Volume 2
Epílogo: A Única Solução
O SOL DE VERÃO, pendurado no céu, brilhava de forma ofuscante. A cada passo que eu dava pelo caminho arborizado até a escola, meu corpo gritava em agonia. O suor escorria pelo meu rosto. Uma estudante animada passou correndo ao meu lado e me ultrapassou. Ela certamente parecia cheia de energia. Ou talvez fosse apenas louca? Eu, provavelmente, não correria nem se o apocalipse viesse atrás de mim.
Logo além das árvores, onde a luz filtrava pelas folhas, uma aluna solitária estava sentada, apoiada no corrimão. Ela olhou na minha direção. Como podia essa garota tão bonita combinar tão bem com a paisagem ao redor? Por um instante, pensei em registrar aquela cena idílica em uma fotografia. No entanto, não tive coragem de tirar uma foto dela.
— Bom dia, Ayanokoji-kun.
— Estava esperando alguém, Horikita?
— Sim. Estava esperando por você.
— Se queria me confessar seus sentimentos, talvez fosse melhor simplesmente dizer as palavras.
— Você é idiota? — ela cuspiu, com desdém. Eu me senti ainda mais quente.
— Tudo será decidido hoje — eu disse.
— É.
— Estive pensando… talvez eu tenha cometido um erro. Feito a escolha errada…
— Ficaria feliz se tivéssemos nos comprometido? — Eu não queria pensar nisso, mas Horikita continuou:
— Se o Sudou-kun for penalizado por isso, será minha responsabilidade.
— Então você se preocupa com esse tipo de coisa, hein?
— A verdade é que estamos apostando tudo. Estou um pouco ansiosa com o resultado. E você, está bem?
— Temos a estratégia que você propôs ontem. Ichinose também estará lá. Vamos dar um jeito.
Dei um leve tapinha no ombro de Horikita e continuei andando.
— Ei…
— Hm?
— Nada. Depois que resolvermos esse caso… — respondeu Horikita, como se tivesse algo a dizer, mas fechou a boca antes de continuar.
*
Notei uma mudança assim que entrei na sala de aula. Sakura, que normalmente chegava à escola por um triz, já estava sentada em sua carteira. Teria vindo cedo por algum motivo específico?
Horikita também pareceu surpresa ao vê-la ali. Além disso, a própria linguagem corporal de Sakura… Bem, ela parecia a mesma de sempre, mas havia algo diferente — uma postura mais ereta, como se estivesse pronta para algo. Era uma diferença tão sutil que mal se podia chamá-la de mudança. Tão mínima que, se me dissessem que era coisa da minha cabeça, eu provavelmente concordaria e deixaria pra lá.
Quando estávamos prestes a passar pela carteira dela, Sakura levantou o olhar. Em vez de um cumprimento formal, levantou timidamente a mão. Para alguém como ela, parecia uma reação apropriada.
Pelo menos até que—
— Hm… Bom dia, Ayanokoji-kun. Horikita-san.
— B-Bom dia…
Foi a primeira vez que Sakura nos cumprimentou de manhã. Fiquei tão surpreso que minha resposta engasgou na garganta. Nossos olhos não se encontraram, mas ela ainda assim se esforçou para pronunciar as palavras.
— O que deu nela? — murmurou Horikita.
— Talvez, por causa do que aconteceu ontem, ela tenha dado um passo rumo à vida adulta?
Sakura, que raramente falava diante dos outros, havia testemunhado com coragem em um ambiente tenso. Provavelmente, essa experiência a fez refletir sobre si mesma.
— As pessoas não mudam tão facilmente. Tentar mudar a si mesmo é praticamente impossível — disse Horikita, de forma breve, mas realista, destruindo a bela imagem que eu acabara de formar. Como eu também não era idealista, achei que ela estava, em grande parte, certa.
Ainda assim, não seria verdade dizer que Sakura estava exatamente igual. Para mudar, primeiro era preciso querer mudar. E ela queria. Disso eu não tinha dúvidas.
— Contanto que ela não exagere, acho que vai ficar tudo bem — disse Horikita.
— Exagerar?
— Se tentar fazer algo que ainda não é capaz, só vai acabar fracassando.
Havia um poder misterioso e convincente nas palavras de Horikita, como se falasse por experiência própria.
— Bem, vindo de uma solitária que ama o isolamento, é um argumento bastante persuasivo.
— Quer morrer de verdade?
Talvez ela não viesse da solidão, mas sim do inferno…
Observei Sakura de longe. Ela ainda não estava pronta para cumprimentar os outros com naturalidade. Como eu esperava, não se tornara sociável de um dia para o outro. Seria melhor se ela não se forçasse? Provavelmente. Ela não costumava falar com ninguém, mas hoje nos cumprimentou. O que para os outros seria uma ação trivial, para ela representava um imenso esforço físico e mental.
Era difícil imaginar que isso não a afetaria. Por outro lado, se tentasse se forçar demais a mudar, poderia acabar se despedaçando. Teríamos que ter cuidado com a forma como executávamos nossa estratégia.
*
Demorou aproximadamente trinta minutos para a discussão começar. Levantei-me e comecei a sair da sala, a caminho de um certo ponto de encontro. Antes de ir embora, decidi trocar uma palavra com a Sakura.
— Sakura. Você vai voltar agora? — perguntei enquanto ela se preparava para ir embora.
— Ayanokoji-kun… Hoje tem o julgamento.
— Eu não vou participar.
Disse que precisava cuidar de uns trabalhos triviais nos bastidores.
— Entendo… — murmurou ela.
Sakura abaixou o olhar, como se tivesse algo na cabeça. Estava meio estranha, parecia nervosa. Era como se não conseguisse se acalmar.
— O que houve?
— Hã?
— Sakura, você não precisa depor hoje. Não precisa ficar tão agitada, certo?
Sakura parecia estar suando.
— É que todo mundo está se esforçando. Achei que eu também devia me esforçar.
Parecia que dizia aquilo mais para si mesma do que para mim.
— No que você está pensando? — perguntei.
— Bom, se há algo que eu preciso fazer para seguir em frente… eu faço.
Mesmo depois de eu perguntar, Sakura não deu uma resposta clara. Queria perguntar por que ela estava inquieta, mas o celular no meu bolso vibrou. O alarme me avisou as horas. Eu não podia ficar mais.
— Até mais, Ayanokoji-kun.
As palavras e o sorriso brilhante de Sakura pareciam tão diferentes dela. Ficaram deixando um gosto desagradável.
— Ei, Sakura. Você tem tempo mais tarde? Queria conversar sobre uma coisa.
As palavras saíram meio que espremidas. Sakura balançou a cabeça delicadamente.
— Tenho planos hoje. Talvez amanhã?
Se ela me assegurava que estava tudo bem, eu não podia ir contra isso. Eu realmente precisava ir. Virei as costas para Sakura e me afastei.
Já passava das 15h40. Com as aulas encerradas, fui até o prédio especial. O lugar vinha ficando cada vez mais quente e úmido conforme o verão avançava. Se tudo fosse conforme o combinado, a pessoa que eu esperava deveria chegar em breve. Pouco depois, apareceram três caras, todos resmungando sobre como o calor estava insuportável. Mesmo assim, pareciam contentes, com expressões otimistas.
Isso porque os três haviam recebido e-mails da queridinha da classe, Kushida. Teria a mensagem sido um convite para um encontro? Ou, ainda mais insano, uma declaração de amor? Devem ter sonhado com essas coisas. Quando me viram, seus devaneios foram por água abaixo.
— O que está acontecendo? Por que você está aqui?
Ao que parecia, lembraram-se de mim da sala do conselho estudantil. Ishizaki, o líder do grupo, avançou como quem queria me intimidar. Ele era bem mais arrogante quando não havia ninguém por perto.
