Mesmo na minha posição, eu não teria autoridade para revelar esse tipo de informação.”
“Eu também sei disso.”
“Então por que você está me procurando?”
“Só acho que você vai ser capaz de fazer algo, apesar de tudo, Fuubi-san.”
“…Você é idiota?”
Fuubi-san bagunçou o seu cabelo, como se estivesse envergonhada.
“Eu falei, como você sabe, que ainda quero continuar sendo promovida, então não posso simplesmente fazer qualquer coisa que poderia arruinar minha carreira. É como andar na corda bamba.”
“Haha, agora você está dizendo algo que só uma pessoa com um senso comum diria.”
“Eu vou dar um tiro na sua cabeça.”
Uma arma foi apontada para minha testa.
“…Na verdade, este é um exemplo melhor de andar na corda bamba.”
Viu? Natsunagi parecia atordoada.
“Bem, é assim que é. Lamento por esta senhorita aqui, mas, por favor, vão embora.”
Fuubi-san guardou sua arma e se ajeitou.
“Mas… por favor… Eu só tenho que…”
“Mesmo que você rasteje para mim, não posso fazer nada.”
Disse Fuubi-san, flexionou os ombros, e se levantou.
“E de qualquer jeito, estou ocupada, planejo ir para a mansão mais tarde.”
Mansão? …Ah é isso então?
Natsunagi pareceu estupefata, depois eu explico para ela.
“Você vai encontrar alguém depois?”
Fuubi-san estava com a mão na porta, mas se deteve.
“Você conhece muito bem essa pessoa. Mas beleza, não ligo se você quiser me seguir.”
Bingo. Ela é realmente desonesta com a gente.
“Só para saber, essa pessoa tem boa audição?”
Fuubi-san se virou imediatamente e respondeu.
“Sim – Essa pessoa não esquece de um batimento cardíaco que já tenha escutado.”
***
Não, não é uma insinuação, é um eufemismo
Depois de quinze minutos de carro – chegamos até a mansão. Passamos pela forte segurança com Fuubi-san, e fomos até o porão.
Continuamos descendo as escadas… A luz foi ficando mais fraca e o eco dos passos mais alto.
“Vou te dar só vinte minutos, enquanto termino meu trabalho lá em cima. Certifique-se de ficar atento a isso, certo?”
Fuubi-san, que ia à frente, nos olhou por cima dos ombros.
“Claro.”
Vocês podem me seguir escada acima se quiserem. Ela rosnou friamente, no entanto ela nos trouxe até aqui. Ela era uma pessoa bem desonesta, mas ainda era uma boa pessoa.
“Fuubi-san, você não vem com a gente?”
“Hmm, ele não vai falar, não importa o que eu diga. É só perda de tempo.”
“Isso é bem impressionante, se até você, Fuubi-san, acha que é algo difícil.”
“Qual é a dessa atitude indiferente? Foi você que o pegou.”
“Não sei de nada. Por favor, diga isso à detetive que já está morta.”
“Não use sua parceira como uma carta de imunidade.” Fuubi-san bateu na minha cabeça.
“Certo, chegamos.”
O andar em que havíamos chegado era escuro, tinha o ar parado, e o cheiro podre nos fazia querer tapar o nariz.
“Você me ouviu? Vinte minutos! Não passe desse tempo. Isso vale para você também, mocinha.”
Fuubi-san nos lembrou pela última vez, levantou a mão e então subiu as escadas.
Deixados para trás, eramos eu e…
“…Ei Kimizuka, é um pouco tarde para eu perguntar, mas a gente não devia ir para uma mansão?”
Natsunagi estava um pouco impaciente, enquanto olhava em volta.
“Sim, está é a mansão, Natsunagi.”
“Como?!”
Já que você perguntou.
“É só uma prisão.”
“E daí?”
Natsunagi imediatamente puxou minha orelha, sem aviso. Ela se comporta bem só quando tem alguém por perto, hein?
“Pensei que seria uma casa de madeira, ou algo assim, mas é só concreto e vergalhões por toda parte. Não são barras de ferro?”
“Bem, é uma prisão…”
“O que aconteceu com a mansão?”
“É um eufemismo, eufemismo.”
“E-Eufemismo?”
“…Diga.”
Por que você foi ficar animada? Você está parecendo completamente podre.
“É um eufemismo para prisão. Isto é senso comum.”
“Como isso é senso comum?”
“É senso comum para alguém no colégio que sempre carrega uma maleta com algo desconhecido lá dentro e tem que voar para o exterior todos os dias.”
“Eu não estou nem um pouco a fim de conhecer esse tipo de gente.”
Essa pessoa está bem na sua frente agora.
“E daí, por que estamos aqui?”
Parecia que Natsunagi estava começando a se acostumar com seus arredores, e ela começou a olhar em volta, para se certificar o que havia para além das grades.
“Ali não. Nós vamos para a parte mais abaixo.”
Liderei Natsunagi, caminhando à frente.
“Quem está lá?”
“Um tio.”
“Fala sério.”
“Um tio que parou de ser humano.”
“É, qualquer um que esteja trancado num lugar desses não pode ser chamado de humano…”
“Não, eu não quis dizer isso.”
Esta era a identidade real dele, impossível de ser mudada.
“Por definição, esse homem que vamos encontrar agora realmente não é mais um ser humano.”
Então se vamos incluir todas as minhas partes não diárias, ou não– Em vez disso, como uma história, e se alguém espera que esta seja uma verdadeira história de mistério, vou ter que me desculpar a essas pessoas. Afinal, esta história é realmente do interesse delas.
“Kimizuka, esse homem…”
Natsunagi puxou minha manga rapidamente.
Na parte mais ao fundo do porão havia um quarto pequeno completamente revestido por aço. A única forma de ver o que havia lá dentro era por um pequeno painel de vidro, e dava para ver um homem sentado, cujos punhos estavam algemados.
Depois de um tempo, deu para ouvir o lento som das persianas se enrolando.
“Yo, já faz um tempo – Morcego.”
O homem se arrepiou ao ouvir minha voz. Sua barba era imensa e desgrenhada, seu cabelo loiro estava bagunçado. Lentamente, ele virou a cabeça para nós.
“Isto é bem nostálgico – Lendária Detetive.”
***
O Coração, o Morcego – O Androide
Eu conhecia o homem trancado nesta cela.
E sobre o nome dele, ele é comumente conhecido como Morcego. Para ser honesto, eu realmente não queria encontrá-lo uma segunda vez.
Mas como Fuubi-san insinuou, esse cara realmente podia ser capaz de resolver os problemas de Natsunagi. Eu encarei Morcego, falando para mim mesmo que isso fazia parte do trabalho.
“Foi mal, eu não sou a Lendária Detetive.”
Infelizmente é só o assistente e a cliente aqui.
“Hã? ….Ah, então é você, Watson?”
Morcego olhou para mim com olhos meio desfocados, e sorriu.
“Seu japonês continua fluente como de costume.”
“Haha, é uma habilidade que alguém como eu deve ter. Já que eu estive aqui por tantos anos, esqueci minha própria língua materna.”
Lembro-me que ele é natural do norte da Europa. Os olhos verde-esmeralda, que ele era tão orgulhoso de ter, estavam completamente corroídos
“Esses olhos conseguem enxergar?”
“Não, eles são inúteis. Bem, de qualquer jeito, não me importa se tenho olhos ou não.”
“Você tem um senso rígido de valor.”
“O mesmo vale para você, com esses olhos de peixe morto, Watson.”
“Essa é a pior notícia do século. E chega desse apelido.”
“Haha, o quê? Você parou de ser um assistente?”
Bem, na verdade eu planejava parar.
“Mas estou aqui porque quero te preguntar algo.”
“Hm, claro. Vocês não estariam me procurando aqui se não tivesse algo específico em mente.”
Vocês, hein? Era “nós” quando o conhecemos.
Mas isso é coisa do passado.
“Vá em frente e fale. Isso aqui está ficando entediante. Vamos matar tempo.”
Morcego, solicitou, soando, de algum modo, ao mesmo tempo calmo e alegre.
“Entendo, vamos nos apressar e apresentá-los então. A garota ao meu lado é Nagisa Natsunagi, da mesma série que eu.”
“Nagisa, Natsunagi?”
Morcego virou a cabeça de lado, repentinamente, e olhou para Natsunagi com seus olhos podres.
“…Prazer em conhecê-la. Natsunagi é bom.”
Natsunagi foi pega de surpresa, mas rapidamente ela recuperou sua aparência rígida costumeira, enquanto encarava o condenado diante dela.
“Hoje, quero falar com você sobre meu coração.”
E vários minutos se passaram.
“Entendo, isso é tudo? Não me admira.”
Assim que Natsunagi acabou de falar sobre os problemas que ela teve, Morcego moveu o pescoço rijo e guinchou.
“Simplificando, você quer conhecer o dono original desse coração, que você não sabe quem é, correto?”
“Sim, está correto… supostamente esse é o caso.”
Ao falar isso, Natsunagi cochichou no meu ouvido.
“Esse homem pode realmente identificá-lo?”
Falando nisso, esqueci de mencionar para Natsunagi…
“Ah, esse cara…”
“Ow, ow, que senhorita mais rude nós temos aqui.”
