Volume 1
Capitulo 2: Bem-vindo à Vida Escolar dos seus Sonhos
— AYANOKOJI-KUN, você tem um momento?
Ela veio. Ela estava aqui. Era assustador. Eu estava fingindo dormir durante a aula, refletindo sobre o verdadeiro propósito da sociedade enquanto fingia cochilar, quando o diabo se aproximou de mim. A Sinfonia nº 11 de Shostakovich tocava na minha mente, uma música que capturava a sensação de pessoas fugindo de demônios e o desespero que vem com o fim do mundo. Naquele instante, era o acompanhamento perfeito.
Mesmo com os olhos fechados, eu entendi. Eu podia sentir a presença do diabo, esperando que seu escravo despertasse. Então, como escravo, como exatamente eu poderia sair dessa situação?
Meu cérebro, como um computador, executou instantaneamente todos os cálculos para chegar à resposta de que eu mais precisava.
Conclusão: eu fingiria que não a ouvi. Batizei isso de "Estratégia do Sono". Se ela fosse uma garota gentil, diria algo como: "Ah, bem, não há o que fazer. Eu me sentiria mal em acordar você, então vou te perdoar★". "Se você não acordar, eu vou te beijar!" também seria aceitável.
— Se você não despertar em três segundos, aplicarei uma punição adicional.
— Como assim, "punição"? — perguntei.
Num instante, abandonei minha "Estratégia do Sono" e cedi diante de suas ameaças de força. Bem, pelo menos ofereci alguma resistência ao evitar encará-la.
— Viu? Você está acordado, afinal, não é? — disse ela.
— O suficiente para ter medo de te deixar irritada.
— Bom saber. Então, poderia me dar um pouco do seu tempo?
— E se eu recusar?
— Bem, embora você não tenha direito de veto sobre essa decisão, suponho que ficaria excepcionalmente desagradada.
Ela continuou:
— E quando estou desagradada, acabo me tornando um grande obstáculo para a sua vida escolar, Ayanokoji-kun. Por exemplo, eu poderia colocar uma grande quantidade de tachinhas na sua cadeira. Ou, quando você fosse ao banheiro, eu poderia jogar água em você de cima. Ou te furar com a agulha do meu compasso. Obstáculos desse tipo, imagino.
— Isso não é nada além de assédio, ou melhor, bullying! E além disso, essa última soa estranhamente familiar, porque você já me furou antes!
Resignado, sentei-me à carteira. Uma garota de olhos afiados e belos, com longos cabelos negros que emolduravam seu rosto, me encarava de cima. O nome dela era Horikita Suzune, aluna da Advanced Nurturing High School de Tóquio, Classe D — e minha colega de classe.
— Não se preocupe. Aquilo foi só uma piada. Eu não jogaria água em você de cima.
— O mais preocupante são as tachinhas e a agulha do compasso! Olha isso! Ainda tem marcas de quando você me furou da última vez! Vai se responsabilizar se ficar uma cicatriz pro resto da vida? — Enrolei a manga direita e mostrei meu antebraço para Horikita, para que ela pudesse ver as marcas que havia deixado.
— Provas? — ela perguntou.
— Hã?
— E as provas? Decidiu que eu sou a culpada sem nenhuma evidência?
Ela tinha razão; não havia provas. Mesmo que Horikita fosse a única na sala perto o bastante para me furar com uma agulha, seria difícil chamar isso de prova definitiva...
Bem, eu precisava confirmar algo antes de qualquer coisa.
— Então, eu sou obrigado a te ajudar? Pensei de novo sobre isso e, afinal, eu…
— Ayanokoji-kun. Você prefere se arrepender enquanto sofre ou se arrepender enquanto desespera? Qual você prefere mais? Porque, se me recusar e me obrigar a agir, a responsabilidade será sua.
Fiquei preso entre as duas opções completamente absurdas da Horikita. Parecia que ela não aceitaria nenhum adiamento. Embora tivesse sido um erro fazer um acordo com esse diabo, eu desisti e obedeci.
— Certo, então. O que é para eu fazer? — perguntei, tomado por um pressentimento ruim. Os pedidos dela já não me surpreendiam mais. Certamente eu não gostava de como essa situação tinha se desenrolado, mas… lembrei-me de quando conheci essa garota dois meses atrás, no dia da cerimônia de entrada.
*
Abril. A cerimônia de entrada da escola. Eu estava no ônibus a caminho da escola, balançando no assento conforme o veículo sacodia. Olhando distraidamente pela janela, observando a paisagem da cidade mudar, o ônibus foi ficando cada vez mais cheio.
A maioria dos passageiros eram jovens vestindo uniformes do ensino médio.
Havia também um assalariado irritado, com cara de quem provavelmente já havia sido acusado de apalpar alguém por engano em um trem lotado. Uma senhora idosa, visivelmente instável, estava de pé na minha frente, cambaleando tanto que pensei que fosse cair a qualquer momento. Considerando que eu já sabia o quão lotado esse ônibus ficaria, imaginei que estava apenas colhendo o que plantei ao ter embarcado.
Tive sorte de encontrar um assento, mas ainda assim o ônibus estava apertado. Esqueci da pobre senhora e esperei pacientemente até chegarmos ao destino, com a mente calma como um riacho fluindo. O tempo estava especialmente bonito naquele dia, sem uma única nuvem no céu. Era tão agradável que quase adormeci ali mesmo.
No entanto, meu breve momento de paz foi destruído sem piedade.
— Com licença, mas você não deveria ceder o seu assento?
Meus olhos, que estavam prestes a se fechar, se abriram de repente. Hã? Essa pessoa estava brava comigo? Mas logo percebi que ela estava repreendendo outra pessoa.
Um jovem loiro, bem apessoado e da nossa idade, estava sentado em um dos assentos prioritários. A idosa estava logo ao lado dele, e ao lado dela havia outra mulher, aparentemente uma trabalhadora de escritório.
— Ei, você aí. Não está vendo que essa senhora está com dificuldade? — disse a mulher do escritório.
Ela queria que o garoto cedesse o assento. Sua voz se espalhou claramente pelo ônibus silencioso, atraindo a atenção de várias pessoas.
— Que pergunta mais absurda, moça — respondeu o garoto.
Não sabia se ele estava irritado, sendo sincero demais, ou apenas não tinha noção. De qualquer forma, ele abriu um sorriso largo e cruzou as pernas.
— Por que eu deveria ceder meu assento? Não existe motivo para isso.
— Você está sentado em um assento preferencial. É natural ceder esse lugar para os idosos.
— Não entendo. Assentos preferenciais são isso mesmo: preferenciais. Eu não tenho obrigação legal de levantar. Já que estou ocupando este assento agora, sou eu quem decide se vou sair ou não. É para eu levantar só porque sou jovem? Ha! Esse raciocínio é ridículo.
Ele não falava como um estudante normal do ensino médio. Seu cabelo tingido de loiro o fazia se destacar ainda mais.
— Sou jovem e saudável, é claro, então ficar de pé não seria um incômodo. No entanto, eu gastaria mais energia em pé do que sentado. Não tenho a menor intenção de fazer algo tão inútil. Ou você está sugerindo que eu deveria ser mais enérgico, talvez?
— Q-Que tipo de atitude é essa com seus superiores? — ela retrucou.
— Superiores? Bem, é óbvio que tanto você quanto a velhinha aí viveram mais tempo do que eu. Disso não há dúvida. No entanto, a palavra "superior" implica que você se refere a alguém em posição mais elevada. Além disso, temos outro problema. Mesmo que nossas idades sejam diferentes, você não concorda que está sendo extremamente inconveniente e rude?
— O quê—?! Você é um estudante do ensino médio, não é?! Deveria ficar quieto e ouvir o que os adultos dizem!
— T-Tudo bem, deixe pra lá… — murmurou a idosa.
