Volume 1
Capítulo 3: Os Estudantes da Classe D
NO NOSSO SEGUNDO dia de aula — bem, tecnicamente era o primeiro dia de aula de verdade — passamos a maior parte do tempo revisando os objetivos do curso. Aparentemente, muitos alunos ficaram bastante surpresos, se não um pouco decepcionados, com o quão genuinamente calorosos e amigáveis os professores pareciam.
Sudou já tinha chamado atenção por passar quase toda a aula dormindo. Achei que a professora perceberia, mas não demonstrou qualquer sinal disso. Afinal, cabia a cada aluno decidir se queria ou não prestar atenção. Fiquei imaginando se era assim que os professores normalmente tratavam os alunos após o fim da educação obrigatória.
Aproveitei a atmosfera descontraída e, logo, chegou a hora do almoço. Os alunos se levantaram e saíram com seus novos conhecidos, desaparecendo do meu campo de visão. Não pude evitar sentir uma pontada de inveja ao observá-los. Infelizmente, eu ainda não tinha conseguido fazer amizade com ninguém da turma.
— Que patético.
Apenas uma pessoa percebeu como eu me sentia, e respondeu à minha dor com uma risadinha debochada.
— O que? O que é patético? — perguntei.
— "Queria que alguém me chamasse. Queria comer com alguém!" Seus pensamentos são como um livro aberto — disse Horikita.
— Mas você também está sozinha, não está? Nunca pensou a mesma coisa? Ou pretende passar três anos aqui sem fazer um único amigo?
— Exato. Prefiro ficar sozinha — respondeu ela rapidamente, sem hesitar. Parecia estar sendo sincera. — Por que não para de se preocupar comigo e começa a pensar em si mesmo?
— Bem, eu…
Eu certamente não estava declarando que queria ser sociável. Honestamente, do jeito que as coisas iam, talvez eu acabasse sem fazer nenhum amigo, o que seria problemático para o meu futuro. Provavelmente terminaria sozinho de novo, o que me faria chamar atenção. Poderia até virar alvo de bullying.
Menos de um minuto após o toque do fim da aula, cerca de metade dos alunos já havia saído. Os que ficaram ou queriam ir, mas não tinham coragem, como eu, ou estavam alheios ao ambiente, ou preferiam ficar sozinhos, como Horikita.
— Bem, eu estava pensando em ir para o refeitório. Alguém quer vir comigo? — anunciou Hirata ao se levantar. Ele era claramente um daqueles caras bons em tudo. Eu tinha que tirar o chapéu para ele. No fundo do meu coração, eu estava esperando que um salvador me oferecesse uma chance como aquela. Sim, Hirata, eu vou com você. Lentamente tentei levantar a mão e…
— Eu vou também!
— Eu também! Eu também!
Várias meninas se juntaram ao redor de Hirata uma após a outra, e eu abaixei a mão. Por que elas tinham que aceitar o convite dele? Essa podia ter sido minha chance de fazer amizade com o Hirata! Vocês não precisam pular em cima dele só porque ele é meio bonito!
— Que trágico.
A risadinha de Horikita se transformou em escárnio.
— Não ache que sabe o que estou pensando — falei.
— Mais alguém quer vir?
Hirata olhou ao redor da sala, talvez sentindo-se um pouco solitário por nenhum outro garoto ter se juntado a ele. Seu olhar percorreu a sala e encontrou o meu. Aqui! Olha pra cá, Hirata! Tem alguém aqui querendo um convite! Hirata não desviou o olhar, exatamente como eu esperava de alguém controlado e atencioso com os colegas! Ele entendeu meu apelo!
— Ei, Ayano—
Hirata começou a chamar meu nome, mas no mesmo instante—
— Vamos. Anda logo, Hirata-kun!
Uma garota estilosa agarrou o braço de Hirata. Ah… As meninas roubaram a atenção dele. Eles saíram juntos da sala, parecendo bem felizes. Fiquei sozinho, com o braço ainda estendido.
