Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 2

Capítulo 2: Ponto Fraco

AS MÁS NOTÍCIAS simplesmente não paravam de chegar. Durante o período de chamada na manhã seguinte, quando Chabashira-sensei já se preparava para sair, ela nos atingiu com um de seus notoriamente breves e despreocupados comunicados.

— Tenho um anúncio para todos vocês — disse ela. — Houve um pequeno problema outro dia, um incidente entre o aluno sentado ali, Sudou, e alguns alunos da Classe C. Em resumo, houve uma briga.

A sala explodiu em murmúrios. Dependendo do grau de responsabilidade que a Classe C atribuísse a Sudou, ele poderia ser suspenso, e nós poderíamos ver uma redução nos pontos da turma. Chabashira-sensei expôs toda a situação de forma direta. Seu rosto, completamente desprovido de emoção ou interesse, tinha até uma certa serenidade. Ela não inseriu qualquer viés pessoal ao se dirigir à classe — explicou tudo com neutralidade absoluta.

— Hum... Então, por que esse problema ainda não foi resolvido? — perguntou Hirata, de forma bastante razoável.

— A reclamação veio da Classe C. Eles afirmam que a briga foi unilateral. No entanto, ao ouvirmos o acusado, Sudou, ele declarou que as acusações são falsas. Ele insiste que os alunos da Classe C o chamaram e começaram a briga.

— Não foi culpa minha! Foi legítima defesa! Legítima defesa, estou dizendo! — gritou Sudou, suportando os olhares gélidos dos colegas.

— Mas não há provas disso. Estou errada?

— Provas? Eu não tenho nenhuma.

— Então, em outras palavras, ainda não sabemos a verdade. Por isso, nossa decisão está em espera por enquanto. Nossa resposta — e a punição — virão quando descobrirmos quem foi o culpado.

— Tudo o que eu sei é que sou inocente. Se for por mim, é a mim que deveriam pagar uma indenização.

— Assim fala o acusado — respondeu a professora, impassível. — Mas eu não diria que você tem um alto nível de credibilidade neste momento. Se houver uma testemunha, como Sudou parece acreditar, a situação pode mudar. Se alguém aqui presenciou a briga, por favor, levante a mão.

Chabashira-sensei continuou falando com uma voz robótica e monótona. Nenhum aluno levantou a mão em resposta à pergunta.

— Que pena, Sudou. Parece que não há testemunhas nesta turma.

— É... parece que não — resmungou ele.

Quando Chabashira-sensei lançou um olhar duvidoso a Sudou, ele desviou o olhar para o chão.

— Para verificar a existência de testemunhas, todos os professores informarão suas respectivas turmas sobre os detalhes do incidente.

— Hã?! Vai contar pra todo mundo?! — exclamou Sudou, incrédulo.

A escola provavelmente não tinha escolha. Já que Sudou insistira que era uma acusação falsa e mencionara uma possível testemunha, era necessário confirmar os fatos. Para Sudou, que queria manter tudo em segredo, aquilo não poderia ser pior.

— Droga! — rosnou ele.

O plano de Sudou já tinha desmoronado.

— Enfim, é só isso. Daremos nosso veredito final na próxima terça-feira, levando em conta qualquer testemunho ou prova. Com isso, encerramos a chamada de hoje.

Chabashira-sensei saiu, e Sudou a seguiu logo em seguida. Provavelmente percebeu que, se ficasse na sala, acabaria perdendo a cabeça com alguém.

— Cara, o Sudou é mesmo o pior, né? — foi Ike quem falou primeiro.

— Se a gente perder pontos por causa do Sudou, vamos voltar a zero de novo esse mês?

A sala mergulhou no caos, e as coisas começaram a sair do controle. Se realmente perdêssemos pontos por causa disso, Sudou provavelmente se tornaria o único alvo da frustração da turma. Naturalmente, Kushida não queria que isso acontecesse.

— Pessoal, podem ouvir o que eu tenho a dizer, por favor? — pediu Kushida, levantando-se e tentando conter a agitação. — O que nossa professora disse parece ser verdade. Sudou-kun pode ter se envolvido numa briga. Mas ele foi provocado.

— Kushida-chan, o que você quer dizer? Você acredita no Sudou? — perguntou uma colega.

Kushida então contou para toda a classe a história do dia anterior. Explicou que Sudou havia sido escolhido como candidato para jogar regularmente no time de basquete. Contou também que alguns membros do clube de basquete estavam com inveja e o chamaram para fora, ameaçando-o para que deixasse o time. Sudou, em legítima defesa, acabou acertando neles.

A maioria da turma ouviu atentamente as palavras sinceras de Kushida em silêncio. Se Sudou ou eu tivéssemos tentado explicar a situação da mesma forma, provavelmente não teríamos sido nem metade tão convincentes. Mesmo assim, nem todos acreditaram facilmente na história. O comportamento normalmente problemático de Sudou tornava difícil engolir, por mais plausível que parecesse.

— Gostaria de pedir novamente a todos vocês: se alguém souber de alguém que tenha visto o que aconteceu — seja alguém da turma, um amigo ou um veterano — por favor, me avisem. Podem entrar em contato comigo a qualquer momento. Eu realmente agradeceria de coração.

