Volume 1 – Arco 5

Capítulo 31: Calmaria Antes da Tempestade

O inverno já tinha passado e agora era ano novo.

Depois do que aconteceu no refeitório, aconteceram coisas boas. Sua briga com Galadriel não só gerou uma excelente reputação para os quentes, como também melhorou a relação que sua turma tinha com Tiago.

Ele começou a ser tratado como um igual pela sua turma. Em Janeiro ele já tinha diversos apelidos novos: Tiaguinho, Tiagão, Titi e, um engraçado, Tico; Mas o preferido de Diego era o que Lauro deu: Tigas.

Também ficou muito feliz ao saber que o loiro iria sair da casa de seu avô, o diretor Nebeque, para ficar no dormitório como todos os outros garotos faziam, em Fevereiro.

No dormitório que Diego ficava, OP núm 7, só haviam 6 pessoas: Ele, Lauro, Dani, Sanches e Fabio. Entretanto o seu quarto podia suportar mais uma pessoa. E Tiago resolveu ficar lá.

Agora o rapaz da cicatriz e o loiro dormiam sob o mesmo teto. Nas primeiras noites eles conversavam sem parar durante a noite, e até inventaram de brincar de guerra de travesseiros e uma brincadeira nova chamada Arena Mental.

Os dois tinham de mexer seus exércitos para derrubar o castelo inimigo. Para comandar as tropas e seus comandantes os jogadores tinham de dar a ordem em voz alta. Toda a brincadeira acontecia na imaginação, embora houvesse algumas edições reais, chamadas de Arena de Batalha. 

Diego até gostava da brincadeira, pois se sentia um rei comandando suas tropas, para vencerem as tropas inimigas. Entretanto, por conta da falta de memoria, acabava esquecendo algumas de suas tropas, e sempre focava em atacar, pouco em defender. Como era um jogo estratégico, Tiago sempre o vencia.

Com o passar do tempo, não só eles estavam brincando como também todos do quarto; obviamente ninguém era capaz de vencer Tiago na Arena Mental, mas podiam vencê-lo na guerra de travesseiros. 

Inclusive, todos ficaram animados quando souberam do talento de Sanches, que desenhava muito bem. E também começaram a se interessar por Fabio, pois descobriram que ele tinha um PlayStation em casa. 

É lógico que ao saber isso a maioria dos garotos ficaram interessados em Fabio. Diziam que queriam ir para a casa dele nas férias, só para jogar.

Diego não ficou muito animado com a ideia, embora tenha sido convidado pessoalmente pelo garoto. Ele não queria quebrar outro controle ao morrer por um alienígena.

Tiago também não pareceu tentado a ir. Era bem a cara dele gostar mais de livros do que jogos eletrônicos; ou jogos mentais.

Diego não podia exigir muito. Já estava se divertindo bastante ali no Craveiro. Seus únicos inimigos reais eram as provas e as suspensões que enfrentava todo Sábado com o Prof. Holland Tirano Riddley.

Para piorar ainda mais a sua vida, tinha de dividir a sala, no quinto andar, junto de Galadriel. Os dois não se gostavam, mas em sala eles tinham de fingir, ao menos, que se toleravam, do contrário o professor começaria a dar mais broncas e passar mais tarefas difíceis.

Por um lado estava feliz em ver a frustação do garoto branquelo, que inistia em querer ir ao baile… 

Então ele se lembrou que era março, e o baile tinha sido anunciado para o dia 31 daquele mês. O baile. Diego ficou frustrado por não poder participar depois do que tinha acontecido no refeitório. Ele não sabia o motivo de se importar com aquele evento agora, mas sentia que deveria tentar ir, de algum jeito.

— Você quer ir ao baile? — peguntou Tiago. — Mas como?

Diego estava no refeitório, devorando sem piedade um pedaço de frango.

— Dou um jeito — disse de boca cheia. — Mas pode ter certeza que eu vou.

Tiago estava lhe encarando com surpresa, depois voltou a comer as suas verduras. Ele dizia que alimentos verdes eram bons tanto para a saúde quanto para a mente, a coisa que o rapaz mais valorizava.

Depois do que tinha acontecido no refeitório as pessoas se sentavam com os dois, embora eles preferirem se sentar sozinhos. Então ficavam a maior parte do tempo apenas sendo espionados de esguelha por outros alunos sentados próximos.

— E você sabe dançar? — perguntou o loiro. 

Diego pensou em mentir, mas assim que abriu a boca para dizer que sim, seu amigo lhe levantou uma sobrancelha desconfiada.

— Não, não sei. Mas aprendo. Você sabe?

— Não. Acho que o Lauro sabe. Pega umas aulas com ele.

— Nem pensar, não vou dançar com um cara!

— Qual o problema de dançar com um cara? — perguntou Tiago, ficando com as bochechas quentes.

— É, parceiro, o que tem de mais em dançar com um amigo?! — falou Lauro, chegando na mesa. Ele não tinha uma audição tão aguçada para ter ouvido aqui. O que significava que o rapaz da cicatriz falou muito alto. — Quer aprender a dançar, é, parceiro?

— Eu sei dançar — mentiu o rapaz. Ao ver que ninguém acreditaria nele, tentou com mais detalhes: — Eu via filmes de dança! E eu imitava os passos deles. Só… Enferrujei.

Ele sentiu que aquela desculpa estava mais lhe matando do que ajudando.

— Ah! Saquei — começou Lauro. — Mas mano, se você quiser aprender a dançar, pede para a Selena. Ela te ajuda.

— A Selena?

— É, mano. Eu já dancei com ela em um evento que teve lá em casa. Embora ela seja um poste, até que sabe dançar. Se tu pegar o jeito com ela aprende com todo mundo. 

— E como você espera que eu chegue na Selena e peça isso tão… normalmente?

— Assim, pow. — Ele levantou a mão e se virou, como se chamasse um garçom. Apontou para Selena e disse em voz alta: — Ei! Selena! Vem cá, chegada!

Ela primeiramente olhou, analisou o chamado. Depois revirou os olhos, se despediu de sua irmã e de Neto, que sempre estava sentado com as duas, e começou a desfilar em direção à mesa deles.

— O que você tá fazendo? — murmurou Diego, nervoso. Mas era tarde para arrependimentos, ela já tinha chegado.

— O que foi, Lauro? — perguntou ela, como se tivesse coisa melhor para fazer ao estar ali. Ela ficou em pé, uma mão na cintura, o corpo apoiado sobre uma perna. 

— Se um amigo quisesse aprender a dançar, tu daria umas aulas para ele? 

— Aí, Lauro, desembucha logo. Quem é que quer dançar comigo?

— Eu. — Diego se manifestou, com o rosto mais corado do que gostaria que estivesse. — Não quero dançar com você no baile, só quero que… me dê umas aulas. 

Selena analisou o rapaz de cima abaixo com aqueles olhos brilhantes, um de cada cor. Seu rosto não tinha mais nenhuma marca deixada pelo soco-inglês de Alastor. Na verdade, havia uma camada de maquiagem tão intensa que mal dava para saber se era a sua pele.

Ele sustentou o olhar, embora quisesse enfiar a cara dentro da mesa e nunca mais sair dali, igual Tiago estava fazendo, com a cara voltada para a bandeja de sua comida encarando as verduras.

Rhum! Então tá — disse ela. — Amanhã me encontra na quadra no horário de almoço.

— Na quadra?! Não! Lá tem muita gente.

Eu sei! Mas é para a gente se encontrar lá, não te ensinar lá. Isso não é óóóóbvio?

O rapaz apenas assentiu com a cabeça, frustado. A menina se despediu, virou as costas e saiu desfilando de volta à sua mesa. Assim que chegou lá começou a falar alguma coisa que fez os outros explodirem de rir. Diego ficou com mais vergonha ainda.

Ao menos ela não lhe chamou de pivete, como da última vez.

— Valeu, Dani — disse, sarcástico.

— Que isso, mano. Relaxa, vai dar bom, confia. Agora eu vou dando o fora, tô planejando fazer uma coisa legal na final do torneio desse ano.

A final do torneio só era disputada pelos alunos que tinham as melhores notas durante o torneio e acontecia no último mês do ano letivo, no meio de Junho. Em suma eram aqueles que tinham mais vitórias. 

A turma do primeiro ano tinha Lauro com o maior número de pontos, já que ele tinha participado de mais lutas, e Diego, tendo apenas uma luta e uma vitória, o quarto lugar. Se Lauro continuasse bem, seria um dos finalistas.

A diferença é que os finalistas não lutariam por pontos e sim para vencerem O vencedor ganhará o prêmio da turma de Melhor Cor do ano.

Lauro saiu, deixando Diego e Tiago sozinhos mais uma vez.

— Tomara que o que ele esteja inventando não seja nada perigoso — disse o loiro. — Se ele se encrencar, já era. Vai ganhar tanta advertência que não vai poder representar a turma na final.

— E você? Já participou de alguma competição?

— Ainda não. Mas já estamos quase no final do ano, o normal era eu ter recebido ao menos um. Acho que não vou receber…

— Com licença — disse Rodrigues, chegando perto dos rapazes. Sua pele escura junto daquele terno preto o deixava com um ar elegante. Era do quinto ano, assim como Faramir. Ele continuou os cumprimentos: — Senhor Nebeque, senhor Murdock.

— E aí — disse Diego. — Qual é a confusão da vez?

— Temo que a confusão não tenha nada a ver com o senhor, senhor Murdock. Ao menos não dessa vez. — Ele riu, de um jeito que não dava para decifrar se era deboche ou gentileza, e se virou lentamente para Tiago. Ele puxou do palito uma carta e a entregou para o loiro. — Senhor Nebeque, para o senhor. 

— O que é isso? — perguntou Diego, enquanto Tiago ainda analisava a carta.

— O-o-obrigado… Resoluccion… Eu…. Ahm…

— Por nada. E boa sorte. — O rapaz elegante e se despedindo dos dois com um breve aceno, deu um sorriso de boca fechada quase imperceptível e saiu.

— O que foi? O que é que tá aí?

Ele lhe entregou a carta e colocou as mãos na cabeça. Assim que Diego a pegou, logo entendeu o que aconteceu. Tiago tinha sido designado a lutar no mês seguinte, no torneio.

— Boca maldita...



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