Volume 3
Capítulo 2: Rivais em Movimento
ACORDEI MUITO mais cedo naquela manhã do que havia planejado. O calor e a umidade me fizeram virar e revirar na cama. Finalmente, fui despertado, e não estava nada descansado. Minha cama estava quente, e lembrei que havíamos deixado a lâmpada acesa a noite inteira. Nossa barraca cheirava a suor. Felizmente, havíamos usado um material de malha para a barraca, o que permitia que a brisa da noite passasse. Mas, assim que a noite acabou, a temperatura subiu consideravelmente.
Saí cuidadosamente da barraca para não acordar ninguém e me aproximei da nossa pilha de bagagens. Mantivemos as malas do lado de fora para que as barracas ficassem mais espaçosas. Depois de olhar ao redor e garantir que estava sozinho, encontrei uma mala de cor singular. Era a mala da Ibuki. Como a mala dela era diferente, era fácil de identificar. Peguei-a sem hesitar e olhei dentro. Se alguém me visse fazendo isso, eu seria instantaneamente rotulado como pervertido.
Dentro, encontrei os mesmos tipos de itens que todos tinham: toalhas, roupas extras, roupas íntimas, etc. Porém…
— Uma câmera digital, hein?
Isso explicava o som abafado que ouvi ontem quando ela deixou a mala cair contra uma árvore. Esse item não era apropriado para uma ilha deserta. Na parte inferior da câmera, encontrei um adesivo de aluguel. Por que Ibuki teria isso? Pensei nas possíveis razões, tentando me colocar na perspectiva dela. Depois de imaginar a imagem dela em minha mente, várias possibilidades surgiram.
Verifiquei a fonte de energia da câmera. Não havia dados e nenhum sinal de uso. Depois de terminar minha inspeção, devolvi o item à mala e voltei para a barraca.
— Bom dia, Ayanokoji-kun. Indo ao banheiro? — disse Hirata, já acordado. Ele se virou ao me cumprimentar. Talvez tenha notado que eu estava mais suado do que o normal.
— Ah. Acordei você, por acaso?
— Ah, não. Não consigo dormir direito nesse ambiente. Ai, ai… Ah, minhas costas doem. Bem, acho que é natural sem um colchão decente.
Realmente não era fácil dormir com tanta gente amontoada e sem camas de verdade. Mas, de alguma forma, todos os outros ainda estavam dormindo. Provavelmente estavam exaustos das atividades de ontem.
— Se incluirmos a penalidade do Koenji-kun, gastamos quase 100 pontos ontem. Eu disse a todos que, no pior cenário, ficaríamos com 120 pontos, mas agora nem tenho certeza disso. Acho que a ansiedade me acordou.
Hirata pegou o manual para confirmar seus receios. A aposentadoria de Koenji havia sido um golpe considerável.
— Isso é difícil, até mesmo para o pacificador da turma.
Eu não conseguia nem imaginar carregar esse tipo de responsabilidade. Espiei o manual, e Hirata ajustou a posição para que eu pudesse olhar confortavelmente. Fiquei grato por esse pequeno gesto de consideração.
— Só faço isso porque gosto. Se meu esforço deixa todos na turma felizes, então estou satisfeito. Mas é surpreendentemente difícil. Quantos pontos teremos após este teste especial terá um grande impacto em nossas vidas. Acho errado deixar todo mundo em pânico.
Deixar todos felizes, hein? Se isso fosse possível, seria incrível. Mas provavelmente era quase impossível. O sistema da escola ditava isso.
— Então, se temos estudantes que querem ir para a Classe A, e estudantes que querem permanecer na Classe D, o que você faz?
Embora soubesse que era uma pergunta sem sentido, saiu de forma um tanto ríspida. Acho que queria a opinião de Hirata, já que ele era basicamente uma massa de boas intenções.
— Isso é difícil de responder. Mirar nas classes superiores significa forçar todos… Desculpe, preciso pensar.
Me perguntei com que frequência ele havia pensado nisso. Hirata sorriu levemente.
— Então, Ayanokoji-kun, você quer entrar na Classe A? Ou está satisfeito contanto que a vida escolar seja divertida?
— Acho que, se tivesse que escolher, a prioridade é a vida escolar. Além disso, não acho que seja possível chegar à Classe A.
— Entendi. Também não acho simples. Mesmo que nossa turma se unisse e mirasse a Classe A… Acho que nossas perdas no primeiro mês causaram danos demais.
Hirata provavelmente pensava nos limites de todos os outros estudantes. Se a Classe A não caísse no ranking, compensar a diferença não seria fácil. Mesmo que a Classe D conseguisse manter uma postura conservadora neste exame, só poderíamos ganhar entre 100 e 150 pontos. No momento, até ultrapassar a Classe C parecia um sonho distante.
— Não precisamos ter pressa. Primeiro, a Classe D precisa se unir e passar neste teste. Depois disso, podemos focar no próximo objetivo.
A maioria de nós decidiu deixar Hirata liderar. Se trabalhássemos duro a curto prazo, ganharíamos pontos de classe. Por enquanto, ignorar o abismo entre nós e as outras turmas não era uma má ideia. Hirata se desculpou educadamente e seguiu silenciosamente para o banheiro. Estiquei-me no espaço deixado por sua ausência.
Pelo menos, a Classe A tinha a caverna. É provável que as Classes B e C também tivessem algum ponto. Mesmo com o controle do rio, isso sozinho talvez não bastasse. Depois que todos dormiram, cortei cuidadosamente uma das cinco páginas em branco do manual. Em seguida, peguei uma caneta esferográfica.
Depois que reproduzi um mapa simples da ilha, dobrei-o em um quadrado pequeno e coloquei no bolso. Pouco depois, Hirata espiou pela entrada da barraca.
— Quer ir lavar o rosto comigo? — perguntou ele.
Aceitei a oferta. A temperatura dentro da barraca estava subindo à medida que o sol se elevava no céu. Pegamos toalhas de nossas malas envoltas em vinil e nos dirigimos ao rio. Hirata colocou o manual dentro da mochila. O tilintar de acessórios de plástico batendo uns nos outros veio da sua bagagem.