Embora ela basicamente tivesse dito a mesma coisa que Chabashira-sensei, a reação da turma foi completamente diferente. Kushida tinha uma habilidade natural de se conectar com as pessoas. Sua presença irradiava uma luz tão intensa que era quase palpável.

Instantaneamente, o silêncio tomou conta da sala. O primeiro a falar não foi uma testemunha, mas Yamauchi.

— Ei, Kushida-chan. Eu simplesmente não consigo acreditar no que o Sudou disse. Acho que ele mentiu só para justificar o que fez. Ele vivia contando, no fundamental, como batia em outros garotos. Dizia até o quanto era divertido brigar.

Depois que Yamauchi expressou suas dúvidas, o restante da turma começou a murmurar críticas semelhantes contra Sudou.

— Eu vi ele agarrar um garoto pelo colarinho só porque se esbarraram no corredor.

— Eu vi ele furar fila no refeitório e ficar irritado quando alguém tentou dizer que aquilo não era certo.

O apelo de Kushida pela inocência de Sudou parecia não ter alcançado ninguém. A turma já o havia condenado, pois ele provavelmente faria todos perderem os preciosos pontos conquistados com tanto esforço.

— Eu quero acreditar nele.

Hirata, o herói da classe, pronunciou essas palavras ao se levantar em apoio a Kushida. Sua postura era confiante, e ele claramente não tinha sido contaminado pela maré de antipatia que tomava conta dos outros.

— Se fosse um aluno de outra classe duvidando dele, eu entenderia — disse Hirata. — Mas acho errado desconfiar de um colega de classe tão facilmente. Não deveríamos, como amigos, fazer tudo o que pudermos para ajudar alguém em dificuldade?

— Concordo! — Karuizawa, a namorada do heroico Hirata, exclamou em concordância, afastando a franja do rosto com a mão enquanto falava. — Se for uma acusação falsa, isso é grave, não é? De qualquer forma, a gente se sentiria mal se ele fosse inocente, certo?

Se Kushida vivia movida pela doçura do coração, Karuizawa vivia pela força de sua vontade. Talvez tenha sido por influência das duas que muitas meninas começaram a demonstrar apoio também.

Esse era o típico comportamento japonês: seguir o exemplo quando alguém tomava a dianteira. Mesmo que alguns ainda zombassem dele em pensamento, agora estavam dispostos a ajudar Sudou — pelo menos um pouco. As críticas cessaram, ao menos por enquanto. Hirata, Kushida e Karuizawa haviam conquistado a admiração do restante da classe.

— Vou tentar perguntar aos meus amigos!

— Então eu vou falar com os veteranos que conheço no clube de futebol!

— Eu também vou perguntar por aí.

A partir desses três, começamos nossa pequena investigação para provar a inocência de Sudou. Bem, eu imaginei que não precisaria participar disso. De qualquer forma, eu não seria muito útil. Melhor deixar tudo nas mãos deles e me afastar discretamente.

*

 

— Eu planejava ficar de fora disso... Mas...

Hora do almoço. Por algum motivo, acabei me juntando ao nosso grupo habitual no refeitório. O grupo era composto por mim, Kushida, Horikita, Ike, Yamauchi e Sudou. Não havia como evitar. Quando o intervalo chegou, Kushida me convidou com um sorriso:

— Quer almoçar comigo? — E, claro, eu disse que sim. Quer dizer, não tinha muita escolha.

— Você parece se meter em confusão o tempo todo, Sudou-kun.

Horikita suspirou, exasperada. Naturalmente, o assunto era como provar a inocência de Sudou.

— Bom, acho que não temos muita escolha. Como seus amigos, vamos te ajudar, Sudou.

Apesar de ter sido contra Sudou no início, a atitude de Ike havia mudado completamente. Isso, sem dúvida, era mérito de Kushida, que o havia convencido a ajudar. Sem saber o que Ike realmente pensava, Sudou ainda se desculpou.

— Desculpa, Horikita. Eu causei problemas de novo. Mas, desta vez, não foi culpa minha. Tudo o que fiz foi estragar o plano daqueles idiotas da Classe C.

Sudou falava com indiferença, como se estivesse descrevendo o problema de outra pessoa.

— Desculpe, mas eu não tenho vontade de te ajudar desta vez — respondeu Horikita friamente. — Para a Classe D subir de posição, é importante recuperar o quanto antes os pontos que perdemos. Mas agora, provavelmente, não conseguiremos ponto nenhum — e é por sua culpa. Você atrapalhou nossos planos.

— Espera aí! Pode até ser que você tenha razão, mas eu não sou o culpado aqui! Foram eles que começaram a briga! Como isso pode ser culpa minha?!

— Você continua se prendendo a quem começou a briga, mas isso é um detalhe trivial. Nunca pensou nisso?

— Trivial?! Isso muda tudo! Eu não fiz nada de errado!

— É mesmo? Então, boa sorte para você.

Horikita pegou sua bandeja intocada e se levantou.

— Então você não vai ajudar? Achei que éramos amigos!

— Não me faça rir. Nunca te considerei um amigo. Nada me deixa mais desconfortável do que estar perto de alguém que não reconhece a própria estupidez. Adeus.

Horikita parecia mais cansada do que irritada. Ela soltou um suspiro profundo e foi embora.

