Volume 3

Round 2

 

Primeiro dia <A> Quarto de [Kazuki Hoshino]

A primeira coisa a entrar em meu campo de visão é o teto branco de concreto e a lâmpada presa ao mesmo. Me levanto imediatamente ao me deparar com esse ambiente desconhecido.

— … Que lugar é esse?

Por que estou neste lugar? Tentando deixar minha confusão de lado, começo a procurar por minhas memórias para me lembrar como cheguei aqui.

Fui dormir na minha cama como sempre. Não me lembro de ter me movido depois daquilo. Também não me lembro de ter estado em qualquer outro lugar, ou sequer ter encontrado alguém.

Checo o quarto, revisto o conteúdo de uma mala colocada sob a mesa, e sou informado que estou em um jogo mortal, por um urso verde — Noitan — que aparece do nada, dizendo «Bom – dia».

Este é o feito de uma ‘caixa’.

Portanto, Maria está aqui.

 

Primeiro dia <B> Sala de Reunião

O cenário muda repentinamente. Primeiro, tudo fica branco. Um branco nem um pouco natural, que me faz sentir como se estivesse em um hospital recém-construído, porém vazio, sem qualquer médico, enfermeira ou paciente.

Olho para a pessoa que está mais próxima de mim.

— …Daiya.

— Há quanto tempo, Kazu.

Daiya, que estava desaparecido, me cumprimenta naturalmente, como se tivéssemos acabado de nos encontrar após as férias de verão. Ele continua falando, sem se importar com minha confusão.

— Fique grato, Kazu! Acabo de te salvar.

— Me salvar?

Ele aponta o dedão para uma garota com cabelos na altura dos ombros.

— Aquela garota estava prestes a te derrubar e ameaçá-lo com uma faca!

— Eh…!

Arregalo meus olhos e me foco nela. O urso verde pode ter dito que íamos lutar até a morte, mas já começou…?

— Ei, Oomine-kun. Se falar dessa maneira, vai causar um mal-entendido! — Ela reclama. Já ouvi essa voz em algum lugar.

— Mal-entendido? E por acaso disse algo errado?

— Calado. É óbvio que você tem más intenções. Apenas conclui que aquela era uma medida necessária a ser tomada.

Agora me lembro, ouço essa voz durante os anúncios por rádio em nossa escola. Ela deve ser a presidente do conselho.

— Oh, uma medida necessária? Não me importo, mas se quiser ir em frente com isso, apenas levantará a suspeita dos outros e acabará em desvantagem, sabia? Se estiver assustada, então apenas seja honesta consigo mesma e comece a tremer!

Ela parece um pouco surpresa ao ouvir as palavras do Daiya.

— …Bem. Se fingir de durona deve ser um dos meus maus hábitos.

Ela está assustada, mesmo mantendo essa compostura…? Humm, isso é uma piada, certo?

— Se precisar de um exemplo de como expressar medo naturalmente, veja só, essa garota agarrada em você, é perfeita!

Ao ouvir isso, a garota de cabelos escuros do lado da kaichou se encolhe tanto, que chega a dar pena. Kaichou acaricia gentilmente a cabeça dela, dizendo:

— Não se preocupe.

…Ela está completamente pálida. Não está um pouco assustada demais, considerando que nada aconteceu ainda?

Mas… isso meio que é adorável. Percebo que, apenas pensar dessa forma é imprudente, e posso estar subestimando o perigo da situação. Mas meu instinto protetor toma conta de mim, como se estivesse vendo um pequeno animal. Esse é um tipo de charme que a Maria não tem…

— Kazuki.

— …Ughh!

Ce…certo. Devia saber que Maria está aqui, fui descuidado.

— O que esse grito estranho deveria significar?

— Na…nada, Maria — viro meu rosto, para fugir do olhar carregado de suspeita dela.

— Hmm, tanto faz… percebe a situação em que estamos? Estou impressionada por você estar tão relaxado…

— De… desculpe.

— Não é hora para ficar se encantando com uma garota.

— …

Então ela percebeu que fiquei um pouco atraído pela garota de cabelos escuros. Ao me ver em silêncio e escondendo meu rosto, Maria retira um de seus sapatos e pressiona a sola contra o meu rosto. Hum, isso dói, e é bastante desconfortável. Com a sola do calçado pressionado em meu rosto, Maria sussurra no meu ouvido:

— Você percebe que essa situação foi criada com uma ‘caixa’, certo…?

…Aah, certo. Essa situação só é possível com o uso de uma ‘caixa’. O que significa que é obra do Daiya. E mesmo assim, ele está agindo como se não soubesse nada sobre essa ‘caixa’.

— Bom dia. …Oh, temos três gatas! Sorte minha!

O sexto participante chega, igualando o número de pessoas e cadeiras. Com isso, os jogadores que vão «matar uns aos outros», como Noitan explicou, se reúnem.

Tenho algum problema para acompanhar o ritmo da conversa, mas como proposto pelo estudante de cabelos castanhos, que chegou por último, decidimos nos apresentar primeiro.

O garoto de cabelo castanho é Koudai Kamiuchi. A garota que estava para me ameaçar com uma faca é a presidenta do conselho estudantil, Iroha Shindou. E finalmente, a garota de cabelos escuros se chama…

— …Me chamo Yanagi Yuuri.

 

Só por ouvir esse nome, meu raciocínio trava.

— …Eh? Humm, po… por acaso disse algo estranho?

— Nã…não se preocupe! É só que conheci alguém com o mesmo sobrenome.

Ela me observa, perplexa, enquanto chacoalho minhas mãos freneticamente.

— Posso perguntar quem é esse conhecido?

— E… err…

Tento me lembrar daquela pessoa…

— …Ah.

De repente, as palavras que Daiya me disse na cafeteria da escola, voltaram a aparecer na minha mente.

«Você quer continuar procurando por algo ao que se apegar. Hmpf, mesmo se aceitasse essa resposta, ainda sobraria uma pergunta. Por que você se tornou assim?»

Entendo. Naquele momento, a pessoa por trás da névoa era…

— …Uma colega de classe do ensino fundamental.

«Yanagi Nana»

Ao me lembrar do nome dela, chacoalho minha cabeça desesperadamente. Não quero me lembrar dela. As memórias deveriam permanecer esquecidas.

«Yanagi-san», meu primeiro amor.

— Oh, uma colega de classe? Então, será que poderia manter alguma afinidade por mim?

Yuuri-san… usar Yanagi-san seria confuso demais… inclino a cabeça levemente à pergunta.

— Eh? Ah, sim, claro… espero que nos demos bem.

— Eu também.

Yuuri-san expressa um sorriso charmoso. Novamente, não posso evitar em perceber o quão adorável ela é.

— Que cara alegre é essa, Kazuki?

Me viro rapidamente, Maria está me encarando com os olhos entreabertos.

— E… eu não estou fazendo uma cara alegre…

— Sim, está. Sua fisionomia me diz que está feliz em conversar com uma garota bonita. Que cara estúpida…

— Ma… mas, você também é bonita, certo?