Um tanto envergonhado, tentei disfarçar fingindo coçar a cabeça.
— Bom então.
Horikita me lançou outro olhar de pena antes de sair da sala, deixando-me sozinho.
— Isso foi inútil.
Relutante, me levantei e decidi ir ao refeitório sozinho. Se eu sentisse que não conseguiria comer lá sozinho, pegaria alguma coisa na loja de conveniência.
— Você é o Ayanokoji-kun, certo?
Quando eu estava saindo, uma garota linda chamou meu nome de repente. Era Kushida, uma das minhas colegas de classe. Foi a primeira vez que realmente a observei de perto, e isso fez meu coração disparar no peito como um martelete. Ela tinha cabelos curtos, lisos, tingidos de castanho, que quase tocavam os ombros. Embora não fosse vulgar, a escola havia aprovado recentemente saias mais curtas. Tive uma forte impressão de que aquele era um dos uniformes mais recentes.
Ela segurava algo na mão. Não consegui distinguir se era uma bolsinha cheia de chaveiros ou o quê.
— Sou a Kushida, da sua turma. Você se lembra de mim? — perguntou.
— Ah, mais ou menos. Precisa de alguma coisa?
— Para falar a verdade, tem algo que eu queria te perguntar. É só uma coisinha. Ayanokoji-kun, você se dá bem com a Horikita-san?
— Eu não diria que a gente se dá bem. Somos só conhecidos, acho. Ela fez alguma coisa?
Parecia que o assunto dela era mais com a Horikita do que comigo, o que foi um pouco decepcionante.
— Ah, não. Bem… Você se lembra quando eu disse que queria me dar bem com todo mundo da turma? Por isso eu queria o contato de todos. Mas… a Horikita me recusou.
Ugh. A Horikita era tão desligada. Se uma garota tão positiva e extrovertida pede seu contato, teria sido legal você me dar o contato dela também. Eu provavelmente teria conhecido todo mundo da sala em pouquíssimo tempo.
— Vocês dois não estavam conversando fora da escola no dia da cerimônia de entrada?
Como todos nós tínhamos pegado o ônibus juntos, não era de se estranhar que ela tivesse visto meu encontro com a Horikita.
— Eu só queria saber que tipo de pessoa a Horikita-san é — continuou Kushida. — Ela é do tipo que fala bastante quando está com um amigo?
Ela parecia querer informações sobre a Horikita, mas eu não tinha como responder.
— Acho que ela não é muito boa em interagir com os outros. Por que você quer saber da Horikita, afinal?
— Bem, durante as apresentações, a Horikita-san saiu da sala, lembra? Parece que ela ainda não conversou com ninguém, então eu estou um pouco preocupada com ela.
Kushida tinha dito que queria se dar bem com todos quando se apresentou.
— Entendo o que você quer dizer, mas eu só conheci ela ontem. Não posso te ajudar muito.
— Hmm. Entendi. Achei que vocês dois fossem amigos de antes de entrar na escola. Desculpa por fazer uma pergunta tão estranha.
— Não, tudo bem. Mas, como você sabia meu nome?
— Como? Você se apresentou outro dia, não foi? Eu me lembrei.
Kushida tinha prestado atenção na minha apresentação totalmente sem graça. De alguma forma, isso me deixou realmente feliz.
— Bem, fico feliz em te ver outra vez, Ayanokoji-kun — disse ela.
Embora eu tenha ficado um pouco desconcertado com a mão estendida dela, limpei as palmas nas calças e apertei sua mão.
— É, também fico feliz em te ver.
Hoje provavelmente era meu dia de sorte. Mesmo que tivesse havido alguns momentos ruins, algumas coisas tinham dado certo. Como os seres humanos são criaturas convenientes, os pontos positivos logo se sobrepuseram às lembranças ruins.
