Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 1

Capítulo 8: Associação dos Fracassados

O DIA 1º DE maio veio e passou, e antes que percebêssemos, a semana escolar havia terminado. Ike e os outros começaram a prestar atenção nas aulas. Apenas Sudou continuava dormindo descaradamente em plena sala, mas ninguém se atrevia a repreendê-lo. Como ainda não havíamos descoberto uma maneira de aumentar nossos pontos, ele aparentemente decidiu não mudar seus hábitos. No entanto, muitos dos colegas começaram a desprezá-lo.

Eu também estava um pouco sonolento. Era difícil manter os olhos abertos pouco antes do almoço. Além disso, eu tinha ficado acordado até tarde na noite anterior assistindo a um vídeo online.

Ah, como seria bom tirar um cochilo...

— Ah?!

Assim que minha cabeça começou a pender, uma dor súbita atravessou meu braço direito.

— O que foi, Ayanokoji? — perguntou Chabashira-sensei. — Você gritou. Está entrando na fase rebelde, é isso?

— N-Não. Desculpe, Chabashira-sensei. É que entrou um cisco no meu olho.

Normalmente, os outros alunos começariam a cochichar, mas, receosos de perder pontos, apenas me lançaram olhares de reprovação. Enquanto eu esfregava o braço dolorido, lancei um olhar furioso para a colega ao lado. Horikita segurava um compasso na mão. Aquilo era insano.

Por que ela estava com um compasso à mão, afinal? Nem precisávamos de um para as aulas daquela escola. Assim que a aula terminou, fui direto falar com ela.

— Certas coisas têm limite! É perigoso sair espetando os outros assim!

— Está com raiva de mim? — perguntou ela, com a maior calma do mundo.

— Você fez um buraco no meu braço! Um buraco!

— O quê? Quando foi que eu te espetei com uma agulha de compasso, Ayanokoji-kun?

— Você está segurando uma arma perigosa agora mesmo!

— Então quer dizer que, só porque estou segurando algo, isso significa que te furei?

Passei quase toda a aula de olhos arregalados, não por causa da explicação, mas pela dor.

— Tenha cuidado — disse Horikita friamente. — Se te pegarem dormindo, com certeza isso vai nos fazer perder pontos.

Horikita havia começado a agir dentro da Classe D. Suas reclamações para a escola não tinham dado em nada. Ah, que dor! Maldição, se algum dia ela cochilasse na aula, eu devolveria o favor.

Quando todos se levantaram para o almoço, Hirata tomou a palavra:

— Chabashira-sensei mencionou que o exame de meio de período está chegando. Lembrem-se: se tirarem nota vermelha, serão expulsos. Por isso, acho que seria uma boa ideia formarmos um grupo de estudos.

Aparentemente, o herói da Classe D havia iniciado outro projeto.

— Se negligenciarmos os estudos, receberemos notas baixas e seremos expulsos na hora. Quero evitar isso. Além disso, estudar não apenas impedirá a expulsão, como também pode nos render pontos. Se tirarmos boas notas, a avaliação da classe deve melhorar. Pedi ajuda a alguns alunos que foram bem no último teste para elaborarmos um plano de estudos. Então, gostaria que todos que estão preocupados viessem participar do grupo. Todos são bem-vindos, claro.

Enquanto fazia seu discurso inspirador, Hirata olhou diretamente para Sudou.

— Tch.

Sudou desviou o olhar, cruzou os braços e fechou os olhos. Desde que ele havia estragado a atividade de apresentação de Hirata, o relacionamento entre os dois estava estremecido.

— A partir de hoje, às cinco horas, planejamos estudar nesta sala por duas horas diárias até o exame — continuou Hirata. — Quem quiser participar, pode vir quando quiser. E, claro, se precisar sair no meio, tudo bem. Era só isso que eu queria dizer.

Assim que terminou de falar, vários dos alunos com notas baixas se levantaram e foram até ele. Havia, no entanto, três que não se moveram: Sudou, Ike e Yamauchi. Ike e Yamauchi pareceram hesitar por um instante, mas acabaram ficando sentados. Não consegui entender se era medo de irritar Sudou ou pura inveja da popularidade de Hirata.

*

 

— Está livre para o almoço? Quer comer comigo? — perguntou Horikita durante o intervalo, aproximando-se de mim.

— É raro receber um convite seu. Fico até nervoso.

— Não há motivo para isso. Posso te oferecer o prato vegetariano, se estiver tudo bem.

Espera aí… esse não era o prato gratuito?

— Tô brincando. Sério, pode escolher o que quiser. É por minha conta.

— Agora fiquei realmente assustado. Tem alguma pegadinha nisso?

Um convite vindo da Horikita já era suspeito por si só. E o fato de ter sido de repente me deixava ainda mais desconfiado.

— Se as pessoas não forem capazes de aceitar gentilezas de forma sincera, então a humanidade está condenada, não acha? — disse ela.

— Bem, suponho que sim, mas...

Como eu não tinha outros planos, resolvi acompanhá-la até o refeitório. Lá, escolhi um dos pratos especiais mais caros. Sentamos juntos.

— Então, vamos comer? — perguntou ela, me observando atentamente, como se esperasse eu começar.

— O que foi, Ayanokoji-kun? Não vai comer?

— Ah... — murmurei. Definitivamente, havia uma pegadinha. Mas eu não podia simplesmente ficar parado. Deixar a comida esfriar seria um desperdício. Dei uma mordida hesitante no croquete.

— Sei que é meio de repente, mas quero conversar com você sobre algo.

— Já tô com um mau pressentimento... — resmunguei. Quando me preparei para levantar e fugir, ela segurou minha mão.

— Ayanokoji-kun, vou perguntar mais uma vez. Pode me ouvir?

— Ugh... — suspirei.

— Desde o aviso da Chabashira-sensei, menos pessoas têm chegado atrasadas ou conversado durante as aulas. Dizer que eliminamos mais da metade dos problemas da turma não é exagero.

— É verdade. Embora, para ser honesto, nem era um problema tão difícil de resolver.

Não havia garantia de que as coisas continuariam assim, mas pelo menos os últimos dias tinham sido bem mais tranquilos.

— O próximo passo é melhorar nossas chances nas provas intermediárias. O Hirata-kun já começou a agir nesse sentido.

— Os grupos de estudo, né? Bem, acho que podem ajudar, sim. Só que...

— Só que o quê? Está insinuando algo? Qual é o problema?

— Nada demais. Não se preocupe. Só achei curioso ver você se preocupando tanto com os outros.

— Eu não consigo imaginar o que é falhar numa prova. Mas é verdade que algumas pessoas nesse mundo conseguem.

— Tá falando do Sudou e dos outros? Continua afiada como sempre, hein.

— Só estou dizendo a verdade.

Como os alunos não podiam sair do campus, nem entrar em contato com pessoas de fora ou frequentar cursinhos, a única opção era se ajudarem mutuamente.

— Fico aliviada por o Hirata-kun ter organizado um grupo de estudos. Mas o Sudou-kun, o Ike-kun e o Yamauchi-kun não entraram, certo? Isso me preocupa — disse Horikita.

— Ah, aqueles três. Não dá pra dizer que são inimigos do Hirata, mas também não se dão bem com ele. Então, não, eles não vão participar.

— Ou seja, há uma grande probabilidade de que esses três reprovem. E, para alcançarmos a Classe A, precisamos evitar punições e buscar boas avaliações, certo? Acho bem provável que notas altas ajudem nisso.

Era natural que um aluno esperasse que seu esforço refletisse nas notas.

— E se você organizasse um grupo de estudos como o do Hirata, só que voltado para ajudar o Sudou e o Ike? — perguntei.

— Claro. Não teria objeção. Imagino que isso te surpreenda, não?

— Bem, tudo no seu comportamento até agora tem sido surpreendente.

Na verdade, eu não estava surpreso. Horikita fazia tudo aquilo por interesse próprio. Mas, pessoalmente, nunca achei que ela fosse fria a ponto de ignorar os outros completamente.

— Entendo que queira subir para a Classe A. Mas não achei que fosse optar por um método tão... comum, como dar aulas particulares. Normalmente, alunos que reprovam não gostam de estudar. Além disso, você tem se mantido distante dos outros desde o primeiro dia, não é? Duvido que alguém que considera amizade desnecessária consiga reunir pessoas com facilidade.

— É por isso que estou pedindo a sua ajuda. Por sorte, você já é amigo deles, certo?

— Hã? Ei, espera... Você não quer dizer...

— Vai ser mais rápido se você convencê-los. Não deve ser um problema, já que eles vivem dizendo que são seus amigos. Traga-os para a biblioteca, e eu ensino.

— Isso é loucura. Você realmente acha que alguém que faz de tudo pra levar uma vida tranquila e discreta tem as habilidades sociais para isso?

— Não é questão de poder ou não poder. Apenas faça — disse ela.

O quê, eu era o cachorro dela agora?

— Você pode mirar na Classe A o quanto quiser, mas não me envolva nisso.

— Você comeu a refeição que eu te ofereci, não foi? O almoço. O prato especial. Uma refeição maravilhosa e deliciosa.

— Eu apenas aceitei a boa vontade sincera de outro ser humano.

— Infelizmente, não foi boa vontade. Eu tinha um motivo oculto.

— Desculpe, não ouvi nada do que você disse. Aqui, pegue uns pontos, por minha conta. Agora estamos quites.

— Recuso-me a me rebaixar a ponto de aceitar esmolas — respondeu ela.

— Acho que é a primeira vez que fico realmente irritado com você...

— Então, o que vai fazer? Vai cooperar comigo ou me tornar sua inimiga?

— Parece até que você tá apontando uma arma pra mim.

— Não é "parece". Eu realmente estou te ameaçando — respondeu Horikita.

O poder da intimidação era, de fato, eficaz. Bem... se tudo o que eu precisava fazer era reuni-los, não havia nada de errado em cooperar. Afinal, por causa da postura antissocial de Horikita, ela não era muito boa em lidar com pessoas.