— A Kushida não vai aparecer. Pedi que ela mandasse um e-mail para forçá-los a vir.
Ishizaki estava com uma cara incrivelmente mal-humorada, aproximando-se de nós.
— Isso não é engraçado. Por que você fez isso?
— Se eu não tivesse usado um método ardiloso, vocês me ignorariam, não é? Queria falar com vocês.
— Falar com a gente? Por que faríamos isso? O calor fritou seu cérebro ou quê?
Ishizaki, claramente afetado pelo calor, puxava a camisa e abanava-se.
— Não importa o que tentem fazer, não vão esconder a verdade. O Sudou nos chamou aqui e nos bateu. Essa é a nossa versão. Agora ele que aceite sua punição caladinho.
— Não tenho intenção de discutir. Seria perda de tempo. Sei muito bem que nem a Classe C nem a D vão retomar o que disseram ontem.
— Então por que isso? Vai nos sequestrar para fazer perdermos o julgamento? Ou vai cercar a gente com uma turma e nos ameaçar de violência? Vai ser igual àquela vez com o Sudou.
Interessante ideia — pensei —, mas só valeria como medida paliativa. Ameaças desse tipo não funcionariam com aquelas pessoas. Pelo contrário: pareciam que até acalentariam a situação. Se fossem vítimas de outro ataque, provavelmente tirariam vantagem da circunstância.
— Só desistam. Até mais.
Percebendo que Kushida não apareceria, os três se viraram para ir embora, mas outra pessoa ficou no caminho.
— Acho que vocês deveriam repensar essa ideia, na verdade.
Ichinose, que tinha estado esperando todos os atores desse drama, avançou silenciosamente.
— I-Ichinose?! O que você está fazendo aqui?! — Os garotos da Classe C ficaram chocados. Dada a aparição inesperada de alguém da Classe B, o espanto era compreensível.
— Como? E se eu dissesse que estou envolvida nesse caso?
— Ichinose, você é famosa.
— Haha. Bom, acho que sou conhecida entre os membros da Classe C.
Como os estudantes da Classe C não esperavam que ela se envolvesse, parecia que a tensão entre eles aumentava. Eles claramente começavam a perder a compostura.
— Esse incidente não tem nada a ver com a Classe B, certo? Então fiquem de fora…
Mas, ao contrário do que fizeram comigo, as ameaças soavam fracas. Soavam como um pedido desesperado para se livrar da situação.
— Vocês estão certos ao dizer que a Classe B não tem nada a ver com isso. Mas o que acham de envolver tantas pessoas nas suas mentiras?
— Nós não mentimos. Somos vítimas. O Sudou nos chamou aqui e nos bateu. É a verdade.
— Pois os malfeitores continuam obstinados até o fim. Já passou da hora de pagar o preço! — declarou Ichinose, fazendo um amplo gesto com o braço direito. — Vocês mentiram. Todos nós enxergamos isso. No fim, partiu para a violência. Se não querem que isso venha a público, retirem a acusação agora mesmo.
Mesmo sem ter explicado todos os detalhes, senti que as coisas ficariam bem nas mãos competentes de Ichinose.
— Hã? Retirar a acusação? Não me faça rir. O quê, você pensou nisso enquanto cochilava? Não dá pra inventar uma história e achar que ela vira verdade. Foi o Sudou quem começou a briga. Certo? — Ishizaki olhou para os dois comparsas, que responderam prontamente:
— Isso mesmo! Isso mesmo!
— Sabem que esta escola é uma das instituições mais prestigiadas e reconhecidas pelo governo do Japão, não é?
— Claro que sabemos. É por isso que tentamos entrar aqui.
— Nesse caso, deveriam usar um pouco mais a cabeça. As suas intenções estavam óbvias desde o começo, não acham? — Ichinose sorriu, falando com mais entusiasmo, quase se divertindo com a situação. Caminhou lentamente em direção aos três enquanto falava, como uma detetive famosa revelando o verdadeiro culpado no clímax de uma investigação.
— Não acharam estranha a reação da escola a esse incidente?
— Hã?
— Quando levaram o caso à direção, por que o Sudou não foi punido imediatamente? Por que dar a ele a chance de escapar, concedendo um prazo de alguns dias? Qual vocês acham que foi o motivo disso?
— Porque ele mentiu pra escola e implorou por misericórdia. Se não tivessem dado esse tempo só por formalidade, nós — as vítimas — teríamos vencido.
— Será mesmo? Ou será que o objetivo era outro?
As janelas do corredor estavam todas fechadas. O sol, ainda alto no céu, brilhava com força sobre nós, aumentando o calor e a umidade.
— Não faço ideia do que você tá falando. Ah, droga… tá quente demais! — A capacidade de pensar — ou melhor, de se concentrar — diminui conforme o calor aumenta. É impossível raciocinar logicamente ou pensar com clareza fora de um ambiente confortável. Quanto mais conteúdo se tenta forçar na mente, mais sobrecarga o cérebro sofre.
— Dane-se, tô indo embora. Vou ferver se ficar aqui.
— Tem certeza de que quer fazer isso? Se for embora agora, pode se arrepender pelo resto da vida.
— O que você quer, Ichinose? — Eles claramente não compreendiam o que ela estava insinuando.
— Não entenderam ainda? A escola sabe que vocês estão mentindo, Classe C. Sabe desde o começo. — Aquela declaração os pegou de surpresa. Nenhum deles havia imaginado algo assim. Ishizaki e os outros se entreolharam por alguns segundos antes de rirem, debochados.
— Não me faça rir. A gente mentiu? E a escola sabe disso?
— Hahaha. Vocês são hilários — disse Ichinose. — Estiveram dançando na palma da minha mão o tempo todo.
— Boa tentativa, Ichinose. Mas não vai nos enganar com esse blefe!
— Eu tenho provas — respondeu ela, sem se abalar com as ameaças de Ishizaki.
— Ah, é? Então mostre. Quero ver que provas você tem…
Eles, é claro, achavam impossível que tivéssemos qualquer prova. Mesmo após a declaração de Ichinose, continuavam firmes, confiantes. Porém, quando ela começou a falar, o destino deles já estava selado.
— Sabem que há câmeras de segurança instaladas por toda a escola, não sabem? É uma medida que adotaram para monitorar nossas atividades diárias.
— Sabemos. E daí? — Pareciam não se importar. Ishizaki e os outros reagiram com indiferença.
— Ora, então… não perceberam nada? — Ichinose olhou para um ponto próximo ao teto, mais adiante no corredor. Ishizaki e os outros seguiram seu olhar.
— Hã? — A incredulidade transpareceu em suas vozes. Uma câmera de segurança estava presa à parede, girando lentamente de um lado para o outro, registrando tudo.
— Que pena, não é? Se queriam armar uma cilada pra alguém, deveriam ter feito isso num lugar sem câmeras.
— Q-Quê? Que câmera?! Você tá mentindo! Mas… não havia câmeras nos outros corredores, certo?! É estranho só ter uma aqui! Não é?! — Ishizaki olhou para os comparsas, buscando apoio. Eles assentiram, confirmando que ele tinha razão, enquanto limpavam o suor do rosto.
— Não vai nos enganar. Vocês mesmos instalaram essa câmera!
— É verdade que, em geral, não há câmeras na maioria dos corredores deste prédio. No entanto, há exceções — e vários lugares contam com vigilância, como em frente à sala dos professores e ao laboratório de ciências. É natural, já que a sala dos professores guarda muitos objetos de valor, e o laboratório contém substâncias químicas perigosas. Como o laboratório fica neste andar, é óbvio que haveria uma câmera aqui.