*
Depois de dar uma olhada rápida na cafeteria, preferi ir até a loja de conveniência, comprar um pão e voltar para a sala. Cerca de dez pessoas tinham ficado ali. Alguns haviam juntado as carteiras para comerem em grupo, enquanto outros, mais solitários, comiam silenciosamente sozinhos. Todos tinham trazido um lanche da cafeteria ou da loja de conveniência.
Eu ia comer sozinho, mas então Horikita voltou e sentou ao meu lado. Sobre a mesa dela havia um sanduíche que parecia delicioso. Sua aura dizia claramente "não fale comigo", então voltei para o meu lugar sem dizer nada. Assim que estava prestes a morder meu pão doce, uma música começou a tocar pelos alto-falantes.
— Às cinco da tarde, horário padrão do Japão, realizaremos a feira de clubes estudantis no Ginásio nº 1. Alunos interessados em entrar para algum clube, por favor, reúnam-se no Ginásio nº 1. Repito, às…
Uma garota com uma voz doce continuou o anúncio. Atividades de clube, hein? Pensando bem, eu nunca tinha entrado em nenhum.
— Ei, Horikita — chamei.
— Não estou interessada em entrar em clube.
— Eu nem perguntei nada ainda.
— Então, o que foi?
— Você tem interesse em entrar em algum clube?
— Ayanokoji-kun, você tem demência ou é só idiota? Não acabei de dizer que não estou interessada?
— Mas isso não significa que você não vá entrar — retruquei.
— Agora você só está sendo teimoso. Não discuta só por discutir.
— Tá bom, então.
Ou seja, Horikita não tinha interesse em fazer amigos nem entrar para clubes. Ela parecia se irritar sempre que eu tentava conversar. Fiquei pensando se ela tinha vindo para essa escola apenas para garantir uma vaga numa universidade ou conseguir um emprego. Se fosse para a universidade, não seria surpreendente, mas ainda assim achei meio desperdiçado.
— Você não tem muitos amigos, tem? — ela perguntou.
— Desculpa. Mas, olha, pelo menos eu já consigo conversar com você sem problemas agora.
— Escuta, não me inclua na sua lista de amigos.
— O-Oh…
— Enfim, já que aparentemente você quer ir saber sobre os clubes, pretende entrar em algum? — perguntou.
— Ah, não sei… Ainda estou pensando. Provavelmente não.
— Você não pretende entrar em clube nenhum, mas quer ir à feira de clubes? Que estranho. Vai usar isso como desculpa para conversar com as pessoas e fazer amigos?
Como ela conseguia ser tão perspicaz? Não, provavelmente eu é que era fácil de entender.
— Já que falhei em fazer amigos no primeiro dia, achei que os clubes seriam minha última chance.
— Você não pode convidar outra pessoa além de mim? — ela perguntou.
— É justamente porque não tenho mais ninguém pra convidar que está sendo tão difícil!
— Verdade. Porém, não acho que você esteja falando sério, Ayanokoji-kun. Se realmente quisesse fazer um amigo, seria mais insistente.
— Não consigo. Me dediquei a seguir um caminho solitário.
Horikita pegou o sanduíche e voltou a comer em silêncio.
— Tenho dificuldade em compreender esse seu jeito contraditório de pensar.
Eu queria fazer amigos, mas não conseguia. Para Horikita, isso parecia incompreensível.
— Você já participou de algum clube, Horikita? — perguntei.
— Não, nunca entrei em nenhum.
— Então… você tem alguma experiência? Sabe, de fazer isso ou aquilo?
— O que exatamente você quer dizer com "isso ou aquilo"? Não consigo evitar a sensação de que essa foi uma pergunta maldosa.
— Maldosa? Por quê? O que eu disse de errado?
Num movimento rápido, Horikita me golpeou na lateral com um golpe de karatê. Tossi com a pancada, incrédulo de que uma garota pudesse bater tão forte.