Além disso, tinha dado trabalho me aproximar do Sudou e do Ike. Seria um desperdício vê-los reprovarem tão cedo. Percebendo minha hesitação, Horikita apertou ainda mais.

— Você não acha que eu te perdoei por conspirar com a Kushida-san e me chamar sob falsos pretextos, acha? — perguntou ela.

— Você disse que não ia me culpar por isso. Trazer esse assunto de volta é vacilo.

— Eu disse isso para a Kushida-san. Não me lembro de ter dito pra você, Ayanokoji-kun.

— Uau. Fez outra vez.

— Se quiser o meu perdão, coopere comigo.

Pelo visto, eu nunca tive uma rota de fuga desde o início. Nesse ponto, a única forma de evitar confusão seria ajudá-la.

— Não posso garantir nada. Tudo bem pra você?

— Acredito que você vai dar um jeito. Ah, aqui está meu número e meu e-mail. Se acontecer alguma coisa, entre em contato comigo.

Embora as circunstâncias fossem um tanto incomuns, era a primeira vez, desde que entrei no ensino médio, que eu conseguia o contato de uma garota. Mas, como era o da Horikita, não fiquei exatamente feliz com isso.

*

 

Dei uma olhada na sala de aula. E agora, o que eu devia fazer? Se eu dissesse algo como "Ei, quer estudar comigo depois da aula?", será que alguém toparia?

O Sudou talvez aceitasse, já que tínhamos certa proximidade, mas os outros… não tinha tanta certeza. Bem, sem nada a perder, resolvi tentar.

— Ei, Sudou. Tem um minuto? — chamei, quando ele voltou pra sala depois do almoço. Ele estava suando e um pouco ofegante. Provavelmente tinha jogado basquete no intervalo.

— O que vai fazer sobre a prova intermediária?

— Ah, isso? Sei lá. Nunca estudei de verdade antes — respondeu.

— É mesmo? Bom, tenho uma ideia. Quero montar um grupo de estudos para se reunir todo dia depois da aula, começando hoje. Quer participar?

Sudou me encarou, a boca ligeiramente aberta.

— Tá falando sério? Se as aulas já me irritam, por que estudar depois delas seria melhor? Além disso, tenho treino do clube, então não adianta. E, peraí... você que vai dar as aulas? Suas notas também não foram lá essas coisas.

— Não se preocupa com isso. A tutora vai ser a Horikita.

— Horikita? Nem conheço direito essa garota. Soa suspeito. Passo. Vou dar um jeito estudando na véspera.

Como eu já esperava, Sudou recusou. Se eu insistisse, ele só ia me ignorar — ou me dar um soco. Droga, parecia realmente inútil. Talvez fosse melhor começar por alguém mais maleável.

Chamei o Ike, que estava distraído no celular.

— Ei, Ike, h—

— Passo! — interrompeu. — Ouvi você falando com o Sudou. Grupo de estudos? Tô fora. Isso não é pra mim.

— Você sabe que pode ser expulso se reprovar, né?

— Sei, sei. Já tirei notas ruins antes, mas tô melhorando. Vou estudar com o Sudou na noite anterior, vai dar certo.

Será que ele realmente achava que estava tudo bem? Parecia não entender o perigo da situação.

— Se o último teste não tivesse sido uma pegadinha, eu provavelmente teria tirado uns quarenta pontos — disse ele.

— Entendo, mas não seria melhor se estudássemos juntos dessa vez? — perguntei.

— O tempo livre de um estudante do ensino médio é precioso, sabia? Não quero desperdiçar estudando.

Ele me dispensou com um aceno, completamente concentrado em mandar mensagens pra alguma garota. Desde que o Hirata arranjara uma namorada, o Ike estava desesperado para conseguir uma também.

Desanimei e voltei pro meu assento. Talvez, se dissesse à Horikita que tentei de verdade, ela me deixasse em paz.

— Não serve — disse ela.

— Hã? Como assim, "não serve"? — perguntei.

— Eu disse "não serve". Você realmente achou que seria tão fácil assim?

Droga. Ela ignorou completamente o meu esforço. Que sem-vergonha.

— Claro que não — murmurei. — Ainda tenho 425 planos restantes.

Olhei ao redor da sala. Diferente da tensão durante as aulas, o clima no almoço era mais amigável — e barulhento.

Eu precisava encontrar uma maneira de fazer aqueles alunos relutantes estudarem. E não apenas durante as aulas, mas também no tempo livre. Normalmente, eu não me meteria nisso, mas o risco de expulsão era real.

Eu tinha certeza de que o Sudou participaria se tivesse um bom motivo. Agora eu só precisava de um incentivo — algo que o fizesse pensar que havia uma recompensa tentadora por trás do estudo. Precisava ser algo concreto, fácil de entender e eficaz.

E então, tive uma ideia.

Iluminado por uma espécie de revelação divina, virei-me para Horikita, arregalando os olhos.

— Mesmo sendo a tutora, convencer o Sudou e o Ike a estudar não vai ser fácil. Vou precisar de mais das suas habilidades. Pode me ajudar? — perguntei.

"Mais das minhas habilidades"? O que exatamente quer dizer com isso?

— Que tal isso: se eles tirarem nota máxima, você aceita ser namorada de um deles ou algo assim. Eles com certeza iam se empolgar com esse tipo de incentivo. Garotas são uma ótima motivação para caras.

— Quer morrer? — ela perguntou, gelidamente.

— Prefiro viver, para ser sincero.

— Eu só ouvi porque achei que você tinha um plano sério. Fui uma idiota de pensar isso.

Eu realmente acreditava que minha ideia seria eficaz. Seria o maior incentivo pra estudar que eles já tiveram na vida. Mas Horikita claramente não entendia a mente masculina.

— Ok, então que tal um beijo? Se tirarem nota máxima, você dá um beijo neles.

— Então você realmente quer morrer?

— Não, ainda prefiro continuar vivo.

Algo pontudo cutucou a parte de trás do meu pescoço. Droga. Horikita definitivamente não reconhecia o valor dos meus métodos. Mesmo assim, eu sabia que funcionariam. Bem, hora de repensar o plano.

Enquanto refletia, notei alguém bem chamativa. Não era o Hirata, mas outra pessoa capaz de unir a turma com facilidade: Kushida Kikyou.

Bonita, simpática, cheia de energia. Era tão sociável que qualquer um — garoto ou garota — podia conversar com ela sem esforço. Além disso, o Ike era completamente apaixonado por ela, e até o Sudou e os outros tinham uma boa impressão. Para completar, suas notas eram relativamente altas. Ela era perfeita.

— Ei! — chamei.

Mas, no mesmo instante, me lembrei de que Horikita não queria ser amiga da Kushida. Parei ali mesmo.

— O que foi? — perguntou Kushida.

— Ah, uh... nada não — balancei a cabeça.

Horikita tinha verdadeira aversão a se enturmar. Quando a Kushida e eu tentamos colocar em prática o "Plano Amizade", ela ficou furiosa. Provavelmente não aprovaria envolver a Kushida nisso.

Decidi adiar meu plano até que Horikita voltasse para o dormitório.

*

 

Antes que eu percebesse, as aulas do dia haviam terminado. Horikita saiu rapidamente e foi direto para o dormitório. Chegara a hora de colocar meu plano em prática. Eu precisava "capturar" a Kushida.

— Ei, tem um minuto? — chamei, quando ela se preparava para voltar pro dormitório. Kushida se virou.

— Nossa, é raro você vir falar comigo, Ayanokoji-kun. Precisa de alguma coisa? — perguntou, sorrindo.

— Sim. Se não for incômodo, podemos conversar lá fora?

— Bem, eu ia me encontrar com umas amigas, então não tenho muito tempo… mas tudo bem.

Sorridente como sempre, ela me acompanhou sem demonstrar o menor sinal de má vontade. Depois que viramos o corredor, ela parou e esperou que eu falasse. Eu quase tremia de empolgação.

— Alegra-se, Kushida. Você acaba de ser escolhida como embaixadora da boa vontade. Amanhã começa a sua missão.

— Hã? Desculpa, mas... do que exatamente você está falando? — perguntou, confusa.

Expliquei tudo: queria formar um grupo de estudos para ajudar o Sudou e os outros a não serem reprovados. Claro, também mencionei que a tutora seria a Horikita.

— Achei que você poderia aproveitar o grupo de estudos para se aproximar da Horikita. O que acha? — perguntei.

— Bem, eu realmente quero me aproximar dela, mas... ah, não vou me preocupar com isso agora. Além disso, é natural querer ajudar um amigo em apuros, não é?

Essa garota era boa demais para ser verdade. Parecia realmente querer impedir que Ike e Sudou fossem expulsos.

— Tem certeza de que está bem com isso? Se não quiser participar, eu não vou forçar — falei.

— Ah, desculpa! Eu não hesitei porque não gostei da ideia. Hesitei porque fiquei feliz — disse ela, encostando-se na parede e chutando-a de leve.

— É cruel expulsar alguém só por causa de uma nota ruim. É horrível ter que se despedir de pessoas com quem você se esforçou tanto pra criar laços, não acha? Quando o Hirata-kun disse que ia montar um grupo de estudos, eu o admirei muito. Mas acho que a Horikita tem sido ainda mais atenta que eu. Ela percebeu o problema do Sudou e dos outros, afinal. Parece que ela finalmente está começando a ver os colegas como amigos. Eu vou fazer tudo o que puder pra ajudar!

Kushida segurou minha mão e sorriu.

Uau. Ela é muito fofa! Não existia homem no mundo que resistisse a um sorriso daqueles.

Eu não podia me deixar levar pela empolgação, então tentei manter uma expressão neutra e inofensiva.

— Ótimo! Sua ajuda vai ser de grande valor. Com você lá, nossas chances de sucesso aumentam cem vezes.