— Qual é o problema dela?! Droga! — Sem saber onde descarregar a raiva, Sudou bateu com força na mesa do refeitório, derrubando a tigela de missoshiru de um aluno próximo. O garoto o encarou, mas, ao ver o olhar ameaçador de Sudou, ficou em silêncio. É, eu entendia bem aquele sentimento.

— Acho que agora depende só da gente.

— Eu sabia que podia contar com você, Yamauchi. E tô contando com você também, Ayanokoji.

Pelo "também", parecia que eu vinha em segundo lugar, atrás do Yamauchi. Bem, nada surpreendente.

— Mesmo que você peça minha ajuda, sabe que eu não tenho muito o que fazer, certo? — Minha autodepreciação não pareceu surtir efeito.

— Você está assim desde ontem, Ayanokoji-kun. Não vai dizer nada, Ike-kun? — perguntou Kushida.

— Bem, eu... quero dizer, é meio estranho o Ayanokoji achar que não vai ser útil. Mas acho que tê-lo junto é melhor do que não ter, né? Talvez? — Como esperado, Ike não conseguiu pensar em nenhum motivo real para eu ser útil. Olhei para Kushida com um ar presunçoso — como quem exibe o poder de alguém completamente sem talento.

— Isso é meio desanimador. Achei que estudar juntos para aquela prova tivesse nos aproximado um pouco — disse Ike, desapontado. Observei Horikita sentar-se mais longe, com uma expressão levemente irritada.

— Eu não entendo a Horikita. Qual é a dela, Ayanokoji? Por que ela tá agindo assim? — Eu não fazia ideia de como responder. Será que eles achavam que eu era o manual de instruções dela? Enfiei uma colherada generosa de arroz na boca para escapar da pergunta.

— Mas é estranho, né? A Horikita quer chegar à Classe A, certo? Ajudar o Sudou-kun significaria ganhar mais pontos. Então por que ela não ajuda?

— É porque ela odeia o Sudou? Quer dizer, ela acabou de dizer que não o considera um amigo.

Provavelmente não era por isso. Mas todos pareciam ter entendido errado — acharam que a recusa dela era pessoal.

— Eu não quero acreditar nisso, mas... talvez seja verdade.

— Kushida, a Horikita é…

Sem pensar, as palavras começaram a escapar da minha boca. Kushida olhou para mim, curiosa.

— A Horikita-san é o quê? — perguntou.

— Ah... Bem, talvez não seja tão relevante, mas eu queria dizer uma coisa. Acho que a Horikita costuma falar de forma bem direta, até rude. Mas eu acho... que vocês interpretam ela mal.

— Hã? Como assim?

— Acho que ela simplesmente não ajuda ninguém sem um motivo para isso.

— Espera, do que você tá falando? Você fica dizendo "acho" toda hora. Tá só chutando, né? — interrompeu Sudou, irritado.

Era óbvio que ele ainda pensava em Horikita — e não estava nada feliz com a rejeição dela. Explicar o motivo não seria difícil... mas como fazer isso? Horikita provavelmente percebeu algo quando a professora nos contou sobre o incidente. Aquilo tinha acontecido por um motivo. E o desfecho que Horikita vislumbrou...

Bem, a chance de um final feliz era quase nula. Depois de perceber isso, ela provavelmente se afastou de propósito, para evitar falsas esperanças. Mas se eu dissesse isso agora, eles ficariam desanimados. Isso só traria mais problemas.

Horikita, provavelmente, não quis destruir a moral deles — por isso foi embora.

— Bem... É, estou só chutando, como você disse, Sudou.

— Então o quê? Você não tem um motivo?

— A Horikita é inteligente, certo? Então acho que ela deve ter algum plano em mente.

— Que plano? O de me jogar fora como lixo?

— Ei, ei, calma aí. Não vamos criticar ninguém. É natural que o Ayanokoji-kun defenda a Horikita-chan, já que eles estão sempre juntos. Ela é importante pra ele, né? — Ike exibiu um sorriso malicioso e provocador, claramente zombando de mim. Sudou, irritado, estalou a língua e voltou a comer em silêncio.

— Bom, seria ótimo se aparecesse uma testemunha — disse ele. — Os professores estão indo de classe em classe falando sobre o incidente. Quando encontrarem alguém, tudo deve se resolver rapidamente.

Eu entendia esse otimismo, mas... será que seria mesmo tão simples? Para ser sincero, estávamos diante de um obstáculo enorme. Não era irracional da parte da Horikita ter desistido. Além disso, mesmo que houvesse uma testemunha, estaríamos perdidos se ela fosse da Classe C. Seria natural que um aluno daquela classe escondesse a verdade para proteger os colegas. Afinal, essa escola funcionava como uma hierarquia. Era improvável que a culpa individual superasse as desvantagens coletivas.

Mesmo que a testemunha fosse de outra turma, o problema seria o quanto ela viu. Se tivesse presenciado tudo de forma realmente neutra, seria outra história. Mas...

— Ah, desculpem. Preciso sair um pouco. Vou perguntar a alguns veteranos se eles viram alguma coisa — disse Kushida, levantando-se da cadeira.

— Você se esforça tanto por um cara como o Sudou, Kushida-chan... Isso é tão fofo.

Ike, completamente hipnotizado, ficou observando fixamente o balanço do quadril de Kushida enquanto ela se afastava.

— Eu devia me declarar pra Kushida-chan... — murmurou ele, sonhador.