Pela primeira vez, Ishizaki e os outros ficaram sem palavras. Ichinose, atenta, não deixou de notar como hesitaram.
— Deram uma olhada ali atrás? Tem outra, não tem? — Ishizaki e seus companheiros olharam para o fim do corredor, conforme ela indicou — e viram outra câmera, voltada para o lado oposto.
— Então, se fôssemos nós que tivéssemos instalado as câmeras, como disseram, teríamos colocado uma do outro lado também? E mais: como poderíamos instalar equipamentos de vigilância se nem sequer podemos sair do campus? — Íamos cortando todas as rotas de fuga deles, uma a uma.
— I-I-Isso é impossível… A gente… quer dizer, nós… conferimos antes… Devia… devia não ter…
— Este é o terceiro andar. Vocês realmente verificaram? Ou será que só olharam o segundo e o quarto? Talvez as câmeras tenham sido mesmo instaladas aqui — como uma armadilha.
Os três seguravam a cabeça, suando em bicas.
— Além disso, perceberam que acabaram de se condenar, certo? Pessoas normais nem pensariam em verificar se havia câmeras de segurança. Isso é praticamente admitir a culpa.
Ichinose deu o golpe final.
Mesmo sem ter explicado todos os detalhes, eu sabia que, nas mãos de Ichinose, tudo ficaria bem.
— E-Então… naquela hora… não pode ser… — murmurou um deles.
— As câmeras de segurança não gravam som — disse Ichinose calmamente —, mas com certeza registraram o momento decisivo em que vocês deram o primeiro soco.
As mangas de seus uniformes estavam completamente encharcadas de suor. Ichinose passou a vez para mim. Ora, ora… talvez tivesse sido melhor se tivessem conversado comigo desde o início, hein?
— A escola está esperando, não está? Vão lá e contem a verdade. Depois de conceder o prazo, o próprio presidente do conselho estudantil perguntou se vocês tinham mentido. Se pensarem bem, não percebem que o conselho já tinha visto tudo? — Os três provavelmente tentavam desesperadamente se lembrar do que havia acontecido naquela reunião. É claro que o conselho estudantil não havia descoberto a mentira. Mas tinham dúvidas sobre quem falava a verdade. Se os alunos da Classe C interpretassem aquela pergunta como direcionada a eles, soaria bastante convincente.
— I-Isso… ninguém me contou nada disso! Já era! — Komiya desabou. Encostou-se na parede e escorregou até os joelhos. Kondou levou as mãos à cabeça. Pareciam finalmente entender o que estava acontecendo — ou quase. Ishizaki, no entanto, ainda resistia.
— E-Espera um pouco! Ainda não estou convencido! Tá, digamos que as câmeras tenham mesmo gravado algo. Nesse caso, vocês poderiam provar a inocência do Sudou sem precisar fazer nada, certo? Não havia necessidade de nos chamar aqui pra dizer isso. Era só mostrar as imagens no julgamento. Mas vocês fizeram questão de nos reunir aqui, não é?
— Inocência? Depende do que se trata essa inocência. Sabemos que ambos os lados saíram feridos no incidente. Independentemente das circunstâncias, o Sudou acertou vocês três. Isso é inegável. É claro que, se as câmeras provarem que não foi o Sudou quem os chamou até aqui, ele provavelmente receberá a punição mais leve possível. Mesmo assim, sua posição no time de basquete ainda estará ameaçada. Pode acabar impedido de participar dos torneios.
O suor escorria da testa de Ishizaki como uma cachoeira. Nós também estávamos com calor, mas ainda em situação muito melhor. Quanto mais os encurralávamos, mais a temperatura deles subia.
— Que diabos… Se for como vocês dizem, então as filmagens não serão problema nenhum! Estaremos bem, desde que o Sudou seja suspenso, nem que seja por um único dia!
— Se isso acontecer, vocês podem ser expulsos. Estão bem com isso? — Claramente, eles não tinham pensado nessa possibilidade. Não percebiam o dilema em que estavam.
— Se alguém verificar as filmagens, suas mentiras serão expostas. E se isso acontecer, é bem provável que sejam expulsos. Qualquer um perceberia isso.
— O quê?!
— E-Espera, por que expulsos? Você não disse que a gente mentiu! — protestou Kondou, a voz fraca, quase implorando.
— A escola está nos testando. Quer ver se somos capazes de resolver problemas, e quais conclusões tiramos. Não acham que isso combina com todo o caso até agora?
— Mas… eu não quero ser expulso!
— E-Ei, Ishizaki! Ainda dá tempo de dizer que mentimos! Se fizermos isso, talvez a escola nos perdoe!
— Droga… Isso é absurdo. Admitir que mentimos? Tudo bem, então! Se o Sudou for punido, estou disposto a aceitar o pior castigo possível! Um sacrifício honrado! O Sudou estará acabado!
Em outras palavras, Ishizaki não recuaria. Estava decidido a seguir até o fim.
— Ainda é cedo para tirar conclusões. — Ichinose manteve a voz firme. — Vamos dar uma última chance a vocês. Há apenas uma maneira de salvar tanto a Classe C quanto a Classe D.
— Nem pensar! — gritou Ishizaki.
Se o incidente existisse de fato, seria impossível salvar todos. Nesse caso, a melhor opção seria fazê-lo "não existir".
— Há apenas um jeito de resolver isso. Digam à escola que querem retirar a queixa. Se fizerem isso, as gravações não serão mostradas. Sem denúncia, não há punição. Além disso, se o vídeo nunca vier à tona, a Classe D também sai ganhando. Afinal, se as imagens fossem usadas, o Sudou ainda sofreria algum tipo de punição. Ou seja, as Classes C e D podem chegar a um acordo. A escola não pode investigar algo que não precisa assistir, certo?
— A-Ahh… Só… só me deixa fazer uma ligação…
Com o semblante destruído, Ishizaki tirou o celular do bolso. Mas Ichinose o deteve com firmeza. Não o deixaria pensar. Precisávamos encerrar aquilo ali mesmo.
— Já que não estão colaborando, não temos escolha. Vamos pedir para a escola verificar as gravações agora mesmo — e vocês serão expulsos.
Assenti em silêncio. Kondou e Komiya agarraram os braços de Ishizaki.
— Vamos, Ishizaki. Vamos aceitar a ideia da Ichinose!
— E-Espera! Se eu não confirmar com aquela pessoa, vai dar ruim… — murmurou ele.
— Já perdemos! Eu não quero ser expulso! Por favor, Ishizaki!
— Droga! Tá bem… Nós vamos retirar! Vai ficar tudo bem se retirarmos!
Ishizaki caiu de joelhos.
— Ótimo. Então vamos agora mesmo à sala do conselho estudantil. Iremos juntos.
Seguimos para a sala do conselho estudantil, com os três alunos da Classe C cercados por nós. Se tirássemos os olhos deles por um segundo sequer, poderiam tentar pedir ajuda a alguém. Quando finalmente chegamos, empurramos os três para dentro.
Horikita havia preparado tudo de forma impecável.
*
— Ufa! Agora sim, me sinto muito melhor! Muito obrigada! — exclamou Ichinose, radiante. — Obrigada por me dar um papel tão importante! Fiquei tão feliz!
— Bem, foi mais como se você tivesse feito o que quis, Ichinose — respondi.
— Hahaha, é… acho que sim. Mas o caso está encerrado, né?
Estava mesmo.
— Eu estava me perguntando o que você estava aprontando quando me pediu para emprestar alguns pontos ontem — comentou, enquanto voltávamos ao prédio especial, quente e úmido, onde montamos uma escada portátil. — Eu não podia acreditar que você queria instalar câmeras de segurança — disse ela, rindo.
