Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 2

Capítulo 1: O Repentino Início de Nossos Tumultuados Problemas

O TIMING NÃO poderia ter sido pior. Enquanto procurava um lugar para tirar uma boa selfie, eu esbarrei em algo. Até mesmo um certo detetive famoso e baixinho teria prendido a respiração ao testemunhar uma situação tão tensa.

Tudo começou há cerca de dez segundos. Alguém fez um comentário trivial, que irritou a outra parte. Isso levou a insultos cruéis, que se transformaram em uma briga de socos. Não, "briga" não era a palavra certa. Os outros três estudantes estavam caídos no chão, se contorcendo de dor. Um garoto ruivo estava de pé sobre eles, olhando de cima com ar vitorioso. Foi completamente unilateral.

Seu punho direito estava coberto de sangue dos estudantes que ele havia espancado. Foi a primeira briga de verdade que eu já testemunhei. No ensino fundamental, eu já tinha visto garotos discutindo em sala de aula, puxando roupas e beliscando braços. Mas isso era diferente. Eu conseguia sentir a tensão no ar.

Mesmo apavorada, comecei a registrar a cena com minha câmera. O obturador não fez som. Depois de tirar as fotos, perguntei a mim mesma o que estava fazendo. Eu não conseguia pensar claramente, tomada pelo pânico. Tentei ir embora rapidamente. No entanto, meu cérebro parecia ter parado de funcionar. Minhas pernas não obedeciam ao comando de se mover, como se eu estivesse paralisada.

— Hehe, então. Você acha mesmo que isso acaba aqui, Sudou?

Mesmo mal conseguindo se mexer, um dos estudantes no chão tentou provocar Sudou-kun.

— Quer me fazer rir? Você está no estado mais patético possível. Quer outra rodada, é? Da próxima vez eu não vou pegar leve.

Sudou-kun agarrou a gola do garoto espancado e o puxou para perto. Agora estavam cara a cara, separados por apenas alguns centímetros. Sudou-kun parecia prestes a matar e devorar seu oponente, tamanha era a intensidade do olhar. O garoto derrotado desviou os olhos, incapaz de encará-lo.

— Tá com medo? Achou mesmo que me venceria só por ter mais gente?

Sudou-kun bufou, largou o estudante, pegou sua bolsa e se virou para ir embora, como se os três derrotados não tivessem mais importância alguma. Meu coração disparou. Bom, era natural. Sudou-kun estava vindo na direção do meu esconderijo. Minhas rotas de fuga naquele prédio eram limitadas.

Pensei em descer correndo pelas escadas por onde eu tinha subido. Porém, eu ainda não conseguia me mover, e minha janela de oportunidade estava se fechando. Eu já tinha ouvido falar que, em situações de crise, o corpo travava — exatamente como estava acontecendo comigo.

— Que perda de tempo. Me cansar depois do treino… tenha paciência — resmungou Sudou-kun.

A distância entre nós diminuía. Ele estava a apenas alguns metros.

— Quem vai se arrepender disso depois é você, Sudou.

As palavras do garoto fizeram Sudou-kun parar no mesmo instante.

— Nada é mais patético do que um perdedor rancoroso. Não importa quantas vezes venham pra cima de mim, vocês não vão ganhar.

Ele não estava blefando. Tinha confiança de sobra para sustentar o que dizia. Afinal, Sudou-kun tinha acabado de vencer, ileso, uma luta de três contra um.

O dia seguinte seria primeiro de julho, mas, pelo tanto que eu estava suando, qualquer um pensaria que o verão já havia chegado. Permaneci completamente imóvel no meu esconderijo. O suor escorria pela nuca. Decidi sair com calma, em silêncio, sem entrar em pânico. Eu odiaria ser vista e acabar envolvida nessa confusão. Se isso acontecesse, uma nuvem escura pairaria sobre minha tranquila vida escolar.

Saí dali rápida e cuidadosamente.

— Tem alguém aí?

Sudou-kun, percebendo meu movimento, olhou para onde eu estivera segundos antes. Felizmente, consegui escapar por um triz. Se eu tivesse demorado dois segundos a mais, ele provavelmente teria me visto.

*

 

As manhãs na Classe D eram sempre agitadas, porque a maioria dos alunos estava longe de ser estudiosa. Hoje, porém, estavam ainda mais barulhentos do que o normal. O motivo era óbvio. Estávamos prestes a finalmente receber pontos pela primeira vez desde que chegamos a esta escola.

Minha escola, a Tokyo Metropolitan Advanced Nurturing High School, adotou um sistema inédito conhecido como Sistema de Pontos S (S-Point System). Vou explicá-lo em instantes.

Peguei o celular fornecido pela escola, abri o aplicativo instalado e fiz login com meu número de matrícula e senha. Em seguida, selecionei a opção "Consulta de Saldo" no menu. A partir dali, era possível ver várias coisas: verificar o saldo pessoal, conferir quantos pontos coletivos a classe tinha e até transferir pontos para outro estudante.

Havia dois tipos de pontos na tela. Um deles terminava com "cl", abreviação de "class". Eram os chamados "pontos de classe" — não pertenciam a um aluno em particular, mas eram o total acumulado por toda a turma. A Classe D estava com zero pontos de classe desde junho. Zero absoluto. O outro tipo terminava com "pr", de "private", ou seja, pontos individuais.

No primeiro dia de cada mês, os pontos de classe (cl) eram multiplicados por 100, e esse valor era depositado nas contas individuais de pontos privados. Usávamos esses pontos privados para comprar itens básicos, refeições e até eletrodomésticos. Nesta escola, pontos são dinheiro. Eles são extremamente importantes.

Se você não tivesse pontos privados, era obrigado a viver dia após dia sem gastar nada. Não era possível usar dinheiro de verdade em nenhum lugar do campus. Como a Classe D estava com zero pontos de classe, não recebemos nenhum ponto privado no mês — e tivemos que nos virar sem "dinheiro".

