Volume 1 – Arco 7
Capítulo 51: Novo Plano
Era a luta de Diego, no começo do mês. Ele estava um pouco nervoso desde o início já que sabia que teria a visita do Sr. Rosa. O rapaz até achou que não fosse ver o homem lá, que ele teria algum compromisso ou que simplesmente faltaria. Entretanto, lá estava o homem, sentado na arquibancada com seu traje rosa.
As primeiras lutas foram mais fáceis do que o de costume, já que o rapaz acabou ficando focado nas lutas. Seu nervosismo lhe deu maior concentração, o que era incomum para a maioria dos jovens. Na verdade, incomum para qualquer um.
Ele só começou a ficar nervoso de verdade quando todos os alunos da sua turma perderam para os frios, o que significava que ele teria de enfrentar todos sozinhos, um contra um. E foi isso que ele fez, até chegar na final.
Na última luta, o rapaz pareceu estar de volta na terra. Sabia que tinha sofrido pouco dano e que poderia ir com tudo para cima de seu oponente: Ross, que parecia nervoso e isso lhe dava um pouco de confiança.
— E quem será que vai ganhar? — gritava o Prof. Gutierrez, todo animado, como sempre. Ainda mais por saber que uma figura tão importante estava nas arquibancadas assistindo. Finalmente o adversário frio fez um movimento. — E Ross vai para cima!
Diego viu seu adversário se mover muito rápido. Era uma das características de Ross se mover daquele jeito. Em questão de velocidade o rapaz tinha uma clara desvantagem, porém…
— E Ross ataca com um direi… Que é isso! — gritou Gutierrez, eufórico.
Ross conseguiu fingir que atacaria com os punhos para acertar um chute em seu rosto, porém Diego se defendeu com o braço esquerdo, fazendo seu oponente recuar. Não importava a velocidade, ganharia na resistência e na força.
Agora era a vez do rapaz investir. Lógico que não foi possível alcançar o oponente, ele era muito rápido. Em determinado momento, o rapaz deu uma brecha para Ross fazer um novo movimento.
— Impacto certeiro! — falou Gutierrez, mas logo se calou. Não apenas ele, como todos.
Nesse exato momento, Diego segurava a perna de seu oponente. Ross ficou assustado e tentou se desvencilhar de todo o jeito, porém perdia facilmente o equilíbrio estando com apenas uma perna.
— Já era! — disse Diego.
E imediatamente puxou a perna do rapaz para o alto, o fazendo se elevar do chão e então o chocar contra o chão do ringue, as costas de seu oponente se estatelando com um baque forte. Era como se Ross fosse uma especie de chicote que Diego usava para castigar o piso.
Quando já não aguentava mais o peso do oponente e suas forças se esvaíram, ele arremessou o garoto para longe e recuou para um canto de modo a recuperar seu folego. Ross até tentou se levantar depois disso, porém suas pernas estavam tremendo de mais.
Aceitando a derrota, mais por medo do que por respeito, o frio levantou as mãos em pose de desistência, os dois mindinhos para cima.
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— Que bananão! — disse Margô.
Diego, Tiago e ela estavam conversando no local de eventos, depois de todo mundo já ter saído. Eles só ficaram lá, pois o Sr. Rosa disse querer conversar com o rapaz depois da luta, mas antes o homem fora conversar com o professor.
Enquanto esperavam, os garotos conversavam sobre como a luta fora incrível. Entretanto, Diego notava uma timidez vinda da parte de Tiago. Ora, ele de fato era um rapaz retraído, porém não tanto daquela forma e nem com ele. O que será que lhe perturbava?
— Olá, rapazes — disse o Sr. Rosa, chegando com seu ar de superioridade e, ao mesmo tempo, elegante. A rosa em seu bolso parecia ainda mais vivida. — Parabéns pela luta, Diego, você foi muito bem.
— Obrigado.
— Você até que aguenta muitos golpes, não é? Pessoas como você geralmente ficam em nossas linhas de frente. E vou te dizer, esses são bem raros.
— Ahm… Obrigado — agradeceu, acanhado.
E embora o Sr. Rosa continuasse a encher Diego de elogios, sugestões de como melhorar em suas lutas e outras pequenas besteiras repletas de elogios, Tiago, que ainda se encontrava inquieto, interrompeu o homem.
— Senhor Rosa, nós precisamos fazer com o senhor… — Ele olhou para seu amigo e fez um sinal com a cabeça. — Só nós dois.
Imediatamente Margô arregalou os olhos para os dois. Ela pressentiu o que seguiria.
— O que vocês vão falar? — Ela estava ficando aborrecida. Porém, seus cabelos não estavam escarlates e sim verdes. Mechas verdes e pretas.
Rosa pareceu analisar o pedido por um instante, e por fim aceitou. Ele pediu, com certa fria elegância, que sua filha se retirasse. Ela o fez, bufando de raiva e lançando olhares zangados, como se quisesse que a cabeça dos dois amigos explodissem.
Quando os três ficaram sozinhos, Diego começou:
— Desculpa, senhor Rosa, é que… A Margô tá passando por uns problemas e ela não quer que a gente conte para o senhor. Mas só o senhor pode ajudar.
O homem não fez nenhuma reação, continuou com seu rosto impassível, esperando a continuação.
— É a professora Ramírez — revelou Tiago. — Ela anda abusando do poder dela na sala, só para usar a sua filha como cobaia.
— É, e é horrível — enfatizou Diego, começando a ficar irritado com a situação. — A Margô até começou a faltar as aulas dela para não ter que passar por…
— Ah, então é por isso que ela anda faltando as aulas — disse Rosa, como se tivesse finalmente encontrado algo que valesse a pena sua atenção.