— São presentes ou algo da Karuizawa? — perguntei.
— Acertou em cheio. Como adivinhou?
Quem mais lhe daria pequenos presentes com corações brilhantes? Enquanto caminhávamos para o rio, encontramos uma pessoa inesperada.
— O que estão fazendo aqui? — perguntou um estudante da Classe B, Kanzaki, olhando em nossa direção. Alguns outros garotos que eu não conhecia estavam com ele, mas provavelmente também eram da Classe B. Pareciam surpresos, como se não esperassem nos ver tão cedo, mas rapidamente recuperaram a compostura.
— O primeiro dia acabou, então pensei em ver como vocês estavam. Pensei em dar uma olhada. O local de vocês é ótimo.
Ele parecia realmente impressionado com nosso acampamento. Não demonstrava ter segundas intenções.
— Você é o Kanzaki-kun, da Classe B, não é? — Hirata parecia se lembrar dele.
— Surpreendi vocês? Desculpe, não vim causar problemas.
Com esse pedido de desculpas, Kanzaki se afastou.
— Kanzaki… onde a Classe B está acampando?
Talvez ele não quisesse nos dizer, mas achei que valia a pena tentar perguntar. Kanzaki respondeu sem hesitar.
— Há árvores grandes quebradas pelo caminho daqui até a praia. Se vocês entrarem na floresta a sudoeste e caminharem um pouco, encontrarão nosso acampamento. Não vão se perder se entrarem por essas árvores grandes. Se precisarem de algo, podem passar por lá.
E com isso, Kanzaki se foi. Hirata me lançou um olhar estranho.
— Acho que ele é seu amigo, hein? O que ele quis dizer com "podem passar por lá"?
— Hum… fico me perguntando.
Kanzaki, Ichinose e Horikita haviam trabalhado recentemente juntos em um caso de falsa acusação. Ele provavelmente achava que ainda estavam em bons termos.
— Será que eles vieram aqui para fazer reconhecimento, ver como gastamos nossos pontos?
Sem dúvida, essa era uma das razões, depois de ver a expressão levemente apologética de Kanzaki. Era possível estimar o número de pontos gastos apenas pelo número de banheiros, chuveiros e barracas. Mas provavelmente não era só isso que Kanzaki e os outros queriam descobrir. Devem ter querido identificar nosso líder de classe. Afinal, os direitos de posse exclusiva do local expiravam a cada oito horas.
Talvez tivessem calculado o tempo de renovação e esperado ver o local atualizado. Contudo, nós já havíamos planejado isso. Por isso, adiamos a segunda atualização ontem, para que os direitos de posse expirassem exatamente depois das oito horas. Assim, era possível usar a grande movimentação do chamado matinal como uma espécie de camuflagem para a atualização.
Hirata parecia mais ansioso. Murmurou enquanto se secava:
— Será que nossa estratégia está errada? Mesmo que não possamos superar as outras turmas, pensei que seria bom nos unirmos nesse teste. Esse é o verdadeiro motivo pelo qual não quero que descubram nosso líder.
Seus cabelos brilhavam com a água. Um homem extremamente bonito enfrentava problemas constantes.
— Não se preocupe tanto. Tente relaxar um pouco.
— Obrigado. Vindo de você, isso realmente me deixa feliz.
Depois de lavar o rosto, peguei um pouco de água para beber. Apesar do calor intenso da floresta, a água do rio estava fresca e deliciosa. Era água subterrânea que descia como água de nascente para o rio, naturalmente resistente a aquecer ou esfriar. Como vinha da parte superior do rio, a temperatura da água era estável. Tínhamos sorte de ter garantido esse local como nossa base.
— Primeiro, acho que precisamos ajustar nossos lugares para dormir. Como o chão aqui é tão duro, esta semana será difícil sem um bom suporte para as costas. Quando todos acordarem, farei uma enquete. Precisamos cooperar e dar o nosso melhor.
*
Depois da chamada matinal, começamos a explorar. Hirata distribuiu funções aos estudantes mais confiáveis, iniciando seu plano para economizar pontos. Enquanto isso, os alunos menos úteis e os mais independentes, como Horikita e eu, faziam o que queriam.
— Que diabos, vocês?! — a voz irritada de Ike ecoou pelo acampamento.
Olhei em sua direção e vi dois estudantes com largos sorrisos presunçosos. Uma expressão de dor passou pelo rosto de Ibuki por um momento, mas ela rapidamente se escondeu atrás da barraca.
— Komiya e Kondou, hein?
Como Ibuki, eu reconhecia aqueles garotos. Eram da Classe C.
— Uau, vocês, rejeitados da Classe D, estão vivendo na miséria, hein? Acho que é o que se espera de uma turma de inúteis.
Eles estavam entupindo a boca de batatas fritas e bebendo garrafas de refrigerante. Não água. Refrigerante.
— Parece que vocês estão vivendo no luxo, Classe C.
— Você conhece o Ryuen? — Ibuki perguntou.
— Ele é da Classe C. Ouvi vários rumores sobre ele. Dizem que é bem louco.
— Não apenas "bem louco". Tudo que aquele cara faz é loucura.
Ibuki parecia irritada, como se estivesse falando de um inimigo de família.
— Esses dois são amigos do Ryuen. Eu diria que são mais como subordinados dele.
Lembrei da vez em que eles brigaram com Sudou. Parecia que agiam por ordem de Ryuen, não apenas procurando confusão.
— O que vocês comeram no café da manhã? Grama? Ou talvez insetos? Aqui, podem pegar alguns lanches.
Eles jogaram um saco de batatas fritas próximo aos pés de Ike, que se aproximava. Embora fosse óbvio que estavam provocando, não conseguimos evitar ficar irritados.
— Temos uma mensagem do Ryuen-san. Se quiserem aproveitar ao máximo as férias de verão, venham à praia agora. Não fiquem para trás. Se estão cansados de viver como idiotas, teremos prazer em compartilhar nossas mordomias.
Eles não foram embora, mas continuaram beliscando as batatas fritas como se quisessem nos provocar. Ike perdeu a paciência, mas eles pareciam não se importar.