— Q-Qual é o seu problema?! — gritei.
— Ayanokoji-kun. Já te avisei várias vezes, mas parece que você não escuta. Acho que talvez eu precise aplicar uma punição bem severa em você mais tarde.
— Calma! Violência não resolve nada!
— Ah, é mesmo? A violência existe desde a aurora dos tempos. Historicamente, ela se provou o meio mais eficaz da raça humana para resolver conflitos. A violência é o método mais confiável para fazer os outros ouvirem ou recusarem exigências com segurança. Sem contar que, em muitos países, a polícia que faz cumprir a lei usa armas de fogo e cassetetes, empregando a violência como ferramenta para efetuar prisões.
— Você tá realmente filosofando agora…
Ela fez um discurso grandioso para justificar que me bater não estava errado. Alegava que seu comportamento irracional, na verdade, era racional. Se eu tentasse argumentar, ela certamente me destruiria sem piedade.
— Acho que vou empregar a violência para reabilitar você, Ayanokoji-kun, e purgar esses pensamentos impuros. O que acha disso?
— Tá bom então, e se eu dissesse a mesma coisa para você, Horikita? Que tal?
Na melhor das hipóteses, homens que levantavam a mão contra mulheres eram chamados de "canalhas" e "covardes".
— Não me importaria particularmente, porque não acho que você teria chance. Além disso, se eu nunca disser nada errado, você nunca poderá me repreender.
A resposta dela foi totalmente inesperada. Ela realmente parecia acreditar que estava sempre certa. Apesar de sua aparência e fala refinadas, dignas de uma aluna exemplar, por dentro era uma fera cruel.
— Ok, entendi, entendi. Vou tomar mais cuidado a partir de agora.
Desisti de discutir com Horikita e olhei pela janela. Ah, o tempo hoje estava tão bom.
— Atividades de clube, hmm. Entendo… — murmurou Horikita, pensativa. — Bem, se for só por um tempinho depois da aula, eu vou com você — ela disse.
— Como assim "um tempinho"?
— Você não me perguntou antes? Você disse que queria ir à feira de clubes.
— Ah, é. Eu nem planejava ficar muito. Só queria ter a chance de ir. Tudo bem?
— Se for só por um tempo. Certo, iremos depois da aula.
Depois que a conversa terminou, voltamos a comer nossos lanches. Eu tinha dito que ela era desagradável mais cedo, mas talvez as coisas tivessem mudado. Talvez Horikita fosse, na verdade, uma boa pessoa.
— Ver você se debatendo sem conseguir fazer amigos parece um tanto interessante.
Não. Ela era desagradável.
*
— Há mais gente aqui do que eu imaginei.
Depois que as aulas terminaram, Horikita e eu fomos até o ginásio. Quase todos os alunos reunidos ali eram calouros. Havia cerca de cem pessoas esperando. Ficamos próximos ao fundo do salão, aguardando o início da feira. Enquanto isso, folheamos o panfleto que os alunos recebiam ao entrar. Ele continha informações detalhadas sobre as atividades dos clubes.
— Será que essa escola tem clubes famosos? Tipo karatê, por exemplo.
— Todos os clubes parecem funcionar em um nível alto. Parece que muitos atletas e membros daqui são conhecidos nacionalmente.
Mesmo que esta escola não parecesse ser referência em esportes como beisebol ou balé, os clubes realmente impressionavam.
— As instalações são muito mais completas do que as das escolas comuns. Olha, eles têm até câmaras de oxigênio. Os equipamentos são tão luxuosos que colocam os dos profissionais no chinelo. Ah, mas parece que não tem clube de karatê, afinal.
— Quê? Você estava interessada em karatê, ou algo assim? — perguntei.
— Não, não particularmente.
— Parece que vai ser difícil para novatos entrarem nos clubes esportivos — comentei. — Mesmo que um aluno do primeiro ano consiga entrar, pode acabar como reserva para sempre. Não deve ser muito divertido.