— Ah, qual é. Você acha mesmo que ela vai descer ao seu nível, Ike? — provocou Yamauchi.

— Tenho mais chances que você.

Na verdade, não havia muita diferença entre os dois.

— Se eu namorasse a Kushida-chan... Ahhhhh...

Ike começou a se perder em devaneios, praticamente babando. Provavelmente imaginava coisas nada apropriadas.

— Ei! Por que tá fantasiando com a minha Kushida-chan desse jeito?!

— N-Não tô, não... — respondeu ele, com o olhar completamente apaixonado.

— Desgraçado, o que você tá imaginando, hein?! Fala logo! — retrucou Yamauchi, claramente incomodado com a liberdade dos pensamentos de Ike.

— Como assim, o que eu tô imaginando? Obviamente, tô pensando em abraçar ela... pelada.

Aparentemente, ele conseguia visualizar a cena graças ao poder da imaginação masculina — ou algo assim.

— Droga! Eu não vou ficar pra trás! Também já pensei em umas coisinhas!

Não era exatamente o tipo de comentário ético.

— Para com isso! Não ouse tocar na minha Kushida-chan com essas mãos imundas!

De certa forma, senti pena de Kushida. Provavelmente ela era o tema principal das fantasias noturnas deles.

— Acho que a melhor parte do ensino médio são as garotas, no fim das contas. Eu quero muito arranjar uma namorada logo. Se eu conseguir uma até o verão, posso ir à piscina com ela! Seria o máximo!

— Seria o máximo se a Kushida-chan fosse minha namorada... Seria o máximo se ela fosse minha namorada...

Yamauchi repetiu a frase duas vezes. Devia ser algo importante para ele.

— Mas pensa bem... A Kushida-chan é tão linda. Não acha que ela vai arrumar um namorado a qualquer momento?

— Não fala isso, Yamauchi! Além disso, não parece que ela tenha um ainda, então não precisamos nos preocupar — respondeu Ike, com um tom confiante — embora parecesse estar tentando se convencer disso.

— Quer saber? Aposto que vocês dois querem saber.

— Saber o quê? Do que você tá falando, Ike? Conta pra gente.

Ike puxou o celular com um ar cansado, mas decidido.

— Dá pra rastrear a localização dos amigos cadastrados pelo celular escolar.

Ele começou a procurar onde Kushida estava naquele momento. Pouco depois, as informações apareceram na tela: o marcador indicava o refeitório.

— Eu verifico com frequência, até nos fins de semana. Finjo que encontro ela por acaso. Faço isso para garantir que ela ainda não tem namorado.

Ele cruzou os braços e sorriu com confiança. O que ele fazia soava muito como perseguição. Um passo a mais e seria caso de polícia.

— Pensando bem, a Kushida-chan tá fora do nosso alcance. Ela nunca se rebaixaria ao nosso nível. Mas e se eu mirasse um degrau abaixo dela?

— É... Bem, eu não poderia ter uma namorada feia.

— É, quando imagino a gente andando lado a lado... Ela tem que ser pelo menos um sete de dez.

Parece que Ike e Yamauchi estavam mesmo desesperados por uma namorada. As fantasias deles eram completamente ilusórias, mas ainda assim, não desistiam do sonho.

— E você, Ayanokoji? Quer uma namorada?

— É... acho que sim. Se fosse possível.

Se eu tivesse uma namorada, provavelmente não sofreria tanto assim.

— Só pra confirmar, não tem nada entre você e a Horikita, né? — perguntou Sudou, apontando os hashis pra mim.

— Não.

— Mesmo?

Ele insistiu, como se duvidasse. Balancei a cabeça com firmeza.

— Tá bom, entendi. Acho que me enganei. É que você vive grudado nela, e isso deve incomodar a Horikita.

Eu não lembrava de ter "grudado" em ninguém. Muito menos na Horikita.

— Você realmente curte a Horikita? — perguntou Ike. — Quer dizer, ela é bonita e tal, mas... parece meio sem graça, sabe? Eu não aguentaria alguém tão monótona. Ela não ia querer ir à piscina, sair num encontro, nem nada disso.

— Vocês não sabem de nada. A Horikita é mil vezes melhor que a Kushida — retrucou Sudou, cruzando os braços e assentindo, orgulhoso de suas preferências. — Qualquer outro cara, ela dispensaria na hora. Mas se fosse o namorado dela, aí seria diferente. Aposto que mostraria um lado secreto que ninguém mais vê.

— Entendi... Acho que consigo imaginar isso. Tão fofa...

Yamauchi olhou para Horikita e se perdeu em suas próprias fantasias.

— Mas a Horikita dos seus sonhos parece ter te dispensado, Sudou.

— É... acho que sim. Droga! Agora fiquei deprimido.

— Bem, pra mim, isso é ótimo. Menos um rival pela Kushida-chan.

Ike era multitarefa: observava as garotas "nota sete" ao redor enquanto mantinha Kushida como seu alvo principal.

— E você, Ayanokoji? Já que não tem nada com a Horikita, tem alguém de quem goste? Tipo, o Sudou gosta da Horikita, o Yamauchi gosta da Kushida-chan... Você precisa saber quem são seus rivais, afinal.

— Alguém que eu goste...