— …Para que serve essa adulação? Não ache que vou cair nessa!

Nesse ponto, Yuuri-san interrompe nossa discussão.

— Hu… humm… eu não sou bonita, sério…

— Isso não é verdade. Você é linda!

— E… eu…

Yuuri-san cora como um tomate. Enquanto estou observando essa reação, sem entender seu significado, repentinamente sinto um impacto na minha nuca.

— A…Aii!

Ao me virar, percebo Kamiuchi-kun observando o próprio punho.

— Hein?

— Pode não ter sido intencional, mas de alguma forma fiquei irritado para caralho.

Desculpe!

Quando seguro minha cabeça, completamente confuso, Maria deixa escapar um suspiro.

— Sério, esse paquerador cabeça oca realmente acaba com a tensão.

— …Que cruel.

— Bom, de qualquer forma. Isso torna as coisas mais fáceis. Vamos ao assunto principal.

Dizendo isso, Maria encara Daiya com uma carranca.

 

Qual o significado de tudo isso, Daiya Oomine?

 

Com essas palavras, o clima tranquilo desaparece. Os olhares de todos se focam no Daiya. Ele não demonstra qualquer confusão ao ser acusado. Não, ele mostra um sorriso desafiador.

— …Eh? — Yuuri-san, que aparentemente está tendo dificuldade em acompanhar o desenvolvimento, sussurra sem perceber. — Oomine-san… fez isso…?

— O que vou dizer pode parecer absurdo, mas vocês acreditarão em mim?

Dessa vez, Yuuri-san apenas pisca, surpresa pelas palavras da Maria. É kaichou quem começa a falar.

— Aah… Otonashi-san, desculpe, mas decidiremos por nós mesmos se acreditamos ou não! Você não pode nos forçar, dizendo «acreditem em mim!»

— Eestá certa. Mas preciso pedir isso. É um tópico que me força a pedir sua confiança logo de início.

Kaichou espreme os lábios e concorda

— Entendo.

— Vamos ver, certo, vou começar explicando o que é uma ‘caixa’. Muito bem, ‘caixas’ são…

Com aquele prelúdio, Maria começa a explicar as ‘caixas’. Que uma ‘caixa’ é algo que garante ‘desejos’. Que eles acabaram envolvidos nessa situação por causa disso. Que nós três sabemos sobre as ‘caixas’. E finalmente, que o ‘portador’ dessa ‘Game of Idleness’ é Daiya Oomine.

Eles nos ouvem atenciosamente.

 

— …Isso realmente parece absurdo.

Kaichou franze a testa, como fez durante toda a explicação da Maria.

— Bom, esse negócio de ‘caixa’ pode parecer absurdo, mas então, nossa situação é mais do que absurda o bastante, também. A ponto de eu chegar a acreditar, que isso possa ser verdade.

— Então acredita em nós?

Quando pergunto, kaichou, por hábito, espreme os lábios novamente e diz:

— …Não, apenas “pode ser verdade”. Afinal, se razões absurdas fossem aceitáveis apenas por causa de uma situação absurda, poderia dizer qualquer coisa, certo?

— Entendo…

Abaixo minha cabeça, então kaichou coça a cabeça e continua.

— …Bem, mas se vocês realmente estivessem tentando nos enganar, usariam uma mentira mais realista. Além disso, responderam todas as nossas perguntas sem hesitar e até mencionaram os aspectos duvidosos vocês mesmos. Então diria… hhmm, meio-a-meio. …O que você acha, Kamiuchi-kun?

— Não consigo acreditar neles — ele nega imediatamente — Muito mais do que eles disseram, me é suspeito a forma como parecem cooperar. Quero dizer, eles também já não se conheciam desde o começo?

— Ma… mas nós não tivemos tempo de combinar nada… — Faço uma objeção por reflexo.

— Talvez. Mas não é possível que você poderia, de alguma forma, ajustar sua história para combinar com a da Maricchi, como vocês dois já se conhecem? Além disso, no pior caso é possível que vocês três sejam os responsáveis disso tudo, não é mesmo?

— Claro que não!

— Hoshino-senpai, por favor, não fique irritado. Só quero dizer que não podemos acreditar na sua história imediatamente, já que parecem estar operando juntos desde o começo.

Kaichou parece ter concordado, dizendo:

— Você tem um ponto.

— E quanto a você, Yuuri?

— …Humm, me desculpem, mas… não consigo acreditar que essas ‘caixas’ existam. Sinto muito.

Acho que a hesitação dela, não é por falta de confiança em sua opinião, mas por não estar acostumada a rejeitar a opinião dos outros.

— Oh, Yuuri-chan, você ajustou sua resposta com a minha porque quer me atrair, certo?!

— Eh…? Nã… não…

— Uhihi, está corando por causa de uma piada, que adorável!

Kaichou interfere, como se estivesse protegendo a Yuuri-san, que está corando ainda mais.

— Certo, certo, não dê em cima da Yuuri.

— Kaichou, está com ciúmes da Yuuri-chan, porque não estou dando em cima de você?

— Sequer conto como “dar em cima”, se vier de alguém como você.

— Nossa! Que cruel! Na verdade, tenho um monte de fãs!

Kaichou suspira, o que significa que ela já se cansou disso, e volta ao assunto.

— Por hora, vamos deixar o assunto das ‘caixas’ de lado, tudo bem? Yuuri e Kamiuchi-kun, por favor, não ignorem completamente essa história considerando que é absurda, procurem estar conscientes dela. Fazendo isso, posteriormente poderemos decidir se acreditamos ou não de maneira mais objetiva.

Os dois concordam obedientemente. Maria diz:

— Bem, é um resultado sólido — mas está com uma expressão azeda, contrastando com suas palavras.

…Bom, é o mesmo para mim. Por um lado, me sinto desmotivado por eles não terem acreditado, mas por outro, posso entender suas dúvidas.

— …Kaichou, o que podemos fazer para acreditar em nós…?

Ela responde imediatamente, quando pergunto, nervoso.

— Nos mostrem com suas ações que são dignos de nossa confiança. Podemos não conseguir acreditar completamente nessas ‘caixas’, mas se fizerem isso, iremos no mínimo ouvir sua sugestão, sobre como resolver essa situação.

Mais fácil dito, do que feito.

— Hum, especificamente, como podemos…

Sou interrompido.

«Yaayaayaa – parece – que estão falando – de algo problemático. – Mas vou contá-los – sobre algo tão terrivel – que irá – fazô-los esquecer desse assunto!»

 

«Então –desejo a todos vocês – uma boa luta! Só não terminem – o jogo de – uma forma chata – como todos se tornarem múmias – ok?»

Noitan desaparece, após explicar as regras de [Kingdom Royale].

— Diga, Otonashi-san.

A atitude da Kaichou muda um pouco, após ouvir essa história perturbadora.

