Classroom of The Elite Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 1

Capítulo 6: O Fim da Vida Cotidiana

— HAHAHAHA! Cara, você é muito burro. Você é hilário, mano! —  Ike conversava alto com Yamauchi durante a aula de matemática do segundo período. Já fazia três semanas desde a cerimônia de entrada. Nesse tempo, Ike e Yamauchi, junto com Sudou, haviam passado a ser conhecidos coletivamente como "O Trio dos Idiotas".

— Ei, ei, querem ir ao karaokê?

— Bora, vamos! — Um grupo de garotas próximas fazia planos para depois da aula.

— Fiquei bem preocupada no começo, mas parece que todo mundo se entrosou rápido — comentou Horikita, copiando o que estava escrito no quadro para o caderno. — Ayanokoji-kun, você não fez vários amigos também? — perguntou ela.

— Mais ou menos, acho.

Embora eu estivesse ansioso no início, acabei conhecendo Sudou por causa daquele encontro na loja de conveniência, e me aproximei de Ike e Yamauchi por causa do incidente na piscina. Às vezes, almoçávamos juntos. Mesmo estando longe de ter um "melhor amigo", percebi que, sem notar, havia feito alguns. Relações humanas são coisas estranhas — eu não saberia dizer o momento exato em que nos tornamos amigos.

— E aí? — No meio da aula, Sudou entrou batendo a porta e foi direto se jogar na cadeira, bocejando sem o menor sinal de preocupação com o atraso.

— Oh, e aí, Sudou! Bora almoçar depois? — gritou Ike do outro lado da sala.

O professor de matemática continuou a lição sem dar a menor atenção. Normalmente, teria jogado um pedaço de giz nele, mas, talvez por uma espécie de laissez-faire, todos os professores toleravam esse tipo de comportamento. Mesmo linguagem inadequada, atrasos ou cochilos durante a aula — ninguém parecia se importar. No começo, nossa turma era bem mais reservada, mas agora todos estavam relaxados demais. Claro, havia exceções, como Horikita, que estudava com diligência.

Meu celular vibrou no bolso, indicando que eu havia recebido uma mensagem. Era do grupo dos garotos no chat. Parecia que tinham decidido almoçar no refeitório.

— Ei, Horikita. Quer almoçar comigo? — perguntei.

— Vou recusar. Seu grupo é um tanto... pouco refinado.

— Não posso negar isso.

Quando os caras estavam sozinhos, o assunto era sempre o mesmo: garotas e piadas sujas. Quem era bonita, quem estava saindo com quem, até onde tinham ido, e por aí vai. Adicionar uma garota ao grupo certamente seria uma péssima ideia.

— Uau, sério? Ele tem namorada? Que foda.

Pelo que ouvi da conversa do Ike, parecia que Hirata estava namorando Karuizawa. Olhando de longe, vi que Karuizawa o observava com um olhar carinhoso.

Quanto à minha impressão dela… bem, ela era realmente bonita. Mas havia algo na sua presença que dificultava a aproximação de pessoas inseguras. Em outras palavras, parecia aquele tipo de garota extremamente "menininha". Provavelmente, no ensino fundamental, ela já se atirava em garotos bonitos como Hirata. Eram suposições meio maldosas da minha parte, mas, sinceramente, acho que não estava muito errado.

Ops. Eu realmente tinha pensamentos mesquinhos sobre ela — embora não a ponto de ser considerado difamação. Pedi desculpas mentalmente à Karuizawa.

— Odeio essa cara que você faz.

Horikita lançou um olhar gélido na minha direção. Devia ter lido meus pensamentos indecentes.

Quão rápido alguém precisava agir para já estar namorando logo depois de começar as aulas? Eu ainda estava penando só para fazer amigos. Se eu chegasse pra Horikita e dissesse: "Quer sair comigo?", ela com certeza me daria um tapa.

De qualquer forma, se eu fosse ter uma namorada, preferiria alguém mais gentil... e feminina.

*

 

Na terceira aula, tivemos história com a professora Chabashira. Quando o sinal tocou, Chabashira-sensei entrou na sala barulhenta. Sua entrada não mudou o comportamento dos alunos.

— Silenciem um pouco, por favor. A aula de hoje será um pouco mais séria.

— O que quer dizer com isso, Sae-chan-sensei? — alguém perguntou.

