Volume 1 – Arco 4

Capítulo 15: Onde Se Encontram As Descobertas Fantásticas

Alguns dias se passaram desde o evento com a sua Hagar Selar. O que tinha descoberto lhe deixou pasmo e sem entender o que estava acontecendo: Sua pedrinha não brilhava por mais intenso que fossem as suas tentativas. 

Isso estava lhe matando a dias, pois achava que finalmente teria chegado ao fim do posso. Além de brigão, cachorro e o perdedor do torneio, receberia um novo apelido: O garoto que quebrou a sua pedrinha.

Ah, sim. O torneio. Como ele poderia esquecer do torneio? Mal chegara no Craveiro e já teria de participar de um torneio onde seis alunos se digladiavam. 

Se perdesse, além de ganhar sérios danos ao corpo, seria o responsável por fazer toda a sua turma ganhar menos pontos nos jogos. Se isso acontecer, não receberão o Troféu Das Cores do primeiro ano.

Diego achava toda essa história de torneio uma tremenda idiotice, porém estava fadado a competir graças a Igor, que teve de se ausentar da competição por estar machucado.

Tudo que queria era um momento de paz para pensar sobre o que aconteceu com a sua pedrinha. Jamais procuraria um professor por medo do sujeito dar com a lingua dos dentes e acabar espalhando a informação por aí —embora soubesse que essa talvez fosse a melhor opção.

E nem passava pela sua cabeça consultar Tiago, já que poderia ouvir o clássico: “Eu avisei!”, embora essa também fosse outra boa opção. Afinal de contas, o rapaz tinha um parentesco direto com Nebeque, um dos diretores do Craveiro. Quem sabe o loiro não pudesse influenciar o diretor para lhe conseguir uma pedrinha nova.

 A mera imagem de Tiago tentando usar a sua influência para persuardir alguém lhe causava risos. O loiro não era capaz de fazer algo como aquilo. Ao menos a ideia o tranquilizava por tempo suficiente de esquecer aquele maldito torneio.

Mas não adiantava. Era lembrado diariamente, na verdade quase que a cada minuto de seu dia, o quão importante era garantir a sua vitória. Os alunos quentes perguntavam se sua alimentação estava em dia, se estava treinando, se tinha alguma estratégia planejada e por aí ia. Eram como uma mãe, ou Angela, lhe importunando.

Os alunos frios, incentivados pelos Baderneiros, lhe encheram de novos apelidos e piadinhas. 

“Cuidado para não passar raiva, cachorro louco!”; “Não vai explodir lá em cima, cachorro-bomba”; “Parem de provocar ou vai começar a sair fumaça pelas orelhas dele”.

Ele nem queria imaginar os novos apelidos caso perdesse a competição. Os apelidos atuais já o irritavam. Toda a situação o irritava e ele sentia uma enorme vontade de culpar alguém. E se devia culpar alguém seria Dani e Lauro, que eram dois de seus colegas de quarto.

Se iniciou depois da aula do professor Riddley, quando já estava na hora de voltar para os dormitórios. Foi quando Diego descobriu toda a verdade.

Ele entrou no prédio de 13 andares, o dormitório de todos os alunos do Craveiro — que embora tivesse mais andares que o prédio principal ainda era inferior a tamanho e largura — foi até o elevador e clicou no botão OP. 

Da primeira vez que ele havia entrado no elevador — junto de Bruno no dia em que tinha visto A Besta e estava com medo demais para voltar sozinho até o dormitório — tinha se assustado com os botões dos elevadores: AB, CD, EF e assim por diante. Seguiam uma ordem de letras e não de números como era o comum. 

A única pista que sabia sobre o seu andar era que o nome do quarto era Osvaldo Pacheco, número 7. Ele não recebeu muita ajuda de Bruno para desvendar o mistério de qual era o andar correto, então teve de parar em vários andares errados até  descobrir que o botão correto era o OP. 