— Ah, mas tem uma coisinha que eu queria pedir — disse Kushida. — Eu também quero participar do grupo de estudos.

— Hã? Sério? — perguntei, surpreso.

— Sim. Quero estudar junto com todo mundo.

Era como se todos os meus desejos tivessem se realizado. A presença da Kushida deixaria o grupo de estudos muito mais animado — sem ela, o clima seria bem mais sombrio. Ainda assim, como suas notas eram boas, não havia realmente motivo para ela participar.

— Então, quando começamos? — perguntou.

— Está previsto para começar amanhã — respondi. Pelo menos, é o que a Horikita planejou, pensei comigo.

— Entendi. Então vou conversar com todo mundo até o fim do dia. Te mando mensagem mais tarde, tudo bem?

— Ah, quer que eu te passe o contato do Sudou e dos outros?

— Não precisa, eu já tenho. As únicas pessoas da classe que eu ainda não tenho o número são você e a Horikita-san, na verdade…

Bom, eu não sabia disso.

— Pode parecer uma pergunta atrevida, mas… vocês dois estão namorando? — perguntou Kushida, com um olhar curioso.

— Q-Quê? De onde tirou isso? Eu e a Horikita somos só amigos… quer dizer, vizinhos.

— É que esse é um dos grandes boatos entre as garotas da turma, sabia? Dizem que, mesmo a Horikita-san sendo sempre reservada, ela só parece se dar bem de verdade com você, Ayanokoji-kun. E vocês ainda almoçam juntos, afinal.

Hmm… então os rumores já estavam circulando, hein.

— Que pena — respondi. — Porque, infelizmente, não tem nada acontecendo entre mim e a Horikita.

— Nesse caso, não tem problema trocarmos números, certo?

— Nenhum problema.

E assim, consegui o número de mais uma garota.

*

 

Eu estava deitado, enrolando no quarto naquela noite, quando recebi uma mensagem da Kushida:

Yamauchi-kun e Ike-kun disseram que sim!(・w・)

Aquilo foi rápido. Ike tinha me dispensado mais cedo quando tentei convidá-lo, mas, aparentemente, a presença de uma garota mudou tudo. O desejo tem um poder ilimitado.

Logo em seguida, chegou outra mensagem:

Acabei de falar com o Sudou agora, e tenho um bom pressentimento!(^w^)

Uau. Do jeito que as coisas iam, provavelmente conseguiríamos reunir todo mundo já no dia seguinte. Diante de tanto progresso, achei melhor informar a Horikita. Escrevi uma mensagem explicando que tinha pedido ajuda à Kushida, que o Ike e o Yamauchi haviam concordado em participar e que a própria Kushida também entraria no grupo. Então, enviei.

— Certo… Acho que tá na hora de tomar um banho — murmurei.

Assim que me levantei da cama, o celular tocou. Era a Horikita.

— Alô? — atendi.

— Não entendi muito bem a mensagem que você me mandou — disse ela.

— Como assim "não entendeu"? Eu escrevi tudo de forma bem clara, não escrevi? Disse que aqueles três provavelmente vão vir amanhã.

— Não estou falando dessa parte. Estou falando da Kushida. Eu não sabia nada sobre isso.

— Ah, pedi ajuda a ela há pouco. Ter alguém como a Kushida do nosso lado aumenta muito as chances de reunir todo mundo. Então pedi, e graças a isso o Sudou, o Ike e o Yamauchi aceitaram participar. Tudo certo, não?

— Não me lembro de ter te dado permissão para isso. As notas dela nem estão ruins.

— Olha, ao pedir ajuda para Kushida — que é mais sociável e tem mais contatos —, nossas chances de sucesso aumentaram bastante.

— Não gosto disso. Você devia ter pedido minha aprovação antes.

— Eu entendo que você não gosta de pessoas extrovertidas como a Kushida. Mas isso não é só um meio para atingir o objetivo? Ou prefere tentar reunir todo mundo sozinha?

— Hm… — murmurou, hesitante.

Pelo tom, parecia que ela tinha entendido que contar com a Kushida era uma boa ideia. Mas, orgulhosa como era, não podia simplesmente admitir.

— Também não temos muito tempo até a prova, certo? — acrescentei.

De fato, o tempo estava correndo, e o plano da Horikita ainda estava em ponto morto. Ela ficou em silêncio por alguns segundos.

— Entendo. Acho que qualquer coisa que valha a pena exige sacrifício. Mas a Kushida pode ajudar apenas a reunir os alunos. Não permito que ela participe do grupo de estudos.

— Mas por quê? Essa foi a condição dela pra ajudar! Isso é ridículo — argumentei.

— Eu não vou permitir que ela entre no grupo. Não vou ceder nesse ponto.

— Isso é por causa do que aconteceu no café? Tá querendo se vingar da Kushida por ter te enganado?

— Isso não tem nada a ver com o café. Ela não está com notas baixas. Chamar gente extra só vai tomar mais tempo e causar confusão.

Embora o argumento dela parecesse lógico, eu duvidava muito que esse fosse o verdadeiro motivo.

— Você realmente não gosta da Kushida, é isso? — perguntei.

— Você não se sentiria desconfortável sentado ao lado de alguém que odeia?

— Hã? — soltei, sem entender muito bem o que ela queria dizer.

Afinal, a Kushida tinha se esforçado mais do que ninguém para ser amiga dela. Eu não conseguia entender por que a Horikita a detestava tanto.

— E se os caras desistirem de vir porque a Kushida foi excluída? — insisti.

— Desculpe, estou demorando mais do que esperava para revisar o material da prova. Vou encerrar a ligação. Boa noite.

— Ei, espera! — Mas ela desligou na minha cara, como esperado de uma misantropa.

Se quiséssemos chegar à Classe A, no entanto, precisávamos aprender a ceder. Pluguei o celular no carregador e me deitei, pensando em tudo o que havia acontecido desde a cerimônia de entrada.

"Produto defeituoso", hein… — murmurei.

Foi assim que aquele veterano do segundo ano nos chamou no primeiro dia. Em outras palavras, não éramos apenas "defeituosos": estávamos falhando em cumprir nosso propósito como estudantes. Era uma forma cruel de zombar de nós. Mesmo a Horikita, que parecia perfeita, devia ter seus próprios defeitos. Acho que agora eu conseguia entender por que ela estava tão irritada hoje.

— E agora, o que eu faço? — pensei em voz alta.

Se eu forçasse a Horikita, ela poderia simplesmente desistir. E, sem ela, o grupo de estudos não teria sentido algum. Com um peso no peito, decidi ligar pra Kushida.

— Alô? — atendeu.

Ouvi um barulho forte do outro lado da linha, como um vento passando perto do microfone, mas logo cessou.

— Você estava secando o cabelo ou algo assim? — perguntei.

— Ah, desculpa. Deu pra ouvir? Acabei de terminar, então tá tudo bem — respondeu.

Kushida tinha acabado de sair do banho… Não era hora de deixar minha mente viajar.

— Hã… é difícil dizer isso, mas… podemos fingir que eu nunca pedi sua ajuda pra reunir todo mundo?

Ela fez uma pausa antes de responder:

— Hm? Por quê? — perguntou, curiosa —, mais curiosa do que irritada.

— Desculpa. Não posso explicar agora. As coisas ficaram meio complicadas.

— Entendo. Imagino que a Horikita-san não tenha gostado da ideia de eu participar, certo?

Eu não havia mencionado nada disso, mas Kushida entendeu na hora.

— Não tem nada a ver com a Horikita. A culpa é minha — menti.

— Tudo bem. Não estou brava, não. A Horikita parece realmente não gostar de mim, então eu já esperava que ela recusasse.

Dava para chamar isso de intuição feminina.

— De qualquer forma, me desculpa. Fui eu quem pediu sua ajuda, afinal.

— Está tudo bem, Ayanokoji-kun. Não precisa se desculpar. Mas… eu não acho que a Horikita-san vá conseguir reunir o Sudou-kun e os outros sozinha.

Eu não podia negar.

— Ei, mas o que exatamente a Horikita-san disse? Ela se opôs a eu reunir o pessoal, ou não quer que eu participe do grupo de estudos?

A precisão dela era assustadora. Era como se tivesse estado ao meu lado durante toda a conversa com a Horikita.

— A segunda opção. Sinto muito por magoar seus sentimentos.

— Ah, tudo bem. De verdade, não precisa se desculpar, Ayanokoji-kun. A Horikita-san tem esse tipo de aura impenetrável, sabe? Como se não deixasse ninguém se aproximar. Eu já esperava por isso.

Ela era perceptiva demais.

— Mas todo mundo aceitou participar porque eu disse que também iria… Você podia simplesmente ter mentido pra mim, dizendo que eu não poderia participar. Tenho medo de que, se eles descobrirem agora que eu não vou, acabem ficando irritados com a Horikita-san…

Kushida me assustava um pouco — nada passava despercebido por ela.

— Pode deixar as coisas comigo desta vez? — perguntou.

— Deixar com você? — repeti, incerto.

— Eu vou levar todo mundo amanhã. E, claro, também vou junto.

— Mas isso — comecei a protestar.

— Vai ficar tudo bem. Ou será que você consegue resolver tudo isso sozinho, Ayanokoji-kun? Digo, reunir todo mundo sem a minha ajuda?

Infelizmente, isso era praticamente impossível.

— Entendido. Vou deixar por sua conta, então. Mas não faço ideia do que vai acontecer.

— Não se preocupe. Você não vai ser responsabilizado por nada, Ayanokoji-kun. Bem, nos vemos amanhã.

Pouco depois, a ligação com Kushida terminou. De alguma forma, eu estava ainda mais exausto do que depois de falar com a Horikita. Mesmo com a Kushida garantindo que tudo daria certo, eu não conseguia deixar de duvidar.

A Horikita se opunha implacavelmente a qualquer um de quem não gostasse — não importava quem fosse. Era dolorosamente óbvio que aquilo acabaria em desastre.

