Volume 3
Capítulo 1: A Fronteira entre o Céu e o Inferno
O MAR INFINITO do verão. O céu azul sem fim. O ar absolutamente puro. Aqui, em meio ao Oceano Pacífico, não sentíamos o calor sufocante do auge do verão — a brisa suave do mar beijava nossos corpos. Sim, este era realmente um paraíso oceânico.
— UOOOU! ISSO É BOM DEMAIS! — gritou Ike Kenji, erguendo as duas mãos para o alto. Sua voz ecoou pelo deque do navio de luxo.
Normalmente, alguém teria reclamado ou gritado "cala a boca" em resposta. Mas, só por hoje, ninguém se importou. Todos preferiram aproveitar aquele momento de pura felicidade. A vista dos "assentos especiais" no deque era simplesmente deslumbrante.
— Essa vista é incrível! Estou sinceramente muito emocionada agora!
Um grupo de garotas liderado por Karuizawa saiu da cabine do navio. Karuizawa, com um sorriso radiante, apontou para o vasto oceano.
— Sério, a paisagem aqui é maravilhosa!
Kushida Kikyou também estava entre as garotas. Parecia que a beleza extraordinária do cenário havia lhe roubado o fôlego.
Depois de superar inúmeras dificuldades, provas intermediárias e exames finais, havíamos finalmente recebido as férias de verão de braços abertos. A Escola havia organizado uma viagem extravagante de duas semanas — um cruzeiro em um navio de luxo.
— Uau, Ken, deve estar feliz por não ter sido expulso, hein? Quero dizer, se fosse uma viagem normal, seria impossível pra gente vir. Ei, como foi ficar à beira da expulsão por ter tirado a menor nota na prova final? Vamos, conta aí. Como foi?
Mesmo sendo provocado por Yamauchi Haruki, Sudou Ken estava longe de se irritar. Na verdade, ele soltou uma gargalhada alta, que soava mais como o uivo de um lobo solitário do que como a risada de um colegial.
— Com as minhas habilidades, não havia nada com o que me preocupar. Eu disse que ia provar meu valor, não disse? Moleza!
Havíamos encarado o abismo há pouco tempo, mas esta viagem apagava completamente aqueles sentimentos. Talvez o azul do mar tivesse levado embora nossas preocupações cotidianas.
— Eu nunca imaginei que estudantes do ensino médio pudessem fazer um cruzeiro tão luxuoso. E ainda por cima por duas semanas. Duas semanas! Quando meus pais souberem disso, vão ficar tão chocados que vão até se mijar!
Como Sudou havia dito sem rodeios, essa certamente não era uma viagem comum. Em nossa escola financiada pelo governo, não precisávamos pagar mensalidade nem qualquer despesa extra — o que, é claro, incluía esta viagem. Recebíamos o melhor tratamento possível.
O navio de cruzeiro e suas instalações eram do mais alto padrão. O navio estava completamente equipado, com tudo — de restaurantes requintados a um teatro, e até um spa luxuoso. Se eu viesse por conta própria, provavelmente me custaria algo em torno de 100.000 ienes, mesmo na baixa temporada.
Nossa viagem, que prometia o auge do luxo, havia finalmente começado hoje. De acordo com o cronograma, passaríamos a primeira semana em um alojamento de verão em uma ilha deserta. Depois disso, aproveitaríamos o navio por mais uma semana.
Às cinco da manhã de hoje, os alunos do primeiro ano embarcaram em ônibus rumo à Baía de Tóquio. Assim que chegamos ao porto, o navio zarpou. Após o café da manhã no saguão, fomos liberados para circular livremente por toda a embarcação. O melhor de tudo era que podíamos usar todas as instalações do navio gratuitamente. Para nós, que havíamos sofrido com a falta de pontos, este lugar era um verdadeiro presente dos céus.
De repente, Kushida se virou para mim. Percebi que algo lhe passava pela cabeça. Com o vasto oceano e o céu azul infinito ao fundo, Kushida parecia ainda mais radiante que o normal. Mesmo contra a minha vontade, senti meu coração acelerar. Será que…?
— Hã? Pensando bem, onde será que a Horikita-san está? Vocês não estavam juntos? — perguntou Kushida.
Aparentemente, eu não tinha nem o direito de me perder em uma simples fantasia. Kushida estava preocupada com Horikita.
— Quem sabe? Não sou a babá dela — respondi. Eu realmente não a via desde o café da manhã.
— Talvez ela não goste de viajar, então deve estar no quarto.
— Provável.
— Lá pelo meio-dia, vamos poder ir até a praia particular da ilha e nadar o quanto quisermos. Mal posso esperar!
Aparentemente, a escola era dona de uma pequena ilha ao sul — o nosso destino.
— Atenção, alunos. Por favor, reúnam-se no deque. Em breve poderão ver a ilha. Este é um bom momento para apreciar uma paisagem bastante significativa.
Esse anúncio um tanto peculiar ecoou pelos alto-falantes do navio. Kushida e as outras não pareciam se importar, ansiosas pelo que viria a seguir. Poucos minutos depois, enquanto vários alunos se juntavam no deque, a ilha surgiu no horizonte. Ike soltou um grito de alegria.
Outros alunos notaram o alvoroço e começaram a se reunir no deque. Quando uma multidão já havia se formado, alguns garotos particularmente arrogantes apareceram e começaram a nos empurrar, tentando garantir o melhor lugar para si.
— Ei, vocês estão no caminho. Saiam daí, seus defeituosos.
Um dos garotos tentou me intimidar e empurrou meu ombro. Em pânico, agarrei-me rapidamente ao corrimão do deque para não cair. Os estudantes riram com desdém.
— Ei! Que diabos vocês pensam que estão fazendo?!
Sudou reagiu imediatamente, tentando intimidá-los de volta. Kushida, preocupada, veio para o meu lado. Imagino que homens que precisam da ajuda de garotas nessas horas pareçam bastante patéticos.
— Vocês entendem como esta escola é estruturada, não é? A Classe D não tem direitos humanos. Defeituosos como vocês são exatamente isso — defeituosos —, então deveriam se submeter. Nós somos todos da Classe A aqui.
Os alunos da Classe D acabaram saindo da proa do navio, como se tivessem sido expulsos. Sudou parecia irritado, mas conseguiu se conter. O fato de uma briga não ter acontecido talvez fosse um sinal de amadurecimento — ou talvez ele simplesmente compreendesse a posição fraca da Classe D naquela situação. Embora fosse injusto, não precisávamos de mais problemas. Ignorar era o melhor a fazer.
— Ah, aí estão vocês. Hã? O que aconteceu?
Hirata Yousuke, o líder da Classe D, chamou por mim. Era o último dia do primeiro semestre. As divisões das cabines para a viagem já haviam sido decididas. Eu não esperava ser chamado para me juntar a Ike, Sudou e os outros — o grupo deles já era grande o suficiente. Quando parecia que eu ficaria de lado, fui salvo pela aparição do meu herói: o próprio Hirata.
— Ei, Hirata, até onde você já foi com a Karuizawa? — perguntou Ike, notando que Hirata não estava indo até ela. — Por que não tenta ser mais carinhoso, já que estamos nessa viagem tão esperada?
— Nós só... seguimos no nosso próprio ritmo — respondeu Hirata, enquanto o celular dele tocava. — Ah, desculpa, parece que o Miyake-kun está com um problema. Eu vou lá ajudar.
Mexendo no telefone, Hirata voltou para as cabines. Pessoas populares são sempre as mais ocupadas.
— Qual é a dele? Estamos numa viagem, e ele ainda se preocupa com os colegas?
— Karuizawa é Karuizawa, né? Mas ultimamente ela e o Hirata não têm andado muito carinhosos um com o outro… Será que terminaram? Se for isso, é uma pena. Vai ter mais gente disputando a Kushida-chan!
Era verdade que Hirata e sua namorada pareciam menos próximos do que quando começaram a namorar. Mas não havia sinais de briga, e o clima entre eles não estava tenso. Sempre que eu os via conversando, pareciam se dar bem.
— Eu decidi, Haruki. Eu… vou me declarar pra Kushida-chan nesta viagem! — anunciou Ike.
— S-Sério? Cara, se ela te rejeitar, vai ficar um clima super estranho. Você vai aguentar?
— É só o meu jeito de pensar, mas… a Kushida-chan é muito linda, né? Por isso a maioria dos caras quer chamá-la pra sair. Só que ela é de outro nível, então ninguém tem coragem de se confessar pra ela. Isso quer dizer que ela não tá acostumada a receber declarações, certo? Então acho que meu amor pode balançar o coração dela. Tipo… não é totalmente impossível.
— Entendo. Então você já se decidiu mesmo.
— É!
Normalmente, Yamauchi teria se inflamado e tentado competir com Ike, mas dessa vez não. Em vez disso, olhava para o horizonte, como se procurasse algo.
— O que foi? — perguntou Ike.
— Ah, nada demais — respondeu Yamauchi, distraído. No fim, ele nunca voltou a tocar no assunto da Kushida.
— Ei, ei, Kushida-chan. Posso falar com você um minutinho? — perguntou Ike.
— Hmm? O que foi?
Ike se aproximou rapidamente de Kushida, que estava olhando para o mar. O jeito dele deixava claro que vinha coisa suspeita por aí.
— Então, é o seguinte… Já faz uns quatro meses desde que nos conhecemos, né? Então… eu tava pensando se não seria legal eu te chamar pelo primeiro nome agora. É que, sei lá, me sinto meio distante te chamando pelo sobrenome.
— Pensando bem, acho que você e o Yamauchi já se chamam pelo primeiro nome há um tempinho, não é? — disse Kushida.
— Então… eu não posso, né? T-Te chamar de Kikyou-chan, quero dizer? — perguntou Ike, nervoso.
Em resposta, Kushida apenas sorriu.
— Claro que pode me chamar assim. Posso te chamar de Kenji-kun, então?
— Uoooooooh! Kikyou-chaaaaaan! — gritou Ike, erguendo os braços para o céu, como o cara do pôster do filme Platoon. Kushida riu baixinho.
— Primeiros nomes, hein? — disse Sudou. — Falando nisso, qual será o primeiro nome da Horikita? Hein? — perguntou ele pra mim, como se eu devesse saber.
— Tomiko. Horikita Tomiko.
— Tomiko, é? Que nome fofo. Bem como eu imaginava. Cai perfeitamente nela.
— Ah, desculpa, me enganei. É Suzune.
— Ei, não erra assim! Suzune, hein? Parece um pouco com Tomiko, mas é cem vezes melhor.
No fim das contas, mesmo que o primeiro nome da Horikita fosse Sadako ou Sam ou qualquer outra coisa, ele provavelmente acharia perfeito do mesmo jeito.
— Vou chamá-la pelo primeiro nome também, durante as férias de verão. Suzune. Suzune…
Bem, parecia que os garotos queriam diminuir a distância entre eles e as meninas. Vale observar que nenhum deles me chamava pelo primeiro nome — e eu também não chamava nenhum deles assim.
— Ei, deixa eu praticar com você, Ayanokoji. Praticar dizer o nome da Suzune, quero dizer.
— Praticar? Como assim, praticar? Isso não é algo normal de se fazer.
Não fazia sentido praticar dizer o nome de alguém se essa pessoa não estava por perto. Sudou me encarou intensamente. Será que ele estava planejando me usar como uma "Horikita imaginária"? O olhar dele era tão bizarro que me causou arrepios.
— Ei, Horikita, tem um minuto? Queria falar uma coisa com você… — murmurou Sudou.
— Eu não sou a Horikita — respondi, desviando o olhar, enojado.
— Seu idiota! É só um treino! Eu também não quero fazer isso, mas preciso praticar, entendeu? Tipo no basquete — se eu quiser melhorar, tenho que treinar. Nesse caso, também preciso tentar o arremesso.
Eu realmente não queria ouvir aquilo, mas não tinha muita escolha. Só me restava suportar.
— Horikita. Não é estranho a gente se tratar como se fosse estranho um pro outro? Já nos conhecemos há um tempo. As outras pessoas estão se chamando pelos primeiros nomes. Não tá na hora da gente fazer o mesmo?
…
Eu quis dar um tapa na cabeça do Sudou, mas tentei aguentar como um adulto.
— Fala alguma coisa! Por que não tá praticando?!
— O que você quer que eu diga?
— Responde do jeito que a Horikita responderia. Você conhece ela há bastante tempo, então deve saber o que ela diria, né?
Nós só nos conhecíamos há quatro meses, então eu obviamente não sabia disso. Mesmo assim, Sudou insistia que eu fingisse ser a "Horikita" dele. Cerrei o punho de leve, em tom de ameaça.
— Já estou um passo à frente no caminho para a maturidade. Quer praticar isso comigo em vez da Horikita? Fica à vontade para praticar sozinho.
Ike entrou no meio da conversa, se oferecendo para substituí-me. Sudou pareceu meio estranho quando começou a falar.
— Horikita… será que eu posso te chamar pelo primeiro nome agora?
— Hã? Bem, você não é exatamente um gato, né, Sudou-kun? E também não parece ter grana, então, tipo… não é meu tipo, sabe? É, tipo, foi mal, foi mal, mas não rola, tá? — disse Ike, tentando imitar uma colegial do estilo gyaru, mesmo sem ter nada a ver com isso.
Sudou o agarrou num mata-leão, até Ike se contorcer de dor no deque. Aqueles caras sempre tinham energia de sobra. Eu me sentia cansado só de olhar pra eles — mas admito que era engraçado.
Pouco depois, a multidão começou a se agitar e fazer barulho. O entusiasmo dos alunos aumentava a cada segundo, conforme nos aproximávamos da ilha e ela ficava mais nítida à vista.
Eu pensei que o navio iria direto até o cais da ilha, mas, por algum motivo, passamos reto e começamos a dar a volta ao redor dela. A ilha, cedida pelo governo, tinha uma área de cerca de 0,5 km². Seu ponto mais alto alcançava 230 metros. Em comparação com o território do Japão, era minúscula — mas, vista por cerca de uma centena de estudantes num navio de cruzeiro, parecia imensa.
Eventualmente, o barco completou a volta inteira. Continuava contornando a ilha sem mudar de velocidade, deslizando pela água quase sem fazer ondas — de um jeito quase sobrenatural.
— Que vista misteriosa! É tão emocionante! Você não acha, Ayanokoji-kun? — exclamou Kushida, encantada.
— Ah… É, acho que sim.
Olhei para Kushida, que observava a ilha deserta com os olhos brilhando. Meu coração começou a acelerar. Kushida era realmente linda. Eu queria proteger aquele sorriso, aquela inocência quase infantil.
Um anúncio soou pelos alto-falantes do navio:
— Desembarcaremos em trinta minutos. Por favor, reúnam-se no deque. Todos os alunos devem trocar-se para o uniforme esportivo. Certifiquem-se de levar sua bolsa designada e seus pertences de viagem, e não se esqueçam do celular. Mantenham todos os outros itens pessoais em seus quartos. Há a possibilidade de não haver acesso a banheiros por algum tempo, portanto, utilizem-nos agora.
Aparentemente, a praia particular já estava próxima. Ike e os outros correram para se trocar, cheios de empolgação. Eu também segui para o quarto do nosso grupo. Lá, vesti o mesmo agasalho usado nas aulas de educação física, voltei ao deque e esperei até chegarmos à ilha. À medida que a distância diminuía, a empolgação dos alunos do primeiro ano chegava ao auge.
— Começaremos o desembarque agora, iniciando pelos alunos da Classe A. Telefones celulares são proibidos na ilha. Entreguem seus aparelhos ao professor responsável antes de descer.
Seguindo as instruções transmitidas pelos alto-falantes, os alunos começaram a descer as escadas de forma ordenada.
— Vamos, anda logo! Mesmo com essa roupa fina, tá todo mundo torrando aqui!
Não havia sombra alguma no deque para se proteger do sol escaldante. Não era surpresa que o pessoal reclamasse. Os alunos da Classe D aguardavam sua vez sob o calor. Foi então que Horikita finalmente se juntou a nós. À primeira vista, parecia a mesma de sempre — mas havia algo diferente nela, algo fora do lugar. Mesmo Horikita, normalmente tão cuidadosa, parecia um pouco incomodada com a própria aparência. Seu cabelo estava um pouco bagunçado.
Ela parecia sentir frio, esfregando os braços distraidamente enquanto esperávamos para desembarcar e pisar na ilha.
— O que você estava fazendo até agora? — perguntei.
— Eu estava apenas lendo um livro no quarto. For Whom the Bell Tolls. Você provavelmente não conhece.
Ah, qual é, pensei. Aquele era, sem dúvida, um dos maiores clássicos de Ernest Hemingway — uma obra-prima incontestável. Eu sempre admirei o gosto literário da Horikita, mas me perguntei sobre suas prioridades: ler um romance sério enquanto estava num cruzeiro de luxo? Isso parecia, no mínimo, estranho. Talvez houvesse algo mais por trás de ela se isolar no quarto para ler.
Mas ela não disse mais nada, e insistir seria inútil. Melhor deixar pra lá.
— Estou um pouco apreensiva com o que vem por aí. E como não podemos levar nossos pertences pessoais, não há muito o que fazer — resmungou ela, com um tom de leve insatisfação.
Algo inusitado de se ouvir de alguém prestes a ir à praia.
O desembarque demorou mais do que eu esperava — provavelmente porque os professores revistavam as bagagens e monitoravam os alunos dos dois lados da rampa.
— Ei, não parece que eles estão sendo cautelosos demais? Tipo… na defensiva? Digo, nem no exame final confiscaram nossos celulares. Agora estão pegando pesado com os pertences pessoais.
— Realmente parece. Quero dizer, se fosse só pra brincar no mar, não precisaria de tanta rigidez assim.
Falando em coisas estranhas, havia até um helicóptero estacionado na popa do navio. Apesar de tudo isso me deixar intrigado, talvez eu só estivesse exagerando. Se os alunos levassem os celulares, alguém poderia deixá-los molhar e estragar. E talvez proibissem objetos pessoais para evitar lixo na praia. Além disso, se alguém passasse mal de repente, o helicóptero poderia ser usado para transporte médico, certo?
Logo seria nossa vez de sermos inspecionados e descermos pela rampa. Eu ainda não sabia que aquele lugar marcaria o limite entre o céu e o inferno.
*
Quando descemos do barco, conversando animadamente uns com os outros, fomos recebidos por palavras duras da nossa professora responsável.
— Agora iniciarei a chamada da Classe D. Quando ouvirem seu nome, respondam em voz alta e clara.
Nossa professora começou a chamada com uma prancheta nas mãos, ao mesmo tempo em que nos instruía a formar uma fila. Chabashira-sensei vestia o mesmo tipo de agasalho esportivo que os alunos. A atmosfera lembrava mais um acampamento de treinamento do que férias de verão. Mesmo assim, poucos pareciam tensos.
— Ah, qual é! Eu quero o meu tempo livre logo! O mar tá bem ali na frente! — resmungou Ike, logo atrás de mim.