O seu andar tinham diversos quartos, todos com nomes e números diferentes. Orlando Pedro, Octávia Penélope, e vários outros nomes que começavam com a letra O, ou com a letra P, ou então tinha às duas letras no nome. Até que por fim achou o seu: Osvaldo Pacheco. Não era tão difícil assim.

Depois da aula do professor Riddley, já podia dizer estar acostumado com aqueles botões.

Entrou no seu quarto, Osvaldo Pacheco, número 7, e foi tomar um banho. Era um quarto maior por dentro do que por fora. Assim como o prédio. Na verdade, como todos os prédios. Por conta disso, o quarto tinha espaço para 7 pessoas, embora só houvesse 6.

Sanches de Cervantes, o rapaz que tinha ajudado Igor a ir até a enfermaria era um deles. Fábio Fluch, aquele garoto tímido que havia entregue o recado de Rafaela era o segundo. Dani Delta e Lauro Lagum, os dois inseparáveis amigos que nada combinavam um com o outro eram mais dois. E Diego, era o sexto e último deles.

Depois de uma boa ducha, quando Diego foi escovar os dentes, acabou notando que sua pasta tinha acabado e a jogou no lixo. Então teve a revelação. O grande momento em que descobriu. 

No lixo ele achou não apenas um, mas vários papeizinhos recortados igualzinhos aos que Riddley havia pedido para recortarem e colocarem dentro da caixa. Diego revirou alguns desses papeis e descobriu que todos estava com o seu nome.

— O que é isso? Vocês tão falando sério? — confrontou Diego, repleto de furia. Apenas para causar, jogou todo o conteúdo da lixeira em cima de Dani e Lauro, que já estavam prontos para dormir. Eles não ficaram muito felizes com a atitude, mas não ousaram confrontar Diego. — Vocês armaram o sorteio para eu ser escolhido? — O rapaz estava furioso. 

— Ei, calma aí, parceiro. Como você pode ter certeza que foi a gente? 

— Ah! Claro! — disse, irônico. — Porque o Sanches e o Fabio tem realmente cara de arquitetar um plano tão idiota como esse. 

— Claro que não tem, Diego — disse Dani, após se levantar e jogar álcool em gel pelo corpo inteiro. — É óbvio que apenas nós temos capacidade para arquitetar um plano assim. O Fabio é muito na dele, e o Sanches também não faria isso porque…

— Ele tá curtindo com nossa cara, Dani — disse Lauro, com impaciência.

— Isso não importa! — gritou Diego, farto da situação. Talvez achasse a atitude de Dani engraçada em outro momento, porém agora achava apenas que era mais um motivo para explodir e extravasar toda a sua raiva. Todos deram um passo para trás frente a sua irritação, até mesmo Fabio e Sanches que nada tinham a ver com a história foram pegos no fogo cruzado. — Expliquem-se! 

E eles de fato explicaram. 

A turma quente do primeiro ano estava tendo problemas para enfrentar a turma fria do primeiro ano. Tudo começou com uma sequência de derrotas no mês de Setembro que vinha se estendendo até esse mês, Novembro. De lá para cá o máximo que chegaram de uma vitória foi quase igualar o placar por pura tecnicalidade. 

Mas agora esse quase empate já não existia graças ao último torneio, vitória para os frios.

Os competidores deveriam lutar individualmente, mas os frios usavam sua inteligência para trabalhar em equipe, ajudando os outros com informações e estratégias, e conseguir o maior número de pontos. Estudavam com afinco e isso resultava em uma ótima performance nos torneios.

Já os quentes eram o extremo oposto. Desorganizados e bagunceiros, nunca bolavam nenhuma estratégia e as poucas que adquiriram eram cópias ultrapassadas dos alunos frios. Os quentes do primeiro ano estavam enrascados. Mas agora havia uma esperança, e essa esperança era o aluno novo. Diego.

— O que eu tenho a ver com isso? — disse, incrédulo com o que ouvia, embora se sentisse mais respeitado. Uma mistura de emoções bastante interessantes. Não queria perder a postura de raiva e mostrar-lhes que gostava da ideia de ser a esperança.