“De jeito nenhum, você ouviu?” Natsunagi desajeitadamente afastou os olhos.
É isso que se espera, já que esse cara–
“Haha, não preciso me concentrar para escutar a esta distância. Se eu quiser posso ouvir qualquer conversa a cem quilômetros de distância.
Essa é a origem do codinome Morcego.
Esse cara não é humano.
Ele é um dos Androides, com quem minha antiga parceira esteve lutando até a sua morte.
“Bem, o preço foi eu perder minha visão. Estas orelhas são poderosas, mas são completamente inúteis aqui. Enquanto esta cela estiver fechada, todos os sons ao redor estarão emudecidos. Acho que essa é a sensação de ser um cadáver vivo, né? Haha.”
Morcego riu de sua própria piada.
“Mas mesmo que eu possa usar minhas orelhas agora, é só para ouvir o seu batimento cardíaco. Isto não é nenhum desafio para mim.”
“Isso, isso é impossível…”
“Mesmo assim, está coisa impossível, da qual você fala, existe neste mundo.”
Afinal, o mundo é grande, Morcego riu de Natsunagi.
Pareceu que ele estava convencendo ela, ou narrando um fato. As mesmas palhaçadas de sempre.
Essa era, com certeza, a razão para Fuubi-san ter estipulado um limite de tempo.
“…Se suas palavras são verdadeiras, e daí que você consegue ouvir?”
Natsunagi continuou cautelosa, enquanto ordenava que Morcego continuasse.
“Conheci muitas pessoas nas últimas décadas, então vou comparar o seu com todos os outros batimentos cardíacos que me lembro de já ter ouvido, e ver se encontro algo.”
“Isso é impossível… e as chances de você já ter encontrado o dono original…”
“Não, Natsunagi. Você pode ter um pouquinho de esperança sobre isso.”
“Kimizuka? O que você quer dizer?”
Para começar, esse cara não tem uma história comum.
Ele é um dos Androides que obedeciam suar ordens e andavam pelo mundo todo.
Talvez ele tenha conhecido o dono do coração de Natsunagi. Depois da modificação, aquelas orelhas ficaram com uma audição excepcional, ele deveria ser capaz de identificar bem a pessoa. Ele é alguém capaz de fazer algo assim.
“Não pretendo esconder isso de você, Natsunagi, mas eu conheço muito bem a história desse cara. Me lembro que foi há quatro anos que o encontrei pela primeira vez – Nas nuvens, a dez mil metros de altura.”
Sim, naquele dia.
No dia que conheci a Lendária Detetive.
Esse cara embarcou no mesmo voo.
“Haha, já se passaram quatro anos desde aquilo? Isso é realmente nostálgico… sim, o que acha de falar sobre o passado?”
Um cintilar irradiou dos olhos podres de Morcego.
“Desculpe, mas não temos tempo. Fuubi-san nos deu um limite.”
“Aah, aquela mulher de cara fedorenta, com a bunda empinada? Bem, perfeito, que tal eu revelar uma informaçãozinha sobre nós. Talvez ela se sinta um pouco melhor?”
“Morcego, o que você está planejando?”
Eramos nós que estávamos pedindo um favor, mas Morcego parecia muito complacente. Ocasionalmente contamos piadas, mas nunca fomos aliados.
“Nada demais. Só estou de bom humor, já que tenho visitas, depois de tanto tempo.”
Qual é a desse motivo desprezível?
…Mas se eu estragar o clima aqui, esta trama tão difícil de conseguir vai escapar de mim.
“Desculpe, Natsunagi. Isto vai levar um tempo.”
Sério, acho que não tenho escolha aqui.
Lembrei-me dos acontecimentos daquele certo dia, quatro anos atrás.
***
Há um detetive presente entre os clientes?
“O que vou fazer neste dia brilhante?”
Na verdade, isso não tem nada a ver com o clima, mas na época eu estava na oitava série, a dez mil metros de altura, olhando para as nuvens do lado de fora da janela, traçando amaldiçoando meu próprio destino.
A fonte dessa frustração, eram as coisas que estavam acima de meu assento.
De qualquer jeito, eu não sabia o que aconteceria se eu negasse os pedidos daqueles homens de preto.
Sério, como eu poderia chamar isso além de infortúnio?
Eu lamentei esse destino – Então, ouvi aquelas palavras.
“Há algum detetive presente entre os clientes?”
Inicialmente, pensei que tinha me enganado.
Mas quando aconteceu uma segunda vez, eu aceitei a realidade.
Neste lugar, havia alguma questão que precisava de um detetive.
Mas, para ser honesto – Eu já encontrei esse tipo de confusão tantas vezes. Eu não diria que tenho a natureza de sempre me meter em confusão, se não tivesse razão para isso.
Então, eu poderia evitar essa se não fizesse nada.
Se eu fechasse meus olhos, esta turbulência passaria antes que eu me desse conta.
Se alguém me perguntasse se eu realmente tinha uma ideia tão ingênua, eu teria que concordar.
Mas desta vez, foi diferente.
O que me fez abrir bem os olhos.
Era ela, sentada ao meu lado, que chamou completamente minha atenção.
“Sim, eu sou uma detetive.”
Esse foi o encontro entre eu, Kimihiko Kimizuka – e ela, Siesta.
A cor de seus olhos, e de seu cabelo, era diferente das de uma japonesa. Ela tinha um belo rosto, era como cristal, e usava um vestido peculiar de estilo militar. Somando tudo, havia uma beleza surreal nela.
Um milagre, uma garota dessas, estava bem ao meu lado, e eu nem tinha percebido sua existência. Envergonhei-me por isto – e me esqueci completamente da situação que estava. Então eu disse a ela:
“Ei, seu nome é…”
Mas não foi o encontro predestinado que eu esperava.
“Perfeito, você – seja meu assistente.”
“Hã?”
E antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela agarrou minha mão, e se levantou da poltrona.
“Aqui!”
“Rápido.”
A garota correu até a comissária de bordo… E eu fui puxado pela mão. Os passageiros atordoados nos olharam boquiabertos, enquanto acontecia essa virada estranha dos acontecimentos.
…Ah sim, uma detetive, hein?
Eu tinha me esquecido disso por um instante, graças à presença da garota, mas aconteceu algo neste voo que precisava de um detetive. E ela acabou de me chamar de… assistente?
A garota bonita puxando minha mão era uma detetive, e eu era o seu assistente. Até mesmo com esta natureza problemática que eu tinha ligada a mim, há mais ou menos uma década, o desenrolar das coisas me deixou sem condições de reagir.
E enquanto eu estava confuso.
“Siesta.”
A garota falou sem olhar para trás.
“Este é o meu nome.”
“É um nome estranho…”
Foram as únicas palavras que consegui dizer.
“É um codinome.”
“Um codinome?”
“Isso é comum pra todo mundo, certo?”
“É comum não ter um codinome.”
As pessoas geralmente não tem, né?
“Então, qual o seu nome?”
“Kimihiko, Kimizuka.”
“Entendi, posso te chamar de Kimi?”
"…Isso é um apelido? Um pronome? Ou um piloto de corrida?"
Perguntei, e Siesta finalmente se virou para trás, pela primeira vez.
“Quem sabe? O que você acha?”
Ela sorriu, com um milhão de pontos de fofura.
Não era a hora para uma cena de comédia romântica.
A comissária de bordo nos levou até a sala de controle – A cabine.
“Eu trouxe a detetive e o assistente.”
Essa foi uma classificação bem rápida…
Também não é a hora de retrucar. A situação continuava terrível.
A comissária bateu na porta, então houve um som eletrônico, o som de uma porta sendo destrancada, e a porta pesada se abriu.
“Isso…”
Eu duvidei do que estava vendo diante de mim.
Nesta cabine abarrotada – estavam o piloto e o copiloto, sentados em suas poltronas.
Dos dois, o que parecia mais velho – provavelmente o piloto, estava segurando os controles com um ar pálido. O mais jovem – o copiloto, estava amassado e sem consciência. Sentado em cima do copiloto havia um cara com as pernas cruzadas.
“Yo, nunca pensei que iria ter um detetive.”
O cara loiro tinha olhos cor de esmeralda.
Ele falava japonês, mas sua pele e suas feições mostravam claramente que ele era do norte da Europa.
Ele parecia completamente relaxado enquanto sentava no copiloto, olhando para mim e para Siesta.
“Vocês são bem mais jovens do que eu pensei, mas dane-se. Quem é o detetive?”
Uma voz zombeteira.
Provavelmente ele está nos pressionando, tentando garantir que tenha a vantagem.
Na verdade não, mesmo que ele não estivesse fazendo isso. Esta era absolutamente a pior situação para nós.
Mesmo que eu nunca houvesse encontrado um sequestrador. Eu odiei, mas minhas pernas não respondiam.
“Primeiro, seu nome?”
Só havia uma pessoa que não se intimidou nem um pouco.
Lá estavam o piloto pálido, o copiloto que havia perdido a consciência, a comissária cuja maquiagem tinha sido arruinada pelo suor. Diferente destes adultos assustados, a garota que ainda era bem jovem, encarou de frente o sequestrador.
“Morcego.”
É um codinome, o homem falou.
Então, Siesta olhou para mim.