Com um peso no peito, fui para o banheiro.

Decidi parar de pensar no amanhã. Não importava o quanto eu me preocupasse, o amanhã viria de qualquer forma — e, no fim, ele também passaria. De um jeito ou de outro, as coisas acabariam se resolvendo.

*

 

Horikita esteve mal-humorada a manhã inteira. Teria sido ótimo se ela ficasse fofa quando estava brava — se inflasse as bochechas avermelhadas, seria tão adorável que qualquer homem desmaiaria na hora. Mas não. Ela permanecia impassível, silenciosa e completamente indiferente à minha existência. Ainda assim, se eu a ignorasse, era bem capaz de ela sacar a bússola. Depois de um dia especialmente longo, finalmente terminamos as aulas.

— Você conseguiu reunir todo mundo pro grupo de estudos? — foram as primeiras palavras dela para mim, já incluindo a expressão "grupo de estudos". Com certeza, aquilo tinha uma segunda intenção.

— A Kushida vai trazê-los. Fico me perguntando se ela também vai participar — respondi.

— Kushida-san, é? Eu pensei que tivesse deixado claro que ela não podia participar… — disse Horikita, satisfeita, antes de seguir em direção à biblioteca.

Segui atrás dela. Quando passei pela Kushida, ela me lançou uma piscadela tão fofa que quase parecia ensaiada. 

Horikita e eu conseguimos uma mesa longa no canto mais afastado da biblioteca e ficamos esperando pelos outros.

— Eu trouxe todo mundo! — anunciou Kushida, aparecendo diante de nós.

Atrás dela estavam…

— A Kushida-chan contou pra gente sobre o grupo de estudos. Eu não quero ser expulso logo depois de entrar aqui. Valeu mesmo! — disse Ike, animado.

Ike, Yamauchi e Sudou haviam vindo — mas trouxeram um visitante inesperado: um garoto chamado Okitani.

— Hã? Okitani, você também reprovou? — perguntei.

— A-Ah, n-não exatamente. Eu só fiquei bem perto de reprovar, então fiquei preocupado… Não tem problema eu participar, né? É meio difícil entrar no grupo do Hirata… — respondeu ele, com as bochechas levemente coradas e infladas.

O garoto era magro, com cabelo azul cortado em um estilo curto e arrumado. Qualquer um com tendência a se encantar por traços delicados provavelmente gritaria "me apaixonei!" na hora. Se Okitani não fosse homem, aquilo seria perigoso.

— Horikita-san, o Okitani-kun pode participar também? — perguntou Kushida.

Okitani tinha tirado trinta e nove na prova, afinal. Provavelmente queria garantir que não correria risco.

— Desde que você esteja mesmo preocupado em reprovar, eu não me importo. Mas precisa levar isso a sério — disse Horikita.

— Certo! — respondeu Okitani, contente, sentando-se.

Kushida logo tentou se sentar ao lado dele, e Horikita, claro, percebeu.

— Kushida-san, o Ayanokoji-kun não te avisou? Você—

— Também estou preocupada com as minhas notas — interrompeu Kushida.

— Você… não foi mal na prova.

— Sim, mas para ser sincera, foi sorte. Tinha muitas perguntas de múltipla escolha, sabe? Eu chutei metade delas. No fim, só passei por um triz.

Ela deu uma risadinha doce, coçando de leve a bochecha.

— Acho que estou mais ou menos no mesmo nível do Okitani-kun, se não um pouquinho pior. Então quero participar do grupo de estudos para evitar tirar uma nota ruim. Tudo bem, certo?

Eu não consegui esconder a surpresa diante do plano de Kushida. Ela primeiro garantiu que Okitani fosse aceito, e logo em seguida usou isso para forçar Horikita a deixá-la entrar também.

— Tudo bem… — resmungou Horikita, contrariada.

— Obrigada — Kushida sorriu, fez uma pequena reverência e sentou-se.

Trazer Okitani provavelmente já fazia parte do plano desde o começo. Ela o usou de forma impecável para justificar sua participação.

— Tirar menos de trinta e dois significa reprovar. Mas e se eu tirar exatamente trinta e dois pontos? Reprovo também? — perguntou Sudou.

— Não, com trinta e dois você passa. Dá pra você conseguir isso, né, Sudou? — disse Ike.

Mesmo Ike parecia preocupado com Sudou. Era natural que todos quisessem saber exatamente qual era o limite.

— Isso não importa. Meu objetivo é que todos tirem cinquenta pontos — declarou Horikita.

— Hã?! Não é pedir demais? — exclamou Sudou.

— Mirar só no mínimo é perigoso. O fato de vocês acharem difícil atingir esse valor já é preocupante.

Diante da lógica afiada de Horikita, os "reprovados" apenas assentiram com relutância.

— Eu reuni aqui quase tudo o que vai cair na prova. Temos só duas semanas, mas pretendo revisar cada ponto com vocês. Se não entenderem algo, perguntem — explicou ela.

— Ei, eu já não entendi a primeira questão — disse Sudou, irritado, encarando Horikita.

Peguei o papel e li também:

"A, B e C têm juntos 2.150 ienes. A tem 120 ienes a mais que B. Além disso, depois que C dá dois quintos do seu dinheiro a B, este passa a ter 220 ienes a mais que A. Quanto dinheiro A tinha originalmente?"

Uma questão de equações simultâneas, hein? Um problema que qualquer aluno de ensino médio deveria conseguir resolver.

— Tente pensar um pouco. Se você desistir logo no começo, não vai chegar a lugar nenhum — disse Horikita.

— Olha, eu não sei estudar — resmungou Sudou. — Todo mundo aqui entrou nessa escola, né?

Essa escola não aceitava alunos só com base em notas. Provavelmente, Sudou havia sido admitido por causa de suas habilidades físicas excepcionais — mas isso também significava que podia ser expulso por notas baixas.

— Argh, eu também não entendi nada — reclamou Ike, coçando a cabeça.

— E você, Okitani-kun, entendeu? — perguntou Horikita.

— Vamos ver… A mais B mais C é igual a 2.150 ienes. Então, A é igual a B mais 120. Depois… — Okitani começou a escrever uma série de equações.

Kushida, sentada ao lado, olhou por cima do ombro dele.

— É, é, isso mesmo. E depois? — disse ela animadamente.

Dava pra chamá-la de ousada, para dizer o mínimo. Ela havia alegado ter quase reprovado — e agora estava ensinando Okitani.

— Francamente, alunos do primeiro ou segundo ano do ensino fundamental conseguiriam resolver isso com facilidade. Se vocês tropeçarem aqui, será impossível seguir adiante — afirmou Horikita.

— Tá dizendo que a gente é tipo criança de primário, é isso?! — rosnou Sudou.

— Como a Horikita-san disse, vai ser ruim se a gente travar logo aqui. As questões de matemática da prova curta tinham esse nível de dificuldade, mas as últimas eram bem mais complicadas. Eu mesmo não consegui resolver — comentou Okitani.

— Escutem. Esse problema pode ser resolvido facilmente com um sistema de equações simultâneas — explicou Horikita, pegando a caneta sem hesitar e começando a escrever.

Infelizmente, parecia que apenas Kushida e Okitani estavam acompanhando.

— Mas o que são equações simultâneas? — perguntou Ike.

— Você está me perguntando isso mesmo? — respondeu Horikita, incrédula.

Uau — esses caras realmente nunca tinham estudado de verdade, pelo visto.

Sudou atirou seu lápis mecânico sobre a mesa.

— Chega. Já era. Isso não vai dar certo.

Ele desistira antes mesmo de começarmos. Horikita resmungou baixinho, claramente irritada com aquela demonstração lamentável.

— E-Ei, pessoal. Vamos tentar, pelo menos. Se vocês aprenderem a resolver esses exercícios, vão conseguir aplicar o que aprenderem nas questões da prova, ok? Tá bom? — Kushida insistiu.

— Bom, se a Kushida-chan diz, acho que tento. Mas se ela fosse quem estivesse ensinando, eu me esforçaria mais.

— E-Eu... — Kushida parecia prestes a pedir algo à Horikita, mas ela ficou em silêncio. A recusa em responder "sim" ou "não" era preocupante. Se ela permanecesse calada por muito tempo, os reprovados poderiam abandonar o grupo. Kushida tomou uma decisão e pegou o lápis mecânico.

— Como a Horikita-san disse, dá pra resolver esse problema usando um sistema de equações simultâneas. Vamos tentar escrever as equações.

Rapidamente ela anotou três equações. Parecia que os outros se esforçavam, mas ainda assim era desanimador. Aquilo mais lembrava detenção do que grupo de estudos — ninguém entendia os métodos dela.

— Então, a resposta que eu cheguei foi 710 ienes. E vocês? — Kushida, confiante de que o Sudou acompanhava, sorriu para ele.

— Tipo, você usou isso pra chegar nessa resposta? Como? — respondeu Sudou. — Uh... — Kushida percebeu na hora: nenhum deles entendera nada.

— Desculpe, vocês são excessivamente ignorantes e incompetentes — disse Horikita, que até então permanecera em silêncio. — Se vocês não conseguem resolver esse tipo de problema, eu realmente estremeço só de pensar no futuro de vocês.

— Cala a boca. Isso não é da sua conta.

Sudou bateu na mesa, irritado — com razão.

— Tem razão. Isso não me diz respeito. O sofrimento de vocês não vai me influenciar. Só sinto pena. Vocês devem ter passado a vida fugindo de qualquer desafio — disse Horikita.

— Fala o que quiser. Estudo não vai servir pra nada no futuro — retrucou Sudou.

"Estudo não vai servir no futuro"? Argumento interessante. Como você sustenta isso? — perguntou ela.

— Não ligo se não consigo resolver essa questão. Estudar é inútil. Virar jogador profissional de basquete vai me ajudar muito mais.