Ela claramente não queria prolongar o conflito e tentou acalmar a mulher. Mas, depois de ser insultada, a mulher do escritório ainda parecia furiosa.
— Ao que parece, essa senhora é mais sensata do que você, o que é bom. Além disso, ainda não perdi a fé na sociedade japonesa. Aproveite bem os anos que lhe restam.
Depois de exibir um sorriso exageradamente animado, o garoto colocou os fones de ouvido e começou a ouvir uma música bastante estridente. A mulher do escritório rangeu os dentes de frustração. Tentou retrucar mais algumas vezes, mas a atitude arrogante e presunçosa do garoto permaneceu inabalável.
De qualquer maneira, eu tinha que admitir que, em parte, ele estava certo.
Ignorando a questão moral, era verdade que ele não tinha obrigação legal de ceder o assento.
— Me desculpe… — disse a mulher do escritório, lutando para conter as lágrimas, dirigindo-se à idosa.
Bem, foi apenas um pequeno incidente no ônibus. Fiquei aliviado por não ter sido envolvido. Honestamente, eu não me importava muito com a ideia de ceder meu assento para uma idosa.
Claramente, o garoto egoísta havia vencido. Pelo menos, todos pareciam pensar isso em silêncio.
— Hm… Eu acho que a moça está certa.
A mulher recebeu um apoio inesperado de alguém que estava ao seu lado. A defensora — uma garota usando o uniforme da minha escola — expressou ao garoto sua opinião de forma corajosa e direta.
— E a nova desafiante é uma garota bonita, hein? Parece que tenho sorte com o sexo feminino — disse o garoto.
— Esta senhora parece estar sofrendo há um bom tempo. Você não cederia o seu assento? Embora você possa achar que esse tipo de gentileza é desnecessário, acredito que isso contribuiria muito para a sociedade.
Estalo! O garoto estalou os dedos.
— Contribuição para a sociedade, é? Essa é uma opinião interessante. Realmente, ceder o assento a uma idosa pode ser visto de forma positiva. Infelizmente, eu não tenho interesse algum em contribuir para a sociedade. Eu me preocupo apenas com a minha própria satisfação. Ah, e mais uma coisa. Você está pedindo para mim, que estou no assento preferencial, levantar. Mas não poderia simplesmente pedir a qualquer outra pessoa sentada neste ônibus lotado? Se você realmente se importasse com a idosa, então algo como "assento preferencial" seria uma preocupação trivial, não concorda?
A atitude arrogante do garoto permaneceu a mesma. Tanto a mulher do escritório quanto a idosa apenas esboçaram sorrisos amargos. No entanto, a garota não recuou.
— Por favor, todos, escutem por um instante. Alguém poderia ceder o assento para esta senhora? Não importa quem seja. Por favor.

Como alguém poderia colocar tanta coragem, determinação e compaixão em tão poucas palavras? Aquilo não era algo simples. A garota talvez parecesse incômoda para quem observava, mas falava com sinceridade aos outros passageiros, sem medo algum.
Embora eu não estivesse em um assento preferencial, estava perto da idosa. Imaginei que, se levantasse a mão e oferecesse meu assento, tudo se resolveria.
No entanto, assim como todos os outros, eu não me movi. Nenhum de nós achou necessário fazê-lo. Deixando de lado a atitude e as palavras do garoto, no fundo, todos no ônibus concordavam com ele.
Claro, os idosos têm um valor inegável para o Japão. Mas nós, os jovens, somos quem sustentará o país no futuro. E considerando que nossa sociedade envelhece mais a cada ano, é possível dizer que o valor da juventude só aumenta. Então, se compararmos os idosos e os jovens e perguntarmos quem tem mais valor, a resposta deveria ser óbvia. Um argumento perfeito, não é?
Ainda assim, eu me perguntava o que os outros fariam. Olhando ao redor, vi dois tipos de pessoas: as que fingiam não ter ouvido nada e as que hesitavam.
Porém, a garota sentada ao meu lado era diferente. Ela foi a única que não se deixou levar pela situação. Seu rosto continuava impassível.
Enquanto eu a encarava sem pensar, nossos olhares se cruzaram por um instante. Mesmo sem dizer uma palavra, percebi que compartilhávamos da mesma opinião. Nenhum de nós achava necessário ceder o assento.
— C-Com licença. Você pode ficar com o meu.
Logo após o apelo da garota, uma mulher que estava sentada, incapaz de suportar a culpa, levantou-se e ofereceu seu lugar.
— Muito obrigada! — disse a idosa.
A mulher sorriu, inclinou a cabeça e ajudou a idosa a se sentar.
A senhora agradeceu várias vezes, sentando-se lentamente. Observando a cena de relance, cruzei os braços e fechei os olhos. Pouco tempo depois, chegamos ao nosso destino, e todos os estudantes começaram a descer do ônibus.
Ao descer, vi um portão feito de rochas naturais logo à frente. Meninos e meninas com uniformes escolares passavam por ele.
O governo japonês havia criado a Advanced Nurturing High School de Tóquio com o propósito de formar os futuros líderes do país. Essa seria minha escola a partir de agora.
Ok, pare por um momento. Respire fundo. Certo, vamos lá!
— Espere!
No instante em que tentei dar meu primeiro passo corajoso, alguém me chamou. Era a garota que tinha se sentado ao meu lado no ônibus.
— Você estava me olhando. Por quê? — ela perguntou.
Ela estreitou os olhos enquanto falava.
— Desculpa. Acho que só fiquei curioso, só isso. Digo, você não pensou em ceder o assento para a senhora, pensou?
— Isso mesmo. Eu não considerei ceder. Há algum problema com isso?
— Ah, não, nenhum. Eu também não ia ceder meu lugar. Na verdade, sigo firmemente a filosofia do "deixa quieto". Eu não gosto de confusão.
— Você não gosta de confusão? Então acho que você e eu não somos nada parecidos. Eu não cedi porque achei que seria inútil. Só isso.
— Mas isso não parece pior do que simplesmente não gostar de confusão?
— Talvez. Eu só ajo de acordo com minhas próprias convicções. Isso é diferente de alguém que só quer evitar problemas, como você. Eu não quero passar tempo com pessoas como você.
— Sinto o mesmo — murmurei.
Eu só queria compartilhar minha opinião, mas não estava com vontade de prolongar aquela conversa. Ambos suspiramos e seguimos caminhando na mesma direção.
*
Eu detestava a cerimônia de entrada e imaginava que muitos alunos do primeiro ano provavelmente sentiam o mesmo. O diretor e os alunos trocavam palavras excessivas de gratidão, passava-se tempo demais em pé, enfileirados, e, com tantas coisas irritantes para lidar, tudo parecia um grande saco. Mas essas não eram minhas únicas reclamações. As cerimônias de entrada do ensino fundamental, do ginásio e do ensino médio significavam a mesma coisa: o início de mais uma grande provação para as crianças. Para que os alunos pudessem desfrutar da vida escolar, era necessário fazer amigos, e só havia alguns dias-chave depois da cerimônia para realmente conseguir isso. Falhar nesse momento significava o começo de três anos bem sombrios. Como alguém que detesta problemas, decidi que gostaria de construir relações adequadas.
Não acostumado com essa ideia, passei o dia anterior me preparando, ensaiando diferentes cenários. Por exemplo: deveria entrar na sala com energia e começar a conversar com as pessoas? Ou passar secretamente um papel com meu e-mail para facilitar alguma amizade? Pessoas como eu precisavam praticar, porque esse ambiente era completamente diferente de tudo que eu já tinha vivido. Eu estava totalmente isolado. Tinha entrado sozinho em um campo de batalha, e era vencer ou morrer.
Observando a sala de aula, caminhei até a carteira com meu nome. Ficava no fundo, perto da janela. Um bom lugar para sentar, no geral. Olhando ao redor, vi que a sala já estava meio cheia. Alguns estavam concentrados nos materiais da escola, outros já conversavam. Talvez já fossem amigos de antes, ou tinham acabado de se conhecer. Então, o que eu deveria fazer? Agir nesse tempo livre e tentar falar com alguém?