A provocação continuou por pelo menos mais dez minutos, até que o grupo de Hirata voltou e a Classe C decidiu encerrar a brincadeira. Eles voltaram para o próprio acampamento.
— Acho que eles não estavam atrás de mim — disse Ibuki.
— É, acho que só queriam nos provocar.
Deixando de lado a visita bizarra, conseguimos obter informações valiosas sobre a Classe C: eles tinham itens de luxo, lanches, refrigerantes e assim por diante. Estavam gastando pontos aos montes. Em um teste como este, onde a economia era crucial, o que diabos eles estavam pensando?
— Eles falaram algo sobre compartilhar suas mordomias. Alguma ideia do que estavam querendo dizer? — perguntei.
— Não sei… fico pensando se as coisas não estão caminhando para aquele pior cenário que imaginei… — Ibuki não disse mais nada e se dirigiu a uma árvore na periferia do acampamento.
O pior cenário que ela havia imaginado, hein? Contar isso para Horikita parecia uma boa ideia.
— Ei, Horikita, você está por aí?
Depois do café da manhã, Horikita havia voltado imediatamente para a barraca, e eu não via sinal dela. Chamei-a na frente da barraca das meninas. Embora ela não respondesse, a barraca se mexeu ligeiramente, e ouvi o som de tecidos se movimentando. Horikita saiu lentamente.
— Você ouviu aquelas vozes mais cedo? — perguntei.
— Aquela provocação barata da Classe C? Sim, ouvi.
— Estou um pouco preocupado. Quero dar uma olhada na situação. Quer vir comigo?
— É estranho ver você tomando a iniciativa. Está se sentindo bem? — Adoraria poder devolver essas palavras na cara dela.
— Bem, estou de folga esta semana. Não tenho nada para fazer hoje, então só estou matando o tempo.
— Não quero me expor demais. Como sou líder, se eu me destacar demais, vamos ficar em uma situação ruim.
— Isso é um risco real.
Mesmo que alguém não soubesse a identidade do líder com certeza, poderia adivinhar se percebesse um comportamento suspeito. Quanto mais visível a pessoa, mais atenção chamaria.
— Entendo como você se sente, mas mesmo que fique aqui, a situação provavelmente não vai mudar, certo? Você está de olho no Ryuen, e até observou a Ichinose. As pessoas vão lembrar que você é irmã mais nova do presidente do conselho estudantil. Faça o que fizer, será um alvo.
De qualquer forma, o custo por um palpite errado era de cinquenta pontos. Ao nomearmos alguém como líder, assumimos um risco, e precauções eram necessárias.
— Você tem razão. Acho que não posso definir o que é certo. Tudo bem. Estou bastante preocupada com o estado das outras turmas. Vamos.
Horikita e eu nos dirigimos à praia, onde a Classe C nos aguardava. Seus passos pesados desmentiam a indiferença casual que tentava passar.
*
Quando nos aproximamos da borda da floresta, vimos a praia e o grande grupo de estudantes da Classe C lá. Horikita e eu nunca poderíamos ter imaginado o que presenciamos.
— Não acredito… Tudo isso… É mesmo possível? — Horikita repetia "impossível" enquanto observava. Eu sentia o mesmo.
Eles haviam instalado banheiros e chuveiros temporários, além de uma lona para proteger do sol, churrasqueira, cadeiras e um guarda-sol. Tinham lanches e bebidas. Tudo o que era necessário para um bom e relaxante dia estava ali. Sentimos o cheiro da carne assando e ouvimos risadas. Jet skis passavam rapidamente pela costa. Estudantes se divertiam no mar, gritando de alegria. Por uma estimativa aproximada, eles provavelmente haviam gasto 150 pontos ou mais.
— O que diabos a Classe C está fazendo? Eles não planejam economizar pontos?
Essa era a única explicação. Isso ultrapassava qualquer luxo moderado.
— Vamos dar uma olhada. Quero ver o que a Classe C está pensando.
Saímos do mato e caminhamos até a praia. Um dos garotos nos percebeu e chamou outro próximo. Não conseguimos ver bem o rosto do segundo, pois ele estava inclinado na cadeira. Um dos meninos correu até nós.
— Hum… o Ryuen-san pediu para vocês virem — disse ele, com a voz tímida, talvez assustada ou naturalmente apática.
— Ele governa os colegas como um rei. É como uma recepção real. O que faremos?
— Depende de você, Horikita.
— Tudo bem. Quero descobrir suas intenções. Vamos.
Acompanhamos o garoto. Ao nos aproximarmos do mar, o cheiro delicioso de carne assando chegou até nós.
— Acho que isso não faz muito sentido.
Nossa turma parecia não saber como aproveitar as férias. Nos aproximamos do homem no comando deste paraíso hedonista.
— Achei que alguém estivesse farejando por aqui. É você, hein? Que negócios tem comigo? — disse ele.
— Parece que estão se dando bem. Isso parece uma festa e tanto.
Ryuuen, bronzeado e de roupa de banho, reclinava-se na cadeira, mostrando os dentes brancos em um sorriso confiante.

— Exatamente como você vê. Estamos aproveitando nossas férias de verão.
Ele abriu os braços orgulhosamente, mostrando a extravagância do acampamento.
— Isso é um teste. Entende o que isso significa? Parece que você não entende as regras…
Ryuen não parecia contente ao ser informado sobre sua aparente incompetência. Na verdade, ele parecia desapontado.
— Estou chocado. Isso quer dizer que você está oferecendo ajuda até para um inimigo como eu?
— Se quem está no topo é incompetente, os de baixo sofrerão. É lamentável — disse Horikita.
Ryuen apenas sorriu, pegando a garrafa de água ao lado do rádio.
— Quantos pontos vocês gastaram? Para conseguir aproveitar tanto assim, quero dizer.
— Hmm… Bem, não fiz um cálculo preciso — respondeu Ryuen, sem malícia. — Tch. Já está ficando quente. Ei, Ishizaki. Me traz água gelada agora mesmo.
Ryuen derramou a água que restava na areia, quase como provocação. Ishizaki, que quase estava jogando vôlei, entrou em pânico e correu para buscar outra garrafa de água. Uma montanha de caixas de papelão estava empilhada dentro da barraca, provavelmente cheia de comida e água. Sakazaki olhou dentro de um cooler ao lado das caixas.