Isso mesmo. A escola, na verdade, nunca havia instalado aquelas câmeras. Ichinose e Kanzaki as compraram e, junto com o Professor, as instalaram durante o intervalo do almoço. Ishizaki e os outros dois alunos ficaram apavorados com a ideia de que as filmagens pudessem ser divulgadas, mas as câmeras… eram falsas.
Fiquei surpreso ao descobrir que a própria escola vendia esse tipo de equipamento. Por outro lado, embora não fossem destinadas à vigilância, podiam ser úteis para medições e gravações — em outras palavras, ferramentas de estudo. Talvez fosse mais adequado chamá-las de câmeras de rede, e não de segurança.
O calor tinha comprometido a capacidade de raciocínio dos alunos da Classe C. Estavam em modo de crise, sem tempo para pensar com clareza. Além disso, sentiram-se psicologicamente pressionados durante o confronto. Não havia como perceberem que estávamos blefando. Mesmo que tivessem desconfiado, não teriam tido tempo para verificar.
— Quando esse dia chegar, vocês provavelmente serão rivais formidáveis para a Classe B, Ayanokoji-kun — disse Ichinose, sorrindo.
— Se esse dia realmente chegar, acho que sim — respondi.
Mas talvez, até lá, Ichinose já estivesse na Classe A.
— Se a Horikita-san estivesse na Classe B, talvez já tivéssemos alcançado a Classe A — comentou ela.
— Provavelmente — concordei.
Retirei a câmera falsa e a entreguei a Ichinose, que segurava a escada para mim.
— Vou devolver os pontos que peguei emprestados, com certeza. É só me avisar quando quiser recebê-los.
— Tudo bem. Contanto que devolva até a formatura, está ótimo. Então, o que vai fazer agora? Vai esperar em frente à sala do conselho estudantil?
— Provavelmente.
De repente, lembrei-me de Sakura. Ela havia dito que tinha planos para hoje… mas o que estaria fazendo, afinal? Mais cedo, quando me esperava depois da aula, o que será que queria me dizer? Pelo seu olhar determinado, parecia ter tomado uma decisão. Tinha dito que havia reunido coragem — mas para quê?
Um incômodo percorreu minha cabeça, como se um formigamento me impedisse de pensar direito, enquanto as dúvidas se agitavam.
— Ah, é verdade, lembrei! Tinha uma coisa que eu queria te dizer, Ayanokoji-kun — disse Ichinose, abrindo um sorriso.
Mas antes que ela pudesse continuar, eu já estava correndo. O que quer que fosse, teria que esperar.
— Hã?! E-Espera um minuto! — gritou ela atrás de mim.
Sem entender nada, Ichinose acabou me seguindo — por pura curiosidade ou impulso, nem ela saberia dizer.
*
O rastreamento do meu celular mostrava o ponto exato: a entrada da loja de eletrônicos. Ichinose, sem se deixar abater, veio correndo atrás de mim e ficou colada ao meu lado. Quando nos aproximamos do local, eu já estava completamente sem fôlego e precisei parar para recuperar o ar. Só por precaução, fiz sinal para que ela ficasse em silêncio.
— Por favor, não entre mais em contato comigo!
— Por que você diria algo assim? Você é o meu tesouro… Desde a primeira vez que te vi em uma revista, eu me apaixonei. Quando te encontrei de novo aqui, achei que fosse o destino. Eu te amo… Não consigo parar de sentir isso por você!
— Pare… Por favor, pare com isso! — gritou Sakura.
Ela tirou algo da bolsa — cartas. Pareciam dezenas… não, centenas de cartas. Quantas aquele homem teria enviado?
— Como você sabe o número do meu quarto? Por que continua mandando isso?
— Por quê? É claro que eu saberia o número e enviaria as cartas! É porque nossos corações estão conectados!
Sakura provavelmente vinha sofrendo desde o início do ano letivo. Seu fã havia descoberto sua identidade e ela precisava lidar com a atenção dele todos os dias. Mas agora, cansada, ela havia decidido se libertar. Graças à sua recém-descoberta coragem, resolvera cortar tudo de vez ali, naquele instante. Agora eu entendia o que ela tinha decidido fazer.
— Por favor, pare com isso. Está me incomodando!
Ela jogou o maço de cartas no chão, rejeitando de vez aquele amor não correspondido.
— Por quê…? Por que faria algo assim? Mesmo depois de eu ter escrito todos os meus sentimentos pra você!
— N-Não chegue mais perto!
O homem avançou em direção a Sakura com uma intensidade assustadora, como se estivesse prestes a atacá-la. Segurando o braço dela à força, a empurrou contra a porta metálica da loja fechada.
— Eu vou te mostrar o quanto te amo agora… Assim você vai entender, Sakura.
— Não, me solta!
Ichinose puxou minha manga. Pelo visto, não podíamos mais ficar assistindo. Eu queria esperar até termos uma prova definitiva do assédio, mas não havia escolha. Peguei o braço de Ichinose, e entramos em cena fingindo ser um casal de delinquentes. Enquanto passávamos, tiramos várias fotos com os celulares, o som dos cliques ecoando no ar.
— Olha só, pegamos eles! Um velho tarado atacando uma colegial! — exclamei, em um tom que mal reconheci como meu.
— Hã?!
Sakura ficou completamente atônita ao ouvir minha voz naquele tom de delinquente. Foi incrivelmente constrangedor, mas eu mantive a atuação.
— Uuuh, "Homem adulto assedia estudante colegial"! Já consigo ver as manchetes de amanhã — vai ser um escândalo enorme!
— N-Não! Vocês estão errados! Isso é um engano!
— Hmmm, não parece errado, não é? — respondeu Ichinose, entrando na encenação com um tom cruel. — Tá bem com cara de escândalo, se quer saber.
O homem, agora em pânico, se afastou rapidamente de Sakura — mas nós já estávamos preparados com as câmeras em mãos.
— Errado? Acho que não. Uau, olha só esse monte de cartas… Que nojo. Você é um stalker, é isso?
Ela fez uma careta e beliscou uma das cartas com a ponta dos dedos, como se pegasse uma meia suja de outra pessoa.
— Vocês estão enganados! É só que… bem, ela disse que queria aprender a usar uma câmera digital, então eu me ofereci pra ensinar, só nós dois! Foi só isso!
— Hmmm…
Cheguei mais perto e o encostei com força contra a porta metálica.
— Eu e minha namorada vimos tudo. Tiramos fotos. Se você chegar perto dessa garota de novo, ou mandar mais uma dessas cartas nojentas, nós vamos expor tudo. Entendeu?
— Hahahaha! Do que você está falando? Eu… eu realmente não sei do que você está falando!
— Não sabe? Não vem com essa, velho. Se você tocar nela ou até olhar de novo pra essa idol, vai ser o seu fim. Eu acabo com você. Entendido?
— E-EEk!
Depois que ele perdeu completamente a vontade de reagir, deixei um tempo para que pudesse fugir.
— T-Tchau! Eu nunca mais vou fazer isso!
O funcionário da loja correu de volta para dentro, desesperado para se afastar de nós. Com a fonte do seu medo finalmente desaparecida, Sakura pareceu desabar. Seu corpo fraquejou e ela quase caiu, então a segurei pelos braços.
— Você foi muito bem — disse eu, suavemente.
Tudo o que eu havia dito a ela antes agora parecia desnecessário. Ela havia tentado enfrentar o próprio sofrimento sozinha — e isso merecia respeito.
— Ayanokoji… kun… Por que você está aqui? — perguntou ela, a voz trêmula.
— Ainda bem que trocamos nossos contatos — respondi, mostrando o celular, que exibia a localização dela.