À minha frente, um garoto meio rechonchudo se sentava curvado sobre a mesa. Talvez fosse impressão minha, mas ele parecia solitário. O garoto exalava uma aura que gritava: "Por favor, alguém seja meu amigo!" No entanto, se você simplesmente chegasse falando com alguém, poderia estar incomodando. Deveria esperar o momento certo? Mas, se esperasse demais, acabaria sem amigos. Eu tinha que… Não, não, espera, não podia ser precipitado. Se começasse uma conversa impensada com alguém que eu não conhecia, corria o risco de cometer uma gafe social séria.
Nada bom. Eu estava preso em uma espiral descendente.
No fim, não consegui falar com ninguém. Do jeito que as coisas iam, eu ficaria completamente sozinho. Alguém tinha dito "Ele ainda está sozinho?" Eu ouvi risadinhas? Talvez fosse coisa da minha cabeça. Afinal, o que são "amigos"? De onde vêm os amigos? As pessoas se tornam amigas depois de dividir uma refeição? Dá para virar amigo de alguém depois de ir junto ao banheiro pela primeira vez? Quanto mais eu pensava, mais me perguntava: o que é amizade? É algo profundo e significativo? Eu tentava juntar as peças.
Tentar fazer amigos era incrivelmente trabalhoso. Além disso, os relacionamentos humanos não se formam naturalmente? Meus pensamentos estavam em total confusão, como se um festival barulhento estivesse acontecendo dentro da minha cabeça. Enquanto eu permanecia ali, perdido na névoa, a sala encheu rapidamente. Tudo bem. Tanto faz. Quem não arrisca, não petisca, certo? Depois de um longo conflito interno, finalmente comecei a me levantar.
Porém…
Quando percebi, o garoto rechonchudo e de óculos à minha frente já conversava com outro colega.
Com um sorriso amargo, percebi que ali não havia mais amizade a ser cultivada. Fico feliz por você, Óculos-kun. Parece que você fez seu primeiro amigo.
— Me passaram a perna! — murmurei.
Eu estava no limite, preso em pensamentos inúteis. Instintivamente, soltei um suspiro profundo. Minha vida no ensino médio parecia destinada a ser excepcionalmente sombria. Então, alguém se sentou ao meu lado.
— Um suspiro tão pesado, considerando que o ano letivo só começou. Encontrar você de novo me dá vontade de suspirar também.
Era a garota que tinha brigado comigo no ponto de ônibus e depois ido embora.
— Então, caímos na mesma turma, hein? — murmurei.
Bem, havia apenas quatro turmas para todos os alunos do primeiro ano. Estatisticamente, não era impossível estarmos juntos.
— Prazer em conhecer. Sou Ayanokouji Kiyotaka.
— Você simplesmente se apresentou? — ela disse.
— Bem, essa é a segunda vez que conversamos. Não é normal eu fazer isso?
Eu já queria me apresentar para alguém de qualquer forma, então não era como se pudesse ficar calado. Além disso, para me familiarizar com a turma, eu precisava ao menos saber o nome da minha vizinha… mesmo que fosse essa garota audaciosa.
— Se eu disser que recuso, você se importa? — ela perguntou.
— Acho que ficar sentado ao lado de alguém por um ano inteiro sem saber o nome dela não seria muito confortável.
— Eu discordo.
Lançando-me um olhar rápido, ela colocou a bolsa sobre a mesa. Aparentemente, não pretendia me dizer seu nome. Sem demonstrar interesse pela sala, simplesmente sentou-se ereta, como uma aluna exemplar.
— Você tem algum amigo em outra classe? Ou entrou aqui completamente sozinha? — perguntei.
— Você é bem curioso, não é? Mas falar comigo não vai ser tão interessante assim.
— Se eu estiver te incomodando, pode simplesmente me mandar ficar quieto.
Eu não me apresentaria se isso a irritasse. Achei que a conversa tinha acabado, mas então a garota suspirou. Aparentemente, havia mudado de ideia. Ela voltou o olhar para mim e se apresentou.
— Sou Horikita Suzune.
Pela primeira vez, pude ver bem o rosto dela.
Uau. Ela era bonita. Ou melhor, era linda. Mesmo estando no mesmo ano que eu, eu acreditaria se me dissessem que ela era um ou dois anos mais velha.
Uma beleza fria e serena.
— Deixa eu falar um pouco sobre mim — eu disse. — Não tenho hobbies em particular, mas me interesso por quase qualquer coisa. Não preciso de muitos amigos, mas acho que seria bom ter pelo menos alguns. E, bem, é isso.
— Falou exatamente como alguém que evita problemas. Acho que jamais conseguiria gostar de uma pessoa assim.
— Nossa, sinto que você destruiu minha existência inteira em um segundo — murmurei.
— Rezo para que esse seja meu único desgosto.
— Sinto muito, mas duvido que suas preces sejam atendidas — respondi, apontando para a entrada da sala. Lá estava—
— Esta sala parece ser bem equipada. Parece corresponder às expectativas, não? — Sim. Era o garoto que havia discutido com aquelas mulheres no ônibus.
— Entendo. Isso certamente é má sorte — disse ela.
Aquele encrenqueiro tinha sido colocado na Classe D, junto conosco. Sem parecer notar nossa presença, foi até a carteira com o nome "Koenji" e sentou-se. Fiquei pensando se alguém como ele já tinha considerado a ideia de amizade. Observei-o por um momento. Koenji colocou os pés sobre a mesa, tirou uma lixa de unhas da bolsa e, enquanto cantarolava, começou a cuidar das unhas. Agia como se estivesse completamente sozinho no mundo.
Aparentemente, os comentários grosseiros que fizera no ônibus refletiam com precisão suas opiniões. Em menos de dez segundos, mais da metade da sala já se afastava dele. Sua presença dominava o ambiente. Olhando para o lado, vi que Horikita baixara o olhar e parecia estar lendo um de seus livros.
Ah, droga. Eu tinha esquecido que manter uma conversa era básico para despertar interesse. Tinha desperdiçado uma das minhas chances de fazer amizade com Horikita. Me inclinando, espiei o título do livro: Crime e Castigo. Interessante. Uma história que discutia se era certo matar alguém, desde que fosse em nome da justiça.
Que triste. Talvez o gosto de Horikita por livros também refletisse sua personalidade. Bem, de qualquer forma, já havíamos nos apresentado, então talvez pudéssemos ao menos nos tornar bons vizinhos de carteira. Após alguns minutos, o primeiro sino tocou. Nesse momento exato, uma mulher entrou na sala. À primeira vista, tive a impressão de que ela acreditava firmemente na disciplina. Se tivesse que chutar, diria que tinha cerca de trinta anos. Usava um terno, tinha traços delicados. O cabelo, comprido, estava preso em um rabo de cavalo.
— Ahem. Bom dia a todos. Sou a instrutora da Classe D. Meu nome é Chabashira Sae. Normalmente, ensino história do Japão. No entanto, nesta escola, não trocamos de sala a cada ano. Pelos próximos três anos, serei a professora responsável pela turma, então espero conhecê-los bem. Prazer em conhecê-los. A cerimônia de entrada será no ginásio daqui a uma hora, mas antes disso, vou distribuir os materiais com informações sobre as regras especiais desta escola. Também entregarei o guia do aluno.
Os alunos das primeiras fileiras passaram para trás os documentos familiares que eu já havia recebido após a aprovação.
Esta escola diferia de muitas outras escolas japonesas em alguns pontos importantes. Aqui, todos os alunos eram obrigados a viver nos dormitórios dentro do campus. Além disso, exceto em casos especiais, como intercâmbio, era proibido contactar qualquer pessoa de fora. Mesmo contato com a própria família exigia autorização. Naturalmente, sair do campus sem permissão também era estritamente proibido.