— Incorreto. Quando você aprende a resolver esse tipo de problema, sua vida inteira muda. Ou seja: estudar aumenta a probabilidade de você vencer os problemas que enfrenta. É o mesmo princípio do basquete. Duvido que até agora você tenha jogado com algum método sério. Quando se complica no basquete, você foge como foge do estudo? Duvido que leve os treinos a sério. Você é uma fonte de problemas, alguém que sempre causa confusão. Se eu fosse sua orientadora, não deixaria você entrar no time.

— Tch! — Sudou aproximou-se de Horikita e agarrou-a pela gola.

— Sudou-kun! — Kushida segurou o braço de Sudou mais rápido do que eu poderia. Apesar da intimidação, Horikita não recuou; apenas lançou a ele um olhar gelado.

— Você não me interessa nem um pouco, mas consigo perceber que tipo de pessoa você é só de olhar. Quer ser jogador profissional? Você realmente acredita que pode realizar um sonho tão infantil neste mundo? Um simplório como você, que desiste logo de cara, nunca chegaria a ser profissional. E mesmo que virasse, duvido que teria renda anual suficiente para viver. É tolice ter aspirações tão irracionais.

— Você! — Sudou estava à beira de perder o controle; se levantasse o punho, eu teria que contê-lo.

— Então você vai desistir de estudar e da escola por completo? Jogue fora o sonho de jogar basquete e passe seus dias em bicos lamentáveis.

— Hmph. Beleza. Eu vou embora, mas não porque é difícil. Tirei um dia do clube por causa disso e foi perda de tempo. Tchau! — Sudou bufou e foi-se embora.

— Que comentário estranho. Estudar é difícil — retrucou Horikita, lançando-lhe uma última cutucada. Sem Kushida por perto, Sudou provavelmente teria dado um tapa em Horikita. Ele enfiou os livros na mochila, sem disfarçar a irritação.

— Ei, tudo bem? — perguntei.

— Não ligo. É inútil se importar com alguém sem motivação nenhuma. Mesmo enfrentando expulsão, ele não tem vontade de lutar.

— Pensei que fosse estranho alguém como você, sem amigos, organizar esse grupo. Você devia só estar querendo humilhar a gente. Se você não fosse garota, eu te dava um tapa — Ike, claramente farto, largou também.

— Então você não tem coragem de me bater? Não use meu gênero como desculpa — retrucou Horikita.

O grupo recém-formado já estava se desfazendo.

— Eu tô fora também. Em parte porque não suporto estudar, mas principalmente porque estou irritado. Você pode até ser inteligente, Horikita-san, mas não tem o direito de agir como se fosse superior aos outros.

Ike jogou a toalha, derrotado.

— Não me importo se vocês forem expulsos. Façam o que quiserem — respondeu Horikita.

— Bem, então eu vou passar a noite inteira estudando.

— Interessante. Não veio pra cá justamente porque não consegue estudar?

— Tch… — até o normalmente tranquilo Ike ficou tenso com o comentário ácido de Horikita. Yamauchi começou a guardar o livro dele também. Finalmente, o facilmente influenciável Okitani se levantou do assento.

— E-E-Esse… tudo bem mesmo, pessoal? — gaguejou.

— Vamos, Okitani — incentivei.

Ike saiu da biblioteca, seguido pelo hesitante Okitani. Agora, só Kushida, Horikita e eu permanecíamos. Logo, até Kushida provavelmente alcançaria seu limite e iria embora.

— Horikita-san, se continuar assim, não vamos conseguir estudar com ninguém… — murmurou Kushida.

— Eu certamente estava enganada. Mesmo que eu tivesse ajudado eles a não reprovar desta vez, logo enfrentaríamos o mesmo dilema novamente. Teríamos que passar por essa irritação de novo. Eventualmente, eles vão reprovar. Agora entendo como isso foi improdutivo. Não tenho tempo para isso — disse Horikita.

— Espere, o que você quer dizer? — perguntei.

— Quero dizer que é melhor se livrar do peso morto.

Essa era a conclusão final de Horikita. Se os alunos reprovados fossem expulsos, a média da classe subiria, e não precisaríamos fazer esforço extra.

— Então, quer dizer… Uhm, Ayanokoji-kun. Você pode dizer algo? — murmurou Kushida.

— Se essa é a decisão da Horikita, então não está bem assim?

— Você também acha isso, Ayanokoji-kun?

— Bem, eu não quero simplesmente jogar eles aos lobos, mas eu não sou o tutor. Não há nada que eu possa fazer — respondi, sentindo-me parecido com Horikita.

— Entendi — Kushida pegou sua bolsa e se levantou, com o rosto escurecido. — Vou fazer alguma coisa. Bem, vou tentar. Definitivamente não quero que tudo desmorone tão rápido.

— Kushida-san. Você realmente se sente assim?

— Está errado? Eu não quero abandonar Sudou-kun, Ike-kun e Yamauchi-kun.

— Mesmo que você realmente queira, eu não me importaria particularmente. Mas não acho que você queira salvá-los de verdade — disse Horikita.

— O quê? Não entendo. Por que você fala assim, Horikita-san? Por que tenta antagonizar as pessoas? Isso é… muito triste.

Kushida abaixou a cabeça brevemente e depois olhou novamente para nós, encontrando nossos olhos.

— Bem então. Vejo vocês amanhã — sussurrou.

Com isso, Kushida se foi. De repente, ficamos apenas nós dois de novo. Sentamos no silêncio absoluto da biblioteca.

— Bem, isso foi doloroso. O grupo de estudos já acabou — disse eu.

— Parece que sim — respondeu Horikita.

O silêncio cresceu quase opressor.

— Acho que você foi o único que me entendeu, Ayanokoji-kun. Pelo menos é um pouco melhor que aqueles idiotas inúteis. Se houver alguma matéria com a qual você esteja tendo dificuldade, posso te ensinar — disse ela.

— Passo, obrigado.

— Vai voltar para o dormitório? — perguntou.

— Vou procurar o Sudou e os outros e conversar com eles — respondi.

— Não há nada a ganhar associando-se a pessoas que provavelmente serão expulsas em breve.

— Só quero falar com meus amigos. Tem algum problema com isso?

— Que egoísmo incrível. Você os chama de amigos, mas simplesmente fica aí assistindo enquanto são expulsos. Do meu ponto de vista, você é cruel.

Bem, não dava para negar. Horikita não estava errada. No fim, estudar era apenas um teste da motivação individual.

— Não nego o que você disse. Também entendo por que você chamaria alguém como o Sudou de estúpido. Mas, Horikita, não deveria tentar entender a situação dele? Se ele só queria se tornar jogador de basquete profissional, então escolher esta escola faz pouco sentido. Não acha que entenderia melhor se considerasse os motivos dele para se matricular?

— Sem interesse — Horikita me dispensou e voltou ao seu livro. Sozinha.

*

 

Antes que eu percebesse, saí da biblioteca e fui atrás da Kushida. Queria agradecê‑la por ter se esforçado para reunir o grupo de estudos e também pedir desculpas. Além do mais, queria fazer tudo o que pudesse para me dar bem com uma garota tão fofa, né?

Peguei o celular e abri o contato da Kushida. Mesmo sendo a segunda vez que a ligava, fiquei nervoso. O telefone tocou duas vezes, depois três — mas ela não atendeu. Será que não notou a chamada? Ou estava recusando?

Kushida não estava pelo campus, então continuei procurando. Quando entrei na escola, avistei alguém que parecia com ela de costas. Já devia ser por volta das seis da tarde, então quem estivesse por ali normalmente estaria em atividade de clube. Mas era Kushida — talvez estivesse esperando alguma amiga terminar o treino.

Decidi seguir. Se ela estivesse ocupada, falaria com ela depois. Com isso em mente, subi as escadas. Peguei um par de chinelos no armário do corredor, mas não a encontrei. Será que a perdi? Achei que sim, até ouvir um leve estalo de passos.

Segui-a até o segundo andar. O som continuou até o terceiro. O próximo nível era o telhado, certo? Os alunos podiam usar o telhado no almoço, mas ele deveria estar trancado depois das aulas. Achei estranho, mas subi, tentando me esconder caso ela estivesse se encontrando com alguém. Parei a meio caminho.

Alguém estava lá em cima.

Apoiei‑me no corrimão e espiei por uma fresta da porta do telhado. Através da abertura vi a Kushida — sozinha. Será que estava esperando alguém? Um encontro num lugar tão isolado... estaria ela esperando o namorado? Se fosse isso, eu poderia acabar encurralado. Enquanto pensava em como me retirar, Kushida deixou a bolsa no chão devagar.

E então...

— Ahhh, que saco! — ouvi, num tom tão baixo que parecia outra pessoa. — Ela é insuportável! Sério, que irritação. Seria melhor se ela morresse...

Ela resmungava sozinha, como se repetisse palavras de algum feitiço ou maldição.

— Aff, detesto essas garotas metidas que se acham lindas. Por que ela é essa vaca? Uma garota podre dessas nunca poderia me dar aulas.

Kushida estava irritada com... a Horikita?

— Ah, ela é a pior! A pior, a pior, a pior! Horikita, você é tão irritante! Você é muito, muito irritante!

Senti que tinha visto outro lado daquela menina gentil e popular da turma. Aquela face mais sombria devia ser algo que ela não queria que ninguém visse. Uma voz na minha cabeça avisava que era perigoso ficar ali.

Mas uma pergunta estranha surgiu: por que ela havia aceitado ajudar se sentia tanto ódio da Horikita? Kushida já devia conhecer bem a personalidade da Horikita. Poderia ter recusado, deixado o grupo só com a Horikita ou simplesmente se afastado.

Por que se impor a esse grupo? Queria se aproximar da Horikita? Ou de outro participante?

Nada fazia sentido. Eu não conseguia explicar sua motivação.

