Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 2

Capítulo 4: Cada Uma das Intenções

FALTAVA APENAS um dia para a reunião entre Sudou e a Classe C.

Com a cooperação de Horikita e o testemunho de Sakura, além das ações de Kushida e Hirata, toda a nossa turma se sentia animada e corajosa. Pode-se dizer que estávamos unidos. No entanto, era óbvio que nos faltavam provas firmes e irrefutáveis, e ainda seria difícil provar a inocência de Sudou. Nossa deliberação decidiria o resultado.

— Cara, hoje tá quente mesmo…

Nunca pensei tanto sobre o aquecimento global quanto naquele momento, ao sair de um prédio com ar-condicionado funcionando. Considerando que provavelmente sofreria todos os dias até agosto, meu ânimo permanecia baixo. No instante em que saí do saguão do meu dormitório, o ar quente e úmido me atingiu. Enquanto suportava a dor da pele queimando, caminhei pelo caminho até a escola, ladeado por árvores verdes e frondosas.

Algo estava diferente hoje, no entanto. Havia algo no quadro de avisos, próximo ao patamar da escada, um pouco à frente dos armários de sapatos. Um papel no quadro dizia que estavam procurando estudantes com informações relacionadas a Sudou e à Classe C.

— Isso…

Claramente, alguém estava tentando ajudar. Era sinceramente apreciado, porque nem havíamos pensado em tomar tais medidas. Essa pessoa misteriosa era alguém de ação. Além disso, embora o cartaz em si pudesse parecer um esforço fraco, o autor também escreveu que estaria disposto a dar pontos aos informantes úteis. Nesse caso, até os estudantes apáticos prestariam atenção. Ao ler a mensagem, fiquei bastante impressionado…

— Bom dia, Ayanokoji-kun! — chamou Ichinose por trás de mim.

Ela devia ter acabado de chegar.

— Vi o papel no quadro de avisos. Foi você quem colocou, Ichinose?

Ichinose se juntou a mim para olhar o quadro. Ela parecia profundamente interessada.

— Hmm. Entendi, entendi. Então existe esse método também.

— Hã? Isso não foi você?

Eu tinha certeza de que aquela seria a estratégia dela.

— Isso provavelmente foi—Ah, ele chegou! Bom dia, Kanzaki-kun.

Ichinose levantou a mão e acenou para um estudante sozinho. O garoto percebeu Ichinose e se aproximou com passos silenciosos.

— Foi você quem colocou isso, Kanzaki-kun?

— Sim. Eu fiz e coloquei na sexta-feira. Tem algum problema?

— Ah, não. Não é isso. Meu amigo aqui só queria saber quem tinha feito. Ah, vou apresentá-los. Kanzaki-kun, da Classe B, este é Ayanokoji-kun, da Classe D.

— Prazer em conhecê-lo, Kanzaki.

Sua postura era rígida, mas parecia ser um estudante sério. Ele era alto e magro. Um garoto bonito, mas de um jeito diferente de Hirata. Apertei sua mão estendida.

— Como vai, Kanzaki-kun? Conseguiu alguma informação confiável?

— Infelizmente, não recebi nenhuma informação útil.

— Entendo. Bem, que tal olharmos o quadro de avisos?

— O quadro de avisos? Você colocou outro cartaz?

Ichinose usava um sorriso discreto, indicando que se tratava de outra coisa.

— Você já conferiu o site da escola? Tem um quadro de mensagens lá. Pedi para que as pessoas compartilhassem informações por lá. Disse que, se alguém tivesse presenciado um incidente violento na escola, gostaria de saber.

Depois de dizer isso, Ichinose nos mostrou a tela do celular. Havia uma mensagem procurando testemunhas, além de uma contagem de quantas pessoas haviam visto. O número exibido ainda estava apenas nas dezenas, mas era muito mais eficiente do que perguntar diretamente às pessoas. Além disso, a mensagem no site oferecia recompensa para testemunhas e quem fornecesse informações úteis.

— Ah, sobre a questão dos pontos, não se preocupe. Decidimos fazer isso por conta própria. Além disso, provavelmente será difícil conseguir novas informações agora. Ah!

— O que aconteceu?

— Parece que acabei de receber duas mensagens sobre o post. Pode haver algumas informações.

Ichinose conferiu o celular para confirmar. Depois de ler as mensagens, um leve sorriso surgiu em seu rosto.

— É assim mesmo.

Ela me mostrou o celular para que eu pudesse ler a mensagem por conta própria.

— Parece que um dos garotos da Classe C, Ishizaki-kun, era uma má influência no ensino fundamental. Ele era bom de briga e aterrorizava a vizinhança. Provavelmente algum garoto da cidade dele vazou isso.

— Interessante — murmurou Kanzaki, também lendo a mensagem.

Assim como Kanzaki, achei a informação bastante interessante. Todos tinham presumido que os três estudantes com quem Sudou brigou eram apenas alunos normais. No entanto, se eles também eram problemáticos, então a história mudava completamente. Quanto aos outros dois, serem jogadores de basquete significava que provavelmente tinham boa coordenação motora. Ainda assim, Sudou conseguiu virar o jogo e derrotá-los sem levar um único golpe. Eu não pude deixar de sentir que havia algo de incomum nisso.

— Kanzaki-kun, o que você acha?

— Talvez eles tenham deixado Sudou bater neles de propósito. Se os três quisessem armar uma armadilha para Sudou, a história faria todo sentido. A conexão parece natural.

— É, eu também acho. Sabia que você ia descobrir, Kanzaki-kun. Ótimo trabalho. Se conseguirmos verificar essa informação, podemos estar um passo mais perto de provar a inocência de Sudou-kun. Mas o que temos ainda é bem fraco, não é?

— Sim. Mesmo que consigamos convencer as pessoas com essa nova evidência, ainda estamos só na metade do caminho. O fato de ter sido uma briga tão unilateral coloca muita pressão sobre nós.

Sudou provavelmente não queria assumir parte da culpa junto com os outros. Nenhum dos lados queria ser responsável por essa situação. Se conseguíssemos um testemunho da Classe D, porém, nossas chances provavelmente seriam de 6 a 4, ou talvez 7 a 3.

— Não, ainda não podemos dizer nada — ocultei o nome de Sakura, já que ainda estávamos negociando.

— Entendo. Há algum motivo para isso?