Por outro lado, o campus contava com diversas instalações excelentes. Com karaokê, teatro, café, boutique e mais, essa escola podia muito bem ser comparada a uma pequena cidade. O campus se estendia por mais de 600 mil metros quadrados.
A escola possuía ainda outra peculiaridade: o Sistema S.
— Agora, distribuirei seus cartões de identificação estudantil. Usando esses cartões, vocês podem acessar qualquer instalação do campus, comprar produtos na loja e assim por diante. Ele funciona como um cartão de crédito. No entanto, é fundamental que prestem atenção aos pontos que utilizarem. Nesta escola, vocês podem usar pontos para comprar qualquer coisa. Tudo que estiver dentro do campus está disponível para compra.
Nossos pontos, carregados nos cartões de identificação estudantil, funcionavam como uma espécie de moeda. A ausência de dinheiro em papel poderia evitar muitos problemas financeiros entre os alunos. No entanto, era necessário ficar atento aos hábitos de consumo. De qualquer forma, a escola fornecia esses pontos gratuitamente.
— Seus cartões de estudante podem ser usados simplesmente passando-os no leitor da máquina. O método é simples, então não devem se confundir. Os pontos são depositados automaticamente em suas contas no dia primeiro de cada mês. Todos vocês já devem ter recebido 100.000 pontos. Lembrem-se de que um ponto equivale a um iene. Nenhuma explicação adicional deve ser necessária.
A sala explodiu em murmúrios.
Ou seja, tínhamos recebido uma mesada de 100.000 ienes da escola logo na admissão. Nada menos do que se espera de uma instituição gigantesca administrada pelo governo japonês. Cem mil ienes é uma quantia considerável para um estudante do ensino médio.
— Surpresos com a quantidade de pontos recebidos? Esta escola avalia os talentos dos alunos. Todos aqui passaram no exame de admissão, o que por si só prova seu valor e potencial. A quantia que receberam reflete essa avaliação. Vocês podem usar os pontos sem restrições. Após a formatura, no entanto, todos os pontos retornam à escola. Como não é possível trocar os pontos por dinheiro, não há vantagem em economizá-los. Uma vez depositados, cabe a vocês decidir como usá-los. Façam como quiserem. Caso não desejem gastar, podem transferir os pontos para outra pessoa. Mas extorquir colegas não é permitido. Esta escola monitora casos de bullying com muito cuidado.
Enquanto a perplexidade se espalhava entre os alunos, a professora Chabashira observou a sala.
— Bem, parece que ninguém tem perguntas. Espero que aproveitem seu tempo aqui como estudantes.
Muitos dos meus colegas não conseguiam esconder o espanto com a quantidade de pontos.
— Esta escola não parece tão rígida quanto eu imaginava — murmurei.
Achei que estava falando sozinho, mas Horikita olhou na minha direção. Talvez tenha pensado que eu falava com ela.
— Esta escola é extremamente permissiva, não é?
Apesar de todas as restrições — como sermos obrigados a viver nos dormitórios, proibidos de sair do campus e de contatar pessoas de fora — ninguém parecia ter qualquer queixa. Na verdade, poderia-se dizer que estávamos recebendo um tratamento tão privilegiado que era como ter sido transportado para um paraíso. É claro, o dado mais impressionante da Escola de Desenvolvimento Avançado era sua taxa de quase 100% de aprovação em universidades ou inserção no mercado de trabalho.
Essa escola, patrocinada pelo governo, oferecia orientação rigorosa para garantir um futuro melhor aos seus alunos. E fazia questão de divulgar isso. Muitos ex-alunos haviam alcançado fama. Normalmente, por mais prestigiada que fosse uma escola, suas áreas de especialização eram limitadas — esporte, música, informática, por exemplo. Mas aqui, qualquer aluno podia almejar o sucesso, independentemente do campo.
Somente esta escola tinha esse nível de reputação. Eu havia imaginado um ambiente extremamente competitivo, mas a maioria dos estudantes parecia apenas… normal.
Não, isso não era totalmente correto. Afinal, todos nós tínhamos sido capazes de passar no exame de admissão. Se conseguíssemos chegar ao dia da formatura em paz, sem problemas, então teríamos conquistado nosso objetivo… Mas será que algo assim era realmente possível?
— Isso é tratamento preferencial demais. Chega a ser assustador.
Quando Horikita falou, percebi que me sentia da mesma forma. Mal sabíamos qualquer coisa sobre esta escola. Era como se um véu de mistério encobrisse tudo. Por ser um lugar onde qualquer desejo parecia possível, eu imaginava que algum risco deveria existir por trás disso.
— Ei, ei! Quer ir comigo dar uma olhada nas lojas quando voltarmos? Vamos fazer umas compras! — gritou uma garota.
— Com certeza! Com essa quantia, dá pra comprar qualquer coisa. Estou tão feliz por ter entrado nessa escola! — disse outra.
Assim que a professora saiu, os estudantes recém-"ricos" começaram a se agitar.
— Pessoal, podem me ouvir por um momento, por favor?
Um garoto com aparência de aluno exemplar levantou a mão rapidamente. Seu cabelo não era tingido. Parecia um estudante modelo. Pela aparência, dava para perceber que não era um delinquente.
— A partir de hoje, seremos colegas de classe. Por isso, acho que seria bom nos apresentarmos e virarmos amigos o quanto antes. Ainda temos tempo até a cerimônia de entrada. O que acham?
Ele havia feito algo impressionante. A maioria dos alunos estavam perdidos em pensamentos, incapaz de tomar iniciativa.
— Concordo! Ainda não sabemos nada uns sobre os outros, nem mesmo nossos nomes! — alguém respondeu.
Depois que o gelo foi quebrado, os estudantes que antes hesitavam começaram a falar.
— Meu nome é Hirata Yousuke. No fundamental, muita gente me chamava só de Yousuke. Podem me chamar assim também! Acho que meu hobby são esportes em geral, mas principalmente futebol. Pretendo jogar futebol aqui também. Prazer em conhecer!
Hirata se apresentou para a turma com total naturalidade. Parecia incrivelmente confiante. E ainda falou do amor dele por futebol! Sua popularidade deve ter aumentado duas, não, talvez quatro vezes. A garota sentada ao lado dele estava praticamente com coraçõezinhos nos olhos!
Se alguém como Hirata se tornasse o pilar da nossa turma, imaginei se ele manteria todos honestos e motivados até a formatura. Alguém como ele provavelmente acabaria namorando a garota mais bonita da classe. Era assim que essas coisas normalmente aconteciam.
— Então, gostaria que todos se apresentassem, começando pela frente. Pode ser?
A garota da primeira carteira pareceu um pouco confusa, mas tomou coragem e se levantou. Ou melhor, foi empurrada pela responsabilidade depois das palavras de Hirata.
— M-Meu nome é… Inogashira Ko-Ko…
A garota, de sobrenome Inogashira, pareceu travar no meio da apresentação. Será que deu branco? Ou ela nem tinha pensado no que dizer antes? As palavras ficaram presas, e ela empalideceu. Era raro ver alguém tão nervosa assim.
— Vai dar tudo certo!
— Não entra em pânico! Tá tudo bem!
Palavras gentis começaram a surgir dos colegas. Mas isso pareceu ter o efeito contrário; a voz dela não saía. Cinco segundos de silêncio. Dez segundos. A tensão era palpável. Algumas garotas começaram a rir baixinho. Inogashira estava paralisada. Nem conseguia se mover. Outra garota falou:
— Tá tudo bem ir devagar. Não precisa se apressar.
Embora parecessem palavras gentis, dizer "Faz o seu melhor!" ou "Tá tudo bem!" pode soar como uma pressão, como se ela fosse obrigada a alcançar as expectativas dos outros. Por outro lado, "Pode ir devagar. Sem pressa" dava permissão para seguir no próprio ritmo.