Não. Talvez tivesse dado sinais desde o começo. Eu não tinha pensado nisso antes, mas, dado o estado em que ela estava agora, tive um pressentimento. Talvez Kushida e Horikita fossem...

De qualquer forma, precisava sair dali. Kushida provavelmente não queria que ninguém ouvisse seu desabafo. Ainda me escondendo, tentei sair rápido.

— Thump! — chutei a porta mais alto do que imaginava. Foi barulho demais. Kushida tencionou e prendeu a respiração. Eu tinha me tornado instantaneamente seu inimigo. Virando, ela me viu. Eu fora descoberto.

Depois de um silêncio breve, Kushida perguntou friamente:

— O que... você... está fazendo aqui?

— Me perdi um pouco. Desculpa. Foi mal, foi mal. Vou indo — respondi.

Kushida olhou bem para mim, claramente vendo minha mentira óbvia. Nunca vira um olhar tão intenso antes.

— Você ouviu? — perguntou ela.

— Você acreditaria se eu dissesse que não? — respondi.

— Entendi... — Kushida desceu as escadas com rapidez. Encostou o antebraço esquerdo na base da minha garganta e me pressionou contra a parede. O tom de voz, a atitude — tudo nela era completamente diferente da Kushida que eu conhecia. Aquela Kushida exibia uma expressão aterradora, quase comparável à da Horikita.

— Se você contar a alguém o que acabou de ouvir, eu não vou perdoar você.

Suas palavras eram gelo; não me pareceram uma ameaça vazia.

— E se eu contasse? — arrisquei.

— Nesse caso, eu diria a todos que você me estuprou — respondeu ela.

— Isso é uma acusação falsa, você sabe — retruquei.

— Tudo bem. Não seria falsa — afirmou.

Aquelas palavras pesaram; fiquei sem reação. Enquanto falava, Kushida agarrou meu pulso direito e abriu minha mão lentamente. Pressionou a palma da minha mão contra o seu seio macio.

— O que está fazendo? — perguntei, tentando puxar a mão. — Solte!

— Suas impressões digitais estão no meu casaco. Isso prova minha acusação. Falo sério. Entendeu?

— Entendo. Entendi tudo. Agora solte minha mão.

— Vou deixar este uniforme no meu quarto, sem lavar. Se você me trair, eu o entregarei à polícia.

Fiquei olhando fixamente para Kushida por um tempo, enquanto ela ainda mantinha minha mão pressionada contra seu corpo.

— É uma promessa — disse ela.

Kushida então se afastou. Mesmo sendo a primeira vez que eu tocava o seio de uma garota, percebi que não conseguia me lembrar da sensação.

— Ei, Kushida. Qual é a verdadeira você? — perguntei.

— Isso não é da sua conta.

— Entendo. Bom, estava pensando em algo. Se você odeia a Horikita, então não precisa se envolver com ela, certo?

Eu sabia que ela provavelmente não ia gostar dessa pergunta, mas a curiosidade era maior.

— É errado querer que todo mundo goste de você? Você faz ideia de como é difícil conseguir isso? Claro que não faz, né? — retrucou ela.

— Bem… eu não tenho tantos amigos assim, então acho que não.

Desde o primeiro dia de aula, Kushida vinha tentando trocar contatos, convidar e até conversar com a pessimista Horikita. Dava pra imaginar o quanto isso exigia esforço e paciência.

— Pelo menos na aparência, eu queria parecer que me dava bem com a Horikita.

— Mas o estresse só foi se acumulando, não é?

— É. Mas é isso que eu quero da vida. Assim, a minha existência tem um propósito.

Ela respondeu sem hesitar. Kushida tinha uma forma bem particular de pensar. Parecia que, pelas próprias regras dela, ela precisava se aproximar da Horikita.

— Deixe-me te dizer algo, já que tenho a chance. Eu detesto caras sombrios e comuns como você.

A fantasia que eu tinha da "doce Kushida" se desfez ali, mas curiosamente, eu não estava tão chocado. Quase todo mundo tem duas faces — uma pública e outra privada. Ainda assim, eu sentia que ela estava, ao mesmo tempo, dizendo a verdade e mentindo.

— Estou só especulando, mas… você e a Horikita já se conheciam antes deste ano? Talvez tenham estudado na mesma escola?

No instante em que falei, o corpo de Kushida estremeceu.

— O quê…? Eu não sei do que você está falando. A Horikita-san disse alguma coisa sobre mim? — rebateu, irritada.

— Não. Pelo que entendi, vocês se conheceram agora. Mas… tinha algo estranho nisso.

— Estranho? — ela perguntou.

Lembrei da primeira vez que Kushida tinha falado comigo.

— Você só aprendeu meu nome quando me apresentei, certo?

— E daí? — respondeu ela, seca.

— Então… como você soube o nome da Horikita? Naquela época, ela ainda não tinha se apresentado a ninguém. A única pessoa que sabia era o Sudou, e duvido que você já o conhecesse.

Em outras palavras, Kushida não teria tido oportunidade de descobrir o nome de Horikita.

— Você se aproximou de mim para espionar ela, não foi?

— Cala a boca. Só de ouvir você falar já fico irritada, Ayanokoji-kun. Só quero saber uma coisa. Você jura que nunca vai contar a ninguém o que descobriu aqui hoje?

— Eu juro. E mesmo que eu contasse, ninguém acreditaria em mim, não é?

Toda a turma confiava e adorava Kushida. A diferença entre nós era como o céu e a terra.

— Tudo bem. Eu acredito em você, Ayanokoji-kun — Kushida fechou os olhos e soltou um suspiro lento. — A Horikita-san é meio estranha, não acha?

— Sim, eu diria que é bem incomum.

— As pessoas não influenciam ela… ou melhor, ela se distancia de todo mundo. É o completo oposto de mim — disse ela.

Kushida e Horikita eram realmente polos opostos.

— Sabe, Ayanokoji-kun, você é o único com quem a Horikita-san se abre.

— Espera aí. Ela não se abre comigo. De jeito nenhum.

— Mesmo assim, parece confiar em você mais do que em qualquer outra pessoa. De todas as pessoas que já conheci, a Horikita é a mais cautelosa e, ao mesmo tempo, a mais confiante. Ela jamais confiaria em alguém inútil, mesmo que fosse absurdamente gentil.

— Então, você acha que ela tem um bom instinto para julgar as pessoas?

— Foi por isso que eu disse que acredito em você. Ayanokoji-kun, você é fundamentalmente indiferente às pessoas, não é?

Eu não me lembrava de ter feito nada que justificasse essa análise, mas Kushida parecia convicta.

— Não é uma avaliação fora de lugar. No ônibus, por exemplo, você nem se interessou em ceder o assento para aquela senhora idosa.

Ah, então era isso que ela queria dizer. Ela tinha percebido o que acontecia desde o primeiro dia. Entendeu que eu não tinha a menor intenção de ceder meu assento.

— Se você acredita que estou falando a verdade, então não vai espalhar boatos inúteis — disse eu.

— Se você realmente tivesse tanta confiança assim, não teria tocado nos meus seios.

— Bem… é que… eu fiquei completamente nervoso. Entrei em pânico por um segundo.

A expressão severa dela se transformou em impaciência.

— Então, Kushida, eu estaria certo em pensar que você é o tipo de garota que deixa os caras tocarem seus seios?

Ela chutou minha coxa com toda a força que conseguiu. Em pânico, agarrei o corrimão.

— Ei, cuidado! Eu poderia ter caído e me machucado seriamente!

— Eu te chutei porque você falou algo estúpido! — Kushida respondeu, com o rosto vermelho de raiva.

— Ei, espera um minuto.

Ela ainda parecia furiosa. Kushida subiu de volta às escadas com passos pesados, pegou sua bolsa e voltou com um sorriso enorme.

— Vamos voltar juntos — disse ela, animada.

— Ah… claro.

Sua atitude havia mudado drasticamente, como se fosse uma cena de Dr. Jekyll & Mr. Hyde. Mudança tão extrema que me perguntei se teria tido um pesadelo. Agora, ela estava novamente sua habitual Kushida alegre. Eu não sabia mais dizer qual era a verdadeira.

*

 

Fiquei imaginando o que seria da Classe D. Pra ser sincero, parte de mim achava que aquilo era problema dos outros. Deitado no meu quarto, comecei a ver um programa de variedades com completa apatia. Ao olhar o celular, vi que tinha uma mensagem no grupo da turma.

A mensagem dizia:

A Satou vai entrar no grupo.

Satou era uma garota especialmente animada da nossa classe.

Oi! O Ike-kun me convidou quando a gente tava conversando agora há pouco.

Sem ter muito o que acrescentar, não respondi e continuei lendo.

Ouvi o que aconteceu hoje. A Horikita é mesmo irritante, né?

Fiquei pistola com ela. O Sudou ficou super bravo. Quase perdeu a linha. Acho que ele até teria batido nela.

Se eu a ver amanhã, talvez eu dê um tapa. Ela me irritou demais hoje.

Ahaha, ia ser problemão se você batesse nela kkk. Ia ser demais!

Ei, ideia: a partir de amanhã a gente finge que ela não existe.

Hah, eu sempre ignorei ela (kkk)

Queria dar um troco. Zoar ela um pouco e fazê-la chorar, sabe? Tipo esconder os sapatos.

Haha, que criançada é essa? kkkk mas eu até queria ver ela se contorcendo.

Logo depois que Satou entrou no chat, Horikita virou assunto principal.

Ei, Ayanokoji-kun, vai entrar na zoeira com a Horikita? kkk

Nah, o Ayanokoji-kun é mó obcecado por ela, então acho que não rola.

Ei, de que lado você tá? Do nosso ou da Horikita?

Achei inevitável que todo mundo estivesse irritado com a Horikita. Se você tratasse os outros do jeito que ela faz, seria inevitável que te odiassem. Mas partir pra agressão já era exagero, e eu não entendia como alguém poderia achar normal ignorá‑la ou esconder suas coisas. Isso era bullying — e agir assim pouco os diferenciaria da própria Horikita.