Como toda a situação envolvendo Sakura era delicada, evitei explicar em detalhes. Afinal, ela poderia desistir mesmo no dia da decisão. Eu queria ter uma rota de fuga.

— Não houve relatos de outra testemunha, como eu imaginava. Teria sido interessante se alguém tivesse se apresentado, mas suponho que foi difícil. Estamos sem tempo. Nossa única opção agora é esperar por mais informações, seja na internet ou no quadro de avisos, certo?

— Mas será que podemos esperar tanto assim? Quero dizer, aqueles caras da Classe C podem nos mirar.

— Vai ficar tudo bem. Além disso, tanto a Classe C quanto a Classe A originalmente nos tinham como alvo.

— Ichinose está certa. Além disso, mesmo que você queira seguir as regras, todos estão agindo fora delas. Acho que está tudo bem pedir perdão desta vez.

Ichinose e Kanzaki deixaram bem claro que queriam competir de maneira justa quando enfrentassem a escola e os outros estudantes.

— De qualquer forma, teremos que transferir pontos para quem nos fornecer informações. Ah, mas e se alguém fizer isso anonimamente? Nesse caso, como faríamos a transferência dos pontos?

— Posso explicar, se você quiser. Quer que eu explique? — perguntei.

— Você sabe de alguma coisa, Ayanokoji-kun?

— Acabei de me lembrar de algo enquanto mexia no celular. Você tem o número da pessoa?

— É um número gratuito, mas eu lembro.

Ichinose se aproximou e apontou para o celular. Estar tão perto de alguém geralmente faz as pessoas se sentirem vulneráveis. Eu achava que uma garota não gostaria que um homem invadisse seu espaço íntimo… e não sabia exatamente o que era, mas Ichinose tinha um aroma agradável.

— Aqui, abra a tela de transferência de pontos. Você deve ver seu número de ID no canto superior esquerdo.

Enquanto eu a instruía, meu ritmo cardíaco disparou.

— Hum…

Os dedos de Ichinose eram ágeis. Ela apertou o botão para abrir a própria página de pontos. Depois que a página carregou, estava visível na tela.

— Certo, certo. Está aí. E agora, o que devo fazer com o número de ID?

— Com o seu número de ID, você pode emitir uma chave token temporária. Se você abrir isso e enviar a chave, deverá receber uma solicitação de pagamento.

— Entendi. Obrigada!

— Okay. Vamos, Ayanokoji-kun.

— Claro.

Ichinose começou a caminhar.

…………

Nesse instante, por uma fração de segundo, eu havia visto algo no celular de Ichinose. O fragmento da tela que percebi se gravou na minha mente e não saía de lá. O que eu deveria fazer? O que eu tinha visto seria mesmo possível? Ichinose poderia se tornar um grande obstáculo para Horikita em sua missão de chegar à Classe A.

*

 

— Bom dia! Ayanokoji-kun!

— Oi, bom dia.

Kushida me cumprimentou com um brilho incrível e uma energia contagiante. Fiquei surpreso com sua vivacidade.

— Obrigada por ontem. Você realmente me salvou.

Bem, suponho que o rosto radiante dela me deixou feliz, mas algo mais me incomodava, algo que eu não conseguia lembrar. Eu havia saído pela primeira vez para um passeio, e tinha sido com garotas como Kushida e Sakura. Ah, foi quase demais. Bem, por enquanto, tudo estava ótimo… até Ike e Yamauchi chegarem à escola, é claro. Se eles descobrissem, com certeza guardariam um sério rancor.

— Vamos sair de novo qualquer dia desses, tá? — disse Kushida.

—C-Claro.

Mesmo que ela tivesse dito isso apenas por educação, meu coração bateu um pouco mais rápido. Bem, não era algo ruim.

— Você passou o dia de folga com Kushida-san? — perguntou uma voz fria.

— Sim, passei — respondi baixinho. — Kushida queria a cooperação da Sakura, então pediu minha ajuda. Eu não tinha muita escolha.

— Entendo.

— Há algum problema com… isso?

Olhei para minha vizinha e vi uma expressão no rosto de Horikita que eu nunca havia percebido antes.

—Q-Que foi? — perguntei.

— Como assim?

— Bem, você estava com uma expressão realmente estranha no rosto.

— Sério? Não tinha intenção de fazer qualquer tipo de expressão. Eu deveria estar com a mesma aparência de sempre. Contudo, devo dizer que admiro como você tem agido com tanta liberdade. Quando peço sua ajuda, você geralmente reluta, mas quando Kushida-san pede, você aceita prontamente. Eu estava analisando calmamente e discretamente a diferença entre nós.

Ela não parecia nem de longe calma ou discreta.

Nesse instante, alguém bateu levemente no meu ombro e me disse para ir até Kushida. Horikita estava com uma expressão extremamente confusa enquanto eu caminhava pelo corredor, onde Kushida espiou rapidamente dentro da sala.

— Tenho a sensação de que acabei de ver algo realmente incrível! — disse ela.

Kushida entendeu o significado por trás da expressão de Horikita? Ela parecia ao mesmo tempo encantada e surpresa.

— Algo incrível? Que estranho… Acho que a Horikita estava um pouco irritada.

— Não é isso. Acho que ela se sente excluída e sozinha por não ter sido convidada.

— Horikita? Impossível.

— Ela provavelmente nem sabe como se sente… Mas tenho certeza de que ela percebeu o quanto é divertido passar tempo com os amigos e conversar com eles. Isso é uma coisa boa, uma coisa boa.

Que pensamento estranho. Horikita não tinha uma boa opinião sobre Kushida. Mesmo assim, era estranho Kushida dizer que Horikita se sentia excluída por não ter sido convidada.

— Talvez você esteja percebendo algo fundamental, Ayanokoji-kun. Horikita-san está chateada porque você não a convidou para ir junto.

Não, não, isso não podia ser… Quero dizer, Horikita era uma garota que amava a solidão, afinal. Ela não deveria gostar de sair, certamente não com um cara como eu.

Naquele momento, cheguei a uma realização bastante desconcertante.

*

 

Depois que a chamada terminou, pedimos à professora Chabashira que nos recebesse na sala dos professores. Fizemos isso por consideração a Sakura. Como não havia conseguido conversar completamente com ela pelo telefone ontem, fiquei esperando no fundo da sala por um momento oportuno. Kushida provavelmente seria capaz de contar à professora Chabashira tudo o que havia acontecido.

