Volume 1 – Arco 5

Capítulo 38: O Bêbado

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A situação estava cada vez mais agitada para aqueles dois. Enquanto Diego ria de desespero, Margô, a menina que simplesmente não parava de gargalhar, estava prestes a cair no chão. 

O rapaz simplesmente não fazia ideia do que acabara de dizer para que ela risse daquela maneira. Foi confiando em Rafaela, que lhe disse ser boa ideia fazer aquilo. Ele tentou ficar irritado com a ruiva, porém a gargalhada da menina a sua frente era tão estrambólica que ele só sentia vontade de rir. 

Em determinada hora, quando todos os olhares ainda o observavam, Diego foi obrigado a arrastar a cadeira para perto da moça para que ela se sentasse ou então seria capaz de realmente se jogar no chão.

Sentada parecia que sua situação estava piorando. Ela pressionava as mãos nas costelas enquanto colocava a cabeça entre as pernas para abrandar as gaitadas. Por vezes uma risada ou outra vinha tão forte que ela simplesmente colocava a cabeça para o alto e sorria para o teto.

Era uma reação engraçada de se assistir. Até as pessoas ao redor estavam rindo. Porém, era incômodo chamar a atenção das pessoas. Alguns até tentavam ignorar, outros simplesmente continuavam encarando e rindo junto. 

— Ei! — chamou Diego, tentando suprimir o sorriso. — O que é que tu tem? 

Estava começando a ficar preocupado de que a moça fosse morrer por falta de ar.

— É que… — Ela dizia, em espanhol, mas era o máximo que conseguia, pois logo começava a ter outro ataque de riso.

Talvez a peculiaridade mais interessante de sua risada era o jeito como as suas mechas loiras brilhavam e depois se apagavam a cada nova gargalhada. As mechas pretas continuavam negras.

O bom senso do rapaz lhe disse que era melhor levar a moça para algum lugar mais reservado, onde ela pudesse se acalmar. Então foi assim que ele fez. Com uma mão em volta de sua cintura, o rapaz a carregou para um lugar onde houvesse menos pessoas. 

Por sorte ela colaborou em ser carregada, lançando um braço por cima de seu pescoço. A parte difícil era quando as pernas dela fraquejavam, e isso acontecia sempre que uma nova crise de risos a atacava.

— Para com isso, garota! — começou ele, mas ela nada respondia, pois estava ocupada de mais tentando manter ar em seus pulmões.

Por fim, Diego a carregou até um canto, ao lado do palco, onde ficava uma porta que nenhum aluno, em teoria, poderia passar. Afinal, ali era onde dava acesso ao palco, fora que também haviam lugares exclusivos apenas para os professores, como banheiros e um camarim. 

Assim que entraram pela porta, lá estavam três professores sentados em uma fileira de cadeiras encostada na parede. Prof. Nemo, tentando falar com a Prof. Borstmann e o Prof. Riddley dormindo como uma pedra no meio deles dois.

— O que deu nela? — perguntou com um sorriso a professora metade humana, metade animal. 

— Eu sei lá o que ela tem! — Diego a colocou em uma das cadeiras e ficou ali, lhe observando para ver se sua situação melhorava. — Ela tava rindo tanto que quase se jogou no chão!

— É que… — disse ela, e logo depois, risos.

O Prof. Riddley se mexeu, como se fosse acordar. Diego paralisou. Se aquele homem acordasse era possível que fosse receber uma punição tão grande quanto a anterior. Não era para estar ali afinal.

Os outros professores conversaram entre si, baixinho, e depois deram um sorriso radiante um para o outro. O Prof. Nemo se virou para o rapaz e disse:

— Acho melhor você dar um jeito de acalmar ela, senhor Murdock. Enquanto isso eu e a professora vamos dar uma saída para comer um pouco, porque até agora a gente nem viu a cor dos doces. — Ele olhou com certo desapontamento para o Prof. Riddley. Aparentemente o professor dera mais trabalho aqueles dois do que Nemo gostaria de admitir. Ele se virou para a professora e perguntou: — O que acha, Giulia?

O professor estendeu a mão para ela.

— Claro! — disse ela cheia de entusiasmo, agarrando a sua mão. Ela se voltou para Diego e disse de um jeito automático: — Cuide bem dela, meu amor.

E os dois saíram, de mãos dadas. Foram tão rápidos que pareciam estar fugindo de algo. E Diego logo notou que certamente eram os roncos incômodos do Prof. Riddley.