Ninguém realmente me vinha à cabeça. Pensei com seriedade por um momento. Se tivesse que escolher alguém, talvez fosse... Kushida? Ela era a pessoa com quem eu mais conversava, então era natural. Mas, sabendo que ela não gostava de mim, eu simplesmente não conseguia imaginar as coisas indo adiante.

— Nenhuma, não — respondi.

Mesmo assim, Ike e Yamauchi me lançaram olhares desconfiados.

— Você realmente acha que existe um cara que não tenha uma queda por alguma garota?

— Impossível. Esse tipo de cara não existe. Não esconde a verdade da gente, Ayanokoji.

— Diferente de vocês, eu praticamente não conheço nenhuma garota além da Horikita e da Kushida.

— É... pensando bem, é verdade. Nunca te vi conversando com outras garotas.

Achei meio deprimente o quanto eles pareciam convencidos disso.

— Então vamos te apresentar a umas garotas! — disse Ike, passando o braço sobre meus ombros com um sorriso confiante.

— Não é meio patético você querer me apresentar garotas se nem você tem namorada?

— Bem... é...

— Ei, a Sae-chan-sensei disse que vamos ter férias de verão, lembra? Pois eu vou arranjar uma namorada até lá! De preferência a Kushida-chan! Ou alguma outra garota fofa que eu ainda nem conheço!

— Eu também, eu também! Mesmo que seja a mais simples de todas, vou conseguir uma namorada... e aí vou curtir de verdade a vida amorosa do ensino médio!

— Quando será que devo confessar meus sentimentos pra Horikita?

Os três começaram a conversar livremente sobre as garotas de quem gostavam.

— A gente devia fazer uma aposta para ver quem consegue uma namorada primeiro. O vencedor paga um almoço pra todo mundo! Que tal?

Fiquei pensando se participar de uma competição tão sem vergonha assim realmente me tornaria amigo deles. Parecia complicado.

— Qual é, Ayanokoji? Não vai dizer que tá pensando em ficar de fora dessa, né? — disse Ike.

— Não, só estava pensando... por que o primeiro cara a conseguir uma namorada é quem tem que pagar o almoço pros outros?

— Ah, é simples. Pensa como um tipo de "taxa da inveja", entendeu?

— Um cara fica feliz quando arruma uma namorada. E como ele tá feliz, ele paga as coisas pros amigos de boa.

Embora eles estivessem animados com a conversa, o problema do Sudou ainda não tinha sido resolvido.

*

 

Depois das aulas, a turma se dividiu em grupos para conversar com outras pessoas e tentar reunir informações. No entanto, não havia tanta gente assim ajudando na busca por uma testemunha. Hirata e Karuizawa lideravam a Equipe Herói & Garota Popular, enquanto Kushida comandava a Equipe Garota Bonita & Entourage. Eles pretendiam procurar pelo campus inteiro. Ainda assim, seria difícil conseguir resultados em tão pouco tempo.

Havia cerca de 400 alunos naquela escola. Mesmo desconsiderando todos da turma 1-D, a diferença seria mínima. Encontrar uma única pessoa seria complicado, mesmo usando todos os intervalos, o almoço, o pós-aula e as manhãs.

— Certo, vou pro dormitório.

— Vai mesmo voltar agora, Horikita-san?

Horikita assentiu sem hesitar e deixou a sala logo em seguida, como já era de se esperar. Ela não se abalou diante dos olhares dos colegas — todos com expressões que diziam algo como "Você vai embora mesmo?". Provavelmente seria o tipo de mulher que, no futuro, deixaria reuniões no horário exato e ignoraria qualquer clima social.

— Bem então...

Se a tática da Horikita era sair da sala com confiança, a minha era exatamente o oposto: desaparecer nas sombras.

— Ayanokoji-kun.

Tentei sair discretamente, rápido como um ninja, mas fui descoberto. Kushida me chamou, com um leve tom de ansiedade na voz.

— O que foi? Precisa de alguma coisa? — perguntei.

Desculpe, Kushida. Eu tinha decidido me manter firme e recusar qualquer convite. Depois disso, voltaria direto pro dormitório.

— Você vai... nos ajudar, não vai?

— Claro.

Não consegui dizer "não". Olhos ligeiramente voltados para cima + expressão suplicante = fatal. Tive a sensação de que Kushida estava me controlando completamente. Irresistível. Era como tentar ficar acordado por dois dias seguidos: por mais que alguém se esforçasse, cedo ou tarde o corpo cedia. Todo mundo tem um limite. É assim que os humanos funcionam.

Depois que terminei de tentar justificar a mim mesmo, Kushida fez uma proposta:

— Quero convencer a Horikita-san a nos ajudar dessa vez. Você pode tentar falar com ela de novo?

— Mas ela já foi embora.

Tinham falhado em detê-la há poucos minutos. Já era hora de tentar de novo?

— Sim. Quero ir atrás dela. Se a Horikita-san ajudar, acho que vai fazer uma grande diferença.

— Bem, nisso eu não posso discordar.

— Se tentarmos convencê-la com calma, você acha que temos uma chance?

Se ela queria tentar novamente, eu não tinha o direito de impedi-la. Apenas assenti.

— Ike-kun, Yamauchi-kun, vocês dois podem esperar aqui, por favor? Já voltamos — disse Kushida.

— Beleza! — responderam em coro.