Ei, tá lendo o chat, né? Ei! Ayanokoji-kun, de que lado você tá? — veio a pressão.

Eu não tô do lado de ninguém. Se vocês querem implicar com ela, não vou impedir — respondi.

Ah tá, neutro. Que resposta ardilosa kkk.

Pensa o que quiser, mas não vai ganhar nada com isso. Se a escola descobrir que vocês tão zoando ela, vão dar problema pra vocês. Fica a dica — escrevi.

Ah, tá defendendo a Horikita, né? Hahaha

Como não estávamos frente a frente, ficou mais fácil para eles serem idiotas. Se eu e o Ike estivéssemos conversando pessoalmente, duvido que ele se comportasse assim.

Ao focarem a raiva na Horikita, o pessoal criava uma falsa sensação de união. Era perda de tempo continuar trocando mensagens assim — decidi encerrar o assunto.

Se a Kushida souber disso, ela vai te odiar kkk — enviei a última mensagem.

Depois que mandei aquilo, fechei o celular. Veio resposta imediata, mas deixei pra lá. Esses caras provavelmente não fariam nada extremamente estúpido, e a Satou dificilmente agiria sem o aval dos outros.

Abri a janela e escutei os insetos zunindo nas árvores próximas. Será que os kubikirigisu cantavam aquele som agudo? A brisa noturna sacudia a janela.

Lembrei de quando encontrei a Horikita no dia da cerimônia de entrada. Acabamos na mesma turma e, sem perceber, fui parar no assento ao lado dela. Antes que eu percebesse, virei amigo do Sudou e do Ike. Além disso, caí na armadilha da escola e despenquei lá embaixo. A Horikita tentou consertar as coisas, mas a personalidade dela acabou estragando tudo, empurrando‑a ainda mais para o isolamento. Agora as pessoas se empolgavam com a ideia de praticar bullying contra ela.

Eu deveria estar no centro daquela situação, mas sentia que estava flutuando ao lado. Não — "flutuar" não é bem a palavra. Não era algo agradável; era como se eu estivesse numa névoa, sem sentir a urgência real da expulsão próxima. Era problema dos outros, não meu, então não parecia tão importante.

Só um tolo deixaria de usar suas habilidades naturais.

Essas palavras ficaram na minha cabeça.

Um tolo, hein? Será que eu sou isso, afinal?

Pensei, enquanto fechava a janela. A risada estridente da televisão cortou o silêncio do quarto.

*

 

Não consegui dormir, então levantei e saí. Comprei um suco na máquina do saguão e voltei em direção ao elevador.

— Hmm? — notei que o elevador estava parado no sétimo andar. Curioso, decidi checar a câmera de segurança que mostrava o que acontecia dentro da cabine. Vi a Horikita, ainda de uniforme escolar.

— Bom, não preciso exatamente me esconder, mas...

Ver ela ali poderia ser constrangedor, então me escondi atrás da máquina de bebidas. Horikita chegou ao primeiro andar.

Parecendo atenta ao que havia ao redor, ela saiu do prédio. Depois que sumiu na noite, decidi segui‑la. No entanto, instintivamente me escondi ao dobrar a esquina. Horikita parou no caminho. Senti que havia outra pessoa com ela.

— Suzune. Não achei que você fosse me seguir até aqui — disse ele.

Será que ela tinha saído de madrugada pra se encontrar com um cara?

— Hmph. Sou bem diferente daquela garota inútil que você conhecia, niisan. Vim aqui pra te alcançar.

— Me alcançar, é? — perguntou ele.

Niisan? No escuro eu não conseguia ver com quem ela falava. Seria o irmão mais velho dela?

— Ouvi dizer que você foi colocada na Classe D. Acho que nada mudou nos últimos três anos. Você sempre foi obcecada em me seguir e, por isso, não enxerga seus próprios defeitos. Ter vindo para esta escola foi um erro.

— Isso... você está enganado. Vou provar. Vou alcançar a Classe A logo, então—

— É inútil. Você nunca vai chegar à Classe A. Na verdade, sua turma vai desmoronar cedo ou tarde. As coisas nesta escola não são tão simples quanto você pensa.

— Eu vou, com certeza, vou—

— Já disse: é inútil. Você é mesmo uma irmã teimosa.

O irmão da Horikita se aproximou dela. Do meu esconderijo, pude vê‑lo com clareza.

Era o presidente do Conselho Estudantil, Horikita. Não demonstrava emoção alguma; olhava como se contemplasse um objeto sem interesse. Agarrou a irmã pelo pulso — ela não ofereceu resistência — e a encostou na parede.

— Por mais que eu tente te evitar, o fato é que você é minha irmã. Se as pessoas daqui soubessem a verdade, eu seria humilhado. Saia desta escola imediatamente.

— N‑Não posso... Eu vou definitivamente chegar à Classe A. Vou te provar!

— Que absurdo. Quer reviver a dor do passado?

— Niisan, eu...

— Você não tem nem as habilidades nem as qualidades necessárias para chegar à Classe A. Entenda isso.

Ele avançou, como se estivesse disposto a agir. A cena parecia perigosa. Decidido a enfrentar a fúria da Horikita, saltei do meu esconderijo e fui até o irmão dela.

Antes que percebesse minha presença, agarrei o braço direito dele, que prendia a irmã.

— O quê? Você... — ele olhou para o próprio braço e se virou para mim com um brilho cortante no olhar.

— A‑Ayanokoji‑kun?! — exclamou a Horikita.

— Você ia jogar sua irmã no chão, não ia? Sabe que o piso aqui é concreto, né? Podem ser irmãos, mas vocês deveriam saber distinguir o certo do errado.

— Bisbilhotar não é exatamente uma qualidade admirável — ele disse.

— Então tá. Me solta.

— Essa é a minha fala.

Ficamos nos encarando em silêncio total.

— Para com isso, Ayanokoji‑kun — disse Horikita, a voz tensa. Nunca tinha ouvido aquele tom nela.

Relutante, soltei o irmão dela. Instantes depois, ele tentou me acertar com uma bordoadela no rosto. Recuo instintivamente para evitar. Para um sujeito de constituição aparentemente leve, ele desferia golpes perigosos. Em seguida mirou um chute afiado num ponto desprotegido.

— Cuidado! — gritei.

Ele tinha força suficiente para me nocautear com um único golpe. Parecendo ligeiramente confuso, exalou fundo, estendeu o braço direito e abriu a mão.

Se eu agarrasse, provavelmente ele me derrubaria.

Em vez disso, dei um tapa na mão dele e a afastei.

— Bons reflexos. Não imaginei que conseguiria desviar de todos os meus golpes tão rápido. Além disso, parece que entendeu bem o que eu estava tentando fazer. Você pratica alguma coisa? — perguntou ele, depois que os ataques cessaram.

— Sim, pratiquei piano e caligrafia. Ah, e quando eu estava no ensino fundamental, venci uma competição nacional de música — respondi.

— Você também está na Classe D, não está? Que garoto curioso, Suzune — disse ele, soltando o pulso da irmã e virando-se para mim.

— Não. Ao contrário da Horikita, sou bem incompetente.

— Suzune, esse garoto é seu amigo? Estou sinceramente surpreso.

— Ele... não é meu amigo. Só um colega de classe — respondeu Horikita, erguendo o rosto para encarar o irmão, como se quisesse negar qualquer vínculo.

— Você continua confundindo independência com solidão. E você, Ayanokoji... Com você por perto, as coisas podem ficar interessantes.

Ele passou por mim e desapareceu na escuridão da noite. Então aquele era o ilustre presidente do Conselho Estudantil. A presença dele explicava parte do comportamento estranho de Horikita.

— Vou subir até a Classe A, nem que isso me mate — disse ela.

Com o irmão fora de cena, o silêncio da noite voltou a se espalhar. Horikita se sentou contra a parede, com a cabeça baixa. Talvez eu tivesse piorado as coisas ao me envolver. Eu já ia voltar para o dormitório quando ela me chamou.

— Você ouviu tudo? Ou foi coincidência?

— Ah... foi meio coincidência, acho. Eu te vi quando comprei um suco na máquina de bebidas. Fiquei curioso e acabei te seguindo. Mas não tive intenção de me meter nos seus assuntos.

Horikita ficou em silêncio novamente.

— Meu irmão é realmente forte. Não lhe falta ferocidade. Ele é quinto dan em karatê e quarto dan em aikidô.

Uau. Ele era mesmo forte. Se eu não tivesse recuado, aquilo teria acabado muito mal para mim.

— Você também pratica artes marciais, não é, Ayanokoji-kun? Deve ter algum título de dan.

— Eu te disse, não disse? Só piano e cerimônia de chá.

— Antes você tinha dito caligrafia.

— Eu... fiz caligrafia também, sim, junto com isso.

— Você tira notas baixas de propósito e diz que estudou piano e caligrafia. Eu realmente não entendo você.

— Minhas notas foram coincidência. Eu realmente fiz piano, cerimônia de chá e caligrafia — respondi. Se houvesse um piano ali, eu poderia ao menos tocar Für Elise.

— Você viu um lado estranho meu — murmurou Horikita.

— Pelo contrário. Sempre achei que você fosse uma garota normal. Bem... talvez nem tanto.

Horikita me lançou um olhar afiado.

— Vamos voltar. Se alguém nos vir aqui, pode tirar conclusões erradas.

Ela tinha razão. Rumores sobre um garoto e uma garota sozinhos à noite se espalhariam rápido. Ainda mais com nossa relação parecendo se intensificar. Horikita se levantou lentamente e começou a caminhar de volta para o dormitório.

— Ei. Você ficou mesmo bem com o que aconteceu no grupo de estudos? — perguntei.

Se eu não abordasse o assunto agora, provavelmente nunca teria outra chance.

