Volume 1 – Arco 10
Capítulo 72: Revelação
Finalmente chegou o dia. Seria naquele final de semana que o Representante Fiscal da Organização, Kardama, iria aparecer em uma reunião para todos; professores, executivos, funcionários e os alunos.
Todos foram se reunir no espaçoso prédio de eventos. Estava cheio de cadeiras, dando espaço apenas para pequenos corredores onde as pessoas poderiam transitar.
O palco de teatro havia sido preparado, colocaram uma tribuna onde o Representante falaria para todos do Craveiro. A frente do palco havia uma enorme mesa, que nada mais era do que uma mesa emendada na outra e coberta por um enorme pano branco.
Ali, no mesmo nível em que as diversas cadeiras estavam, ficariam os professores e os Executivos da Europa. O que significava que Rosa logo estaria ali para que o plano fosse bem-sucedido.
Diego se sentou no meio, pois acabou chegando um pouco tarde. Aquela posição era desfavorável, já que não teriam uma boa visão da professora Ramírez. Ao seu lado estava sentado Tiago e Margô que pareciam tão apreensivos com o que aconteceria quanto eles.
Enquanto o tempo passava, mais e mais pessoas iam se sentando, ocupando todos os assentos restantes. Os Executivos também foram chegando, se sentando ao lado do diretor-chefe: Nebeque. Do lado esquerdo e direito se sentava os outros dois diretores.
Também repararam que os Executivos se sentavam mais para a direita, enquanto os professores mais a esquerda. Os do lado direito eram pessoas que o rapaz nunca havia visto pessoalmente, embora soubesse dos nomes de alguns, já que eram pais de alguns alunos.
O tempo foi passando e passando, até chegar no ponto de todos ficarem inquietos. Menos Diego, que aproveitara o momento para tirar um cochilo. A reunião seria muito cedo em um dia de sábado. Tiago, porém, começou a ficar nervoso.
— Tem algo de errado — falou ele.
— Hm? O quê? — perguntou o rapaz, acordando. — O que foi? Já começou?
Margô que não parava de encarar a professora Rúnica voltou sua atenção para os garotos.
— Não — continuou Tiago, a mão na boca, balançando a perna para cima e para baixo. — É que o Representante tá demorando demais.
— E daí?
— Ele pode estar apenas atrasado — falou a menina já sabendo onde o loiro queria chegar.
— Não… O Representante não pode se atrasar…
E nesse exato momento um jovem adulto, com no máximo vinte e seis anos, entrou no prédio. Todos os olhares foram direcionados para ele. Ele tinha o rosto magro e usava roupas muito formais. Estava apressado para chegar à frente do diretor Nebeque; andava de um jeito atrapalhado.
— Esse daí é o Kardama? — perguntou Margô. — Eu imaginava ele mais velho.
— E mais cheio também — completou Diego.
— Não — falou por fim o loiro. — Esse daí é o mensageiro.
O jovem demorou um pouco falando com os diretores. Depois se retirou, ainda mais apressado do que havia chegado, sempre de cabeça baixa. Quando finalmente se retirou, Nebeque começou a conversar com os professores e executivos na mesa, fazendo todos começarem a conversar alto. Os alunos também começaram a cochichar.
Depois de um tempo Nebeque se levantou, pigarreou, chamando a atenção de todos, e disse:
— Infelizmente acabo de descobrir que o Representante da Organização não poderá comparecer devido a um… — Ele fez uma pausa. — Imprevisto. O que significa que não teremos a reunião hoje. Mas para que a sua vinda não tenha sido em vão, vamos fazer uma breve…
— Droga! — sussurrou Tiago, batendo na cabeça. — Se ele não veio, não vai ter reunião com os Executivos.
— Então não vai dar para usar isso na professora? — Diego mostrou o saco com o Elixir do Ingênuo, que nada mais era do que um pó dourado.
— Eu… Eu não pensei nisso. E-e-espera, vou bolar alguma coisa. — E voltou a se concentrar, inquieto.
Margô também ficou preocupada. Ficou olhando de Tiago para Diego com um olhar tristonho.
— … então espero que todos fiquem preparados para as provas finais, que vão vir no começo da próxima semana. — Nebeque ainda falava.
Diego ficou pensativo por um segundo. Estava com o Elixir em suas mãos. Estava com os amigos ao seu lado. Porém se fizesse isso, colocaria em risco não apenas ele, como todos.
O rapaz se levantou.
— Para onde vai? — perguntou Margô, segurando seu braço.