Tudo ali parecia organizado demais.
— Mas isso não dependeria do esforço da pessoa? Treinando por um ou dois anos, qualquer um poderia conseguir jogar.
Treinar, hein? Eu duvidava que teria motivação para isso, por mais desesperado que estivesse.
— Não imaginei que o conceito de treino existisse para alguém que sempre evita problemas, como você.
— O que não gostar de problemas tem a ver com isso? — perguntei.
— Você concordaria que alguém que evita problemas também evita esforço desnecessário? Foi você quem disse isso primeiro. Deveria manter sua palavra.
— Eu não tinha pensado tão a fundo nisso.
— Se continuar agindo de forma tão indiferente, nunca vai conseguir fazer amigos — ela disse.
— Você me fere, Horikita.
— Obrigada por aguardarem, alunos do primeiro ano. Agora daremos início à feira dos clubes. Um representante de cada clube irá explicar suas atividades. Meu nome é Tachibana, secretária do conselho estudantil e organizadora do evento. Prazer em conhecê-los.
Após as palavras de abertura de Tachibana, os representantes dos clubes subiram rapidamente ao palco. Era um grupo bem diverso. Havia desde atletas musculosos usando quimonos de judô até estudantes vestindo belos quimonos tradicionais.
— Ei, se quer recomeçar do zero, por que não tenta entrar num clube esportivo? O clube de judô parece legal, não acha? Aquele veterano parece gentil, aposto que iria te incentivar.
— Gentil?! Ele parece um gorila! Vai me matar com certeza! — rebati.
— Provavelmente vai falar com paixão sobre como o judô é fácil.
— Para com isso!
Puxa… Achei que estávamos tendo uma conversa decente, mas ela só estava me provocando.
— Mesmo que eu quisesse entrar, todos os clubes esportivos parecem intimidadores. Dá a impressão de que não aceitam iniciantes.
— Iniciantes devem ser bem-vindos. Quanto mais membros o clube tiver, mais verba recebe da escola. É assim que conseguem equipamentos melhores.
— Parece que usam os novatos só pelo dinheiro…
— O ideal seria reunir vários novos membros para aumentar o orçamento e depois deixá-los no banco o resto do tempo, como membros-fantasma. Se você for bom em manipular, claro.
— Que mundo desagradável… Você pensa de um jeito bem estranho — murmurei.
Uma garota vestida com uniforme de arco e flecha subiu ao palco.
— Olá, meu nome é Hashigaki, sou a capitã do clube de arco e flecha. Muitos podem achar que essa é uma atividade simples e antiquada, mas na verdade é um esporte divertido e recompensador. Recebemos iniciantes de braços abertos. Se tiverem interesse, por favor, considerem participar.
— Olha só, eles parecem acolher novatos. Por que você não tenta entrar? Para ajudar no orçamento deles, é claro — comentei.
— Odeio a ideia de entrar em um clube só por isso! Além do mais, clubes esportivos são apenas grupos de pessoas sem nada melhor para fazer. E eu provavelmente não me divertiria se não conhecesse ninguém. Acabaria desistindo num piscar de olhos.
— Isso não é só a sua personalidade distorcida falando?
— É, você está certa. Mas clubes esportivos estão fora de questão.
Pensei em entrar em algum clube tranquilo, calmo e silencioso.
Tch!
Enquanto os veteranos apresentavam seus respectivos clubes um após o outro, percebi Horikita repentinamente ficar tensa. Ela olhava para o palco, com o rosto pálido.
— O que foi?
Ela sequer parecia me ouvir. Segui a direção do olhar dela até o palco, mas não vi nada de especial. Apenas o representante do time de beisebol da escola, uniformizado, fazendo sua apresentação. Será que ela tinha se apaixonado à primeira vista? Não, eu duvidava. Seria surpresa? Repulsa? Ou talvez alegria? Para ser sincero, a expressão da Horikita era complexa e difícil de interpretar.