— Uma testemunha? Para o caso do Sudou?

— Sim. Sakura-san viu tudo do começo ao fim.

Kushida chamou Sakura, que ficou quieta atrás dela. Ela deu um passo à frente, parecendo um pouco nervosa.

— Então, segundo Kushida, você viu a briga entre Sudou e os outros.

— Sim. Eu vi.

Não que nossa professora não acreditasse em nós, mas me senti desconfortável diante de seu olhar cético. Sakura, fiel à sua palavra, nos contou a verdade lentamente. Era a primeira vez que ouvíamos a história completa. Nenhum de nós, nem mesmo a professora, falou uma única palavra ou se moveu até o final.

— Entendo o que você disse. No entanto, não posso simplesmente aceitar o que está me contando — disse a professora Chabashira.

Eu teria pensado que, como professora da Classe D, ela ficaria satisfeita ao descobrir uma testemunha da própria classe. Kushida, traída por essa reviravolta, ficou confusa.

— C-Como assim, sensei? — perguntou ela.

— Sakura, por que está testemunhando agora? Quando relatei o problema na chamada, você não se apresentou. Não é como se estivesse ausente naquele dia, certo?

— Bem… É que… Eu simplesmente não sou boa em conversar com outras pessoas…

— Você não é boa em conversar com os outros, e ainda assim decidiu testemunhar agora? Isso não é estranho?

A professora Chabashira começou a pressionar Sakura, como de costume. Se Sakura tivesse se apresentado quando a professora inicialmente pediu por testemunhas, eu me perguntava se ela realmente teria recebido isso de bom grado.

— Sensei, Sakura-san está…

— Estou falando com a Sakura agora — interrompeu Kushida de forma brusca a professora.

— Hum… Bem, é porque nossa… classe está em apuros agora, e… eu pensei que, se… se eu testemunhasse, poderia ajudar…

Sakura encolheu-se e se afastou, como um sapo encurralado por uma cobra. Como nossa professora, Chabashira-sensei deveria compreender que tipo de garota Sakura era. Ela deveria ter percebido que apenas por se apresentar, Sakura já havia feito um grande progresso.

— Entendo. Então você reuniu coragem para se apresentar?

— Sim…

— Entendo. Bem, se você é realmente uma testemunha, como diz, naturalmente sou obrigada a repassar essa informação à escola. No entanto, mesmo que a escola escute toda a história, Sudou pode não ser declarado inocente.

— O-O que quer dizer com isso?

— Você é realmente a testemunha, Sakura? É isso que quero saber. Acho que pode ser uma mentira inventada pela Classe D, porque os alunos têm medo de receber uma avaliação negativa.

— Chabashira-sensei, isso é horrível de dizer!

— Horrível? Se você realmente tivesse presenciado o evento, deveria ter se apresentado no primeiro dia. É natural desconfiar quando alguém se apresenta na última hora. Considerando que a testemunha é da Classe D, isso é ainda mais suspeito. Qualquer pessoa razoável teria dúvidas. Não acha? Convenientemente, uma aluna da mesma classe estava em um prédio raramente visitado e, por acaso, presenciou todo o evento?

A professora Chabashira tinha bons pontos. O fato de Sakura ter testemunhado o incidente era conveniente demais. Obviamente, as pessoas teriam dúvidas. Se eu fosse um terceiro, provavelmente pensaria que a Classe D inventou a história. Julgando imparcialmente, era natural considerar essa evidência fraca.

— No entanto, uma testemunha é uma testemunha. Não posso determinar se ela está mentindo, então, por ora, aceitarei seu depoimento. Então, Sakura, peço que você participe no dia da deliberação. Sei que você não gosta de se relacionar com os outros, mas pode fazer isso?

As palavras da professora Chabashira abalaram Sakura, como se estivesse testando a garota. De fato, Sakura, ao imaginar isso, ficou pálida e angustiada.

— Se não quiser, você tem a opção de se retirar. Além disso, avisaremos a Sudou que ele participará da deliberação.

— Está tudo bem? Sakura-san?

— S-Sim… — A resposta de Sakura soou sem confiança. Além de testemunhar na frente de outros, ela também teria que ficar sozinha com Sudou. Parecia um pouco cruel forçá-la…

— Podemos participar também, sensei?

Claro, foi Kushida quem falou, provavelmente para apoiar Sakura.

— Se o próprio Sudou consentir, aprovarei. No entanto, não podemos permitir tantas pessoas. Apenas no máximo dois poderão acompanhar a deliberação. Pensem bem sobre isso.

Saímos da sala dos professores, embora parecesse mais que estávamos sendo expulsos. Depois, retornamos à sala de aula e explicamos tudo a Horikita.

— Bem, naturalmente esse foi o resultado. Era de se esperar.

— A situação pode ser diferente agora, mas não é uma diferença tão grande, certo? Quero dizer, o fato de nossa testemunha vir da Classe D meio que significa que estamos em desvantagem, porém.

Não sabia se isso confortaria Horikita, mas disse para apoiar Sakura. Se não tivéssemos convencido nossa testemunha a se apresentar, provavelmente seria impossível provar a inocência de Sudou.

— Agora, Kushida-san. Seria melhor que Ayanokoji-kun e eu participássemos da deliberação. Entendo perfeitamente que você apoia Sakura-san. No entanto, se chegar a um debate, então isso é outra história.

— É… Sim, você tem razão. Acho que não seria muito útil em um debate.

Pensei em dizer algo sobre como seria perfeito se Kushida e Horikita trabalhassem juntas, mas desisti. Era precisamente porque elas talvez não formassem a melhor equipe que eu fora designado como substituto, suponho.

— Sakura-san, você se importa?

— N-Não, tudo bem.

Ela não parecia gostar disso, mas também não tinha muita escolha no momento.

*

 

Com isso resolvido, nos reunimos novamente na sala de aula durante o almoço para discutir a estratégia. Horikita havia se mostrado relutante em participar, mas, graças às lágrimas persuasivas de Kushida, ela concordou em se juntar a nós. Quanto ao próprio interessado, mesmo que Sudou dissesse que não se importava e aceitasse um acordo, ele podia facilmente se tornar obstinado em situações críticas. Enquanto pensava em como ele poderia se tornar difícil a qualquer momento, mantive-me em silêncio.