Quando começamos aqui, tínhamos 1000 pontos de classe. Se tivéssemos mantido esses pontos, receberíamos o equivalente a 100.000 ienes por mês. Infelizmente, nossos pontos variavam diariamente. Muitas coisas faziam com que diminuíssem: falar durante a aula, tirar notas baixas nas provas e assim por diante. Como resultado, chegamos ao mês de maio com zero pontos. E assim permanecemos até agora, 1º de julho.

Além de determinar nossa mesada, os pontos de classe serviam para medir o mérito das turmas. As classes eram organizadas em ordem decrescente de pontos: A até D. Então, se a Classe D conseguisse ultrapassar a Classe C em pontos, provavelmente seríamos promovidos de D para C no mês seguinte. E se algum dia conseguíssemos chegar até a Classe A, teríamos a chance de entrar na universidade que quiséssemos ou conseguir o emprego dos sonhos.

Quando ouvi falar desse sistema pela primeira vez, achei que acumular o máximo de pontos de classe possível seria o mais importante. Pontos privados trariam apenas satisfação pessoal. No entanto, minha perspectiva mudou quando comprei um ponto para a prova de meio de semestre.

Eu consegui comprar um ponto para o Sudou naquela prova recente. Se não tivesse feito isso, ele teria reprovado por pouco. Quando percebi que a escola permitia comprar pontos de prova, entendi que nossa professora, Chabashira-sensei, não estava brincando quando disse: "Nesta escola, você pode comprar qualquer coisa com seus pontos."

Ou seja, guardar pontos privados significava que você podia alterar sua situação de forma vantajosa. Pensando melhor, provavelmente dava para comprar mais do que apenas pontos de prova.

— Bom dia, pessoal. Vocês parecem mais inquietos do que o normal hoje.

Chabashira-sensei entrou na sala assim que o sinal do início da aula soou.

— Sae-chan-sensei! A gente tá com zero pontos de novo esse mês?! Quando eu olhei hoje de manhã, não tinha um único ponto na minha conta!

— Ah, então é por isso que estão tão agitados?

— A gente se matou de estudar esse mês! Passamos na prova intermediária, então por que ainda estamos com zero?! Ninguém chegou atrasado ou faltou, e ninguém falou durante a aula!

— Não tirem conclusões precipitadas. Primeiro, escutem o que eu tenho a dizer. Você está certo, Ike. Todos vocês trabalharam mais do que nunca. Eu reconheço isso. Naturalmente, a escola entende muito bem como vocês se sentem.

Repreendido, Ike fechou a boca e se sentou.

— Muito bem. Sem mais delongas, aqui estão os pontos deste mês.

Ela afixou no quadro um papel com os valores, começando pela Classe A no topo. Exceto pela Classe D, todas as outras tinham quase 100 pontos a mais do que no mês passado. A Classe A estava agora com 1004 pontos, um pouco acima de onde todos começaram quando entramos.

— Isso não é bom. Será que eles descobriram um jeito de aumentar a pontuação?

Minha vizinha, Horikita Suzune, parecia focada apenas nas outras classes. No entanto, Ike e a maioria dos alunos da Classe D não se importavam muito com a pontuação delas. A única coisa que realmente lhes interessava era saber se nós havíamos recebido mais pontos de classe. Só isso.

Ao lado do nome da Classe D, estava escrito o nosso total: 87 pontos.

— Hã? Espera, 87? Isso quer dizer que a gente subiu mesmo? Uhuuul!

Ike começou a pular de empolgação assim que viu a pontuação.

— É cedo demais pra comemorar. Todas as outras classes também tiveram um aumento parecido. A distância entre nós não diminuiu. Isso pode muito bem ser apenas uma recompensa que os alunos do primeiro ano recebem por terem passado pela prova intermediária. Parece que cada classe recebeu pelo menos 100 pontos.

— Então foi isso. Eu achei estranho termos ganhado pontos tão rápido.

Horikita, que almejava alcançar a Classe A, não parecia satisfeita com o resultado. Não havia nenhum sorriso em seu rosto.

— Você está decepcionada porque a diferença entre as classes aumentou, Horikita? — perguntei.

— Não, não é isso. Ainda assim, conseguimos alguma coisa desta vez.

— Conseguimos o quê? — perguntou Ike, agora em pé.

Horikita, ao perceber que havia atraído a atenção de todos, voltou ao silêncio. Parecia não querer responder. Então o líder da classe, Hirata Yousuke, falou por ela:

— Acredito que Horikita-san esteja se referindo às deduções que sofremos durante abril e maio. Em outras palavras, desta vez não houve redução de pontos por conversas durante a aula ou atrasos.

O perspicaz Hirata não deixou passar nada. Brilhante.

— Ah, é isso? Então, mesmo que tivéssemos ganhado 100 pontos, um monte de deduções teria feito a gente voltar pra zero — disse Ike, levantando os braços em sinal de vitória. — Espera. Mas então, por que a gente não recebeu nenhum ponto?

Ele repetiu a pergunta original para Chabashira-sensei. De fato, era esquisito que não tivéssemos recebido 8.700 pontos privados em nossas contas.

— Bem, houve um pequeno problema desta vez. A distribuição de pontos para os alunos do primeiro ano foi adiada. Sinto muito, mas vocês vão ter que esperar mais um pouco — explicou ela.

— Hã? Sério? Se a culpa é da escola, a gente não deveria ganhar algum tipo de bônus como compensação?

Os alunos começaram a reclamar, insatisfeitos. Bastou saberem que iriam receber pontos para a atitude deles mudar completamente. Havia uma grande diferença entre ter 87 pontos e não ter nenhum.

— Não coloquem a culpa em mim. Essa foi uma decisão da escola, não tenho controle sobre isso. Assim que o problema for resolvido, vocês receberão seus pontos. Se ainda restarem pontos, é claro.

Havia um significado mais profundo nas palavras de Chabashira-sensei.