— Como podem ver, estamos aproveitando nossas férias de verão. Não somos seus inimigos. Entendeu?
Horikita, achando seu comportamento incompreensível, pressionou os dedos na testa e franziu as sobrancelhas, como se estivesse com dor de cabeça.
— Estamos tentando avisar você. Você é um idiota.
— Qual de nós é o idiota? Eu? Você?
Ryuen não aceitava insultos e devolveu a provocação a Horikita.
— Quer tentar sobreviver nesta ilha deserta nesse calor infernal? Não brinque. A Classe D, a pior de todas, tem que aguentar fome, calor e inutilidade só para salvar uns míseros 100 ou 200 pontos de classe. Isso me faz rir.
Ishizaki correu até ele, pingando suor, trazendo a água. Entregou a garrafa gelada para Ryuen, mas ele a jogou de volta.
— Eu disse para me trazer água gelada. Essa está morna.
— Eu… m-mas…
— Hmm?
As pupilas de Ryuen eram como as de uma cobra. Ishizaki ficou rígido, pegou a garrafa e correu de volta para a barraca.
— Este teste é sobre perseverança, engenhosidade e cooperação. Provavelmente seria impossível para vocês desde o início. Nem conseguem estabelecer um plano satisfatório.
Eles não poderiam aguentar uma semana depois de gastar pontos tão generosamente. Eventualmente, suas vidas se tornariam um inferno. As lonas, guarda-sóis, cadeiras e outros itens se tornariam obstáculos.
— Cooperação? Não me faça rir. As pessoas traem facilmente umas às outras. Mentem. Relações baseadas em confiança simplesmente não funcionam. Só se pode confiar em si mesmo. Se terminaram o reconhecimento, vão embora. Mas se quiserem, serão bem-vindos aqui. Podem se divertir, seja comendo carne ou andando de jet ski. Ou talvez prefiram um tipo diferente de diversão comigo? Posso preparar uma barraca para uso pessoal.
— Não é esse tipo de resposta que eu esperaria de alguém que declarou guerra contra nós.
— Eu absolutamente detesto trabalho duro. Paciência? Economizar? Você só pode estar brincando.
Ishizaki voltou mais uma vez, entregando outra garrafa de água. Ryuen abriu a tampa e bebeu tudo.
— É assim que faço as coisas. Nada a mais, nada a menos.
— Certo. Então faça como quiser. Conveniente para nós, de qualquer forma.
Horikita mudou de ideia. A Classe C não seria nosso inimigo aqui, então não era um problema.
— Suando para avaliar as outras turmas é um saco — disse ela, virando-se para ir embora, mas parou.
— Há mais uma coisa. Você conhece a Ibuki, claro?
— Sim. Ela é da nossa turma. O que tem ela?
— O rosto dela está inchado. Quem fez isso com ela?
Enquanto quase tinha certeza de que ele era o culpado, Horikita perguntou de forma indireta.
— Ah. Ela saiu correndo daqui de repente. Foi pedir ajuda para outra turma no fim das contas? Garota patética.
Ryuen bufou com desgosto e reclinou-se na cadeira.
— Existem idiotas indefesos neste mundo. Um governante não precisa de subordinados que desobedecem ordens. Determinamos que eu poderia gastar os pontos da nossa turma como quisesse. Esse é o fato. Além disso, é inútil levantar a bandeira da revolução contra a classe dominante.
— Ou seja, a Ibuki-san entrou em conflito com você quando você queria gastar pontos.
— Bem, pode-se dizer isso. Por isso ela recebeu uma punição leve.
Ele fez um gesto como se estivesse dando um tapa na bochecha de alguém. Ryuen realmente a havia atingido.
— Outro garoto também me desafiou, então mandei expulsá-lo. Ouvi dizer que ele não morreu, então provavelmente está por aí comendo grama e insetos para sobreviver.
Não conseguia imaginar que alguém dissesse isso sobre um amigo. Mas agora eu entendia completamente. Mesmo que Ibuki estivesse ausente na chamada, a Classe C não se importaria. Por isso Ryuen não se preocupava com seus colegas nem tentava encontrá-los.
— Você… gastou todos os seus pontos no primeiro dia, não foi? — perguntou Horikita.
Mesmo que você gastasse os 300 pontos que recebeu, não haveria penalidade. O efeito seria inexistente.
— Sim, como você disse. Usei todos os nossos pontos.
Sua estratégia era zerar os pontos para anular elementos negativos. Certamente inesperada, mas de alto custo. Sem pontos, a Classe C ficaria na classificação mais baixa. Mesmo que conseguissem adivinhar a identidade de todos os líderes das outras turmas, poderiam alcançar no máximo 150 pontos.
— Se Ibuki estiver com vocês, é melhor afastá-la. Se você ficar despejando sua simpatia estranha nela, terá mais uma pessoa para preparar água, comida e cama. De qualquer forma, se não aguentarem, ela pode voltar aqui. Se se rastejar no chão, eu a perdoo. Tenho um coração tolerante.
Ele perdoaria a desobediência dela se ela voltasse a ficar sob seu controle. Parecia bastante certo de que ela o faria. Sobreviver sozinha em uma ilha deserta por uma semana seria difícil para Ibuki.
— Que pensamento míope. Você está feliz agora gastando seus pontos, mas o que planeja fazer depois que a festa acabar?
— Hahaha. O que devo fazer, me pergunto? Bem, suponho que pessoas simples e comuns só podem ter pensamentos simples e comuns. Vocês estão desesperados para proteger os pontos que receberam. Correndo pelo bosque, tentando adivinhar os líderes, segurando lugares… Suando para nada. Absolutamente inútil.
Mesmo confrontado com os fatos, Ryuen riu, sem demonstrar qualquer sinal de pânico.
— Tudo bem. Vamos voltar, Ayanokoji-kun. Se ficarmos aqui mais um pouco, vou começar a me sentir mal.
— Até mais, Suzune.
— Não sei exatamente como descobriu isso, mas não me chame pelo meu nome assim tão casualmente.
Ryuen claramente havia investigado.