Não dava pra dizer que aqueles dois se davam bem com a Horikita. Kushida parecia saber disso.

— Vamos.

Kushida segurou meu braço, e saímos juntos. Que sensação era aquela? Um tipo estranho de euforia tomou conta de mim. Tive a impressão de ouvir Ike e Yamauchi gritando algo irritados ao fundo, mas devia ser só imaginação. Heh.

Quando chegamos à entrada do prédio, Horikita já não estava à vista. Provavelmente tinha ido embora. Não era do tipo que parava no caminho — devia ter seguido direto pros dormitórios. Passei por vários alunos calçando os sapatos e se preparando para ir embora. A maioria andava em duplas ou pequenos grupos, mas avistei uma figura solitária caminhando com passos firmes. Era Horikita.

— Horikita-san.

Hesitou um instante, mas ela respondeu de imediato:

— O que foi? — Aparentemente, não esperava que a seguíssemos. Virou-se, um pouco surpresa.

— Eu realmente queria pedir para você nos ajudar no caso do Sudou-kun. Tem como?

— Achei que já tinha recusado. E há poucos minutos, inclusive — disse Horikita, dando de ombros como quem acha a situação ridícula.

— Eu sei, mas... acho que isso é necessário para chegarmos à Classe A.

— Necessário para chegar à Classe A, é? — Horikita parecia duvidar. Não parecia disposta a ouvir o que Kushida dizia. — Você é livre para correr por aí tentando ajudar o Sudou-kun. Não tenho o direito de te impedir. Mas, se precisar de ajuda, procure outra pessoa. Estou ocupada.

— Ocupada? Mas todo mundo está ocupado com o caso do Sudou agora — escapou da minha boca, e logo recebi um olhar cortante de Horikita.

O olhar dela claramente dizia: Por que você ainda está falando?

— Tenho uma rotina importante todos os dias, e preciso do meu tempo sozinha. É desagradável quando tentam roubar isso de mim.

Típico de uma misantropa convicta. Se ela simplesmente dissesse que não gostava de socializar, soaria como uma desculpa.

— Mesmo que eu intervenha e o salve agora, ele vai acabar se metendo em confusão de novo. É um ciclo vicioso, não acha? Você parece pensar que o Sudou-kun é a vítima aqui, mas eu discordo.

— Hã? Mas o Sudou-kun é a vítima, não é? Além disso, seria terrível se ele estivesse mentindo.

Kushida não parecia compreender o que Horikita queria dizer.

— Talvez os alunos da Classe C realmente tenham começado a briga, mas o Sudou-kun também foi um dos responsáveis.

— E-Espera... como assim? O Sudou-kun não foi arrastado pra briga? — Horikita virou lentamente o olhar para mim, com uma expressão que dizia me poupe.



Não, eu não tinha dito nada. Abaixei os olhos, desviando o olhar como quem tenta escapar. Depois de um breve silêncio, Horikita falou, num tom cansado e impaciente.

— Por que ele foi arrastado para a briga? — perguntou Horikita. — Esse problema vai continuar até entendermos essa questão fundamental. Entendeu? Não pretendo ajudar enquanto essa pergunta não for respondida. Já que vocês não conseguiram me convencer, por que não perguntam ao rapaz aí do lado? Mesmo fingindo que não entende o que estou pensando, ele provavelmente entende sim.

Por favor, pare de dizer que eu te entendo.

Kushida me olhou, confusa. Sua expressão claramente dizia o que você sabe sobre isso? Vamos lá, Horikita, não diga mais do que o necessário…

Horikita começou a se afastar, indicando que o resto da conversa ficava por minha conta.

Kushida pareceu, enfim, processar as palavras dela e desistiu de ir atrás.

— O Sudou-kun é… um dos culpados? Isso é verdade? — perguntou ela, hesitante.

Kushida virou-se para mim, como se pedisse que eu a salvasse de novo. Desde que Horikita revelou que eu estava fingindo ignorância, as coisas provavelmente iam se tornar um incômodo. Além disso, eu até daria meu código do banco para Kushida se ela pedisse com uma expressão tão fofa.

— Entendo um pouco o que a Horikita quis dizer. Pelo menos, o Sudou tem parte da culpa nesse caso. Ele é do tipo que se irrita facilmente, não é? Sempre que lida com alguém de quem não gosta, ele perde a cabeça, fala e age de forma agressiva, mandona. Quando ouvi que ele estava sendo cotado para uma vaga fixa no time de basquete, fiquei surpreso e impressionado ao mesmo tempo. Ninguém discorda que ele é um jogador incrível, mas se continuar agindo com tanta arrogância e orgulho, algumas pessoas vão acabar odiando-o. Aqueles que se esforçam muito por sua posição provavelmente veem o Sudou como alguém bem desagradável. E ainda tem os rumores, não é? Dizem que o Sudou vive brigando desde o ensino fundamental. Nunca encontrei ninguém que o conhecesse na escola anterior, mas, considerando o tanto que comentam sobre isso, pode haver alguma verdade nesse boato.

As pessoas não tinham uma boa impressão do Sudou.

— Isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde. É por isso que a Horikita disse que ele era o culpado.

— Então... o comportamento dele, somado às atitudes repetidas, levou a essa situação, certo? — perguntou Kushida.