— Se o que você disse for verdade, nós podemos sobreviver ao [Kingdom Royale] por outros meios, que não, vencer o jogo, certo?

— Sim.

Kaichou está levando o que Maria diz a sério…Talvez ela vá acreditar em nós mais cedo do que pensamos. Afinal, a Kaichou… não, os outros também… não querem participar de um jogo assassino como esse. Quanto mais eles hesitarem, mais próximos do tempo limite ficaremos, o que fará alguém perder a cabeça. O que significa o início do jogo. Eles também querem fazer algo, antes que isso aconteça. Portanto, se descobrirem outra solução, irão usá-la.

— Devo entrar em detalhes? — E Maria é capaz de mostrar outra solução a eles.

— …Certo, vou tentar ouvir. O que devemos fazer?

— Se pudermos tomar a ‘caixa’ do Oomine, seremos libertados.

Com isso, todos os olhares se focam no Daiya. Vendo nossa atitude, ele estala a língua, irritado.

— Diga, Oomine-kun, você não irá se opor ao que a Otonashi-san está dizendo?

Como se quisesse rejeitá-la, Daiya vira a cabeça para o lado e se mantém em silêncio.

— …Na verdade, só posso concordar que Oomine-senpai é suspeito.

Kamiuchi-kun diz com uma voz um pouca fria. Aparentemente, ele fica irritado. Então ele se vira e sorri para a Yuuri-san.

— É claro, você também concorda, certo, Yuuri-chan?

— Eh?!

Sendo chamada do nada, Yuuri-san arregala os olhos.

— Hu… humm… bem…

Ela murmura sem ser clara, mas julgando pelas espiadas dela em direção ao Daiya, parece ter a mesma opinião que o Kamiuchi-kun. A atmosfera na sala está completamente em oposição ao Daiya.

— Aah… — nessa situação, Daiya deixa escapar um suspiro profundo. — Só tem idiotas facilmente manipuláveis aqui…

Mas mesmo esse insulto não muda o clima.

— Que tal apresentar algum argumento, antes de chamar os outros de idiotas?

Kaichou responde calmamente. Daiya parece ter ficado impressionado, e dá uma gargalhada.

— …O que? Por que você está rindo?

— Apenas pensei em quão fácil seria aniquilar todos vocês, já que parecem acreditar facilmente em qualquer um. Realmente são os melhores alunos de suas turmas? Isso não é verdade, certo?

— Pare logo com essa atitude enigmática e mostre algum argumento!

— Sinto muito, mas esperarei até o fim dos [Encontros Secretos].

— Hah? O que você está dizendo? Então você quer nos pedir tempo, até você conseguir montar uma boa defesa, certo?

— Não sei que posição devo tomar ainda! Tem alguém que quero consultar sobre a situação.

— Não me importo, mas você só vai levantar suspeitas desse jeito, beleza?

Daiya não responde.

 

Primeiro dia <C> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«Sua [classe] é [Revolucionário].»

 

Congelo por algum tempo, ao ver essas letras.

— …Eh?

Sou o [Revolucionário]? A [classe] mais perigosa, [Revolucionário]…? Se o [Kingdom Royale] começar, sem dúvidas serei o primeiro alvo. Já que sou obviamente o mais perigoso, podendo matar sozinho.

…Não, vamos pensar ao contrário. Sendo o [Revolucionário], significa que não serei [assassinado]. Considerando as coisas dessa forma, posso estar surpreendentemente seguro. E isso não é tudo. Como [Revolucionário], que é o mais provável a iniciar o [Kingdom Royale], sou capaz de prevenir o começo do jogo. Portanto, a situação se torna mais segura. Certo. Me reafirmo dessa forma e respiro fundo para acalmar meu coração acelerado.

«Ya ya ya – kazuki-kun – é hora – do – [Encontro Secreto]!»

— HII!

Esse mascote sempre aparece nos piores momentos. Não consigo deixar de pensar que ele está fazendo isso de propósito.

Após ouvir a explicação dos [Encontros Secretos] do Noitan, naturalmente escolho a Maria.

 

[Iroha Shindou] ->

[Koudai Kamiuchi]

15:40~16:10

[Yanagi Yuuri] ->

[Iroha Shindou]

16:20~16:50

[Daiya Oomine] ->

[Kazuki Hoshino]

15:40~16:10

[Kazuki Hoshino] ->

[Maria Otonashi]

15:00~15:30

[Koudai Kamiuchi] ->

[Yanagi Yuuri]

15:00~15:30

[Maria Otonashi] ->

[Daiya Oomine]

16:20~16:50

 

…Daiya me escolheu? O que significa que sou eu quem Daiya queria consultar?

…Tanto faz, meu encontro com a Maria vem primeiro.

 

Primeiro dia <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Maria Otonashi]

— Podemos ter tido mais sorte do que pensamos — Maria diz de repente.

— …Como?

— Porque conseguimos contar a eles sobre as ‘caixas’.

— …Eh? E teria algum motivo para não conseguirmos?

— Sim. Se tivéssemos contado depois da explicação do jogo, eles pensariam que estamos apenas tentando enganá-los para vencer o jogo. Só conseguimos contar porque eles ainda estavam em condições de ouvir calmamente.

Esse realmente pode ter sido o caso.

— Graças a isso, criamos uma chance de vencer. Quando o tempo limite se aproximar, eles não terão outra escolha a não ser acreditar em nós, já que somos os únicos que conhecem uma maneira de sair do jogo. Oomine provavelmente tentará resistir como fez agora a pouco, mas veja a personalidade dele. Ninguém o dará ouvidos.

Concordo. Se tivesse que escolher entre nós e Daiya, sinto muito, mas não escolheria o Daiya.

— …Maria.

— O que?

— Daiya é realmente o ‘portador’ dessa ‘caixa’?

Ela ergue uma sobrancelha.

— Ele é a única opção, considerando a situação, ou você discorda?

— Mas ele não impediu que a situação ficasse mais séria parando a Kaichou? Dessa forma ele nos deu a chance de falar sobre seriamente a ‘caixa’. Ele realmente teria feito isso, se planejasse começar o [Kingdom Royale]?

— …Bom, certamente. Mas duvido que ele tenha pensado nisso tudo. Ou talvez essa seja uma estratégia para nos pegar de guarda baixa?

— Humm.

— Bom, apesar de ser estranho, o próprio Oomine nos disse que é um ‘portador’. Quer prova melhor do que essa?

— …Acho que está certa.

— Bom, agora que você concorda, vamos organizar nossas ideias. Nosso objetivo é obter a ‘caixa’ do Oomine. Para isso, precisamos persuadi-lo. Mas não tem como ele concordar imediatamente.

Concordo em silêncio. Certo, agora vem o verdadeiro problema.

— Precisamos de tempo para persuadir o Oomine. E para garantirmos esse tempo, precisamos garantir que o [Kingdom Royale] não comece, não importa como.

— Então, o que devemos fazer?