A maioria dos alunos queria sair correndo para a praia de areia branca. Pouco depois, um professor alto subiu em uma plataforma branca montada especialmente para a ocasião. Era Mashima-sensei, o professor responsável pela Classe A. Ele normalmente lecionava inglês e era conhecido por seu temperamento rígido. À primeira vista, poderia facilmente ser confundido com um fisiculturista. Tinha o corpo de um lutador profissional, mas era notoriamente inteligente. Já havia até ministrado cursos especiais no passado.
— Primeiro, gostaria de dizer que estou feliz por ver que todos chegaram em segurança. No entanto, é lamentável que um de vocês não tenha podido participar por motivo de doença.
— Sério? Alguém perdeu a viagem porque ficou doente? Que azar — murmurou Ike, baixo o bastante para os professores não ouvirem. Ele tinha razão.
Se fosse uma excursão escolar simples, tudo bem, mas perder uma viagem de luxo dessas era outra história. Provavelmente o garoto se arrependeria ao ouvir os amigos comentando depois.
Mesmo doente, acho que eu teria me esforçado para participar. Curiosamente, os professores pareciam um tanto sombrios. Bem, talvez fosse natural — para nós era uma viagem de férias; para eles, um trabalho.
Não… havia algo além disso. Enquanto Mashima-sensei observava os alunos em silêncio, notei alguns adultos de uniforme montando uma tenda especial ali perto. Sobre uma mesa comprida, colocaram um computador e vários outros equipamentos. Aquele cenário, cada vez mais técnico e burocrático, destoava completamente da paisagem natural ao redor, deixando vários alunos confusos.
Então, Mashima-sensei pronunciou algumas palavras cortantes, como se esperasse o momento certo.
— Pois bem. Iniciaremos agora o primeiro exame especial deste ano letivo.
— Hã? Exame especial? Como assim?
Quase todos na classe reagiram com alguma variação dessa pergunta. Tínhamos acreditado que seria apenas uma viagem escolar, mas fomos surpreendidos por essa revelação. Aparentemente, nossas "férias de verão" não passavam de uma ilusão criada pela escola. A sensação de alívio deu lugar à tensão imediata.
— O exame começa agora e durará uma semana, encerrando-se no dia 7 de agosto. Este teste avaliará se vocês são capazes de viver em grupo em uma ilha deserta. Além disso, devo avisar que este exame especial é tanto prático quanto realista, baseado em treinamentos corporativos do mundo real.
— Viver em uma ilha deserta? Quer dizer que não vamos ficar no navio, mas na ilha?
Alguns alunos das Classes B e C manifestaram sua preocupação.
— Correto. Durante o exame, vocês não poderão retornar ao navio sem uma justificativa plausível. Será necessário que sobrevivam nesta ilha — desde criar um local para dormir até preparar a própria comida. No início do exame, cada classe receberá duas barracas e duas lanternas. Também será fornecida uma caixa de fósforos. Não haverá limite para o uso de protetor solar. Cada aluno receberá uma escova de dentes. Como exceção, as meninas poderão requisitar quantos produtos de higiene feminina precisarem, sem restrições. Solicitem isso diretamente aos seus professores responsáveis. É tudo.
Dito isso, os professores começaram a distribuir os itens.
— O quê?! A gente vai ter que viver como sobreviventes numa ilha deserta?! Eu não quero ouvir esse tipo de loucura! Isso não é um anime nem um mangá! Como é que todo mundo vai dormir com só duas barracas?! E o que a gente vai comer, afinal?! Isso é absurdo!
Ike reclamava alto o bastante para todos ouvirem. Desenvolver habilidades de sobrevivência em uma ilha deserta — caçar animais selvagens, lavar-se no rio, fazer camas com galhos — parecia coisa de filme. Ninguém teria imaginado que a escola nos faria passar por algo assim.
Mashima-sensei não demonstrou qualquer sinal de estar brincando. Na verdade, parecia até surpreso com o que Ike havia dito.
— Você pode achar isso inacreditável, mas é porque viveu uma vida curta e superficial. Há, de fato, empresas renomadas que realizam treinamentos em ilhas desabitadas.
— Hã? M-Mas isso… isso não é especial! Não é pedir demais pra gente começar a viver numa ilha deserta do nada? Não dá! Isso é irreal!
— Continuar falando assim é vergonhoso, Ike. Pare com isso — repreendeu Chabashira-sensei, não conseguindo ignorar a reclamação. — O que Mashima-sensei disse é apenas parte da verdade. Existem inúmeras empresas no mundo com métodos de treinamento variados. Há escritórios onde não existem cadeiras, e empresas que decidem o salário dos funcionários jogando dados. O mundo é mais vasto e profundo do que você imagina.
— Em outras palavras — continuou ela —, vocês não têm discernimento suficiente para distinguir o que é real do que não é.
Muitos alunos pareciam insatisfeitos, com expressões de incredulidade.
— Imagino que estejam pensando algo como "o que esse teste significa?" Ou talvez duvidem que existam treinamentos assim. No entanto, alunos que permanecem nesse nível de pensamento dificilmente se tornarão pessoas promissoras no futuro. Em que se baseiam para chamar isso de "inacreditável" ou "ridículo"? Vocês ainda são apenas estudantes. Na minha opinião, todos são igualmente insignificantes. Que tipo de pessoa sem importância acha que pode criticar uma grande empresa? Isso é absurdo. Se vocês fossem presidentes de companhias desse porte, até poderiam contestar o que dissemos. Mas, estando na posição em que estão, não têm esse direito.
Enquanto ouvíamos, era claro que algumas partes pareciam exageradas ou ilógicas — mas, como Mashima-sensei havia dito, não tínhamos base para argumentar. Quem não entendesse o propósito chamaria aquilo de "estranho" ou "inacreditável", mas para quem compreendesse o objetivo, seria tolice pensar o contrário.
— Mas, sensei — interveio um aluno —, isso não deveria ser nossas férias de verão? Fomos trazidos aqui sob o pretexto de uma viagem de lazer. Não acha que nos fazer participar de um treinamento corporativo assim é injusto?
— Entendo. Suponho que você não esteja errado. Consigo compreender o motivo de sua insatisfação — respondeu Mashima-sensei, reconhecendo a validade da queixa —, diferentemente dos protestos impulsivos de Ike.
Havia alunos descontentes com a situação atual e outros insatisfeitos com o processo como um todo.
— No entanto, não se preocupem — continuou. — Seria natural reclamar se estivéssemos impondo algo severo, mas, embora o chamemos de exame especial, não precisam encará-lo de maneira negativa. Nesta semana, vocês poderão nadar, fazer churrasco… até acender uma fogueira à noite e conversar com amigos. Afinal, o tema deste exame especial é "liberdade".
— Hã? O tema é liberdade? Podemos fazer churrasco? E isso ainda é um teste? Tô completamente perdido…
Mesmo sendo um exame, poderíamos brincar e aproveitar. A contradição deixava todos confusos, e as dúvidas só aumentavam.
— Como parte principal deste teste, decidimos distribuir trezentos pontos para cada classe — explicou Mashima-sensei. — Se usarem bem seus pontos, poderão aproveitar esta semana da mesma forma que uma viagem normal. Também preparamos um manual para orientá-los nesse processo.
Outro professor lhe entregou um livreto de várias páginas.
— Este manual lista todas as formas de obter pontos. Também explica onde encontrar água potável, alimentos e itens essenciais. Se quiserem fazer um churrasco, aqui está o guia para preparar o equipamento e os ingredientes. Além disso, fornecemos várias ferramentas para que possam aproveitar o mar ao máximo.
— Então… podemos fazer o que quisermos com os trezentos pontos?
— Exato. É possível conseguir qualquer coisa usando seus pontos. Claro, é necessário utilizá-los de forma organizada, mas com um bom planejamento, vocês poderão passar a semana sem grandes dificuldades.
Se realmente fosse possível sobreviver à semana apenas usando os pontos, aquilo parecia mais férias do que um teste. Poderia acabar se tornando uma verdadeira viagem de verão.
— M-Mas, sensei… o senhor disse que isso era um teste, certo? Então não deveria haver algum tipo de dificuldade?
— Não, não há nada difícil. E não terá qualquer impacto negativo no segundo semestre. Eu garanto.
— Então está tudo bem se a gente simplesmente se divertir por uma semana?
— Isso mesmo. Vocês são livres para fazer o que quiserem. Claro, há algumas regras mínimas de convivência que devem ser seguidas em grupo, mas nada que deva ser complicado.
Se aquilo fosse verdade, significava que não havia risco algum? Nesse caso, qual seria o real propósito do teste? Estaria relacionado a algum tipo de intercâmbio entre as turmas? Eu não conseguia entender as verdadeiras intenções da escola, mas a próxima declaração de Mashima-sensei esclareceu tudo.
— Quando este período de teste especial terminar, os pontos restantes de cada classe serão somados aos seus pontos de classe. Seus totais refletirão essa mudança assim que as férias de verão terminarem.
Enquanto ele falava, uma rajada de vento soprou pela praia, levantando uma nuvem de areia.
As palavras de Mashima-sensei foram o maior choque do dia. Nos exames anteriores, o que era avaliado eram nossas habilidades acadêmicas — o que, naturalmente, favorecia os alunos com melhor desempenho. A Classe D sempre acabava perdendo pontos. Mas desta vez, as regras eram completamente diferentes. Esse teste parecia projetado para não criar uma disparidade tão grande entre as Classes A a D.
— Então, se a gente aguentar firme por uma semana, no mês que vem o nosso saldo pode aumentar muito?! — perguntou Ike, empolgado.
Exato. Dessa vez não se tratava de um teste de conhecimento, mas de resistência. Se conseguíssemos conter nossos desejos básicos, talvez pudéssemos nos aproximar da Classe A.
— Cada classe receberá um exemplar do manual. Se o manual for perdido, será possível pedir outro, mas isso custará pontos. Portanto, tomem cuidado. Além disso, o aluno ausente desta viagem é da Classe A. De acordo com as regras deste teste, se algum estudante precisar abandonar a atividade por motivo de doença, a classe sofrerá uma penalidade de trinta pontos. Portanto, a Classe A começará com duzentos e setenta pontos.
Mesmo que não afetasse nossa turma, a penalidade era impiedosa. Os alunos da Classe A tremiam visivelmente, e os demais também pareciam chocados. Assim que Mashima-sensei terminou de falar, ele nos dispensou. Outra voz ecoou pelos alto-falantes, instruindo cada classe a se reunir com seus respectivos professores para receber orientações adicionais.
Nós então nos juntamos ao redor de Chabashira-sensei, enquanto as quatro classes se espalhavam, mantendo certa distância umas das outras.
— Trinta mil pontos no próximo mês, trinta mil pontos no próximo mês, trinta mil pontos no próximo mês! Vamos nessa!
Ike e os outros ergueram os punhos em sinal de vitória. As garotas começaram a conversar animadamente sobre o que comprariam. O maior desejo da Classe D era aumentar nossos pontos. Só precisávamos passar uma semana sem luxos.
Parecia simples demais.
— Agora entregarei relógios de pulso para todos vocês. É proibido removê-los até o fim do teste. Caso retirem o relógio sem permissão, serão punidos. Esses relógios não servem apenas para mostrar as horas: seus sensores monitoram a temperatura corporal, o pulso e até os movimentos. Também possuem GPS. Além disso, caso algo grave aconteça, há um botão de emergência que notificará imediatamente a escola. Se ocorrer qualquer situação perigosa, não hesitem em apertá-lo.
O fornecedor que trouxe os relógios os havia empilhado ao lado de Chabashira-sensei. Era hora de a Classe D recolher seu equipamento. Fomos instruídos a tirar os relógios das caixas e colocá-los.
— Quando a senhora fala em "emergência", quer dizer, tipo… se aparecer um urso?
— Mesmo que isso tenha sido uma piada, o teste já começou. Eu não posso responder a perguntas que possam influenciar o resultado.
— É… essa resposta foi meio assustadora.
— Acho que não há animais selvagens por aqui. Se algum aluno se ferisse, seria um grande problema. Provavelmente nos deram esses relógios apenas para monitorar nossa condição física. Faz sentido, não? Estamos em uma ilha desabitada, afinal, e a escola precisa garantir nossa segurança — disse Hirata, ponderando.
De fato, os relógios pareciam ter sido entregues para assegurar nosso bem-estar. Se ficássemos vagando livremente pela ilha, os professores não teriam como supervisionar tudo pessoalmente. E seria difícil instalar câmeras como as da escola. Provavelmente pretendiam monitorar nossa condição física para reagir rapidamente a qualquer emergência. O helicóptero que havíamos visto no navio, muito provavelmente, estava lá justamente para isso.
À medida que cada um recebia seu relógio, colocava-o no pulso direito ou esquerdo, conforme a preferência.
— Podemos entrar na água com eles?
— Não deve haver problema. São à prova d’água. No entanto, se algum apresentar defeito, reportem imediatamente a um administrador e solicitem a substituição.
O exame especial era, sem dúvida, excêntrico. Isso indicava que não era a primeira vez que a escola o realizava. Estava claro que haviam previsto muitas situações possíveis — embora ainda pudesse haver brechas.
— Chabashira-sensei, eu entendo que ficaremos uma semana na ilha, mas… é possível sobreviver sem gastar pontos?
— Hm… Bem, a escola não intervirá no andamento do teste. Isso significa que vocês mesmos devem providenciar sua comida e água. Encontrar soluções para esses problemas faz parte da prova. Eu não conheço nenhuma maneira de fazer isso sem usar pontos.
As garotas pareciam mais aflitas do que os garotos. A ausência de uma cama garantida parecia deixá-las inseguras.
— Relaxem! Se a gente pescar e colher frutas na floresta, vai dar tudo certo! Podemos usar folhas e galhos para fazer barracas e tal. E mesmo que alguém comece a passar mal, é só aguentar firme! — disse Ike, confiante, sem demonstrar preocupação alguma. Ele parecia decidido a preservar os trezentos pontos a todo custo.
Mas, mesmo que Ike conseguisse viver assim, nossa turma tinha mais de trinta pessoas. Conseguir o necessário para todos não seria nada fácil.
— Sinto muito, Ike. Mas eu não acho que as coisas vão sair do jeito que você imagina. Abra o manual.
Hirata fez exatamente o que Chabashira-sensei havia instruído.
— Primeiro, quero que leiam a última página, onde estão listadas as penalidades. Essa é uma informação muito importante, que resume as dificuldades deste teste especial. Ela determinará se vocês vão "viver ou morrer".
Na última página, uma frase chamava atenção: "As seguintes penalidades serão aplicadas a qualquer um que se enquadrar nas condições abaixo."
"Qualquer estudante considerado incapaz de continuar o teste devido a uma deterioração significativa de saúde ou ferimento grave será penalizado em trinta pontos. Esse aluno, então, será retirado do teste."
"No caso de um estudante poluir o ambiente, ele ou ela será penalizado em vinte pontos."
"Caso algum estudante esteja ausente durante a chamada das 8h ou das 20h, serão descontados cinco pontos por cada ausência."
Mas a punição mais severa estava detalhada no quarto item da lista: "Caso um estudante seja considerado culpado de violência contra outra classe, roubo ou dano à propriedade de outra classe, etc., a turma do infrator será imediatamente desclassificada, e o aluno perderá todos os seus pontos privados."
Parecia que a Classe A também estava sujeita às mesmas regras. A quarta regra era totalmente razoável — visava impedir que os alunos se envolvessem em comportamentos prejudiciais. As outras três, por outro lado, existiam claramente para evitar que os estudantes agissem de forma descuidada. Como havia chamada pela manhã e à noite, era impossível passar o dia todo dormindo no acampamento. E também servia para conter atitudes mais bárbaras, como jogar lixo por aí.
Essencialmente, tratava-se de um teste de autocontrole.
— Vocês são livres para agir como quiserem. No entanto, se dez alunos ficarem doentes ou em más condições, todo o esforço será em vão. Uma vez que um estudante se retira do teste, não pode voltar.
Os alunos que acreditavam ser possível passar no teste apenas com resistência física começaram a parecer confusos. Seria impossível não gastar um único ponto — e isso valia para todas as classes. Porém, fosse participando ativamente ou apenas suportando a situação, a resistência sozinha não garantiria a vitória.
Como usar os pontos de forma eficiente? Como economizá-los e ainda sobreviver à semana?
Aos poucos, o verdadeiro formato desse "teste especial" começava a se delinear.
— Então… em outras palavras, usar ao menos alguns pontos é inevitável? — perguntou uma garota chamada Shinohara, que vinha acompanhando a conversa.
— Eu discordo da ideia de ceder logo de cara. Acho que devemos resistir o máximo possível.
— Eu entendo o que você quer dizer, mas vai ser ruim se a nossa saúde começar a piorar.
— Ah, qual é, Hirata! Não desanima, não! Esse é um teste de paciência, certo?
Quanto mais entendíamos as regras, menos conseguíamos entrar em acordo sobre o que fazer. As opiniões se dividiram rapidamente. De qualquer forma, o manual listava uma ampla variedade de itens que podiam ser comprados com pontos: equipamentos essenciais de sobrevivência, como barracas e utensílios de cozinha; ferramentas e dispositivos, como câmeras digitais e rádios comunicadores; itens de lazer, como guarda-sóis, boias, kits de churrasco e fogos de artifício; além, claro, de comida e água — os recursos mais básicos.
Com os pontos, poderíamos nos preparar para qualquer situação. Aparentemente, qualquer aluno podia solicitar algo, bastando relatar ao professor responsável e gastar os pontos para adquirir o item desejado.
— Chabashira-sensei, posso perguntar uma coisa? — disse Horikita, erguendo a mão. — Se alguém tiver que abandonar o teste depois de já termos gasto todos os trezentos pontos, o que acontece?
— Nesse caso, o que aumentará será apenas o número de pessoas forçadas a se retirar. Os pontos não podem ser alterados depois de chegarem a zero.
— Então, em outras palavras, não é possível ficar com pontos negativos durante o teste?
Chabashira-sensei respondeu afirmativamente. Mashima-sensei havia dito que não haveria efeitos negativos permanentes nesse teste, e parecia que isso era mesmo verdade. Chabashira-sensei continuou a explicação, ocasionalmente conferindo o relógio no pulso para checar a hora.
— Cada uma das barracas fornecidas é grande o suficiente para acomodar oito pessoas. Elas pesam cerca de quinze quilos, então tenham cuidado ao transportá-las. Além disso, a escola não se responsabilizará caso os itens fornecidos sejam perdidos ou danificados. Se precisarem de uma nova barraca, lembrem-se de que terão que usar seus pontos.
— Posso fazer uma pergunta? Onde será feita a chamada?
— Cada classe ficará acompanhada por seu respectivo professor até o fim do teste. Depois de decidirem onde querem montar o acampamento-base, devem me informar. Assim que o local estiver definido, farei a chamada lá. Pensem bem antes de decidir, porque não será permitido mudar o acampamento sem uma razão justificável. As outras classes estão sujeitas às mesmas condições. Não há exceções.