— Bem, eu gosto de mulheres decididas. Vou fazer você se submeter a mim eventualmente. Quando isso acontecer, será o prazer supremo.
Ao dizer isso, Ryuen tocou sua virilha por baixo da roupa de banho, claramente para provocar Horikita. Com olhos cheios de desprezo, ela virou as costas e se afastou. Quando comecei a correr atrás dela, parei para olhar um barco de passageiros ancorado no cais. Vi estudantes nadando no oceano, jogando vôlei e bandeiras de praia na areia, celebrando com churrascos. Também vi a barraca onde estavam estocando comida.
Ryuen parecia satisfeito em zombar das regras da escola.
— A Classe C é irrelevante. A auto destruição deles nos ajudará.
— Parece mesmo. Eles já gastaram todos os pontos, de qualquer forma.
Mesmo que tivessem alguns guardados, seriam apenas algumas dezenas. A ausência de dois estudantes na chamada engoliria esses pontos.
— Mal posso esperar para ver o que farão quando o problema chegar.
— Infelizmente, a Classe C provavelmente não enfrentará nenhum problema durante este teste.
— Por que não enfrentariam? Como suportariam o teste sem pontos?
— Esse era o objetivo original de Ryuen. Recebemos 300 pontos como fundo para aproveitar nossas férias por uma semana, o que não é impossível. Por mais que economizemos na comida, precisamos abrir mão de itens de luxo. A escola fez as regras de acordo com isso.
Horikita assentiu.
— Então, devemos tentar economizar onde pudermos.
— Sim. Mas Ryuen é diferente. Ele não consegue enxergar além do próprio nariz, quanto mais uma semana inteira.
— Ele não consegue enxergar além do quê agora?
— Suponha que o teste acabasse hoje. E então? Você acha que essa viagem se transformaria em férias perfeitas?
— Isso é… Bem, ok. E daí? Se você zerou os pontos—
— Isso é simples. Ele faria exatamente o que Koenji fez.
— Hã?
— O estado físico dele era ruim e ele estava mentalmente instável. Nesse caso, é melhor apenas se aposentar. Se todos fizessem isso, poderiam voltar ao barco de passageiros e seguir suas vidas. Era isso que queriam dizer com aproveitar totalmente as férias de verão: sem dificuldades.
Claro, a escola poderia nos impedir se fingíssemos doença. 300 pontos eram suficientes para uma viagem de uma noite e dois dias. Mas cedo ou tarde, a conta chegaria.
— Então ele realmente desistiu do teste desde o início? — murmurou Horikita.
Talvez fosse apenas uma teoria. Talvez Ryuen simplesmente odiasse coisas complicadas, ou quisesse evitar desgaste mental e preservar sua força física. Ou talvez quisesse melhorar o moral.
— O teste é literalmente sobre liberdade. O jeito de Ryuen é uma forma de encará-lo. Parece que Ibuki e outro estudante se rebelaram, e por isso a Classe C perderá vinte pontos por dia. Como ele sabia que perderia tantos pontos diariamente de qualquer forma, criou uma estratégia drástica.
Como eu não sabia quando Ryuen decidira gastar todos os pontos da Classe C, só podia supor.
— Precisamos pensar em uma forma de recuperar pontos sem desistir. Ryuen está absolutamente errado. Não consigo entendê-lo — disse Horikita.
Suponho que fosse verdade. Certamente não podíamos prever as ações de Ryuen, cujos planos provavelmente tinham um propósito muito incomum, se suas palavras anteriores fossem verdadeiras. Qualquer pessoa racional ficaria apreensiva diante de suas estratégias bizarras.
Após passarmos pela praia, olhei novamente para a costa.
— Uma estratégia de zero pontos, hein? Entendi. Isso é realmente interessante.
Se pudéssemos simplesmente neutralizar as opiniões discordantes de nossos colegas, seria um método bem curioso. Afinal, esse teste não era apenas sobre economizar pontos dentro do nosso grupo. Precisávamos de estratégia se quiséssemos vencer.
*
Para aproveitar de forma eficaz o tempo extra que tínhamos, decidimos conferir como estavam as Classes A e B. Entramos mais fundo na floresta, passando pelas raízes da grande árvore quebrada, exatamente como Kanzaki havia indicado. Pensando agora, porém, a árvore parecia ter sido quebrada propositalmente pela escola, servindo como ponto de referência. Isso sugeria que havia um local logo à frente.
No momento em que pisamos na parte mais densa da floresta, notei uma pequena mudança. As marcas de vários estudantes eram visíveis nesse caminho, o que facilitava a caminhada. Se simplesmente seguíssemos a trilha, provavelmente chegaríamos ao acampamento da Classe B. Talvez por isso Kanzaki não tivesse dado explicações detalhadas.
Até agora, de todas as provações nesta ilha, os mosquitos sugadores de sangue que atacavam braços e pernas eram os mais irritantes. Logo, chegamos ao acampamento base da Classe B.
— Bem, suponho que é exatamente o que se espera da Classe B…
O modo de vida deles era completamente diferente do nosso. A turma havia aproveitado o espaço de forma prática, com muitas árvores ao redor de um poço. Não tinham espaço suficiente para espalhar três ou quatro barracas, então fizeram bom uso do local pendurando redes. Apesar de termos começado de maneira semelhante, nossa turma escolheu itens completamente diferentes. Eu estava curioso com alguns equipamentos desconhecidos próximos ao poço, mas o que mais me surpreendeu foi a atmosfera do local.
— Hã? Horikita-san? E Ayanokoji-kun?
Alguém nos chamou, quase como se tivesse percebido a chegada de visitantes inesperados. Ichinose tentava amarrar uma corda em uma árvore para pendurar uma rede. Ela vestia uma camiseta esportiva, que combinava muito com ela, e parecia animada. Kanzaki estava sentado um pouco mais distante.
— Parece que a sua turma está funcionando bem, apesar dos obstáculos.
— Haha, sim. No começo foi realmente difícil! Mas tentamos várias coisas diferentes, e deu certo. Embora a lista de tarefas só continue aumentando. Ainda há muito trabalho a fazer — disse Ichinose com um grande sorriso.
— Desculpe se estamos atrapalhando.