— Acho que… no fim, eu não consigo fazer nada sozinha — murmurou Sakura, abatida.
— Não é verdade. Foi incrível o jeito como você jogou aquelas cartas no chão — apontei para o monte de papéis coloridos espalhados por toda parte.
— Ei, ei, quem é essa pessoa misteriosa que vocês estavam falando? — perguntou Ichinose, inclinando a cabeça. — Alguma idol?
— Isso é… — comecei, mas hesitei. Eu não queria esconder nada de Ichinose, mas também não podia falar sem a permissão de Sakura.
Sakura então me olhou e assentiu levemente.
— A Sakura aqui era uma idol no ensino fundamental. O nome artístico dela era Shizuku.
— Hã?! Uma idol?! Uau, que incrível! Ela é uma artista de verdade! Uuuh, aperta minha mão, aperta minha mão! — exclamou Ichinose, empolgada como uma criança.
— Mas eu nunca apareci na TV nem nada… — respondeu Sakura, corando de vergonha.
— Mesmo assim, que demais! Eu nunca pensei em virar idol ou coisa do tipo.
Eu não sabia disso. Achei que a Ichinose tinha rosto e corpo para aquilo… Não, melhor dizendo: achei que ela tinha as qualidades necessárias.
— Quando você percebeu, Ayanokoji-kun? — perguntou Sakura.
— À pouco tempo. Desculpe. Outras pessoas da classe também perceberam.
Como ela acabaria descobrindo, decidi contar logo.
— Acho que, na verdade, estou até feliz com isso… Era difícil continuar fingindo.
Se essa situação permitiu que Sakura finalmente tirasse a máscara, então foi coisa boa.
— De qualquer forma, você foi muito corajosa. Eu teria que intervir se algo acontecesse.
— Haha… É, você provavelmente tem razão. Eu tava com tanto medo.
A garota que ontem chorara abertamente na minha frente agora ria de um jeito meio esquisito — ria à beira das lágrimas.
— Ayanokoji-kun… Não me olha com esse olhar estranho.
— Olhar estranho?
— Esquece, não é nada. — Sakura não explicou, mas sorriu, um sorriso levemente feliz. — Você acha que todo mundo notaria se eu viesse pra aula sem óculos e mudasse o cabelo?
— Acho que existe a possibilidade de as pessoas na escola entrarem em pânico quando perceberem... mas acho que tudo ficará bem.
De repente imaginei uma garota linda e uma multidão de espectadores avançando para vê-la. Ela tinha um ar gentil, qualidades que naturalmente fariam os garotos se aglomerarem ao redor.
— Uau… Você fica incrivelmente fofa! Sem os óculos dá uma impressão totalmente diferente!
Parece que Ichinose havia procurado por Shizuku no telefone. Ela ficou empolgada com o que encontrou. Mesmo que o incidente com o Sudou pudesse ter colocado nossa turma em risco e revelado nossa falta de união, pelo menos deu a Sakura uma chance de crescer. Talvez, no fim, tudo valesse a pena.
Espere. Eu realmente não era do tipo de pessoa que pensava desse jeito. Ou talvez devesse dizer que eu não sabia ao certo que tipo de pessoa eu era. Será que isso era o "eu real"? Fiquei um pouco confuso.
— Desculpe. Ficar tanto tempo em silêncio.
— Não precisa pedir desculpas. Não precisamos falar se você não quiser. Mas penso que agora temos um tipo de relação em que podemos conversar. Se você estiver sofrendo ou se sentir perdida, pode falar comigo. Deve também conversar com a Horikita e com a Kushida.
Atrás de mim, Ichinose se jogou teatralmente, exagerando o gesto.
— Ou seja, você quer dizer "pode falar comigo". O que exatamente quer dizer com isso? — provocou Ichinose.
Eu não tive resposta.
— Entendi — murmurou Sakura.
— Ah, eu também vou ajudar — disse Ichinose. Embora não conhecesse muito bem Sakura, sorriu para ela.
— Eu sou a Ichinose, da Classe B. Prazer em conhecê-la, Sakura-san.
Sakura hesitou por um instante, mas apertou a mão estendida de Ichinose.
— A propósito, você não queria me contar algo lá no prédio especial há pouco? — perguntei, lembrando-me da conversa com Ichinose.
— Ah, é verdade. Tinha algo importante que eu queria falar com você.
Ichinose respirou fundo e assumiu uma expressão séria.
— Talvez eu não devesse falar isso agora, mas… havia alguém por trás de toda essa história do Sudou — alguém puxando as cordas.
— Puxando as cordas?
Como Ichinose estava tão seriamente séria, não parecia apenas um palpite.
— Para falar a verdade, já houve conflito entre alunos da Classe B e da Classe C antes. Naquela ocasião, a escola não se envolveu. Um tal de Ryuen-kun orquestrou aquilo.
— Ryuen? Não reconheço o nome.
— É porque ele ainda não viu razão para se revelar. Não é alguém que você devesse conhecer.
Ichinose, que geralmente parecia tão vibrante, agora estava sombria e tensa.
— Eu sou a mais vigilante entre os calouros. Acho que ele armou o Sudou pra parecer um mentiroso e instigou o conflito com a Classe B. Foi tudo obra dele. Ele não hesita em ferir os outros em prol de seus interesses. É um adversário formidável.
— Quando a Classe B teve problemas, você conseguiu resolver tudo pacificamente?
— De certa forma, sim. Mas se eu olhar como um jogo, não sei dizer se ganhei ou perdi… De qualquer modo, como o que ele planejou desta vez era mais fácil de enxergar, comecei a entender como a escola é estruturada. Tomem cuidado.
Eu não sabia quem era esse tal de Ryuen, mas sem dúvida era um adversário perigoso — alguém capaz de arquitetar estratégias cruéis que poderiam nos levar à expulsão caso errássemos um único passo.
— Então, se algo acontecer, pode vir falar comigo. Procure-me sempre que precisar.
— Certo. Vou lembrar disso.
*
Chegamos à sala do conselho estudantil dez minutos antes do início da deliberação. Tachibana-san era a única outra pessoa presente. Não havia sinal dos demais alunos, nem do meu irmão mais velho.
— Putz, tô tão nervoso. E você, Horikita? — perguntou Sudou.
— Estou como sempre.
O caso seria concluído hoje. Eu sabia que não seria fácil, especialmente para mim. Eu havia afirmado que Sudou era completamente inocente — e, se a estratégia falhasse, tudo teria sido em vão. Achei que valeria a pena insistir, por isso elaborei esse plano durante o período extra.
Se desse errado, a coisa provavelmente se transformaria numa batalha verbal, cheia de insultos. No fim, o resultado seria certamente pior do que o acordo proposto na sessão anterior. Sudou-kun passaria a me odiar então. Bem, estaria apontando o dedo para quem não devia. Ainda assim, teria de acolher as reclamações dele, pois o recurso ao conselho era minha responsabilidade.
Também havia a possibilidade de, se Sudou quisesse, buscarmos um meio-termo. Eles provavelmente tentariam reduzir a suspensão ao máximo; se isso virasse o centro da negociação, talvez conseguíssemos aliviar a pena dele.
Reconciliar seria outra palavra para derrota. Mas, se o próprio interessado desejasse, não teríamos alternativa.
Pouco depois, as portas da sala do conselho se abriram. Meu coração dobrou o ritmo. Meu irmão… As palavras emperraram no meu peito e não saíam. Mesmo sabendo o que devia fazer, senti-me atacada: tremores, nervosismo, tontura. Não podia repetir os erros de ontem.
Desviei o olhar do meu irmão. Havia outros adversários que eu deveria encarar.
— Oh, que curioso. Vejo que o garoto de ontem não veio — comentou alguém.