— Como Shindou disse, devemos estabelecer uma relação de confiança mútua. Portanto, seria melhor se os jogadores com a habilidade de matar, se revelassem, especialmente o [Revolucionário]…

— Ah, esse sou eu.

— SÉRIO?!

— Si…sim — a empolgação dela me faz estremecer por um instante.

— Isso é ótimo. Afinal, isso quer dizer que o [Revolucionário] não irá possivelmente cometer o erro de matar alguém por falta de confiança. Além disso, se revelarmos isso no momento certo, podemos ganhar muita confiança.

…Então realmente foi uma vantagem, ter me tornado o [Revolucionário].

— Falando nisso, qual a sua [classe]?

— Sou o [Dublê].

— …Entendo.

Seríamos inimigos no jogo…

— Temos uma grande chance de vencer. Então… certo, minha preocupação é que o Oomine se alie a alguém para usar [Feitiçaria]…

— Tenho um [Encontro Secreto] com o Daiya depois disso, posso perguntar algumas coisas então! …Humm, só preciso convencê-lo a não iniciar o [Kingdom Royale] se possível, certo?

— …Sim. Mas seja cuidadoso! Não deve deixá-lo notar que você é o [Revolucionário].

 

Primeiro dia <C> [Encontro Secreto] com [Daiya Oomine], Quarto de [Kazuki Hoshino]

Não tenho intenção alguma, de jogar esse patético [Kingdom Royale].

É a primeira coisa que Daiya diz ao entrar no meu quarto.

— O que há com esses olhos arregalados?

— Nã… não, quero dizer…

O próprio Daiya, que supostamente é o ‘portador’, não quer iniciar o [Kingdom Royale]… isso faz algum sentido?

— Sua cara me diz que não acredita.

Como ele acerta, fico em silêncio.

— A resposta para a sua dúvida é simples. Significa que não sou o ‘portador’ dessa ‘caixa’ de merda. Uma ‘caixa’ com o propósito de fazer os outros jogarem um jogo mortal? Kuku… quão absurdo é isso? Não tem qualquer sentido na existência.

— … Também acho, mas…

— Então você está me insultando, indiretamente, dizendo que criei essa ‘caixa’, é isso?

— Não, não é…

Então, basicamente, o que Daiya quer dizer é que ele é um ‘portador’, não há dúvidas disso. Mas a ‘caixa’ que nos força a jogar [Kingdom Royale] não é a dele. Existe outro ‘portador’, dono dessa ‘caixa’.

— Mesmo assim, o que é essa ‘caixa’? Ela não parece permitir qualquer tipo de intervenção. Não consigo encontrar nenhuma falha, então o ‘portador’ parece tê-la dominado.

— Eh…?

Por que Daiya está dizendo algo que a Maria diria…?

— Ei, ei, por que a surpresa? Apenas pense por um instante! Otonashi pode sentir e intervir nas ‘caixas’ e conhece ‘O’ porque é uma ‘portadora’, certo? Sendo um ‘portador’, não seria estranho para mim ter as mesmas habilidades.

— Realmente…

— Que cara é essa? Para mim, você é muito mais anormal, já que consegue lembrar do ‘O’, mesmo que ele devesse se apagado completamente da sua memória, sabia?

— …Isso…

— …Não é verdade o caralho. Por sermos ‘portadores’ e usarmos as características das ‘caixas’, somos capazes desse tipo de coisa. Mas você não é um ‘portador’, é?

Não posso retrucar.

— …Em primeiro lugar, o que são essas ‘características’?

Daiya cruza os braços e responde, pensativo.

— …Essa é apenas a forma como me sinto, mas no momento em que alguém obtém a ‘caixa’, ele deixa de ser humano. Isso é porque esse alguém cruza os limites da raça humana, graças à ‘caixa’. E sem esses limites, o ‘portador’ também é removido do cotidiano. Essa é a característica natural de ser um ‘portador’.

Ao perceber que estou perplexo, Daiya franze a testa e adiciona:

— Porque você se move para um nível superior, se torna capaz de «ver» coisas que não podia antes! Não quero dizer que você possa visualmente ver as ‘caixas’ ou a existência de ‘O’, é apenas, você se torna capaz de percebê-los. Que nem quando você não percebe que têm um salão de beleza na vizinhança, até precisar cortar o cabelo, mesmo passando na frente todo dia.

…Ele realmente acha que consegue me fazer entender com isso?

— Então, por que você pode «ver» ‘O’?

— Como eu deveria saber? — Respondo, um pouco nervoso.

— …Kazu, apesar de ter devolvido, você chegou a tocar a ‘caixa’, certo?

É um incomodo responder, então apenas concordo de leve.

— Com isso, você aprendeu que, algo absurdo, como a ‘caixa’ que garante qualquer ‘desejo’, realmente existe. Aprendeu que não há limites. Que tal considerar a hipótese de ter sido removido pelo menos em parte naquele instante?

Daiya foca em mim.

— Mas você seria capaz de dominá-la. Por isso você ficou assim, apenas por tocar a ‘caixa’.

— Não seria! Eu sou… normal.

— Ah, não, você não é. Como disse antes, você está flutuando. Acima desse cotidiano.

— Não estou!

— Está. Pior, essa anomalia sua estava aí mesmo antes de tocar a ‘caixa’. Sua natureza lembra a nós, ‘portadores’, desde o princípio! Não… ao invés disso, você pode na verdade lembrar o próprio ‘O’.

— …Chega disso! — Grito. Não posso, de forma alguma, admitir ser parecido com um ser tão nojento.

Daiya continua me observando, e solta um suspiro após um tempo.

— Bom, esse assunto não importa agora, realmente. Certo, devo te convencer que não sou o ‘portador’ dessa ‘caixa’.

— …Não acho que posso acreditar em você.

— Vamos lá, não fique tirando conclusões precipitadas assim. Hmm… você acreditaria em mim se eu impedir o [Kingdom Royale] de funcionar?

— …O que você quer dizer?

— Se o [Kingdom Royale] é um jogo sobre «matar» e «enganar» uns aos outros, só preciso garantir que isso não possa acontecer! Dessa forma, o jogo não irá mais funcionar.

…Nós não queremos que o [Kingdom Royale] tenha início, então nosso objetivo combina com o dele… eu acho...

— Você acha que o ‘portador’ dessa ‘caixa’ desejaria que ela perca sua função?

— Acho que não… Err, espere um instante! Isso significa que você tem uma ideia de como impedir o [Kingdom Royale]?

— Sim.

Então ele começa:

 

— Encontrar o [Revolucionário].

 

— …

Prendo minha respiração, sem perceber.

De alguma forma, consigo impedir que minha perturbação apareça em meu rosto. Foi por pouco. Um pequeno erro, e ele teria notado que sou o [Revolucionário].

— Por que você pode impedir o jogo, encontrando o [Revolucionário]?

Consigo perguntar isso naturalmente. Daiya responde, sem parecer suspeitar da minha atitude.