Eles já até tinham um apelido carinhoso para a professora.

— É o fim do mês, então faremos um pequeno teste. Passem essas folhas para trás, por favor.

Ela entregou as provas aos alunos da primeira fileira. Eventualmente, a folha única chegou à minha carteira. Continha perguntas sobre as cinco matérias principais. Com apenas algumas questões por disciplina, realmente era um teste curto.

— Hã? Mas eu nem estava ouvindo! Isso é tão injusto! — reclamou um aluno.

— Não diga isso. Este teste é apenas para referência futura. Ele não será refletido nos boletins. Não há risco envolvido, então não se preocupem. Claro, colar é proibido.

Sua escolha de palavras me pareceu estranha. Normalmente, apenas as notas gerais eram refletidas no boletim. Mas o modo como Chabashira-sensei disse que não seriam refletidas fez parecer que a pontuação poderia influenciar de alguma outra forma. Bem… talvez eu estivesse pensando demais. Se isso não afetava o boletim, então não havia motivo para tanta cautela.

Assim que o teste relâmpago começou, examinei as perguntas. Havia quatro por matéria, totalizando vinte. Cada uma valia cinco pontos, somando cem ao todo. A maioria das questões era incrivelmente fácil — a ponto de ser até decepcionante. Na verdade, pareciam dois níveis mais simples do que as do exame de admissão. Parecia fácil demais.

No entanto, quando cheguei ao final da prova, percebi que as três últimas perguntas eram de uma dificuldade muito maior. O último problema de matemática não podia ser resolvido sem fórmulas complexas.

— Não é possível. Essas perguntas são absurdamente difíceis…

Essas questões certamente não eram voltadas para alunos do primeiro ano do ensino médio. As três últimas eram claramente de uma qualidade diferente das demais — talvez tivessem sido incluídas por engano. Mesmo que o resultado não fosse refletido nas notas, o que diabos eles estavam tentando avaliar com isso?

Bem, acho que vou resolver essas questões da mesma forma que fiz no exame de admissão.

Chabashira-sensei nos observava atentamente. Enquanto patrulhava lentamente a sala, mantinha os olhos vigilantes para nos dissuadir de colar. Lancei um rápido olhar para Horikita, que jamais cogitaria trapacear. Sua caneta dançava sobre o papel, preenchendo todas as respostas. Parecia que ela conseguiria uma pontuação perfeita com facilidade.

Continuei olhando fixamente para minha prova até o sinal tocar.

*

 

— Se você me contar tudo direitinho, eu te perdoo, tá bem?

— Contar o quê, exatamente?

Depois do almoço, eu estava conversando com Sudou e os outros caras perto da máquina de venda automática no corredor. De repente, Ike se aproximou de mim.

— Nós somos amigos, né? Camaradas que ficam juntos no que der e vier?

— Hã… é, acho que sim.

— Então, naturalmente… você nos contaria se tivesse arrumado uma namorada, certo? — perguntou ele.

— Hã? Uma namorada? Bem, claro. Se isso acontecer, eu conto.

Ike passou o braço sobre meus ombros.

— Ah, qual é! Você tá saindo com a Horikita, não é? Não vou te perdoar se sair na frente da gente!

— Hã? — notei Yamauchi e Sudou me olhando com desconfiança. — Seu idiota, nós não estamos namorando. Não estamos. Sério.

— Tá bom, mas o que vocês estavam cochichando durante a aula hoje, hein? Aposto que não era assunto pra dividir com a gente. Estavam falando de encontros? Planejando um? Hein?! Ah, eu podia te matar de tanta inveja!

— Não era nada disso. Além do mais, a Horikita não é do tipo que namora.

— Não sei, não. A gente nunca tinha falado com ela antes. Se a Kushida não tivesse mencionado, a gente provavelmente nem saberia o nome dela. Ela some no fundo da sala, como uma sombra.

Seria verdade? Eu não me lembrava de ter visto a Horikita conversar com alguém além de Kushida — ou comigo.

— Vocês nem sabiam o nome dela? Que horror.

— E você sabe o nome de todos os seus colegas, Ayanokoji? — perguntou Ike.

Eu conseguia lembrar de mais ou menos metade. Peguei o ponto.

— Mas ela tem um rostinho bem fofo, né? Foi por isso que a gente reparou nela.