Entraram o professor da Classe C, Sakagami-sensei, seguido de Chabashira-sensei.
— O que houve com o Ayanokoji, Horikita? — ela perguntou.
— Ele não vai participar.
— Não vai participar?
Chabashira-sensei olhou para a cadeira vazia, com expressão desconfiada. Parecia preocupar-se com a ausência dele, como se o processo perdesse o sentido sem sua presença. Não exatamente sem sentido, mas… tive a vaga sensação de que aquilo confirmava a participação de Ayanokoji-kun em algo.
— Mesmo que ele não esteja aqui, o resultado será o mesmo.
Não queria admitir aquilo, mas apontei a frase como quem sacode uma sombra.
— Bom, tanto faz. Vocês que decidam.
Os dois professores tomaram seus lugares. Começaríamos a deliberação assim que os alunos da Classe C chegassem. Quando isso ocorresse, como se desenrolaria a batalha? Simples: contestaríamos o que o outro lado dissesse, reafirmaríamos que estavam mentindo e desbancaríamos suas mentiras antes de afirmar que éramos nós os que dizíamos a verdade. Era desse embate entre verdade e mentira que se tratava. Poderíamos trocar argumentos à vontade, mas só haveria uma solução.
Finalmente apareceram os estudantes da Classe C — todos suando, como se tivessem corrido.
— Chegaram por pouco — disse Sakagami-sensei, suspirando aliviado. — Bem, retomaremos as deliberações deste caso de onde paramos ontem. Por favor, sentem-se.
Tachibana-san pediu que se sentassem, mas eles não se moveram; permaneceram diante de Sakagami-sensei, em pé.
— Podem, por favor, sentar-se? — pediu ela novamente, mas os três continuaram imóveis.
— Erm… Sakagami-sensei?
— O que foi?
Não era só comigo: todos perceberam que aquilo era estranho.
— Seria possível não realizar este julgamento? — perguntou um deles.
— Como é que é…? O que você quer dizer com isso? — Sakagami-sensei ergueu-se, surpreso com o pedido inesperado.
— Querem chegar a um acordo? Ou já fizeram algo nesse sentido? — Meu irmão fitou os três garotos com olhar cortante; eles, por sua vez, balançaram a cabeça em uníssono, indicando que não — não queriam compromisso.
— Chegamos à conclusão de que não estávamos apontando algo útil sobre quem estava realmente errado. Nossa queixa foi um equívoco. Por isso, gostaríamos de retirá-la.
— Vão retirar a queixa? — Chabashira-sensei riu, exibindo um sorriso fino, como se aquilo a divertisse.
— O que há de engraçado, Chabashira-sensei? — Sakagami-sensei não gostou da atitude dela; lançou-lhe um olhar de irritação.
— Desculpe — respondeu ela, ainda sorrindo. — É que não esperava por isso. Achei que argumentaríamos o dia inteiro até uma das partes ceder ou até encontrarmos um compromisso aceitável. Inacreditável: eles disseram que querem retirar a queixa.
— Professores, membros deste conselho estudantil, lamentamos por tomar seu tempo. Após cuidadosa consideração, chegamos a essa conclusão.
O apelo enérgico dos três demonstrava determinação. Parecia que Ayanokoji-kun e Ichinose-san haviam conduzido tudo muito bem. Procurei manter a calma, sem deixar transparecer o alívio.
— Vocês não podem simplesmente aceitar isso. Não fizeram nada de errado. Foi o Sudou-kun quem iniciou tudo com intimidação e violência unilateral. Vão ficar sentados aí sem reagir?
Como se tivesse percebido algo, Sakagami-sensei virou-se para nós com um olhar carregado de raiva — seus olhos fixos em Sudou-kun e em mim.
— O que vocês fizeram? Ameaçaram meus alunos com violência para que retirassem a queixa?
— Hã?! Não fala besteira, eu não fiz nada! — respondeu Sudou, indignado.
— Não há como meus alunos retirarem a denúncia por vontade própria. Digam a verdade. Se fizerem isso, talvez possamos resolver de outro modo.
— Sakagami-sensei… vamos retirar a queixa, independentemente do que o senhor diga. Nossa decisão não vai mudar.
Sakagami-sensei, incapaz de compreender as palavras de seus alunos, abaixou a cabeça e sentou-se novamente.
— Se desejam retirar a denúncia, aceitaremos. É raro cancelar uma deliberação no meio de um caso, mas é possível — disse meu irmão mais velho, o presidente do conselho estudantil, tentando manter a compostura.
— Espera aí. Não tô entendendo. Por que vocês tão retirando a queixa do nada? — Agarrei o braço de Sudou-kun antes que ele dissesse algo que não devia.
— Horikita?
— Cala a boca.
Não havia tempo para explicações, então puxei Sudou-kun com força e o fiz sentar-se.
— Se desejam retirar a queixa, não temos intenção de contestar. Aceitamos.
Eu podia entender a frustração de Sudou por ter sido levado a julgamento com base em uma mentira, mas, se a queixa fosse retirada, não haveria vencedores nem perdedores. Esse era o resultado que buscávamos.
— No entanto — disse meu irmão, com voz firme —, de acordo com o regulamento, será necessário o pagamento de uma pequena quantia em pontos para cobrir as despesas administrativas do processo. Alguma objeção?
Era a primeira vez que ouvíamos algo do tipo. Os alunos da Classe C pareceram surpresos, mas chegaram rapidamente a um consenso.
— Entendido… Nós pagaremos.
— Muito bem. As deliberações estão encerradas. Consideremos esta discussão finalizada.
Enquanto aguardávamos o desfecho oficial desse encerramento repentino, perguntei-me quem poderia ter previsto tal resultado. Nesse instante, percebi Chabashira-sensei lançando-me um sorriso audacioso.
— Sudou-kun — disse eu —, você não será mais suspenso. A escola não o considerará um aluno-problema. A partir de hoje, poderá participar normalmente das atividades do clube. Certo? — Olhei para Chabashira-sensei, buscando confirmação.
— Claro. O mesmo vale para os alunos da Classe C, naturalmente. O entusiasmo da juventude é uma boa qualidade. Mas, da próxima vez que pensarem em causar problemas, lembrem-se deste incidente. Não se esqueçam, entendido? — Ela enfatizou o aviso, olhando para ambos os lados. Sudou-kun parecia insatisfeito, mas acabou assentindo. Suponho que a alegria de poder jogar basquete novamente superasse qualquer descontentamento. As ações de Kushida-san e Hirata-kun também seriam recompensadas.
Sakagami-sensei deixou a sala lentamente, acompanhado de seus alunos. Assim que a porta se fechou, ouvi o som dele começando a pressioná-los por respostas. Mas isso já não importava. Era improvável que tivéssemos de lidar com outra apelação absurda como aquela.
— Fico feliz por você, Sudou — disse Chabashira-sensei, com um tom raro de gratidão.
— Heh, é claro!
— Pessoalmente, acho que você merecia ser punido — acrescentou ela, de maneira cortante. Suas palavras atingiram Sudou-kun, que ainda estava radiante com a vitória. — Esse incidente só aconteceu por causa do seu comportamento. Quem mentiu ou quem disse a verdade é irrelevante. O importante é garantir que algo assim não volte a acontecer. Entendeu?
— É… entendi.
— Mas admitir seus erros não é "ser legal". Mesmo que saiba que seu temperamento teve parte da culpa, você prefere bancar o durão, quer ficar mais forte. Tudo bem. Mas, se continuar assim, nunca fará amigos de verdade. Eventualmente, Horikita vai te abandonar. Ela vai te deixar.
— Isso é… — Bem, eu não diria que éramos exatamente amigos.