— Ah, desculpe. Isso provavelmente soou como se eu estivesse tentando afastar vocês. Acho que tudo bem se ficarem por aqui um pouco. Provavelmente vieram me perguntar algo, não é?
Ichinose nos recebeu sem qualquer sinal de protesto. Ela nos convidou para sentar na rede, mas Horikita recusou a oferta, então Ichinose sentou-se sozinha.

— Estava pensando se talvez fosse vantajoso entrarmos em uma relação de cooperação provisória, como da última vez — disse Horikita.
— Acho que sim — respondeu Ichinose.
— Bem, quantos pontos vocês já gastaram até agora? O que compraram? Além disso, se pudessem nos informar o valor das ferramentas de vocês, isso ajudaria bastante. Nós, é claro, forneceríamos informações em troca — continuou Horikita.
Ichinose, com um sorriso, tirou um manual de uma bolsa próxima aos pés. Ela nos mostrou uma folha branca, que listava o que haviam comprado, e leu em voz alta:
— Redes. Utensílios de cozinha. Barraca pequena, lanterna e banheiro temporário. Vara de pesca, chuveiro de água… Se combinarmos esses itens com a comida que compramos, o total dá exatamente setenta pontos.
— O que é um chuveiro de água? Estou um pouco curiosa sobre isso — perguntou Horikita.
— Pelo nome, deduzi que tinha algo a ver com banho, mas como custava cinco pontos a menos que o chuveiro temporário, provavelmente não é tão eficaz — explicou Ichinose.
— Bem, vamos analisar a situação aos poucos, certo? Como há vários lugares na floresta onde podemos encontrar frutas e vegetais, podemos compensar a falta de pontos coletando comida. Também podemos ir ao mar pescar. Era isso que eu estava pensando para nossa alimentação. Não nos preocupamos com água, já que temos um poço — continuou Ichinose.
Ela nos levou até o poço e nos mostrou o sistema de polias usado para puxar o balde de água:
— No começo ficamos preocupados se a água era segura para beber, mas, ao observar o ambiente ao redor e os alimentos cultivados, determinamos que o poço devia estar seguro. Para ter certeza, tentei beber a água ontem. Esperei algum tempo e não senti nenhum mal-estar. A partir desta manhã, todos passaram a usar o poço para pegar água.
— Além disso, há água natural suficiente para usarmos em chuveiros. É isso que chamamos de chuveiro de água — explicou Ichinose, indicando um grande aparato ao lado do poço.
— Depois que colocamos água no reservatório, temos água quente em apenas alguns segundos. É muito prático. Usamos um botijão de gás como fonte de calor. Quando acabar, planejo pedir outro — continuou ela.
— Você já conhecia isso? Chuveiros de água, quero dizer — perguntou Horikita.
— Não. É a primeira vez que ouço falar ou uso isso. As regras da escola são meio assustadoras, não é? Não havia detalhes no manual, e não podemos perguntar a professora. Felizmente, temos alguns alunos familiarizados com atividades ao ar livre na nossa turma — respondeu Ichinose.
Ao lado do chuveiro de água havia um banheiro simples montado com uma barraca de toque único. Nada parecia estar dentro.
— Montamos este banheiro temporário em vez de uma sala de chuveiro. Conseguimos para que quem não gosta de ser visto ao tomar banho tivesse privacidade. O tecido também é impermeável — explicou Ichinose.
— Então vocês não têm problemas para dormir no chão duro? — perguntou Horikita.
— Ah, sim. No começo me perguntei o que íamos fazer, mas depois tomamos as medidas adequadas. Quer dar uma olhada? — respondeu Ichinose, guiando-nos até a barraca.
Ela levantou a aba inferior da barraca, revelando uma camada grossa de folhas de vinil com cerca de dois centímetros de espessura.
— Quando pagamos pelo banheiro temporário, nos disseram que teríamos acesso a um número ilimitado de folhas de vinil. Talvez eu tenha pedido demais, mas recebemos uma grande quantidade. Claro, não quero desperdiçar recursos, então planejo juntar qualquer folha não usada em uma só e devolvê-las no final — explicou Ichinose.
— Aliás, que precauções vocês tomaram contra o calor? Por algum motivo, parece mais fresco aqui… — perguntou Horikita.
— Talvez seja porque borrifamos água ao redor. Borrifamos água perto das camas, que ficam próximas ao poço. Colocamos um pouco de água nas garrafas de plástico que as pessoas bebiam e todos carregam para borrifar água eficientemente. A água é absorvida pelo solo facilmente e, como demora para evaporar, o efeito persiste e diminui o calor — respondeu Ichinose.
Ichinose e sua turma não estavam apenas confiando nas ferramentas; estavam fazendo bom uso do conhecimento para melhorar o acampamento. Depois de receber essas informações, Horikita explicou cuidadosamente nossa situação. Ela não omitiu nada, em nome da justiça.
— Entendo… Ter alguém se aposentando parece ter realmente prejudicado vocês.
— Sim. Há muita coisa que nos deixa apreensivos agora, mas temos que tentar superar.
— Entendo. Então, podemos continuar nossa relação de cooperação? Pensei que seria uma boa ignorar a regra sobre tentar descobrir a identidade do líder. O que você acha?
— Eu estava pensando que deveríamos falar sobre isso também. Se não precisássemos ficar de guarda nem mesmo por causa de uma única turma, ficaríamos muito agradecidos. Se não se importar, Ichinose-san, gostaria que aceitasse a proposta.
— Claro que tudo bem.
Depois que reafirmamos a troca mútua de informações e concordamos em manter uma relação cooperativa, Horikita suspirou com profunda admiração enquanto olhava ao redor. Havia aqui uma sensação de verdadeira solidariedade, sem nenhum desordem. Cada aluno cumpria seu papel. Além disso, todos pareciam desempenhar suas funções com satisfação. Normalmente, você encontraria alguém que odeia seu trabalho ou tenta se esquivar dele.
— Esta turma se organizou muito melhor do que eu poderia imaginar. Suponho que seja porque você está no comando, certo? — disse Horikita.
— Sim. Por enquanto, pelo menos.
Ichinose conseguira unificar sua turma tanto dentro quanto fora da escola.