— S-sim… — gaguejou Diego ao ver a reação do homem. — Porque ela anda torturando a Margô.
Rosa fez uma cara de decepção. Estava muito relaxado. Talvez não estivesse entendendo a gravidade da situação.
— Entendo. Rúnica e suas loucuras. — A maneira como ele falou isso demonstrou certa intimidade.
— O senhor conhece ela, não conhece? — perguntou Diego. Ele sabia que era aquele homem quem estava na foto. — Acho que ela conhece o senhor também. Quer dizer… O senhor usava amarelo antigamente, não usava?
Novamente, Rosa deixou de encarar o horizonte com os olhos vazios e voltou sua atenção ao rapaz da cicatriz. Ele não o encarava com aquela leve bondade, aquela elegância de antes. Tinha alguma coisa em sua expressão que havia mudado.
— Isso não é da sua conta. — Ele olhou para Tiago. — Obrigado por me informarem isso. A minha filha realmente não estava muito aberta a comentar o motivo das advertências que andou recebendo. — Ele suspirou. — Bom, é uma pena.
“Uma pena.” O que ele estava querendo dizer com aquilo? Ele sentia pena de sua filha? Pelo seu tom, parecia estar desapontado, mas não com Rúnica e sim com o desempenho de Margô. Será se Diego estava entendendo errado? Isso o irritou.
— Senhor! — disse com firmeza. — A Margô precisa de ajuda. O senhor é o pai dela e eu sei que o senhor pode dar conta disso. É isso que um pai faz, protege os filhos. Não é?
— Eu não vou estar ao lado dela o tempo todo, senhor Murdock — disse com indiferença. — Ela tem que aprender a se virar desde já, e se não consegue cuidar de um problema desses sozinha, então…
— O senhor não está ouvindo? — gritou o rapaz, agora realmente irritado. — É da Margô que eu tô falando!
— Já chega! — disse o homem, irritado. Tiago se encolheu. Diego tentou se manter firme. — Querem que eu faça alguma coisa para ajudar ela? Então que ela mereça a minha ajuda. Mal tem a coragem de vir pedir para mim! É obrigado os colegas dela pedirem. — Ele bateu o pé com força no chão, ajeitou o terno e continuou: — Isso é pura covardia. E eu não tenho filhos covardes.
Ele disse filhos, não filhas. Até onde Diego sabia, Margô era filha única. Filha.
— Você não vai ajudar?
— Não vejo motivo para tal.
Diego aperto os punhos com força. De todas as pessoas, ele não esperava que logo aquele homem fosse lhe decepcionar. No fim das contas era um verdadeiro idiota.
Após um curto silêncio, o homem se despediu com certa dignidade e foi embora. Os dois garotos ficaram em silêncio, um analisando o outro. Até que seus pés começaram a se mover sozinhos.
Quando chegaram do lado de fora, viram Margô andando, furiosa, em direção ao prédio dos dormitórios. Os rapazes foram atrás dela. Diego não sabia exatamente o que ia falar para ela quando a encontrasse, porém tinha de falar algo.
Ela entrou em um elevador e começou a subir. Ela foi parar no andar OP. Diego e Tiago seguiram ela pelo elevador. Eles começaram a bater boca conforme iam subindo, se perguntando como que iriam falar com ela, de quem era a culpa daquilo ter acontecido e etc.
Assim que a porta se abriu, um punho acertou em cheio o nariz de Diego, o lançando contra o chão.
— Vocês são uns idiotas…! — gritou ela, estérica. Ela estava com os cabelos cor escarlate. — Eu falei para não contarem nada para ele…! Eu disse que não ia falar nada...! E mesm assim vocês foram atrás odele…!
Enquanto lhes xingava de nomes muito horrendos, até para Diego, os dois tentavam se desculpar, porém eram impedidos com empurrões e socos. Nenhum acertou Tiago, mas isso foi graças ao rapaz da cicatriz, que se colocava no meio para receber todo o dano.
— Não falem mais comigo!
Ela os empurrou para fora do elevador com um chute e desceu, deixando os dois lá, sozinhos.
— Essa doeu — disse Diego, acariciando as costas e mexendo no nariz, verificando se não quebrou nada.
— Droga! Eu sabia! — exclamou Tiago. — Ela disse que ia dar errado e mesmo assim a gente foi para cima dele com esse pedido. Porcaria. — Ele chutou uma porta.
Não era a primeira vez que ele ficava irritado daquela maneira. Tiago geralmente ficava assim quando alguma coisa de errado acontecia, alguma coisa que ele não havia calculado direito; geralmente quando errava uma questão, o que era quase impossível.
Isso significava que ele estava planejando a situação desde o início, porém não foi de acordo com seus planos. Seu plano falhou, e isso lhe frustrou.
— Droga, como eu ia saber que ele era um babaca? — perguntou Diego, incrédulo, seguindo o seu amigo, que não parava de andar para frente, batendo com os nós dos dedos na própria cabeça, pensando; ou o que para o rapaz seria mais uma forma de auto penitência. — Quer parar com isso.
Então subitamente parou.
— Obrigado — disse Diego, porém logo ele entendeu que o motivo de ter parado era outro. Mais a frente havia um quarto. Era o quarto OP núm. 14.
Na frente da porta havia uma plaquinha dedicada a um homem, como havia em todas as portas; cada porta homenageava o nome de uma figura importante. A OP núm. 7, quarto de Diego, por exemplo, contava uma leve biografia dum homem chamado Osvaldo Pacheco.
Mas aquele quarto diferia, pois falava sobre alguém bem específico: Orlando Rosa, o pai de Margô. E aquela informação lhe ajudaria a montar seu novo plano.