— Há força em admitir os próprios erros, Sudou.
Pela primeira vez, Chabashira-sensei parecia estender a mão a um de seus alunos como verdadeira professora. Acredito que Sudou-kun tenha compreendido, ainda que de forma inconsciente. Ele abaixou a cabeça, afundando na cadeira.
— Eu entendi… Se eu não tivesse agido daquele jeito desde o início, não teria batido neles. Nada disso teria acontecido. Eu sabia disso, no fundo.
Quando tudo começou, ele insistia apenas que a Classe C tinha mentido, nada mais.
— Sempre briguei do jeito que quis, só pra me satisfazer. Mas agora… é diferente. Eu sou da Classe D. Minhas ações pessoais afetam todo o grupo. Agora eu sei disso de verdade…
Talvez Sudou carregasse mais ansiedade e estresse do que deixava transparecer.
— Eu não vou causar mais problemas, sensei. Horikita.
Foram as primeiras palavras realmente arrependidas que ouvi de Sudou-kun. Será que Chabashira-sensei ficou surpresa? Se ficou, não devia. Mesmo que ele tivesse entendido, continuava sendo Sudou. Uma pessoa não muda da noite para o dia.
— Não faça promessas tão facilmente. Logo vai causar confusão de novo.
— Tch!
A professora, perspicaz quanto às falhas dele, rejeitou sua promessa sem rodeios.
— E você, Horikita? Acha que Sudou vai se tornar um aluno exemplar?
— Não, não acho — respondi sem hesitar. Mas havia mais a dizer. — No entanto… Sudou-kun com certeza deu um passo à frente hoje. Ele admitiu seus erros. Então, tenho certeza de que amanhã crescerá ainda mais.
— É… acho que sim — murmurou ele.
— Fico feliz em ouvir isso, Sudou. Parece que a Horikita ainda não te abandonou.
— Não, eu já o abandonei. Só não vou permitir que ele saia fazendo o que quiser.
— O-O que isso quer dizer?! — Sudou-kun coçou a cabeça e sorriu, como se tivesse se livrado de um grande peso. — Bem, eu vou nessa. Tenho atividades do clube. Até mais, Horikita.
Com essas palavras, Sudou-kun saiu apressado da sala em direção ao corredor. Ele não parecia arrependido. Definitivamente voltaria a nos causar problemas em breve. Era um incômodo.
— Posso ir embora agora, Chabashira-sensei?
— Espere um momento. Quero conversar com você, Horikita. Vocês dois, saiam primeiro.
Chabashira-sensei pediu que meu irmão mais velho e Tachibana-san deixassem a sala. Quando eles se foram, ela pareceu bastante interessada, cruzando os braços sobre a mesa.
— Então. Que métodos você usou, Horikita?
— Como assim?
— Não tente desviar da pergunta. Eles não retirariam a reclamação sem um motivo, certo?
— Vou deixar isso para a sua imaginação.
Tínhamos fabricado uma mentira porque estávamos encurralados.
— Então é um segredo, hmm? Bem, deixe-me mudar a pergunta. Quem elaborou a estratégia que derrotou a Classe C?
— Por que a senhora quer saber?
— Ayanokoji não está aqui, então fiquei um pouco curiosa.
Chabashira-sensei parecia obcecada por Ayanokouji-kun desde o início do ano letivo. Agora eu conseguia entender um pouco o motivo.
— Não quero admitir isso, mas o Ayanokoji-kun... pode ter algo de excepcional.
Surpreendi-me ao dizer isso, pois soava quase como uma admissão de derrota. No entanto, nossa vitória não teria sido tão decisiva sem ele.
— Entendo. Então você reconhece isso, hmm?
— É surpreendente? Foi a senhora quem me colocou junto com o Ayanokoji-kun, Chabashira-sensei. Fez isso porque percebeu o potencial dele, não é?
— Potencial, é?
— Embora ele tente esconder suas habilidades fingindo ser um idiota, por algum motivo misterioso.
Sim, ele era realmente incompreensível. Eu não conseguia encontrar sentido em tal comportamento. Provavelmente era apenas absurdo.
— Há várias coisas a se considerar. Mas, se quer chegar à Classe A, vou te dar um conselho.
— Um conselho?
— Os alunos da Classe D têm algum tipo de defeito, em maior ou menor grau. Para usar uma expressão comum nesta escola, a Classe D é um grupo formado por "produtos defeituosos". Você entende isso muito bem, não é?
— Não pretendo admitir que tenho um defeito. Mas entendo.
— Pois bem. O que você acha que é o defeito de Ayanokoji?
O defeito de Ayanokoji-kun... Uma coisa me veio imediatamente à mente.
— Já estabelecemos isso. Ele mesmo sabe qual é o próprio defeito.
— Oh? E qual seria?
— Ele "não gosta de confusão" — respondi com confiança. No entanto, senti um estranho desconforto que não soube explicar.
— Ele não gosta de confusão, hmm? É isso o que você percebe ao observá-lo?
— Não... É o que ele mesmo disse.
Chabashira-sensei bufou e deu uma risadinha. Em seguida, falou com um tom firme:
— Bem, Horikita. Vamos tentar descobrir o máximo possível sobre esse garoto chamado Ayanokoji, e rápido, está bem? Caso contrário, será tarde demais. Você já parece ter caído na armadilha dele.
— O que quer dizer com isso?
Caído na armadilha dele? Que absurdo.
— Por que você acha que Ayanokoji tirou exatamente 50 pontos em todas as matérias no exame de admissão? Por que acha que ele está te ajudando? Por que acredita que ele não se apresenta como um aluno exemplar, apesar de ter habilidades superiores? Será que Ayanokoji Kiyotaka é mesmo alguém que "não gosta de confusão"?
— Isso é...
Se ele realmente quisesse priorizar a paz e a tranquilidade, por que tiraria 50 pontos em todas as matérias, atraindo tanta atenção? Será que ele se envolveu neste incidente de propósito? Talvez devesse ser monitorado com cuidado, como muitos outros alunos. Como Chabashira-sensei disse, o comportamento dele não combinava com o de alguém que "não gosta de confusão". Essa percepção inconsciente devia ser a causa do desconforto que senti antes.
— Na minha opinião pessoal, Ayanokoji é o aluno mais defeituoso da Classe D.
— O mais defeituoso?
— Produtos de alto desempenho são mais difíceis de lidar. Se você interpretar mal a forma de lidar com ele, a classe pode ser completamente destruída em pouco tempo.
— Chabashira-sensei, a senhora realmente entende o que nele pode ser considerado um defeito?
— Conheça o indivíduo chamado Ayanokoji. O que ele está pensando? Em que baseia suas ações? Qual é sua falha fatal? Há definitivamente uma resposta aí.
Por que Chabashira-sensei estava me dizendo tudo isso? Como professora responsável, normalmente ela parecia indiferente e alheia à própria turma. Mas, se até alguém tão desinteressada pensava assim, então...
Chabashira-sensei não disse mais nada.
*
Esperei do lado de fora da sala do conselho estudantil até que a reunião terminasse. Os alunos da Classe C e o professor Sakagami saíram primeiro, seguidos por Sudou algum tempo depois. Ele estava com uma expressão alegre e radiante.
— Parece que deu tudo certo — eu disse.
— Cara, eu nem entendi direito o que aconteceu, mas a Horikita fez alguma coisa por mim. Certo? — Assenti com a cabeça.
— Eu sabia! Sabia que ela ia resolver tudo por minha causa. Hehehe. — Ele parecia genuinamente feliz. — Bem, tenho que ir pro clube. A gente devia fazer uma festa hoje à noite.
— É.