— Horikita, o que houve?
…………
Era como se ela não escutasse minha voz. Continuou encarando o palco fixamente. Decidi parar de falar e esperar por uma explicação. A apresentação do clube de beisebol não era mais empolgante do que as outras. No fim das contas, o discurso era bem padrão — horário de treinos, atrativos, e o quanto recebiam bem os novatos.
Não era só o clube de beisebol. Quase todas as apresentações eram igualmente comuns. O que me surpreendeu de verdade foi a quantidade de clubes voltados às artes e tradições, como cerimônia do chá e caligrafia. Também achei inesperado que fossem necessários apenas três membros para formar um novo clube.
Cada vez que uma apresentação acabava e outra começava, os calouros comentavam entre si. O ambiente do ginásio estava bem animado. Os representantes e professores responsáveis explicavam pacientemente, sem demonstrar irritação. Talvez estivessem desesperados por mais membros, mesmo que fosse apenas um.
Quando os veteranos terminavam suas falas, desciam do palco e iam para uma área onde haviam colocado mesas — provavelmente para inscrição de novos membros. Eventualmente, todos saíram… menos um.
Todos voltaram sua atenção para ele, e percebi que era nessa pessoa que Horikita estava fixada desde o começo.
Ele parecia ter cerca de 1,70 m, não muito alto. Era magro, com cabelos pretos bem penteados. Usava óculos elegantes e tinha um olhar penetrante, calculista. Parado diante do microfone, encarava calmamente os calouros. De qual clube ele seria? O que ele iria dizer? Meu interesse foi despertado.
Infelizmente, minhas expectativas foram frustradas imediatamente. Ele não disse uma única palavra. Teria esquecido o discurso? Ou estaria tão nervoso que não conseguia falar?
— Manda ver!
— Esqueceu os cartões do discurso?
— Hahahahaha!
Os calouros gritavam provocações. No entanto, o veterano permaneceu imóvel no palco, sereno, sem demonstrar nenhum tremor. As risadas aumentaram… até que, de repente, cessaram.
Ele tinha uma expressão apática.
— Que que há com esse cara? — murmurou um aluno, surpreso.
O ginásio borbulhava de cochichos, mas o garoto no palco continuava parado, imóvel, encarando a multidão. Horikita correspondia ao olhar dele com a mesma intensidade, sem desviar nem por um segundo.
A atmosfera animada começou a se transformar, de forma inesperada. Foi como se tivesse ocorrido uma reação química. Um silêncio absurdo, denso, tomou conta do lugar. Ninguém havia ordenado silêncio, mas era como se algo tivesse sufocado todas as vozes. Nenhum aluno parecia capaz de abrir a boca. Esse silêncio durou cerca de trinta segundos…
Então, o estudante começou a falar, percorrendo a plateia com os olhos.
— Sou o presidente do conselho estudantil. Meu nome é Horikita Manabu.
Horikita? Olhei para a Horikita ao meu lado. Talvez fosse apenas coincidência de sobrenome. Ou então…
— O conselho estudantil está procurando candidatos entre os alunos do primeiro ano para substituir os veteranos do terceiro ano que se formarão. Embora nenhuma qualificação especial seja exigida, pedimos humildemente que os candidatos não estejam envolvidos em outras atividades de clube. Geralmente, não aceitamos alunos comprometidos com outros grupos.
Ele falava em tom suave, mas a tensão era tão intensa que parecia cortante. Ele havia silenciado mais de cem calouros naquele ginásio enorme. E não foi apenas por ser presidente do conselho estudantil — aquilo era simplesmente o poder de Horikita Manabu. Sua presença dominava todos à sua volta.
