Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 1

Capítulo 9: Os Fracassados se mobilizam mais uma vez

O AR ESTAVA impregnado com o aroma de chá recém-preparado. (Sou grato por sua paciência e cooperação contínuas, querido leitor.) Já havia se passado um mês e meio desde que comecei o ensino médio. Em sua maioria, meus dias transcorreram sem incidentes.

— Ei, você tá me ouvindo? Sua cabeça tá bem?

Horikita deu um tapa grosseiro na minha testa e, em seguida, levou a mão à própria testa.

— Você não parece estar com febre — disse ela.

— Claro que não! Só estava perdido em pensamentos, só isso.

Suspirei profundamente, já arrependido de ter dito à Horikita que a ajudaria. Bem, não adiantava chorar sobre o leite derramado. Eu tinha me oferecido para ajudar como forma de incentivo, mas, pensando agora, isso realmente não combinava comigo.

— Então, minha honrada estrategista. O que devo fazer, hein? — perguntei.

— Vejamos. Obviamente, precisamos convencer Sudou-kun e os outros a participarem de novo. Isso significa que você vai ter que se humilhar e implorar para que eles voltem.

— Por que eu tenho que fazer isso? Você é a razão de o grupo ter se separado em primeiro lugar.

— O motivo da separação foi porque eles não conseguiam levar os estudos a sério. Não confunda as coisas.

Puxa vida. Será que ela sequer pretendia ajudar Sudou e os outros?

— Nunca vamos trazê-los de volta sem a ajuda da Kushida. Você entende isso, né?

— Eu entendo. Sacrifícios são inevitáveis — resmungou ela.

Parecia odiar a ideia de envolver Kushida. Ainda assim, concordou apesar da insatisfação. Isso era um grande compromisso para Horikita, que não queria Kushida por perto de jeito nenhum.

— Certo. Você consegue pedir para a Kushida-san nos ajudar imediatamente? — ela perguntou.

— Eu?

— Claro. Nós fizemos um acordo. Você concordou em ser meu burro de carga até chegarmos à Classe A, então tem que obedecer às minhas ordens.

Eu não me lembrava de ter feito esse tipo de acordo.

— Aqui, veja este contrato escrito.

Uau, um contrato de verdade. Tinha meu nome e até meu carimbo e tudo.

— Você sabe que podem te acusar de falsificação de documentos, né? — comentei.

Rasguei o contrato e o joguei fora. Horikita se levantou e foi até Kushida, que estava arrumando sua mesa.

— Kushida-san. Gostaria de conversar com você sobre algo. Aceitaria almoçar comigo? — perguntou Horikita.

— Almoçar? É incomum receber um convite seu, Horikita-san. Tudo bem, eu vou.

Kushida não hesitou nem um pouco. Caminhou ao lado de Horikita em direção ao café mais popular da escola, o Palate.

Aquele era o cenário da fúria anterior de Horikita, quando eu a convidei sob falsos pretextos. Horikita disse que pagaria o lanche de Kushida — e pagou. Claro, eu tive que pagar o meu.

— Obrigada. Então, sobre o que queria falar? — perguntou Kushida.

— Estou montando outro grupo de estudos para o Sudou-kun e os outros. Você poderia me ajudar mais uma vez?

— Qual é o seu motivo para fazer isso? É realmente por causa do Sudou-kun e dos outros? — Kushida entendeu claramente que Horikita provavelmente não estava fazendo aquilo por altruísmo.

— Não. É por mim.

— Entendo. Então você pensa em si mesma, como sempre, Horikita-san.

— Você não ajudaria alguém com motivos egoístas?

— Você é livre para pensar o que quiser. Só não queria que tentasse mentir pra mim. Fico feliz que tenha sido honesta. Tudo bem, eu ajudo. Somos colegas de classe, afinal. Não é, Ayanokoji-kun?

— S-Sim. Você está realmente nos ajudando — murmurei.

— Mas tem algo que eu quero te perguntar, Horikita-san. Você não está fazendo isso pelos seus amigos ou para ganhar pontos. Está fazendo para chegar à Classe A, certo?

— Sim.

— Eu não consigo acreditar nisso, sabe. Digo, não que você seja burra, Horikita-san. Como posso dizer… mais da metade da turma já desistiu, entende?

— Porque o abismo entre nós e a Classe A é enorme?

— Isso. Sinceramente, não consigo imaginar como alcançaríamos eles. Não sei nem se vamos conseguir pontos no mês que vem. É desanimador.

Horikita bateu na mesa.

— Eu vou conseguir. Com certeza — disse ela.

— Ayanokoji-kun, você também está visando a Classe A? — perguntou Kushida.

— Sim. Ele está trabalhando como meu assistente — respondeu Horikita.

Horikita tinha me atribuído um título sem me perguntar.

— Hm. Entendi. Eu quero entrar, Horikita-san.

— Para ajudar no grupo de estudos?

— Não, não por isso. Quero trabalhar para entrar na Classe A com você. Quero ajudar em tudo o que você for fazer.

— Hã? Mas...

— Então você não quer que eu participe? — perguntou Kushida. Ela olhou para Horikita com os olhos arregalados, fazendo-a responder.

— Está bem. Se tudo correr bem com o grupo de estudos, aceitarei sua ajuda daqui pra frente — respondeu Horikita.

Kushida provavelmente tinha alguma razão escondida. Mesmo assim, Horikita entendeu que não tinha escolha a não ser reconhecer o valor de Kushida. Tendo arrancado um "sim" da normalmente obstinada Horikita, Kushida sentou-se aprontando-se toda, animada.

— Sério?! Oba! — exclamou Kushida, com uma expressão de alegria genuína. Ela ficava realmente fofa assim. — Estou ansiosa para trabalhar com você de novo, Horikita-san! Ayanokoji-kun!

Ela estendeu os braços esquerdo e direito em direção a nós. Um tanto perplexos, Horikita e eu apertamos as mãos de Kushida.

— Trazer o Sudou-kun e os outros de volta vai ser um problema, no entanto — disse Horikita.

— É. Considerando o estado atual das coisas, provavelmente vai ser difícil — concordei.

— Bem, vocês podem deixar isso comigo? É o mínimo que posso fazer depois de me deixarem entrar — disse Kushida.

Senti-me um pouco sobrecarregado com a rapidez com que Horikita e Kushida estavam agindo.

Kushida pegou o celular, pronta para pular em ação imediatamente. Logo depois, Ike e Yamauchi chegaram, parecendo nas nuvens depois de receberem o convite de Kushida. Assim que viram Horikita e eu, porém, olharam direto nos meus olhos. Pareciam perguntar em silêncio: — Você contou pra ela sobre a conversa?! — Eu achei melhor ficar calado. A culpa deles poderia ajudar a colocá-los na linha.

— Desculpem por chamá-los. Tenho algo para pedir a vocês, ou melhor, a Horikita-san tem — disse eu.