— No banheiro.
E ela o largou, mas assim que notou que o rapaz levava o saco tentou lhe segurar, mas ele já estava distante demais.
Diego passou por todas as cadeiras e andou em direção ao diretor. Assim que chegou perto dele, esperou que parasse de falar, mas nem precisou esperar tanto, pois Nebeque se calou assim que viu o rapaz se aproximar.
— Algum problema, jovem Diego? — perguntou o diretor. Ele olhou rapidamente para o saco na mão do rapaz e depois voltou sua atenção para o garoto.
— Sim. Eu tenho um problema. — Diego levantou a mão e apontou para a professor Rúnica. — Ela é o problema. — A mulher fez cara de confusa. — Essa mulher é terrível. Ela passou metade do ano infernizando a vida da nossa turma. E ainda por cima torturando a Margô.
Todos ficaram inquietos. A professora riu maliciosamente.
— Que mentira! — falou ela, se levantando. — Isso é uma acusação séria.
— Cala a boca — respondeu o garoto, ficando irritado. Isso fez o murmúrio dos alunos ficarem ainda mais fortes.
Rosa, que estava no meio dos Executivos conversando com eles sobre a cena, não parava de olhar para a sacola que o rapaz segurava. Um olhar tão intenso que seus olhos poderiam saltar a qualquer momento.
— Ora, gajo — falou o diretor Augusto. — Já chega de cena. Vá logo se sentar e depois nós conversaremos sobre essa sua atitude.
— Cala a boca o senhor também.
Agora todos estavam murmurando.
— Senhor Murdock! — disse Nebeque em tom firme. — Não tolero falta de respeito em minha instituição.
— O senhor não tolera que eu mande os outros calarem a boca, mas deixa um professor abusar dos seus poderes em uma aluna?
— Já chega! — gritou Ramirez, perdendo a compostura. Ela se levantou da cadeira, zangada. — Já chega de mentira. Se fosse verdade eu tenho certeza que os seus colegas iriam te apoiar. Mas em todos os meus anos como professora nunca registrei uma só queixa contra mim!
Diego, que estava muito irritado, olhou para trás e notou que nenhum aluno, nem mesmo os seus amigos, haviam se levantado para prestar queixa. Pelo visto o rapaz estava sozinho.
Se virou para a professora e andou até ela. Assim que chegou na sua frente, pós o saco com o Elixir em cima da mesa e abriu. Pós a mãos dentro e tirou um punhado de pó dourado. E no instante seguinte jogou no rosto da professora. Ela tossiu e se mexeu toda, tentado expulsar aquilo de seu rosto.
Os diretores ficaram espantados, menos Nebeque que possuía um olhar de profunda decepção. Os executivos estendiam o pescoço o mais distante que podiam para ver o que acontecia. Os olhos de Rosa brilhavam.
— Professora — falou Diego, bastante irritado. — A senhora usou seus poderes na Margô?
— Claro que usei! Essa menina é irritante só de olhar.
Rúnica imediatamente tampou a boca com as duas mãos. Todos olharam para ela, espantados.
— A senhora usou seus poderes com o consentimento dela? — continuou o rapaz.
A mulher balançou a cabeça negativamente e então protegeu o rosto como se quisesse esconde-lo.
— Então espera aí — falou Rosa, se levantando. — Você abusou da minha filha?
Diego quase sentiu vontade de jogar o Elixir naquele homem para revelar o seu cinismo, mas não pôde, pois Nebeque logo tomou o saco.
— Claro que sim! — gritou ela. — Você me largou por aquela vagabunda de olho puxado!
— Vaga…? Você chamou a minha mulher de… Você tá louca? Você é louca! E é por isso que preferi ela do que você!
— Muito bem, já chega! — falou Nebeque. — Alunos! Fora daqui, agora mesmo! E Murdock, vá imediatamente para a minha sala, por favor.
— Eu vou retirar todos os meus fundos dessa instituição! — falou Rosa. — Uma professora abusando de uma aluna… Minha filha!
Os outros executivos balançaram a cabeça positivamente, se levantaram e começaram a protestar junto de Orlando. Estava ganhando seguidores com a sua causa.
E ainda deu para ouvir muita coisa antes dos alunos serem retirados à força pelos professores. Ouviram palavrões, ouviram ameaças, mas o mais importante foi ouvir um dos Executivos falando:
— E aquilo é o quê? Elixir do Ingênuo? Como aquele garoto conseguiu isso?
De certa forma, isso encheu Diego de satisfação.