Isso significava que Chabashira-sensei passaria a semana inteira conosco, supervisionando a Classe D? É claro que ela provavelmente não ajudaria em nada.
— Ei, sensei… desculpa interromper, mas aquele suco que eu tomei mais cedo tava bom não. Onde é o banheiro?
Sudou apareceu diante de nós, como se não tivesse ouvido o anúncio.
— Banheiro, é? Eu estava justamente prestes a falar sobre isso. Se quiserem usar o banheiro, usem isto.
Chabashira-sensei pegou uma das caixas de papelão da pilha empilhada ao lado. Ela retirou a fita adesiva e puxou de dentro algumas peças dobradas de papelão.
— Hã? O que é isso? — perguntou Sudou, franzindo a testa.
— É um banheiro básico. Cada classe receberá um. Por favor, manuseiem com cuidado.
Sudou não foi o único a ficar confuso. As garotas ficaram em choque.
— Não me diga que temos que usar isso?! — gritou Shinohara, do grupo de Karuizawa, horrorizada. A garota parecia mais uma extensão de Karuizawa do que apenas uma integrante do grupo.
— Tanto os meninos quanto as meninas vão usar. Mas não se preocupem, vem com uma barraca simples que pode ser montada quando quiserem trocar de roupa. Assim, ninguém poderá ver vocês.
— Esse não é o problema! I-Isso é só uma caixa de papelão! É completamente impossível!
— Pode até ser uma caixa de papelão, mas é uma de alta qualidade. Inclusive, é usada em situações de emergência, como desastres naturais. Vou mostrar como se usa, então prestem atenção.
Enquanto as garotas reclamavam em coro, Chabashira-sensei começou a montar o banheiro. Parecia que ela já estava acostumada com aquilo. Em poucos minutos, colocou uma sacola azul de vinil sobre a estrutura e, em seguida, espalhou o que parecia ser uma folha branca dentro.
— Esta folha é feita de polímero absorvente. Ela cobre e solidifica os resíduos, tornando-os invisíveis e reduzindo o odor. Depois de usar, basta colocar outra folha por cima. Repetindo o processo, é possível utilizá-lo cerca de cinco vezes com uma única sacola de vinil. Essas sacolas e folhas serão fornecidas em quantidade ilimitada. Se quiserem, podem trocá-las a cada uso.
As garotas ouviram em silêncio a explicação de Chabashira-sensei. Em um desastre de verdade, não importaria se fosse uma caixa de papelão ou não — o importante seria ter onde ir. Mas era difícil imaginar aquela ilha paradisíaca como um cenário de emergência.
— Sem chance! Eu não vou fazer isso, nunca! — exclamou Shinohara, e quase todas as meninas concordaram com ela, em uníssono.
Ike, que até então permanecera calado, fez um bico e resmungou:
— Ah, qual é, só aceita logo, Shinohara. Não é hora pra brigar.
— Cala a boca! Para vocês, meninos, isso não importa, né? Mas eu não vou usar uma caixa de papelão como banheiro!
— A decisão é de vocês. No entanto, não é permitido fazer suas necessidades na floresta, no mar ou nos rios. Não se esqueçam disso.
Mesmo ao dar o aviso, a professora parecia completamente desinteressada.
— M-Mas eu não consigo fazer isso dentro de uma caixa de papelão! E os garotos vão estar por perto, não vão? Que nojo!
Shinohara, ainda indignada com a situação, despejou sua frustração sobre os meninos — especialmente Ike.
— Qual é o seu problema? Por que está tratando a gente como se fôssemos tarados? — reclamou Ike.
— Ué, mas não é? Vocês são bem pervertidos.
— Hã?! Nossa, isso doeu! Eu sou um super cavalheiro!
— Cavalheiro? — Shinohara riu com desdém. — Me poupe. Você é, de longe, o mais tarado daqui.
Faíscas pareciam voar entre os dois enquanto discutiam acaloradamente.
— De qualquer forma, eu não vou usar aquilo — afirmou Shinohara, cruzando os braços.
Metade das meninas parecia igualmente irredutível.
— E o que vocês vão fazer, então? É impossível passar uma semana inteira sem ir ao banheiro, não é?
— Isso é…
Nossa professora, que até então observava a briga entre Ike e Shinohara com uma calma quase entediada, de repente olhou por cima do ombro, com uma expressão de claro desgosto.
— Yoo-hoo!
Uma voz aguda ecoou. A dona dela avançou na direção de Chabashira-sensei e a envolveu num abraço apertado por trás.
— O que pensa que está fazendo? — resmungou Chabashira-sensei, tentando se soltar.
— Ah, qual é, não posso ser amigável? Eu só queria ver o que você ia fazer — disse Hoshinomiya-sensei, a professora responsável pela Classe B. Ela acariciou suavemente os braços de Chabashira-sensei e completou com um sorriso: — Toda vez que eu toco no seu cabelo, Sae-chan, ele está tão macio!

— Você não entende as regras da escola? Espionar outras turmas enquanto recebem instruções é algo inaceitável.
— Ah, eu sou só uma professora sem importância, sabe? Mesmo que ouvisse alguma coisa, jamais contaria. Mas não acha que isso é destino? Não dá pra acreditar que nós duas viemos parar na mesma ilha!
Destino? Chabashira-sensei ignorou o tom insinuante nas palavras de Hoshinomiya-sensei.
— Cale a boca. Volte logo para a Classe B.
— Ah! Aquele ali não é o Ayanokoji-kun? Há quanto tempo!
Diferente de outros professores, que às vezes apareciam nas nossas aulas, eu quase nunca tinha contato direto com Hoshinomiya-sensei. Inclinei-me levemente e a cumprimentei com um aceno de cabeça.
— O verão é a estação do amor! Se quiser se declarar para alguma garota, talvez seja mais eficaz fazer isso diante do lindo oceano!
— O mar pode até ser bonito, mas eu não posso me dar esse luxo durante a aula.
Lágrimas escorreram dos olhos dela — exageradas e teatrais, como sempre. Com todos nos observando, eu só desejava que ela parasse de envolver minha vida amorosa em público.
— Você precisa ser mais descontraído!
— Ei. Quer que eu te denuncie para a diretoria por comportamento inadequado? Além disso, não tenho mais tempo pra isso — retrucou Chabashira-sensei, irritada.
— Ooh, não me olhe assim! Tá bom, tá bom, já entendi. A gente se vê depois!
Hoshinomiya-sensei saiu andando com um ar ofendido. Assim que ela se afastou, Chabashira-sensei retomou o assunto, com a mesma frieza de sempre.
— Muito bem. Agora vou explicar algumas regras adicionais.
— R-Regras adicionais? Ainda tem mais?
— Em breve vocês poderão circular livremente pela ilha, mas há várias "áreas designadas". Nessas áreas existe algo chamado direito de posse exclusiva, e apenas a turma que ocupar determinada área poderá exercer esses direitos. A turma que obtiver o direito pode decidir livremente como irá utilizá-lo. No entanto, o direito de posse exclusiva é válido apenas por oito horas após ser ativado, sendo automaticamente revogado em seguida. Isso significa que outra classe poderá conquistar o mesmo local depois desse período. Além disso, cada vez que uma turma ocupar uma área, receberá um ponto bônus. Contudo, esse ponto é provisório e não poderá ser usado durante o exame. Os pontos bônus serão somados à pontuação final apenas após o término do teste. Como a escola estará monitorando vocês constantemente, não há espaço para trapaças. Tenham isso em mente.
— Hã? Espera aí… Isso é super importante! Dá pra ganhar pontos extras?! Deixa tudo com a gente!
— Vamos procurar um desses lugares agora mesmo! — exclamou Ike, empolgado, com os olhos brilhando.
O manual detalhava os pontos bônus cuidadosamente. Havia um dispositivo instalado em cada área, responsável por registrar os direitos de posse. Não estava claro quantas áreas existiam na ilha, mas parecia evidente que eram cruciais.
— Entendo a pressa de vocês, mas levem em conta os riscos. Depois de analisá-los, decidam o que fazer. Está tudo explicado no manual.
No manual, estavam listadas as seguintes regras:
É necessário um cartão especial para ocupar uma área.
Cada ocupação rende um ponto.
As áreas ocupadas podem ser utilizadas livremente.
Usar uma área ocupada por outra classe sem permissão gera uma penalidade de 50 pontos.
Apenas o líder designado pode utilizar o cartão.
Não é possível trocar de líder sem uma justificativa válida.
Enquanto Chabashira-sensei explicava, notei alguns detalhes: os direitos de posse eram reiniciados a cada oito horas; se uma área estivesse desocupada, poderia ser tomada imediatamente; e a mesma classe podia ocupar repetidamente o mesmo local. Assim, se uma turma conseguisse manter três áreas ocupadas por todo o período, poderia somar cinquenta pontos ou mais ao final da prova. Porém, havia riscos enormes envolvidos.
Pelas regras, parecia um simples caso de "quem chega primeiro, vence". Um sistema justo — mas perigoso. Entretanto, o último item do manual revelava o verdadeiro desafio.
No sétimo dia, último dia do teste, cada classe teria o direito de tentar adivinhar quem era o líder das outras turmas durante a chamada. Se acertasse, ganharia cinquenta pontos por acerto, e a turma adversária perderia a mesma quantidade. Ou seja, se o líder fosse descoberto, sua classe poderia sofrer uma perda devastadora. Era uma aposta de alto risco e alta recompensa.
Por outro lado, se errasse o palpite, a turma sofreria uma penalidade de cinquenta pontos. Além disso, qualquer classe cujo líder fosse descoberto perderia todos os pontos bônus acumulados até aquele momento. Essa regra tornava perigoso agir de forma impulsiva — só quem tivesse confiança total arriscaria.
— Cada turma deve escolher um líder, sem exceções. No entanto, você tem a liberdade de não participar. Assim que escolherem, avisem-me. Eu entregarei o cartão do líder com o nome registrado. O prazo é até a chamada de hoje. Se não decidirem até lá, a escola decidirá por vocês. É tudo.
Ou seja, bastava um vislumbre do cartão para revelar a identidade do líder. Com isso, Chabashira-sensei encerrou sua explicação.
O jogo começara.
Hirata tomou a iniciativa imediatamente:
— Podemos decidir o líder mais tarde. Antes, precisamos escolher o local do nosso acampamento-base. Ficamos por aqui, na praia, ou entramos na floresta? Temos que pensar bem sobre o local.
O manual incluía um mapa simples da ilha — apenas o formato e o tamanho estavam marcados. Nada sobre a topografia ou o interior. Era praticamente uma folha em branco.
— Parece que teremos que preencher as informações por conta própria — comentei, segurando a caneta esferográfica que também nos haviam dado.
— Acho melhor ficarmos perto do barco, onde há mais professores por perto, né? — sugeriu alguém.
— Não sei… Talvez não haja nada por aqui.
Se não houvesse água, não haveria comida. Montar o acampamento naquela área poderia significar ficar longe de recursos essenciais. Por outro lado, o sol seria intenso demais durante o dia, tornando o ambiente difícil. Ainda assim, aventurar-se fundo na floresta também trazia riscos.
— Mais importante… eu preciso ir ao banheiro. Não dá pra segurar mais.
Sudou pegou o banheiro simples que Chabashira-sensei havia montado. Montamos a pequena tenda de "um botão" e a armamos a uma curta distância do acampamento. Shinohara e as outras meninas observavam a cena amontoadas umas nas outras, nervosas. Chabashira-sensei se afastou, claramente dando a entender: "Não vou mais me meter. Façam o que quiserem."
— Ei, Hirata-kun. Não seria melhor decidirmos de antemão o que fazer em relação ao banheiro?
O banheiro certamente se tornaria um problema mais cedo ou mais tarde. A preocupação das meninas era totalmente razoável.
— Bem, podemos conversar sobre isso, mas no fim das contas, não temos escolha a não ser aguentar, certo?
— Não, talvez exista outra opção.
Hirata folheou o manual e ergueu o olhar.
— Aqui diz que é possível comprar e instalar banheiros temporários usando nossos pontos.
Imediatamente, Shinohara e as outras se juntaram em volta do manual. As especificações do banheiro temporário pareciam perfeitas — pelas imagens, era praticamente igual a um vaso sanitário comum, com descarga e tudo. Se fosse realmente assim, as meninas certamente aceitariam. No entanto, havia um problema: cada banheiro custava vinte pontos. Era difícil dizer se isso era caro ou barato.
— A gente precisa disso, com certeza! Eu sei que é chato gastar pontos… mas sem isso é impossível!
Várias meninas concordaram de imediato, apoiando Shinohara. Para elas, ter um banheiro decente era mais importante do que comida ou água. Não iriam ceder nesse ponto.
— E-Ei, pera aí! Vinte pontos?! Só por um banheiro?! — gritou Ike, horrorizado.
Sua vontade de economizar pontos era absoluta. Além disso, alguns rapazes pareciam dispostos a usar o banheiro de papelão sem reclamar — afinal, queriam evitar qualquer gasto desnecessário.
— Sim, esse banheiro é bom e tudo mais, mas já temos um! Certo? Ainda temos muito tempo pra usar nossos pontos. Gastar assim agora é um desperdício!
— Você não decide nada, Ike. O Hirata-kun vai ouvir a opinião de todo mundo e então decidir. Não é, Hirata-kun? — disse Shinohara, ignorando Ike e implorando para que Hirata comprasse o banheiro temporário.
— Entendo. No mínimo, ter um banheiro só para as meninas seria—
— Ouvir a opinião de todos é bom, mas isso não te dá o direito de decidir sozinho! — interrompeu Ike, desesperado, tentando impedir Hirata, que parecia prestes a aceitar a proposta.
— Ah, cala a boca, vai! Karuizawa-san, fala alguma coisa! A gente precisa de um banheiro! — suplicou Shinohara, apelando para a representante das meninas.
— Sério? Bom… eu acho que vai ser difícil, mas eu quero muito ganhar pontos pra turma. Então vou aguentar.
A resposta inesperada de Karuizawa — justamente ela, que normalmente seria a primeira a reclamar — pegou todas de surpresa.
— A escola já preparou o necessário pra gente. Eu posso aguentar. Se tomarmos banho no rio e usarmos o que temos, acho que vai dar tudo certo, não acham?
— Mas… Karuizawa-san!
Mesmo Shinohara, que era teimosa, não teve coragem de contrariá-la. No fim, a maioria das meninas seguiu a decisão de Karuizawa.
Mas então Yukimura entrou na discussão.
— Eu entendo o desejo das garotas de ter um banheiro melhor. Porém, não acho certo gastarmos pontos de forma arbitrária, seja por meninos ou meninas. Se quiserem realmente comprar o banheiro, pelo menos deveríamos decidir isso por meio de uma votação.
Ele ajustou os óculos, falando num tom firme e provocador.
— É apenas um pedido natural de uma garota, só isso. Os meninos não têm nada a ver com isso.
— Um pedido natural? Que não envolve os meninos? Eu não entendo. Isso não é, no fim das contas, uma forma de discriminação?
— Discriminação? Ai, que dor de cabeça… Hirata-kun, faz eles pararem de encher o saco.
Shinohara, frustrada por não conseguir convencer ninguém, apelou para Hirata.
— Esse teste é uma chance única de reduzirmos a diferença de pontos entre as turmas. Não podemos gastar pontos valiosos em banheiros temporários. Eu não pretendo ficar na Classe D pra sempre. Não concordo com a Shinohara-san, que está tomando decisões baseadas em caprichos pessoais. Devemos definir uma política clara e igual para todos.
— Hã? Tá dizendo que eu não tô pensando em nada?
— Mesmo o dinheiro pode se mover por impulso. Eu odeio quando as mulheres discutem com base em emoção.
— O quê?! Isso não quer dizer que eu queira gastar nossos pontos sem pensar! O que eu tô dizendo é que precisamos do mínimo necessário! Você não entende isso?
— Os dois, acalmem-se. Yukimura-kun, eu entendo o que você quer dizer, mas se continuar falando de forma tão agressiva, não vamos resolver nada. Vamos discutir isso com calma.
— Com calma? Você não concorda que, sob nenhuma circunstância, deveríamos gastar nossos pontos de forma arbitrária? — perguntou Yukimura.
— Bem…
Hirata se via cada vez mais encurralado. Não sabia exatamente o que fazer, mas tentava mediar a situação, esforçando-se ao máximo para não demonstrar preocupação crescente.
— A Classe D não tem liderança, e isso me preocupa. Além disso, o Hirata é frouxo. Ele nem consegue tomar uma decisão, consegue?
Eu estava a poucos metros de distância, observando a cena se desenrolar. Horikita estava ao meu lado. Ao perceber que provavelmente não haveria nenhum progresso, ela suspirou pesadamente.
— Parece que esse teste vai ser mais complexo e desafiador do que imaginávamos…
Horikita, curiosamente, parecia perplexa.
— É uma oportunidade de conseguirmos muitos pontos. Você está bem, Horikita?
Quando a observei de perfil, ela parecia mais irritada do que indecisa.
— Não sei… neste estágio, não sou otimista o suficiente para dizer que será fácil. Sou como os outros. Nunca vivi em um ambiente assim, então não posso fazer previsões. Percebo agora que este teste é mais complicado do que pensamos, e nossa posição é mais precária. Quero aumentar nossos pontos, mas não consigo pensar numa solução boa. Que teste desagradável.
Um grupo queria gastar pontos, outro não queria gastar, e um terceiro queria gastar apenas se necessário. Três grupos completamente divididos. Além disso, havia pequenas diferenças mesmo dentro dessas facções.
Esta semana não seria fácil em uma turma de mais de trinta pessoas.
O manual parecia representar todas as dificuldades que enfrentaríamos para nos unir como classe, ao mesmo tempo em que apresentava nossa liberdade. A certa distância, Chabashira-sensei observava nosso confronto com olhos frios. Ela não avaliaria os alunos, porém.
Afinal, a Classe D era um amontoado de fracassados; existíamos apenas para falhar. Esse seria o objetivo do exercício?
— Horikita, o que você acha?
— Como o Yukimura-kun disse, eu gostaria de passar a semana sem gastar pontos desnecessários. Mas não estou confiante de que conseguirei sobreviver à semana sem equipamentos adequados. Essa é minha opinião honesta. No entanto, acredito que devemos nos desafiar e ver até onde conseguimos ir. O que acha?
— Penso o mesmo. Há muitas coisas que não sabemos — respondi.
— Ei, olha. Será que as Classes A e B já decidiram o que vão fazer?
Nos viramos para uma voz feminina aflita. Embora apenas alguns minutos tivessem passado, vários alunos já se reuniam e se dirigiam para a floresta, provavelmente em busca do melhor local para montar o acampamento base. Era quase simbólico de sua superioridade. Enquanto isso, as Classes C e D ainda careciam de coesão. Nem conseguimos começar satisfatoriamente.