— O-O que é? O que você quer da gente?! — reagiram exageradamente, recuando assustados.

— Vocês dois vão entrar no grupo de estudos do Hirata-kun? — perguntou Horikita.

— Hã? G-Grupo de estudos? Não. Quer dizer, estudar é tão chato, e o Hirata é irritantemente popular. Além disso, a gente sempre estuda na véspera. Dá pra dar um jeito. A gente vem se virando assim desde o ensino fundamental — disse Ike, com Yamauchi assentindo. Eles contavam com uma noite em claro para salvá-los.

— Isso certamente soa como uma ideia de vocês dois. Mas se fizerem isso, é muito provável que sejam expulsos — advertiu Horikita.

— Você tá agindo como sempre — surgiu Sudou, encarando Horikita. Ele a fulminou com o olhar. Aparentemente Kushida também tinha conseguido fisgar o Sudou com sua armadilha.

— Quem devia estar preocupado é você, Sudou-kun. Você não parece temer a expulsão.

— Eu sei disso. Para com isso, ou eu te acerto. Estou ocupado com o basquete agora. Vou ficar de boa se estudar tudo na véspera.

— C-Calma aí, Sudou. Tá bom? — disse Ike, fingindo que não sabia de nada do que tinham falado no chat.

— Sudou-kun, não quer tentar estudar comigo mais uma vez? Você até pode conseguir passar virando a noite estudando, mas se isso falhar, não vai poder jogar basquete aqui nunca mais. Certo? — perguntou Horikita.

— Bem, e-eu… não quero a sua caridade idiota. Não esqueci o jeito absurdo com que você falou comigo outro dia. Se quer que eu participe, quero um pedido de desculpas primeiro. Um bem sincero — disse Sudou, demonstrando hostilidade aberta.

Embora Sudou provavelmente entendesse o risco em que estava, ele não conseguia engolir os insultos de Horikita. E, obviamente, Horikita jamais se desculparia. Ninguém conseguiria ter orgulho ao dizer algo tão falso.

— Eu te odeio, Sudou-kun.

— O quê?!

Em vez de se desculpar, ela lançou palavras duras, jogando mais lenha na fogueira.

— No entanto, a nossa aversão mútua é irrelevante agora. Eu vou te ensinar por minha própria causa. E você vai dar o seu melhor por sua própria causa. Estou errada?

— Você quer mesmo chegar à Classe A, então? Mesmo que isso signifique convidar alguém que você odeia, como eu? — murmurou ele.

— Exatamente. Caso contrário, por que eu envolveria você de bom grado?

Sudou pareceu ainda mais irritado com a sinceridade brutal de Horikita.

— Eu tô ocupado com o basquete. O pessoal do time nunca tira folga dos treinos, nem antes das provas. Eu não posso ficar pra trás fazendo algo chato como estudar.

Como se já esperasse essa resposta, Horikita abriu seu caderno e mostrou a ele. Na página, havia um cronograma detalhado até o dia da prova.

— Na última sessão, percebi que aquele estilo de estudo não servia pra vocês. Nenhum de vocês entende o básico. É como jogar um sapo no oceano. Ele não faz ideia de pra onde ir ou como nadar. Também entendo que tirar tempo dos seus hobbies só vai aumentar o estresse. Por isso, eu fiz um plano.

— Que tipo de feitiçaria você usou pra bolar isso? Tá, manda ver, qual é o plano? — resmungou Sudou, incrédulo com a ideia de conciliar estudo e clube.

— A prova é em duas semanas. Vocês vão estudar todos os dias, durante as aulas, como se a vida de vocês dependesse disso.

Eu não conseguia acreditar no que Horikita tinha dito. E ninguém mais conseguia.

— Vocês três normalmente não levam as aulas a sério, não é? — ela perguntou.

— Você não pode saber isso sobre a gente — retrucou Ike.

— Então vocês levam a sério?

— Bem… não. A gente só fica esperando a aula acabar.

— Ou seja, desperdiçam seis horas por dia sem fazer nada. Em vez de lutar para estudar uma ou duas horas depois das aulas, estamos jogando fora um tempo muito maior e mais valioso. Precisamos usar esse tempo melhor.

— Bom, é… teoricamente isso funcionaria, mas… não é meio forçado? — disse Kushida, com razão. Eles desperdiçavam tempo justamente porque não conseguiam estudar normalmente. Se não conseguiam se concentrar nas aulas, duvidava que fossem entender tudo sozinhos.

— Eu nem consigo acompanhar a aula — admitiu Ike.

— Eu sei. Por isso, vamos fazer pequenas sessões de estudo nos intervalos — disse Horikita.

Então, ela virou a página seguinte, mostrando os detalhes do plano. Depois da primeira aula, todos nós nos reuniríamos para discutir o que não tínhamos entendido. No intervalo de dez minutos, Horikita explicaria as respostas. Repetiríamos esse processo nas aulas seguintes. Claro, não seria tão simples. Como Sudou e os outros não acompanhavam normalmente, talvez não conseguissem aprender tudo nesse tempo curto.

— E-Ei, pera aí. Tô meio confuso. Isso vai mesmo funcionar? — perguntou Ike, percebendo a dificuldade.

— Pois é. Não vai ser impossível entender tudo em só dez minutos de intervalo? — acrescentou.

— Não se preocupem. Eu vou juntar as respostas de todas as dúvidas e deixar tudo fácil de entender. Depois disso, Ayanokoji-kun, Kushida-san e eu vamos ensinar cada um de vocês individualmente — disse Horikita.

Se usássemos esse sistema, talvez conseguíssemos fazer eles entenderem o conteúdo em blocos curtos de tempo.

— É só uma questão de explicar as respostas. Vocês dois dão conta, certo? — Horikita perguntou.

— Mas ainda não acho que conseguimos fazer tudo nesse pouco tempo. Estudar é tão difícil.

— Um período de aula cobre surpreendentemente pouco conteúdo. Normalmente, haverá uma página de anotações, no máximo duas. Se você focar apenas no que vai cair na prova, dá pra reduzir para meia página de informação. Se, por algum motivo, ainda não houver tempo suficiente, sempre podemos usar o horário do almoço. Não estou dizendo que vocês precisam entender o conteúdo. Quero apenas que memorizem. Durante a aula, concentrem-se na voz da professora e no que está escrito no quadro. Esqueçam as anotações por enquanto.

— Então você está dizendo para a gente não fazer anotações?

— Tentar memorizar as coisas fica surpreendentemente difícil quando você está escrevendo tudo.

Ela provavelmente estava certa. Focar em anotações só desperdiçaria tempo precioso. De qualquer forma, Horikita tinha elaborado um plano que não consumiria tempo fora da escola.

— Apenas tente. Experimente antes de dizer não.