— Porque se conseguir impedi-lo de executar [Assassinato], o jogo não irá começar. Então, preciso apenas encontrar o [Revolucionário], e ameaçá-lo, assim ele não poderá usar [Assassinato]. Só com isso, posso alcançar meu objetivo.

Meu coração pula, ao ouvir a palavra «ameaçá-lo», mas finjo estar composto, e pergunto:

— Você disse “não poderá usar”… mas como…?

— Existem vários meios, não é mesmo? Por exemplo, dizendo que revelarei que ele é o [Revolucionário], se ele matar alguém. Ele não tem mais chances de vencer, se a [classe] dele for revelada. E não tem um idiota que começaria a matar por nada.

— Mas e se, apenas considerando, você conseguir encontrar o [Revolucionário] e der um jeito de impedi-lo de usar [Assassinato], e [Feitiçaria]…? Não é possível que alguém morra por causa dessa habilidade, o que também daria início ao jogo?

— Você não precisa se preocupar com isso — ele declara, despreocupado.

— Por quê?

Porque sou o [Feiticeiro].

…Eh? Ele realmente não está preocupado em me contar sua [classe] assim?

— Se… sério…? Ou você está tentando me enganar?

— Você acha que teria alguma vantagem no jogo, ao te contar uma mentira como essa?

— Bem…

Tento pensar em algo, mas nada vem à mente.

— Meu objetivo é fugir dessa ‘caixa’ inútil. Para isso, não tenho outra escolha, senão cooperar com você e Otonashi! Por isso não estou escondendo minha [classe] de vocês.

— …Tem certeza que não vai se arrepender? Nossas [classes] podem estar opondo a sua…

— Vocês sabem que podemos resolver isso destruindo a ‘caixa’, as [classes] desse jogo realmente importam?

… Pode ser verdade, realmente.

— Não tenho motivos para hesitar, se vocês perceberem que não sou o ‘portador’ dessa ‘caixa’! …Baseado nisso, deixe-me perguntar…

Ele pergunta diretamente.

 

— …Você é o [Revolucionário], não é mesmo?

 

Por causa da minha reação, naquele instante. Daiya consegue confirmar minha [classe]. Apesar de que ele já parecia estar quase certo dela, por causa das minhas reações anteriores. Então, agora estou sob o controle de Daiya Oomine.

Bom… não posso fazer nada, eu acho. Ninguém seria capaz de manter sua [classe] em segredo dele.

 

Primeiro dia <D> Sala de Reunião

Daiya pode ter sido sincero ao dizer que pretende impedir o [Kingdom Royale] de funcionar.

— Se vocês não querem que esse jogo mortal comece, todos devem revelar suas [classes].

Ele mesmo faz essa proposta. Se todos revelarmos nossa classe agora, ele não pode mentir. A [classe] que ele vai revelar é até mesmo a de [Feiticeiro], que tem a habilidade de matar.

— …Essa é a conclusão que você chegou, após consultar o Hoshino-kun? — É Kaichou quem quebra o silêncio.

— Exato. Não tenho qualquer intenção de obedecer esse jogo.

— É bom ouvir isso, mas não acho que essa seja uma boa ideia, sabia? Por exemplo…

— Só para sua informação: se alguém não aceitar minha proposta, vou concluir que essa pessoa tem a intenção de participar no [Kingdom Royale].

— Não decida isso por conta própria!

— Conta própria? Mas só posso decidir por conta própria.

Kaichou franze a testa.

— Ma… mas, Iroha. Na verdade, estou planejando sugerir a mesma coisa, sabia?

— …Bem, tive a impressão de que você faria isso, durante nosso [Encontro Secreto].

Kaichou olha em nossa direção e pergunta:

— Vocês estão bem com isso? Se tiverem alguma objeção, apenas digam.

Ninguém fala nada. Pensei que Kamiuchi-kun fosse dizer algo, já que é uma proposta feita pelo Daiya, mas aparentemente ele fica em silêncio já que a Yuuri-san concorda.

— Hah… sério? Bom, acho que não posso ser a única a opor a ideia, já que isso…

— Então vamos anunciar nossas [classes], certo?

— Sim, claro.

Quando Kaichou desiste, Daiya nos entrega folhas de papel, que arranca do caderno que veio em sua mala, uma para cada um.

— Escrevam sua [classe] nela. Só há uma caneta, então faremos em sequência. Tenham certeza de garantir que ninguém possa ver, assim ninguém poderá trapacear. Quando terminar, virem a folha. Vamos desvirar elas todas ao mesmo tempo, quando eu der o sinal.

Daiya escreve primeiro, então Maria, eu, kaichou, Yuuri-san e Kamiuchi-kun também fazem como mandado e escrevem. Seis anotações, viradas para baixo, estão sobre a mesa.

— Certo, virem!

Todos viram. Começo a ler as [classes] escritas em cada folha. Maria é o «Dublê». Kaichou é o «Rei». Yuuri-san é o «Príncipe». Kamiuchi-kun é o «Cavaleiro». E Daiya é… achei que ele fosse tentar algum truque, mas ele escreveu «Feiticeiro», como havia me dito.

— …Hoshino-kun é o [Revolucionário], hã. …Hah, estou aliviada agora. Estava preocupada com o que fazer se fosse o Kamiuchi-kun.

— Ei, Kaichou, o que você quer dizer com isso!?

— Aah, bem, na verdade, foi exatamente o que eu disse.

Kamiuchi-kun mostra um sorriso amargo — Uhee…

— Que tal, Kaichou-sama? Esse resultado a tranquiliza, não?

— …Bom, sim. É tranquilizador, desde que não haja surpresas, tipo o Hoshino-kun ser secretamente um maníaco doentio.

— …Como assim… — aperto os lábios, mas Daiya ignora isso e continua:

— Além disso, tenho mais uma proposta. Recolherei as facas que foram dadas a cada um de vocês. Isso não irá prevenir violência completamente, mas é melhor que não fazer nada.

— Não me diga que você quer ter todas as facas para você? Se for isso sou contra. É perigoso demais você ser o único com algum poder enquanto não temos nada, senpai.

— Hmpf, só precisamos mantê-las no quarto de alguma outra pessoa, então.

Kaichou o interrompe;

— Não seria o quarto da Yuuri, ou do Hoshino-kun, as melhores opções? Bom, não me importo qual seja, então vocês decidam por conta própria.

— Huh? — Deixamos nossas vozes escapar simultaneamente, e nos entreolhamos, quando nossos nomes são citados do nada.

 

— Ah, por favor, vá em frente, Hoshino-san.

— Ah, não, por favor, você vá em frente, Yuuri-san.

— Não estou particularmente interessada…

— Nem eu.

— Acho que você poderia guardar elas para nós adequadamente…

— Ficaria mais tranquilo se você as guardasse, Yuuri-san.

— Mas…

— Você apenas precisa guardá-las, sério.

— Mas é o mesmo para…

— Certo, certo, vai ser a Yuuri.