*

 

Quando chegou a hora do almoço, todos foram comer. Ultimamente, passei a acreditar que almoçar com amigos é, na verdade, o aspecto mais difícil da vida estudantil. Veja Kushida Kikyou, por exemplo. Ela é extremamente popular e tem muitos amigos, tanto meninas quanto meninos. Recebe convites pessoalmente, além de mensagens constantes no celular e por e-mail. Mesmo sem conseguir responder a todos e às vezes precisando recusar convites, quando almoça com amigos, parece realmente viver a vida.

Por outro lado, existem pessoas como Ike e Yamauchi, que não fazem muito sucesso com as garotas. Eles comem quase todos os dias com o seu grupinho de amigos — incluindo Sudou e Hondou.

Enquanto isso, eu… não pertenço a lugar nenhum.

Eu diria que sou amigo da Kushida. Também sou amigo do Ike e do Yamauchi. Embora às vezes eu almoce com eles, não é algo frequente. De modo geral, é aquele tipo de relação em que a outra pessoa pergunta: "Quer almoçar?" ou "Tá livre depois da aula?"

No começo do ano letivo, isso não me incomodava. Antes de fazer qualquer amigo, era natural que eu ficasse sozinho. No entanto, agora eu vivia um fenômeno estranho: eu tinha amigos, mas ainda assim estava sozinho. Era uma sensação desconfortável.

Se por acaso eu faltasse no dia em que fossem formados os grupos para uma excursão, eu provavelmente ficaria de fora. Será que eles me consideravam um amigo de categoria inferior? Ou será que a amizade era algo que só existia na minha cabeça? Eram esses os pensamentos que me atormentavam.

Nervoso e ansioso, involuntariamente olhei para Ike e os outros. Estou bem aqui, pessoal. Não tem problema em me chamar. Meus olhares estavam cheios de expectativa e egoísmo. Logo em seguida, fui tomado por um sentimento de auto aversão. Me lembrando de que eu deveria saber quando desistir, desviei o olhar. Cenas patéticas como essa se repetiam diariamente.

— Você ainda não se acostumou. Continua patético como sempre, Ayanokoji-kun.

Minha vizinha me lançou um olhar frio.

— E você parece completamente acostumada à solidão — respondi.

— Estou perfeitamente bem, obrigada.

Eu pretendia soar sarcástico, mas Horikita recebeu aquilo como sinceridade. A maior parte da turma já havia formado seus grupos, mas alguns alunos ainda estavam sozinhos. Isso trazia certo alívio. Horikita não era a única solitária; Koenji também passava a maior parte do tempo sozinho.

Quando entramos na escola, ele costumava ser cercado por garotas de outras turmas e séries. No entanto, quando ficou sem pontos, passou a ficar mais tempo na sala de aula. Ele era o herdeiro do conglomerado Koenji, um dos maiores do Japão. Não é que amasse a solidão — ele amava a si mesmo, e se importava pouco com os outros. Eu respeitava o fato de que ele não parecia se incomodar em ficar sozinho. No momento, ele estava completamente absorto observando o próprio rosto em um espelho de mão — sua rotina diária.

Além dele, havia uma garota quieta, de óculos. Houve uma época em que Yamauchi fez um escândalo sobre o tamanho dos seios dela, mas como ela era considerada "sem graça", todos rapidamente perderam o interesse. Ela estava sempre sozinha, e eu nunca a vi conversar com ninguém. Dias atrás, a vi comendo sozinha, curvada sobre seu bentô. Era uma das poucas que preparavam a própria marmita.

Nesse instante, minha vizinha retirou um bentô de sua bolsa e o abriu. Ultimamente, Horikita também vinha preferindo preparar o próprio almoço, em vez de ir ao refeitório.

— Não custa caro e dá muito trabalho fazer seu próprio almoço? — perguntei.

Embora não fossem refeições de alta qualidade, as comidas gratuitas oferecidas no refeitório eram uma salvação para os alunos que tinham gastado todos os seus pontos. Uma marmita caseira consumia tempo e pontos — não parecia vantajoso.

— Não sei. O supermercado da escola fornece ingredientes de graça, sabia?

— Espera… então você fez isso só com coisas gratuitas?

Horikita apenas abriu o bentô como resposta. Não tinha muita carne nem fritura, mas parecia apetitoso.

— Não me diga… além de ser uma aluna brilhante, você também é uma cozinheira habilidosa? Isso não combina muito com a sua personalidade.

— Qualquer um consegue cozinhar lendo uma receita em um livro ou na internet. Os dormitórios também têm todas as ferramentas necessárias.

Horikita não desperdiçou mais palavras tentando mostrar o quanto era genial. Apenas pegou os hashis. Suponho que, para ela, tudo aquilo fosse óbvio.

— Mas por que você decidiu ter todo esse trabalho de preparar seu próprio almoço? — perguntei.

— O refeitório é barulhento. Aqui é muito mais tranquilo para comer, não acha?

No início do ano, muitos alunos compravam pão ou almoço no refeitório, mas com a falta de pontos, a grande maioria passou a escolher a refeição gratuita. Olhando ao redor, vi que restavam poucos alunos na sala.

Era esse o ambiente que Horikita preferia? Um lugar onde Ike e os outros não estivessem por perto?

— Será que já perdi a onda de alunos indo em massa para o refeitório?

— Você está sempre olhando para o oceano, mas não tem uma prancha de surfe. Falta até a determinação para encarar as ondas, não é? E ainda fala que sente falta disso? Você se acha demais.

Eu queria ter uma resposta à altura, mas não consegui retrucar. Só queria que ela pegasse leve comigo.

*

 

Diferente da hora do almoço, o tempo depois das aulas era surpreendentemente agradável, já que eu não precisava me preocupar em interagir com ninguém. Mesmo que eu voltasse direto para o dormitório, não chamava atenção — vários outros alunos faziam o mesmo. Havia certo valor em conseguir desaparecer no meio da multidão, como um ninja. Se eu ficasse andando discretamente atrás de um grupo de amigos, podia até fingir que fazia parte deles.