— Eu não quero. Prefiro gastar meu tempo de outra forma, não como um rato de biblioteca como você. Além disso, nem acho que conseguiria aprender a estudar com um truque tão simples e barato — disse Sudou. Horikita tinha cuidadosamente criado um plano adaptado aos três, e mesmo assim ele não concordava.

— Parece que você entendeu errado. Não existem atalhos ou truques baratos quando se trata de estudar. Você só precisa usar o tempo com sabedoria. Isso vale não só para estudar, mas para tudo na vida. Ou você está me dizendo que existem atalhos no basquete?

— Claro que não. Você só melhora praticando, o tempo todo — respondeu Sudou, surpreso com suas próprias palavras.

— Para quem não consegue se concentrar ou trabalhar seriamente, é impossível. No entanto, você coloca todo seu esforço no basquete. Quero que aplique um pouco desse esforço nos estudos, mesmo que seja só uma fração. Esforce-se para poder continuar jogando basquete nesta escola. Não desperdice seu próprio potencial.

O compromisso de Horikita era pequeno, mas real. Sudou hesitou. Ainda assim, seu orgulho o impedia de aceitar o plano.

— É… eu ainda não vou fazer. Entendi o que você quer dizer, mas não estou convencido.

Sudou se virou para sair, e Horikita não pôde detê-lo. Se ele fosse embora agora, o grupo de estudos provavelmente estaria perdido.

Normalmente, eu ficaria fora disso, mas essa situação exigia uma ação drástica.

— Ei, Kushida. Você tem namorado? — perguntei.

— Hã? O quê? Não tenho. Por que você me pergunta isso de repente?! — ela gritou.

— Se eu tirar cinquenta pontos na prova, você sairia comigo? — estendi a mão para ela.

— Hã?! Q-Que absurdo, Ayanokoji! Não, me namore, Kushida! Eu vou tirar cinquenta e um pontos! — exclamou Ike.

— Não, não, comigo! Saia comigo! Eu vou te mostrar! Vou tirar cinquenta e dois pontos! — disse Yamauchi.

Kushida entendeu imediatamente o meu plano.

— Q-Quão embaraçoso… Eu não julgo as pessoas apenas por nota, sabe? — disse ela.

— Mas eles precisam de um prêmio pelo esforço. Olhe como Ike e Yamauchi estão animados. Eles provavelmente se motivariam por uma recompensa.

— B-Bom, então que tal isso? Eu vou sair com quem tirar a maior nota na prova. Eu gosto de pessoas que se esforçam de verdade, mesmo quando não gostam.

— Uau! Sim! Eu vou! Eu vou! — Ike e Yamauchi respiravam pesadamente de tanta empolgação.

Chamei Sudou:

— Ei, Sudou. E você? Pode ser sua chance.

Era um pouco mais sutil do que gritar: "Quer namorar a Kushida?"

Eu entendia a personalidade de Sudou, mas ainda era difícil prever se ele aceitaria. Então precisava encontrar algum ponto em comum.

— Um encontro, hein? Não parece tão ruim… Puxa, acho que não tenho escolha. Tudo bem, eu participo — disse Sudou, com voz baixa. Ele não se virou.

Kushida suspirou aliviada.

— Lembrem-se, meninos são as criaturas mais simples do mundo.

Horikita provavelmente concordava comigo. Demos as boas-vindas a Sudou em nosso grupo.

*

 

O grupo de estudos parecia ter começado bem.

Claro, ninguém de repente passou a adorar estudar ou a sentir grande prazer nisso. No entanto, todos faziam a sua parte para evitar a expulsão e poder continuar passando tempo com os amigos. O Trio doido começou a mudar de comportamento. Eles repetiam freneticamente tudo o que estava escrito no quadro, quebrando a cabeça para entender os problemas.

Sudou, ocasionalmente, chegava perto de desmaiar durante a aula. Sua cabeça balançava para cima e para baixo enquanto ele começava a cochilar, mas conseguia se manter acordado, provavelmente por causa do seu sonho profissional no basquete. A maioria das pessoas riria de ambições tão altas, mas ele as perseguia com sinceridade.

Muitos alunos do primeiro ano, recém-saídos do ensino fundamental, ainda não tinham um "sonho". Muitos tinham apenas uma noção vaga do que queriam para o futuro. Pelo menos Sudou já se esforçava para alcançar o seu sonho. Isso era digno de elogio.

Como exatamente essa escola definia um aluno exemplar? Pelo menos, as pessoas não passavam ou reprovavam apenas com base no desempenho acadêmico. Considerando que Ike e Sudou haviam sido aceitos na escola, isso era óbvio. No entanto, se a escola aceitava alunos talentosos em outras áreas, era estranho haver um sistema para expulsar estudantes por apenas uma nota ruim. Pelo menos, era assim que eu via.

A menos que o sistema fosse uma mentira, não havia muito o que concluir. Será que criavam tais problemas para alunos como Ike e Sudou apenas para que eles os superassem? Provavelmente não era tão simples. Tanto o pequeno teste que fizemos quanto as aulas — tão difíceis para pessoas como Sudou — apresentavam desafios.

Quando a aula da tarde terminou, Horikita, com um olhar satisfeito, fez um pequeno aceno e olhou para suas anotações. Aparentemente, ela tinha compilado tudo. Mesmo ensinando o Trio doido, Horikita queria os melhores resultados possíveis. Era a sua natureza. A avaliação da nossa classe melhoraria, assim como as habilidades individuais dos alunos. Contudo, buscar pontuação perfeita era absurdo. Não pretendíamos chegar tão longe. Ajudar Ike e os outros a não reprovar era o máximo que podíamos fazer.

Quando o sinal do almoço tocou, todos correram para a cafeteria. Nosso intervalo tinha quarenta e cinco minutos. Depois do almoço, todos haviam concordado em se encontrar na biblioteca para uma sessão de estudo de vinte minutos. Inicialmente, planejávamos estudar na sala de aula. Porém, para melhor concentração, decidimos evitar o barulho e usar a biblioteca.

O principal motivo, entretanto, era que Horikita queria evitar Hirata. O grupo de estudos dele também se reunia no almoço, e se estivéssemos revisando o material por perto, provavelmente tentariam falar conosco. Horikita não queria isso.

— Horikita, o que você vai fazer no almoço? — perguntei.

— Bem—

— Ayanokoji-kun! Quer almoçar comigo? Não tenho planos hoje! — Kushida surgiu inesperadamente na minha frente.

— Ah, tudo bem. Então, você quer almoçar junto com Kushida — comecei.

— Já tenho planos. Com licença — disse Horikita, levantando-se e saindo da sala sozinha.

— Desculpe, Ayanokoji-kun. Será que eu estava… atrapalhando? — perguntou Kushida.

— Ah, não. De jeito nenhum.

Kushida acenou para Horikita se afastando, como se dissesse: Tchau, tchau!

Será que ela tinha planejado isso por acaso? Desde que descobri o segredo de Kushida, ela tinha sido bastante explícita em me vigiar. Embora dissesse acreditar em mim, ainda poderia suspeitar que eu contaria a alguém.