Kaichou interrompe, batendo palmas e decidindo por conta própria.

— I…Irohaa~

— Quieta, está decidido! Todos, tragam suas facas para o bloco <B> amanhã. Yuuri irá recolhê-las. Tudo bem? Então, está feliz agora?

— Ainda não.

Kaichou deixa escapar um suspiro ao ouvir essa resposta.

— Muito bem, muito bem, o que vem a seguir, oh grande Imperador?

Daiya ignora completamente o sarcasmo dela, e continua.

— Com isso, [Kingdom Royale] não irá funcionar por algum tempo. Contudo, nosso objetivo não é apenas impedir o jogo, mas escapar dele. No final, isso é apenas um acordo temporário. Se as circunstâncias mudarem, não será mais efetivo.

— Bom, acho que sim. Então, qual a sua sugestão? Você tem alguma informação importante?

Eu sei como escapar desse jogo.

Não apenas a Kaichou, mas todos nós ficamos tensos.

…Daiya, não me diga…

Nós apenas precisamos destruir a ‘caixa’.

Exatamente o que temia. Daiya admite a existência das ‘caixas’ na frente de todos. Em uma condição em que ele é o principal suspeito.

— As ‘caixas’ que Maria Otonashi mencionou certamente existem. Se não puderem acreditar, pensem em ‘caixa’ como uma metáfora para o que nos colocou nessa situação. De qualquer forma, para cumprir nosso objetivo, só precisamos destruir a ‘caixa’. Podemos fazer isso, matando o seu ‘portador’.

— Mas a Otonashi-san não disse algo sobre você ser o ‘portador’?

— …Retiro isso por hora — Maria interrompe a discussão deles, com uma expressão dura.

— Oomine é o maior suspeito… isso não muda. Mas cheguei à conclusão de que ainda é muito cedo para desconsiderar outras possibilidades. Primeiramente, porque foi isso que senti durante o [Encontro Secreto], e segundo, as propostas do Oomine, sem dúvida, previnem a morte de alguém…Portanto, não posso dizer com certeza se ele é o ‘portador’.

Kaichou leva a mão a cabeça, sem esconder o espanto pela mudança de posição da Maria. Nem Maria, nem eu, sabemos se Daiya está ou não dizendo a verdade. Nós não sabemos o que Daiya planeja fazer sobre nós. Mas é certeza de que [Kingdom Royale] foi criado com uma ‘caixa’. Se eles puderem ao menos acreditar nisso, tenho certeza de que [Kingdom Royale] não irá começar. Então, poderemos nos unir e buscar uma solu…

 

Por favor, me deixem fora disso!

 

Meu pensamento otimista, foi interrompido abruptamente.

Todos os olhares se voltam para Kamiuchi, que diz isso:

— Por que você está seriamente considerando isso, kaichou? Não há necessidade, sério!

— …Por quê?

A pergunta dela, faz Kamiuchi mostrar um sorriso irônico, e declarar:

— Quero dizer… esses três já estão conspirando juntos, não estão?

E então… fico tenso. A despreocupação usual desaparece do rosto dele. Em seu lugar, há agora um rosto inexpressivo, radiando crueldade.

— Isso é… uma armadilha. Sim, uma armadilha. Obviamente, não temos qualquer pista de que tipo de pessoas são os ‘portadores’, certo? Isso significa que, se procurarmos pelo ‘portador’, não teremos outra escolha, a não ser confiar inteiramente no que esses três estão dizendo e agir baseado nisso. Entende o que isso significa?

Com um sorriso fraco, ele acrescenta.

— Eles podem… fazer alguém parecer ser o ‘portador’ que devemos matar.

O que… O que ele está dizendo…?

— Não possuímos qualquer intenção de matar o ‘portador’…

— …Cale a boca!

Um simples berro.

 

Só que, com um impacto tremendo. Percebo no mesmo instante, essa pessoa é… diferente. Ele vive em um mundo diferente do meu. E nesse mundo… violência existe.

Ninguém é capaz de falar. O que quebra o silêncio é o som do longo e profundo suspiro de Kamiuchi-kun. Após inspirar e expirar várias vezes, sua expressão retorna ao de sempre, despreocupada. Mas essa expressão não é mais o bastante para me tranquilizar, não como era antes.

Você também não acredita que essas ‘caixas’ existem, certo, Yuuri-chan?

Ouvi o som da garganta dela puxando mais ar do que o normal. Ele a está coagindo a concordar. Uma negação é inaceitável.

— …Eu…

Ganhar uma falsa legitimidade, para poder se livrar de nós, ao fazê-la assentir. Esse é o objetivo dele. Portanto, estará tudo acabado se Yuuri-san concordar. Mas para ela, é impossível. É impossível para uma garota tímida como ela, resistir a ele, nesse estado. Ela olha em minha direção rapidamente, com os olhos cheios de lágrimas, mas os desvia logo em seguida. Com os lábios trêmulos, ela murmura.

— …Sim, não consigo acreditar.

Aah, então é isso. Foi o que pensei, mas…

— …Mas, — ela continua — acho que podemos acreditar pelo menos em Hoshino-san. Portanto, não posso… acreditar que ele tentaria nos atrair para uma armadilha.

Ela não aceita. Ela diz claramente. Mesmo tremendo, com medo dele, ela ainda consegue resistir a opinião do Kamiuchi-kun. Ela me defende. Então ela se agacha, suas mãos próximas ao peito, respiração errática… aparentemente, esse é o resultado de usar toda a coragem que pôde juntar.

Kamiuchi-kun parece ter sido pego de surpresa por essa rejeição, e a observa com os olhos arregalados. Então, ele me lança um olhar afiado. Engulo um seco, me sentido como um criminoso, prestes a ser julgado.

— Bom, tenho que admitir que para mim Hoshino-senpai também parece ser uma boa pessoa.

E então, a hostilidade finalmente desaparece do olhar dele.

…Conseguimos…?

Yuuri-san ergue o rosto e olha para mim. Seu rosto tenso relaxa, ela me mostrou um sorriso. Assim, conseguimos manter a esperança de uma solução pacífica, graças a coragem da Yuuri-san.

 

Daiya, kaichou, Kamiuchi-kun e Maria voltam para seus quartos. Quando também estou para atravessar a porta, Yuuri-san segurou minha mão.

— Qual o problema?

Percebo assim que pergunto… As mãos dela estão tremendo.

— …Eu estava apavorada.

Ela sussurra, sem erguer o rosto.

— Ele era… assustador demais.

— Sim… Humm… Você praticamente nos salvou, Yuuri-san. Obrigado.

Tento confortá-la com um sorriso, mas o medo não desaparece de seu rosto.

— O [Encontro Secreto].

— …Eh?

— Estou com medo… do próximo [Encontro Secreto] com ele — ela está pálida, como na primeira vez que nos vimos.

— Vo… você não precisa se preocupar! Afinal, parece que o Kamiuchi-kun gosta de você, então…

— …É por isso que estou com medo!!