Depois disso, a garota se acalmou e recuperou a compostura. Respirou algumas vezes e tentou de novo.
— Meu nome é Inogashira… Kokoro. Hm, meu hobby é costurar. Eu sou bem boa em tricô. M-Muito prazer em conhecer todos.
Conseguiu terminar sem parar. Parecendo aliviada, feliz e envergonhada ao mesmo tempo, Inogashira sentou. As apresentações continuaram.
— Sou Yamauchi Haruki. No fundamental, eu jogava tênis de mesa, e no ginásio fui o jogador número quatro e arremessador do time de beisebol. Mas me machuquei no campeonato intercolegial, então estou em reabilitação. Prazer.
Eu não achei que o número da camisa dele fosse uma informação essencial… Além disso, pensei que o campeonato intercolegial fosse uma competição nacional para alunos do ensino médio. Estudantes do fundamental nem poderiam participar. Será que ele estava tentando fazer uma piada? Parecia ser o tipo falante que se empolga facilmente.
— Bom, então, acho que sou a próxima, né?
A garota animada que se levantou era a mesma que tinha dito para Inogashira ir devagar e se acalmar. Também era a mesma que ajudou a senhora idosa no ônibus mais cedo.
— Meu nome é Kushida Kikyou. Nenhum dos meus amigos do ginásio conseguiu entrar nessa escola, então estou sozinha aqui. Quero aprender os nomes e rostos de todos vocês o mais rápido possível, para virarmos amigos logo!
Enquanto a maioria tinha dito apenas algumas frases, Kushida continuou falando.
— Meu primeiro objetivo é fazer amizade com todo mundo. Então, depois das apresentações, quero muito que vocês me passem seus contatos!
Ela não estava só dizendo por dizer. Eu percebi na hora que aquele tipo de garota realmente abria o coração para qualquer pessoa. Suas palavras de incentivo para Inogashira não foram meras formalidades, e sim sentimentos genuínos.
— Então, depois da aula ou nas férias, quero criar várias memórias com muitas pessoas. Podem me chamar para muitos e muitos eventos! Enfim, já falei demais, então termino minha apresentação por aqui.

Ela disse aquilo como se soubesse que eu estava criticando a apresentação de todo mundo. Senti um desconforto estranho, e não sabia bem o motivo.
O que eu deveria dizer quando chegasse a minha vez? Será que eu deveria tentar fazer uma piada? Ou me apresentar com muita energia para arrancar umas risadas? Não, isso não daria certo. Sair do controle só arruinaria o clima. Além disso, isso nem combinava com a minha personalidade.
As apresentações continuaram enquanto eu lutava contra a ansiedade.
— Bom, então, o próximo é…
Quando Hirata olhou de forma encorajadora para o próximo aluno, esse apenas revidou com um olhar hostil. Seu cabelo era tingido de vermelho vivo. Pela aparência e pelo jeito de falar, parecia um delinquente.
— Que foi, a gente é um bando de criança ou o quê? Não preciso me apresentar. Quem quiser fazer isso, faz. Só não me inclua nisso.
O cara de cabelo vermelho lançou um olhar furioso para Hirata. Sua presença era intensa e dominante.
— Não posso te obrigar a se apresentar, é claro. Mas não acho que se dar bem com os colegas seja algo ruim. Se te deixei desconfortável, peço desculpas.
Quando Hirata inclinou a cabeça em sinal de desculpa, algumas garotas lançaram olhares zangados para o ruivo.
— Qual o problema de se apresentar? — disparou uma delas.
— É isso aí!
Como eu imaginei, o bonitão do futebol já tinha conquistado a maioria das garotas num piscar de olhos. Porém, metade dos garotos começaram a ficar irritados — provavelmente por ciúmes.
— Cala a boca. Não tô nem aí. Não vim aqui pra fazer amigos.
O cara de cabelo vermelho se levantou. Não tinha intenção nenhuma de se enturmar. Vários outros alunos o seguiram e saíram da sala juntos. Horikita também se levantou e olhou rapidamente na minha direção. Quando percebeu que eu não me movia, simplesmente foi embora. Hirata pareceu um pouco triste ao vê-la sair.
— Eles não são más pessoas. A culpa é minha. Fui egoísta e fiz todos passarem por isso.
— Que nada. Você não fez nada de errado, Hirata-kun. Vamos só deixar esses caras pra lá, tá?
Apesar de alguns terem se rebelado contra a ideia de se apresentar, os alunos que ficaram estavam felizes em continuar. No fim, tudo terminou de maneira bem comum.
— Sou Ike Kanji. Amo garotas e odeio caras bonitos. No momento, estou procurando uma nova namorada. Prazer! Melhor ainda se você for uma gatinha ou uma beldade!
Era difícil dizer se ele estava brincando ou falando sério. Pelo menos, as garotas o olharam com nojo.
— Uau. Você é tão incrível, Ike-kun — disse uma garota, com uma voz completamente sem emoção. Obviamente, o comentário dela era mil por cento falso.
— Sério? Sério mesmo? Ah, poxa. Eu até achei que não era tão ruim assim, mas… heh heh.
Ao que parecia, Ike achou que ela estava falando sério. Ficou até corado. Imediatamente, as garotas começaram a rir.
— Olha só, gente. Que fofo, né? Ele tá procurando uma namorada!
Cara, elas estão tirando sarro de você. Ainda assim, Ike continuou entrando na brincadeira com bom humor. Não parecia ser um mau sujeito.
O próximo era o garoto encrenqueiro do ônibus, Koenji. Enquanto conferia a franja com um espelhinho de mão, penteava o cabelo.
— Com licença, você pode se apresentar? — perguntou Hirata.
— Hmph. Muito bem.
Ele sorriu com arrogância, como um aristocrata, demonstrando todo o seu atrevimento. Por um instante, achei que fosse sair da sala, mas Koenji apenas colocou os dois pés sobre a mesa e se apresentou.
— Meu nome é Koenji Rokusuke. Como único herdeiro do conglomerado Koenji, em breve terei a responsabilidade de conduzir o Japão ao futuro. Aguardo ansiosamente por nossa convivência, senhoritas.
Ele direcionou a apresentação somente para o sexo feminino, ignorando o resto da turma. Depois de ouvir que ele era rico, algumas garotas o olharam com olhos brilhando, enquanto outras o encararam como se fosse um completo esquisito. Natural.
— A partir de hoje, punirei sem piedade qualquer um que me incomodar. Tomem as devidas precauções para evitar isso.
— Hã, Koenji-kun… o que exatamente você quer dizer com "qualquer um que me incomodar"? — perguntou Hirata, visivelmente desconfortável com a palavra "punir".
— Quero dizer exatamente o que disse. Se quer um exemplo, bem… eu odeio coisas feias, por exemplo. Então, se eu visse algo feio, faria exatamente como anunciei.
Fwish! Ele balançou sua longa franja espetacularmente.
— Ah, obrigado. Vou tomar cuidado, então.
Tínhamos o cara do cabelo vermelho, Horikita, Koenji, Yamauchi e Ike. Aparentemente, essa turma estava cheia de pessoas com peculiaridades bem bizarras.
Eu também era particularmente peculiar por não ter nada de peculiar. Eu queria ser livre, livre como um pássaro, mas até então, havia definhado dentro de uma gaiola. Queria voar pelos vastos céus abertos. Se você olhasse pela janela, veria os pássaros voando graciosamente… Bem, não agora, mas em geral. Enfim, esse era o tipo de pessoa que eu era.
— Certo, vamos para a próxima pessoa. Você pode se apresentar, por favor?
— Hã?
Droga. Minha vez chegou enquanto eu estava no mundo da lua. Os alunos me olharam, esperando pela minha apresentação. Ei, ei! Não olhem pra mim com tanta expectativa assim. Ah, tanto faz… vou tentar fazer o melhor que der.