— É. Enquanto ele continuar provocando os outros, os problemas vão persegui-lo inevitavelmente. Além disso, se não houver provas, as pessoas vão usar a imagem dele contra ele. Em outras palavras, vão julgá-lo pelas aparências. Por exemplo, imagine um caso de assassinato. Há dois suspeitos. Um deles já cometeu um assassinato no passado, e o outro é um cidadão exemplar. Com base apenas nisso, em quem você acreditaria?

Se perguntassem, quase todo mundo daria a mesma resposta.

— Bem... eu acreditaria no cidadão exemplar, claro.

— A verdade pode ser diferente. Mas quanto menos informação você tem para julgar, mais precisa se basear no pouco que tem em mãos. É isso que está acontecendo aqui. A Horikita não consegue ignorar o fato de que o Sudou não reconhece os próprios defeitos.

Eu não achava que fosse exatamente um caso de "colher o que se planta", mas...

— Entendo. Então era isso que ela quis dizer... — Kushida fez um pequeno aceno com a cabeça. — Então a Horikita-san não vai ajudar o Sudou-kun porque quer dar uma lição nele?

— Acho que sim. Ao puni-lo, ela quer que ele se compreenda melhor.

Kushida entendeu, mas claramente não concordou. Parecia até um pouco irritada, cerrando os punhos de leve.

— Eu não concordo em abandonar o Sudou-kun só para puni-lo. Se ela está insatisfeita com ele, acho que deveria, pelo menos, conversar diretamente. É isso que os amigos fariam.

Eu não achava que Horikita considerasse Sudou um amigo, na verdade. Além disso, ela não era o tipo de pessoa que ensinava através da gentileza. Não sentia obrigação em relação aos outros.

— Você deve agir de acordo com seus próprios princípios, Kushida. Não acho errado querer ajudar o Sudou.

— É.

Kushida assentiu sem hesitar. Ela estenderia a mão a um amigo em necessidade quantas vezes fosse preciso. Soa simples, mas é algo difícil de se fazer. Só alguém como ela conseguiria.

— Mas acho melhor refletirmos com cuidado antes de apontar diretamente os problemas do Sudou. Se ele não parar para pensar por conta própria, não vai adiantar nada. Existem certas percepções que só se alcançam sozinho.

— Certo. Entendi. Vou seguir seu conselho, Ayanokoji-kun.

Kushida se espreguiçou, arqueando as costas; eu havia mudado sua forma de pensar.

— Então, vamos procurar a testemunha.

Voltamos para a sala de aula e nos reunimos novamente com Ike e Yamauchi.

— Hã? Então você não conseguiu convencer a Horikita? — perguntou Ike.

— Não, desculpa. Eu falhei — respondeu Kushida.

— Não, não. Você não precisa se desculpar, Kushida-chan. A gente deve se virar bem com quem já temos.

— Conto com vocês, Ike-kun, Yamauchi-kun — disse Kushida, com um brilho no olhar. Os dois a encararam, completamente encantados.

— Certo, por onde começamos?

Sair procurando uma testemunha ao acaso seria ineficiente. Teria sido melhor traçar um plano antes de começar a busca.

— Se ninguém tiver objeção, que tal começarmos perguntando na Classe B? — sugeri.

— Por que a Classe B?

— Porque é a classe que mais teria interesse em encontrar uma testemunha.

— Desculpe. Eu não entendi muito bem, Ayanokoji-kun.

— Entre as turmas D e C, qual delas representa a maior ameaça à Turma B? Ou, em outras palavras, qual tem mais chances de ameaçar a posição da B no ranking?

— A C, é claro. Então, devemos falar com a C por último, imagino. Mas por que não começar pela Turma A?

— Sabemos muito pouco sobre a Turma A. Não acho que eles queiram se envolver em um assunto problemático que possa afetar negativamente seus pontos. Também é possível que os alunos da Turma A simplesmente não se importem, já que não sentem nenhuma ligação com o que acontece entre as turmas C e D.

É claro que eu ainda não sabia se podíamos confiar na Turma B. Se eles tivessem alguém particularmente astuto, essa pessoa poderia muito bem ter elaborado um plano para derrotar não apenas a Turma C, mas também a Turma D. Mesmo que tal plano não existisse, eu acreditava que devíamos preparar contramedidas baseadas nessa possibilidade.

— Então, vamos para a Turma B agora mesmo! — gritou Kushida.

— Espere.

Instintivamente, agarrei a gola da camisa de Kushida por trás.

— Nyaa! — Surpresa, Kushida soltou um miado parecido com o de um gato.

— Tão fofa! — exclamou Yamauchi, com corações nos olhos ao ver a reação adorável de Kushida. Ela provavelmente estava sendo fofa de propósito… Mesmo assim, meu coração disparou.

— É verdade que suas excelentes habilidades de comunicação são indispensáveis. No entanto, isso não é o mesmo que entrar casualmente em outra turma e tentar fazer amizade.

— Você acha?

Se a testemunha estivesse disposta a ajudar a Turma D por nada, ou se fosse uma pessoa amigável, então não haveria com o que se preocupar. Mas, se fosse alguém calculista, talvez não concordasse em ajudar. Só descobriríamos se essa pessoa estava disposta a colaborar se perguntássemos diretamente. Mesmo indo falar com a Turma B… como as coisas acabariam?