— Ah, droga! Não é hora de ficar batendo papo sobre banheiros! Eu vou fazer qualquer coisa para proteger nossos pontos. Vou procurar áreas para o acampamento e locais estratégicos. Yukimura, Shinohara e os outros, não comecem a gastar pontos.
— Entendido. Não pretendemos gastar.
Não dava para dizer que Ike e Yukimura eram grandes amigos, mas, aparentemente, podiam cooperar por um objetivo comum.
— Espera, Ike-kun. É perigoso ir para a floresta sem um plano.
— Ficar aqui preocupado vai resolver alguma coisa? Não vai.
O desejo de avançar e o desejo de permanecer entraram em conflito. Hirata, porém, não era persuasivo o suficiente para impedir Ike e os outros.
— Vou voltar quando encontrar um bom local. Depois, quando todos se moverem para lá, podemos conversar. Um plano simples, certo?
Será que Sudou e Yamauchi também pretendiam procurar pontos? Eles se juntaram a Ike, impaciente.
— Você vai também, Ayanokoji? — Sudou perguntou, olhando-me nos olhos. Balancei a cabeça casualmente.
— Não quero que vocês três façam qualquer coisa sozinhos. Se se perderem, vai dar problema.
Hirata pareceu perceber que não conseguiria impedir a situação.
— Entendido. Certo, vamos procurar bastante coisa!
Como eu imaginava, sem sombra para bloquear o sol, estava muito quente. Enquanto discutíamos sentados, todos já começavam a sentir sede.
— Seria realmente difícil tentar montar nosso acampamento aqui.
O calor intenso fez alguns colegas começarem a reclamar. Hirata também parecia perceber o quão complicado seria acampar na praia. Se fosse um acampamento de verdade, com guarda-sol, tenda de praia e muitas opções para nadar e se proteger do sol, seria uma coisa. Mas nossa situação tornava isso difícil.
— Por enquanto, que tal procurarmos um lugar com sombra? Podemos conversar enquanto nos movemos.
Hirata tomou a iniciativa e começou a carregar a tenda. Os outros rapazes o seguiram.
— Aliás… Sudou-kun, você arrumou o banheiro direito? — Uma das meninas apontou, ansiosa, para o banheiro. Era verdade que Sudou saíra de lá de mãos vazias, depois de usá-lo. Então, ao menos, o interior estava…
Deixamos o banheiro sob o sol escaldante. O interior da tenda parecia um verdadeiro banho de vapor.
*
Caminhamos da praia em direção a uma floresta gigantesca. Um dos garotos parecia visivelmente abalado.
— É mesmo seguro entrarmos aí? Podemos nos perder facilmente. Eu não consigo enxergar nada lá dentro.
Era exatamente por isso que tínhamos a regra da chamada e o botão de emergência nos nossos relógios. Precisávamos cooperar. Se não trabalhássemos juntos, provavelmente entraríamos em pânico e gastaríamos nossos pontos como se fossem infinitos.
— Uau, Karuizawa-san. O Hirata-kun é incrível, não é? Ele enfrenta tudo o que aparece, mesmo que não goste.
— Ah, é. Os outros caras são patéticos, então é melhor deixar tudo nas mãos do Hirata-kun, certo?
Hirata, ainda carregando a tenda, seguia à frente do grupo de Karuizawa, que o observava com admiração. Eu também ajudava a carregar os pertences, inclusive o banheiro simples de papelão dobrado. Concluí que, se não ajudasse agora, trabalhos extras poderiam aparecer depois. Por enquanto, queria dar a impressão de que estava colaborando.
Horikita, isolada das outras meninas, seguia calmamente o grupo por trás. Às vezes, parecia que iria parar, mas logo retomava a caminhada. Diminui um pouco o ritmo até andar ao lado dela.
— Não está de bom humor? — perguntei.
— Para ser honesta, estou desanimada. Esse tipo de coisa simplesmente não é para mim. A vida na ilha parece primitiva e, pior de tudo, não posso ficar sozinha.
Participar entusiasticamente de um esforço coletivo estava muito além das capacidades de Horikita. Pensei que seria bom ela tentar se integrar, mas seria inútil sugerir isso. Desisti.
— Sabe, o que você me disse antes pode acabar sendo verdade.
Horikita exibiu uma expressão de leve divertimento.
— Este teste provavelmente está além das minhas habilidades acadêmicas. Concluí que Ike-kun e Sudou-kun seriam obstáculos, mas eles tomaram a iniciativa de sair procurando. Eu não consegui fazer nada porque fiquei debatendo que ação tomar. Se tivessem se mexido mais rápido, provavelmente teriam encontrado algo útil.
— Talvez. Mas, mais importante, você está bem?
— Como assim?
Ela me lançou um olhar fulminante. Rapidamente disse: — Nada — e desviei o olhar. Enquanto conversava com Horikita, senti alguém nos observando por trás. Olhando por cima do ombro, vi Sakura, caminhando bem atrás. Quando percebeu que eu olhei, ficou constrangida e desviou o olhar.
— O que houve? — perguntou Horikita.
— Ah, nada.
Talvez eu estivesse sendo intrometido demais. Virei-me de volta.
— Fico imaginando o que as outras classes vão fazer. Estou curiosa sobre seus movimentos. Se as Classes A e B pretendem obter o máximo de pontos, teremos que nos preparar também. Não podemos deixar a diferença aumentar.
Horikita tinha uma expressão séria. Nesse aspecto, possuía determinação extraordinária. Atualmente, estávamos distantes das outras classes apenas por nossas habilidades acadêmicas. Para Horikita, que mirava a Classe A, esta era uma luta que não podia perder.
— Mirar no topo é difícil — comentei.
— Pensei que o que a Chabashira-sensei disse naquela época era uma piada, mas você realmente não tem nenhum interesse em subir? — Horikita perguntou.
Provavelmente, Chabashira-sensei havia comentado algo sobre isso quando nos encontrou na sala de orientação.
— Não é particularmente estranho, certo? Não é como se Ike e os outros estivessem mirando a Classe A. Se conseguirmos aumento de pontos na mensalidade, isso me deixaria feliz. Se tivermos sorte, talvez até consigamos alcançar a Classe A.
Não podia adivinhar as reais intenções dos outros, como Hirata e Karuizawa.
— Pessoas que vêm para esta escola querem usufruir dos privilégios que ela oferece.
Horikita parecia mais intrigada do que insatisfeita. Na época da matrícula, o acesso a universidades e oportunidades de trabalho elitizadas era garantido. Muitos alunos esperavam isso.
— Por que você escolheu esta escola? — perguntou ela.
— Bem, não posso dizer o mesmo? Para aproveitar sem vergonha os privilégios que a escola me ofereceu.
— Entendi.
Desta vez, soou abertamente insatisfeita e me lançou um olhar afiado de lado. Imaginei que Horikita havia se matriculado para estar na mesma escola que o irmão mais velho. Não buscava a Classe A por si mesma, mas sim pela aprovação do irmão. Sua ambição era diferente da maioria.
— Não é bom ter alguém fuçando seu passado — disse ela, me antecipando. Eu pretendia investigar mais, mas parecia que ela já tinha entendido minhas intenções. Eu tento compreender o passado de alguém analisando e quebrando as pessoas.
— Vou te dizer uma coisa: a Chabashira-sensei foi quem vazou a informação. Não me interprete mal, certo? Além disso, ainda não somos amigos. Não esqueça disso.
— Não se preocupe. Eu nem estou pensando em amizade, de qualquer forma.
Pouco depois, Hirata e os outros pararam.
— Se pararmos aqui, a folhagem bloqueia o sol, e parece que não teremos problemas com curiosos.
Alguns garotos começaram a se reunir e logo apresentaram opiniões que divergiam das de Hirata.
— Também deveríamos ir, não podemos deixar tudo nas mãos do Ike e dos outros. Não acham? Se outra classe capturar um dos pontos principais, a diferença de pontos vai aumentar.
— É, você tem razão. Precisamos nos mover imediatamente, mas não é bom negligenciar nossos problemas e nos dispersarmos. Primeiro, precisamos resolver a questão do banheiro.
— É por isso que estou dizendo para usarmos o banheiro que nos deram.
Yukimura lançou um olhar para o grupo das meninas.
— Pensei bem e acredito que devemos instalar um banheiro primeiro — disse Hirata com firmeza. Ao que parecia, ele já estava cansado de ser pressionado.
— Você não decide sozinho. O Ike também tem opinião.
— Instalar um banheiro pode ser um gasto necessário. Para começar, temos um banheiro simples que nossa classe, com mais de trinta alunos, não está acostumada a usar. Será que realmente conseguimos organizar as rodadas sem problemas?
— Isso… se usarmos direito…
— É irrealista. Temos que considerar o pior cenário. Se cada um demorasse três minutos para usar o banheiro, levaríamos uma hora e meia ou mais para todos terminarem. Isso poderia funcionar?
— Isso é inútil. Nem todos precisam usar o banheiro ao mesmo tempo. A escola nos forneceu apenas um banheiro porque era realista. Devemos conseguir organizar as rodadas de forma eficiente, certo?
— Eu não acho. Desde o começo, pensei que usar apenas um banheiro seria impossível. Se raciocinar bem, vejo que não se trata apenas de evitar gastar pontos, mas sim de gastar nossos pontos de forma eficaz. Você deveria saber disso, Yukimura-kun. As outras classes provavelmente chegaram à mesma conclusão.
Não importava como gastaríamos nossos pontos, aquele era um momento crítico para determinar se venceríamos ou perderíamos. Todos os suprimentos que recebemos pareciam insuficientes. Ao nos fornecer uma tenda que só metade da classe poderia usar e uma lanterna pequena, os professores pareciam indicar que precisaríamos usar pontos.
— Isso é só especulação sua. Além disso, se as outras classes instalarem os banheiros, ficaremos vinte pontos à frente simplesmente por não usá-los. Por isso, não deveríamos instalar nenhum.
— Você tem razão nisso, mas é improvável que aguentar um banheiro ruim funcione a nosso favor. Isso só trará estresse e ansiedade desnecessários. Também me preocupo com a higiene. Objetivamente, deveríamos instalar pelo menos um banheiro.
Parecia que, depois de algum tempo para se acalmar, Hirata chegara a uma conclusão sólida. Não era apenas para provocar discussões; ele estava convencido de que conseguiria a aprovação deles eventualmente.
— Acho que isso dará tranquilidade para as meninas.
Nem mesmo Yukimura pôde negar a lógica impecável de Hirata. Ele entendia a importância de preservar nossos pontos, mas também percebeu os problemas de ter apenas um banheiro. Na verdade, nossos colegas receberam tanta informação de uma vez que acabaram ignorando o óbvio. Yukimura, que não suportava ficar sendo observado em silêncio, cedeu.
— Tudo bem. Nesse caso, vamos instalar um banheiro.
No final, Yukimura fora derrotado. Shinohara, o grupo de Karuizawa e até Horikita pareciam aliviadas.
— Sensei, se quisermos instalar um banheiro temporário, podemos decidir onde colocá-lo?
— Contanto que não seja em um terreno impossível, pode ser colocado em qualquer lugar. Também é possível mudá-lo depois da instalação, mas levará algum tempo. Ele pesa cerca de 100 quilos ou mais, exigindo bastante esforço.
Com um problema resolvido, Hirata suspirou aliviado.
— Próximo. Já ouvimos algumas opiniões, mas precisamos procurar e decidir onde será nosso acampamento base. Onde nos estabelecermos impactará a forma como consumimos nossos pontos. — disse Hirata, tentando evitar outra discussão.
Recrutamos voluntários, mas quase ninguém quis ajudar. Acabamos com apenas dois garotos. A maioria não queria entrar em uma floresta tão extensa. Naturalmente.
— Será que alguém aqui tem habilidades de sobrevivência? — disse Hirata, mantendo uma ponta de esperança. Segundo clichês de mangá, sempre havia uma pessoa confiável em situações assim. Hirata observou os colegas, mas todos pareciam relutantes. Nesse momento, o Professor, que até então observava em silêncio, levantou a mão.
— Desde criança, meu pai me treinou em um conjunto específico de habilidades. Ele me ensinou a sobreviver sozinho na selva… é exatamente assim que descreveria o tipo de pessoa necessária para essa situação.
Todos vaiaram. O Professor ficou constrangido e pediu desculpas, mas já era tarde. Todos o detestavam.
— Hum, se não se importarem, eu vou.
Kushida se voluntariou. De repente, os olhos dos garotos se iluminaram, mesmo aqueles que antes se recusaram a participar. Os colegas relutantes avançaram e se ofereceram, dizendo:
— Eu também, eu também!
Alguns provavelmente motivados pela boa vontade em relação a Kushida, outros talvez envergonhados por uma garota ter tomado a iniciativa antes deles.
Levantei a mão enquanto Hirata começava a contar os voluntários.
— Certo, onze pessoas, hein? Se tivéssemos mais uma, poderíamos formar quatro equipes — disse Horikita.
— Você vai também? — perguntei.
— Vou ficar para trás. Mas é incomum vê-lo ser tão proativo.
— Bem, sem um papel na classe, você ficará de fora.
Nesse momento, alguém levantou a mão timidamente. Ao vê-la, Hirata sorriu aliviado.
— Obrigado, Sakura-san. Agora somos doze. Vamos formar quatro equipes de três pessoas. São 13h30 agora. Independentemente dos resultados, quero todos de volta aqui às 15h.
Com isso, os doze voluntários começaram a se organizar em equipes conforme suas preferências. Num piscar de olhos, fiquei como um dos restantes.
— L-Legal te ver de novo, Ayanokoji-kun — disse Sakura, que também havia sido ignorada. E então…
— O sol realmente é revigorante. Meu corpo precisa de energia.
Koenji Rokusuke. Aquele cara realmente ia se juntar à nossa equipe de busca. Felizmente, fui pareado com uma garota tranquila e um espírito livre. Com esses dois, eu poderia me mover sem dificuldades.
*
A floresta estava cheia de vegetação verde e densa ao nosso redor. Quanto mais adentramos, mais densa ela se tornava. Era melhor do que a praia escaldante, mas o calor úmido era agoniante.
Peguei a gola da minha camisa e abanava-me para tentar refrescar. Era tão abafado quanto água sobre pedras quentes. Pensando bem, só conseguia me concentrar no calor. Era quente demais. Conversar seria suficiente para me distrair?
— Koenji?
— Ah, tão lindo. Enquanto estou aqui no meio dessa vasta natureza, com ar de compostura, sou realmente lindo demais. O auge da beleza!
Não adiantava. Eu não conseguiria manter uma conversa normal com ele. Havia realmente apenas uma pessoa com quem eu podia falar.
— Incrível, não é? — perguntei.
— Hã?!
Sakura, que estava um pouco atrás, pulou de surpresa. Talvez não esperasse que alguém falasse com ela.
— Você levantou a mão quando Hirata disse que queria mais uma pessoa, não foi? Agora há muitas coisas que você pode fazer.
— Bem, eu não acho isso particularmente incrível ou algo assim. Realmente não. Mesmo agora, ainda estou um pouco confusa.
Em vez de chamá-la de tímida, eu diria que Sakura era pensativa e tinha dificuldade de conversar com os outros. Provavelmente era bastante passiva em situações de grupo. Eu pensei que ela se afastaria de mim, mas continuamos a caminhar lado a lado. Caminhar da praia até a floresta exigiu bastante de nossa resistência. O terreno era instável e havia uma leve inclinação.
— Então, por que você levantou a mão para fazer algo tão difícil como explorar a floresta?
— Bem, é que… me senti meio desconfortável quando todo mundo na multidão ficou tão empolgado…
— Não sei como você se sente, mas mesmo com poucas pessoas, isso não é fácil.
Agora eu definitivamente estava na conversa, mesmo que se tornasse desagradável.
— Mas Ayanokoji-kun, você levantou a mão, então… — Sakura ergueu a cabeça, surpresa, ficando nervosa e gesticulando freneticamente. — N-Não é isso que quero dizer! É só que, como não há ninguém com quem eu possa falar, é por isso… É isso que quero dizer!
Com essa negação febril, ela apressou-se.
— H-Hé, cuidado—
— Q-Que— Aah!
Ao se virar para me olhar, o pé de Sakura tropeçou nas raízes de uma grande árvore. Em pânico, tentei segurá-la, mas não consegui a tempo.
— Está tudo bem? — perguntei.
— Ai…
Felizmente, ela caiu sentada e apoiada nas mãos. Não parecia nada sério.
— Você vai se machucar se não tomar cuidado na floresta. Aqui, pegue minha mão.
— O-Obrigada.
Sakura timidamente estendeu a mão, mas logo percebeu que estava suja e a retirou rapidamente. Eu não me importei com a sujeira, então a segurei e a ajudei a levantar.
— D-Desculpe.
— Não precisa se desculpar.
Eu tirei a sujeira das mãos de Sakura. Provavelmente era a primeira vez que qualquer um de nós pisava em uma floresta tão selvagem. Achei que estaríamos bem se andássemos em uma direção só, mas estava enganado. Primeiro, andar em linha reta era impossível. Havia obstáculos naturais que nos forçavam a mudar de caminho, desviando para a direita ou para a esquerda.
Se continuássemos assim, provavelmente nos perderíamos. Tinha que me certificar de não perder Koenji de vista, que avançava incansavelmente. Enquanto isso, Sakura permanecia em silêncio, olhando distraída para a palma da mão direita.
— Ei, Sakura, vamos. Apresse-se um pouco.
— Hã?! A-Ah, o-ok.
Ao ouvir minhas palavras, Sakura entrou em pânico e correu à frente. Provavelmente iria tropeçar de novo.
— Ah, Koenji-kun realmente anda rápido, não é? — Koenji avançava cada vez mais na floresta, sem considerar o ritmo de uma garota. Eu admirava sua resistência e pernas fortes.
— Primeiro, não acredito que ele…
— O que foi?
— Não, eu…
O que ele estava fazendo? Seria coincidência? Não, Koenji andava sem hesitar. Mesmo que nossa equipe pudesse escolher a localização do acampamento base, você esperaria que ele olhasse ao redor. Koenji caminhava reto, quase como se tivesse outro objetivo.
Mais do que tudo, seu progresso me surpreendeu. Era possível que Koenji não estivesse avançando de forma imprudente. Talvez tivesse um objetivo em mente. Mas o problema era que Sakura, tentando acompanhá-lo, começava a ficar sem fôlego.
— Koenji. Não acha ruim avançar assim? Podemos nos perder.
Eu estava ansioso por ambos os colegas. Koenji permanecia de costas e começou a ajeitar o cabelo.
— Sou um ser humano perfeito. Nunca me perderia em uma floresta. Se algum problema ocorrer, provavelmente será porque vocês dois me perderam de vista. Quando isso acontecer, deveriam desistir.
Como eu esperava, ele era do tipo que declarava não se interessar por ninguém além de si mesmo. Será que ele era realmente tão insensível, dadas as circunstâncias?