— Será que realmente conseguiremos provar a inocência de Sudou amanhã? — perguntou Kushida.

— Claro que conseguiremos. É óbvio que foi tudo uma armação. Sou definitivamente inocente. Certo? — disse Sudou.

Eles olharam simultaneamente para Horikita em busca de sua opinião. Horikita apenas comia seu pão em silêncio, seja porque não conseguia responder, seja porque achava a discussão irritante.

— Ei, Horikita. O que você acha? — Sudou, claramente incapaz de perceber o clima da sala, aproximou-se de Horikita.

— Não traga seu rosto sujo tão perto de mim.

— N-Não está sujo — respondeu Sudou, tremendo. Talvez ele tenha se magoado com aquele golpe inesperado?

— Não consigo deixar de ficar perplexa com a sua crença de que sua inocência pode ser facilmente provada. Embora você tenha reunido evidências que jogam a seu favor, ainda está em uma situação muito desfavorável.

— Mas temos uma testemunha que sabe que sou inocente, e os outros caras eram uns idiotas no passado. Isso não deveria ser suficiente? Esses caras são problemáticos. — Sudou, completamente cego para suas próprias limitações, cruzou as pernas com arrogância e acenou em concordância consigo mesmo.

— Ah, ei, espera um segundo! Ainda estou lendo isso! Me devolve!

— Tá tudo bem, né? Eu paguei metade, de qualquer forma. Vou devolver depois.

Ike e Yamauchi brigavam por uma revista semanal de mangá. Acho que eles estavam lendo mangá silenciosamente enquanto tínhamos nossa reunião importante. Considerando suas lágrimas amargas por não terem absolutamente nenhum ponto, achei meio impressionante que ainda conseguissem comprar uma revista toda semana.

— Hã? — Kushida, sentada ao meu lado enquanto o espetáculo de Ike e Yamauchi se desenrolava, parecia pensativa. — Talvez… — murmurou.

— O que foi? — perguntei.

— Ah, nada. É nada. Só tinha algo na minha mente.

Não entendi o que ela queria dizer, mas Kushida pegou o celular e começou a procurar algo.

*

 

Depois de voltar ao dormitório, deitei na cama e assisti TV distraidamente. Minha mente estava meio vazia, enquanto me deixava relaxar. Então, recebi um e-mail de Sakura.

— Se eu faltar à escola amanhã, o que você acha que aconteceria?

— Como assim? — respondi.

Mesmo com minha resposta curta, esperei um pouco por sua resposta.

— O que você está fazendo agora?

Essa foi a resposta dela. Respondi que estava sozinho no meu quarto.

— Se não for problema para você, podemos nos encontrar agora? Estou no quarto 1106.

— Se você pudesse manter isso em segredo para todo mundo… Isso realmente me ajudaria.

Recebi duas mensagens dela em rápida sucessão. Parecia mais uma conversa por mensagem do que e-mail. O que exatamente ela queria dizer, eu me perguntava? Pensei em perguntar o motivo, mas parei de digitar. Se eu estragasse isso, ela poderia continuar me mandando mensagens, mas provavelmente ficaria mais difícil visitá-la. Tive a sensação de que seria melhor nos encontrarmos pessoalmente, então comecei a reescrever minha resposta.

—Vou aí em uns cinco minutos.

Depois de enviar minha resposta, peguei meu casaco, mas parei. Como estávamos no mesmo dormitório, ir apenas com uma camiseta provavelmente não seria um problema. Dirigi-me ao quarto de Sakura. O andar superior… ou seja, onde moravam as garotas. Era a primeira vez que eu colocava os pés lá. A escola não proibia necessariamente a entrada de meninos. Mesmo que alguém me visse indo até lá, não seria um problema. Na verdade, os garotos populares frequentemente subiam para se divertir.

Embora tivéssemos um grau relativo de liberdade, a entrada era proibida após às 20h. Naturalmente, ir ao andar das garotas no meio da noite era proibido.

Apertei o botão do elevador. Quando as portas se abriram, Horikita estava ali. Que timing horrível.

…………

Por algum motivo, eu estava completamente incapaz de me mover. Fiquei parado ali. Era sorte ou azar? No caso de esbarrar em alguém conhecido, tinha que me perguntar.

— O quê? Não vai entrar? — ela perguntou.

Enquanto me observava, tentou fechar as portas.

— Ah, sim. Eu vou entrar…

Embora eu sentisse que provavelmente era uma má ideia, entrei e apertei o botão do décimo primeiro andar. Vi que o botão do décimo terceiro andar também estava aceso. Aquele devia ser o andar da Horikita. Por algum motivo, tive a estranha sensação de que ela me observava por trás.

— Você… vai para casa tarde hoje, hein? — perguntei, sem olhar para ela. O silêncio era insuportável.

— Fui fazer compras. Você não viu? — ouvi o farfalhar de sacolas de vinil.

— Isso me lembra. Você cozinha para si mesma, não é?

Parecia que o elevador estava indo mais devagar que o normal. Ainda estávamos apenas no sexto andar. Ser discretamente convidado por uma garota era uma situação estressante. Meu nervosismo me obrigava a dizer algo.

— Este não é o décimo andar. Está tudo bem?

Por que ela estava perguntando sobre o décimo andar? Qual era sua intenção?

— Para alguém que não gosta de problemas, você tem se envolvido de maneira extremamente proativa neste caso. Ou talvez tenha motivos ocultos? — Horikita estava claramente sondando.

— Se você tem algo a dizer, por que não fala logo?

— Você vai se encontrar com Sakura-san, não vai? — ela perguntou.

— Não, não vou — neguei imediatamente, mas me perguntei se Horikita poderia ver a verdade.

— Bem. Suponho que para onde você vai não é da minha conta.

Nesse caso, não me pergunte sobre isso! Bem, era isso que eu queria dizer, mas falei apenas na minha mente.

Depois de um longo tempo, finalmente chegamos ao décimo primeiro andar em completo silêncio. Saí do elevador, tentando manter a calma. Não olhei para trás.

— Desculpe pela intromissão… — disse à porta de Sakura.

— Entre — ela me recebeu vestindo roupas casuais.

— Então… o que você precisava de mim?