Kushida e eu fomos ao café para almoçar juntos. Quando chegamos, a quantidade de mulheres me deixou atônito.

— O que está acontecendo? Tem meninas demais aqui — disse eu.

Eu diria que 80% dos clientes eram garotas.

— Este não é exatamente um lugar onde meninos vêm comer.

O cardápio incluía massas, panquecas, comidas que só garotas provavelmente gostariam. Pessoas atléticas como Sudou provavelmente reclamariam das porções pequenas. Havia alguns homens, mas eram ou casais ou playboys. Cada rapaz ali estava sozinho com uma garota ou cercado por várias moças.

— Que tal voltarmos para a cafeteria afinal? Me sinto meio desconfortável aqui — disse eu.

— Você vai se acostumar. Parece que Koenji-kun vem aqui todos os dias. Viu? — Kushida apontou para uma mesa no fundo, onde Koenji estava cercado por garotas. Ele parecia tão grandioso e imponente quanto sempre. Nunca o tinha visto por aqui na hora do almoço. Era para onde ele ia?

— Ele parece muito popular. Essas garotas ao redor dele são todas do terceiro ano.

Kushida também ficou surpresa. Eu ouvi parte da conversa entre Koenji e as alunas mais velhas.

— Aqui, Koenji-kun, diga "Ahh!" — disse uma delas.

— Haha! Como eu pensei, garotas mais maduras são as melhores.

Ele certamente não agia tímido perto das alunas do terceiro ano. Na verdade, comia enquanto elas praticamente se encostavam nele.

— Esse cara é realmente algo — murmurei.

— O nome dele anda circulando ultimamente. Todo mundo está falando dele.

Entendi. Então, aquelas garotas estavam atrás do dinheiro dele?

— Que mundo triste.

— Essas garotas estão sendo apenas realistas. Você não pode viver só de sonhos — disse ela.

— E você é realista, Kushida?

— Eu diria que sou um pouco sonhadora. Algo como um cavaleiro de armadura brilhante seria bom.

— Um cavaleiro de armadura brilhante, hein?

Sentamos o mais longe possível de Koenji.

— E você, Ayanokoji-kun? Gosta de garotas como Horikita-san? — perguntou ela.

— Por que mencionou a Horikita?

— Bem, você está sempre com ela. Ela não é fofa?

Bem, eu certamente achava que ela era fofa. Por fora, pelo menos.

— Sabe, Ayanokoji-kun? Você já chamou a atenção das garotas faz um tempinho. Você está no ranking dos alunos do primeiro ano.

— Chamei atenção delas? Eu? E que tipo de ranking é esse?

Aparentemente, nós, homens, estávamos sendo avaliados sem nem perceber. Seria algo como o ranking que fizemos dos tamanhos dos seios das meninas?

— Bem, existem vários tipos de rankings, sabia? Ranking dos mais bonitos. Dos mais ricos. Dos mais estranhos. E—

— Ok, já chega. Acho que não quero ouvir mais nada.

— Não se preocupe. Você está em um respeitável quinto lugar no ranking dos mais bonitos. Parabéns! Ah, e Satonaka-kun, da Classe A, está em primeiro lugar. Hirata-kun em segundo. O terceiro e quarto lugares também são garotos da Classe A. Sinto que o Hirata ganha muitos pontos por causa da aparência e personalidade dele.

Nada menos do que o esperado da estrela da Classe D. Até as garotas da Classe C e superiores reparavam nele.

— Devo ficar feliz com isso? — perguntei.

— Claro. Ah, mas você também ficou bem colocado no ranking dos mais sombrios.

— Deixa eu ver… — olhei para o celular da Kushida. Realmente havia vários rankings diferentes. Vi um ranking perturbador chamado "Garotos que deveriam morrer". Melhor não abrir esse.

— Você não ficou feliz? Está em quinto lugar.

— Acho que, se eu ligasse para população, seria diferente. Mas não sinto nada.

Além disso, nenhuma garota jamais colocou uma carta com adesivo de coração na minha bolsa.

— Então, todo mundo participa disso?

— Bom, não todo mundo, mas muita gente. Não sei o número exato de votos. Os comentários também são anônimos.

Em outras palavras, muitas variáveis desconhecidas dificultavam qualquer conclusão.

— Acho que você está em desvantagem, Ayanokoji-kun. Na minha visão, você é bonito o suficiente para ser considerado atraente, mas não acho que diriam que você é tão belo ou chamativo quanto o Hirata-kun. Você não é excepcionalmente inteligente, nem tem habilidades físicas extraordinárias, e também não é ótimo em conversa. Falta alguma coisa, algum elemento de charme, entende?

Ou seja, não havia nada de atraente em mim.

— Ai. Sinto como se tivesse levado uma facada no coração.

— D-Desculpa. Talvez eu devesse ter pegado mais leve — disse Kushida, sem graça. — Ei, Ayanokoji-kun. Você teve namorada no ensino fundamental?

— Seria ruim se eu não tivesse?

— Então não teve? Haha, não. Não é ruim.

— Rankings, hein? O que as meninas pensariam se os garotos fizessem algo assim sobre elas?

— Provavelmente achariam que eles são o pior tipo de gente.

O sorriso dela não alcançou os olhos. Bem, era de se esperar. Se os garotos fizessem um ranking sobre beleza das meninas, elas protestariam com força. Era um claro exemplo de dois pesos e duas medidas. De qualquer forma, Kushida não parecia me tratar diferente do que antes, mesmo depois de eu ter descoberto seu lado oculto.

— Ei. Você não precisa forçar conversa comigo se não quiser — falei.

— Não, não é isso. Conversar com você é divertido, Ayanokoji-kun.

— Mas você não disse que me odiava?

— Hahaha, sim, eu disse. Desculpa, mas é como eu realmente me sinto.

Ai. Mesmo sorrindo, ela me odiava. Isso era péssimo.

— Pra falar a verdade, eu te chamei pra almoçar hoje porque queria confirmar uma coisa. Hipoteticamente, se tivesse que escolher entre a Horikita-san ou eu como sua aliada, quem você escolheria, Ayanokoji-kun? Me escolheria?

— Eu não sou aliado nem inimigo de ninguém. Sou neutro.

— Existem situações em que não dá pra evitar problemas ficando neutro. É maravilhoso ser contra guerras, por exemplo, mas pode ser que um dia você acabe no meio do caos, entende? Se eu e a Horikita entrarmos em conflito, espero que você coopere comigo, Ayanokoji-kun.

— Quando você diz isso…

— Enfim, tente se lembrar de que estou contando com a sua ajuda.

— Contando, hein? Se você fosse pedir minha ajuda, acho que sua prioridade deveria ser explicar a situação primeiro.

Kushida, ainda sorrindo, balançou a cabeça com firmeza.