— Por que está me perguntando isso? Fui eu quem propôs formar o grupo de estudos em primeiro lugar. Além disso, tive a impressão de que você achava tudo aquilo um incômodo. Estou errada?

— Só me deixou um gosto amargo. Acho que as coisas vão piorar entre vocês.

— Não me importo. Já estou acostumada. Além disso, o Hirata-kun assumiu a maioria dos alunos que estavam indo mal. Ele sabe estudar, se dá bem com as pessoas e, ao contrário de mim, será um bom tutor. No mínimo, todos devem passar. Ter tentado ensinar os alunos com notas ruins foi inútil. Esse mesmo cenário se repetiria a cada prova até a formatura. Seria perda de tempo tentar remediar o fracasso deles sempre.

— O Sudou e os outros não gostam muito do Hirata. Duvido que participem do grupo dele.

— Essa é uma decisão deles, que não tem nada a ver comigo. Além disso, se estão prestes a serem expulsos, não deveriam reclamar de besteiras. Se não se aproximarem do Hirata-kun, serão expulsos. Meu objetivo é fazer a Classe D alcançar a Classe A. Mas isso é por mim, não por ninguém mais. Eu não me importo com os outros. Sinceramente, se nos livrarmos dos fracassados na próxima prova, só restarão os melhores. É disso que eu preciso, certo? Nesse caso, alcançar uma posição mais alta será simples. Tudo vai se encaixar perfeitamente.

Ela não estava errada quanto a isso. Nossa conversa continuou; Horikita estava estranhamente falante naquela noite.

— Horikita, esse seu modo de pensar não é meio equivocado?

— Equivocado? O que seria equivocado? Não vai me vir com aquele papo sem sentido de que não há futuro para quem abandona os colegas, vai?

— Calma. Eu te entendo o suficiente pra saber que você, na verdade, não entende a mim.

— Então qual é o ponto? Não há nenhuma vantagem estratégica em ajudar os alunos que estão indo mal.

— Provavelmente há muito poucas vantagens, com certeza. Mas ajuda a prevenir um retrocesso.

— Desvantagem?

— Você realmente acha que a escola não considerou isso? Eles já descontaram pontos de alunos que chegaram atrasados ou que ficaram brincando durante as aulas. Suponha que esses alunos sejam expulsos porque ninguém os ajudou. Quantos pontos você acha que seriam descontados de nós então?

— Isso é — começou ela.

— Claro que não temos prova de que funcione exatamente assim. Mas não é possível? 100 pontos? 1.000 pontos? Podem até descontar 10.000 ou 100.000 pontos. Se isso acontecer, será muito difícil para você alcançar a Classe A.

— Já chegamos a zero pontos por causa das nossas infrações. Não podemos descer mais. Se estamos no zero, não acha melhor eliminar o peso morto? Isso seria como não levar nenhum dano.

— Não há garantia de que seria assim. Podem haver penalidades que ainda não percebemos. Você realmente acha que é seguro correr um risco tão grande? Bem, tenho certeza de que alguém tão inteligente quanto você já deve ter pensado nisso. Caso contrário, você nunca teria sugerido criar um grupo de estudos. Teria abandonado os alunos fracassados desde o início.

Comecei a parecer nervoso, ou talvez realmente estivesse nervoso. Talvez porque, de forma egoísta, eu já começava a considerá-la uma amiga. Eu não queria que Horikita se arrependesse da decisão dela.

— Mesmo que existam possíveis desvantagens desconhecidas, é melhor para o futuro da nossa classe abandonar os alunos que estão indo mal. Você não se arrependeria de não tê-los abandonado quando finalmente aumentarmos nossos pontos? Agora, é um risco que devemos assumir.

— Você realmente acha isso? — perguntei.

— Sim. Realmente. Estou completamente sem entender por que você está tão desesperado para salvá-los.

Quando Horikita estava prestes a entrar no elevador, agarrei seu pulso.

— O quê? Você tem algum argumento? — disse ela.

— O problema é maior que nós dois. No fim, a escola tem todas as respostas. Tudo o que podemos fazer é discutir. Eu posso interpretar a situação como quiser, e você também. Isso é tudo, certo?

— Você é bem falante. Nunca imaginei que fosse tão tagarela.

— O quê… Isso é só porque você estava sendo insistente.

Se ela estivesse agindo normalmente, não teria me permitido continuar falando. Normalmente, interrompê-la assim resultaria em um golpe rápido. Mas sua recusa em me bater indicava que Horikita sentia o mesmo que eu. Claro, provavelmente ela nem percebia isso.

— No dia em que nos conhecemos, você se lembra do que aconteceu no ônibus?

— Você quer dizer quando nos recusamos a ceder nossos assentos para uma senhora idosa?

— Sim. Naquela época, eu pensei sobre o significado de ceder meu lugar. Deveria ceder ou não? Qual era a resposta correta?

— Já te dei minha resposta. Achei que seria inútil, então não cedi meu assento. Não importava a recompensa que pudesse trazer, não havia mérito real. Foi perda de tempo e esforço.

— Mérito, hein? Suponho que você pense apenas em termos de ganho e perda.

— Isso é ruim? Pessoas são seres calculistas, na maior parte. Se você vende mercadorias, recebe dinheiro. Se faz um favor a alguém, essa dívida de gratidão será retribuída. Ao ceder o assento, você ganha a alegria de contribuir para a sociedade. Estou errada?

— Não, não acho que esteja errada. Penso o mesmo — respondi.

— Então—

— Se você mantiver essa crença, precisará ter uma perspectiva ampla da vida. Você está tão irritada e insatisfeita que não consegue enxergar o que está à sua frente.

— Quem você pensa que é? Você tem alguma habilidade para me criticar?

— Não sei quais habilidades tenho, mas vejo o que você não vê. É a única falha da aparentemente perfeita Horikita Suzune.

Horikita deu um leve bufar divertido, como se dissesse: "Se acha que eu tenho uma falha, diga."

— Sua falha é pensar nos outros como um peso, e por isso você se distancia e nunca deixa ninguém chegar perto. Não é possível que te colocaram na Classe D porque você se considera superior a todos?

— É quase como se você estivesse dizendo que eu sou igual ao Sudou-kun e seu grupo — murmurou ela.

— Está dizendo que não é igual?

— Sim. É óbvio se olharmos para nossas notas. Isso prova que eles são apenas um peso que nossa classe precisa carregar.

— Se estamos falando de estudo, então Sudou e os outros certamente estão dois ou três passos atrás de você, Horikita. Por mais que trabalhem duro, provavelmente não conseguiriam te superar. Porém, sabemos que esta escola não foca apenas em inteligência. Suponha que a próxima prova seja relacionada a esportes. Os resultados seriam diferentes, não acha?

— Isso é—

— Você tem boa capacidade física. Pelo seu desempenho na natação, dá pra ver que é uma das garotas mais habilidosas da classe. Superior. No entanto, nós dois sabemos que as habilidades físicas do Sudou superam as suas em muito. O Ike tem melhores habilidades de comunicação do que você. Se o teste fosse em forma de discussão, Ike certamente seria útil. Na verdade, você provavelmente abaixaria a média da classe. Então, isso a torna incompetente? Não. Cada pessoa tem seus próprios pontos fortes e fracos. Isso é o que significa ser humano.

Horikita tentou reverter minhas palavras, mas parecia encurralada.

— Tudo isso é pura especulação. Nada mais do que teoria de sofá — disse ela.

— Pense no que a Chabashira-sensei disse. Quando ela nos chamou à sala de orientação, ela perguntou: "Quem exatamente decidiu que pessoas inteligentes são categoricamente superiores?" A partir disso, podemos concluir que a habilidade acadêmica não é o único fator que determina a classificação.

Horikita olhou em volta, como se procurasse uma rota de fuga para escapar do argumento. Eu a interrompi antes que ela conseguisse.

— Você disse que não se arrependeria de abandonar os alunos que falharam, mas se arrependeria, sim. Sentiria um grande peso na consciência se o Sudou e os outros fossem expulsos.

Horikita olhou diretamente nos meus olhos. Ela ainda não parecia compreender a gravidade da situação — pelo menos, foi a impressão que tive.

— Você também está bem falante hoje. É estranho ver alguém que evita confusão falar tanto assim.

— Provavelmente você tem razão.

— É frustrante, mas o que você disse está basicamente certo. Você me convenceu; tenho que admitir esse ponto. No entanto, ainda não entendo você. O que você quer? O que esta escola significa para você? Por que se esforçou tanto para me convencer?

— Entendo. Então é isso o que você pensa.

— Se alguém não tem poder de persuasão, nunca conseguirá fazer os outros acreditarem em suas teorias mirabolantes — ela claramente queria saber por que eu estava tão determinado a convencê-la de que a expulsão do Sudou e dos outros seria algo ruim. — Chega de rodeios. Quero saber o motivo de verdade. É pelos pontos? Para subir de classe, nem que seja um nível? Ou é para salvar seus amigos?

— Porque eu quero saber como é uma pessoa com verdadeiro mérito. Quero entender o que é igualdade.

— Mérito… igualdade…

— Eu vim para esta escola para encontrar respostas para essas perguntas.

As palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse refletir sobre elas.

— Pode me soltar? — perguntou Horikita.

— Ah, desculpe.

Soltei seu pulso. Ela se virou e olhou diretamente para mim.

— Não há como me enganar a ponto de eu acreditar em você, Ayanokoji-kun — disse ela.

Depois de dizer isso, Horikita estendeu o braço.

— Vou cuidar do Sudou-kun e dos outros, mas por conta própria. Vou garantir que eles não fiquem para trás, mas apenas como um meio estratégico de assegurar uma vantagem para o futuro. Certo?

— Não se preocupe. Eu nem esperava que você fizesse isso de outro jeito. Isso é bem a sua cara, Horikita.

— Então estamos combinados.

Apertei a mão dela. No entanto, logo perceberia que acabara de fazer um pacto com o diabo.



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