— Hum… Ayanokoji-kun, você se lembra do que disse antes? Disse que eu não era obrigada a me apresentar, mesmo sendo a testemunha. Também disse que forçar-me a testemunhar seria inútil.

Isso foi quando eu havia encontrado Sakura por acaso. Assenti levemente.

— Eu… simplesmente não tenho confiança em mim mesma, afinal.

— É sobre falar na frente de outras pessoas?

— Eu sempre fui péssima nisso… Não sou boa em falar na frente dos outros. Se me pedirem para testemunhar na frente dos professores amanhã, não acho que terei confiança para responder direito. Então…

— Então você está considerando faltar à escola?

Sakura assentiu levemente antes de se jogar sobre a mesa, encostando a testa.

— Ahhhhh. Caramba, por que sou tão inútil?! — ela se encolheu, claramente envergonhada. Era a primeira vez que eu a via assim.

— Sakura, você é surpreendentemente nervosa, hein?

Senti o contraste entre a pessoa que via agora e seu comportamento habitual, e fiquei um pouco surpreso. Ou melhor, chocado.

— Hã?!

Sakura, percebendo que me deixara ver esse lado, corou e balançou a cabeça.

— N-Não! Não sou assim de jeito nenhum.

Então ela podia ser animada. Eu não fazia ideia, considerando sua aparência geralmente deprimida.

— Ei, posso te perguntar uma coisa? Por que me chamou? — Kushida ou outra pessoa teria sido mais amigável, mais fácil de conversar.

— É porque eu não tenho medo dos seus olhos, Ayanokoji-kun…

Hã? O que isso significava? Certamente meus olhos não eram assustadores ou algo assim, mas…

— Se você quer alguém para conversar, Kushida é uma pessoa muito mais calorosa e extrovertida. Ela também tem muitos amigos.

— Ah, não. Não me refiro aos olhos que você já me viu com eles. Refiro-me às pupilas, lá no fundo dos olhos… Se você olhar alguém profundamente nos olhos, vai entender. Desculpe, não consigo explicar muito bem.

Então, seria como um olhar para o verdadeiro eu de uma pessoa? Quando alguém olhasse para mim, veria que eu era insubstancial e sem ambição? Isso era meio complicado.

— Bem, é que… Quando vejo um homem… mesmo que ele pareça gentil… eu de repente fico com medo.

Talvez isso viesse do ponto de vista de uma mulher. Podia ser natural que ela se sentisse desconfortável perto de homens, mas Sakura tinha uma expressão de medo anormal. Falando nisso, lembrei-me do dia em que fomos consertar sua câmera digital…

Era certo que homens e mulheres geralmente diferiam em força física e resistência. No entanto, algumas garotas eram excessivamente conscientes disso e viviam em níveis anormais de medo. Perguntei-me se algo havia acontecido no passado de Sakura para causar seu medo intenso de homens.

Por que diabos eu estava analisando ela arbitrariamente? Senti-me um pouco enojado de mim mesmo, como de costume.

— Eu sei que seria bom simplesmente dizer o que vi. Mas não importa o que eu faça, não consigo imaginar… Como posso falar com tanta convicção?

Ela estava tão preocupada que pedira ajuda a um aluno como eu. Provavelmente estava agonizando sobre isso nos últimos dias. Mesmo com minha ajuda, parecia estar sofrendo.

— Se você quiser desistir, quer que eu fale por você?

— Você não vai ficar bravo?

— Eu disse antes, não disse? Se a obrigássemos a testemunhar, seria inútil.

Sakura era uma testemunha valiosa, mas suas evidências não eram automaticamente confiáveis. Ela poderia não ter influência alguma no resultado. No entanto, se ela se ausentasse, Sudou poderia se irritar. Eu provavelmente deveria tentar convencê-la a participar, mas não fazia ideia de como.

— Hum… O que você acha que seria melhor fazer, Ayanokoji-kun?

— Acho que você deve fazer o que quiser, Sakura.

Ela provavelmente queria uma orientação mais concreta, mas infelizmente isso era o máximo que eu podia oferecer. Eu não era uma pessoa extraordinária e certamente não estava qualificado para guiar ninguém. Não era adequado para esse trabalho.

— Entendo. Bem, suponho que seja incômodo pedir sua ajuda assim… Eu simplesmente não sou boa. Deve ser por isso que não consigo fazer nem um único amigo.

Sakura deu de ombros e sorriu amargamente. Parecia enojada de si mesma.

— Sakura, acho que você conseguirá fazer amigos em pouco tempo.

— Desculpe. Não sei a melhor forma de expressar o que sinto… Você parece se dar bem com muitas pessoas, Ayanokoji-kun. Estou um pouco com inveja.

— Não, não estou.

Aparentemente, Sakura acreditava que eu tinha muitos amigos e muita diversão.

— Pode ser presunçoso da minha parte dizer isso, mas acho que somos como amigos — disse.

Sakura e eu nos encaramos.

— Somos amigos? Sério? — ela sussurrou.

— Se você não acha, Sakura, então é diferente.

— Não… Fico feliz… de ouvir você dizer isso — respondeu Sakura, ainda parecendo um pouco perplexa.

Comecei a perceber que, se as pessoas não conversassem cara a cara, não teriam noção de como o outro realmente era. Fiquei surpreso ao descobrir o lado inesperado de Sakura. Se ela mostrasse mais essa parte de si, provavelmente faria amigos rapidamente. Honestamente, até um pequeno ajuste faria maravilhas. Mas para ela, suponho que até um ajuste mínimo seria difícil. O que parece trivial para uma pessoa pode ser bastante difícil para outra, dependendo de seus problemas.

— Obrigada por ter vindo me ver hoje — disse Sakura.

— Não foi nada. Pode me chamar a qualquer hora.

Se eu pudesse aliviar os fardos de Sakura, ainda que minimamente, já valeria a pena. Deixaria a decisão sobre ir ou não à escola amanhã para ela mesma. Pensando que nossa conversa havia terminado, levantei-me e comecei a sair, mas Sakura ainda parecia desconfortável.

— Você tem planos para hoje à noite? Por agora? — perguntei.

— Por agora? Não, não tenho nada planejado. Ou melhor, não fiz planos.

Hmm. Até eu me senti um pouco triste ao ouvir isso.

— Bem, que tal sair comigo por um tempo? Se não for incômodo, é claro.