Ela ergue o rosto, e quase grita antes de abaixar o rosto de novo. Parece que ela se sente desconfortável com a própria voz alta.

— De…desculpe, não quis te abalar.

— Hm…hmm…

Qual o significado disso? [Encontro Secreto]… é sobre ficar sozinho com alguém naquele quarto que parece uma prisão. Já que Kamiuchi-kun parece gostar dela, não acho que ele iria matá-la…

— Ah…

Então percebo. Percebo do que ela está com medo. Notando meu entendimento, ela segura minha mão mais forte.

— …Estava falando sério, sabia?

— Eh?

— Eu realmente acho que podemos confiar em você, não falei aquilo apenas para acalmar o Kamiuchi-san.

O tremor dela fica ainda pior. Preocupado, tento olhar para o rosto abaixado dela.

— Estou com medo… estou com medo…!

Ela está chorando. Droga, o que devo fazer? Decidindo que pensar sobre isso não vai resolver nada, retorno o aperto das mãos trêmulas dela. Yuuri-san também colocou sua mão esquerda por cima da minha e segura com força.

— Ah…

De novo. Mais uma vez. Novamente, me lembro. Me lembro de «Yanagi Nana», mais claramente do que quando ouvi o sobrenome da Yuuri-san. Na verdade, me parece estranho, como pude esquecer completamente? Apesar de já ter passado dois anos desde então, não tenho sequer me lembrado da existência dela recentemente. Me esqueci dela, quase como se aqueles eventos nunca tivessem acontecido. Não me diga que o desejo que carreguei desde que a traí, «Quero me esquecer de Nana Yanagi», foi realizado?

Certo… substituindo ela com o meu dia-a-dia. «Pior, essa anomalia sua estava ai mesmo antes de você tocar a ‘caixa’» …Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Definitivamente não.

— …Me desculpe, Hoshino-san, realmente sinto muito… vou ser egoísta agora, mas por favor, me perdoe. Estou acreditando em você por conta própria. Portanto…

Ela diz. Yanagi-san diz.

— Portanto, por favor… não me traia.

Seu rosto em lágrimas… me faz lembrar do meu primeiro amor por alguma razão. E então, no momento em que penso que elas são parecidas, eu digo.

— Não vou te trair. Não vou mais te trair «Yanagi-san»!

 

Primeiro dia Quarto de [Kazuki Hoshino]

Quando retorno para o meu quarto, finalmente volto a pensar nela, depois de um longo tempo.

 

Yanagi Nana. Ela era minha colega de classe, meu primeiro amor e… a namorada do meu melhor amigo.

Apesar de ter o mesmo sobrenome, ela era completamente diferente da Yuuri-san. Se tivesse que descrevê-la em uma expressão, seria “criadora de problemas". Por exemplo, uma vez ela repentinamente decidiu raspar a sobrancelha durante o intervalo, ou a vez em que fez a sala ficar rosa com um extintor de incêndio… aprontou várias coisas desse tipo. As garotas a chamavam secretamente de «estranha».

Naturalmente, Yanagi-san era assustadora para mim, e sinceramente, não queria me envolver com ela. Acho que quase ninguém gostaria de se associar com alguém que tingiu o cabelo de loiro, usa uma saia longa tão fora de moda que impressiona até outras delinquentes, e fuma secretamente.

Mas tinha um “quase ninguém” próximo a mim.

«Kijima Touji», meu melhor amigo.

Touji era uma pessoa muito curiosa, seus olhos brilhavam sempre que encontrava algo desconhecido. Ele sempre assistia ao comportamento excêntrico dela com olhos radiantes. Talvez fosse natural para ele ser atraído por ela.

Yanagi-san o rejeitou quando ele começou a se aproximar dela. Mas na verdade, ela provavelmente esteve sempre desejando por alguém que se importasse. Finalmente ela aceitou a confissão do Touji, e eles viraram namorados. E assim que se tornaram namorados, ela mostrou sua verdadeira natureza. Isso é… a natureza de uma pessoa solitária.

Ela dependia do Touji. Mas o nível daquela dependência era simplesmente anormal. Não saia do lado dele, e ameaçava as garotas que se aproximavam dele, na tentativa de afastá-las. Por vontade dele, ela tingiu o cabelo de volta a sua cor preta natural, começou a usar saias normais e enterrou os cigarros no quintal.

Touji era tudo para Yanagi-san. Portanto, era incapaz de suportar quando ele, que era tudo para ela, não era capaz de responder completamente as suas expectativas, mesmo que fossem apenas palavras ou hábitos que ela não gostava. Ficava desproporcionalmente magoada pelos menores erros.

Às vezes era tão ruim, que ela chegava a cortar os pulsos. O único que podia ouvir as lamentações dela era eu. Suas ligações sempre começavam com sua voz de choro. Frequentemente me levava para lugares isolados e chorava.

No começo, apenas ouvia o que tinha a dizer. Mas gradualmente, ela começou a exigir mais conforto de mim. Me fez acariciar a cabeça dela, me fez abraçá-la, me fez dormir ao seu lado e me fez beber suas lágrimas. Me lembro dela dizer algo sem sentido como se acalmar ao ver meu rosto enquanto eu lambia suas lágrimas, embora se sentisse culpada por causa do Touji nesses momentos.

Certo, ela também dependia de mim.

Honestamente, aquilo era cansativo. Tiveram vezes que não respondi suas ligações, simplesmente porque era um incômodo. Considerando que até eu achava isso, Touji também se cansou dela rapidamente.

Após várias discussões sobre separação, eles finalmente terminaram de vez. Daquele dia em diante, ela passou a me incomodar todo dia. Enquanto, certamente, várias pessoas não sentem o gosto de lágrimas alheias durante toda sua vida, eu senti aquele gosto salgado tantas vezes, que cheguei a ficar enjoado dele. Mas suportava aquilo, porque sabia que era o único de quem ela podia depender.

Mas até mesmo eu estava no limite. Meu estomago doía por causa da minha irritação constante. Perdi a fome. Isso me deixava enojado… por que precisava continuar confortando uma garota que não era nem minha namorada?

Portanto, um dia disse a ela;

— Não consigo mais aguentar sua companhia.

Ela não me entendeu. Gradualmente, comecei a usar palavras mais rígidas para fazê-la entender minha intenção. Não consigo mais aguentar sua companhia, você é um incômodo! Só pensa em si mesma! Pare com isso! Você foi abandonada pelo Touji porque não consegue pensar nos outros! Não quero mais isso, não fique perto de mim, sua estranha…

E no dia em que a insultei dessa forma… Yanagi-san e Touji desapareceram.

 

Meus colegas que apenas os conheciam como namorados, só chamaram isso de fuga de casal, mas eu sabia que esse não era o caso. Então por que os dois desapareceram simultaneamente? Isso é óbvio. Yanagi-san que desapareceu por causa da minha traição, levou o Touji junto. E… garantiu que ele jamais poderia voltar.