Yamauchi e os outros assentiram.

— Só que ela tem uma personalidade tão rígida. Não gosto de garotas assim — comentou Sudou, tomando um gole de café.

— É, eu sei. Ela é toda metida, sabe? Prefiro uma garota alegre, com quem dê pra conversar de boa. E claro, ela tem que ser fofa. Tipo a Kushida-chan — disse Ike, naturalmente.

É claro. Kushida ainda era a favorita do Ike.

— Ahhh… namorar a Kushida-chan… ou melhor, fazer umas coisas safadas com ela! — gritou Yamauchi.

— Seu idiota! Você acha mesmo que pode namorar a Kushida-chan? E tá proibido de fantasiar com ela também! — berrou Ike.

— Ah, qual é! E você acha que pode, Ike? Além disso, eu já sonhei em dormir abraçado com a Kushida-chan!

— O quê?! Pois eu sonhei com ela fazendo poses supersexys de cosplay!

Os dois começaram uma discussão absurda sobre as fantasias deles com a Kushida. Sinceramente, rapazes. Estudantes do ensino médio são livres para sonhar, mas isso já era pura falta de respeito com ela.

— E você, Sudou? Já viu alguma garota bonita no basquete? — perguntou Ike.

— Hã? Ah, nenhuma. Ainda não, pelo menos. A equipe nem tem espaço para garotas agora.

— Sério? Mas se arrumar uma namorada, nada de esconder da gente! Tem que contar! Tem mesmo!

— Tá bom, tá bom — respondeu Sudou, parecendo entediado com o rumo da conversa, mas ainda assim assentindo.

O assunto de namoradas me fez lembrar do Hirata.

— Ah, é… o Hirata não tá saindo com a Karuizawa agora? — perguntei.

— Tá sim. O Hondou viu eles de mãos dadas outro dia!

— É, tão juntos, sem dúvida. Tavam andando coladinhos, ombro a ombro.

— Sério? Será que já fizeram coisas safadas?

— Com certeza já! Ah, que inveja! Que inveja!

Parecia meio difícil de acreditar que um aluno do primeiro ano já tivesse feito sexo. Mas, pelo visto, era verdade. Sem perceber, comecei a pensar como aqueles caras.

— Ouçam aqui — disse Yamauchi, esparramado no chão do corredor. — Eu sou o que mais entende de sexo e essas coisas.

— Acho que seria melhor perguntar pro Hirata — respondeu Ike.

— Você acha mesmo que o Hirata ia contar detalhes? Tipo, se a Karuizawa é virgem ou como são os seios dela? Acha mesmo que ele diria algo assim? Fala sério — retruquei.

Que tipo de "experiência" eles achavam que iam perguntar? Fui até a máquina de venda automática para comprar algo para beber.

— Me traz um achocolatado! — gritou Yamauchi.

— Se quiser, compra você.

— Não dá. Já gastei quase todos os meus pontos. Tenho uns 2.000 sobrando só.

— Como é que você conseguiu gastar mais de 90.000 pontos em três semanas? — perguntei.

— Comprei umas coisas que eu queria. Olha só que maneiro! — disse Yamauchi, tirando um videogame portátil do bolso. — Comprei isso junto com o Ike. É um PS Viva! Um PS VIVA! Incrível a escola vender esse tipo de coisa.

— Quanto custou?

— Uns 20.000. Com os acessórios, deu uns 25.000.

Cara, não gasta todos os seus pontos de uma vez…

— Eu nem costumo jogar muito, mas agora que moro no dormitório, achei que dava pra jogar com os amigos. Ah, sabe aquele Miyamoto da nossa turma? Ele é ótimo em videogames.

Miyamoto era um garoto meio gordinho. Eu nunca tinha falado com ele diretamente, mas parecia ser o tipo que só conversa sobre jogos e anime.

— Você devia comprar um também e jogar com a gente. O Sudou disse que vai comprar um com a mesada do mês que vem.

Já estavam tentando me recrutar. Yamauchi me entregou o console para testar. Era mais leve do que eu esperava. Na tela, um guerreiro de espada gigante fazia carinho em um porco. Que tipo de mundo era aquele?

— Sinceramente, não tô muito interessado. Que jogo é esse, afinal? Algum tipo de luta?