Decidi ser ousado e convidar Sakura. Ela se enrijeceu, quase como se tivesse esquecido do tempo e percebido que precisava estar em algum lugar importante. Parecia não entender o que eu queria dizer. Então, sem hesitar, levantou-se rapidamente da cadeira.

—Hã?! — Ao se levantar, bateu os joelhos contra a mesa e se dobrou de dor. Seus óculos voaram do rosto.

— Parece que doeu mesmo. Está tudo bem? — perguntei.

— E-Eu… estou perfeitamente bem!

Ela não parecia muito convincente; a dor era tão intensa que ela estava à beira das lágrimas. Peguei seus óculos. Como eu suspeitava, não havia lentes. Entreguei-os de volta. Suas mãos tremiam ao pegá-los, e ela me agradeceu. Sakura lutou contra a dor por cerca de um minuto antes de finalmente se acalmar e silenciar.

— P-Para onde você quer ir? — perguntou.

Ela estava na defensiva, mas eu não entendia o porquê. Talvez acreditasse que eu era algum tipo de galanteador tentando seduzi-la. Se fosse esse o caso, seria ruim.

— Ainda não decidi muito. Só deu vontade de dar uma volta, sabe? Ah, mas odeio lugares quentes…

Sakura respondeu cautelosamente, como se estivesse preocupada com o que dizer.

— Se você não se importar… há um lugar para onde eu gostaria de ir. Tudo bem?

— Hã? Ah, claro, não me importo. Por favor, me mostre o caminho.

Eu realmente não me importava com o local; só queria mudar de cenário e conversar. Se Sakura tinha um lugar de preferência, então tudo estava indo de acordo com o plano.

*

 

Sakura me levou ao lugar que queria visitar. Tenho que admitir, eu não esperava por aquele destino. Fomos até uma parte do prédio usada especificamente para atividades de clube, afastada da escola. Ela me guiou por um edifício com um toque marcadamente japonês — o local onde ficavam clubes como o de arco e flecha e o de cerimônia de chá. A uma curta distância, podíamos ouvir o som das flechas sendo disparadas.

— Você não participa de nenhum clube, certo?

— Não participo, mas queria vir aqui pelo menos uma vez. Eu chamaria muita atenção se viesse sozinha, então…

Se alguém ficasse por ali sozinho, os outros provavelmente pensariam que estava interessado em entrar para algum clube. Porém, se um casal aparecesse junto, todos assumiriam que estavam em um encontro.

— Por que você me chamou para sair, afinal? — ela perguntou.

— Hmm? Por quê? Fica meio difícil responder quando você pergunta desse jeito.

Eu estava preocupado com o que aconteceria amanhã. Mas, mesmo que dissesse alguma coisa, ainda me sentiria inquieto.

— Acho que te chamei porque pensei que seria bom mudar um pouco de ares. Quer dizer, eu sou meio solitário, então costumo ficar no meu quarto. Tenho essa tendência de me isolar o tempo todo.

Sakura pareceu um pouco desconfiada com minha resposta vaga.

— Ayanokoji-kun, você não tem muitos amigos?

— Tenho? Tipo quem?

— Horikita-san, Kushida-san, Ike-kun, Sudou-kun, Yamauchi-kun… — ela listou os nomes, contando nos dedos.

— Bem, são só de fachada. Quer dizer, não, você tem razão, amigo é amigo. Acho que o que quero dizer é que sinto que é só isso. É como se eu ainda estivesse do lado de fora do grupo, apenas observando. Você acha que nós realmente nos damos bem, Sakura?

Sakura assentiu sem hesitar. Se ela dizia isso, talvez fosse verdade. Acho que eu simplesmente não me entendia muito bem.

— Eu não sei fazer amigos de jeito nenhum. Tenho inveja. Você foi a primeira pessoa a me chamar de amiga.

— E a Kushida? Ela não foi a primeira a te convidar para sair?

Sakura deu um sorriso tímido e autodepreciativo.

— Sim. Eu deveria pedir desculpas à Kushida-san algum dia. Ela foi a primeira a me ligar e me convidar para sair, porque eu não tive coragem… Eu realmente queria passar um tempo com ela. Só que, por mais que tentasse, não consegui responder. Que patética eu sou.

Se você soubesse conversar bem com as pessoas, tudo seria mais fácil. Mais uma vez, fiquei impressionado com a capacidade da Horikita de zombar de Ike e Yamauchi e ainda assim lidar naturalmente com completos estranhos. Era um talento admirável.

— Posso te dar um conselho para amanhã? — perguntei.

Não pretendia dar um conselho vazio como "faça o seu melhor". Sakura deveria encarar o dia seguinte sendo ela mesma.

— Pelo Sudou. Pela Kushida. Pelos seus colegas de classe. Esqueça todos esses pensamentos.

— Hã? Esquecer… todos eles?

— Quando for testemunhar amanhã, fale por você mesma. Como alguém que diz a verdade sobre o que viu, como uma testemunha.

Era bom quando uma pessoa autossuficiente tentava fazer algo pelos outros. Mas Sakura ainda não conseguia cuidar direito de si mesma. Ela tinha o hábito de se fechar e suportar a dor, a tristeza e o sofrimento sozinha. Se você não era feliz, não poderia fazer ninguém feliz também.

— Diga a verdade por você mesma. Faça isso, e o Sudou será salvo. Isso basta.

Eu não sabia o quanto meu conselho realmente ajudaria. Provavelmente não passava de palavras vazias. Mas talvez fosse certo encorajar Sakura a falar por conta própria. Talvez eu tivesse dito isso porque entendia o que era querer ser compreendido. Porque eu precisava que alguém soubesse que eu também entendia a dor e a angústia de lutar contra a solidão.

— Obrigada, Ayanokoji-kun.

Esperava que minhas palavras tivessem encontrado algum espaço no coração de Sakura.

*

 

Naquela noite, sob as ordens de Kushida, todos — exceto Sudou — se reuniram no meu quarto. Pelo visto, Kushida havia até convidado Horikita, mas parecia que ela não queria participar.

— Então… Houve algum progresso, Kushida-chan? — perguntei.

— Houve progresso, sim, mas também notei algo incrível. Ayanokoji-kun, posso usar seu computador um instante?