— Que lamentável.

Eu estava até um pouco satisfeito comigo mesmo por conseguir fingir tão bem que tinha amigos, mas, no fim das contas, não havia ninguém naquela escola que realmente se importasse com a minha encenação.

— Sudou. Preciso falar com você. Vá até a sala dos professores — chamou Chabashira-sensei, dirigindo-se a Sudou, que tentava escapar da sala às pressas.

— Hã? O que a senhora quer comigo? Tenho treino de basquete agora — respondeu ele, abrindo a mochila de forma desinteressada para mostrar o uniforme de esportes.

— Já falei com o orientador do clube. Você não precisa ir comigo se não quiser, mas vai arcar com as consequências depois.

As palavras ameaçadoras de Chabashira-sensei deixaram Sudou um pouco tenso.

— O quê? Vai demorar muito?

— Isso depende de você. Quanto mais tempo ficar parado aí, mais tempo vai perder.

Parece que ele não tinha escolha a não ser acompanhá-la. Sudou clicou a língua e saiu da sala atrás da professora.

— Achei que ele tivesse mudado, mas o Sudou continua o mesmo de sempre. Não teria sido melhor se ele tivesse sido expulso? — comentou alguém, em voz baixa.

Não sabia quem tinha dito aquilo, mas ouvi alguns alunos da turma murmurando. Achei que o exame do meio de período tivesse nos unido como grupo, mas devia ter sido só impressão minha. Que pena.

— Você também acha isso? Que teria sido melhor se o Sudou-kun tivesse sido expulso? — perguntou Horikita, enquanto guardava os livros na mochila. Provavelmente não havia muitos alunos que levavam os livros para todas as aulas, todos os dias. Às vezes eu achava que ela era séria demais.

— Não acho, não. E você, Horikita? Foi a única que ajudou o Sudou naquela época.

— Hmm. Bem, ainda não sabemos se nossos pontos realmente vão aumentar como turma — respondeu ela, desinteressada.

Quando Sudou estava prestes a ser expulso durante o exame de meio de período, Horikita o ajudou, rebaixando deliberadamente a própria nota e usando seus pontos para comprar uma pontuação de aprovação para ele. Eu jamais teria imaginado que ela fosse capaz de fazer algo assim.

Levantamos das carteiras ao mesmo tempo e saímos juntos da sala. Às vezes voltávamos para os dormitórios lado a lado, embora eu não conseguisse lembrar quando esse hábito começou. Já que não almoçávamos juntos nem passávamos tempo conversando, achava curioso. Mas, pensando bem, talvez fosse simplesmente porque seguíamos o mesmo caminho até o dormitório.

— Estou um pouco preocupada com o que a Chabashira-sensei disse esta manhã — comentou Horikita.

— Sobre o atraso dos nossos pontos?

— Sim. Ela mencionou que houve um problema, mas será que quis dizer que foi algo da escola ou algo relacionado a nós, os alunos? Se for o segundo caso, então...

— Você está pensando demais. A gente não causou nenhum problema ultimamente. Ela mesma disse isso. Duvido que só a Classe D fique sem receber os pontos. Deve ser apenas um problema interno da escola.

Mesmo que houvesse motivo para preocupação, mesmo que apenas os alunos do primeiro ano tivessem o pagamento atrasado, era improvável que a culpa fosse da Classe D. Provavelmente.

— Espero que seja isso mesmo. Problemas assim afetam diretamente nossos pontos.

Horikita passava todos os dias pensando em maneiras de aumentar nossa pontuação. E não estou falando dos pontos privados — ela se preocupava apenas com os pontos de classe. Queria chegar até a Classe A. Eu não diria que era impossível, mas, no momento, parecia algo muito distante.

Ainda assim, havia esperança. Se Horikita descobrisse uma forma confiável de aumentar os pontos, seria uma grande vantagem para a Classe D. Além disso, os colegas passariam a confiar mais nela — e talvez ela até fizesse amigos. Seria uma situação em que todos sairiam ganhando.

— Ah, lembrei de uma coisa. Você devia participar do chat de vez em quando. É a única que não aparece lá há tempos.

Peguei o celular e abri o aplicativo de mensagens em grupo. Havíamos convidado Horikita para o chat depois da prova intermediária. Kushida chegou a duvidar que ela fosse participar, já que detestava conversar com os outros. Apesar das tentativas de aproximação, Horikita não havia mandado uma única mensagem.

— Não tenho o menor interesse. Além disso, deixo as notificações desligadas.

— É mesmo?

Bom, aparentemente ela nunca teve intenção de participar. Provavelmente não excluiu o aplicativo só porque isso enviaria uma notificação para Kushida e o resto do grupo. Horikita tinha o direito de decidir se queria ou não participar, então não insisti. De qualquer forma, eu também não estava em posição de julgá-la.

— Você anda bem mais falante ultimamente, Ayanokoji-kun.

— Sério? Achei que sempre fui assim.

— É uma diferença sutil, mas você mudou.

Embora eu não tivesse percebido, talvez tivesse mudado um pouco desde que entrei naquela escola. Principalmente em relação à maneira como me dava com Horikita... Bem, não é que nos déssemos exatamente bem, mas eu não me sentia desconfortável perto dela. Se fosse outra garota, provavelmente eu ficaria nervoso e sem saber o que dizer.

Era por isso que eu só conversava com pessoas com quem me sentia à vontade. Acima de tudo, eu era grato por termos uma relação em que o silêncio não deixava o clima estranho.

— Algo fez você mudar?

— Não sei... Mas, se eu tivesse que dar um motivo, acho que foi por ter me acostumado com a rotina da escola e feito alguns amigos. Além disso, a Kushida provavelmente teve grande influência nisso.

Quando eu estava apenas com os caras, às vezes mal trocávamos palavras. Já com a Kushida por perto, sempre havia conversa — e o ambiente ficava mais leve.