— Há alguém na Classe D que consiga unir todos? É você, Horikita-san?
— Não. Mas temos um garoto chamado Hirata. Todos na classe se agrupam em torno dele.
— Ah, do clube de futebol! Eu o conheço, conheço! Ele é muito popular entre as meninas.
Horikita parecia desinteressada em falar sobre Hirata, então mudou de assunto.
— Ichinose-san, sinto muito ficar fazendo perguntas, mas queremos confirmar a situação da Classe A. Você pode nos dizer algo que nos ajude a achar o acampamento base deles? Até mesmo algo que você saiba sobre a área pode ser útil.
— Bem, se vocês aceitarem algo que possa ser útil, posso contar algo sobre o lugar deles. Mas obter informações será difícil.
Exatamente como eu esperava da Classe B… ou melhor, como esperava da Ichinose. Ela já havia pesquisado sobre a Classe A.
— Logo após atravessar esta área, há uma abertura. Vire à direita e siga em frente até ver uma caverna. Provavelmente é lá que fica o acampamento base da Classe A. Fui lá investigar pessoalmente, mas não sei com certeza. É porque eles são extremamente defensivos… ou melhor, reservados.
— Reservados? Que tipo de medidas a Classe A tomou?
— Honestamente, ver para crer. Se vocês observarem por conta própria, entenderão imediatamente. Já que vocês vão conferir a Classe A, isso significa que já conhecem a situação da Classe C?
— Sim. Acabamos de passar por lá. Eles estão fazendo coisas inacreditavelmente estúpidas.
— Eles aparentemente não têm intenção de levar este teste a sério. Restam cinco dias, e vão ficar sem pontos muito antes do teste acabar. Não consigo imaginar que conseguirão mudar a situação mesmo que entrem no "modo economia de pontos" imediatamente. Eles nem estão procurando um lugar. Não consigo entender.
Ichinose também parecia incapaz de encontrar uma explicação.
— Não dá para usar nenhum truque neste teste. Ryuen definitivamente gastou quase todos os pontos. Eles podem estar se divertindo agora, mas vão se arrepender depois.
Horikita deliberadamente não contou à Ichinose sobre o possível plano de retirada que eu havia discutido antes. Não achei que ela estivesse escondendo; provavelmente, Horikita determinou que Ichinose chegaria à mesma conclusão por conta própria.
— Com licença, Ichinose-san? Desculpe interromper. Você sabe onde está Nakanishi-kun? — perguntou um estudante do sexo masculino com voz bastante contida.
— Acho que Nakanishi-kun desceu para a praia. Por que pergunta?
— Pensei em oferecer ajuda. Não é necessário?
— Ah, não, de forma alguma. Fico muito feliz que tenha se oferecido, Kaneda-kun. Pode ir até lá e seguir o grupo da Chihiro-chan? Se disser que eu mandei você, está tudo certo.
— Certo. Muito obrigado!
Horikita parecia um pouco perplexa após observar aquela breve troca.
— Ele soou incrivelmente formal para um colega de classe, não?
— Ah, ele é…
— Um estudante da Classe C?
Falei antes que Ichinose pudesse terminar de responder. Ela confirmou com um aceno.
— Você o conhece? Parece que ele teve algum tipo de desentendimento com a Classe C. Ele disse que se viraria sozinho, mas não pude simplesmente deixá-lo. Ainda não perguntei sobre a situação dele.
Um estudante havia se afastado da Classe C por ter supostamente resistido a Ryuen. Parecia que a Classe B o havia acolhido. Talvez ele se sentisse envergonhado de sua situação, por isso ofereceu ajuda.
— Também recebemos um estudante ontem. Outro aluno que escapou da Classe C.
Horikita contou a Ichinose sobre seu encontro com Ryuen. Ela explicou sobre Ibuki, um dos alunos rebeldes que desafiou Ryuen apenas por fazer o que queria, e que Ibuki havia sido agredida. Ao ouvir isso, os olhos de Ichinose se endureceram, como se fortalecesse sua determinação de proteger sua turma.
— Acho que já está na hora de irmos, Ayanokoji-kun. Ficaremos atrapalhando a Classe B se demorarmos muito.
Nos despedimos, e Horikita e eu saímos do acampamento da Classe B.
— De modo geral, acho que estamos na mesma sintonia, mas eles estão à frente. Não posso negar — disse Horikita, depois que saímos e não havia mais ninguém por perto.
Suas palavras soaram como uma declaração de derrota. Minha impressão era a mesma que a dela. Havia uma grande diferença entre a D e a B, e não apenas nos pontos.
— Bem, acho que não há nada que possamos fazer. A Classe B simplesmente possui aquelas qualidades especiais que a Classe D não tem.
— Essa é a equipe, certo? A Classe B é superior porque está bem liderada, então, na hora de tomar decisões, eles não brigam nem se dispersam.
A Classe D tinha alunos egoístas como Koenji, que agiam por conta própria, e ninguém na nossa turma tinha poder de intervir. Enquanto isso, Ichinose uniu a Classe B, e não havia o menor sinal de desordem. Eles tinham um verdadeiro senso de unidade, provavelmente a maior diferença entre as Classes D e B naquele momento. Quanto mais esse conflito continuasse, mais evidente ficaria essa diferença.
*
Vimos uma abertura de caverna que parecia cortar profundamente a encosta da montanha, como a boca de um demônio. Havia dois banheiros químicos e um chuveiro perto da entrada.
— Não consigo ver direito o que há lá dentro…
Tentar confirmar o que havia na caverna mantendo distância parecia praticamente impossível. Nem Horikita nem eu conhecíamos alguém da Classe A. Mesmo que quiséssemos nos esgueirar, ficar escondidos e reunir informações, não chegaríamos a lugar algum. Eu ultrapassei Horikita e segui pela estrada em direção à caverna.
— E-Espera.
— Vamos. Quero dizer, é a Classe A, claro que vamos sentir medo. Não tem como evitar isso.
Horikita e eu seguimos em direção ao acampamento base.
— O que você está planejando? Não ganhamos nada nos expondo descuidadamente.