Clack! A cadeira fez barulho quando me levantei.
— Ahm. Bem, meu nome é Ayanokoji Kiyotaka. E, ah, eu não tenho nenhuma habilidade especial nem nada. Vou me esforçar para me dar bem com todos vocês. É… um prazer conhecer vocês.
Foi isso? Essa foi minha apresentação?
Fracassei!
Instintivamente, enfiei o rosto entre as mãos. Eu não tive tempo de preparar uma apresentação decente porque estava muito ocupado divagando. Foi o pior tipo de introdução possível. Não chamou nenhuma atenção, e absolutamente ninguém iria se lembrar dela.
— Prazer em conhecê-lo, Ayanokoji-kun. Eu também quero ser amigo de todo mundo, como você. Vamos dar o nosso melhor, tá? — respondeu Hirata com um sorriso radiante.
Todos bateram palmas. O aplauso parecia mais pena do que qualquer outra coisa, e isso me doeu estranhamente. Ainda assim, de alguma forma, me senti feliz.
*
Apesar de as pessoas dizerem que este lugar era rigoroso, a cerimônia de entrada foi igual à de qualquer outra escola. Algumas pessoas importantes fizeram discursos de agradecimento, e a cerimônia terminou sem incidentes. Depois, já era meio-dia. Após recebermos algumas informações gerais sobre o campus, a multidão se dispersou.
Entre 70% e 80% dos estudantes seguiram para os dormitórios. Os demais rapidamente se dividiram em grupos. Alguns foram para cafés, enquanto os mais barulhentos saíram para karaokê. A agitação logo se dissipou. Por impulso, decidi passar na loja de conveniência a caminho do dormitório. Claro, fui sozinho. Não tinha acompanhante, nem conhecido, nem nada do tipo.
— Ora, que coincidência desagradável.
Ao entrar na loja de conveniência, encontrei Horikita novamente.
— Vamos lá, não precisa ser assim. Aliás, você veio comprar alguma coisa? — perguntei.
— Sim, só algumas coisas. Vim pegar o que é necessário.
Não faltavam coisas que se precisavam ao começar a vida no dormitório, especialmente se você fosse uma garota. Horikita pegava diversos itens, como shampoo, das prateleiras e os jogava rapidamente no cesto que carregava. Achei que ela escolheria produtos de melhor qualidade, mas pegou apenas as opções mais baratas.
— Achei que meninas costumassem se preocupar com o tipo de shampoo que compram.
— Bem, isso depende da pessoa, não é? Eu sou do tipo que não sabe quando vai precisar de dinheiro — respondeu.
Ela me lançou um olhar gélido, como se dissesse: "Você poderia, por favor, não ficar observando as compras dos outros sem permissão?"
— De qualquer forma, fiquei bastante surpresa que você ficou para as apresentações — disse ela. — Você não parecia do tipo que se misturaria com o grupo da classe.
— Decidi participar justamente porque não gosto de confusão. Por que você não se apresentou para eles, Horikita? Você poderia ter conhecido vários outros alunos, e teria sido uma chance de fazer amigos.
Muitos dos estudantes até trocaram números de celular. Se Horikita tivesse participado, provavelmente teria ficado bem popular. Que desperdício.
— Tenho vários motivos para ter recusado, mas suponho que seja melhor explicar, não é? Minha apresentação poderia ter semeado discórdia, dependendo de como as coisas acontecessem. Assim, não fazer nada evitou criar mais problemas. Estou errada?
— Mas, estatisticamente falando, havia uma grande probabilidade de você ter se dado bem com todos depois de se apresentar — falei.
— Como você chegou a essa conclusão? Aliás, se eu for discutir isso com você agora, vamos acabar num debate sem fim. Digamos que a probabilidade de fazer amigos fosse alta, como você disse. Então, quantas pessoas você conheceu?
— Ugh…
Ela me encarou.
Foi um argumento e tanto. O fato de eu ainda não ter trocado contato com ninguém jogava a favor de Horikita. Provava que não havia garantia de que apresentações levavam a amizades. Instintivamente, desviei o olhar.
— Em outras palavras, você não tem evidência para sustentar que apresentações levam a fazer amigos, tem? — perguntou. — Além disso, eu nunca tive a intenção de fazer amigos. Se não preciso me apresentar, também não tenho motivo para ouvir a apresentação dos outros. Convenci você?
Aquilo me lembrou da desastrosa primeira vez em que tentei me apresentar para Horikita. Pensando bem, talvez tivesse sido um milagre eu ter conseguido descobrir o nome dela.
Quando perguntei se eu não deveria ter me apresentado para ela, Horikita balançou a cabeça. As pessoas tinham camadas escondidas, sem dúvida. Horikita talvez fosse ainda mais solitária e distante do que eu imaginava.
Permanecemos andando pela loja de conveniência sem nos olhar. Mesmo que ela fosse um pouco rígida, estar ao seu lado não era desconfortável.
— Uau! Tem até uma seleção incrível de cup noodles aqui! Essa escola é super conveniente!
Dois estudantes barulhentos estavam diante da seção de alimentos instantâneos. Eles jogaram uma verdadeira montanha de copos de macarrão no carrinho e seguiram para o caixa. Além dos noodles, também haviam pegado lanches e sucos. Afinal, era praticamente impossível gastar todos os pontos — melhor aproveitar o que tinham.
— Cup noodles. Tem muitos tipos — comentei.
Essa era definitivamente uma das razões de eu ter vindo à loja.
— Então, os garotos gostam mesmo desse tipo de coisa? Não consigo imaginar que seja saudável — disse Horikita.
— Eu gosto, até.
Peguei um copo de macarrão e examinei a etiqueta de preço. Dizia 156 ienes, mas não conseguia dizer se isso era caro ou barato. Mesmo que a escola chamasse o sistema de créditos de "pontos", os preços estavam todos em ienes.
— Ei, o que você acha? Esse preço é alto ou baixo?
— Hmm. Não tenho certeza. Por quê? Tem algo de estranho nisso?
— Não, só estava pensando.
Os preços da loja pareciam razoáveis. Um ponto realmente equivalia a um iene. Considerando que a mesada média de um calouro era em torno de 5.000 ienes, a quantia que recebemos parecia inacreditavelmente alta. Horikita, notando meu comportamento estranho, lançou-me um olhar desconfiado. Para evitar suspeitas, peguei um copo de macarrão.
— Uau, esse é enorme. Um Copo G, hein?
Aparentemente, "G" significava "Giga Cup". Só de olhar já me sentia cheio. Por outro lado, os seios da Horikita não eram nem pequenos nem grandes. Estavam naquele ponto perfeito entre os dois. O tamanho ideal.
— Ayanokouji-kun. Você estava pensando em algo idiota agora mesmo?
— Hã… não?
— Tive a impressão de que estava agindo de forma estranha.
Ela conseguia perceber meus pensamentos indecorosos só de olhar para mim. A garota era afiada.
— Só estava pensando se deveria comprar isso ou não. O que você acha?
— Ah. Bem, acho que tudo bem. Mas você realmente acha que deveria comprar isso? Esta escola oferece opções de comida muito mais saudáveis. Não acha melhor evitar porcarias?
Como Horikita disse, eu não tinha motivo para comer besteira. Contudo, como a vontade era irresistível, peguei um pacote de macarrão instantâneo de tamanho normal com "FOO Yakisoba" escrito e joguei no carrinho. Com a atenção desviada, Horikita se afastou dos alimentos e começou a procurar itens de uso diário. Planejei usar alguma piada espirituosa para ganhar pontos com ela.
— Se você quer algo bom, que tal essa lâmina de barbear com cinco lâminas? Aposto que faz um ótimo trabalho.
— Por que diabos eu iria querer me barbear com isso?