— Você parece se dar muito bem com a Kushida-san. Isso não te incomoda, sabendo do outro lado dela?

— Admito que fiquei chocado quando ela disse que te odiava, Horikita. Mas acho natural que todo mundo tenha pessoas de quem gosta e pessoas de quem não gosta. Não tem motivo pra se preocupar com isso. Quero dizer… você ainda finge se dar bem com a Kushida-san, mesmo depois de ela ter dito que te odeia, certo?

— Hmm. Bem, pode ser que você tenha razão. É verdade que eu também te odeio, Ayanokoji-kun, e ainda assim converso com você normalmente. Então acho que não me importo muito.

— Ei…

Mas o quê? Aquilo doeu de verdade. Ela disse aquilo na maior naturalidade, como se não fosse nada.

— É disso que estou falando. Se alguém diz que odeia outra pessoa, tudo bem. Mas quando alguém diz que odeia você, não sente nem um pouquinho mal? — perguntou ela.

— Você estava me testando?

Horikita começou a ajeitar o cabelo de um jeito claramente calculado.

— Não tenho intenção de atrapalhar a Kushida-san, mas nós duas somos como óleo e água. Acho melhor não tentar me aproximar dela.

Ou seja, ela provavelmente não participaria de um grupo de conversa em que Kushida estivesse.

— Mas por que ela te odeia, afinal? — perguntei.

As duas mal tinham tido contato desde o começo das aulas. Então, quando aquilo começou? Afinal, Kushida sempre dizia que queria se dar bem com todos da turma.

— Quem sabe? Provavelmente ela nem sabe tanto assim sobre mim.

Talvez fosse isso mesmo. Ainda assim, eu sentia que havia algo entre Kushida e Horikita, algo mais profundo do que simples antipatia.

— Se está tão curioso, por que não pergunta diretamente para ela? — sugeriu Horikita.

Impossível. Kushida Kikyou parecia uma garota doce, angelical, mas eu já tinha visto o outro lado dela. Era difícil até imaginar isso quando se via seu sorriso gentil e seu tom de voz agradável, mas eu me lembrava bem das palavras cruéis que ela havia dito. Provavelmente Horikita não fazia ideia dessa faceta.

— Não precisa. Estou bem com a Kushida que temos agora — respondi.

— O que você acabou de dizer foi realmente nojento, sabia?

— É…

Mesmo tendo dito aquilo, eu também me senti enojado comigo mesmo.

*

 

Depois de um bom jantar no refeitório do dormitório, voltei para o meu quarto.

Lá, peguei o celular e verifiquei meu saldo restante. O total da minha conta apareceu na tela: 8.320 pontos privados. Não tinha mudado desde esta manhã. Considerando que começamos o ano letivo com 100.000 pontos, aquilo era um valor incrivelmente baixo. Quase fiquei à beira da falência só para comprar o ponto que o Sudou precisava para passar.

— Seria ótimo se a gente recebesse aqueles 87 pontos — murmurei.

Convertendo, aquilo dava mais ou menos 8.700 ienes. Não era uma melhoria gigantesca, mas já era um dinheiro considerável.

Enquanto mexia no celular, a porta se escancarou de repente.

— Me ajuda, Ayanokoji! — Sudou estava ali, com o rosto todo vermelho.

— O que você está fazendo aqui? Na verdade, esquece — continuei —, como você entrou?

Eu tinha trancado a porta quando voltei ao quarto. Não esqueci — era hábito. Será que o Sudou tinha arrombado a parede ou algo assim? Só por precaução, verifiquei a porta: não estava danificada. Parecia tudo normal.

— Este é o quarto onde nosso grupo se reúne, né? Eu, o Ike e o resto fizemos chaves duplicadas. Você não sabia? Todo mundo do grupo tem uma chave.

Ele girava o cartão-chave entre os dedos.

— Acabei de descobrir essa informação extremamente relevante — resmunguei. Pelo visto meu quarto não era mais seguro. Gente poderia invadir quando quisesse.

— Enfim, deixa isso pra lá agora. Tô ferrado! Você tem que me ajudar! — ele implorou.

— Não, eu não vou deixar passar. Me entrega a chave.

— Hã? Por quê? Eu comprei isso com meus pontos. É minha.

Argumento sem sentido. Mesmo que você não saiba que cometeu um crime, ainda assim é crime. Amizade não é licença para fazer o que bem entender.

— Se você precisa de conselho ou tá preocupado, por que não pede pro Ike ou pro Yamauchi? — sugeri.

— Não posso. Eles são idiotas.

Sudou deslizou pelo chão e sentou com um baque.

— Compra um tapete, pô. Minha bunda tá doendo — murmurou.

Eu não tinha pontos para desperdiçar em decoração. Embora meu quarto tivesse virado o ponto de encontro do grupo, não nos reunimos nem uma vez desde a festa. Se eu saísse e comprasse um tapete, seria o único sentado nele. Só de imaginar já parecia surreal.

Levantei para fazer chá, e a campainha tocou. Kushida, a "Madonna" da Classe D, enfiou a cabeça pela porta. Estava tão fofa quanto sempre. Viu Sudou ainda sentado no chão.

— Ah, o Sudou-kun já chegou — disse ela.

— Ei, Kushida, posso te perguntar uma coisa? Você tem uma chave duplicada do meu quarto também? — perguntei.

— Tenho sim. Foi pra podermos nos encontrar aqui… Espera, você não sabia disso, Ayanokoji-kun? — Ela tirou um cartão-chave da bolsa e me mostrou. Não havia diferença entre a chave dela e a minha. Eram exatamente iguais. Ao que parecia, Kushida achou que eu tinha autorizado a confecção dessas chaves.

— Hum… então você quer que eu devolva? — ela perguntou, com um ar de pedido de desculpas, e estendeu a chave.

— Não precisa. Não adianta só você devolver. O Sudou não quer largar a dele.