— Tudo, parceiro — começou Lauro. — Tu é exatamente o que a nossa sala precisa pra vencer o torneio esse ano. 

Então Diego deu um leve sorriso e ele sentiu que iria fraquejar em sua posição autoritaria e enraivecida, porém Dani lhe deu mais motivos para não perder a compostura.

— Não exagere, Lauro. Você também tem boas chances de vencer se conseguirmos melhorar nossas estratégias. — Talvez Lauro tenha notado a besteira que Dani tinha feito ao falar daquela forma, pois lançou um olhar ao amigo que o fez ficar confuso por alguns segundos. Logo o moreno retomou sua compostura e encarou Diego, pelo visto entendendo o sinal. — Mas em suma, é isso, você é o competidor ideal para o torneio. 

— E como a sua mente brilhante chegou a essa conclusão, Dani? 

— Oh, que gentil da sua parte — falou, sem entender o sarcasmo. Lauro não se manifestou. — Mas a resposta é óbvia. Você é sobrinho de Elizel D. Monte, um Dragão Negro. Além de ser um Murdock. Fora isso, você comprou briga com os Baderneiros, três contra um. E ficou inteiro, o que é um grande feito.

Não eram méritos que poderia se orgulhar. A maioria não tinha sido intencional, sendo que mal havia ganho a luta contra os Baderneiros. Fora isso, ainda tinha tecnicamente perdido para Golias.

— Mas e o Golias, e o idiota do Alastor, e o Kisley? Eu quase morri com aqueles três.

— O Golias é uma ENORME exceção, parceiro. Ninguém vence o Golias. E o Alastor é o melhor estrategista do primeiro ano. Não tinha como você vencer eles três. Juntos não.

Algo começou a fazer a mente de Diego funcionar. Uma nova descoberta estava prestes a aparecer.

— Primeiro ano? Mas… Se o Alastor não está na minha turma, então ele é um frio.

— Sim, o Alastor e o Golias são frios — disse Dani. 

Diego ficou surpreso. A última coisa que poderia pensar era que um porco daquele tamanho, e daquela agressividade, fosse um aluno frio. Jurava que era algum aluno do quarto ano da turma dos quentes.

— Mas e o Kisley? Ele é quente, mas é amigo desses dois. Eu pensava que existia rivalidade entre os frios e os quentes… 

— E existe, cara — começou Lauro. — Mas eles não se importam com isso. O Alastor usa o Kisley para roubar informação da gente. E o Kisley usa o Golias para bater em quem ele não for com a cara. 

— Então dos três, o chefe é o Alastor?

— Improvável — disse Dani. — Por mais inteligente que o Alastor seja, não existe nada que se possa fazer contra o Golias.

Então Golias era o chefão dos três por conta de sua força. Para superar até mesmo a inteligencia de Alastor, talvez aquele porcão fosse mais forte ainda do que Diego era capaz de imaginar. Ao menos sua intuição havia lhe avisado para se afastar. 

Então ele prometeu que jamais faria nada para com Golias ou os amigos dele que pudesse irrita-los. Poderia ter problemas com o garoto-porco mais uma vez, e morrer era o que menos queria na vida.

Após mais algum tempo de explicações, todos começaram a sentir sono e decidiram ir dormir. Dani pediu para Diego arrumar a bagunça que tinha feito, porém o rapaz os ignorou. Aquele foi o pequeno preço que tiveram de pagar por terem feito o que fizeram.

Diego dormiu um pouco mais tranquilo, pois sentia que ao menos algumas pessoas estavam ao seu lado, lhe apoiando. Não era apenas Tiago que torcia por ele. 

No entanto, nos dias que se passaram, os apoios se tornaram pressão, e ele voltou a odiar Dani e Lauro. Jurou que dá próxima vez iria fazer sopa daqueles dois caso desconfiasse de mais alguma ideia idiota.

A ideia da sopa se intensificou ainda mais quando descobriu que um de seus adversários seria o considerado melhor estrategista, e justamente uma das pessoas da qual ele jurou nunca arrumar briga: Alastor.



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