“Viu, todo mundo tem um codinome, não?”
“Como eu iria saber!?”
Eu não ligo nem um pouco para isso! Além do mais, isto não é hora para piadas!
Eu incitei o olhar, estranhamente alegre, de Siesta a se virar para frente e encarar o sequestrador, Morcego.
“Sou Siesta e este é o meu assistente, Watson. Nós crescemos juntos em Baker Street.”
Qual é a dessa garota com suas brincadeiras intermináveis? Ela é irritante.
“Agora, Morcego – qual o seu objetivo? Por que você me chamou… a Lendária Detetive?”
Claro. Eu tinha me esquecido do horror da situação por Siesta estar tão tranquila.
“Haha, Haha! Que mulher interessante. Certo, eu também estou me divertindo.”
Morcego riu, enquanto continuava em cima do copiloto, e disse:
“Deduza o motivo para eu ter sequestrado este avião. Se você acertar, eu desisto de quebrar o pescoço do capitão.”
Neste momento – as vidas de seiscentos passageiros, e funcionários, estavam nas mãos de uma Lendária Detetive.
***
Sequestrador vs. Lendária Detetive
“A razão pela qual você sequestrou este avião?”
Siesta repetiu as palavras do sequestrador Morcego, e colocou os dedos em seu queixo pequeno.
“Você nos chamou aqui só para deduzir isso?”
“Aah, isso mesmo. Só um jogo, um jogo com as vidas dos seiscentos passageiros e funcionários deste voo... Isto não te deixa animada?”
Morcego deu um sorriso que parecia ter outra intenção, e nos encarou enquanto lambia os lábios. Ele era realmente um cara nojento à primeira vista.
“A condição para vencer é descobrir porque eu sequestrei o avião. Só isso.”
“E se conseguirmos salvar as vidas de todos, falhar quer dizer morte, não?”
“Sim. Regras simples, certo?”
“Sim, mas se falharmos o seu destino vai ser o mesmo que o nosso.”
Siesta dirigiu um olhar afiado a Morcego.
“...Sim. Nem eu posso me salvar de um avião em queda livre.”
“Então você vai fazer isso, mesmo que custe sua vida?”
“Provavelmente, eu não me sentiria vivo se não fizesse isso.”
“Entendo. Você realmente é uma pessoa entediada.”
Siesta estava inesperadamente calma e equilibrada enquanto enfrentava o sequestrador.
Ela respondeu casualmente, mas era como se eu pudesse ver espadas invisíveis voando.
Parecia que uma batalha estava prestes a começar entre eles–
“Sim, estou entediado. Entediado o suficiente para vir para outro país sequestrar um avião.”
“Sim. Esta é a resposta.”
Mas momentos depois–
“Você sequestrou o avião porque estava entediado.”
Esta é a resposta final, ela disse.
Siesta nunca pediu por uma segunda opinião, e usou o privilégio da resposta final.
“…Espera um pouco, Siesta, calma aí. Você está falando sério?”
Ele sequestrou o avião – porque estava entediado.
Como isso é possível? É como se alguém tivesse conjurado uma cena entre um sequestrador e uma Lendária Detetive, e agora fosse simplesmente terminar assim? A resposta envolve o destino de seiscentas pessoas, sabia?
“Estou falando sério, é claro. Ele não disse que estava entediado, muito entediado, e quis sequestrar um avião?”
“…Bem, ele disse isso. Mas era só brincadeira, não era?”
“Ah, então vocês estão sugerindo que este homem está mentindo?”
“Hã?”
Siesta imediatamente se virou de mim para morcego.
“Você espera que as palavras que você acidentalmente deixou escapar na frente de uma detetive destemida lendária sejam mentira, e que possa terminar o jogo aí, com minha derrota – Você está assustado, não está?”
Ela falou sem nenhum sinal de medo.
“Hahahahahahahahahahahahaha! Incrível, é realmente impressionante. Quanta coragem você tem.”
A calma inicial de Morcego... deu lugar às gargalhadas, enquanto ele se contorcia, incapaz de se conter.
“Não, isto é impossível. Você acha que eu sou esse tipo de pessoa? Ah meus caros, eu admito minha derrota. Perdi.”
…Espera, espera, você está brincando, né?
O real motivo para você ter sequestrado o avião é porque estava entediado?
Ou ele perdeu a vontade de lutar diante da atitude excessivamente arrogante de Siesta?
“Terminou mais rápido do que eu imaginava, mas tudo bem, consegui o que queria. Por enquanto, vou recuar.”
Morcego saiu de cima do copiloto e caminhou em nossa direção.
“Ah, não se preocupem. Ele só está inconsciente, ele não está morto. Provavelmente serei preso assim que pousarmos no aeroporto, mas não matei ninguém. Provavelmente eles vão me colocar na mansão por um tempo e me soltar depois.”
Morcego suspirou enquanto passava por nós e foi em direção ao lugar onde seu assento deveria estar.
“Agora, lembre-me quando pousarmos. Ah, os paparazzi podem ser bem irritantes, então, por favor, cubra meu rosto com uma jaqueta algo assim.”
E quando esta cena estava acabando.
“Aah, então você estava mentindo mesmo?”
Siesta falou sem um pingo de emoção.
“...O que você quer dizer?”
Morcego ouviu isso e se deteve.
“Não, nada.”
“…Olha, senhorita detetive, eu tenho sim outra razão para ter sequestrado o avião, mas estou admitindo a derrota diante de sua coragem, sabia? Sério, não me force a dizer nada.”
Então esse era o caso, afinal?
Acabou inesperadamente cedo, tudo graças à bravura de Siesta.
Eu estava realmente curioso a respeito da verdade, mas tudo podia esperar até que o avião pousasse em segurança, e nós deveríamos deixar a polícia cuidar do procedimento.
Mais importante, não deveríamos deixar o cara mudar de ideia. Deixar ele voltar para o seu assento, não agitar ele. Ah sim, talvez essa era a importância de me ter como assistente.
“Certo, Siesta. Ele está sendo obediente agora. Devíamos segui-lo e depois voltar para as nossas poltronas.”
“Não, não foi dessa mentira que eu falei.”
…Ah, entendi.
Se ela pudesse me ouvir obedientemente, ela nunca teria se autointitulado Lendária Detetive.
“Você disse que daria sua vida só para sequestrar este avião, mas isso é mentira, não? Você está com medo de morrer, não está?”
De novo, Siesta acendeu o pavio.
“…O que você está dizendo?”
Morcego parou, com as costas voltadas para nós, e sibilou.
“Você recuou cedo demais.”
“O que você quer dizer?”
“Você admitiu a derrota para mim e recuou. Um homem sequestra um avião nesta época, um avião japonês, que dizem ser impossível, e apenas recua diante de uma garota?”
…Falando assim, eu também estava um pouco curioso quanto a isso.
Ele fez isso com tanto alarde, e desistiu em um momento tão oportuno. Pensei que estávamos com sorte… Mas Siesta não ia deixar essa passar.
“É como se tivessem mandado você sequestrar este avião. Te mandaram morrer na queda do avião – Estou certa?”
“……..”
O silêncio era a confissão de culpa.
“Mas você estava com medo de morrer, e você não queria morrer. Então você nos usou para te dar uma razão para não morrer, não?”
Esse sequestrador foi ordenado a se matar – mesmo que ele começasse a reclamar, ele começou a valorizar sua própria vida nesse momento crucial.
Então, ele pensou em chamar um detetive para um jogo de dedução. – adivinhar o motivo por trás deste sequestro, e desistir, terminar o assunto aqui, salvar as vidas dos passageiros e a si próprio.
Ele disse “provavelmente vou ser preso assim que pousarmos” com um suspiro, mas isso também significava alívio.
Já que o sequestro falhou, Morcego certamente seria morto por quem o ordenou. Então, ele queria usar a polícia japonesa para se proteger.
Sim, então, qualquer motivo teria sido válido.
Mesmo que Siesta tivesse falado que a razão pelo sequestro era dinheiro, resgatar um prisioneiro, iniciar uma crise diplomática, ou qualquer coisa assim, Morcego teria assumido a atitude adequada e dito que essa era a resposta certa. Ele, acima de qualquer um, era quem mais queria que o sequestro falhasse.
…Hm, mas então...
“Neste caso, por que você inventaria esse tipo de jogo de detetive? Se você repentinamente não quisesse continuar com o sequestro era só se entregar, certo?”
Não havia necessidade para chamar um detetive. Ele poderia ter se entregado à polícia quando o avião pousasse.
“O orgulho dele não permitiria.”
Siesta murmurou.
“Ele não queria ser derrotado sem uma luta, uma disputa pelo menos, figurativamente.”
Então era isso?
A pessoa envolvida continuou como estava, suas costas voltadas para nós, ele continuava quieto…
Nenhuma palavra foi dita.
“Ei, se importa se eu perguntar algo?”
Morcegou chamou Siesta e eu, bem na hora em que íamos retornar aos nossos assentos.
“Como você descobriu tudo?”
Ele estava agindo como um antagonista que tinha sido completamente derrotado por uma Lendária Detetive, pedindo para saber a razão de sua derrota.
“Que pistas você tinha para deduzir isto? É só porque eu recuei rápido demais–”
“Aah, esse é um ponto.”