— Você nunca ouviu falar de Hunter Watch? Já vendeu mais de 4,8 milhões de cópias no mundo todo! Desde criança eu tenho talento pra jogos. Profissionais do exterior vivem tentando me recrutar, mas eu sempre recuso.

Podem chamar de fenômeno mundial, mas isso não quer dizer que o jogo seja realmente bom. Havia cerca de sete bilhões de pessoas no mundo; quem comprou o jogo era menos de 0,1% disso.

— Mas sério, como é que uma garota tão delicada consegue usar uma armadura pesada dessas? É feita de plástico, é? Se fosse de ferro, nem o Sudou aguentava.

— Ayanokoji, você quer realismo em jogo? Tá de brincadeira? Gente que fala isso adora jogo em que a vida regenera sozinha! É um desses, é? Prefere esses jogos ocidentais de tiro, em que o cara leva um monte de bala, se esconde e a vida volta? Porque, pra mim, isso é que é irreal!

Eu simplesmente não entendia o Yamauchi.

— Bem, dizem que "ver pra crer", né? Então joga. Quando começar, a gente te ajuda a coletar materiais. Juntar mel dá trabalho, sabia? Ah, e pode me pagar o achocolatado também.

— Pelo amor de Deus… — resmunguei.

Não precisava de mel pra nada, mas comprei o achocolatado só pra evitar mais confusão.

— Ah, a amizade é uma bênção! Valeu! — disse Yamauchi, todo animado.

Esse tipo de amizade eu realmente não queria. Joguei o achocolatado pra ele, que o aparou contra a barriga. Então, o que eu ia beber?

Enquanto hesitava, notei um botão na máquina.

— Ah, então eles têm isso também.

Havia um botão de água mineral, gratuita.

— O que foi? — perguntou Ike.

— Ah, nada não. Só estava pensando se a cafeteria oferece alguma coisa de graça.

— Ah, você quer dizer aquele prato de vegetais? Ugh, nem pensar em passar o colégio comendo só verduras e bebendo água.

Yamauchi deu uma gargalhada enquanto tomava seu achocolatado. Se você usasse todos os seus pontos, não teria escolha a não ser se contentar com as opções gratuitas — como vegetais e água. No entanto, era fácil evitar essa situação. Bastava não gastar tudo de uma vez, como o Yamauchi fazia.

— Na verdade, tem bastante gente que come esses vegetais — comentei.

Como eu ia bastante à cafeteria, lembrava de ver muitos alunos pegando as refeições gratuitas.

— Não é porque gostam. Provavelmente é porque o mês está acabando.

— É, pode ser isso mesmo.

Apesar de me sentir um pouco desconfortável com o assunto, apertei o botão do leite e peguei a garrafa quando ela caiu.

— Ah, por que o mês que vem não chega logo? Quero minha vida dos sonhos de volta! — lamentou Yamauchi, e os outros riram junto.

*

Ei, vamos sair com a Kushida-chan e mais uma galera depois da aula. Quer vir?

Recebi essa mensagem no meio da aula da tarde, enquanto rabiscava distraidamente algumas anotações. Ah… não eram esses os tempos dourados da juventude? Era a primeira vez que amigos me chamavam para sair depois da aula. Não tinha motivo para recusar o convite, mas resolvi perguntar quem mais iria. Afinal, não queria ficar cercado por um monte de gente que eu não conhecia — isso seria bem constrangedor.

Logo recebi uma resposta. Vi os nomes do Ike e do Yamauchi, além da Kushida. Contando comigo, dava cinco pessoas. Ninguém que eu não conhecesse. Tudo bem, então. Confirmei que iria, e outra mensagem chegou em seguida:

Kushida-chan é o meu alvo, então não se atreva a atrapalhar! — Ike-sama

Nada disso, Kushida-chan é minha. Sai do caminho! — Yamauchi

Hã?! Quer dizer que você também tá de olho na Kushida-chan?! Tá querendo brigar, é?

Seria bom se todos se dessem bem, mas os dois começaram a discutir por mensagem sobre quem "ficaria" com a Kushida. Eu até estava animado para sair com o grupo, mas comecei a achar que seria um incômodo.

Quando a aula terminou, saí junto com Ike e Yamauchi. Mesmo já estando na escola há algum tempo, o campus era tão grande que eu ainda não conhecia muito bem a área.