— Claro — respondi com um aceno. Kushida foi até meu desktop, ligou o computador e abriu o navegador da Internet.

— Ok, dê uma olhada nisso!

Kushida acessou o que parecia ser o blog de alguém. Era bastante elaborado. Diferente de um site comum, tinha o acabamento e o polimento de um negócio profissional.

— Espera, essa é uma foto da Shizuku? — perguntou Ike.

— Shizuku? — respondi.

— Ela é uma idol. Foi recentemente destaque em uma revista masculina.

Havia muitas fotos dela. Certamente não se podia reclamar de sua aparência ou proporções.

— Você a reconhece? — perguntou Kushida.

— Eu deveria reconhecê-la?

— Olhe atentamente.

Kushida clicou em uma foto do rosto de Shizuku. Ike examinou-a por um longo tempo e então…

— Ela é fofa.

— Não, não é isso! Essa é a Sakura-san, não é?

— Kushida-chan, de quem você está falando? — perguntou Yamauchi.

— Sakura-san, da nossa turma.

— Hã? Não pode ser, não, não… Sakura-san? Não, não, não, isso não pode ser verdade — Ike riu, mas a expressão de Yamauchi se endureceu.

— Ei, Ike… Sabe, quando olho de verdade para ela, acho que… provavelmente se parece um pouco com a Sakura.

— Mas ela não está de óculos, certo? E o cabelo é diferente.

— Esses são jeitos simplistas de identificar alguém…

Embora eu não tivesse feito a conexão imediatamente, percebi que aquela definitivamente era Sakura. Parecia que Ike ainda não conseguia acreditar. Ele ainda estava confuso, mexendo-se enquanto olhava para a tela.

— Então Sakura é a Shizuku? Isso é mentira, certo? Quer dizer, sim, há uma leve semelhança, mas são pessoas diferentes. Olha como a Shizuku é incrivelmente alegre e feliz. Certo? Vamos, Ayanokoji.

Todas as fotos que ela postara eram fofas, então parecia acostumada a tirar selfies. No entanto, eu avistei uma evidência incontestável que provava que Sakura e a idol Shizuku eram a mesma pessoa.

— Não, Kushida está definitivamente certa. Essa é a Sakura. Aqui.

Apontei para uma das fotos.

— Mal dá para ver, mas a porta do quarto do dormitório dela aparece nesta foto.

— Parece igual às portas do nosso dormitório.

Ou seja, provavelmente ela havia tirado aquela foto na escola.

— Então, Sakura é a Shizuku, afinal… Ainda não entendo o objetivo disso.

— Bom trabalho ao notar isso, Kushida.

Falei sério. Mesmo havendo uma semelhança clara, eu não teria percebido se Kushida não tivesse nos chamado a atenção.

— Quando vi Ike-kun lendo aquela revista semanal, me lembrei de algo. Tive a sensação de já ter visto a Sakura em algum lugar antes — disse Kushida.

— Meu Deus, temos uma idol na nossa turma! Estou tão animado! — exclamou Ike, incapaz de conter a empolgação. Depois de uma reação tão pouco digna, imaginei que Kushida quisesse se afastar dele. Embora ela fosse gentil quase até o demais, não senti esse tipo de aceitação dela naquele momento.

— Mas justamente quando Shizuku começou a se tornar realmente popular, ela desapareceu de repente.

Ela vivia uma vida dupla, como idol e como uma estudante quieta e discreta em nossa escola. Por que teria desejado criar outra vida? Era como uma moeda com dois lados completamente diferentes.

À medida que se aproximava das 21h, estava quase na hora de nosso grupo se dispersar para a noite. Eu os vi saírem na porta do meu quarto.

— Kushida, ainda tem uma coisa que quero conversar com você. Pode ficar um pouco? — perguntei.

— Hã? Conversar sobre o quê? Claro — respondeu ela.

— Ei, Ayanokoji! Sobre o que você vai falar com ela, hein?! Não me diga que é… — Ike interrompeu, preocupado.

Afastei os temores de Ike com um gesto de mão. Mesmo depois de dizer que íamos apenas falar sobre Sakura, Ike se aproximou e sussurrou no meu ouvido que não acreditava em mim.

— Se você confessar seus sentimentos para ela, não vou te perdoar. Sabe disso, né?

Não precisava ficar tão paranoico… Como se eu fosse fazer isso. Além disso, mesmo que fizesse, seria destruído em um segundo.

— Sério. Se você está tão preocupado com isso, então espere no corredor. A gente termina em um minuto.

Ike imediatamente concordou em esperar. Ele se alongou até ficar na altura máxima e se posicionou no corredor, bem na porta do meu quarto.

Depois que os outros saíram, comecei a contar para Kushida sobre a conversa que tive com Sakura naquele dia.

— Ah, é… sobre a Sakura-san? — perguntou Kushida.

— Fiquei surpreso ao descobrir que ela era uma idol, mas de certo modo também entendi. Será que essa é a personalidade dela de verdade?

Embora eu tenha evitado afirmar isso diretamente, também pensava que Sakura tinha um lado escondido, assim como Kushida. No entanto, Kushida, que compreendia os fatos de maneira diferente, chegou a uma conclusão completamente distinta.

— Acho que… muito provavelmente, Sakura-san diria que o lado dela como idol é na verdade uma máscara. Bem, dizer que é falso também não está certo. Acho que ela está criando outra personalidade usando maquiagem.

— Maquiagem… Ou seja, é uma persona? — perguntei.

— É. Acho que, com as atitudes certas, Sakura-san poderia até forçar um sorriso na frente das pessoas.

Kushida soava bastante convincente. Havia algo de verdadeiro em suas palavras. Mas, naquele momento, comecei a pensar sobre o que ela tinha tentado me dizer durante nossa última ligação telefônica.

— Ei… naquela vez que conversamos pelo telefone, o que era que você queria me contar? — perguntei.

Os ombros de Kushida se contraíram levemente. Era como se ela só agora tivesse se lembrado.

— Eu te conto depois. Agora, nossa prioridade é resolver este caso. Além disso, é um pedido pessoal.

— Um pedido pessoal?

Achei sua escolha de palavras tentadora, mas parecia que Kushida precisava de ajuda com alguma coisa. Eu realmente não me destacava em nada. Não podia oferecer algo que Kushida não tivesse. Ela podia estudar, tinha ambição.