Siesta expirou, e virou sua cabeça.
“Mas eu sabia desde o começo. Sei tudo sobre o fato de você ter embarcado neste avião, planejado sequestrá-lo, e até sobre as pessoas que te mandaram fazer isso.”
…Quê?
Siesta embarcou neste avião porque ela sabia o que aconteceria?
Então ela esperava esse desenvolvimento, mesmo sem deduzir?
“Um detetive de primeira classe resolve um incidente antes que ele ocorra.”
Bem, eu me atrasei um pouco porque acidentalmente tirei um cochilo.
Siesta gracejou enquanto pegava no próprio cabel.
Então essa é a origem do codinome dela, ela não parece espanhola…
“…Entendi, então foi assim.”
Morcego continuou de costas para nós enquanto calmamente respondia à revelação de Siesta.
“Ah cara, ainda bem que perguntei no último minuto.”
“Assistente, se abaixa.”
Siesta murmurou ao meu lado.
“Um agente de primeira linha matará o broto em seu berço.”
No momento em que Morcego disse isso, ou bem antes disso, eu senti um forte impacto.
“Aaai!”
E quando dei por mim, estava caindo sentado no chão.
O que… não, Siesta me jogou longe?
“Ei Siesta, o que você… hã?”
Diante dos meus olhos, estava Siesta com um líquido vermelho-escuro escorrendo de seu ombro.
Olhando para ela, estava Morcego, parado coçando a cabeça, havia uma coisa afiada apontando da sua cabeça, ou talvez da sua orelha.
“Acho que vou ter que mudar meus planos, afinal, vou ter que matar você sozinho.”
***
O mistério coexiste com o Sci-fi
“…Hã?”
“Siesta!”
Corri em direção a Siesta, que tinha caído tentando me proteger.
“Aah, eu realmente devia ter contratado um assistente… você tem sido inútil até agora.”
“Isso é irracional! Foi você que me contratou à força.”
Mas bem, eu também sinto que sou inútil.
Não, esta não era a hora para essa disputa insignificante.
“O que é isso…”
A antena saindo da orelha direita de Morcego parecia ter consciência própria, se revirando. Era meio verde-escuro e roxo, e parecia realmente misterioso. Era ágil, e era preciso imaginar qual o alcance de seu tiro.
“Um androide.”
Siesta pressionou a ferida em seu ombro, e se colocou de pé.
“Esse homem é membro de uma organização secreta SPES. Eles criaram androides através de uma inteligência sobre-humana, e das sombras, ameaçam o mundo.”
“Androides… isso é possível? Então, Morcego…?”
Ele não é humano? Um monstro?
“Esse homem é só uma orelha, roubou uma amostra de testes e instalou em seu corpo – em outras palavras, ele é só meio androide.”
“Siesta, como você sabe desse tipo de coisa…”
“E mandaram-no fazer isso como pena por ter traído a organização.”
“Sério, Siesta, como você sabe tanto?”
Ela não é uma dessas coisas, certo?
E aquele momento de dúvida foi interrompido pela voz alta de Morcego.
“Entendi, então você sabe disso também? Eu deveria levar seu cadáver como uma oferenda, afinal.”
A antena agitou-se de novo, e voou em nossa direção.
“Assistente, espera aí.”
“Hã?…. Woah.”
Meu corpo voou.
Ou não, Siesta me enforcou e pulou alto para evitar o ataque inimigo.
Eu podia sentir o cabelo branco tocando minha bochecha.
Seu nome era Siesta, que significa cochilo.
E, a esta altura, isso era realmente uma cena surreal, como se tivesse saído de um devaneio.
“Você é realmente humana?”
“Você é idiota? Eu pareço um monstro?”
“Bem, você parece um monstro.”
“…Você definitivamente não é popular, né?”
Mas essa não era a hora para uma brincadeira tão estúpida.
Não tem como seiscentos passageiros não terem notado uma agitação dessas.
“E-Ei, o que é isso?”
“Kyaaaaaaaa!”
Os passageiros apareceram para olhar, então, gritos e rosnados ecoaram pelo avião, vindo deles.
“C-Caros passageiros. Por favor, se acalmem.”
A comissária de bordo com a maquiagem arruinada tentou consolar os passageiros.
Mas num piscar de olhos, havia uma cena infernal no avião.
“Aaaah, já que é assim. Vou só matar todos esses humanos problemáticos.”
“Tsc, não decida tão rápido! Se fizer isso, você morrerá quando o avião cair.”
“Hã? Então eu deixo o piloto vivo. Mas, afinal, quem é você?”
“Eu sou o assistente da Lendária Detetive.”
Ah, droga, eu realmente me apresentei. O hábito é realmente assustador.
“Heh, você me chamou de Lendária Detetive. Eu tenho um bom discípulo.”
“Só falei isso no calor do momento. De qualquer jeito, não sou seu discípulo, sou seu assistente.”
Ah, merda, aí vamos nós de novo. Qual é a dessa técnica?
“…Mas sério, qual é a dessas coisas? Você acabou de chamá-las de androides.”
Perguntei, enquanto Siesta continuava a me agarrar e esquivar dos ataques de Morcego.
“Androides são monstros construídos a partir de uma certa coisa chamada ‘o núcleo’. Para ele, esta orelha. Há muitos outros que lutam com armas como ‘olho’, ‘nariz’ e ‘dente’.”
“…Espere, Siesta, você luta com esse tipo de monstro o tempo todo?”
“Eu diria que esta é a primeira vez que luto com um. Mas você realmente não sabe de nada”
“Um colegial singelo não conhece esse tipo de coisa nesse mundo.”
“Você quer dizer, o mesmo colegial que trouxe uma maleta misteriosa para o exterior?”
“Sério, o quanto você sabia qualquer coisa sobre…?”
Eu fui espionado, ou algo assim?
E a mala não tinha nada a ver com isso, não? Eu realmente não sabia de nada, sabe?
“Qual é o objetivo desses caras… sequestrar um avião e declarar guerra ao Japão, ou algo do tipo?”
“Em latim o significado do nome 《SPES》 é 《esperança》 – O objetivo deles é garantir a 《salvação》.”
Disse Siesta, enquanto continuava a me agarrar e saltar por toda parte.
Um instante depois, a antena afiada de Morcego bateu no chão onde estávamos.
Estamos a dez mil metros de altura – Se o avião for perfurado está história vai acabar no primeiro volume.
“Nunca pensei que o Japão teria uma existência que nos ameaçaria tanto assim.”
“Como detetive, discrição é algo básico para nós. Seus companheiros nunca notaram minha presença, creio eu?”
Siesta provocou casualmente.
Mas de perto, eu podia notar em sua respiração.
Siesta estava bem desgastada.
Não é de se admirar, já que ela estava lutando enquanto segurava este estorvo que era eu.
“Haha, então hoje você vai perder o sentido de agir em segredo.”
“Sério? Você não pode voltar para sua organização? Você não pode trocar informação.”
“Bem, quem sabe? Talvez eu possa mudar a ideia daqueles camaradas apressados se eu usar informações sobre vocês como isca.”
“Eles são tão ingênuos para acreditar nisso?”
“Ah, parece que você os conhece bem.”
A antena afiada voou na direção de Siesta como uma cobra voando no espaço.
Estávamos em um avião, ela só podia se defender sem nenhuma arma para atacá-lo. Ficaríamos encurralados se isso continuasse.
“O que foi agora? Sua respiração está agitada?”
“…Estou tentando meu melhor para não demonstrar isso.”
E pela primeira vez, Siesta mostrou um olhar sombrio.
“Haha, esta orelha é uma encomenda personalizada. As células auditivas na ponta desta antena podem ouvir cada batimento cardíaco num raio de cem quilômetros.”
“…Parece que eu não tenho informação suficiente, realmente não dá para esconder meu batimento cardíaco, afinal.”
Não importa o quão poderosa uma Lendária Detetive fosse, ela não era onipotente. Havia suor em sua testa.
Mas, a esta altura, eu não podia fazer nada…
“Se eu tivesse uma arma ou algo assim.”
Ela falou. Mas nós estávamos a dez mil metros de altura.
Não tinha como nós arranjarmos nada de lugar nenhum. Não podíamos nem levar uma lâmina no avião. Provavelmente não havia ninguém que tinha escondido uma arma na sua bagagem…
…Espera, havia alguém.
“Siesta, me dá trinta segundos.”
“Assistente?”
“Tive uma ideia.”
Logo num momento desses, ou melhor, por causa de um momento desses, minha cabeça começou a funcionar mais rápido.
É a natureza problemática inerente que eu tenho.
Provavelmente passei por situações de carnificina mais vezes que o número de pães que já comi em minha vida.
E esse instinto definitivamente foi a melhor compreensão que tive, adquirida com minhas experiências anteriores
“Eu sei, em todo caso, faça como quiser, já que você não fez nada até agora mesmo.”
“Ah, dá um tempo!”
Então nos separamos, e eu corri até meu assento.
“Sai! Sai! Você está no caminho!”
Eu passei por entre os passageiros em pânico, confusos, e tirei aquela maleta do bagageiro acima de meu assento.
Claro, eu não sabia o que havia lá dentro.