— A propósito, gostaria de perguntar a vocês, pessoas comuns, algo. Não acham isso realmente belo? — Koenji exibiu um sorriso audacioso, mostrando os dentes brancos.
— Bem… Eu acho que a floresta… quer dizer, a natureza… é bastante misteriosa, ou melhor, bonita.
Tentei dizer o que pensava, mais ou menos. Mas Koenji suspirou desapontado.
— Do que diabos você está falando? Não é isso que quis dizer. Quero dizer como eu, com minha beleza física perfeita, brilho em um lugar assim. Não entende?
Então ele queria que eu o elogiasse por sua auto-proclamada "beleza física perfeita". Entendi.
— Ele provavelmente está agindo meio louco por causa do calor. É melhor você não prestar atenção, Sakura.
— S-Sim. Koenji-kun está agindo de forma engraçada desde o começo, então tudo bem.
— Uau.
Isso podia até ser verdade, mas foi inesperadamente duro. De qualquer forma, Koenji, aparentemente satisfeito com a própria beleza, voltou a caminhar. A partir daquele ponto, decidi não criar mais expectativas quanto ao nosso terceiro companheiro de equipe.
— Não há motivo para preocupação. Mesmo que algo aconteça em uma floresta como esta, não haverá problema.
— O que quer dizer com isso, Koenji? — perguntei.
— Eu não chamaria isso de uma floresta natural. A probabilidade de se perder durante o dia é extremamente baixa. É exatamente por isso que estou um pouco curioso.
Com essas palavras misteriosas, Koenji avançou rapidamente, parecendo ter perdido o interesse em nós. Ele andava tão depressa que Sakura não conseguia acompanhá-lo.
— Ei! — chamei.
— E-Eu vou ficar bem. Vou me esforçar para acompanhar.
Mesmo suando em bicas, Sakura ergueu o punho num gesto tímido de determinação. Ainda parecia insegura, pronta para tropeçar a qualquer momento, mas percebi que havia reunido coragem para continuar. Koenji, indiferente aos esforços dela, se distanciava cada vez mais. Achei que ele continuaria avançando até atravessarmos a floresta, mas de repente parou.
Virando-se, exibiu mais um sorriso audacioso enquanto passava a mão pelo cabelo.
— Posso fazer outra pergunta a vocês, plebeus?
Antes que pudéssemos responder, Koenji prosseguiu:
— O que acham deste lugar? O que veem quando olham ao redor?
— Hã? O-O que ele quer dizer com isso, Ayanokoji-kun
Diante do olhar afiado de Koenji, Sakura se escondeu atrás de mim. O que eu achava desse lugar? Examinei os arredores. Sakura também olhou em volta, mas nada parecia digno de nota. Era apenas floresta. O que ele estava tentando insinuar?
— Muito bem. Entendo. Por favor, não se preocupem. Plebeus são simples, afinal.
Percebendo que não receberia a resposta que queria, Koenji voltou a andar rapidamente pela mata.
— O quê? Alguma coisa mudou?
— Não…
Se alguém acreditasse em tudo o que Koenji dizia, enlouqueceria. Ele era do tipo que gostava de brincar com as pessoas. Ainda assim, era possível que estivéssemos deixando algo passar. De qualquer modo, não tínhamos tempo para explorar com calma.
— Sakura, você trouxe um lenço?
— Ah, sim. Serve este aqui?
Como eu esperava de uma garota, ela estava bem preparada.
— Se não se importar, posso pegar emprestado? Pode acabar ficando um pouco sujo.
— Claro, não tem problema — respondeu Sakura, sem hesitar, entregando-me o lenço.
Amarrei-o a um galho próximo, que parecia firme o suficiente para não quebrar. Serviria como uma espécie de marcador para acharmos o caminho de volta depois.
— Ah, vamos perder o Koenji-kun de vista. Vamos depressa, Ayanokoji-kun!
Sakura estava ofegante e cada vez mais exausta. Parecia prestes a tropeçar de novo — provavelmente já estava perto do limite físico. Mesmo que insistisse, não conseguiria acompanhá-lo por muito tempo.
— Desculpe, mas isso está um pouco puxado fisicamente. Que tal diminuirmos o ritmo?
Com isso, reduzi o passo. Assim, Sakura não se sentiria culpada. Ela provavelmente percebeu minha intenção, mas não comentou nada — e eu também não me importei. Nesse ponto, já havíamos perdido Koenji de vista. Mais adiante, eu só conseguia ouvir o farfalhar da grama e o som dos passos sobre a terra.
— Uau, ele é um homem de muitos talentos. Refiro-me a Koenji.
Ele tinha uma mente brilhante e habilidades físicas excepcionais, que se adaptavam perfeitamente ao ambiente da floresta, sem a menor hesitação. Se ao menos tivesse uma personalidade como a do Hirata, seria um super-humano perfeito.
…
Sakura parecia estar observando algo em silêncio havia um tempo. Fiquei curioso, mas ela não mencionou nada, e continuamos nossa busca.
— Seria ótimo se encontrássemos alguma fonte de água potável. Ou talvez um lugar onde pudéssemos nos abrigar.
Como não havia muito o que fazer, tentei puxar conversa. Se conseguíssemos um ponto que nos permitisse economizar pontos, nossas vidas ficariam bem mais fáceis.
— É verdade. Acho que duas barracas provavelmente não serão suficientes… Mas não consigo achar nada.
Por mais que procurássemos ou caminhássemos, não encontrávamos sequer um objeto feito pelo homem. Bem, mesmo dizendo que andamos muito, cobrimos apenas uma fração mínima da ilha. A escola certamente não seria gentil o bastante para facilitar as coisas para nós. Depois de atravessar o terreno irregular, um caminho apareceu diante de nós.
— Isso é… uma trilha, não é?
— Parece que sim.
No meio da floresta, em uma ilha desabitada, alguém havia criado um caminho. Não era pavimentado, claro, mas as árvores haviam sido cortadas e a trilha mostrava sinais de uso frequente. Se a escola tivesse preparado aquilo, talvez houvesse um ponto mais adiante. Sakura e eu seguimos em frente.
— Uau. Incrível!
Logo chegamos a algo que parecia um grande buraco na encosta da montanha: a entrada de uma caverna. À primeira vista, parecia uma formação natural, mas ao olhar com mais atenção, percebi que o interior estava devidamente reforçado. Talvez o buraco tivesse sido criado pelas mãos humanas.
— Será que isso… é um ponto? — perguntou Sakura.
— Talvez — respondi.
Desde os tempos antigos, cavernas serviram como abrigos ideais para as pessoas. Se aquele local tivesse sido designado como um ponto, deveria haver alguma prova disso. Aproximei-me para verificar, mas então vi um rapaz saindo de dentro da caverna. Imediatamente agarrei o braço de Sakura e a puxei para nos escondermos na sombra. Senti-me um pouco mal, mas não entendia a situação — esperava que ela me perdoasse.
O sujeito parou na entrada e olhou silenciosamente para o sudoeste. Ficou ali por um ou dois minutos. Não havia perdido tempo algum em garantir aquele local. Parecia que havia ido direto à caverna, sem hesitar. Além disso, ele segurava com força algo que parecia um tipo de cartão. Então, ouvimos uma voz vinda de dentro da caverna. Apavorado, escondi o rosto.
— Em uma caverna desse tamanho, deve caber duas barracas, Katsuragi-san. Tivemos sorte, hein? Conseguimos garantir um ponto bem rápido.
Ouvi atentamente, tentando entender a situação.
— Sorte? Do que você está falando? Eu já sabia que havia uma caverna aqui antes mesmo de desembarcarmos. Encontrá-la era inevitável. Cuidado com o que diz e faz. Não sabemos se há alguém nos ouvindo. Como líder, tenho uma responsabilidade. Não cometa nem o menor erro.
— D-Desculpe. Mas quando diz "antes de desembarcarmos", o que quer dizer?
— Antes de o navio atracar no píer, ele já havia dado uma volta completa na ilha, como um desvio, por algum motivo. Provavelmente foi uma manobra deliberada da escola para dar algumas pistas aos alunos. Do convés, percebi um caminho que cortava a floresta. Tudo o que precisei fazer foi seguir a rota mais curta do píer até essa trilha.
— M-Mas pode ter sido apenas uma volta para apreciarmos a paisagem…
— Foi tempo demais para um simples passeio turístico. Além disso, o anúncio feito na hora também foi estranho.
— Eu nem percebi nada, e ainda assim… Katsuragi-san, o senhor conseguiu ver as verdadeiras intenções da escola. Por isso entendeu que havia uma caverna aqui. É exatamente o tipo de coisa que esperamos de você!
— Vamos para o próximo ponto, Yahiko. Não faz sentido ficar aqui depois de reivindicarmos este. Há um caminho para mais dois locais que notei do navio. Deve haver algum tipo de instalação adiante.
— S-Sim! Se garantirmos esses também, a Sakayanagi não vai ter escolha a não ser se calar!
— Se você olhar apenas para a frente, pode acabar deixando de ver o que está ao redor.
— O senhor diz isso, mas não basta se preocupar com a Classe B? Digo, a Classe D é só um bando de fracassados, não é? Defeituosos. Considerando a diferença de pontos, acho que podemos ignorá-los, certo?
Já havia ouvido esse tipo de conversa no navio — de que a Classe D sequer merecia a atenção da Classe A. Para eles, éramos apenas pedrinhas no caminho.
— Chega de conversa. Vamos, Yahiko.
Esperei até que não ouvisse mais suas vozes nem seus passos, e ainda esperei mais dois minutos.
— Eles foram embora? — sussurrou Sakura.
Espiei para verificar, mas não vi ninguém. Quando soltei o ar preso no peito, percebi que minhas mãos estavam mais quentes do que o normal. Devia ter continuado segurando as mãos de Sakura desde o momento em que a puxei, no susto.
— Desculpe, Sakura. …Sakura?
— Q-Que?!
Sakura estava bem, mas, por algum motivo, parecia em transe.
— T-Tudo bem com você? —
— E-E-Eu t-tô b-bem…
Seu rosto ficou tão vermelho que temi que começasse a soltar vapor. Ela se sentou no chão, sem forças. Talvez eu a tivesse segurado com mais força do que imaginava.
— A-Ah, ah… a-a achei que fosse morrer. Meu coração parou… — disse ela, tentando se recompor. Esperava que fosse exagero.
Sakura respirou fundo e ajeitou os óculos.
— Aqueles dois pareciam ser da Classe A, pelo que disseram.
Eu me preocupei com a ideia de deixar aquele lugar. Sem ninguém vigiando, o ponto poderia ser tomado por outro grupo. Depois de esperar Sakura recuperar o fôlego, aproximamo-nos da entrada da caverna mais uma vez. Os dois haviam partido sem a menor hesitação…
Dentro da caverna, um tipo de terminal com monitor estava embutido na parede. Na tela, apareciam as palavras "Classe A", junto de um cronômetro regressivo que marcava sete horas e cinquenta e cinco minutos restantes. Seria aquela a prova de que eles haviam reivindicado o local?
Não podíamos interferir até que a contagem chegasse a zero, nem poderíamos forçar a entrada.
Era por isso que os dois haviam partido tranquilos. Mas esse não era o único problema. Enquanto o direito de posse não fosse tomado por outra classe, a Classe A continuaria ganhando um ponto a cada oito horas. Embora tivessem perdido trinta pontos por causa da doença de um aluno, estavam recuperando aos poucos. Além disso, aquele tal de Katsuragi parecia ter identificado outras instalações. Se algum desses pontos tivesse comida e água, eles poderiam ampliar ainda mais a vantagem sobre as demais classes.
— E-Ele disse que tinha percebido algo antes mesmo de desembarcarmos na ilha… — murmurou Sakura.
Eles haviam memorizado a topografia da ilha e usado isso para encontrar o ponto. Brilhante. Suponho que os alunos da Classe A realmente vejam o mundo de uma maneira diferente. No entanto, esse tipo de pensamento também levava a conclusões um tanto desanimadoras.
— U-Uhm, Ayanokoji-kun… Aquele cara de antes… será que ele era o líder? — perguntou ela, hesitante.
Ela tinha razão. Esse incidente acabou revelando um erro fatal. A Classe A precisou usar seu cartão-chave para manter os direitos exclusivos sobre a caverna — e, ao fazer isso, tornaram o líder conhecido. Claro, ele provavelmente não imaginava que alguém de outra classe poderia estar observando, mas ainda assim, foi um descuido.
Pensei em investigar o interior da caverna, mas não havia sinal de ninguém escondido.
— O-O-O que devemos fazer? Acabamos de descobrir um segredo incrível! — disse Sakura, em pânico. Parecia mais animada do que assustada, talvez empolgada por termos conseguido uma vantagem contra a Classe A.
— Vou relatar tudo ao Hirata mais tarde — respondi calmamente.
Sakura pareceu aliviada. Ela tinha dificuldade em se comunicar, então, ao assumir essa responsabilidade, eu a poupei desse fardo.
*
As coisas começaram a avançar quando voltamos para junto de Hirata e dos outros, que ainda não tinham conseguido nenhum resultado. O Trio dos Idiotas parecia surpreendentemente animado e falava com bastante entusiasmo sobre algo com Hirata.
— Um rio, um rio! Que sensação incrível! E tinha um tipo de mecanismo instalado por lá! Pode ser algum dispositivo para garantir o direito de posse, ou sei lá o quê! Fica a apenas dez minutos daqui, então vamos logo!
Pelo visto, Ike e o grupo dele haviam feito algum progresso e queriam montar guarda para que outra turma não tomasse o local.
— Isso é ótimo. Se conseguirmos garantir o rio, nossa situação pode melhorar bastante.
Parecia que havíamos decidido o local do acampamento-base. Claro, ainda dependia do terreno e do ambiente, mas provavelmente esse seria nosso primeiro passo adiante.
— Mas ainda há dois grupos que não voltaram. Alguém devia esperar por eles, certo?
Eram pouco antes das três da tarde. Se eles não tivessem voltado até o horário combinado, havia uma boa chance de estarem perdidos na floresta.
— Desculpe, Hirata. O Koenji ainda não voltou. Acabamos nos separando.
— Ah, o Koenji-kun voltou faz um tempinho. Saiu para nadar.
Então ele não estava perdido — só tinha se esgueirado para longe. Eu devia ter imaginado.
— Separaram-se? Você não estava liderando o grupo? — perguntou Horikita, suspirando, enquanto todos começavam a seguir em direção ao rio.
— Não dá pra controlar aquele cara. Você sabe disso.
Será que ele estava tentando causar confusão? Koenji saiu andando a passos rápidos, como se já conhecesse bem a floresta.
— Entendo. Não dá pra reclamar das habilidades dele, mas o mesmo não se pode dizer da personalidade.
— Igualzinha a você.
— Disse alguma coisa? — rosnou ela.
— Não, nada não.
Nossa turma estava cheia de problemas de personalidade — eu inclusive. Pobre do Hirata.
— O quê?
Horikita se virou de repente e lançou um olhar afiado para Sakura.
— Hã?!
— Você estava me olhando agora há pouco? — perguntou Horikita.
— E-E-E-Eu não estava olhando pra nada!
Sakura, nervosa, correu para se afastar.
— Não assusta ela assim. Maldade, Horikita.
— Então eu deveria deixar que ela fique me observando e tirando conclusões erradas?
— Aí está! Achamos o lugar! É incrível!
Finalmente chegamos à área que Ike havia escolhido. Dentro da caverna, o mecanismo estava embutido na parede, mas ali, à beira do rio, o equipamento estava instalado em uma pedra colocada de forma claramente artificial. Hirata e sua equipe começaram a montar as barracas e os outros preparativos do acampamento perto do rio.
— Certo. A água é linda, há sombra suficiente para bloquear o sol, e o terreno é plano. Pode ser o local ideal para nosso acampamento base. Incrível, Ike-kun! — elogiou Hirata.
— Hehehe, eu sei, né?
O rio tinha cerca de dez metros de largura, e a corrente era suave. Impressionante. Florestas densas e trilhas de areia cercavam o rio, mas aquele ponto parecia ter sido preparado. Duvidava que um local tão perfeito fosse natural — a escola provavelmente o havia montado com esse propósito.
— Então, como a gente mostra que esse lugar é nosso agora?
O rio era largo e corria por uma longa distância rio abaixo. À primeira vista, nosso pedaço de terra plana estava cercado por árvores em todos os lados. Talvez não houvesse outro ponto tão bom quanto aquele, mas ele parecia ser uma espécie de entrada natural da área. Seguir o rio provavelmente levaria até ali. Ou talvez o uso do rio fosse um privilégio concedido apenas a quem ocupasse esse espaço.
Enquanto eu caminhava ao longo do rio em direção à floresta, Horikita me acompanhou — não sei por quê.
— A escola parece conhecer bem esta área também. Parece que só nós podemos usar o rio.
No meio do caminho, uma placa estava fixada em uma árvore. A mensagem dizia que o rio era uma área designada e que o uso não autorizado era proibido. Depois de dar uma olhada rápida, voltamos para junto dos outros.
— Então, se formos montar o acampamento aqui, o problema é saber se conseguimos realmente ocupar o lugar.
— Já decidimos que vai ser aqui! Se não for esse ponto, o que a gente vai fazer?
— Existem outras opções. Se reivindicarmos este lugar, há vantagens óbvias — podemos monopolizar o rio, por exemplo. Além disso, podemos ganhar pontos por manter esta área. Mas é preciso atualizar a posse a cada oito horas, e como só o líder designado pode fazer isso, será um grande problema se ele for visto. Ainda não sabemos se há alguém nos observando.
Estávamos cercados pela floresta por todos os lados. Seria impossível perceber um espião escondido no mato.
— Hm, então se ficarmos protegidos e escondidos, vai dar tudo certo, né? Podemos manter a área cercada.
Apesar dos riscos, Ike estava certo. Se montássemos o acampamento ali, seria difícil alguém nos descobrir. Caso outra turma tomasse o lugar, o rio ficaria fora do nosso alcance. Tanto os meninos quanto as meninas concordaram com Ike. Acredito que Hirata também queria concordar desde o início, mas, sendo o tipo equilibrado que era, preferia ouvir várias opiniões antes.
Era verdade que garantir os direitos de posse exclusiva era uma espada de dois gumes — havia riscos, mas também grandes recompensas. Ainda assim, assim como a Classe A havia feito com a caverna, poderíamos agir em conjunto para nos proteger. Era evidente que as Classes B e C fariam o mesmo. Em outras palavras, era um risco aceitável.
— Certo. A próxima questão é: quem será o líder?
Mais importante do que tomar posse do local era a escolha do líder. Um erro nessa decisão poderia ser fatal. Embora todos quisessem evitar um cargo com tamanha responsabilidade, Kushida pediu que formássemos um círculo.
— Pensei bastante sobre isso. Tenho que dizer, o Hirata-san e a Karuizawa-san se destacam demais, querendo ou não. Mas um líder precisa ter senso de responsabilidade, certo? Acho que a Horikita-san atende a esse requisito. O que vocês acham?