Sorri de forma convencida e fingi raspar uma barba imaginária, mas ela não riu. Longe disso. Olhou para mim como se eu fosse lixo.
— Olhe pra mim. Eu não tenho nada para raspar. Nem no queixo, nem debaixo dos braços, nem… lá embaixo.
Resmunguei, derrotado. Parecia que minhas piadas fracassavam miseravelmente com as garotas.
— Tenho que admitir, fico um pouco surpresa com a sua capacidade de falar bobagens para alguém que acabou de conhecer.
— Bem, acho que você também disse umas besteiras, e acabou de me conhecer.
— É mesmo? Eu só declarei fatos. Diferente de você.
Ela devolveu minhas palavras com calma, me calando. Para ser justo, eu realmente havia falado qualquer coisa. Já Horikita, sempre articulada, tinha uma fala afiada e impecável.
Horikita escolheu o sabonete facial mais barato. Eu imaginaria que garotas se importassem mais com esse tipo de coisa.
— Você não acha que esse aqui é melhor? — peguei um creme mais caro da prateleira e mostrei.
— Desnecessário.
— Mas…
— Eu já disse que é desnecessário, não disse? — retrucou.
— Tá bom…
Devolvi o creme suavemente à prateleira enquanto ela me lançava outro olhar cortante. Achei que conseguiria conversar sem irritá-la, mas falhei.
— Você não parece muito habilidoso socialmente. É péssimo em conversas.
— Bem, vindo de você, deve ser verdade — resmunguei.
— Pois é. Considero que, no mínimo, tenho um bom olho para pessoas. Normalmente, eu não gostaria de ouvir você falar mais nada, mas vou me esforçar dolorosamente para escutar.
Eu havia dito que queria ser amigo dela, mas, aparentemente, ela não sentia o mesmo. Com isso, nossa conversa terminou abruptamente. Duas garotas entraram na loja de conveniência. Foi estranho, mas algo me ocorreu com clareza: Horikita era realmente fofa.
— Ei. O que é isso?
Enquanto procurava desesperadamente por outro assunto, encontrei algo estranho. Alguns itens de higiene e alimentos estavam empilhados num canto da loja. À primeira vista, pareciam iguais aos outros produtos, mas havia uma diferença enorme.
— Grátis?
Horikita também achou estranho, então pegou um dos itens. Produtos como escovas de dente e curativos estavam enfiados numa caixa de liquidação com a etiqueta "Grátis". A caixa ainda tinha o aviso "três itens por mês". Eram, obviamente, diferentes dos outros produtos da loja.
— Devem ser suprimentos de emergência para alunos que gastarem todos os pontos. Essa escola é incrivelmente indulgente — comentei.
Mas me perguntei até onde ia essa indulgência.
— Ei, cala a boca! Só espera um segundo! Tô procurando agora!
Uma voz alta e repentina abafou a música ambiente tranquila da loja.
— Anda logo. Tem uma fila de gente atrás de você!
— Ah, é? Pois se alguém tiver algo a reclamar, que venha falar comigo!
Aparentemente, estava começando uma confusão no caixa. Dois rapazes discutiam, trocando olhares hostis. Eu reconheci o de expressão mal-humorada. Era o estudante da minha turma, o cara de cabelo vermelho. Ele estava com os braços cheios de copos de macarrão.
— O que está acontecendo aqui? — perguntei.
— Hã? Quem é você?
Minha intenção era parecer amigável, mas o cara de cabelo vermelho me lançou um olhar irritado. Pelo visto, achou que eu fosse algum tipo de inimigo.
— Meu nome é Ayanokoji. Sou da sua classe. Só perguntei porque pareceu que havia algum problema.
Ao ouvir isso, o garoto de cabelo vermelho relaxou um pouco e baixou o tom de voz.
— Ah. É, lembro de você. Esqueci meu cartão de estudante. Esqueci que ele meio que vira nosso dinheiro a partir de agora também.
Olhei para as mãos vazias dele. Os copos de macarrão já haviam sido devolvidos às prateleiras. Ele começou a sair, provavelmente voltando ao dormitório, onde devia ter esquecido o cartão. Para ser sincero, o fato de o cartão de estudante servir como meio de pagamento ainda não tinha caído completamente a ficha para mim.
— Posso pagar pra você. Digo, seria chato ter que voltar até o dormitório só por isso. Eu não me importo.
— Verdade. Seria bem chato mesmo. Valeu.
A loja não ficava tão longe dos dormitórios, mas quando ele voltasse, provavelmente já haveria uma longa fila de alunos comprando almoço.
— Meu nome é Sudou — ele disse. — Valeu por me ajudar. Fico te devendo essa.
— Prazer, Sudou.
Ele me entregou o copo de macarrão, e eu fui até o dispenser de água quente. Após observar nossa breve interação, Horikita suspirou, incrédula.
— Você já está bancando o capacho desde o início. Pretende virar servo dele? Ou está fazendo isso para conseguir amigos?
— Não fiz por querer amigos. Só quis ajudar. Não é nada demais.
— Você não parece ter medo.
— Medo? De quê? Porque ele parece um delinquente?
— Uma pessoa normal manteria distância de alguém assim.
— Talvez. Mas ele não me parece uma má pessoa. E você também não parece estar com medo, Horikita.
— Quem costuma evitar gente assim são pessoas indefesas. Se ele agisse com violência, eu poderia rebatê-lo. Por isso não me afasto.
As palavras de Horikita eram sempre um pouco difíceis de compreender. Para começar, o que exatamente ela queria dizer com "rebatê-lo"? Será que ela andava com spray de pimenta para afastar pervertidos ou algo assim?
— Vamos terminar as compras. Vamos atrapalhar os outros alunos se ficarmos enrolando — disse ela.
Finalizando, aproximamos nossos cartões de estudante da máquina ao lado do caixa. Já que não precisávamos lidar com troco, a transação foi rápida.
— Dá pra usar como dinheiro mesmo… — murmurei.
O recibo mostrava o preço de cada item e a quantidade de pontos restantes. O pagamento havia sido concluído sem problemas. Derramei água quente no macarrão instantâneo enquanto esperava Horikita. Achei que seria complicado, mas abrir a tampa e despejar água até a linha foi simples.
De qualquer forma, essa escola era estranha.
Que mérito cada aluno poderia ter para justificar uma mesada tão alta? Considerando que havia cerca de 160 alunos no nosso ano, eram aproximadamente 480 estudantes no total. Só isso já significava 48 milhões de ienes por mês. Em um ano, 560 milhões. Mesmo para uma escola financiada pelo governo, parecia um exagero.
— Como será que a escola se beneficia dando todo esse dinheiro pra gente?
— Não sei. O campus já tem mais do que infraestrutura suficiente para o número de alunos, e eu não acho que seja necessário distribuir tanto dinheiro. Alunos que deveriam estar estudando podem acabar se acomodando.
Talvez fosse algum tipo de recompensa por termos passado no exame de admissão. Um incentivo poderia, de fato, aumentar a motivação dos estudantes. No entanto, a escola simplesmente deu 100.000 ienes para cada um, sem condição alguma.
— Não vou te dizer o que fazer, mas acho melhor evitar desperdícios. Hábitos de gasto irresponsáveis são difíceis de corrigir. Quando alguém se acostuma a uma vida fácil, passa a querer cada vez mais. E quando perde isso, o choque pode ser grande — disse Horikita.
— Vou ter isso em mente.
Eu realmente não pretendia gastar dinheiro com besteiras, mas ela tinha razão. Depois de pagar e sair da loja, encontrei Sudou sentado do lado de fora, me esperando. Quando me viu, acenou discretamente. Acenei de volta, me sentindo levemente constrangido, mas feliz.
— Você vai mesmo comer aqui? — perguntei a ele.
— Claro. Isso é o básico do bom senso.
A resposta direta de Sudou me deixou confuso. Horikita suspirou, exasperada.