— Primeiro, precisamos construir uma relação de confiança mútua.

— Suponho que sim.

Nem Kushida nem eu entendíamos de verdade um ao outro ainda. Talvez, no futuro, eu viesse a conhecê-la mais profundamente.

*

 

Nos reunimos na biblioteca um minuto depois do horário combinado. Todos estavam com seus cadernos abertos, prontos e atentos. A biblioteca parecia ser um lugar popular para estudar. Alunos do primeiro ao terceiro ano disputavam para subir nos rankings. Eu entendia isso com um simples olhar.

— Você está atrasado — disse Horikita.

— Desculpe, a multidão estava complicada.

— Vocês dois não almoçaram juntos, não é?

Ike se virou para nós, com os olhos desconfiados. Kushida e eu, na verdade, tínhamos almoçado juntos, mas talvez fosse melhor manter essa informação em segredo.

— Sim, almoçamos juntos — disse Kushida.

Teria feito melhor se nada tivesse dito. Como esperado, Ike e os outros nos lançaram olhares de reprovação. Ike me olhava como se eu fosse seu inimigo ancestral. Horikita falou sem levantar o olhar.

— Rápido — disse ela.

— Ok.

Ao comando frio de Horikita, sentei-me e tirei meu caderno.

— Pensei que precisaria de mais ajuda nisso, mas geografia é relativamente fácil.

— Química também não foi tão difícil quanto eu esperava — disseram Ike e Yamauchi, satisfeitos.

— A maioria dos problemas se resume à memorização, certo? Mas você não consegue resolver muitas questões de inglês ou matemática se não entender a base.

— Não baixem a guarda. Acho que pode haver perguntas sobre atualidades na prova também.

— Atualidades…?

— Eventos recentes relacionados à política ou à economia. Isso significa que as perguntas podem não estar limitadas ao que está no livro.

— Argh, isso não é contra as regras? Então não temos ideia do que vai cair na prova, né?!

— Por isso você deve estudar tudo.

— De repente, passei a odiar geografia…

Embora a prova pudesse incluir atualidades, achei que seria melhor ignorá-las por enquanto. Se nos preocupássemos demais, provavelmente perderíamos algo importante e sofreríamos por isso.

— Não deveríamos acelerar? — perguntei. Estávamos perdendo tempo falando sobre isso ou aquilo.

— Sim. Estamos perdendo tempo porque alguém se atrasou.

— Ainda vai ficar me cobrando por isso?

— Aqui vai uma pergunta para todos: quem desenvolveu o raciocínio indutivo?

— Hum… foi aquele cara que aprendemos na aula, né? Aquele… — Ike quebrou a cabeça e girou seu lápis mecânico. — Ah, é! Aquele cara. O nome dele me deixou com muita fome.

— Francisco Xavier! Ou algo assim, né? — perguntou Sudou.

Quase, mas não era isso.

— Lembrei! Francis Bacon! — exclamou Ike.

— Correto.

— Sim! Com certeza vou tirar nota máxima!

— Não, não exatamente…

Se todos conseguíssemos manter esse ritmo por mais uma semana, talvez todos evitassem a reprovação.

— Prestem atenção à saúde, pessoal. Se ficarem doentes, terão menos tempo para estudar! — Kushida sabia que não tínhamos margem de erro.

— Não se preocupe. Pelo menos não com esses três — resmungou Horikita.

— Exatamente como eu esperava de você, Horikita-chan! Parece que você está começando a confiar em nós!

Na verdade, ela provavelmente queria dizer algo mais como: "Idiotas não pegam resfriado."

— Ei, fiquem quietos. Seu papo está ficando irritante — disse um estudante próximo, se virando para nos olhar.

— Desculpe, desculpe. Acho que me empolguei. Fiquei tão feliz por acertar algo. Sabiam que Francis Bacon foi o cara que desenvolveu o raciocínio indutivo? Não vou perder pontos nessa questão! — disse Ike, rindo bobalhamente.

— Hã? Ei, vocês, por acaso, são alunos da Classe D?

Um grupo de garotos nos encarou de uma vez. Sudou, aparentemente irritado, respondeu com um tom levemente raivoso:

— E daí? Qual o problema de sermos da Classe D? Tem algum problema com isso?

— Não, não, não há problema. Eu sou Yamawaki, da Classe C. Prazer — Yamawaki riu. — Tenho que dizer que fico feliz que aqui a escola separa as classes por habilidade. Assim não preciso estudar com perdedores como vocês.

— O que você disse?! — a raiva de Sudou explodiu.

— Não fique bravo. Só disse a verdade. Eu me pergunto… se a gente acabasse brigando, quantos pontos vocês perderiam? Ah, espera, vocês nem têm pontos para perder, né? Nesse caso, provavelmente seriam expulsos, certo?

— Pode ser. Então vamos nessa!

O grito de Sudou atraiu atenção e olhares de desgosto. Se a situação piorasse, o professor provavelmente acabaria ouvindo.

— Ele tem toda a razão. Não sabemos o que vai acontecer se vocês fizerem um escândalo. Devem lembrar que podem ser expulsos no pior cenário. Eu não me importo particularmente com o fato de estarem falando mal de nós, mas vocês estão na Classe C, certo? Honestamente, não deveriam se gabar disso — disse Horikita.

— Claramente houve erros de cálculo ao colocar a Classe C e a A. Mas vocês, da D, estão em um nível completamente diferente.

— Isso é um padrão de medição bastante inconsistente. Do meu ponto de vista, todo mundo fora da Classe A é colocado junto — Yamawaki parou de rir e agora olhava furioso para Horikita.

— Uau. Para um produto defeituoso que não consegue fazer um único ponto, você é bem atrevida, hein? Achou que podia dizer o que quisesse só porque tem um rostinho bonito?

— Obrigada pela declaração completamente incoerente e irrelevante. Nunca me preocupei muito com minha aparência até agora, mas, após receber elogios de você, devo dizer que me sinto bastante desconfortável.

— Tch! — Yamawaki bateu na mesa e se levantou.

— Ei. Relaxa. Se formos nós que começarmos a briga, a notícia vai se espalhar e nós nos meteremos em problemas — os outros alunos da Classe C puxaram as mangas de Yamawaki, segurando-o.

— Vocês sabem que serão expulsos se reprovarem na próxima prova, certo? Mal posso esperar para ver quantos de vocês vão ser mandados embora.

— Infelizmente para você, ninguém da Classe D será expulso. Mas, antes de se preocupar conosco, talvez devesse se preocupar com a sua própria turma. O orgulho precede a queda.

— Hahaha! Nós, reprovar? Não brinque.

— Não estudamos apenas para não reprovar. Estudamos para melhorar nossas notas. Não nos coloque junto de vocês — disse Yamawaki. — Além disso, ficar feliz só porque sabe quem é Francis Bacon? Você está louco? Por que estudar coisas que nem vão cair na prova?