— Desculpe. Se eu contasse agora, só seria um incômodo.

Ela sorriu amargamente e juntou as mãos em desculpa.

— Bem, se der tudo certo com o Sudou, você poderia me contar então?

— Sim, tudo bem.

Ela se virou e segurou a maçaneta da porta. De repente, parou completamente, imóvel por alguns instantes. Olhando para suas costas, eu não tinha ideia da expressão que ela mostrava.

— Kushida? — chamei.

Algo parecia estranho. Depois que disse seu nome, Kushida se virou e encurtou a distância entre nós. Ela ficou na ponta dos pés, com os calcanhares levantados, colocou a mão no meu peito e aproximou a boca do meu ouvido.

— Se você atender ao meu pedido, Ayanokoji-kun… eu vou te dar meu bem mais precioso.

Era como o sussurro de uma bruxa. Como se um aroma doce, mas potencialmente mortal, tivesse se apossado do meu coração. Eu não conseguia distinguir se o sorriso de Kushida era genuíno ou amargo enquanto ela sussurrava no meu ouvido.

A única coisa que eu sabia com certeza era que Kushida não era um anjo. Pelo que eu podia perceber, não sabia exatamente como me sentir. A maioria das pessoas tinha lados diferentes, mas no caso dela isso era mais pronunciado, como se outra pessoa vivesse dentro dela. Aquela Kushida era simplesmente assustadora.

Não conseguia de forma alguma entender qual era o jogo dela, o que ela estava pensando ou o que queria fazer. Nem conseguia identificar para onde havia ido a garota chamada Kushida Kikyou. A mudança era tão drástica que cheguei a me perguntar se ela teria uma personalidade dividida. A diferença era enorme.

Quando ela se afastou novamente, percebi que Kushida voltara a ser a garota com o sorriso gentil. Ao abrir a porta, chamou Ike, que esperava impacientemente do lado de fora. Nem mesmo a menor sombra daquela Kushida assustadora permanecia.

*

 

Depois que todos saíram, sentei em frente ao meu computador e olhei o blog de Sakura Airi — quero dizer, da idol Shizuku. Ao ler as postagens antigas, percebi que ela começara a escrever há cerca de dois anos. Exatamente na época em que Sakura começou a trabalhar como idol. Suas esperanças e aspirações para o futuro estavam escritas ali. Não vi nada que realmente chamasse atenção, nenhum sinal de alerta. Dei uma olhada em outros blogs de idols apenas como referência, mas pareciam similares.

Fiquei me perguntando como teria sido para uma estudante do segundo ano do ensino fundamental estrear no mundo do entretenimento. Durante um ano, ela atualizou o blog quase todos os dias. Escrevia sobre o que acontecia naquele dia e sobre seus pensamentos. Também respondia quase todos os comentários de seus fãs. Mas, como eu esperava, ela parou de responder depois de ser aceita nesta escola.

Ela seguia rigorosamente a regra de não contatar ninguém fora da escola. Embora não fosse exatamente o centro das atenções, Sakura parecia mais popular do que eu imaginava. Tinha mais de 5.000 seguidores no Twitter. Muitos deles eram fãs que queriam que ela voltasse a fazer revistas gravure o quanto antes, ou perguntavam se ela tinha planos de aparecer na televisão. Entre tantos comentários, um post de três meses atrás chamou minha atenção.

Você acredita no destino? Eu acredito. Acredito que estaremos juntos para sempre.

Se fosse apenas essa mensagem, seria a fantasia delirante de um fã. Mas havia mais, todos os dias, e a intensidade aumentava rapidamente.

Sempre sinto você perto de mim.

Você estava ainda mais fofa hoje, hein?

Você percebeu quando nossos olhos se encontraram? Eu percebi.

Se Sakura visse isso, aquelas palavras provavelmente a assustariam. Era quase como se o autor quisesse estar fisicamente próximo de Shizuku para sussurrar essas palavras em seu ouvido. Seriam apenas delírios? Dentro desta escola altamente restrita, apenas um número muito limitado de pessoas poderia encontrar Sakura.

Estudantes, professores… ou qualquer pessoa que tivesse negócios com a escola. Lembrei-me do homem que trabalhava na loja de eletrônicos do campus. Então, um post do último domingo me deixou arrepiado. Tive uma percepção esmagadora.

Bingo.

Sakura havia comprado uma câmera digital depois de entrar na escola. Claro, provavelmente ela se disfarçou naquele dia, como qualquer celebridade faria. Mas, enquanto um disfarce faria sentido para os fãs, aquele atendente a reconheceu. É claro que havia poucas formas de terem contato naquele momento.

No entanto, depois que a câmera de Sakura quebrou, ele a viu. Como ela a amava tanto, precisou consertá-la. Considerando nossa situação, era quase impossível para alguém da Classe D comprar uma nova. Mas, como ela levou para conserto, havia a possibilidade de encontrar o atendente.

Ela hesitou em levar a câmera para reparar por causa dele. O atendente, por outro lado, estava incrivelmente animado. Afinal, ali estava sua chance de conseguir o verdadeiro nome e o número de telefone de sua idol favorita no formulário que ela tinha que preencher. Isso também poderia explicar por que ela me ligou naquela noite, fazendo perguntas tão significativas.

Pensando bem, a resposta parecia óbvia. Vasculhei os comentários, procurando mais coisas que ele poderia ter escrito.

É tão cruel você me ignorar! Ou talvez você apenas não tenha me notado?

O que você está fazendo agora? Quero te ver, quero te ver, quero te ver!

Comentários assustadores eram postados um após o outro. Claro, outros fãs simplesmente se sentiam enojados com eles, mas era diferente para Sakura. Imaginei se saber que ele estava tão perto a levava a um terror quase inimaginável. Mas Sakura nos ocultou isso, e agora ela tentava desesperadamente enfrentar a Classe C por nós, como testemunha. Provavelmente, ela hesitava em sair do dormitório, considerando o quanto a existência daquele homem a aterrorizava.

Se estivessem no mesmo campus, o medo dela não seria surpreendente. No entanto, praticamente não havia nada que pudéssemos fazer, nenhum plano que pudéssemos implementar para resolver a questão desse perseguidor até amanhã. No fim, a única opção era esperar por um SOS da própria garota.



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CAPÍTULO ATUALIZADO!

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