O rapaz se sentou ao lado da menina que não parava de rir, bem distante do professor, e decidiu aproveitar as risadas, que já iam ficando mais espaçadas e mais fracas conforme o tempo passava. 

No quesito chamar a atenção a família Rosa parecia ser especialista. Orlando conseguiu dar um xeque-mate nos professores, arrancando informações importantes e sabendo se impor. Fora a sua risada que também era meio engraçada. 

Já Margô, bom, até o momento a coisa mais extraordinária que fez foi recusar os pedidos de dança de vários garotos e rir descontroladamente. Mas uma coisa ele tinha de admitir, os seus cabelos realmente chamavam a atenção. 

Ele sabia que os risos estavam desaparecendo quando as mechas loiras começaram a brilhar menos, voltando a ser apenas um louro comum. Fora isso, o rapaz reparou que em seu ombro direito haviam runas que se estendiam até chegar detrás de sua orelha. Era uma Feiticeira.

— Aí, que sem noção… — disse a menina, enxugando as lagrimas.

— O que foi que deu em você? — perguntou ele.

— Em mim? — riu. — Tu que veio falando aquelas besteiras. E você foi a primeira pessoa a falar a coisa mais idiota que eu já ouvi em japonês.

Ela voltou a rir da lembrança, mas Diego não acompanhou sua alegria. Ela falava espanhol muito bem, de forma nativa. Galadriel tinha lhe enganado, e Rafaela também. Ele ficou frustrado por ser enganado.

— Só fui porque o Galadriel disse que era para falar — tentou se defender. — Eu nem sabia o que significava!

Ela o encarou, as pálpebras meio fechadas, o encarando com certo ar de tédio e arrogância. O sorriso não saia de seu rosto.

— Então você é mais idiota do que eu pensei! Tipo, parecia um lesado… — E ela voltou a rir.

O rapaz apertou os punhos e rangeu os dentes. Daria um soco nela sem problema nenhum, porém talvez isso só fosse arranjar mais problemas para si. Ele se levantou da cadeira e começou a ir em direção a porta, bufando de raiva.

— Ei! Pera aí! — disse ela, rindo.

— O que é? — Ele se virou para ela antes de sair.

Ela tentou adotar uma postura séria. Conseguiu por um tempo.

— Só queria dizer que… — Mas o riso veio antes. — Tu é muito idiota.

Enfurecido, o rapaz foi na direção dela. Ele apontou o dedo indicador para ela, direto em seu peito. 

— Escuta aqui, fui eu quem te tirou do chão, enquanto você passava vergonha na frente de um monte de gente. Fui eu! Se eu soubesse que ia me chamar de idiota como agradecimento, tinha te deixado lá!

Ela se levantou, o sorriso enorme no rosto, limpando as lágrimas. 

— E desde quando eu me importo com a opinião alheia, garoto? Se eles quisessem rir ou debochar, que façam! — Ela adotou uma postura mais séria enquanto caminhava em sua direção, com desafio. — E outra, não lembro de ter pedido sua ajuda, garoto! Foi você que chegou falando besteira para cima de mim só porque outro idiota pediu. E sinceramente, não sei quem é o mais idiota, você que caiu nessa ou esse tal de Galadriel aí.

Agora Diego realmente tinha se irritado. Quão petulante podia ser aquela garota?

— Escuta aqui…

Mas antes que pudesse falar, Riddley abriu os olhos subitamente. Diego paralisou.

— O que é isso?! Ric…!— gritou o professor, a voz e sua coordenação motora sob efeito do álcool. — O que foi?! Onde eu tô?! Ric…!

Margô imediatamente foi para o lado do professor, com um sorriso maligno no rosto. Então ela apontou para Diego e disse:

— Moço, esse garoto tá me irritando! Dá uma bronca nele!

O tom dela não era sério. Estava forçando a voz para parecer uma menina sem atitude. Era óbvio que era mais uma brincadeira dela. Mas o problema era que a brincadeira foi feita com o professor errado.

— Ah, é? E quem é? Ric…! — O professor cerrou os olhos para poder enxergar. — Olha só quem eu encontro por aqui. — Ele se levantou. Era baixo, porém ainda maior do que o rapaz, e muito largo. Fora que sua roupa de marinheiro o deixava com uma aparência ainda mais carrancuda. — Senhor Murdock! Mexendo com a filha dos outros! Acho que uma suspensão não foi o suficiente para você, não é? Ric..!

Diego ficou paralisado.



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