— Hã? — Horikita pareceu sem reação.

— Espera, vocês não sabem o que vai cair na prova? Não é à toa que são chamados de produtos defeituosos.

— Já chega — Sudou, prestes a realmente perder a paciência, agarrou Yamawaki pelo colarinho.

— Ei, ei! Você vai mesmo se tornar violento mesmo sabendo que vai perder pontos? Está tudo bem com isso?

— Nós não temos pontos para perder!

Sudou puxou o braço para trás. E agora? Será que ele ia realmente dar uma surra nesse cara? Eu sabia que devia pará-lo. Levantei-me e então—

— Ok, parem! Parem!

Uma aluna gritou para nós. Sudou parou imediatamente.

— O quê? Isso não tem nada a ver com você. Fique fora disso — disse ele.

— Não tem nada a ver comigo? Estou tentando usar a biblioteca, então tem tudo a ver comigo. Se querem brigar, posso sugerir que o façam lá fora?

Diante do argumento lógico, porém indiferente, da garota, Sudou soltou Yamawaki.

— Além disso, não acha que está provocando ele? Se continuar assim, vou ter que reportar à escola. Quer que eu faça isso?

— D-Desculpe. Não queremos isso, Ichinose — disse Yamawaki.

Ichinose. Eu já tinha ouvido esse nome antes. Espera… aquela era a aluna da Classe B que conversava com a Hoshinomiya-sensei.

— Vamos, então. Se tentarmos estudar aqui, vamos acabar pegando alguma doença idiota que está circulando.

— É.

Com essas palavras finais, Yamawaki e seu grupo se foram.

— Se vocês vão estudar aqui, por favor, comportem-se como adultos. Obrigada — disse Ichinose.

Observando sua saída elegante, tive que assentir em admiração.

— Diferente da Horikita, ela conseguiu colocar todo mundo na linha.

— Não tive a intenção de criar caos. Só falei a verdade.

A verdade, no entanto, havia levado ao caos…

— Ei. Ele disse que essa questão não estava na prova, não foi?

— Como assim?

Nos entreolhamos. A Chabashira-sensei nos tinha dito que o material sobre a Era das Descobertas cairia na prova. Horikita e eu tínhamos anotado isso.

— Isso significa que cada classe terá uma prova diferente?

— Isso parece improvável. A prova deve ser igual para todos do mesmo ano.

Horikita estava certa. Os mesmos problemas fundamentais dos cinco tópicos principais deveriam aparecer na prova de todos.

Caso contrário, seria difícil julgar nossa aptidão. A Classe C sabia que a prova mudaria antes de qualquer outra? Ou seria a Classe D a única que estava ficando de fora do circuito? Ficamos perplexos com essa nova informação. E se a prova de cada classe tivesse questões de estudos sociais diferentes? Não… e se não fossem apenas questões de estudos sociais? E se todas as questões da prova fossem completamente diferentes? Se fosse o caso, teríamos desperdiçado uma semana inteira de estudo.

*

 

Dispensamos o grupo dez minutos antes do término do nosso intervalo para o almoço. Arrumamos nossos materiais e seguimos em direção à sala dos professores. Precisávamos confirmar exatamente o que cairia na prova.

— Chabashira-sensei, temos uma pergunta urgente — disse Horikita.

— Que entrada teatral. Surpreenderam os outros professores — respondeu a professora.

— Peço desculpas pela interrupção repentina.

— Tudo bem. Estamos no meio de algo, então, por favor, sejam rápidos — continuou Chabashira-sensei, escrevendo em seu caderno.

— Chabashira-sensei, na semana passada, quando nos informou sobre o conteúdo da prova, a senhora não cometeu um engano? Pouco antes, alguns alunos da Classe C nos disseram que o material da prova seria diferente do que esperávamos.

Chabashira-sensei ouviu em completo silêncio, sem nem franzir a testa enquanto Horikita falava. Depois, ela pousou a caneta.

— Isso mesmo. Os tópicos da prova mudaram na sexta-feira passada. Desculpem, devo ter esquecido de avisá-los.

— O quê?!

Ela rabiscou algo em uma página de seu caderno, arrancou e entregou a Horikita. Estavam anotados os números de páginas do livro-texto que se referiam ao material que já havíamos visto em aula. A maior parte do novo conteúdo era anterior ao início do nosso grupo de estudo, coisas que Sudou e os outros não tinham aprendido.

— Graças a você, Horikita-san, pude corrigir meu erro. Sou grata a todos vocês. É só isso. Obrigada.

— Espere um minuto, Sae-chan-sensei! Não é tarde demais para isso?

— Não acho. Vocês ainda têm uma semana. Se usarem bem esse tempo de estudo, deve ser fácil, certo?

Chabashira-sensei tentou nos mandar embora da sala dos professores sem a menor hesitação. No entanto, nenhum de nós se mexeu.

— Mesmo que fiquem, nada mudará. Entendem isso, não é? — perguntou ela.

— Vamos.

— M-Mas, Horikita-chan! Não podemos simplesmente aceitar isso!

— Como a Chabashira-sensei disse, ficar seria perda de tempo. Em vez disso, devemos começar a estudar o material revisado da prova.

— Mas!

Horikita virou sobre o calcanhar e deixou a sala dos professores, com Sudou e os outros seguindo-a relutantemente. Chabashira-sensei nem olhou para nós enquanto saíamos. Eu esperava que ela pedisse desculpas pelo erro, mas não o fez. E, se fosse o caso, pensei que alguns dos outros professores poderiam reagir ao incidente.

Apesar de ser um erro bastante sério para uma professora titular, nenhum outro docente parecia se importar. Hoshinomiya-sensei estava sentada próxima. Nossos olhares se cruzaram. Ela deu um pequeno sorriso e acenou. Bem, isso já era alguma coisa. No entanto, eu não achava que nossa professora simplesmente tivesse esquecido de informar o que cairia na prova.

Quando entrei no corredor, o sinal para a aula da tarde tocou.

— Kushida-san. Tenho um pequeno favor para te pedir — disse.

— Hmm? Qual é?

— Quero que informe o resto da Classe D sobre as mudanças na prova.

Com isso, entreguei a ela o papel de Chabashira-sensei com os números das páginas do livro.

— Está bem, mas… posso mesmo fazer isso? — perguntou.

— Você é a melhor candidata que temos. Não tenho dúvidas. Além disso, não podemos fazer a prova se não soubermos o que vai cair.

— Certo, entendi. Pode deixar comigo. Vou contar para o Hirata-kun e para todos os outros.

— Vou me preparar para amanhã. Até lá, devo ter resumido tudo o que precisaremos.

Horikita tentou parecer calma, mas pude perceber sua ansiedade. O tempo que passamos estudando havia sido desperdiçado, e estávamos de volta à estaca zero. Além disso, agora só tínhamos uma semana restante.

Nosso maior desafio era manter o Trio do Idiota motivado.