Não seria problema a Kushida ter uma chave, afinal? Na parte delirante do meu cérebro, dar uma chave pra ela me fazia sentir como se ela fosse minha namorada. Homem é mesmo enganoso.

— Já que a Kushida veio, vamos ao assunto — disse Sudou.

— Tá certo, não tem como escapar. Então, do que você precisa falar? — respondi.

Não dava para mandar os dois embora sem educação. Sudou começou a falar devagar, com uma expressão abatida.

— Você sabe que a professora me chamou hoje? Bem… é que… a verdade é que eu posso ser suspenso. Por bastante tempo, na real.

— Suspenso?

Isso foi inesperado. Comparado ao começo do ano, o Sudou andava bem comportado ultimamente. Não cochilava em aula, não falava durante as explicações e estava indo bem no clube.

— Você insultou a Chabashira-sensei, por acaso? — perguntei.

Ele tinha ficado irritado quando ela o impediu de ir ao treino de basquete. Com isso em mente, talvez ele tivesse dito algo imprudente.

— Não foi isso.

— Então o quê? Você pegou ela pelo colarinho e ameaçou matá-la ou algo assim?

— Também não foi isso.

Outra negativa. Eu não esperava.

— É pior do que você imagina… — ele murmurou.

Minhas duas primeiras suposições já eram bem graves; se era pior, então…

— Ah, entendi, Ayanokoji-kun. Ele bateu com violência na Chabashira-sensei e ainda cuspiu nela! — Kushida exclamou.

— Que horror. Suas ideias são muito extremas, Kushida! — respondi.

— Haha, tô brincando! O Sudou-kun não faria isso.

Mesmo esperando que Sudou negasse na hora, ele parecia chocado com a "brincadeira" de Kushida. Aquilo era prova de que algo realmente estava errado.

— O que aconteceu? — perguntei.

— Pra falar a verdade, eu bati em uns caras da Classe C ontem. Aí, fui suspenso. Provavelmente a suspensão é a punição por isso.

Kushida também ficou em choque com as palavras dele. Ela me lançou um olhar. Eu não consegui processar de imediato que o Sudou tinha se metido em encrenca de novo.

— Você bateu neles? Por que você fez isso? — perguntei.

— Só pra você saber, não foi minha culpa, tá? Aquelas babacas da Classe C começaram e tentaram arrumar confusão comigo. Eu só reagi e virei o jogo contra eles. Aí eles disseram que eu comecei a briga. São um bando de mentirosos.

Sudou ainda não tinha conseguido organizar direito as ideias. Eu entendia o essencial do que ele dizia, mas os detalhes de como a briga começou ainda não estavam claros.

— Espera um pouco, Sudou-kun. Pode começar de novo, devagarinho? — Kushida o encorajou a se acalmar e tentou fazer com que ele contasse a história direito.

— Desculpa, acho que pulei direto pro fim e deixei muita coisa de fora — disse Sudou, respirando fundo, e recomeçou.

— Eu estava conversando com o técnico do clube sobre virar titular pro torneio de verão.

Eu sabia que o Sudou era bom no basquete, mas não imaginava que já estivesse cotado para titular.

— Titular? Que legal, Sudou-kun! Parabéns!

— Não é nada certo ainda. É só uma possibilidade.

— Mesmo assim, que demais. A gente mal começou a escola.

— É, eu acho. Na real, eu fui o único calouro indicado para ser titular. Mas não é definitivo. Enfim, quando eu voltava pro dormitório, o Komiya e o Kondou — que também jogam no clube comigo — me chamaram pro prédio anexo. Disseram que queriam falar comigo. Eu podia ter ignorado, mas, tipo, às vezes eu falo com aqueles dois no time. Pensei que valia a pena ouvir. Claro que fui encontrá-los, né? Só que lá tava um tal de Ishizaki, amigo do Komiya e do Kondou. Eles disseram que não aguentavam ver alguém da Classe D sendo escolhido como titular. Me ameaçaram, falaram pra eu sair do basquete ou que eu ia me ferrar no futuro. Eu recusei a ideia de sair, acabei batendo neles e agora tô nessa.

A explicação foi meio corrida, mas deu para entender. Pelo visto Sudou ficou satisfeito com o relato.

— Então eles te pintaram como o vilão, Sudou-kun.

Sudou confirmou com um aceno, ainda revoltado. Ou seja: os alunos da Classe C começaram aquilo, e, quando a intimidação não deu certo, partiram para violência. Sudou, que já tinha experiência em brigas, conseguiu dominá‑los totalmente sem suar. Claro que eles saíram machucados. Como não havia provas do que realmente aconteceu, no dia seguinte eles mentiram e disseram à direção que tinham levado uma surra sem motivo.

— Se a Classe C começou isso, então o Sudou-kun não tem culpa.

— Certo? Eu não entendo isso. Nem acredito naquela professora!

— A gente devia contar pra Chabashira-sensei amanhã. Dizer que não foi culpa do Sudou-kun — sugeriu Kushida.

Provavelmente não seria tão simples. O Sudou devia ter contado à escola a versão que nos contou. Mas, sem provas concretas, a direção ainda podia decidir puni-lo.

— Sudou, o que a escola disse quando ouviu o que aconteceu?

— Disseram que me dão até terça que vem pra arranjar provas. Se eu não conseguir, vão dizer que eu estou errado e vou ficar suspenso até o verão. E, além disso, a turma toda perde pontos.

Ao que parecia, a escola decidiu esperar por provas. No entanto, Sudou parecia mais preocupado com seu sonho no basquete do que com a suspensão ou com a perda de pontos da nossa classe. Acho que ele não suportava ver a juventude desperdiçada.

— O que eu faço?

— Sudou-kun, você não mentiu para professora, né? Quer dizer, parece estranho. Eles não acreditaram em você mesmo depois de você dizer que não fez nada. Certo?

Eu senti pena da Kushida. Ela buscava uma confirmação em mim, mas eu não podia responder do jeito que ela queria.

— Bem, eu fico me perguntando. Não acho que seja tão simples assim.