— E o que ganhamos tentando espionar do nosso esconderijo? Mal conseguimos enxergar, e não há ninguém por perto. Não veremos muito a não ser que entremos na caverna.
— Você está estranhamente calmo, não está? Tem algum plano em mente? — perguntou Horikita.
— Não pensei em nada. Vamos, não se preocupe.
— Ugh, que resposta incompreensível e preguiçosa.
Ela me lançou um olhar frio e assustador, mas finji não perceber. Naturalmente, alguns alunos da Classe A que estavam próximos à entrada da caverna nos notaram. Achei que ainda poderia salvar a situação, desde que conseguisse ver o interior da caverna.
No entanto, dentro da caverna havia várias lonas de vinil unidas, formando um grande toldo que bloqueava totalmente a visão. Eu não conseguia ver nada lá dentro.
— Quem são vocês? De que classe vêm?
Aquele cara era definitivamente um dos dois que haviam encontrado a caverna rapidamente no primeiro dia: Yahiko. O outro, o perspicaz Katsuragi, parecia estar ausente.
— Viemos espiar. Tem algum problema? — respondeu Horikita, de forma imponente. Era como se um interruptor ousado tivesse sido acionado em seu cérebro. Ela continuou: — Quero dizer, pensei que, sendo da Classe A, você seria esperto, mas…
Ela olhou para a lona cobrindo a entrada da caverna e soltou um suspiro forçado.
— Bem, ao invés de esperto, eu diria que você é dissimulado. Que métodos covardes.
— O quê?
Mesmo sendo óbvio que ela queria provocá-lo, Yahiko soou irritado, como se ela tivesse mexido com seus nervos.
— Eu sou Horikita, da Classe D.
— Hah, está óbvio que você é da Classe D. Vocês são um bando de fracassados estúpidos, afinal.
— Estúpidos, é? Nesse caso, não há problema em darmos uma olhada lá dentro, certo? Ou isso te deixa desconfortável?
— Não é nada disso!
— Então não há problema se olharmos? Você está no caminho.
— E-Espera! Ei! Espere, eu disse! Não façam o que quiserem!
Yahiko se posicionou à frente de Horikita para bloqueá-la, mas suas palavras foram interrompidas por Horikita.
— Vamos apenas olhar lá dentro. Isso por si só não é uma violação das regras, certo?
— Parem com essas brincadeiras. A Classe A ocupa este local. A Classe D não tem permissão para usá-lo!
— Ah é? Então vocês ocupam este lugar. Eu não sabia disso. Tem algum equipamento lá dentro?
— S-Sim. Então, saia do caminho.
— Bem, definitivamente não há nenhuma regra que diga que não podemos entrar na caverna. É verdade que não podemos usá-la enquanto está ocupada, mas isso não equivale ao direito de monopolizar o lugar. Devemos ter o direito de olhar dentro, ou pelo menos verificar se há equipamento, certo? Se não pudéssemos fazer isso, qualquer um poderia monopolizar à força qualquer ponto. Esse não é o objetivo deste teste.
— Hã?!
Seu argumento afiado perfurou Yahiko sem dificuldade. O cabelo de Horikita esvoaçava enquanto ela tentava levantar o véu que escondia a entrada da caverna. No entanto…
— O que vocês estão fazendo? Não me lembro de ter dado permissão para convidar visitantes.
Um garoto particularmente alto passou atrás de mim e seguiu em direção a Horikita. Definitivamente era…
— Katsuragi-san! Esses dois vieram bisbilhotar nosso acampamento! São um bando de perdedores imundos!
— Você está exagerando. É só vinil. Mostre-me um pouco.
Horikita, virando-se para encarar os dois rapazes, não parecia nem um pouco assustada.
— Então, tudo bem para vocês olharem lá dentro. Mas se preparem. No momento em que tocarem em qualquer coisa, notificarei a escola e reportarei suas ações como obstrução à outra classe. Não posso garantir o que acontecerá com a Classe D por causa disso.
Katsuragi provavelmente estava blefando. Havia pouquíssimas chances de sermos desclassificados por tocar em vinil. E, ainda assim, parecia haver algum perigo real escondido em suas palavras.
— Vocês estão monopolizando o controle do ponto à força. As regras não protegem ações assim.
— Você tem razão quanto a isso. Não posso contestar o ponto. No entanto, é uma espécie de regra não escrita. Vocês da Classe D têm um ponto perto do rio. A Classe B tem um poço. Vocês vivem nesse espaço e ao redor dele, então ele está parcialmente monopolizado. Vocês tomaram alguma medida enérgica contra intrusos que invadissem a área de vocês?
As palavras calmas de Katsuragi pararam Horikita no meio do caminho.
— Uma classe ocupa um ponto. Depois, continua protegendo esse ponto para obter pontos até o fim do teste. Se você violar essa regra não escrita, cria-se o caos. Naturalmente, a Classe A invadiria a base da Classe D em retaliação. Devemos evitar problemas.
Era possível ignorar o que ele disse, mas não conseguíamos. Como Katsuragi disse, as outras turmas tinham inconscientemente ocupado uma área cada uma. Se quebrássemos essa regra, nossos problemas aumentariam. Horikita virou-se nos calcanhares e se afastou da caverna.
— Muito bem. Estou ansiosa para ver os resultados e as habilidades da Classe A.
— Somos bastante capazes. Também esperamos coisas de vocês, Classe D. Quero dizer, suas lutas inúteis.
Depois dessa breve troca, Horikita ficou sem ação. Se Katsuragi não tivesse aparecido, provavelmente ela teria avançado e atravessado a lona para o outro lado.
— Yahiko, não responda a provocações baratas. O objetivo dela era forçar a entrada e dar uma olhada. Se vocês mostrarem superioridade moral, o outro lado vai recuar.
— D-Desculpe.
Eles haviam tirado de Horikita todas as opções, exceto a de recuar. Maravilhoso, maravilhoso.
— Parece que teremos que deixar a Classe A em paz. Definitivamente não podemos investigá-los.
Uma vez que reivindicaram o ponto, esconderam grande parte dele atrás de uma parede quase impenetrável. No entanto, apesar de seus esforços, conseguimos extrair algo dessa interação.
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CAPÍTULO ATUALIZADO!
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