— Horikita. Sei que tenho sido difícil, mas estou contando com você — disse Sudou, curvando-se para ela. — A partir de amanhã… vou dar um tempo das atividades do clube. Pode ser?

— Isso…

Considerando que só tínhamos uma semana e o tempo era essencial, era uma decisão racional. No entanto, a oferta surpreendeu tanto Horikita que ela não pôde aceitar imediatamente.

— Isso realmente vai ser bom para você? Vai dar muito trabalho.

— Estudar já é muito trabalho, não é? — disse Sudou, sorrindo e dando um tapinha no ombro de Horikita.

— Sudou, você está falando sério? — perguntou ela.

— Sim. Quero dizer, também estou irritado com nossa professora titular e com aqueles idiotas da Classe C agora.

Podemos chamar isso de bênção disfarçada. Encurralado, Sudou finalmente desenvolveu uma atitude positiva sobre estudar. Ele provavelmente percebeu que, se não se esforçasse, não passaria na prova. Sua determinação inspirou Ike e Yamauchi.

— Acho que não temos escolha. Também vamos nos esforçar mais — disse Ike.

— Entendi. Se vocês estiverem preparados, podemos trabalhar juntos. No entanto, Sudou-kun… — Horikita retirou friamente a mão dele de seu ombro. — Por favor, não me toque. Se fizer isso novamente, não terei piedade.

— Você não é nada fofa, moça…

— Vamos conseguir, com certeza!

— É! Eu também!

Kushida, que também parecia motivada, estendeu o punho.

— Vamos, Ayanokoji-kun. Você também precisa se esforçar! — gritou ela.

— Hã? Não, eu—

— Não me diga. Já desistiu de estudar?

— Pensei um pouco sobre isso.

— Você prometeu que trabalharia comigo. Esqueceu? — perguntou Horikita, lançando-me um olhar penetrante.

— Eu não sou um bom professor. As pessoas têm pontos fortes e fracos diferentes, não é?

Para ser sincero, Horikita e Kushida eram melhores ensinando do que eu. Eu realmente não me considerava capaz de ensinar os outros.

— Suas notas na prova não estavam tão ruins, estavam?

— Não temos muito tempo, então talvez seja mais eficaz se Horikita e Kushida trabalharem juntas para ensinar aqueles três, em vez de dar aulas individuais. Além disso, tem outra coisa que está me incomodando.

— Algo te incomodando?

O que aconteceu na sala dos professores foi sério demais para que eu pudesse ignorar.

*

 

Quando chegou a hora do almoço, levantei-me de um salto e fui em direção à cafeteria com passos decididos.

— Para onde você vai?

Kushida percebeu que eu estava saindo correndo da sala e me seguiu. Ela surgiu à minha frente, impedindo-me de avançar.

— É hora do almoço. Pensei em ir à cafeteria.

— Humm. Posso ir com você?

— Não me importo. Mas há muitas outras pessoas que você poderia convidar, sabe.

— É verdade, eu tenho muitos amigos para almoçar, mas você não tem ninguém, Ayanokoji-kun. Mesmo que normalmente você se aproxime da Horikita-san, você não falou com ela hoje. Outro dia, você não disse que algo te incomodava sobre o que aconteceu na sala dos professores? O que foi?

Kushida, como sempre, era bastante observadora. Para ser honesto, eu não queria fazer isso com ninguém, mas decidi que provavelmente estava tudo bem com Kushida. Eu havia descoberto seu segredo por pura coincidência. Ela não faria nada estúpido.

— Eu posso te contar, se você prometer que não vai contar para mais ninguém.

— Sou bom em guardar segredos.

Kushida e eu fomos juntos para a cafeteria. Conseguimos nos deslocar pela multidão e finalmente chegamos à máquina de tickets das refeições. Comprei tickets para duas porções, mas não me enfileirei no balcão. Em vez disso, fui para o lado da máquina e observei os alunos analisando o cardápio.

— O que foi? — Kushida inclinou a cabeça, confusa, enquanto eu estudava a máquina.

— Isso pode responder ao que estava me incomodando.

Continuei observando os alunos enquanto compravam seus tickets de refeição. Depois de observar cerca de vinte estudantes, meu alvo apareceu. Ele comprou seu ticket e caminhou até o balcão com passos pesados e arrastados.

— Ok, vamos — disse.

— Humm? Certo.

Trocamos rapidamente nossos tickets pelas refeições e nos sentamos à frente do estudante de passos pesados.

— Hum, com licença. Você é um veterano? — perguntei.

— Humm? Quem é você? — O estudante nos olhou calmamente, com uma expressão de total desinteresse.

— Você é do segundo ano? Terceiro ano?

— Terceiro ano. Deixe-me adivinhar, você é do primeiro?

— Sou Ayanokoji, da Classe D. Você também é da Classe D, não é?

— O que isso tem a ver com você?

Kushida olhou para mim, surpresa, como se perguntasse: "Como você soube?"

— Porque ele está limitado a comer as refeições gratuitas. Não é muito saboroso, né? — perguntei. Ele estava comendo o prato de vegetais gratuito.

— O que você quer? É realmente irritante.

Ele pegou sua bandeja e tentou se levantar, mas eu o interrompi.

— Quero te fazer uma pergunta. Se você ouvir, vou te mostrar minha gratidão.

— Gratidão?

O barulho da cafeteria abafava minha voz. Os estudantes estavam todos entretidos conversando agradavelmente com seus amigos.

— Você ainda tem os problemas da prova do meio do semestre do primeiro ano? Ou, se não tiver, conhece alguém da sua classe que tenha?

— Você entende o que está perguntando? — ele disse.

— Não é particularmente estranho, é? Eu não pensei que fosse contra as regras da escola estudar usando provas antigas.

— Por que está me perguntando?

— É simples. Acredito que teria a maior chance de sucesso se trabalhasse com alguém que não tem pontos. Honestamente, aquela refeição de vegetais gratuitos não parece boa. Claro, seria bem diferente se você realmente gostasse dela. O que acha?

— Quanto você vai pagar?

— Dez mil pontos. Esse é o máximo que posso oferecer.

— Eu não tenho as provas antigas, mas… conheço alguém que tem. Se você quiser que ele te ajude, vai precisar oferecer pelo menos 30.000 pontos. Se tiver isso, está tranquilo.

— Receio que 30.000 seja inviável para mim. Não tenho tudo isso.

— Quanto você tem?

— Vinte mil.

— Então 20.000… não, 15.000 basta. Nada abaixo disso.

— 15.000, hein?

— Se você chega a pedir provas antigas para um estranho, deve estar bem desesperado, né? Bem, a escola manda expulsar sem piedade qualquer aluno que tire nota de reprovação. Nenhum dos meus colegas está mais por aqui.

— Entendi. Pago os 15.000 pontos.

— Fechado. Mas, claro, vou pedir que transfira os pontos adiantado.