— A gente nem conseguiu sair junto com a Kushida, mesmo estando na mesma turma, hein? — comentei.

— Ela disse que precisava falar com uma amiga de outra classe. A Kushida-chan é bem popular, afinal.

— Será que ela tá falando com um garoto? — murmurou Ike.

— Relaxa, Ike. Já confirmei — respondeu Yamauchi. — Ela tá falando com uma garota.

— Tá, tá bom.

— Vocês estão mesmo interessados na Kushida? — perguntei.

— Claro! Ela é a garota dos meus sonhos.

Yamauchi concordou várias vezes com a cabeça.

— E você não tá a fim da Horikita? Ela é linda, tenho que admitir.

— Não, não tô. Sério.

— Sério mesmo? Não foi você quem trocou olhares com ela e encostou de leve nos dedos, tipo cena de romance tímido, mas meio irritante?

Enquanto Ike me pressionava, uma das garotas de quem estávamos falando veio correndo.

— Desculpem a demora, mas obrigada por esperarem! — disse Kushida, sorridente.

— Ah, sem problema, Kushida-chan! Espera aí… por que eles estão aqui?! — Ike, que pulava de empolgação, caiu sentado no chão de tanto espanto. Que sujeito cheio de energia.

— Ah, eu encontrei eles no caminho e resolvi chamar também. Não podia? — perguntou Kushida, inocentemente.

Ela tinha trazido Hirata e sua namorada (ou, pelo menos, era o que parecia), Karuizawa. Além deles, vinham mais duas garotas — Matsushita e Mori — que estavam sempre com a Karuizawa.

— Ei, não tem um jeito de fazer o Hirata sumir daqui? — sussurrou Ike, passando o braço pelo meu ombro.

— Acho que não tem motivo pra isso — respondi.

— Aquele bonitão vai ofuscar a gente completamente! E se a Kushida-chan acabar gostando dele, hein?! A gente não pode deixar aquele príncipe roubar a nossa anjinha!

— Bom… mas o Hirata não tá namorando a Karuizawa? Eu não me preocuparia.

— Só porque dizem que ele tem namorada não quer dizer que seja garantido! Eu não consigo relaxar! Além disso, qualquer um com um pingo de juízo preferiria uma anja linda como a Kushida-chan a uma garota vulgar e fácil como a Karuizawa!

Ike falava tão rápido e empolgado que chegou a cuspir no meu ouvido — algo que me deu nojo não só pelo cuspe, mas também pelas palavras repulsivas. Era verdade que Karuizawa tinha aquele estilo gyaru, com pele bronzeada e tudo mais, mas ainda assim era bem bonita.

— Ei, Ike, você sabe que não dá pra garantir que a Kushida-chan seja virgem, né? — disse Yamauchi, se intrometendo na conversa, com a voz baixa e hesitante.

— Q-Quê…? É-É, talvez… N-Não, a Kushida tem que ser virgem! — respondeu Ike, desesperado.

Os dois continuaram trocando comentários absurdos e fantasiosos — embora, para mim, parecesse mais misoginia do que qualquer outra coisa. Se eu pudesse, preferia ficar completamente fora disso.

— Hm, se estivermos atrapalhando, podemos ir separados — disse Hirata, com o tom educado de sempre. Ele provavelmente tinha ouvido nossa conversa "secreta".

— N-Não, claro que não estamos incomodados! Né, Yamauchi?

— S-Sim! Vamos todos juntos. Quanto mais gente, melhor, né? Não é, Ike?

Há poucos minutos, os dois estavam dizendo que precisavam "dar um jeito" de se livrar do Hirata. Mas, se fizessem algo do tipo, a Kushida provavelmente passaria a gostar menos deles — se é que havia qualquer chance de ela gostar, em primeiro lugar.

— Bom, era essa a ideia, né? — disse Karuizawa, olhando para nós com desconfiança. — Por que vocês três estão cochichando aí?

As palavras dela faziam sentido, mas fiquei surpreso por ter sido incluído no mesmo grupo de Ike e Yamauchi.

— Olha só, se a gente contar o Hirata e a Karuizawa, o número de meninos e meninas fica igual. Isso quer dizer que é tipo um encontro triplo. Ayanokoji, pode ser sua chance, hein? — brincou Yamauchi.

— Então, você fica com a Matsushita, Yamauchi? Porque eu vou falar com a Kushida-chan — disse Ike.