Não sabia se a coisa lá dentro era comum nesta situação.
Não sabia se o gato na caixa estava vivo ou morto.
Mas quando passei pela checagem de bagagem no aeroporto, notei os funcionários trocando olhares.
Havia algo preocupante sobre a segurança dos aeroportos japoneses… mas era por isso que eu podia arriscar.
“Siesta! Pega isto!”
Não havia tempo para voltar atrás, então eu joguei a maleta prateada estupidamente grande no campo de batalha.
“Kuh! Não ouse!”
Morcego notou isso, deixou de lado os ensanguentados e esfaqueou com a antena, destruindo a maleta – mas isto permitiu que Siesta pegasse o item que estava lá dentro.
“Assistente, bom trabalho.”
Siesta – Apanhou um mosquete e atirou na antena.
“Gahhhhh!”
Valeu o risco.
O fluído grotesco voou por toda parte, e a antena se enrolou de volta na orelha do Morcego.
Siesta não parou aí, ela imediatamente se aproximou de Morcego, e enfiou a arma na garganta dele–
“Bam!”
Ela imitou um tiro.
Morcego parecia confuso, e Siesta disse calmamente.
“Sim, agora você está morto.”
O que você está dizendo? Esse era o olhar que Morcego tinha.
Eu também não podia entender o que acabara de acontecer. Ela não vai dar o golpe fatal…?
“Agora você não vai ser procurado por seus colegas. Afinal, você está morto.”
“…Você está brincando comigo?”
Siesta retirou a arma da boca dele, e Morcego rangeu os dentes.
“Mas você não quer morrer né?”
“…Aah, parece que agora eu não tenho escolha. Perdi para você, ainda que eu fosse só a isca. Sem dúvidas, serei eliminado.”
“Não precisa se preocupar. A mídia só vai noticiar a sua morte.”
“O que exatamente você está…”
“E você será escondido pela polícia japonesa. Não se preocupe, existem pessoas confiáveis.”
Morcego riu, estupefato… E para ser honesto, eu sentia o mesmo.
O que exatamente era esta garota… ela se chamava de detetive, mas isso é ser negligente, certo?
“Você vai se arrepender se não me matar agora.”
“Por quê?”
“Sou bem vingativo. Já que você brincou comigo hoje, vou retribuir esse rancor.”
“Isso é impossível.”
Siesta soltou Morcego, que estava deitado no chão.
“Acabei de atirar em você com a bala vermelha, que foi feita com meu sangue, sabia? Qualquer um que tocar este sangue, não pode desobedecer o seu mestre – sua antena nunca mais poderá me atacar.”
“…Meu deus, que lógica é essa?”
“Isso é um segredo corporativo.”
“Você é uma mercenária então?”
Siesta, que havia sido questionada, respondeu com um leve sorriso.
“Não – Eu nasci para ser uma Lendária Detetive.”
Ah entendi, então tem um ser humano neste mundo com um DNA pior que o meu.
…Mas, fora isso.
“Desculpa interromper sua reunião importante, Siesta.”
Notei que eu estava bem curioso sobre essa conversa e decidi perguntar a Siesta.
“Se essa bala é modificada especialmente… quando você arranjou tempo para criá-la?”
Joguei a maleta, Morcego a destruiu… Siesta apanhou a grande arma que caiu, mirou na antena… atirou, ela conseguiu fazer isto em tão pouco tempo?
Não, espera, isso é impossível.
Neste caso, aquela bala havia sido modificada antes disso… e Siesta sabia.
Eu tinha um mau pressentimento sobre isto, e Siesta me mostrou um olhar caloroso.
“Fui eu que instruí você a trazer a maleta no voo.”
“Eu já estava em suas mãos desde o começo?”
E assim, nossos três anos de aventuras bizarras começaram.
***
Até hoje, a memória permanece
“E foi assim que conheci Morcego – e também a ex-Lendária Detetive.”
Foi uma conversa longa, mas foi para contar para Natsunagi o meu passado com Morcego. Já que eu tinha que falar dos acontecimentos de quatro anos atrás, eu não tinha escolha a não ser mencionar minha ex-parceira.
Eu me lembro dela, de quem eu me separei já há um bom tempo. Não eram todas memórias maravilhosas – mas, por alguma razão, meu rosto relaxou involuntariamente.
“Entendi… hmmm, eu compreendo você agora, mas…”
Natsunagi disse, enquanto dava um passo atrás.
“Esse cara não é realmente perigoso?”
Ela deu as costas para a parede e se afastou de Morcego.
“Aah, bem…”
“Aaah, bem… o que você quer dizer com isso? De qualquer maneira, você é uma dessas pessoas sombrias também, Kimizuka…”
Falando nisso, eu não consegui explicar para Natsunagi a minha natureza de acabar se envolvendo em confusão… mas eu esperava que ela perceberia isto quando viu que eu tinha conhecidos na polícia e na prisão.
“Falando nisso, não quero mais este cara ouvindo meu batimento cardíaco…”
Bem, isso era esperado. Uma garota desta idade não iria querer que aquela antena grotesca tocasse o seu peito. Eu também teria recusado.
“Não, não, não. Esta distância é suficiente para eu ouvir o batimento – Na verdade, eu já o identifiquei.”
Morcego imediatamente percebeu o nosso medo e explicou apropriadamente… Não, espera, o que Morcego acabou de falar? Ele sabia quem era o doador de Natsunagi?
“Morcego, você realmente sabe quem era o dono original do coração da Natsunagi?”
“Sim, na verdade é por isso que eu queria falar sobre o passado.”
Falar sobre o passado?
As palavras deste cara permaneceram inescrutáveis. O que aquilo tinha a ver com o coração de Natsunagi? O doador estava no voo há quatro anos?
“–Então, esse é o caso?”
Então eu ouvi um pequeno murmúrio de Natsunagi atrás de mim.
“O que, você pensou em algo?”
“…Não, na verdade, acabei de sentir que havia algo errado.”
Falando em errado, a primeira impressão que tive de Natsunagi foi a de que ela era alguém excêntrica… mas não era hora para piadas.
“Na verdade, não era meu tipo fazer esse tipo de coisa, sabia?”
“O que você está dizendo, Natsunagi? Você está agindo de maneira estranha todo este tempo.”
“Sim, estou estranha. Sinto como se não entendesse a mim mesma. Eventualmente sinto que eu não estou sendo eu mesma.”
A aparência tranquila desapareceu do rosto de Natsunagi, e ela ergueu os ombros.
“Bom, eu realmente não sou o tipo de pessoa que faz esse tipo de coisa para um garoto que acabei de conhecer.”
Ela estava se referindo ao que aconteceu ontem na sala de aula?
Natsunagi não era mesmo o tipo de garota que fazia algo tão corajoso?
Nesse caso, o que influenciou ela a fazer – Ah, falando nisso, eu mencionei algo parecido para Natsunagi ontem.
“Transferência de memória… Foi isso que você disse, Kimizuka. Na verdade, aquela não era eu. O dono original do coração realmente me forçou a fazer aquilo.”
Se fosse o caso, o doador era alguém que faria esse tipo de coisa quando estava vivo.
Se for por uma questão de justiça… essa pessoa seria inescrupulosa, sem vergonha e desconsideraria a opinião dos outros por causa de um objetivo.
Só há uma pessoa… que eu conhecia, que faria esse tipo de coisa.
E essa pessoa... Sim, morreu um ano atrás.
Falando nisso, quando Natsunagi passou pelo transplante de coração?
…Ei, ei, de jeito nenhum.
Que coincidência é esta? Como isto é possível?
Senti o suor frio pingando de minha testa, meus músculos estavam dormentes, e meus dentes tremiam.
Pare, não faça isto.
Pare de me perseguir.
Não sou mais o seu parceiro.
Ei, não é esse o caso?
Você já não esta morta?
“Watson, fugir da realidade é uma coisa feia.”
Morcego levantou a cabeça e me encarou com aqueles olhos corroídos.
Como se ele estivesse me avisando para não fechar aqueles olhos.
“Esta é a resposta.”
A antena afiada que eu havia visto antes cresceu para fora da orelha de Morcego.
Era uma mistura grotesca de uma dúzia de cores, ou mais, como um animal fraco se retorcendo, achei que ia vomitar só de olhar.
“Pare, Morcego!”
“Quê?”
“Assassinato vai te levar à pena de morte.”
“Assassinato, hã?”
Mas então, Morcego disse.
“Você não pode matá-la com isto, você sabe, não?”
“Pare!”
A antena ficou mais afiada que antes, e disparou em direção ao coração de Natsunagi, e então... Parou a centímetros do corpo de Natsunagi, e a ponta caiu.
Eu sabia a razão para este fenômeno.
Quatro anos atrás, uma certa pessoa disse.
[Sua antena nunca mais poderá me atacar.]
Qualquer um que tocasse aquele sangue jamais poderia desafiar o mestre.
Neste momento a antena de Morcego não podia mirar em Natsunagi… o coração dentro dela, em outras palavras–
“…Siesta, é você?”
A nostalgia que senti quando Natsunagi me abraçou na sala de aula sob o pôr do sol.
Aquilo foi a batida do coração de minha mais odiada e amada parceira, que me encontrou depois deste um ano.