— Certo, mas se você fizer qualquer golpe pelas costas, eu não vou te perdoar. Mesmo sendo veterano, eu faço tudo o que puder para garantir que você seja expulso.

— Você é doido. Beleza, combinado. Além disso, quando se transfere pontos sempre fica registro. Se correr o boato de que uns calouros me passaram a perna, ia ficar feio.

— Então tudo bem. Já que tô pagando 15.000, pode incluir um bônus? Quero ver as respostas da prova-surpresa que fizemos logo depois de entrar na escola.

— Tranquilo. Também mando isso. Acho que sua preocupação é exagerada, no entanto.

— Muito obrigado.

Depois do acordo, ele saiu rápido. Provavelmente não queria ser notado.

— Ei, Ayanokoji-kun? O que você fez agora… foi realmente certo? — perguntou Kushida.

— Não há problema. As regras da escola permitem transferências de pontos, então não foi violação.

— Pode até ser, mas conseguir as provas antigas não é trapaça?

— Trapaça? Não creio. Se a escola proibisse, estaria descrito no regulamento desde o início. Além disso, eu me senti mais confiante depois de ver aquele aluno do terceiro ano. Quer dizer, não é incomum os alunos negociarem pontos assim.

— Hã?

— Meu pedido não o surpreendeu muito; ele aceitou rápido. Provavelmente não é a primeira vez que ele negocia desse jeito. Não só tinha a folha de respostas do simulado do primeiro ano, como também a do teste-surpresa que fizemos ao entrar. Se ele guardou isso, faz sentido.

Os olhos de Kushida se arregalaram, chocados.

— Ayanokoji-kun, o que você fez foi ousado.

— É só um seguro para evitar que Sudou e os outros sejam expulsos.

— Mas, se as respostas antigas forem inúteis, tudo terá sido em vão. Quero dizer, perguntas antigas podem ser totalmente diferentes das deste ano.

— As questões podem não ser idênticas, mas certamente haverá semelhanças. Notei uma pista naquele último simulado que fizemos.

— Uma pista?

— Você percebeu que havia problemas bem difíceis junto com os simples, né?

— Sim, notei. As últimas questões, não é? Eu não entendi nada.

— Investiguei e descobri que aquelas questões apareceram nas provas dos segundos e terceiros anos. Ou seja, um aluno do primeiro ano geralmente não saberia resolvê-las. Faz sentido a escola nos colocar problemas que não conseguimos resolver? Essas questões não existem só para medir nossa capacidade acadêmica. Agora, suponha que as questões do simulado que fizemos sejam exatamente iguais às do simulado antigo. O que aconteceria?

— Se eu tivesse visto o simulado antigo, teria conseguido responder todas as questões — ela disse.

O mesmo provavelmente valeria para a prova intermediária. Pouco depois, o aluno do terceiro ano me enviou uma mensagem com um arquivo de imagem em anexo: eram as provas antigas.

Primeiro, conferi o simulado. A chave era saber se as três últimas questões eram as mesmas. Kushida devia estar curiosa também, pois se aproximou para tentar olhar meu telefone.

— E então? E então? — ela perguntou.

— São iguais. Palavra por palavra, idênticas. O simulado daquele ano e o deste ano são exatamente os mesmos, em tudo.

— Incrível! Então, se mostrarmos isso pra turma, a vitória seria fácil! Devíamos mostrar pra todos os nossos amigos, não só pro Sudou-kun!

— Não, vamos segurar. Ainda não vamos mostrar pro Sudou e pro pessoal.

— P-Por quê? Você gastou tantos pontos com isso!

— Se eles souberem que as provas antigas funcionam, a motivação deles pode desandar. Precisamos evitar excesso de confiança. Afinal, mesmo que os simulados sejam idênticos, é possível que as questões da prova intermediária deste ano não sejam as mesmas do ano passado.

Esses papéis antigos eram um seguro.

— Certo, então como você vai usar isso?

— Vou divulgar no dia anterior à prova. Vamos contar pra todos que as questões da prova antiga são, em geral, iguais às da nova. E o que você acha que vai acontecer?

— Naquela noite, todo mundo vai ficar curvado sobre a mesa, tentando desesperadamente decorar todas as questões!

— Exatamente.

Os alunos com pouco domínio dos fundamentos provavelmente não conseguiriam memorizar tudo em um dia. Porém, não estávamos buscando notas perfeitas dessa vez. O essencial era evitar a reprovação. Se fôssemos gananciosos, poderíamos cavar nossa própria cova.

Com esse plano, provavelmente conseguiríamos fazer toda a Classe D passar.

— Quando você teve a ideia de conseguir as provas antigas? — ela perguntou.

— Considerei isso quando soubemos que o conteúdo da prova seria diferente. Mas já tinha um pressentimento desde que anunciaram a prova intermediária.

— Hã?! Desde aquela época?

— Houve algo muito estranho na forma como a Chabashira-sensei falou da prova. Como professora responsável pela turma, ela conhece bem as notas e o desempenho de todos. Mesmo assim, parecia absolutamente certa de que havia uma forma de passarmos. Ou seja, ela insinuou que existia um jeito garantido de salvar todo mundo.

— E esse jeito são… as provas antigas?

— Talvez isso tenha a ver com o motivo de Sudou, Ike e Yamauchi terem sido aceitos na escola, mesmo sendo fracos nos estudos. Mesmo que eles não conseguissem boas notas estudando com antecedência, talvez existisse outro método para lidar com o problema — um plano reserva para evitar a expulsão. Isso significa que qualquer um poderia tirar uma nota quase perfeita se tivesse as provas antigas. Foi isso que deduzi.

— Ayanokoji-kun, você é realmente uma pessoa incrivelmente observadora, né?

— Só sou calculista. Além disso, eu não achava que conseguiria passar nessa prova sem alguma ajuda. Só estava tentando facilitar as coisas pra mim mesmo.

— Hmm — Kushida sorriu, como se engrenagens começassem a girar em sua mente.

— Tenho mais um favor pra pedir. Poderia dizer a todos que foi você quem conseguiu as provas antigas, Kushida? Quero que diga que conseguiu com um aluno do terceiro ano de quem você é próxima.

— Tudo bem, mas… você tem certeza disso, Ayanokoji-kun?

— Prefiro evitar problemas. Não quero chamar atenção. Além disso, nossos colegas confiam em você, Kushida. Acho que seria melhor se fosse você a contar.

— Entendi. Se é isso que você quer, Ayanokoji-kun.

— Valeu. Mas não diga mais nada além disso. Precisamos evitar atrair olhares demais.

— Certo, esse será nosso segredo.

— É o que eu estava pensando.

— Você não sente que se cria uma estranha ligação de confiança entre pessoas que compartilham um segredo?

— Não sei dizer. Tomara.

— Obrigada — respondeu Kushida.

Eu realmente não sabia ao certo o que ela quis dizer com aquilo.

 

 

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