— Ei, nem vem com essa! É eu quem tá atrás da Kushida-chan! A gente vai se casar debaixo de uma cerejeira antiga, trocando votos como amigos de infância! É destino!

— Tá sonhando! Eu já pensei nisso faz tempo! Mentiroso!

— Hã?! É tudo verdade, tudinho!

Se fosse pra acreditar em tudo o que Yamauchi Haruki dizia, ele era um prodígio desde pequeno — um gamer lendário assediado por caçadores de talentos estrangeiros, campeão nacional de pingue-pongue e, no fundamental, arremessador estrela do time de beisebol, com um futuro promissor pela frente. Um verdadeiro homem de dons extraordinários… ao menos, segundo ele mesmo.

Embora não houvesse confirmação de que alguma coisa daquilo fosse verdade. Eu não sabia para onde estávamos indo, então fiquei discretamente no fim do grupo. Enquanto Ike e Yamauchi sonhavam acordados sobre Kushida, eles flanqueavam Hirata dos dois lados.

— Só vou te perguntar, Hirata. Você tá namorando a Karuizawa? — Ike perguntou direto, tentando descobrir se Hirata era seu "inimigo".

— Hã… onde você ouviu isso? — Hirata respondeu, parecendo surpreso, ou até um pouco em pânico.

— Ah, acho que você já percebeu, né? É, a gente tá namorando.

Karuizawa agarrou o braço de Hirata antes que ele pudesse falar qualquer coisa. Hirata apenas coçou a bochecha de leve, como sinal de resignação.

— Sério?! Que inveja! Namorando uma garota tão fofa como a Karuizawa! — disse Yamauchi, fingindo ciúmes. Mentir sem perceber que está mentindo parecia fácil, mas era surpreendentemente difícil.

— Kushida-chan, você tem namorado? — Ike conseguiu mudar a atenção para Kushida sem perder o ritmo. Bastante esperto, hein?

— Eu? Ah, não, infelizmente — respondeu ela.

Ike e Yamauchi claramente comemoraram, abrindo sorrisos enormes. A alegria deles era visível para todos. Embora fosse possível que Kushida estivesse escondendo um namorado, ela praticamente confirmou que estava disponível. Fiquei um pouco aliviado com isso também.

— Ah, não… tô chorando…

— Não chora, Yamauchi! Estamos quase no topo!

O destino deles não era mais o pico de uma montanha intransponível, mas sim o final de um caminho íngreme… Hirata, Karuizawa, Ike e Yamauchi cercavam Kushida enquanto caminhavam. Matsushita e Mori, o par relativamente sem graça, seguiam atrás do grupo principal, enquanto eu caminhava mais atrás, sozinho.

— Ei, Ike. Para onde a gente tá indo? — alguém perguntou.

— Não faz tanto tempo desde a cerimônia de entrada, lembra? Só queria dar uma olhada nas instalações do campus — respondeu Ike, aparentemente irritado.

Então, não havia um destino claro, o que significava que essa experiência um tanto constrangedora continuaria por um tempo… Minhas expectativas desagradáveis mudaram inesperadamente.

— Ei, Matsushita-san, Mori-san. O que vocês querem ver?

Enquanto Ike e Yamauchi conversavam animadamente, Kushida se afastou para falar com as outras duas garotas.

— Hã? Ah, bem… eu queria conhecer o cinema pelo menos uma vez.

— É, já que a aula acabou, eu também queria ir.

— Ah, sim! Eu também queria ir, mas ainda não consegui. Karuizawa-san, você já foi a algum lugar especial em um encontro?

Kushida começou a nos organizar em três grupos, como eu já esperava dela. Por mais que tentasse, nunca conseguiria fazer algo assim. E, como bônus, ela ocasionalmente se virava e sorria docemente para mim. Não esperava por isso.

Tentei não falar desnecessariamente, sentindo que isso só atrapalharia. Procurei olhar para Kushida de forma que mostrasse que eu não a ignorava. Se Kushida não conseguisse perceber o ambiente e apenas gostasse de ser o centro das atenções, a mensagem provavelmente não chegaria a ela.