“Inicialmente, pensei que aquela mulher tivesse aparecido aqui.”
Falando nisso, Morcego pareceu bem reminiscente do passado quando nós chegamos… Isso foi porque ele ouviu o coração de uma inimiga?
Morcego não podia ver nada, só podia ouvir esse som, então ele confundiu Natsunagi com Siesta. Eles não estavam na mesma página, para começar. Então era isso, hein?
“Quando aquela Lendária Detetive morreu?”
Morcego apertou os olhos e perguntou.
“…Um ano atrás, em um mar distante, uma ilha distante.”
“Entendi. É um inimigo, mas é uma pena.”
“Sim, é um resultado inesperadamente simples.”
“Simples? Que besteira. Aquela Lendária Detetive apareceu diante de você nesta forma.”
Assim que Morcego disse isso, senti um aperto no peito.
Siesta apareceu na minha frente outra vez – Aaah, sim, isto seria bem romântico, se fosse o caso.
Mas isso nunca aconteceu com ela.
Um momento emocional tão oportuno assim.
Nada disso seria adequado à racional Lendária Detetive.
…E eu era um assistente ruim.
Sim, eu admito.
Sempre reclamei… mas sempre soube o quão incrível Siesta era e o quanto eu era o contrário disso.
Eu era só uma sombra.
A sombra negra de uma linda garota que dançou em um dia claro, como se fosse um sonho.
É por isso… Sim, é por isso.
Seria inaceitável dizer que Siesta apareceu diante de mim de novo.
Com certeza, ela já teria se esquecido de mim há muito tempo.
“É uma coincidência.”
Eu murmurei, não para Morcego, definitivamente para mim mesmo.
“Eu conheço Natsunagi, o coração de Siesta está dentro dela, mas elas são tão–”
Nesse momento, eu levei um tapa na bochecha.
“…Isso foi por causa da influência do coração, Natsunagi?”
“Não!”
Olhei para Natsunagi, que estava em lágrimas.
“Fiz isso por minha própria vontade, te bati porque eu quis!”
Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto se contorcia enquanto ela gritava para mim com todas as forças.
“Kimizuka, repita isso, se você ousar! Uma coincidência?! Você diz que este encontro é uma coincidência? Chega de brincadeiras. Não seja irresponsável e diga que isso tudo é destino! Ela passou três anos com você, e ainda quer estar com você mesmo depois da morte! Este é o desejo deste coração, ele esteve procurando por você esse tempo todo, Kimizuka Kimihiko! Tudo para encontrar você de novo… Isso é tudo. E-E você… diz que isto tudo é só uma coincidência? Não diminua a vontade dos outros!”
E antes que eu percebesse, abracei o seu corpo esguio.
Então, era assim que era.
Uma vez eu disse – O coração dentro de Natsunagi está procurando por uma certa pessoa.
Natsunagi… o coração dela (Siesta) procurou por essa pessoa X durante todo o ano passado, e acontecia que, de todas as pessoas, era eu.
Então Siesta queria me encontrar de novo?
“Você está aí?”
Não houve resposta, e isso já era esperado.
Pois a detetive já estava morta.
Mas...
“Já faz um tempo, Siesta.”
O calor vindo deste coração a esta altura realmente vinha dela.
“Na verdade, eu tenho muitas coisas para dizer a você.”
Você sabe o quanto sofri desde que me tornei seu assistente?
Você escondeu uma arma, lutou algum tipo de batalha anormal contra uma organização secreta, nossa reputação aumentou, e eu acabei vagando pelo mundo com você por três anos, só para evitar ser morto, vivendo sem um centavo, lutando contra os androides, dormi durante um furacão, ocasionalmente ganhei dinheiro em um cassino, pulei em uma cama de hotel, e acabei falido no dia seguinte. Passamos por desertos, florestas, montanhas, mares, e então e então–
“–Por que você morreu primeiro, sua idiota?”
Eu não me apaixonei por você, para começar.
Não é a mesma coisa para você?
Você e eu não somos amantes, e não somos amigos.
Nós só tínhamos essa parceria estranha de negócios, de ser detetive e assistente.
Mas, mas então…
Foi você que me arrastou.
Então não me deixe para trás e vá embora sozinha.
Você deveria ter me dito adeus antes de ir, pelo menos.
“Não, é por isso que você voltou, certo?”
Para dizer adeus.
Ou melhor...
“Por favor, continue cuidado de mim, ok?”
Natsunagi se afastou de mim, dizendo isso.
Aquele rosto – Não, provavelmente eu estava enganado…
Era um sorriso nostálgico que valia um milhão de pontos.
***
La detective está muerta
Fuubi-san voltou para nos pegar, e com ela nos liderando, Natsunagi e eu saímos da prisão.
“Vocês perguntaram tudo que queriam?”
Fuubi-san estava com s mãos no volante enquanto perguntou para nós, que estávamos sentados atrás.
“…Sim, mais ou menos.”
Respondi para Natsunagi, cujos olhos ainda estavam vermelhos.
“Ah, é surpreendente ver que aquele homem estava realmente disposto a falar.”
“Tudo que falta são as evidências, certo? Ele não estava relutante em dizer nada?”
Essa é a razão pelo qual Siesta capturou Morcego vivo naquele voo. Fuubi-san assumiu daí, mas mesmo depois de quatro anos, ela não tinha sido capaz de obter nada importante dele.
Uma nota de rodapé, desde que Siesta morreu, houve um cessar fogo com a SPES, ou, para ser preciso, aqueles caras me ignoravam de propósito. É uma pena, mas acho que eles escolheram me ignorar já que eu era só um peixe pequeno perto da Lendária Detetive.
“Bem, em todo caso, você conseguiu obter algo. É bom me agradecer logo.”
Fuubi-san parecia ter esquecido que ela havia dito que tinha algo para fazer na prisão, e que só pegamos carona. Mas, bem, nós deveríamos agradecê-la.
Mas eu estava curioso sobre algo.
“Fuubi-san, você sabia e tudo desde o início, não sabia?”
“O que você quer dizer?”
“Sobre de quem era este coração… O coração de Natsunagi.”
“Quem sabe? Mesmo que você me pergunte, é só instinto.”
Não havia motivo, mas ela nos indicou para esse cara, então eu não podia acreditar que não havia sentido para isso.
Então, nesse caso, talvez o objetivo de Fuubi-san fosse…
“Natsunagi.”
Tive que falar estas palavras neste momento.
Olhei para frente e disse a Natsunagi, que estava sentada ao meu lado.
“Não importa de quem seja este coração, você tem sua própria vida para viver, Natsunagi.”
Ela não precisava ser uma substituta para ninguém.
Desculpe, vou deixar a tarefa de derrotar os Androides para vocês – Eu não pretendo envolver Natsunagi. Eu nunca deixaria Natsunagi ser uma substituta para Siesta.
“Kimizuka…”
Natsunagi olhou e lado para mim, com um olhar perplexo.
“O quê?”
“…Nada.”
Mas Natsunagi apenas balançou ligeiramente sua cabeça.
“–Obrigada.”
Ela mostrou um sorriso desabrochando.
“Aaah, estou tão cansado.”
Fuubi-san nos deixou na rotatória em frente à delegacia, e eu endireitei as costas.
Bem, meu deus, faz um ano desde que trabalhei de verdade…E eu não esperava que meu trauma passado fosse trazido de volta. Sério, eu estava acabado.
“…A culpa é minha?”
Natsunagi mostrou um raro olhar de culpa enquanto olhava para meu rosto.
“Eu nunca disse isso. Na verdade, gostaria de te agradecer.”
“Hã…?”
Natsunagi arregalou seus olhos, que já eram grandes.
“Bem, como eu coloco isso, mas graças a você, ahn…”
Por alguma razão, eu não conseguia ordenar adequadamente nenhuma palavra.
Mas desde que conheci Natsunagi eu encarei meu passado, e talvez eu–
“Não posso continuar assim, eu acho.”
Foi isso que eu decidi.
Bem, ainda é possível.
“…Acho que ainda sou a mesma.”
Natsunagi parecia ter se decidido, pois ela mordeu os lábios.
Quê? Ainda havia algo na sua mente?
Eu queria pedir–
“Obrigado por hoje.”
Eu fingi não notar nada, e pretendi sair.
Pois já avia resolvido o pedido de Natsunagi.
Nesse caso, eu não tinha razão para me envolver com ela, e não deveria.
Naturalmente, Natsunagi e eu não eramos amantes, nem amigos.
Eramos apenas um detetive (em atuação) e uma cliente, só isso.
Uma vez que esse pedido estava resolvido, não nos envolveríamos mais.
Logo, eu deveria me apresar em deixar Natsunagi.
Natsunagi finalmente conseguiu uma nova concessão de vida.
E é por isso, que eu esperava que ela não ficasse presa a Siesta.
E também, minha existência lembraria ela de Siesta, que era o porque eu não podia me envolver com ela.
“Tchau então.”
Foi o que pensei, e dei um passo em direção a entrada da delegacia –
“Espera.”
Mas bem quando eu estava para sair, minha mão direita foi pega por dedos finos.
“O que foi, Natsunagi?”
“…Não, hmm…”
Seus dedos continuavam me segurando.