— Você conhece alguém da Turma B?

— Conheço, sim. Mas só me aproximei de algumas pessoas — respondeu Kushida.

— Então, vamos falar com essas pessoas primeiro.

De forma alguma queríamos que se espalhasse o boato de que a Turma D estava desesperadamente procurando por testemunhas.

— Espera aí, vamos perguntar um por um? Não seria muito mais fácil perguntar a todos de uma vez — disse Ike, claramente incomodado com aquele método indireto.

— Também acho que você está sendo muito negativo. Eu concordo que devemos falar com a Turma B, mas acho melhor perguntar a várias pessoas ao mesmo tempo. Se não fizermos isso, talvez não encontremos a testemunha a tempo.

— Entendo. Talvez você tenha razão. Devemos fazer o que achar melhor, Kushida.

— Desculpe, Ayanokoji-kun.

Kushida juntou as mãos em um gesto de desculpas. Mas ela realmente não tinha feito nada de errado. Era natural que tivéssemos opiniões diferentes. Além disso, em momentos como aquele, o mais sensato era seguir a decisão da maioria. O plano de Kushida me convenceu, então deixei de lado minha própria ideia.

De repente, senti uma estranha sensação — como se alguém estivesse me observando. Virei-me. Cerca de um terço da turma ainda permanecia na sala. Nada parecia fora do comum. Mesmo assim, eu não conseguia identificar o que exatamente estava me incomodando… ou quem me dava aquela sensação de estar sendo observado.

*

 

A primeira sala que visitamos tinha uma atmosfera um pouco diferente. Embora parecesse, em essência, igual à nossa, dava a sensação de estarmos em um lugar totalmente estranho. Era um pouco como no futebol; claramente, a diferença entre jogar em casa e fora de casa não era algo trivial. Também não sabíamos se os alunos ao nosso redor eram amigos ou inimigos. Até Ike e Yamauchi pareciam nervosos. Eles simplesmente ficaram parados na porta da sala, incapazes de se mover.

Kushida era a única que permanecia impassível. Na verdade, ela encontrou seus amigos da Turma B e, com um sorriso no rosto, acenou para eles e se dirigiu até eles. Que atitude incrível. Eu queria aprender a ser assim. Ela conversava com todos, independentemente do gênero, exatamente como agia na Turma D.

Ninguém estava mais com inveja disso do que Ike e Yamauchi. Kushida conversava alegremente com pessoas claramente mais atraentes do que eles.

— Droga! Tem caras demais atrás da minha Kushida-chan. Isso é péssimo!

Do que ele estava falando? Da "sua" Kushida?

— Não entre em pânico, Ike. Está tudo bem. Estamos na turma da Kushida-chan, então estamos um passo à frente deles!

Os dois, aliados na frustração, se seguraram pelos braços.

Embora houvesse apenas cerca de dez pessoas na sala, Kushida começou a explicar o caso de Sudou. Considerando tudo, a atmosfera na Turma B não era tão diferente da Turma D. Certamente não era o que eu esperaria de uma turma cheia de alunos exemplares. Eles não pareciam especialmente formais. Na verdade, muitos pareciam fazer o que queriam. Embora pudessem agir livremente dentro das regras da escola, eu esperava que cabelo e roupas fossem um pouco mais contidos. No entanto, alguns alunos tinham cabelos tingidos e… bem… certas garotas usavam saias relativamente curtas.

Como diz o ditado, não se deve julgar um livro pela capa. Ou talvez eles fossem superiores à Turma D em mais do que apenas os estudos.

Esta escola era misteriosa demais. Pensar sobre essas coisas era um verdadeiro incômodo. De qualquer forma, eu só tinha vindo para acompanhar Kushida hoje, então achei melhor deixar tudo por conta dela. Afastei-me um pouco da porta para evitar chamar a atenção de Ike e Yamauchi.

— Quero ir para casa.

Não queria que eles me ouvissem resmungando para mim mesmo. Pela janela, eu podia ver o pessoal do Clube de Atletismo correndo e suando. O ar-condicionado dentro da escola estava muito eficiente, então eu realmente não tinha vontade de sair.

— Uau, esses caras do clube esportivo trabalham mesmo, hein? — disse Ike, que, depois de dar uma olhada pela Turma B, juntou-se a mim na janela. Ele era especialmente imprevisível, então esperar provavelmente o entediava.

— Acho que gente que participa de clubes é burra — completou.

— Por que você diz isso? Sabe que uma afirmação dessas vai afastar metade dos alunos daqui, né? — Eu não tinha os números exatos, mas estimava que pelo menos 60 a 70% dos alunos participavam de algum clube.

— Se você gosta de se exercitar, por que não fazer apenas como hobby? Que vantagem há em passar por um regime tão rigoroso?

Achei estranho enxergar as atividades de um clube apenas em termos de benefícios ou prejuízos. Além disso, havia muitas vantagens em participar: você aprendia a se relacionar com outras pessoas, além de experimentar vitórias e derrotas — coisas que não se aprendem apenas estudando. Alguém que nunca participou de clubes e vai direto para casa depois da aula provavelmente precisava aprender essa lição.

— Talvez você tenha razão — disse eu.

Esperei alguns minutos até receber o relatório de Kushida. Certamente, não esperava o que ela me contou.

 

 

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