Horikita parecia não ter esperado uma indicação dessas, mas sua expressão permaneceu inalterada. Imaginei que talvez ela fosse a escolha menos arriscada, já que estava tão determinada a alcançar a Classe A — e isso era o mais importante. Observei calmamente as reações de todos.
— Concordo com a Kushida-san. Quero dizer, também acho que a Horikita-san seria uma boa líder. Se ela não se importar, acho que seria ótimo que assumisse o cargo. O que você acha? — disse Hirata.
Com todos os olhares voltados para ela, parecia improvável que Horikita recusasse.
— Mas você não quer fazer isso, né? Não obriguem ela. Eu posso fazer no lugar dela.
Sudou deu um passo à frente, aparentemente tentando proteger a vontade de Horikita. No entanto, ela aceitou a decisão com calma — quase como se as palavras dele tivessem sido o empurrão que faltava.
— Entendido. Eu aceito.
Pessoalmente, senti alívio por alguém como Sudou ou Ike não ter sido escolhido como líder. Hirata foi imediatamente até a Chabashira-sensei para registrar o nome de Horikita. Pouco tempo depois, voltou com um cartão e o entregou a ela. Considerando a possibilidade de estarmos sendo observados, todos tocaram o dispositivo sem ativá-lo — uma forma de camuflar quem era o verdadeiro líder e evitar que um espião descobrisse.
— Certo, então resolvemos os problemas do banho e da água potável! Né? — disse Ike, os olhos brilhando com o sonho de economizar pontos.
— Hã? Beber água do rio? Tá maluco?
Pelo visto, Ike pretendia usar o rio para tudo. Mas Shinohara e as outras garotas não pareciam concordar, olhando para a água com expressão de repulsa.
— Bom, pra nadar seria ótimo, mas... pra beber?
— Que foi? Tá tudo bem! A água é limpa e pura, não é? — disse Ike.
— É... parece que dá pra beber, mas...
Shinohara puxou a manga da camisa de Hirata, buscando apoio contra a avareza de Ike.
— Ei, Hirata-kun. Tem certeza que isso é seguro? Não é normal beber direto de um rio, né?
Várias garotas, inquietas, se aproximaram de Hirata para pedir sua opinião. Elas balançaram a cabeça, deixando claro que achavam a ideia impossível.
— Acho melhor não bebermos dessa água.
Ike, visivelmente frustrado, perdeu a paciência.
— Sério? Olha só pra essa água, como ela corre! É como se fosse uma nascente natural, perfeita!
Embora a água não parecesse turva, nem suja, os garotos também hesitavam.
— O que há com vocês? Qual o problema? Não faz sentido desperdiçar o rio depois de todo o trabalho para achar ele.
— Então bebe você, pra testar.
— Hã? Ah, tanto faz, eu bebo!
Sob pressão, Ike pegou um pouco de água com as mãos e bebeu.
— Ah! Ufa, tá geladinha. É uma delícia!
— Credo, que nojo! Sem chance, não vou beber isso! Eca! — gritou Shinohara.
— Hã?! Foi você quem mandou eu beber, Shinohara!
— Não interessa! Aff, eu odeio bárbaros como você, credo!
— O quê?!
Os dois se encararam com tanta raiva que quase dava pra ver faíscas no ar.
— Já ouvi dizer que o ódio é parecido com o amor. Será que é o caso desses dois?
— É... definitivamente não parece ser o caso aqui.
Com o problema do banheiro resolvido, o próximo desafio era a água potável. Mesmo com o rio, parecia que a situação ainda não estava totalmente definida.
— Por enquanto, vamos deixar a questão da água de lado. Brigar por isso só vai piorar as coisas — disse Hirata, claramente tentando manter a paz.
Nossos problemas certamente aumentariam se adiássemos decisões, mas ninguém parecia disposto a contrariar Hirata. Ou pelo menos era o que pensei, até que um certo alguém resolveu se intrometer.
— Shinohara, para de reclamar. A gente precisa cooperar nessa prova.
Aquela voz calma vinha justamente do maior encrenqueiro da classe: Sudou.
— Hahaha, cooperar? Essa é boa, vindo de você, Sudou-kun.
Shinohara riu, segurando o estômago como se estivesse realmente se divertindo. Era natural que zombasse dele — desde que Sudou entrara na escola, ele vinha acumulando confusões e problemas. Estava longe de ser um exemplo de trabalho em grupo, embora de um jeito bem diferente de Horikita. Parecia que ele mesmo tinha consciência disso.
— Eu sei que já causei problema pra turma. É por isso que tô dizendo: se você continuar provocando os outros por besteira, uma hora isso vai te ferrar, sabe onde.
— Ah, fala sério! Você só tá dizendo isso porque não quer gastar pontos, né, Sudou-kun?
— Ninguém falou nada disso. Kanji, calma um pouco. Se alguém te mandasse beber água do rio assim, do nada, você também ia resistir, né? Eu resistiria. Ei, e se a gente fervesse a água? Ela ficaria esterilizada, certo? Então, por que não tentamos isso?
— Fervendo? Isso aqui virou experimento de química agora? Para de ter essas ideias boas do nada!
Shinohara estava especialmente agressiva com Sudou, como se estivesse pronta para discutir com qualquer um que a contrariasse. Hirata, vendo o clima piorar, tentou acalmar o grupo novamente.
— Vamos dar um tempo. Ainda temos algum prazo. Não precisamos decidir nada às pressas.
As palavras de Hirata fizeram Shinohara se calar e se afastar. Pouco depois, ele foi até a Chabashira-sensei para solicitar o banheiro temporário. Ike, ainda furioso com Shinohara, continuava mordendo o lábio, frustrado.
— Droga! Qual é o problema da Shinohara? Ela nem tenta ajudar!
Irritado, Ike pegou uma pedrinha e a lançou no rio, fazendo-a quicar cinco ou seis vezes antes de tocar a outra margem. Foi um belo arremesso — mesmo sem querer, impressionava. Se fosse eu, provavelmente não conseguiria o mesmo.
— Ei, você é surpreendentemente bom nessas coisas de acampamento.
— Hmm? Ah, nem tanto. É só que eu costumava acampar com a minha família quando era pequeno. Não tenho problema em beber água de rio. Dá pra saber se a nascente é limpa só de olhar.
A voz de Ike soava sincera, sem qualquer traço de arrogância.
— Nesse caso, não teria sido uma boa ideia contar pra gente sobre sua experiência em acampamentos desde o começo? Se tivesse ganhado a confiança do pessoal, as coisas talvez tivessem corrido de forma mais tranquila.
Era importante justificar as próprias ações — especialmente porque, diferente de uma nota em prova, esse tipo de coisa não podia ser observado de imediato.
— Se eu tivesse sido escoteiro, aí sim teria motivo pra me gabar. Mas só ter ido acampar não é nada demais. Mesmo que eu dissesse algo, ninguém daria importância de qualquer jeito.
Pelo visto, Ike estava desanimado depois de ter sido tão criticado pelas garotas. Para ele — que normalmente só se importava em parecer atraente para elas — aquilo devia ter sido um golpe duro. No entanto, se tivesse lidado com a situação de outro modo, talvez as coisas tivessem sido diferentes.
Mas então… Ike disse algo inesperado.
— Parece que é a primeira vez que todo mundo acampa. Eu achei que pelo menos alguns tivessem alguma experiência. Acho que o que eu disse acabou sendo meio fora de lugar.
Ele havia percebido o próprio erro. Era a primeira vez que Ike demonstrava arrependimento.
— Foi mal. Preciso pensar no que fazer. Vou dar um mergulho no rio.
Ike se levantou e virou de costas para mim. Achei que tudo bem deixá-lo ir — o calor devia ter embaralhado seus pensamentos, e o esforço da busca certamente o havia cansado.
— Ayanokoji-kun. Pode segui-lo?
— Hã? Por quê?
Horikita estava ao meu lado. Assim que Ike se afastou, ela explicou.
— É possível que o conhecimento dele seja útil. Ele pode acabar sendo importante para a Classe D. Além de saber lidar com o ambiente ao ar livre, parece conhecer bem a floresta. E como o Koenji-kun é basicamente inútil, a turma vai precisar do Ike pra seguir em frente.
— E você não acha que pode convencê-lo pessoalmente?
— Eu? Convencer ele? Você acha mesmo que eu conseguiria? — respondeu ela, num tom incrédulo, como se não acreditasse que eu tivesse feito uma pergunta dessas.
Apesar de ter me passado a tarefa de algo que ela não conseguia fazer sozinha... bem, ela tinha um ponto. A verdade é que as habilidades sociais de Horikita eram muito abaixo da média.
— Estou pedindo sua ajuda justamente porque sei que não consigo. Posso contar com você?
— Bom... acho que sim. Não tem mais ninguém em quem você possa confiar além de mim, né?
Mesmo que eu não fosse exatamente um especialista nesse tipo de coisa, ainda era melhor do que nada.
— Imagino que deve ser confortável viver sem ser confiável nem esforçado, não é, Ayanokoji-kun?
Impressionante como ela conseguia pedir um favor enquanto me diminuía daquele jeito.
— Eu falo com ele, mas deixa o momento por minha conta.
— Tudo bem. Também não tenho certeza se agora seria a melhor hora.
E assim encerramos a conversa — com meu aceite e a constatação de que não havia mais nada a dizer.
Perguntei-me se essa semana mostraria a Horikita o quão difícil era viver isolada. Sozinha, ela era incrível… mas apenas sozinha.
No ambiente acadêmico, ela podia seguir silenciosamente sua corrida até o topo sem depender de ninguém. Mas essa prova mostrava que havia coisas que não podiam ser feitas sozinha. Horikita provavelmente estava se sentindo impotente pela primeira vez — talvez por isso tivesse recorrido a mim tão cedo. Quem não tinha amigos não tinha com quem conversar. E sem comunicação, não havia cooperação nem confiança.
Numa situação como essa, uma garota brilhante academicamente era menos útil que um aluno comum.
— A escola provavelmente levou isso em conta — murmurei.
Aquela semana testaria os limites de Horikita Suzune… e a mostraria em seu pior momento.
A escola havia tornado impossível sua vida de isolamento.
*
Mais adiante, duas barracas estavam montadas lado a lado. Shinohara e as outras garotas decidiram que ficariam com ambas. Em outras palavras, isso significava que os garotos teriam que dormir completamente ao relento. A maioria dos nossos colegas provavelmente nunca havia passado uma noite ao ar livre antes. Felizmente, como era verão, não correríamos o risco de pegar um resfriado — mas, sem dúvida, seria uma experiência difícil.
As picadas de mosquito nos braços e nas pernas logo se tornariam irritantes, e quando a noite caísse, a visibilidade seria quase nula. A grama estava cheia de insetos estranhos e desconhecidos, o que deixava tudo ainda mais desconfortável. Sendo eu um garoto da cidade, aquilo me repugnava — passar uma semana inteira dormindo assim parecia impossível. Ainda assim, pessoas como Ike, que se opunham ferozmente a gastar pontos, começaram a agir.
Alguns garotos tentaram usar montes de grama arrancada como lençóis improvisados e até discutiram se podiam cortar algumas árvores. Era bom ver que estavam tentando resolver as coisas, mas eu só esperava que não fizessem nenhuma besteira.
Hirata se aproximou de nós depois de ajudar a montar as barracas das meninas, enxugando o suor da testa.
— Com licença, Ayanokoji-kun. Pode conversar comigo um instante? Tenho algo pra te pedir.
Ele parecia um pouco constrangido e hesitante.
— Vai ficar bem assustador à noite só com uma lanterna. Usemos pontos ou não, precisamos garantir alguma fonte de luz. Mas não posso forçar ninguém a concordar com isso, Ayanokoji-kun.
Era verdade: passar a noite sem iluminação alguma seria um pesadelo, principalmente para ir ao banheiro.
Perguntei o que ele achava que devíamos fazer, e Hirata pensou por um momento antes de responder:
— Podemos fazer uma fogueira. Queria te pedir pra recolher alguns galhos.
Aparentemente, eu havia sido "escolhido" como o mais qualificado para essa tarefa — de alguma forma.
— Certo. Vou pegar os que parecerem bons.
— Obrigado! Ah, mas é perigoso ir sozinho. Acho melhor você chamar alguém pra te acompanhar.
Justo. Resolvi procurar um parceiro. Horikita estava parada, imóvel, olhando para o céu. Deve ter percebido meu olhar, porque se aproximou.
— Você normalmente é incrivelmente antissocial, mas até que está sendo bem generoso aceitando esse favor — disse ela.
— Você mesma me pediu um favor há pouco, não foi? Além disso, é só pra ajudar o Hirata. Não é nada demais, só pegar uns galhos.
Alguns alunos agiam por iniciativa própria para ajudar a turma. A posição de cada um dentro da "hierarquia" da classe dependia disso — se tomava a iniciativa ou não.
— Para alguém como o Hirata, que é o centro da classe, depender de você é meio patético.
— Os verdadeiros líderes da Classe D são o Hirata e a Karuizawa, por bem ou pro mal. Ninguém mais tem a capacidade de unir os outros como eles têm.
Horikita parecia falar sério. Ela certamente tinha competência e habilidades para liderar, mas lhe faltava algo essencial — carisma e empatia. Na verdade, eu nem achava que essas qualidades existissem nela.
Kushida, por outro lado, provavelmente não suportava ver as brigas e palavras ásperas entre os colegas, mas se esforçava ao máximo para manter a harmonia. Mesmo agora, devia estar em algum canto ajudando o grupo das meninas com dedicação.
— Então, por que não trabalha como assistente do Hirata? Por você mesma, não pela classe.
— Eu, assistente dele? Nem brinca. Prefiro dançar com um mongoose.
— Dançar com um... mongoose?
(N/SLAG: A frase "Prefiro dançar com um mongoose" é uma hipérbole sarcástica, significando "nem pensar!". Pode ser traduzida como "Eu preferia dançar com um mangusto" ou "enfiar a mão num ninho de cobras.")
Seja lá o que essa expressão significasse, provavelmente era um insulto a Hirata. Não — com certeza era.
— Estou brincando. Enfim, deixando as diferenças dele com um mongoose de lado, não há nada que eu possa fazer pra ajudar. Se houvesse um inimigo claro e um objetivo definido, talvez eu fosse útil. Além disso, ainda não tenho certeza se devemos usar pontos — ou até que ponto devemos usá-los.
Com isso, nos separamos em silêncio. Horikita entrou na barraca. Por ora, eu precisava de um parceiro disposto a me acompanhar. Procurando entre os garotos, vi Sudou de pé à beira do rio, olhando para o céu. Ele havia ajudado Ike mais cedo; talvez estivesse se tornando alguém mais confiável. Provavelmente ajudaria um amigo em necessidade.
— Ei, Sudou. Vou coletar uns galhos pra fogueira. Quer vir junto?
— Hã? Se for muito trabalho, vou passar.
Ele parecia sem a menor vontade de ajudar. Mas, como eu não tinha mais ninguém, insisti.
— Não vai dar trabalho, é só pegar aqui por perto.
— Isso soa exatamente como trabalho. Foi mal, vou nadar um pouco.
Sudou se levantou, pegou a mochila ao lado e foi em direção à água.
— Certo... então é isso.
Vi Yamauchi conversando animadamente com algumas garotas perto das barracas e decidi tentar de novo.
— Ei, vou pegar uns galhos para fazer uma fogueira. Pode me ajudar?
— Eh, parece cansativo. Olha, eu e o Kanji achamos um bom lugar, tá? A gente tá morto de cansaço. Foi mal, mas vou passar.
— Entendi. Tudo bem.
Não havia muito o que dizer. Eu estava em apuros — todas as opções tinham sido recusadas. Horikita não estava em condições de ajudar, e Kushida estava ocupada com o grupo das meninas.
— No fim das contas, acho que vou sozinho, né?
Yamauchi continuou alegre, conversando com as garotas, sem mostrar qualquer intenção de ajudar. Assim que decidi entrar na floresta sozinho, Sakura deu um passo à frente — como se estivesse esperando a chance.
— H-Hum… T-Tudo bem se eu… for com você?
Pelo visto, ela tinha ouvido minha conversa.
— Hã? Ah, fico muito grato, mas tem certeza? Quero dizer, você parece cansada. Talvez fosse melhor descansar.
Sakura já tinha explorado a floresta comigo antes. Eu não queria forçá-la.
— T-Tudo bem. Além disso, se eu ficar aqui, vai ser… meio desconfortável.
Ela lançou um olhar rápido para as outras meninas. Se Sakura fosse parecida comigo, provavelmente teria bastante dificuldade em lidar com os outros.
— Certo, então vamos.
Como Koenji não estava por perto, conseguiria acompanhar o ritmo tranquilo de Sakura.
— Ei!
Assim que estávamos prestes a entrar na floresta, Yamauchi gritou e correu em nossa direção.
— Eu vou ajudar, afinal!
Aparentemente, ele havia mudado de ideia.
— Hã… Tem certeza? — perguntei.
— Ah, qual é! A gente tem que ajudar um amigo em apuros, não é, Sakura?
— A-Ah… s-sim… — respondeu ela, tímida.
Sakura se encolheu atrás de mim e assentiu. Ela praticamente nunca tinha falado com Yamauchi antes. Talvez aquela fosse uma boa oportunidade para ela fazer um amigo.
*
Decidimos recolher galhos por perto, sem nos afastar muito do acampamento. Depois de uma breve caminhada, nós três nos espalhamos para pegar os galhos caídos.
— Ei, Ayanokoji, tenho uma coisa pra te contar, mas é só entre nós — cochichou Yamauchi, aproximando-se de mim com alguns galhos nas mãos. — Acho que… vou tentar com a Sakura.
— Hã? — olhei para ele, sem entender.
— Tipo, pensa bem. A Kushida-chan tá fora do meu alcance, sabe? As habilidades de comunicação dela são de outro nível. Então acho que vou desistir dela como "alvo principal". Comparado com a Kushida, a Sakura é meio desajeitada, não sabe lidar direito com os caras, entende? Para ser sincero, pensei em ver até onde consigo chegar nessa viagem. Aposto que ela cairia por um cara gentil e atencioso. Tipo… até conseguir um beijo, pelo menos. É sério! Acho a Sakura ótima. Quer dizer, maravilhosa.
—"Maravilhosa? Você nunca nem conversou direito com ela até agora. Não acha isso meio repentino?
— Nada disso, cara. Na real, me arrependo de não ter percebido antes. Ela é simples, por isso não me chamou atenção no começo, mas é bem fofa. E ainda por cima é uma idol! Sem falar que… os peitos dela são incríveis. Mesmo com o agasalho esportivo, dá pra ver o formato. Não tem como não notar! — disse ele, rindo e esfregando as mãos.