Natsunagi olhou para baixo, hesitando abrir a boca e falar.
Eu sabia que Natsunagi queria dizer algo, que ela queria dizer para mim.
Mas não tinha jeito.
É a vida dela. Eu não poderia deixá-la carregar o fardo que já era de outra pessoa.
O silêncio se prolongou acima de nossas cabeças.
No telão em frente à delegacia, uma idol cantava de forma estridente. Parecia ser algum tipo de PV, e a garota, com a idade de uma colegial, olhava para a câmera, piscava e cantava alguma música pop. Isto fez o silêncio ficar ainda mais embaraçoso.
“Se não é nada, estou de saída, então.”
“…Kimizuka, você é horrível;”
Sim. Desculpe por ter falhas de caráter.
Eu deixei Natsunagi, que havia dito as mesmas palavras que antes, e estava prestes a me virar rumo ao pórtico outra vez–
“Erm!”
E outro punhado de passos me deteve.
Olhei de lado novamente, Natsunagi inclinou a cabeça. Em outras palavras, não era mais ela.
Eu olhei um pouco para baixo, e a dona da voz apareceu diante de mim.
É uma colegial, seu rosto meio coberto por um capuz, e o olho parecia mais que brilhante, dando a ela uma aura extraordinária.
Falando nisso, acho que já a encontrei antes.
Natsunagi e eu olhamos para cima em uníssono, e uma idol familiar estava cantando lá.
“Erm, na verdade eu sou uma idol.”
Ei, ei, eu acabei de terminar um trabalho aqui. Por que eles estão vindo um atrás do outro… Não, se há uma razão real para isto.
Olhei para Natsunagi ao meu lado, ou melhor, para aquele coração.
E então, como uma confirmação do meu sexto sentido…
“Tenho algo para pedir que o Lendário Detetive resolva!”
Minha nossa, vou ter que explicar de novo?
“Me desculpe, eu não sou um detetive…”
E naquele momento.
“Perdoe este cara desmotivado, ele é só um assistente.”
Natsunagi me olhou, de repente.
Eu me decidi, ela tinha afirmado.
“Ah, então…”
“Mas está tudo bem.”
A idol parecia confusa.
Natsunagi disse para esta nova cliente.
“Esta é a detetive. Eu sou a Lendária Detetive – Nagisa Natsunagi.”
A detetive já esta morta.
Mas esse legado nunca vai morrer.
***
Monólogo de uma garota – 1
Antes que eu percebesse, me encontrei procurando uma certa pessoa, mas, na verdade, eu só me sentia assim desde o ano passado, ou algo do tipo… Na verdade, sinto que eu me assentei na minha dita identidade só recentemente.
Não, espera.
Por favor, não comece um tsukkomi³ tão rápido.
Desde criança, sempre estive doente, sempre passava meu tempo na cama, então sempre senti que eu não era necessariamente alguém… Não, na verdade, eu estive negligenciando isto de propósito esse tempo todo.
Eu queria calçar tênis de corrida, correr livremente pela pista.
Eu queria ir tomar um chá gelado com meus amigos, depois da escola.
Mas estes desejos não podiam ser realizados.
Se eles não podiam se realizar, não importa o quanto eu desejava, eu poderia muito bem não desejá-los mais. Foi por isso que continuei dizendo a mim mesma que eu não deveria me aceitar.
Por isso, para ser honesta, que eu não tinha muitas lembranças do passado.
Eu só conseguia lembrar de mim em uma pequena casa, dormindo em uma pequena cama, e basicamente mais nada. Eu tentei me recordar, mas por algum motivo, minha cabeça doía–
Mas está tudo bem.
Por mim, tudo bem. Era o que eu dizia a mim mesma.
Mas, em certo dia, eu tive um desejo que queria realizar, não importa como.
Neste peito, este coração exigiu.
Ele gritava, querendo encontrar uma certa pessoa.
O que eu devia fazer?
Eu nunca tive um desejo antes, e, no passado, nunca tinha tentado realizar um desejo.
O que eu podia fazer, então? Eu poderia realizar o desejo deste coração?
–Antes que percebesse, eu estava caminhando.
Neste momento, eu tinha pernas que podiam pisar com força no asfalto. Tinha 18 anos de emoções intensas em meu coração. Com elas, eu era invencível.
[Você é o Lendário Detetive?]
Eu finalmente me agarrei a esta esperança. Eu estava completamente desmotivada, sem vigor, e parecia ter desistido de muitas coisas – assim como fiz no passado.
Por isso, eu já estava cansada, e antes que eu soubesse, eu o ataquei e acidentalmente o deixei me ver chorar… tudo por causa do meu descuido.
Mas, falando em descuido, foi neste momento que fui salva por ele.
[Não importa de quem seja este coração, você tem sua própria vida para viver, Natsunagi.]
Eu obtive essas palavras preciosas dele.
É por isso que neste momento, sim.
Este dia será um novo começo para minha vida.
***
Um dia, dois anos atrás
“Hm-mmmmm, hmmmmmm”.
É um dia quente e ensolarado, estamos caminhando por uma floresta densa quando a garota, minha parceira, começou a cantarolar energicamente.
“Você parece estar de bom humor, Siesta.”
Neste dia, estávamos no encalço da SPES, ou melhor, continuávamos a ser caçados pela SPES, mas essa autoproclamada, Lendária Detetive, não estava nem um pouco preocupada.
“Uma pessoa que não é capaz de se animar falha enquanto é adulto.”
Siesta parou de cantarolar e falou assim.
Não, você não é uma adulta, certo… Na verdade, eu queria retrucar, mas eu não sabia a idade dela. Parecia que ela sentia que, sendo uma Lendária Detetive, não deveria revelar facilmente sua verdadeira identidade. Afinal, ela não me dizia nem o seu nome verdadeiro.
“Que canção é esta, afinal?”
Ela poderia, pelo menos, revelar isso, pensei, enquanto perguntava o que ela estava cantarolando.
“Uma música de uma idol japonesa.”
“Japão? Qual a sua nacionalidade mesmo?”
Bem, de qualquer modo, Siesta poderia ser japonesa.
“Mas isto é surpreendente. Você se interessa por idols?”
“Enquanto detetive, eu não posso perder a esperança de cantar uma música pop de idol.”
“Sério, eu não sei dizer como você se assemelha a um detetive em qualquer aspecto.”
Eu quero gostar de ser uma Lendária Detetive! Cantar, dançar, lutar com androides de vez em quando.
…Eu queria dar um soco nela.
“Na verdade, não, estou dizendo que, enquanto detetive, eu deveria expandir meus horizontes. Assim como a expressão sugere, de todos os cinco sentidos, visão e audição são os mais importantes.”
Expandir seus horizontes…o que, como se você fosse esticar uma antena? E aí seus olhos e ouvidos fossem pegar a informação, entendi.
“Bem, não importa, já que eu não planejo me tornar um detetive.”
“Aaah, você realmente não é nem um pouco adorável.”
Cale-se. Não me venha com esse olhar de piedade.
“Mas é verdade, você realmente não pode ser um detetive.”
“Claro, não é?”
“Hmm, você não vai ser um detetive, vai ser sempre o assistente de alguém.”
“Hm? Certeza.”
Naquele momento, por alguma razão, os olhos de Siesta pareceram vacilar.
“Agora, estamos chegando ao nosso destino.”
Mas isso apareceu por um momento, e ela rapidamente voltou à sua costumeira aparência tranquila, apontando um casarão que era como um castelo antigo.
“Há realmente uma Medusa?”
Medusa – A criatura mítica que diziam ser capaz de transformar humanos em pedra. Aparentemente, haviam rumores que um monstro desses estava vivendo nesta casa, então nós viemos para investigar.
“Quem sabe? Se isto realmente existe, não há dúvidas de que será alguém do alto escalão da SPES.”
“Bem, não saberemos a verdade se não vermos por nós mesmos.”
Minha nossa, Eu tinha cansado de suspirar, em vez disso dei um grande bocejo… E Siesta, caminhando ao meu lado, me encarou atentamente.
“O que é?”
“…Nada, acho que você está ficando bem-acostumado a isto, só isso.”
“Eu também não quero que isto se torne um hábito.”
Nós assoviamos enquanto fomos em direção à casa de estilo ocidental com corvos por toda parte.
“Ora, ora, me perdoem por fazer vocês percorrerem está longa viagem até aqui.”
Siesta e eu nos sentamos nas cadeiras, e o velho o proprietário da casa, nos deu um sorriso gentil.
“Está quente lá fora, não? No entanto, peço desculpas. O ar-condicionado está com defeito agora.”
“Não, você não tem que se preocupar.”
Siesta não derramou uma única gota de suor sequer, respondeu com um olhar tranquilo. Ela está tão incrível quanto de costume, e de minha parte, já que o velho se desculpou, ele poderia pelo menos abrir as janelas.
…Mas, graças a deus, não aconteceu o pior cenário possível.
Para ser honesto, eu tinha a sensação de que uma batalha aconteceria no momento em que batêssemos na porta – mas aguardando Siesta e eu, haviam inesperadas boas-vindas. Nós viemos porque ouvimos os boatos, mas como a conversa demonstrava, nós fomos recebidos calorosamente pelo homem que se intitulava como mestre desta casa.