— Como assim "você fica se perguntando"? Você está desconfiando de mim?

— É que a escola não confia em você, né? Não seria tão estranho alguém da sua classe, tipo a Kushida, apoiar você mesmo que você estivesse mentindo. Afinal, eles não querem perder pontos.

— Bem… talvez você tenha razão, suponho.

Nossos problemas atuais não se resolveriam apenas descobrindo quem começou a briga. Talvez aqueles três caras também recebessem suspensão de uma semana como punição. Eles disseram que foram espancados. Sem prova irrefutável de que o Sudou não tinha culpa, ele com certeza seria punido. Isso só podia significar uma coisa.

— Mesmo que o outro lado tenha culpa, é bem provável que o Sudou leve parte da culpa.

— Hã? Por quê? Foi legítima defesa, né? Hã?!

Sudou, claramente sem entender, bateu na mesa. Os ombros de Kushida se tensionaram.

— Desculpa, eu só fiquei meio bravo — disse ele, pedindo desculpas ao ver o olhar assustado de Kushida.

— Mas… por que o Sudou ainda pegaria parte da culpa? — perguntou ela.

— O Sudou bateu neles, mas eles não bateram no Sudou. Acho que isso pesa muito. Numa situação assim, é difícil alegar legítima defesa. Se tivessem vindo com faca ou um bastão de metal, acho que seria bem diferente. Legítima defesa significa ter o direito de se defender contra um ataque súbito e perigoso. Então não dá pra afirmar com facilidade que isso foi legítima defesa.

Quanto de consideração vão dar a esse argumento?

— Eu não entendo. Eram três contra um. Três! Isso não é perigoso o suficiente?

Provavelmente levariam o número de agressores em conta, mas era um caso delicado. Se a escola desse mais peso ao número de atacantes, Sudou poderia ser declarado inocente. Porém, era arriscado ser otimista.

— Acho que a escola deu essa extensão porque achou difícil julgar agora — disse eu.

Quanto às provas atuais, a chave estava nas lesões que o Sudou havia causado naqueles três alunos.

— Acho que o plano deles é punir o Sudou severamente por tê-los agredido, né? — disse Kushida.

— Quem chegou primeiro com a versão tem vantagem. O depoimento da "vítima" pode servir como evidência.

— Ainda não entendo. Eu sou a vítima aqui! Ser suspenso não é brincadeira! Se eu for punido por isso, pode esquecer ser titular. Nem vou poder jogar no torneio!

Esses alunos da Classe C haviam deixado o Sudou bater neles de propósito para derrubá‑lo. Queriam destruir as chances dele de virar titular, mesmo que isso lhes trouxesse problemas. Pelo menos era isso que eu imaginava ser o plano deles.

— Então vamos lá e pedir para esses três da Classe C serem honestos. Se eles acharem que fizeram algo errado, irão se arrepender, né?

— Esses caras não são idiotas. Não vão admitir. Malditos, nunca vou perdoar! Miseráveis!

Sudou pegou uma caneta da mesa e, com um estalo, quebrou‑a ao meio. Entendi que seu sangue fervia, mas — era minha caneta…

— Se explicar não adianta, precisamos de prova irrefutável — disse eu.

— Sim. Seria ótimo ter evidência mostrando que o Sudou-kun não tem culpa.

Seria ótimo, porque assim nosso sofrimento acabaria. No entanto, Sudou não negava a situação — ele parecia pensativo.

— Pode até ter alguma coisa. Pode ser impressão minha, mas quando eu tava brigando com eles senti algo… estranho. Tipo alguém por perto, me observando.

Ele não soou totalmente confiante.

— Então pode ter uma testemunha ocular? — perguntei.

— Acho que sim. Não tenho prova de que alguém estava lá, porém.

Uma testemunha ocular. Hm. Se alguém viu tudo, seria uma ótima notícia. Mas dependendo do que a testemunha viu, poderia complicar ainda mais para o Sudou — por exemplo, se ela só tivesse visto o que restou da briga.

— O que eu faço? — ele perguntou.

Sudou enterrou a cabeça nas mãos. Kushida quebrou o silêncio pesado.

— Há duas maneiras de provar sua inocência, Sudou-kun. A primeira é fazer com que aqueles garotos da Classe C admitam que mentiram. Como você não tem culpa, o ideal seria que eles reconhecessem isso.

Era um plano absurdamente idealista.

— Como eu já disse, isso é impossível. Eles não vão admitir que mentiram.

Como o Sudou falou, se confessassem ter mentido só pra ferrar alguém, provavelmente também seriam punidos.

— A outra ideia é encontrar a testemunha que você mencionou, Sudou-kun. Se alguém viu a briga, poderíamos descobrir a verdade.

Bem, esse era nosso plano mais realista.

— Como você pretende procurar essa testemunha?

— Indo atrás das pessoas, uma a uma? Ou podemos abordar as turmas inteiras — sugeriu Kushida.

— Seria ótimo se alguém aparecesse por conta própria, mas…

Como já estávamos conversando há um tempo, comecei a remexer no armário. Peguei os sachês de café instantâneo e de chá que comprei na lojinha da escola. O Sudou não era muito de café, no entanto. Preparei água quente e coloquei tudo sobre a mesa.

— Pode parecer meio sem vergonha, mas… vocês podem não contar isso pra ninguém? — Sudou pediu, envergonhado. Pegou um copo e começou a soprar para esfriar.

— Hã? Você não quer que a gente conte? — Kushida perguntou.

— Se isso vazar, vai chegar no time de basquete com certeza. Eu não quero que isso aconteça. Vocês entendem, né?

— Sudou, mesmo assim, eu—

— Por favor, Ayanokoji. Se eu não puder jogar basquete, eu não tenho nada — Sudou implorou, colocando as mãos nos meus ombros.

Mesmo que a notícia não vazasse, isso não poderia ficar contido por muito tempo. Se soubessem que o Sudou usou violência, provavelmente não o aceitariam no time.