Então era esse o verdadeiro motivo de sua súbita boa vontade em ajudar. Sakura estava sendo tratada como um plano reserva, depois que ele desistira da Kushida. Eu realmente esperava que ele tivesse se interessado por ela de verdade, mas claramente não era o caso.
— Então, me dá uma força aí. Tipo, me deixa a sós com a Sakura um tempinho.
— Não sei se "ajudar" é o termo certo pra isso…
— O quê? Espera, você não tá de olho nela também, né? É por causa daqueles peitões, não é?
Por que tantos caras viam as coisas de um jeito tão raso e nojento? Não que eu não entendesse seus impulsos — havia uma explicação biológica para isso. Mas Sakura não era como a Kushida. Ela não sabia lidar com garotos. Se Yamauchi quisesse apenas ser amigo dela, tudo bem… mas deixá-la sozinha com alguém que só queria levá-la pra cama? Isso, não. Se ele se empolgasse demais, Sakura nem saberia como reagir.
— Esquece isso por enquanto. Eu te ajudo quando você conhecer melhor a Sakura. Além disso, quero voltar logo para acender a fogueira antes que escureça, tudo bem?
Yamauchi suspirou, decepcionado, mas logo voltou ao seu ânimo habitual.
— Caramba, como você é travado. Tudo bem, tanto faz. Você tem a Horikita, afinal. Não precisa se preocupar, né?
Desde quando eu "tinha" a Horikita?
— Anda logo, começa a juntar os galhos. Eu vou pra aquele lado.
Dizendo isso, ele empurrou os galhos que carregava para mim. Alguns caíram no chão e rolaram.
Senti um pouco de pena da Sakura. Entre a trilha de mais cedo e essa nova caminhada, ela devia estar cansada de passar tanto tempo comigo — mas não era do tipo que diria isso em voz alta. No fim, ela parecia desconfiada tanto de mim quanto de Yamauchi, trabalhando quase em completo silêncio.
— Já tá bom, né? Acho que isso é o suficiente — disse Yamauchi.
Ele tinha razão, já tínhamos o bastante para manter uma fogueira acesa o dia inteiro. Terminamos e voltamos ao acampamento.
— Ei, ei, Sakura! Quer que eu te ajude a carregar isso? Deve estar pesado pra uma garota. Você pode se machucar.
Ele claramente havia planejado essa frase desde o começo, mesmo ela carregando metade do que eu levava. Queria se passar por um cara atencioso e prestativo. Me perguntei se a "gentileza" dele acabaria chamando mais atenção do que minha neutralidade.
— E-Eu estou bem… Mas o Ayanokoji-kun está levando bastante. Gostaria que você o ajudasse.
— Oooh! Sakura, você é tão gentil! Poxa, Ayanokoji, não acha que tá sendo ganancioso, carregando tudo sozinho? Toma, deixa eu levar metade.
Sem esperar resposta, ele pegou de volta cerca de metade dos galhos que tinha me empurrado antes. Apesar da recusa de Sakura, parecia fazer parte da sua estratégia para conquistá-la pela sua "bondade". Yamauchi, satisfeito, seguiu caminhando de bom humor.
Enquanto andávamos, algo apareceu à frente, no meio do caminho.
Uma garota estava sentada com as costas apoiadas em uma grande árvore. Não era uma aluna da Classe D. Assim que nos viu, ergueu o olhar por um instante e rapidamente desviou os olhos.
Como ela era de outra turma, não havia necessidade de interferir — mas seu estado deixava claro que algo sério havia acontecido.

Havia uma marca vermelha e inchada em sua bochecha. Alguém a tinha atingido com força. Quando Yamauchi tentou passar reto por ela, segurei-o pelo ombro.
— O quê?
— Ah, uh… desculpa. É nada.
Eu ia dizer algo, mas ele finalmente percebeu a garota.
— Ei. O que houve? Você está bem? — chamou Yamauchi.
— Me deixa em paz. Não é nada.
— Não parece nada disso. Quem fez isso com você? Quer que eu chame um professor?
Considerando o inchaço, dava pra ver que ela sentia bastante dor.
— É só uma disputa de classe. Não se preocupem — respondeu a garota, rindo de forma auto irônica. Sua voz era baixa e controlada, mas dava pra perceber que não estava bem. Parecia bastante abalada.
— Então, o que você vai fazer? Não podemos simplesmente te deixar aqui.
Não estávamos no campus da escola. Estávamos cercados por mata fechada por todos os lados. Em algumas horas, o sol começaria a se pôr. Se ela ficasse sozinha ali no escuro, seria desastroso.
— Somos alunos da Classe D. Por que não vem para o nosso acampamento?
Yamauchi olhou para Sakura e para mim, esperando nossa aprovação. Nós assentimos.
— Hã? O que você está dizendo? Não tem como eu fazer algo assim.
— Bem… não acha natural ajudar alguém em apuros?
Ela parecia não querer nos ouvir. Virou-se e ficou em silêncio. Na maioria das situações, seria fácil deixá-la, mas não podíamos simplesmente abandonar uma garota ferida naquele lugar.
— Eu sou da Classe C. Ou seja, sou sua inimiga. Você entende isso, certo?
Isso não era motivo para não ajudar.
— Mas não podemos te deixar aqui, certo?
Sakura e eu assentimos. Ainda assim, a garota não parecia disposta a se mover. Sendo todos alunos da mesma escola, parecia natural e certo ajudarmos uns aos outros. Se isso era certo ou não dentro do contexto especial da prova era outra questão.
— Não podemos te deixar, então vamos ficar aqui até você se mexer.
Yamauchi estava determinado. Nesse caso, só nos restava esperar. A garota não queria falar conosco; provavelmente pensava que queríamos enganá-la.
— Além disso, a floresta está úmida e abafada. O calor está intenso. Sakura, você deve estar morrendo de calor, não é?
— Ah… eu estou… bem — respondeu Sakura.
Ficar ali parado podia ser entediante, mas, do ponto de vista de Yamauchi, era um sonho. Ele podia passar tempo com Sakura até que a outra garota se rendesse. Yamauchi aproveitou o tempo de forma ativa, fazendo inúmeras perguntas tanto para a garota quanto para Sakura. Após cerca de dez minutos, a garota perdeu a paciência.
— Vocês são realmente idiotas. Não estão agindo de forma lógica. Não estão pensando na própria turma de vocês.
— Bem… é que não podemos deixar uma garota sozinha quando está em apuros.
Yamauchi fez um joinha. A impressão que Sakura tinha dele provavelmente melhorava, embora ela parecesse ignorar os esforços de Yamauchi. Ela apenas olhava para a floresta e o céu. Para uma garota tímida como Sakura, aquela situação inesperada devia ser desconfortável.
— Mas isso é realmente certo? Me dizer onde fica o acampamento de vocês e ainda me guiar até lá?
— Hã? Isso está errado?
Yamauchi não entendia o que a garota dizia.
— Eu não consigo acreditar que você seja tão idiota! Sério, não dá pra acreditar — disse a garota, chocada.
Yamauchi ficou surpreso. Se você soubesse a localização do acampamento de alguém, poderia começar a perceber como essa pessoa planejava se comportar durante toda a prova. Era possível antecipar suas estratégias. No caso da Classe D, revelar nosso ponto era motivo de preocupação. Mas eu falei:
— Não se preocupe. Acho que não vai ser um problema.
— Certo? É, não deve ser problema. Meu nome é Yamauchi Haruki. Prazer!
— Bem, você parece um bom rapaz. Mas é um idiota — disse a garota, ainda chocada com a apresentação de Yamauchi. — Eu sou… Ibuki.
Ela acariciou levemente a bochecha vermelha e inchada. Devia estar doendo. Ela não nos olhou nos olhos enquanto falava. Talvez não fosse boa com contato social. Notei um pouco de terra sob suas unhas. Se olhássemos para onde ela estava sentada, dava pra ver o solo revirado.
— Uau… então meninas, tipo, se batem na bochecha quando brigam ou algo assim?
— Isso não é da sua conta. Me deixe em paz.
Apesar das palavras dela, não podíamos simplesmente ignorar sua dor evidente. Ela parecia suportar, mas a agonia aparecia no rosto de vez em quando, enquanto acariciava a bochecha. Ibuki colocou uma bolsa no ombro, grimando com o peso. Yamauchi ficou animado ao ver isso.
— Bem, pelo menos deixe eu levar sua bolsa pra você. Hã? Hã?
Yamauchi queria mostrar sua "bondade" para Sakura a qualquer custo, então novamente empurrou os galhos para eu segurar. Que cavalheiro.
— Está tudo bem. E-Ei, tá tudo bem. Para com isso! — ela recusou de forma seca, talvez por não querer depender de nós. Soltou a bolsa, que caiu e bateu contra uma árvore, produzindo um baque surdo. O constrangimento aumentou enquanto Yamauchi se desculpava freneticamente.
— D-Desculpa. Não quis fazer nada de errado. Peço perdão.
— Tudo bem. É só que ainda não confio em vocês. Entendem?
Ibuki, sem mais nada a dizer, caiu no silêncio. Yamauchi desistiu e começou a andar. Se ela não queria que ele carregasse a bolsa, então poderia carregar ao menos os galhos. E assim ele fez durante todo o caminho de volta ao acampamento.
*
Recolhemos os galhos e voltamos ao acampamento. Sendo de outra classe, Ibuki não queria causar problemas, então sentou-se mais afastada. Seria impossível para ela se misturar, então apreciamos sua honestidade. Enquanto ficasse à vista, provavelmente não causaria confusão.
Infelizmente, Hirata não estava presente. Isso significava que Yamauchi, Sakura e eu teríamos que acender a fogueira. Não conseguiríamos fazer fogo no escuro, então precisávamos nos apressar.
— Deixem comigo. Vou mostrar um jeito fácil.
Yamauchi tirou uma caixa de fósforos que Hirata lhe dera e se agachou diante do monte de galhos. Pegou um fósforo e rapidamente o riscou contra a superfície áspera. Ouviu-se um som repetitivo de fricção, tipo "tch", mas o fósforo não acendeu.
— Droga, isso tá difícil…
Sakura ficou ao lado dele, observando. Yamauchi tentava parecer confiante, mas para alguém sem prática com fósforos, provavelmente não era fácil. Ainda assim, ele continuou riscando o fósforo, até que, de repente, ele acendeu.
— Ah, ah, pronto! Conseguimos!
Finalmente. Em pânico, Yamauchi aproximou o fósforo do monte de galhos. Mas só saiu uma fumaça leve e, mesmo esperando muito tempo, o fogo parecia não pegar.
— Hã?
— Talvez precisemos direcionar o fogo cuidadosamente para os galhos em si? Do jeito que está, parece impossível.
— Ok, vou tentar na próxima. Ah, droga, esse também falhou. Esses fósforos são defeituosos ou quê?
Estávamos tendo tanta dificuldade com um fósforo que começamos a duvidar se conseguiríamos acender a fogueira de verdade. Yamauchi ficava cada vez mais frustrado e começou a riscar os fósforos com mais força. Como resultado, quebrou vários.
— Se eu continuar errando, vamos nos dar mal.
Três palitos quebrados jaziam aos pés de Yamauchi. Ele tentou recuperar a compostura.
— Não se preocupem, não se preocupem. Vai dar certo. Ainda temos mais.
Ele abriu a caixa de fósforos e me mostrou. Parecia leve, mas havia mais de vinte ali dentro. Contudo, nesse ritmo, poderíamos ficar sem fósforos antes do fim da semana.
— Certo! Dessa vez vai dar certo com certeza!
Ele acendeu cuidadosamente um fósforo e aproximou devagar do galho. Por mais que parecesse que o fogo se esforçava ao máximo, não se desenvolveu como esperado. Acabou apenas fumegando um pouco, gerando mais fumaça.
— Que diabos?! O que eu estou fazendo de errado? Vou perguntar a professora.
Yamauchi queria parecer legal diante de Sakura, mas isso já havia ido por água abaixo. Começou a procurar Chabashira-sensei freneticamente. Obviamente, deveria ter pensado melhor antes de tentar.
Eu me agachei e mexi nos galhos.
— Por que o fogo não acende?
Sakura se agachou ao meu lado, olhando os galhos queimados com expressão confusa.
— Eu pensei que, por serem de madeira, iam pegar fogo fácil, mas acho que o fogo é mais fraco do que eu imaginava — disse.
Ela pareceu não entender meu comentário e inclinou levemente a cabeça, intrigada.
— Bem, quando você vê fogueiras em filmes, normalmente são galhos grandes, certo? Por isso pegamos esses. Mas talvez não dê pra acender fogo com galhos grandes?
Separei os galhos, quebrei um fino e mostrei a ela.
— Acho que da próxima vez deveríamos alinhar galhos desse tamanho. Além disso, muitos estão úmidos.
Tentar acender fogo com madeira úmida era típico de iniciante. Mesmo que Yamauchi usasse dezenas de fósforos, o fogo dificilmente se espalharia.
— Vai dar um pouco de trabalho, mas acho que deveríamos voltar à floresta para pegar galhos finos e secos, e folhas que queimem fácil.
— Hã? O que vocês estão fazendo aí?
Ike, que tinha ido nadar, voltou justamente enquanto estávamos tentando acender a fogueira por tentativa e erro.
— Estamos no meio de tentar acender a fogueira. Não está indo muito bem. Está sendo difícil.
— Uma fogueira? Espera aí, esses galhos grossos não vão pegar fogo. Você precisa começar com galhos menores, sabia? Os galhos que vocês trouxeram são enormes. Além disso, muitos estão úmidos. Isso não vai dar certo!
— Ah, mas, Ayanokoji-kun…
Interrompi Sakura enquanto ela tentava falar em meu favor.
— Entendi. Se não se importar, poderia nos dizer o que fazer?
— Droga, acho que não tenho escolha, né? Ok, hora de uma breve aula. Esperem um segundo, vou pegar umas coisas boas por aqui.
Ike deixou sua bolsa de roupa de banho no chão e entrou na floresta. Voltou logo depois, carregando um monte de galhos de tamanhos variados, de finos a médios. Também trouxe um punhado de folhas secas.
— Peguei alguns galhos bons. Acho que com isso conseguimos.
Com isso, ele pegou a caixa de fósforos que Yamauchi tinha deixado e rapidamente ateou fogo nas folhas secas. Assim que as folhas começaram a pegar, Ike começou a adicionar pequenos gravetos. Depois, observando atentamente a chama, foi colocando galhos mais grossos gradualmente. Num piscar de olhos, a chama se transformou numa típica fogueira.
— E é isso.
— Isso é incrível. Estou impressionado. Alguém com experiência real em acampamento está em outro nível.
— É só o básico. Acender uma fogueira, quero dizer. Uma vez que você sabe como, qualquer um consegue.
Como tão poucos alunos da Classe D tinham esse tipo de experiência, Ike se tornava crucial para o sucesso do grupo.
— Ah, droga! A professora não me disse nada. Uau! Ei, como a fogueira acendeu?!
Yamauchi tinha voltado e ficou espantado ao ver a fogueira esplêndida. Talvez estivesse frustrado por não ter conseguido se mostrar, e por isso começou a reclamar. Decidi deixar os problemas da fogueira com Ike e Yamauchi, e me afastei.
— Ayanokoji-kun… Mesmo que você já tivesse entendido, estava tudo bem? Não contar a eles? — perguntou Sakura.
— Eu não sabia se estava certo ou não, então não faria diferença. Além disso, valorizar Ike e mostrar sua utilidade será mais útil para a classe.
Talvez eu estivesse falando demais, mas apenas disse o que pensava. Sakura me lançou um olhar como se tivesse se comovido com minhas palavras. Por algum motivo, senti uma vergonha boba.
— Desculpe. Estou um pouco cansado, então vou descansar. Obrigado, Sakura.
*
Quando chegaram cinco horas, Kushida e seu grupo retornaram. Hirata aparentemente havia se juntado ao grupo dela. Como esses eram os principais membros da nossa classe, quase metade da turma começou a se reunir. Aparentemente, eles haviam saído à procura de comida. Podíamos ver que foram bem-sucedidos. De longe, vi pequenas frutas vermelhas, como morangos, e talvez tomates. Pareciam também ter uvas e kiwis.
— Isso… dá pra comer isso, será? Quero dizer, parece fruta, mas…
Os alunos não pareciam muito confiantes.
— Mesmo assim, estou com muita sede… e fome também.
— Eu também estou com sede…
Quando a noite se aproximava, era natural que os alunos começassem a reclamar desse tipo de coisa. Eu era um deles. Conforme a hora do jantar se aproximava, nossos problemas de comida e água ficavam mais evidentes.
— Oh, ei, isso é mirtilo-do-pântano! Você encontrou isso, Kikyou-chan? Que incrível, sabia! — Ike se aproximou, observando as frutas e explicando o que era cada uma.
— Kanji-kun, você sabe o que é isso?
— Sim. É uma fruta, mirtilo-do-pântano. Já comi quando fui acampar nas montanhas. Como você pode ver, parece e tem gosto de blueberry. É a akebia quinata. É doce e saborosa. Uau, isso me traz tantas lembranças!
Ele falava de forma genuína, sem tentar parecer legal. Todos observavam Ike com interesse enquanto ele sorria, apreciando a fruta nostálgica. Shinohara bombardeava Ike com perguntas, e ele respondia diretamente a ela.
— Ah… vamos ver. Ah, isso é melhor do que eu imaginava.
Apesar de tantas perturbações, ao menos estávamos organizados com essa pequena coisa. Mesmo que fosse apenas uma pequena quantidade, o fato de termos encontrado comida já era um alívio.
— Parece que vocês conseguiram acender a fogueira. Obrigada, Ayanokoji-kun.
— Você deveria agradecer ao Ike, não a mim.
A fumaça subia, grande o suficiente para servir de sinal de fumaça. Ike explicou:
— Se você conseguir ver a fumaça, vai ser possível encontrar o acampamento mesmo se se perder, certo?
— É, foi assim que conseguimos voltar para o acampamento tão rápido. É tudo graças a você, Kanji-kun!
Isso também significava que corremos o risco de outras turmas nos encontrarem. Kushida e vários outros perceberam isso e assentiram em compreensão. Eu teria imaginado que tanta atenção e respeito dariam a Ike uma certa arrogância, mas ele não estava procurando elogios de Kushida. Em vez disso, olhou para Shinohara.
— Ei, Shinohara. Passei um tempo pensando sobre como me comportei hoje, sobre o banheiro e tal, e o quanto fui teimoso. Fui insistente porque queria economizar pontos. Me desculpe.
— P-Por que você está se desculpando comigo de repente?
— Só me lembrei da primeira vez que fui acampar. O banheiro era horrível, e claro que havia insetos por toda parte. Quase tudo estava sujo. Lembro de ir falar com meus pais, reclamando de quanto odiava ir ao banheiro e dizendo que queria voltar para casa. Tenho certeza que é ainda pior para uma garota…
Ike era incrível. Ele havia entendido a situação sozinho e lidado com ela de forma calma. Tinha potencial para ir longe, diferente de uma pessoa comum como eu. Definitivamente era preciso coragem para dizer o que ele disse. A coragem e o pedido de desculpas vieram devagar, mas Shinohara respondeu com desculpas também.