Os próximos a sair foram o presidente do conselho estudantil e a secretária Tachibana.
— Bom trabalho.
Achei que trocaríamos apenas uma saudação rápida, mas o presidente parou e se virou para mim.
— Aprovei o pedido da Classe C para retirar a queixa.
— É mesmo? — respondi. — Bem, acho que milagres acontecem.
O irmão Horikita manteve-se imóvel, olhando diretamente nos meus olhos. Eu não conseguia decifrar o que ele estava pensando.
— Então tudo isso foi para provar que a Sakura não era uma mentirosa, como você disse? Suponho que, com a Classe C retirando a queixa, os boatos se espalhem naturalmente. Se o Sudou e a Sakura não eram os mentirosos, então a Classe C era.
— Sua irmãzinha lidou bem com a situação. Eu não fiz nada.
— Se essa é sua resposta, fico impressionado. Mesmo sendo uma história simples.
A sempre imperturbável Tachibana bateu palmas suavemente.
— Tachibana, ainda temos uma vaga de secretário?
— Sim. Um aluno do primeiro ano da Classe A se inscreveu outro dia, mas foi rejeitado na primeira entrevista.
— Ayanokoji. Se você quiser, eu te nomearei para o cargo.
Fiquei surpreso, mas a secretária Tachibana pareceu ainda mais chocada do que eu.
— P-Presidente do conselho estudantil... o senhor fala sério?
— Você desaprova?
— N-Não. Se é o que deseja, não tenho objeções. Mas…
— Nah, eu detesto coisas trabalhosas. Além disso, participar do conselho estudantil não é brincadeira. Quero ter uma vida escolar normal — respondi.
A expressão de surpresa de Tachibana se intensificou ainda mais.
— Hã?! Você tá recusando um convite do presidente do conselho estudantil?!
— Bem, eu simplesmente não faço nada que não me interesse...
Eu não fazia o que não queria fazer. Além do mais, não havia motivo algum para me convidarem para o conselho estudantil.
— Vamos, Tachibana.
— S-Sim.
O interesse deles por mim pareceu se esgotar com minha recusa, e eles se foram. Pouco tempo depois, Horikita e Chabashira-sensei apareceram. Chabashira-sensei apenas me lançou um olhar breve antes de sair sem dizer nada.
— Yo — cumprimentei, levantando a mão, mas fui recebido com um olhar feroz de Horikita, o mais intenso que já havia visto. No entanto, ela logo voltou à sua expressão neutra.
— Quais foram os resultados? — perguntei.
— Você já deve saber, não é? — respondeu ela.
— Fico feliz em ouvir isso. Parece que sua estratégia funcionou bem.
— Ei, Ayanokoji-kun... eu sou apenas sua marionete?
— Minha marionete? Do que está falando?
— Ayanokoji-kun, foi você quem mencionou as câmeras de segurança nas salas de aula. Depois, me levou até o prédio especial e me fez perceber que lá não havia câmeras. Então, me guiou até a ideia de criar provas falsas, para separar a verdade da mentira... Pensando agora, só consigo ver as coisas dessa forma.
— Você está exagerando. Foi apenas coincidência.
— Quem é você, afinal?
— Como assim, quem eu sou? Sou apenas um cara que não gosta de confusão, certo?
Percebi que me envolvi demais dessa vez. Precisava refletir sobre isso. A sempre perspicaz Horikita provavelmente percebeu o que eu estava pensando, ao menos em parte. Eu tinha que diminuir o ritmo. Só queria viver em paz aqui.
— Alguém que não gosta de confusão. Se é assim—
Enquanto Horikita começava a falar, um aluno se aproximou de nós. Aquela não era uma conversa que queríamos que alguém ouvisse, então ficamos em silêncio. Esperamos ele passar, mas o garoto parou bem à nossa frente. Não foi por acaso.
Ele tinha cabelo preto, um pouco comprido, e parecia ter mais ou menos a minha altura — talvez um pouco mais alto. Lancei um olhar de lado e percebi que ele sorria amplamente. Um sorriso sinistro.
— Instalando câmeras? Você realmente fez algo engraçado, hein? — disse o garoto, sem sequer se virar totalmente para nós.
— E você é...? — perguntou Horikita, visivelmente incomodada.
— Da próxima vez, eu serei seu oponente. Estou ansioso por isso.
O garoto seguiu em frente sem responder à pergunta dela. Não conseguimos ver claramente seu rosto. Apenas ficamos ali, observando em silêncio enquanto ele se afastava.
— Bem. Vou voltar agora — disse eu. Tive a sensação de que seria melhor não sermos vistos juntos, e virei as costas para Horikita.
— Espere. Ainda não terminamos de conversar, Ayanokoji-kun.
— Eu já terminei.
Continuei andando sem olhar para trás.
— Você prometeu, lembra? Prometeu que me ajudaria a alcançar a Classe A.
— Você meio que me forçou a isso. E também ajudou o Sudou nesse caso, não ajudou?
— Não é isso que quero dizer. Quero saber o que você está pensando.
— Estou pensando "que coisa irritante" e "não tenho motivação nenhuma pra isso". Coisas assim. É nisso que estou pensando. Mesmo que você retire o que acabou de dizer, Horikita, eu pretendo viver minha vida aqui de forma tranquila. Quer busquemos a Classe A ou não, é só isso.
Eu esperava que essa resposta a satisfizesse, mas Horikita não parecia disposta a ouvir.
— Se você realmente odiasse chamar atenção, não se esforçaria tanto para se envolver. Você diz ser alguém que "não gosta de confusão", afinal. Mesmo assim, age de forma evasiva e ambígua, ajudando-me. Por quê?
Presumi que essa mudança no comportamento de Horikita fosse obra de Chabashira-sensei. Provavelmente era ela quem estava puxando as cordas por trás disso. Não me surpreenderia se soubesse sobre o meu passado.
— Achei que deveria ajudar os primeiros amigos que já tive. Provavelmente.

Se continuasse falando, acabaria dizendo algo desnecessário. Acelerei o passo.
A essa altura, cheguei a uma conclusão absoluta: se Horikita realmente almejava chegar à Classe A, isso seria impossível nas circunstâncias atuais.
Recebemos uma declaração de guerra de um sujeito aparentemente conhecido como Ryuen. Aquilo poderia ser apenas o começo de um ataque astuto, ousado e implacável. Era provável que ele se tornasse um inimigo vigilante, sempre em nosso caminho daqui em diante.
Depois havia Ichinose e Kanzaki, da Classe B. Dois indivíduos competentes que avançavam com passos pequenos, porém certeiros. Ichinose, especialmente, devia ter uma série de planos alinhados em sua ambição de alcançar o topo — muito além do que eu poderia imaginar. Era impossível compreender completamente como tínhamos chegado a essa situação, ou entender seus métodos e processos.
Eu não sabia o que ela queria, mas seus objetivos, sem dúvida, seriam um enorme obstáculo para nós. Em outras palavras, era justo dizer que tentar alcançar a Classe A em três anos era um sonho impossível. Mesmo que tentássemos enfrentar tudo isso de frente...
— Ugh! — Deixei escapar um som involuntário.
Eu realmente era um idiota.
Por que eu estava me envolvendo tanto nisso? Comecei, por conta própria, a analisar a Classe D e considerar as possibilidades. Eu não queria isso. Afinal, foi ela quem escolheu essa escola, não eu. Horikita e Ichinose eram as que almejavam o topo — não eu.
Tudo o que eu queria era uma vida escolar comum, tranquila, em que nada de especial acontecesse. Caso contrário... eu simplesmente não conseguiria.
Eu me conhecia melhor do que ninguém. Sabia o quão defeituoso e tolo eu era. Eu era uma pessoa horrível.
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