— Estou indo embora. Se ficar mais tempo aqui, vou perder a dignidade.
— Como assim, "dignidade"? Somos só estudantes do ensino médio. Pessoas comuns. Ou vai dizer que você é filha de alguma família nobre ou algo assim?
Horikita não se abalou com o tom agressivo de Sudou. Irritado, ele largou o copo de macarrão no chão e se levantou.
— Hã? Ei, escuta quando alguém fala com você! Ei!
— Qual é o problema dele? Ficou irritado do nada — disse Horikita para mim, ignorando Sudou. Isso foi demais para ele, que começou a gritar.
— Ei, vem aqui! Vou arrancar esse ar de superioridade da sua cara!
— Olha, eu admito que a Horikita tem uma atitude ruim, mas você está indo longe demais.
Era claro que a paciência de Sudou tinha acabado.
— Hã? Como é que é? Ela tem uma atitude infantil e irritante. Isso é péssimo, ainda mais pra uma garota!
— Pra uma garota? Esse pensamento é meio antiquado. Ayanokoji, aconselho você a não ser amigo dele — disse Horikita. Em seguida, virou as costas para Sudou.
— Ei, espera! Sua garota de merda!
— Calma — segurei Sudou quando ele realmente tentou agarrar Horikita.
Ela seguiu em direção aos dormitórios sem parar ou olhar para trás.
— Qual é o problema dela? Droga!
— Existem muitos tipos diferentes de pessoas, sabia?
— Cala a boca. Eu odeio esse tipo metido e certinho.
Ele continuou me encarando. Sudou pegou seu copo de macarrão de novo, arrancou a tampa e começou a comer. Fazia pouco tempo que ele também tinha arrumado confusão no caixa. Provavelmente tinha pavio curto.
— Ei, vocês são do primeiro ano? Este é o nosso lugar.
Enquanto Sudou sugava o macarrão, três garotos nos abordaram. Pareciam ter saído da mesma loja e carregavam o mesmo tipo de macarrão instantâneo.
— Quem são vocês? Eu já estava aqui. Vocês estão no caminho. Caiam fora — rosnou Sudou.
— Ouviram isso? "Caiam fora", ele disse. Que pirralho arrogante do primeiro ano.
Os três riram na cara de Sudou. Ele se levantou de repente, arremessando o copo de macarrão no chão. Caldo e macarrão espirraram por todo lado.
— "Pirralho do primeiro ano", é? Tá tirando com a minha cara, é isso?!
Sudou realmente tinha o pavio curto. Pelo que dava pra ver, era do tipo que parte pra ameaça com qualquer provocação.
— Você é bem valentão pra alguém que tá falando com veteranos do segundo ano. A gente já deixou nossas mochilas aqui, tá vendo?
Ploc! Ao dizer isso, os veteranos largaram as mochilas no chão e caíram na risada.
— Viu? As nossas coisas estão aqui. Agora, deem o fora — disse um deles.
— Você tem muita coragem, otário.
Sudou não recuou, mesmo em desvantagem numérica. Parecia que os socos iam começar a qualquer instante. E eu, obviamente, não queria estar no meio.
— Uau, que medo. De que turma vocês são? Espera, deixa pra lá, acho que já sei. Vocês são da Classe D, não são?
— E daí? — retrucou Sudou.
Os veteranos trocaram olhares e começaram a rir alto.
— Ouviram isso? Ele é da Classe D! Eu sabia! Estava na cara!
— Hã? O que vocês querem dizer com isso? Ei!
Enquanto Sudou gritava, os garotos apenas sorriram e recuaram alguns passos.
— Ah, coitadinhos. Como vocês são "defeituosos", vamos deixar passar só hoje. Vamos, pessoal.
— Ei, não fujam! Ei! — gritou Sudou.
— Sim, sim, continua latindo. Vocês vão estar no inferno logo, logo.
No inferno?
Eles pareciam calmos e confiantes. Fiquei pensando no que queriam dizer com aquilo. Antes, eu achava que essa escola seria cheia de jovens nobres e refinados, mas parecia haver muitos briguentos e barra-pesadas como Sudou — e como aqueles veteranos.
— Ah, que saco! Se fossem veteranas legais ou garotas bonitas, teria sido ótimo. Mas não. Tinha que ser aqueles idiotas irritantes.
Sudou não se deu ao trabalho de limpar a bagunça. Enfiou as mãos nos bolsos e começou a voltar. Olhei para a parede ao lado da loja de conveniência e notei duas câmeras de segurança.
— Isso pode causar problemas depois — murmurei.
Com relutância, me agachei, peguei o copo e comecei a limpar a sujeira. Pensando bem, assim que aqueles alunos do segundo ano descobriram que Sudou era da Classe D, a atitude deles mudou. Embora isso me incomodasse, eu não conseguia explicar o motivo.
*
Por volta da uma da tarde, voltei para o dormitório, que seria minha casa a partir daquele dia. Na recepção, recebi um cartão-chave para o Quarto 401 e um manual com as regras do dormitório, então peguei o elevador. Folheei rapidamente o manual, que continha apenas as informações mais básicas necessárias para o nosso cotidiano. Estavam listados os dias e horários para descarte de lixo, um aviso sobre evitar barulho excessivo, além de notas sobre não desperdiçar água ou eletricidade, e assim por diante.
Então, eles não impõem restrições no uso de eletricidade ou gás?
Eu tinha presumido que a escola descontaria esses custos dos nossos pontos. Essa escola realmente se esforçava para oferecer um sistema perfeito aos seus alunos. No entanto, fiquei um pouco surpreso ao descobrir que os dormitórios eram mistos. Afinal, isso ainda era um colégio, e as regras afirmavam que relacionamentos românticos inadequados eram desaprovados. Em resumo, sexo era estritamente proibido… obviamente. Digo, nem mesmo um membro do clero diria que se envolver em atividades sexuais ilícitas estava tudo bem.
Embora eu duvidasse que estudantes tão mimados pudessem se tornar adultos responsáveis, seria sábio aproveitar a situação da melhor forma por enquanto. Meu quarto tinha cerca de oito tatames de largura. Além disso, embora fosse um dormitório, era a primeira vez que eu viveria sozinho. Decidi que não teria contato com o mundo exterior até a formatura. Considerando minha situação, acabei sorrindo sem querer.
A escola ostentava uma alta taxa de empregabilidade após a graduação, e suas instalações e serviços estudantis eram incomparáveis em todo o país, tornando-a o colégio mais prestigiado do Japão. No entanto, achei tudo isso irrelevante. Eu havia escolhido essa escola por um motivo fundamental.
Nesta escola, ninguém podia entrar em contato com os alunos sem permissão — nem amigos, nem mesmo familiares próximos. Eu valorizava muito isso. Eu estava livre. Em inglês, chamariam de "freedom". Em francês, de "liberté".
Liberdade não é simplesmente a melhor coisa? Quando eu quisesse comer algo, poderia comer. Eu quase não queria me formar. Antes de ser aceito, honestamente pensei que estaria bem de qualquer maneira, que a diferença entre passar ou falhar seria trivial. Mas, naquele momento, meus verdadeiros sentimentos transbordaram. Eu estava feliz por ter sido admitido aqui.
Nenhum olhar ou palavra de outra pessoa me alcançaria. Eu poderia recome— não. Eu poderia começar uma vida completamente nova. Uma nova existência. Decidi aproveitar meu tempo aqui ao máximo, mas sem chamar atenção. Ainda de uniforme, mergulhei na cama já arrumada. No entanto, eu estava longe de me sentir cansado. Estava tão incrivelmente animado com minha nova vida que não conseguia me acalmar. Meus olhos permaneceram bem abertos.
ENTRE NO DISCORD DA SCAN PARA FICAR POR DENTRO DOS PROXIMOS LANÇAMENTOS DE COTE!
CAPÍTULO ATUALIZADO!
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