— Mas os alunos da Classe C não vão falar por aí que o Sudou-kun foi violento? Isso, acho eu, seria a favor deles.

Era exatamente o que eu pensava. Não seria estranho que conversassem entre si, já que isso os ajudaria e nos prejudicaria. Sudou enterrou a cabeça nas mãos outra vez, como quem diz "Sério?!"

— E se já tiver vazado? — perguntei.

— Não, nesse estágio provavelmente só a escola e as pessoas envolvidas estão sabendo — respondeu ele.

— Por que você acha isso? — Sudou perguntou.

— Se aqueles caras da Classe C quisessem espalhar boatos, a gente provavelmente já teria ouvido algo.

A diretoria havia recebido um relatório e chamado o Sudou depois da aula. Não havia corrido nenhum boato pela tarde. No mínimo, a história ainda não se espalhara muito.

— Então você acha que estamos seguros por enquanto? — Sudou perguntou.

Perguntei-me por quanto tempo aquilo duraria. Mesmo que a escola ordenasse sigilo, a notícia acabaria vazando mais cedo ou mais tarde. Agora, a única coisa que eu podia dizer com certeza era—

— Sudou-kun, acho que seria melhor se você se afastasse um pouco — disse Kushida.

Ela parecia entender tudo.

— Sim. Não seria bom se o acusado tentasse qualquer coisa — concordei com Kushida.

— Mas, se eu descarregar isso em vocês—

— Não acho que você esteja "descarregando" em nós. Queremos que você confie na gente, Sudou-kun. Não sei o quanto podemos fazer, mas vamos tentar o nosso melhor, tá? — Kushida disse.

— Certo. Sei que é um incômodo para vocês, mas eu deixo isso com vocês.

Ele parecia entender que só complicaria as coisas se se envolvesse demais.

— Bom, a gente vai voltar pro quarto. Desculpa invadir assim.

— Não se preocupe. Só acho estranho você ter feito chaves duplicadas.

Sudou guardou o cartão-chave no bolso; não ia devolvê‑lo. Talvez eu devesse pôr uma corrente na porta.

— Te vejo amanhã, Kushida.

— É, tchau, Sudou-kun.

Sudou-kun saiu com um olhar meio triste. O quarto dele ficava a poucas portas de distância.

— Então, você não vai voltar agora, Kushida? — perguntei.

— Tenho algumas coisas para conversar com você, Ayanokoji-kun. Você não parecia muito empolgado em ajudar o Sudou-kun.

Ao olhar para mim com olhos inquietos, Kushida me deu uma súbita vontade de abraçá‑la. Estiquei as costas e tentei espantar esse pensamento.

— É que não tem muito o que eu possa fazer. Posso só reagir à história do Sudou. Se fosse a Horikita ou o Hirata aqui, eles provavelmente dariam um conselho melhor.

— Talvez, mas o Sudou-kun veio até você, Ayanokoji-kun. Ele veio antes da Horikita-san, do Hirata-kun ou mesmo do Ike-kun.

— Não sei se devo me sentir feliz por isso ou não.

— Hmm.

Por um instante, o olhar de Kushida ficou gelado, o que me surpreendeu. Lembrei que ela já me dissera diretamente que me odiava. Ela estava sempre com um sorriso gentil, então às vezes eu esquecia disso. Mas eu poderia me queimar se acabasse esquecendo de vez.

— Acho que seria melhor se você se esforçasse mais para se enturmar, Ayanokoji-kun — ela disse.

— Tô tentando, mais ou menos. Só que não tenho conseguido muito. Tipo agora, não tive coragem de prometer que ia ajudar.

Ela não compartilhava da minha ansiedade sobre almoçar sozinho. Ainda assim, Kushida provavelmente entendia como eu me sentia.

— Kushida, você vai ajudar, né?

— Claro. Somos amigos. Então o que você vai fazer, Ayanokoji-kun?

— Lembra quando eu disse que seria melhor falar com a Horikita ou com o Hirata? Bem, o Sudou odeia o Hirata, então a escolha óbvia é a Horikita.

Ainda assim, duvidava que até mesmo a Horikita conseguisse bolar um plano bom o bastante para resolver isso.

— Você acha que a Horikita-san vai nos ajudar?

— Não sei. Temos que perguntar para descobrir. Não me parece que ela vá simplesmente ficar parada vendo a Classe D desabar. Provavelmente ela vai ajudar.

Faltou-me convicção. Afinal, estávamos falando da Horikita.

— Sei que você está fugindo da pergunta, mas você vai ajudar também, né? Ayanokoji-kun?

Acreditava ter conseguido desviar a conversa, mas Kushida logo trouxe o assunto de volta.

— Tudo bem se eu for inútil?

— Você não vai ser inútil. Tenho certeza de que será útil, de algum jeito.

Ela não explicou exatamente como eu poderia ser útil.

— Então o que devemos fazer? — perguntou Kushida. — O Sudou disse que não adiantaria, mas acho que seria bom conversar com os três alunos que ele agrediu. Para falar a verdade, sou amiga do Komiya-kun e dos outros. Talvez dê para persuadi‑los. Hm, pode ser perigoso, porém.

Kushida não descartou a ideia de um diálogo.

— É arriscado. Além da questão de quem começou a briga, aqueles três já reportaram o caso à escola. Isso lhes dá vantagem. E também não acho que vá funcionar, já que foram eles que começaram.

Conseguir que admitissem ter mentido pra direção não seria fácil. Se a escola descobrisse, a Classe C sofreria uma punição severa. Eles não fariam algo tão tolo à toa.

— Então, acho que procurar a testemunha ocular é nossa melhor aposta.

Isso provavelmente seria tão difícil quanto convencer os três a falar a verdade. Sem detalhes concretos, achar a testemunha seria quase impossível. Sair por aí perguntando "Você viu alguma coisa?" seria perda de tempo e esforço.

Por mais que eu pensasse, não conseguia encontrar uma solução.

 

 

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