E enquanto fomos levados até a sala de estar para falar sobre a verdade a respeito da Medusa.
“Agora então, posso assumir que você já ouviu sobre os boatos?”
Siesta perguntou ao proprietário, com expressão e postura firme.
“Sim, é verdade. Escutei rumores sobre um monstro chamado Medusa, que transformou em pedra todas as pessoas desta casa… Suponho que eles sejam sobre minha filha.”
Essa é a minha filha adotiva, disse o proprietário, com um olhar sinistro.
“Então, é realmente…?!”
“Não, isso foi um mal-entendido!”
Perguntei e o proprietário se levantou agitado.
“Há mais ou menos dois anos, minha filha sofreu um acidente… ela conseguiu sobreviver… mas, só sua vida foi salva…”
“–Insuficiência pós-coma?”
O proprietário acenou amargamente em resposta às palavras de Siesta.
“Minha filha não tem consciência, é incapaz de se mover, e só pode piscar e respirar – ela é como pedra! É o contrário! Minha filha não é a Medusa… ela é a vítima deste monstro fictício Medusa, uma vítima que foi transformada em pedra!”
“…Então, é tudo só lenha na fogueira, e boatos que se espalharam sem controle?”
“Acredito que sim.”
Perguntei e o proprietário acenou forçosamente. O silêncio caiu sobre a sala.
“…Desculpe-me por ser rude com você… Suponho que seja porque o clima está quente demais. Vou preparar alguma bebida gelada.”
Pareceu que o proprietário tentou recuperar calma, e saiu da sala.
“…Parece ser esse o caso, hein.”
Este incidente parecia não envolver a SPES… é uma não-história. Bem, já que não houve nenhuma confusão desnecessária, suponho que seja melhor assim. Vamos só tomar uma bebida gelada e voltar. Está insuportavelmente quente, então abri dois botões da minha camisa.
“Que tal você tirar a sua?”
“Você é idiota?”
“Ai!”
Siesta pisou no meu pé, com um olhar estoico.. Olhe para mim, pelo menos…
“Ah, deixei vocês esperando.”
O proprietário voltou com uma bandeja de copos de vidro. Eu estava prestes a me levantar para pegá-los, mas…
“Ai!”
Siesta pisou no meu pé de novo, tropecei, e cai de maneira caricata. Claro, os copos também foram derrubados e se estilhaçaram no chão.
“Siesta, você…!”
“Isso foi porque você me assediou.”
“Não, você já não pisou em mim uma vez?”
Mas Siesta meramente tirou um lenço para limpar as roupas do proprietário que estavam manchadas de bebida, e minhas reclamações pareceram nunca alcançá-la.
“Desculpe-me. Meu assistente é bem desajeitado.”
Hã, você está me culpando? Isso é irracional….
“Haha, está tudo bem… pode ser um pouco repentino, mas já que não temos bebidas, vocês querem conhecer minha filha? É raro ter visitas. Ela ficaria muito feliz em conhecê-los.”
“Sim, é claro.”
Siesta sorriu de modo muito cortês.
“Mary, olhe, nós temos convidados.”
O proprietário nos levou até um quarto no terceiro andar, e a garota chamada Mary estava dormindo em uma cama chique com um dossel. Um corpo frágil, cabelo loiro brilhante e olhos maquinais cor de esmeralda, um aberto e um fechado, parecia tão bela e intrincada quanto uma boneca – Não, espera, esta metáfora não é apropriada. Mary estava usando um respirador, fazendo o seu melhor para viver. Ela definitivamente não era uma boneca.
Senti-me estranhamente dolorido, recuei até Siesta, e virei minha cabeça para o lado. Comecei a ter dificuldades para respirar, provavelmente por culpa.
“Aaah, minha pobre Mary. Você é tão bonita, ainda assim as pessoas de fora da floresta te chamam de monstro. Isso é cruel da parte deles.”
O proprietário cobriu o seu rosto enquanto lamentava a tragédia que havia se abatido sobre sua filha.
…Claro, eu entendi então porque nossa visita foi bem recebida. Até uma Lendária Detetive entenderia que essa filha não era nenhum monstro, uma Medusa. Ele esperava que esse engano fosse corrigido.
“Sim, nós assumiremos a responsabilidade àquelas pessoas fora da floresta que os boatos eram falsos…”
Eu disse, e estava prestes a ir até o proprietário – Mas antes que eu notasse, vi o chão diante de meus olhos.
…Chão? Eu acabei de cair? Por quê?
Por alguma razão, eu não podia fazer força alguma.
“É por isso, Mary, está tudo bem agora. Vou trazer mais alguns amigos para você.”
…O que ele está dizendo?
Eu lutei para virar minha cabeça, e olhei para cima, encarando o velho proprietário.
Ele está sorrindo.
“Haha, hahaha. Não se assuste, isto não vai doer nada. Não é nem um pouco assustador.”
Ele falou assim, enquanto tirava uma seringa do seu bolso… Eu não sabia no que ele estava pensando, mas ele se espetou no braço direito.
“Você achou que eu iria te dar uma injeção? Haha, isto é um antídoto. Afinal, o quarto está cheio de veneno.”
Q-Quê…? Então a razão para eu não poder me mover era porque…
“Logo, seus corpos vão ser capazes só de respirar, e vocês serão imobilizados, exceto por isso. Ao mesmo tempo, vocês não morrerão, e continuarão a sofrer em agonia!”
…Entendo, então as janelas estavam fechadas por isso… Falando nisso, ele tinha dito que Mary podia respirar por si mesma, mas ela estava usando um respirador. É para protegê-la de ser envenenada, afinal… Eu deveria ter notado que algo estava errado…
“Agora você e essa Lendária Detetive serão amigos da Mary… Amigos…”
Mas o velho proprietário notou algo errado. Ele arregalou os olhos, como se espantado com algo… E logo, ele também estava esparramado no chão, como eu.
“P-Por quê…?”
Ele gritou desesperadamente. Aparecendo ao meu lado… Naturalmente estava a pessoa que eu esperava.
“Por favor, se comporte.”
Ela o prendeu com algemas, que geralmente carregava consigo, e falou para mim, enquanto eu estava deitado no chão.
“Você é idiota?”
Então foi por isso que ela pisou em mim duas vezes.
“Então você já sabia que este cara estava nos alvejando.”
Nós naturalmente reportamos às partes envolvidas, acertamos tudo, e saímos da casa em estilo ocidental. Meu corpo permanecia um pouco dormente, então Siesta me carregou nas costas, como eu pedi.
“Fiquei meio chocada quando vi que você realmente planejava beber o que era claramente um refresco batizado.”
“Foi mal…”
Parece que a bebida também estava envenenada, então Siesta pisou em mim para me proteger… mas ela não podia ter sido um pouco mais gentil?
“Então, lá atrás… Quando você limpou as roupas dele com seu lenço, você já tinha roubado um antídoto.”
“Claro, não fui afetada porque já tinha usado ele.”
Sempre, independentemente decisiva, como sempre, resolvendo tudo sozinha… Na verdade não, Era minha culpa por não acompanhar o ritmo dela.
“Mas é claro, é só uma prova indireta. Eu fui convencida quando vi os olhos de Mary.”
“Os olhos de Mary? Mas ela não estava inconsciente?”
“Não, ela estava piscando furiosamente, e aquilo me indicou tudo. Era um modo rítmico, robótico… Mas havia definitivamente alguma intenção lá. Supus que ela queria expor o erro de seu pai adotivo.”
Aquele homem era impulsionado por sua própria loucura, e nem notou o sinal de sua filha preciosa. Era um pouco lamentável… Na verdade, era realmente uma tragédia.
“Mas você é bem observadora.”
“Você é idiota?”
“É a terceira vez hoje. Isso é irracional…”
Mas, bem, eu não poderia refutar isso neste dia.
“Você esqueceu o que eu te disse a caminho daquela casa ocidental? A importância de expandir nossos horizontes, treinar nossa visão e audição. Por exemplo, você deveria ser mais sensível aos olhares humanos.”
“Entendi. Acho que isso é que é uma Lendária Detetive para você.”
Esta habilidade pode ser realmente importante, para minha autopreservação no futuro.
“Siesta.”
“Hã?”
Então, eu deveria começar a expandir meus horizontes, como Siesta disse.
“Você se importa de me contar o nome da idol? A que canta a música que você estava cantarolando?”
Então, por alguma razão, Siesta pareceu satisfeita, e me respondeu enquanto olhava para o lado.
“O nome dela é–”
Notas:
1 – Aqui a palavra usada no original é “Manzai”, referência a um tipo de comédia tradicional no Japão, em que dois personagens se envolvem em um diálogo, sendo que um deles, mais sério, serve como escada, preparando as piadas para o outro. As situações geralmente envolvem confusões de comunicação, trocadilhos ou outras formas de mal-entendido.
2 – Este trecho do diálogo é uma referência a um provérbio japonês, que poderia ser traduzido como “Se você quiser pegar um general, atire no cavalo primeiro”.
3 – Movimento cômico característico do Manzai, em que um personagem aponta, ou age de modo, algo ridículo em uma cena, para logo a seguir ser cortado por outro, ou mesmo levar um tapa, ser atingido por algum objeto.