— Além disso, nós, do conselho estudantil, não desejamos nomear ninguém que possua uma visão ingênua. Uma pessoa assim não só não seria eleita, como também mancharia a santidade desta escola. É direito e dever do conselho aplicar e modificar as regras, mas a escola espera algo mais. Recebemos com prazer aqueles que compreendem isso.
Ele não fez nenhuma pausa durante seu discurso eloquente. Assim que terminou, pulou do palco e saiu do ginásio. Nenhum dos calouros conseguiu proferir uma palavra enquanto o observávamos ir embora. Não sabíamos o que teria acontecido se tentássemos falar. Pelo visto, todos na sala compartilhavam o mesmo pensamento.
— Obrigado a todos pela presença. A feira de clubes terminou. Agora abriremos a área de recepção para quem tiver interesse em se inscrever. Além disso, a inscrição ficará aberta até o fim de abril, então, caso algum aluno queira se juntar mais tarde, pedimos que entregue o formulário diretamente ao clube desejado.
Graças à organizadora tranquila, a tensão no ambiente se dissipou. Em seguida, os veteranos que haviam apresentado seus clubes começaram a receber inscrições.
………
Horikita permaneceu imóvel como uma estátua, sem dar sinal de que se moveria.
— Ei, o que houve? — perguntei.
Horikita não respondeu. Era como se minhas palavras não chegassem aos seus ouvidos.
— Ei, Ayanokoji! Você veio, hein?
Enquanto eu estava perdido em pensamentos, alguém me chamou. Era Sudou. Nossos colegas Ike e Yamauchi também estavam com ele.
— Oh, oi, vocês três. Parece que estão se dando bem, né? — respondi, sentindo um pouco de inveja de Sudou.
— Então, você também entrou em algum clube?
— Ah, não, eu só vim dar uma olhada. Espera, "também"? Você entrou em algum clube, Sudou?
— Sim. Jogo basquete desde a escola primária. Pensei em entrar no time daqui.
Eu já imaginava que ele era atlético, pelo corpo. Basquete era claramente o esporte dele.
— E vocês dois?
— A gente só veio porque achou que poderia ser divertido, sabe? Além disso, pensamos que poderíamos ter um encontro do destino depois — disse Ike.
— Que quer dizer com "encontro do destino"?
Quis que Ike explicasse seu objetivo, que soava meio estranho. Ele cruzou os braços e respondeu orgulhoso:
— Quero ter minha primeira namorada na Classe D. Esse é meu objetivo. Por isso estou de olho em algum encontro.
Ao que parecia, para Ike, arrumar uma namorada era prioridade máxima.
— Além disso, tenho que dizer, aquele presidente do conselho estudantil era incrível. Ele era tão imponente. Deu a impressão de que mandava em tudo, sabe? — disse ele.
— Sei, né? Ele fez todo mundo ficar quieto sem dizer uma palavra. Esse tipo de coisa é impossível — respondi.
— É. Ah, e ontem criei um grupo no chat para a galera — Ike tirou o celular do bolso. — Quer entrar também? É bem prático.
— Hã? Eu? Tá certo mesmo? — perguntei.
— Claro que sim. Estamos todos na Classe D, afinal.

Foi uma proposta bastante inesperada. Fiquei feliz por ter sido convidado para o grupo no chat. Finalmente, eu tinha encontrado a chance perfeita de fazer amigos! No entanto, quando tirei o celular para trocar contatos, Horikita desapareceu na multidão. Preocupado com ela, parei o que estava fazendo.
— O que houve? — perguntou Ike.
— Ah, nada. Você está pronto? — respondi.
Voltei ao celular e troquei contatos com Ike e os outros rapazes. Horikita era livre para fazer o que quisesse, e eu não tinha o direito de impedi-la. Por um instante, pensei em segui-la, mas, no fim, decidi não fazê-lo.
ENTRE NO DISCORD DA SCAN PARA FICAR POR DENTRO DOS PROXIMOS LANÇAMENTOS DE COTE!
CAPÍTULO ATUALIZADO!
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios