Volume 1 – Arco 4
Capítulo 29: O Garoto Dos Planos
Eles estavam entre os prédios, do lado direito da rua. O caminho que separava Diego dos Baderneiros e Tiago era coberto por uma camada de neve.
O rapaz não sabia para que serviam aqueles prédios — opostos ao dormitório, refeitório dos funcionários e prédio de eventos — afinal ele nunca viu nenhum aluno indo por aquele caminho, exceto Tiago que tinha de fazer aquele caminho para ir em direção a casa onde morava.
Porém, lá estavam Leo e Mini utilizando o local como esconderijo para infernizar o seu amigo.
Uma raiva foi crescendo no peito do rapaz e ele sentiu seu corpo ficando quente. A neve afundou com o seu passo à frente, postura severa. Seus olhos estavam ofuscados pela sombra que era projetada pelas suas supercílio, lhe deixando com um aspecto sombrio.
Continuava a se aproximar. Eles ainda não tinham notado sua presença irritada, e isso o enfurecia ainda mais. Em determinado momento, o seu corpo tinha ficado tão quente que a neve começou a derreter antes mesmo dos seus pés tocarem o chão.
Foi então que as orelhas de Leo ficaram eretas, como se estivessem atentas a alguma coisa, e por fim o garoto reparou nele. O rosto de Leo, que normalmente era debochado e risonho, estava tão pálido quanto a neve. Parecia nervoso, os olhos arregalados, como se Diego fosse uma assombração.
Ele fez estendeu uma de suas mãos para Mini, como se pedisse para ela parar. Depois que ela o encarou, o garoto das orelhas pontudas começou a fazer um movimento com o braço, apontado insistentemente para uma saída. Leo fazia tudo isso enquanto mantinha os olhos fixos em Diego, como se fosse perigoso demais desviar o olhar.
Seria isso medo? Os olhos arregalados, a postura atenta, as orelhas alertas. Era a primeira vez que via aquela expressão naquele rapaz. Mini, também confusa com a atitude, não entendeu que era para recuar. Acabou avistando Diego chegar e começou a zombar dele.
— Olha, Leo! É o cachorro!
Então algo dentro de Diego transbordou. Leo deve ter sentido, pois gritou para a menina:
— Mini! Sai daqui! Corre!
Diego disparou em direção aos dois. Leo empurrou Mini para frente, para que ela saísse dali o mais rápido possível. Não deu tempo.
Diego pulou em cima de Leo, e Mini tentou ajudar, empurrando o corpo do rapaz para o lado. Um chute em seu joelho direito fez a garota tombar de cara na neve; que aparou sua queda.
Enquanto o rapaz segurava Leo e lhe socava o estômago, o rapaz das orelhas pontudas se desvencilhou de seu agarrão tirando a jaqueta e conseguiu, saindo das garras de Diego. O rapaz não ficou contente. Quando se livrou da peça de roupa correu mais uma vez em direção ao oponente, carregando um soco poderoso.
Assim que seu punho ia alcançar o rosto de Leo, o rapaz desapareceu, como sempre fazia. Mas dessa vez tinha sido diferente. Diego sentiu a coceirinha atrás da sua nuca lhe dando uma ordem. Ele obedeceu.
Rotacionando seu corpo para o lado, ele lançou outro soco inesperado, que não acertaria nada. Mas acertou.
As juntas dos seus dedos afundaram no nariz de Leo, lançando todo o seu corpo para trás como um projétil, e o fazendo bater com as costas na parede do prédio ao lado.
Dessa vez ele tinha acertado.
Entendera como Léo sempre estava se desviando de seus golpes. Ele não se teletransportava, nem mesmo tinha supervelocidade. Ele fazia imagens de si mesmo, hologramas, clones que não podiam ser atingidos, já que não existiam. Era apenas uma ilusão ótica.
Agora não teria como ser enganado. Sua intuição não deixaria isso acontecer.
Uma gritaria lhe chamou a atenção. Quando se virou, viu Mini se aproximar dele com suas garras afiadas saindo pelas unhas. Ela começou a lhe arranhar com as lâminas negras, porém dessa vez ele não recuou, resultando em novos cortes em seu braço esquerdo.
Assim que ela brandiu os braços para investir com mais força, o rapaz segurou seus pulsos e lhe deu uma cabeçada tão forte que fez os joelhos da menina fraquejarem. Diego iria dar um soco no rosto dela, mas Leo lhe agarrou por trás e os dois caíram.
Eles rolaram pelo chão, se esmurrando sobre uma poça d'água, já que a neve estava derretendo muito rápido graças ao calor que emanava do rapaz. Leo evitava encostar na pele quente do seu adversario.
Tirando proveito disso, Diego encostou as palmas das mãos no rosto de seu adversário, fazendo com que o cheiro de queimado e vapores de fumaça subissem. Leo gritou de fúria e lançou um soco desesperado que acertou o nariz do rapaz, o fazendo recuar.
Passando a mão no nariz, viu sangue. Seus olhos ardiam e estavam cheios de água. Seus oponentes não estavam tão melhores quanto ele. Leo estava com o rosto completamente vermelho. Mini estava com uma ferida na testa e mantinha uma mão sobre o abdômen, gemendo de dor.
Assim que o rapaz começou a se inclinar para frente, para continuar a lutar, determinado em acabar com aquilo, ignorando toda a dor, uma mão puxou seu braço para trás. Era Tiago. Ele falava alguma coisa, mas o rapaz não ouvia direito. Diego viu Leo e Mini saindo correndo, e por isso se desvencilhou do aperto e correu atrás.
Antes que pudesse alcançá-los, sentiu que seus pés não estavam tão firmes assim. Na verdade, se sentiu muito leve. Se sentiu tão leve que podia jurar que estava alucinando depois de levar aquele golpe no nariz. Estaria flutuando mesmo, ou seus sentidos lhe pregavam uma peça?
Ele olhou para baixo e viu que seus pés estavam a alguns centímetros do chão. Mais na frente, os Baderneiros viraram a esquina, indo para longe dali. Diego ficou confuso e irritado, pensou que sua levitação tinha sido obra deles. Ele gritou e tentou sair, mas não conseguiu.
Ele conseguiu se virar no ar e olhou para Tiago. O loiro estava em pé, seu nariz sangrava muito. De início o rapaz ficou ainda mais irritado, depois, prestando atenção, entendeu o que estava acontecendo.
Tiago estava com as mãos erguidas em direção a ele e fazendo uma cara de muito esforço. “Ah!”, pensou, verdadeiramente surpreso. “Esse é seu poder!” Imediatamente a sua raiva foi suprimida pela curiosidade e fascínio. Até que, como se fosse uma brisa, ela foi embora.
— Caramba! Por que não me disse que tinha um poder assim? — perguntou ele, animado.
Após alguns segundos, seus pés tocaram no chão. Assim que isso aconteceu, Tiago soltou mais sangue pelo nariz e um guincho pela boca, sujando toda a sua roupa branca.
— Tiago! — O rapaz correu em direção ao amigo para lhe amparar. Estava ofegando fortemente, encostado na parede.
— Calma, eu tô bem... Só preciso respirar... É uma reação normal, eu acho... Não sei direito.
O sangue que lhe saia estava realmente fazendo falta em seu cérebro. Ele ajeitava os óculos o tempo todo para que não caíssem.
— Por que você não me deixou acabar com aqueles caras? — perguntou Diego, começando a deixar a preocupação de lado.
— Você não viu a cara que estava fazendo para eles? Parecia que ia matá-los.
— E ia mesmo! — exclamou.
— Não… Você não pode… — Tiago começou a tossir e o sangue respingava não só na sua roupa de frio como também o terno negro do seu amigo. — Foi mal.
— Agora já era. — Ele se agachou e seus olhos agora estavam quase no mesmo nível. — Eu que devia dizer foi mal. A senhora Bjorn me chamou para conversar e eu me separei de você. Nem notei que aqueles idiotas queriam só uma chance para fazer isso…
— Tudo bem… Não foi nada. Eles nem estavam tão maus hoje. Só jogando piada.
— Mas te arrastaram para esse beco aqui, não foi? Isso não vai ficar assim! Tu vai ver o que eu vou fazer com eles.
Então ele pensou no que poderia fazer. Tinha a possibilidade de bater neles mais uma vez, pois tinha provado que era mais forte do que parecia; mesmo tendo a impressão de que só tinha conseguido dar bons golpes em Leo porque o rapaz tinha ficado assustado, sem razão aparente.
— Acho que a Rafaela tinha razão — disse Diego, decidindo o que faria. — Eu vou é contar para o Faramir. Assim ele vai dar um jeito.
— Como assim?
E então ele explicou tudo para o loiro, falando sobre o que Rafaela tinha lhe dito. Ele evitou falar das partes em que ela parecia decepcionada com ele, mesmo que as expressões da ruiva não transmitisse essa ideia.
— Entendi! — exclamou Tiago. Colocou a mão no queixo e começou a pensar daquele jeito estranho, que apenas ele fazia. Depois de alguns segundos de bizarrice, ele ajeitou os óculos e se levantou com dificuldade para dizer: — Eu tenho uma boa ideia de como a gente pode dar o troco. Assim eles não vão mais mexer com a gente.
— A gente? — perguntou Diego, impressionado com a inclusão do rapaz no plano. — Bom, eu que vou bater neles, mas vai ser em seu nome. Então...— Não, não. Escute. Vai ser a gente. — Ele olhou para Diego com determinação. — Eu tenho um plano.