No entanto, há pessoas que, ao verem um amigo se recusar a cantar no karaokê, dizem coisas como: "Por que você não consegue perceber a situação?", mesmo sabendo que ele disse que não queria cantar. Há, afinal, pessoas egocêntricas e simplistas que assumem que, se o karaokê é divertido para elas, todos vão adorar. Elas simplesmente não conseguem compreender que algumas pessoas não gostam de cantar.

Enquanto eu refletia sobre esse assunto venenoso, meu entorno mudou. Aparentemente, havíamos parado em uma loja de roupas no campus. Mais precisamente, uma boutique. Todos pareciam já ter ido à loja algumas vezes, então entramos sem hesitar. Geralmente, eu usava o uniforme nos dias de semana e, como passava meus dias de folga no dormitório, não tinha comprado roupas para sair.

Havia muitos estudantes lá dentro, embora poucos veteranos. A maioria parecia ser do primeiro ano. Talvez por ser novo, senti-me realmente inexperiente e ansioso naquele ambiente. Olhamos muitas peças nas araras e, depois, fomos a um café próximo. Hirata carregava as roupas compradas por Karuizawa, que custaram cerca de 30.000 pontos.

— Vocês já se acostumaram com a escola? — perguntou alguém.

— No começo, fiquei realmente confuso, mas agora me adaptei perfeitamente. É como viver em um sonho. Não quero me formar nunca!

— Haha! Tenho a impressão de que o Ike-kun tá aproveitando muito a vida aqui!

— Eu só queria ter mais pontos, sabe? Tipo 200.000 ou 300.000 por mês? Depois de comprar cosméticos, roupas e tal, já gastei quase tudo — disse Karuizawa.

— Não acham anormal um estudante do ensino médio ganhar 300.000 pontos de mesada? — perguntou Hirata.

— Bom, se colocar assim, sim. Até 100.000 é meio absurdo. Confesso que sinto um pouco de medo. Fico pensando como será a vida depois da escola se continuar gastando os dias de luxo assim.

— Quer dizer que vai perder o senso de administração do dinheiro? É, isso é realmente assustador.

Todos tinham opiniões diferentes sobre a mesada. Karuizawa e Ike queriam mais pontos, enquanto Hirata e Kushida estavam apavorados com o que aconteceria quando a vida de luxo acabasse.

— E você, Ayanokoji-kun? Acha que 100.000 pontos é muito ou insuficiente?

Até aquele momento, eu só pretendia ouvir, mas Kushida me perguntou minha opinião.

— Hm… bem, eu ainda não entendo completamente. Não tenho certeza — respondi.

— O que isso quer dizer?

— Acho que entendi o que você quer dizer, Ayanokoji-kun. Honestamente, isso é completamente diferente de qualquer escola normal. É difícil compreender sem conhecer todos os detalhes.

— Bom, não adianta se preocupar. Estou muito feliz por ter entrado nesta escola. Posso sair e comprar o que quiser. Na verdade, ontem mesmo comprei roupas novas — disse Ike, vivendo de forma positiva e direta.

— Tirando Kushida-chan e Hirata, Ike, você e Karuizawa também conseguiram entrar aqui. Vocês não são meio burros, não?

— Você também não parece muito inteligente, Yamauchi.

— Hã? Eu só pra constar, tirei 900 pontos no APEC.

— O que é o APEC?

— Você não sabe? É um teste super difícil de inglês.

— Hm, você não quis dizer TOEIC, em vez de APEC?

Kushida gentilmente trouxe Yamauchi de volta à realidade. Na verdade, APEC significava Asia-Pacific Economic Partnership.

— É-Eles estão relacionados, não é? — ele perguntou, ainda confuso. Estavam completamente distantes, na verdade.

— Bem, a missão desta escola é formar jovens que abrirão caminhos para o futuro, certo? Então, provavelmente eles não escolhem os alunos apenas pelas notas de testes. Honestamente, se esta escola selecionasse só por testes padronizados, eu nem teria feito o exame de entrada.

— É, é isso mesmo. Jovens que vão abrir caminhos para o futuro. É exatamente assim que eu me descreveria.

Ike cruzou os braços e assentiu. 

Apesar de ser a principal instituição do Japão, com taxas excelentes de ingresso em universidades e colocação no mercado de trabalho, essa escola não parecia determinar aprovação ou reprovação apenas pelas notas de teste. Se era assim, então como, diabos, eles selecionavam os alunos em potencial? De repente, senti uma curiosidade crescente.

 

 

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