— Eu… também peço desculpas pelo que aconteceu antes. Por dizer que não poderia beber água do rio. Acho que me emocionei demais. Não vamos conseguir manter nossos pontos se não aprendermos a nos ajustar.
Mesmo que nenhum dos dois olhasse o outro diretamente nos olhos, parecia que eles haviam feito as pazes. Talvez a Classe D acabasse conseguindo pontos, afinal. Os outros alunos provavelmente viram isso como um bom sinal. Hirata, determinado a não deixar a oportunidade passar, levantou a mão para chamar a atenção de todos.
— Pessoal, tenho um anúncio. Este teste especial é o primeiro para todos nós. Entendo que vocês estão confusos. Além disso, cada um enxerga as coisas à sua maneira, então é natural que surjam disputas. No entanto, quero que todos sigamos em frente e confiemos uns nos outros até o fim, sem entrar em pânico.
Hirata falou essas palavras de forma clara. Depois de se recompor, continuou:
— Afinal, todos aqui querem terminar com pelo menos um ponto, certo? Portanto, tentei calcular um número que podemos realisticamente alcançar. Ao final do teste, poderíamos ter 120 pontos ou mais restantes. É isso pelo que a Classe D está lutando.
— Ou seja, você planeja usar 180 pontos? Não tenho certeza se concordo, Hirata.
Yukimura olhou com raiva, como se usar mais da metade dos nossos pontos fosse um crime imperdoável. Hirata, percebendo o perigo potencial à frente, colocou o manual no chão e explicou:
— Quero que ouçam tudo o que tenho a dizer. Primeiro, vamos supor que vamos usar pontos em todas as nossas refeições. Se tentarmos gastar o mínimo possível, isso significa comprar os conjuntos de refeição nutritiva e água mineral.
A comida e a água normalmente custavam seis pontos por unidade individual, mas como conjunto custavam apenas dez pontos. Dez pontos por refeição, duas vezes ao dia, resultavam em uma perda diária de vinte pontos. Se pedíssemos uma refeição hoje à noite e outra no último dia do teste, seriam doze refeições ao todo. Isso totalizaria 120 pontos. Se conseguíssemos aguentar o último dia e pular uma refeição, a dedução seria de 110 pontos. Se adicionássemos os vinte pontos gastos no banheiro temporário, além do custo de duas tendas para os meninos, que também eram vinte pontos, teríamos 150 pontos. Os trinta pontos restantes provavelmente foram calculados para cobrir despesas diversas, chegando ao total estimado de 180 pontos.
Todos ouviram atentamente a explicação de Hirata.
— Entendo que, ao ouvir que teremos 120 pontos restantes, provavelmente vocês acham que não é suficiente. No entanto, estamos dando muita atenção a esses 300 pontos. Se olharmos para os resultados da prova intermediária e da final, a razão ficará clara, eu acho.
Recebemos um aumento de pontos de classe antes das férias. Mesmo a Classe A, considerada superior, não recebeu mais de 100 pontos. Certamente não se poderia chamar 120 pontos de um número pequeno. Além disso, como poderíamos ganhar pontos dependendo do número de vezes que conseguíssemos ocupar um espaço, poderíamos acabar com mais de 120 pontos.
— Além disso, estou falando sobre nosso limite inferior de pontos. Se conseguirmos encontrar comida e água para passar o dia, ajustamos nossos cálculos e economizamos até vinte pontos. Se conseguirmos água potável para a semana, economizaremos cinquenta pontos ou mais.
Hirata olhou para o rio enquanto falava. Seu valor aumentou instantaneamente aos nossos olhos.
— Entendi… Então, se conseguirmos aguentar, isso sozinho mudaria muita coisa…
Qualquer outra pessoa poderia ter pensado nisso, mas o tom e a apresentação de Hirata convenceram todos. Ele tinha se saído perfeitamente. Primeiro explicou o limite inferior, depois mostrou que poderíamos acabar com quase 200 pontos. Dessa forma, conseguiu motivar todos a buscar uma meta alta. Se fizéssemos o nosso melhor, poderíamos acumular muitos pontos. Mais que isso, poderíamos aumentar bastante nossa pontuação com esforço.
— Isso é bom, não é, Hirata? Podemos ganhar pelo menos 120 pontos. Se nos esforçarmos, ainda podemos conseguir pontos extras, certo? Então, devemos tentar com certeza!
Ike, que até então tinha sido o mais confrontador, gritou concordando. Sudou e Yamauchi pareceram concordar também, já que não tinham outra escolha. Yukimura ainda parecia relutante, mas ver Ike apoiar Hirata o fez ceder.
— Ah, isso me lembra, Hirata. Queria checar uma coisa — eu disse.
Como Yamauchi havia esquecido de relatar sobre Ibuki, não tive escolha. Porém, nossos colegas continuaram sua discussão animada, e eu não tive chance de intervir.
— Esse é o destino de uma pessoa popular, acho. Bem, vou dar um tempo.
Aproximei-me de Ibuki, que nos observava de longe.
— Desculpe. Você pode esperar um pouco mais? Vou falar com ele sobre você.
— Não precisa se forçar. Provavelmente eu só atrapalharia — respondeu Ibuki.
Ela puxou um punhado de grama, parecendo irritada.
— De qualquer forma, eles vão me expulsar. Estou errada?
— Não sei. Hirata é um cara excepcionalmente bom.
Não conseguia imaginar Hirata expulsando-a se soubesse de sua situação.
— Ah, eu nunca me apresentei antes. Meu nome é Ayanokoji.
— Então devo me apresentar mais uma vez?
— Não. Você é Ibuki, da Classe C. Lembro-me.
Ficamos frente a frente durante as apresentações, mas Ibuki não olhou nos meus olhos.
— Para referência futura, todos aqui que estão de acordo em beber água do rio, por favor, levantem a mão — Ike perguntou.
A discussão passou para o próximo tema, deixando Ibuki e a Classe C de lado. Ike não estava forçando ninguém a beber a água, mas queria ver a opinião de todos. Claro, ele tomou a iniciativa e levantou a mão em apoio ao rio. Quase metade dos garotos levantou a mão em aparente concordância. Shinohara parecia um pouco confusa, mas Ike disse gentilmente que ela não precisava se forçar.
— Eu… quero fazer o meu melhor, mas… estou um pouco assustada, acho.
— Se for sobre o que Sudou disse sobre ferver a água, não é tão ruim assim. Se você tiver medo de beber direto, que tal experimentarmos primeiro?
Mais alguns alunos concordaram. Gradualmente, algo que antes fora fortemente rejeitado estava começando a ser aceito. Shinohara ainda parecia receosa, mas levantou a mão.
— Não sei se consigo beber, mas… vou tentar.
— Concordo. Se a primeira pessoa que tentar conseguir beber, então deve estar tudo bem.
Outros alunos pareceram aceitar isso, e então Kushida fez o mesmo e levantou a própria mão. Talvez estivesse tentando influenciar o grupo. Logo todos tinham levantado a mão, exceto Horikita e eu. Todos nos olharam, e levantamos nossas mãos lentamente também. Mesmo assim, ainda era difícil para as pessoas beberem do rio. Para ter algum suprimento de emergência, decidimos comprar água, por precaução.
— Tenho um pedido, Ike-kun. Quero que você use seus talentos a partir de agora. Parece que você é o único com experiência em acampamento aqui. Pode nos ajudar? — perguntou Hirata.
— B-Bem, acho que se você pedir, eu tenho que cooperar.
— Obrigado!
Hirata praticamente pulou de alegria com a resposta direta de Ike. Shinohara, que reclamara mais antes, não se opôs. Hirata começou a reunir opiniões sobre a comida.
— Bem, logo vai escurecer, então por enquanto só podemos pedir comida. Porém, peço que pensem um pouco sobre o que vem depois de amanhã. Pode haver vários alimentos por perto, então queria explorar.
— O que quer dizer com "perto"? Fora do lugar onde Kushida-san e os outros encontraram as frutas?
— Sim. O rio. Seria ótimo se conseguíssemos pescar. Parece que há muitos peixes de água doce lá. Conseguiríamos limitar um pouco o gasto de pontos. Além disso, pegar peixes e cozinhá-los na fogueira parece delicioso.
— Bem, deixando de lado se seriam gostosos ou não, como você pretende pescar?
— Vou mergulhar na água. Nunca fiz isso antes.
Ike fez um movimento de nado, mas provavelmente não seria fácil pegar peixes apenas com as mãos.
— Mesmo que pareça impossível pescar com as mãos, há muitas ferramentas — disse Hirata, apontando para uma entrada no manual. — Varas de pescar. Elas têm de vários tipos.
— Custa um ponto para varas com isca, e dois pontos para varas com anzol artificial.
Não seria difícil recuperar o custo. Poderia até ser um grande ganho, se conseguíssemos comida para um ou dois dias gastando apenas um ponto. Mesmo que não pegássemos nada, o custo era tão mínimo que não prejudicaria. Não houve objeções.
— Então, está decidido. Vamos pegar uma vara de pescar e pegar peixes! Claro, vamos com a mais barata.
E assim definimos nosso objetivo de pescar no rio e colher frutas no bosque. Se tivéssemos sucesso, decidiríamos se compraríamos um conjunto de utensílios de cozinha por mais cinco pontos. Também decidimos gastar mais vinte pontos para instalar um chuveiro. Esperávamos oposição, mas nossa saúde poderia piorar se só usássemos água fria. Os meninos só poderiam usar o chuveiro de madrugada, no entanto. Todas as garotas pareceram concordar em beber água do rio. Com a oposição convencida, a proposta foi aprovada.
— A propósito… aquela garota, Ibuki-san da Classe C? Já a vi antes.
Uma garota chamada Satou, que finalmente havia notado a intrusa, olhou para Ibuki com desconfiança. Ibuki continuava sentada, quieta, bem distante. Aparentemente, não havia necessidade de eu quebrar o gelo.
— Bem, parece que houve algum problema na classe dela… — explicou Yamauchi, um pouco confuso, sobre por que Ibuki parecia isolada.
— Entendo. Seu julgamento estava correto. Não podemos simplesmente deixá-la.
— Mas, Hirata-kun… Ela não poderia ser uma espiã? Quero dizer, se ela consegue identificar o líder… — Yamauchi perguntou, levantando as mãos para chamar atenção.
— Ah, é verdade. Suponho que seja possível. Vou verificar. Tudo bem, Yamauchi-kun? Ayanokoji-kun?
Hirata se dirigiu até Ibuki. Teria ele excluído Sakura por consideração de bom moço? Sakura parecia aliviada por não ter sido notada.
— Você tem um momento, Ibuki-san? Queria falar com você — disse Hirata.
— Provavelmente estou só atrapalhando. Vocês já cuidaram bem de mim.
Ela se levantou rapidamente, como se quisesse fugir.
— Espere um instante. Queria perguntar o que aconteceu. Quero ajudar.
Ela parou com as palavras de Hirata. Ao ver seu rosto inchado, ele provavelmente percebeu que o problema não era trivial.
— Nada vai mudar se eu ficar. Não quero perder tempo apenas sentada.
— Este é um teste, então é natural que alguns alunos desconfiem de você. Mas você está machucada. Não quero te expulsar se você não puder voltar para sua própria classe. Acho que foi por isso que Yamauchi-kun te trouxe até aqui. Então, me conte sua situação.
— Isso não é algo sobre o qual eu possa simplesmente falar. Além disso, já ouvi todos os seus planos. Você odiaria se mais estratégias suas fossem vazadas, certo? — Ibuki começou a se afastar. Hirata a deteve.
— Se você realmente fosse uma espiã, não iria querer ser expulsa, iria? Estou errado?
— Chega. Só estou procurando um lugar para dormir.
Como eu esperava, ela não voltaria para a Classe C. O sol estava se pondo, e logo seria noite.
— É loucura uma garota dormir sozinha na floresta.
— Mesmo que seja loucura, não tenho escolha. Ajudar-me não vai te trazer nada.
— Isso não tem nada a ver com perdas ou ganhos. Não podemos simplesmente deixar alguém em apuros. Todos nós pensamos assim.
Sua expressão mudou, e ela se voltou para nós sem hesitar. Algo assim era capaz de derreter até a casca mais dura. Ibuki parecia acreditar em Hirata, e isso lhe deu confiança.
— Tive uma briga com um garoto da minha classe. Ele me bateu e me expulsou. Só isso.
— Isso é horrível. Levantar a mão contra uma garota, quero dizer.
Eu também não esperava. Tinha certeza de que ela teria brigado com outra garota.
— Não vou dizer mais nada sobre o assunto. De qualquer forma, não esperava que me acolhessem e me dessem abrigo. Até logo.
— Espere. Eu entendo que você está realmente em apuros. Por favor, me dê um pouco de tempo. Se você puder fazer isso, contarei aos outros alunos sobre sua situação e veremos se conseguimos encontrar um lugar para você. Ayanokoji-kun, pode ficar de olho na Ibuki-san? Vou falar com todos.
Hirata nos deixou e voltou para o grupo. Perguntei-me se ele me deixara com ela porque confiava em mim, ou pelo menos mais do que confiava em Yamauchi. Fiquei um pouco curioso.
— Ele é realmente uma pessoa de bom coração, não é? — perguntou Ibuki.
— Acho que todos aqui são, mais ou menos. Não há pessoas assim na sua classe?
— Claro que não… Não há realmente ninguém na Classe C assim.
Ibuki se sentou, juntou os joelhos ao peito e abaixou a cabeça. Graças à persuasão de Hirata, a Classe D concordou em cuidar de Ibuki. Embora alguns alunos fossem fortemente contrários, toda vez que a Classe C fazia chamada, eles perdiam pontos. Quando todos viram isso como uma oportunidade, finalmente se convenceram. As intenções de Hirata eram puras, mas o mesmo não se aplicava aos outros. O incentivo de lucro potencial os motivou a arriscar.
No entanto, manter a posse exclusiva daquele local era uma questão extremamente delicada. Explicamos a Ibuki, e ela prometeu não se aproximar do dispositivo. Se alguém descobrisse que Horikita era a líder, o prejuízo seria grande. Depois disso, decidimos comprar os conjuntos de comida e água necessários para a noite, junto com as barracas dos meninos. Graças a Hirata e Ike, as barracas foram montadas sem problemas. Pouco antes do pôr do sol, terminamos todos os preparativos, e os alunos começaram a comer.
— Ei, Ibuki-san. Coma isso.
Kushida se aproximou de Ibuki, que estava sentada sozinha a certa distância. Kushida ofereceu-lhe uma das refeições nutritivas e uma garrafa de água.
— O quê? Por que você está me dando isso?
— Bem, você provavelmente está com fome, não é?
— A comida é fornecida de acordo com o número de alunos da classe. Não deveria haver porções sobrando.
— Sim. Mas não se preocupe, decidimos compartilhar tudo com nosso grupo.
Mais adiante, os quatro outros integrantes do grupo de Kushida acenaram e sorriram para Ibuki. Ou seja, quatro pessoas dividiram três porções de comida e água, e a porção restante foi para Ibuki.
— Vocês são idiotas? Estão sendo bons demais.
— Não seja tímida. Coma. Conversamos depois, ok? Estarei esperando na barraca.
Com isso, Kushida voltou para seu grupo. Parecia fácil ajudar uma garota de outra classe até termos que reduzir nossas próprias porções de comida. Então, não era tão simples. Mas Kushida, que desejava a felicidade de todos, tinha generosidade de sobra.
— Uau, olhando assim, os grupos de meninas são realmente notáveis.
Yamauchi, no meio da refeição, apontava para cada grupo individualmente.
— Ali está o Time Imperatriz, liderado por Karuizawa. Depois, o Time Amizade de Kushida e o Time Arrogante de Shinohara. E então temos Horikita e Sakura, que estão sozinhas.
Todos os meninos se sentaram relativamente próximos enquanto comiam, mas as meninas se mantiveram em seus times. Havia uma parede clara entre eles, como se fossem grupos de outras classes. Talvez o time de Kushida fosse o mais neutro de todos, ou apenas tivesse muita influência?
— Coitada da Sakura, toda sozinha. Acho que devo comer com ela — disse Yamauchi.
— Você provavelmente deveria desistir, não acha? Só a assustaria.
— Droga. Quero conhecê-la melhor, mas ela é muito introvertida…
Além de tímida, Sakura provavelmente achava difícil lidar com tipos insistentes como Yamauchi. Apesar do aviso, ele parecia impaciente para se aproximar dela.
— Que diabos, Haruki? Não é justo ficar stalkeando uma garota bonita sozinha. Deixa eu ir junto! — disse Ike, vendo os olhares de Yamauchi e interpretando mal.
— Tenho que dizer, os seios da Sakura são realmente algo de outro nível. Não se veem seios tão grandes em uma aluna do primeiro ano com frequência. A roupa dela só ressalta. Ela é muito sexy. Só os seios dela a tornam ainda mais atraente que Kikyou-chan.
Ike olhava fixamente para os seios de Sakura, como se quisesse devorá-los. Yamauchi bloqueou a linha de visão dele.
— Ei, que diabos, cara?
— Não fique olhando para a Sakura como um pervertido. Além disso, você está de olho na Kushida-san, não é?
— Bem, sim. Mas tudo bem, né? Quero dizer, uma idol pertence a todo mundo, não é? Haruki, será que você… Ooh, você é… da Sakura?
— N-Não é nada disso. Vamos comer.
Aparentemente, Yamauchi queria esconder o fato de que estava mudando de alvo e indo atrás de Sakura. Além disso, já era noite, e nada restava para fazer. Era natural que a conversa acabasse girando em torno do sexo oposto. Notei Hirata próximo, distribuindo comida.
— Pensando bem, cadê o Koenji-kun?
Todos estavam reunidos, mas parecia que Koenji estava ausente.
— Ah, o Koenji reclamou de estar com a saúde fraca e voltou para o navio. Claro, isso significa que vocês tiveram trinta pontos deduzidos. São as regras, não há nada a fazer. Koenji se retirou e é obrigado a permanecer a bordo do navio por uma semana para tratamento médico — disse Chabashira-sensei.
— Q-QUÊ?!
Gritos ecoaram pela noite.
— Você só pode estar brincando! Koenji, seu idiota! O que diabos você estava pensando?! — Yukimura, normalmente silencioso, gritou e chutou o chão. Eu sabia que Koenji era um espírito livre, mas nunca imaginei que ele simplesmente se aposentaria do teste. Talvez ele não ligasse em alcançar a Classe A. Se facilitasse sua vida, perder trinta pontos não significava nada.
— Droga! Perdemos trinta pontos! Isso é horrível!
Meninos e meninas ficaram furiosos com a atitude de Koenji, mas não podiam fazer nada. A risada alta e arrogante de Koenji reverberava em nossas mentes.
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CAPÍTULO ATUALIZADO!
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