Culpei a mim mesmo. Era minha culpa. Tudo porque falhei em suportá-la. Porque a rejeitei, apesar de ter sido o único em quem ela podia confiar. Mas o que encheu meu peito, mais do que o sentimento de culpa, era o sentimento de vazio.

Tudo, na minha rotina diária, se tornou sem sabor. Uma rotina tão sem gosto quanto um chiclete mascado por três dias. Algo estava faltando. O mundo estava sem aquele gosto salgado.

Isso é cruel! Eu não achei que você iria desaparecer apenas por causa daquelas palavras! Achei que continuaria a depender de mim! Me fazendo, me fazendo sentir esse sabor e depois desaparecer do nada, é irresponsável demais!

Por que… foi o Touji?

Se tivesse sido eu, teria dado tudo a você. Embora já tivesse dado quase tudo. Ao perceber esse vazio no meu coração, finalmente… de verdade, finalmente percebi.

…Aah… era isso. Eu… amava Yanagi Nana.

Mas ela não estava mais ao meu lado. Ela levou o Touji com ela, ela levou quase todo o meu coração com ela e desapareceu em algum lugar. Mas mesmo após trair, machucar, acuar e matar minha amada, meu dia a dia continuou. Porque eu ainda estava vivo, precisava continuar vivendo. Precisava continuar vivendo em um mundo sem ela.

Por esse propósito, decidi esquecê-la. Decidi esquecer Yanagi Nana. Ela não era alguém que deveria ter me aproximado para começo de conversa. Queria selá-la, que era quase como o símbolo do anormal, graças a sua excentricidade.

E então, realmente me esqueci dela, surpreendentemente bem.

 

Agora que penso nisso, quando foi que comecei a ter esse apego pelo meu cotidiano?

 

«Por favor, escolha um alvo para [Assassinato]»

Essa mensagem, mais a fotografia de seis pessoas, incluindo minha própria, são exibidas no monitor. Não tem como eu fazer algo assim. Não entendo o significado dessa ‘Game of Idleness’. Até a ideia de que isso não tem qualquer significado já passou pela minha cabeça.

Deixo meu corpo cair na cama. Mas mesmo que essa ‘caixa’ não tenha um significado… e daí? Isso significa que o cotidiano para o qual vou voltar, tem um significado?

O dia-a-dia que só tem o propósito de me fazer esquecê-la?

— …

Yuuri-san vem à minha mente. Não preciso que alguém me diga que estou confundindo «Yanagi Yuuri» com «Yanagi Nana», para estar ciente disso. Se conseguir salvar a Yuuri-san, sem traí-la, então serei capaz de me livrar da maldição da «Nana»?

Não sei, não sei, mas…

No instante em que imagino o rosto da Yuuri-san.

…Sinto o gosto das lágrimas de alguém em minha boca seca.

 

Sexto dia <B> Sala de Reunião

O sexto dia chega sem qualquer progresso notável.

Como previsto pelo Daiya, [Kingdom Royale] deixou de funcionar quando revelamos nossas [classes] e recolhemos todas as facas. Mas aqueles três ainda não acreditam em nós sobre as ‘caixas’, não importa o quanto explicamos e ainda não conseguimos definir quem é o ‘portador’. O tempo limite está se aproximando.

Vou do meu quarto para a sala de reunião. Já me acostumei a essa sensação de ser transportado, então já não é mais grande coisa. A sala tão branca que quase não parece ser natural.

…Mas nada com que se preocupar, eu acho. Como sou o [Revolucionário] e Daiya é o [Feiticeiro], [Kingdom Royale] não irá começar.

Kazuki-san.

Yuuri-san me percebe e rapidamente se aproxima, com um largo sorriso no rosto.

— Hmm? Aconteceu algo bom?

Yuuri-san, aparentemente inconsciente do próprio sorriso, inclina a cabeça e deixa escapar um — Eh? — Iroha-san, que estava a observando de canto de olho, começa a provocá-la.

— Yuuri está feliz em te ver, Kazuki-kun! Ela realmente ficou apegada a você, não foi?

Não dá para saber pelo seu tom de voz se ela está falando sério ou não. O rosto da Yuuri-san fica vermelho como um pimentão.

— I…Iroha~! Por favor, não fale como se eu fosse um filhotinho ou algo do tipo~

Imaginei a Yuuri-san, balançando um rabo e vindo na minha direção.

— Phf!!

Oh droga, isso cairia bem de mais nela!

— Po… por que você acabou de rir, Kazuki-san?!

Ela estufa as bochechas. Por hora, decido desviar da questão com um sorriso. Mas enfim… durante esse tempo, nós realmente nos acostumamos a conversar um com o outro.

A partir do segundo dia, começamos a conversar com os outros ativamente, com o propósito de aprofundar nossa confiança. Também realizamos [Encontros Secretos] com cada jogador. Acho que os resultados foram bons o bastante, já que até o Daiya participou. No mínimo, não consigo mais imaginar que um de nós mataria alguém.

— …Kazuki-san, como punição por rir, por favor… humm, me escolha como parceira para o [Encontro Secreto] de hoje.

Por alguma razão, as bochechas ainda estufadas estão levemente coradas ao dizer isso.

— Não me importo, mas como isso é uma punição?

— …Eh? …Ahhh, de… de qualquer forma, é uma punição! …Provavelmente!

Ela diz com toda sua vontade, balançando os braços para cima e para baixo. Isso, de alguma forma, me diverte.

— Hmm?

Maria, que acaba de olhar para ela, se aproxima de nós, coçando a cabeça e parecendo estar mal-humorada.

— …Eh? Qual o problema, Maria?

A princípio ela fica em silêncio por alguma razão.

— …Bom, o que quero dizer é… você já gastou quatro [Encontros Secretos] com a Yanagi, certo?

— Eh?

— Será o quinto se você for hoje. Então é possível que os outros achem que você tem preferência por alguém em específico. Se você tiver [Encontros Secretos] com a mesma pessoa por cinco vezes, a cooperação, que finalmente conseguimos firmar entre nós seis pode estar em risco.

— …Humm? Resumindo, você não quer que eu tenha um [Encontro Secreto] com a Yuuri-san?

— Não, não estou falando da Yanagi em particular. Só estou dizendo que, uma situação em que os outros pensem que você tem preferência por alguém em particular é perigosa.

— …Você não está se preocupando demais?

— Você só teve três [Encontros Secretos] comigo!

Ela não está tentando chegar em outro ponto…?

— Otonashi-san está com ciúmes. Que adorável! — Iroha-san, aparentemente se divertindo, diz olhando para a Maria.

— …De onde veio essa dedução falsa e sem sentido. Só estou falando sobre a atitude do Kazuki.

— Otonashi-san está desesperada.

— …Parece que você não entendeu minhas palavras.

— Maria, você está com ciúmes?

…Bam!

— A…ai!

Ela chutou minha canela com toda a força!

— Haa…

Kamiuchi-kun, que esteve nos assistindo o tempo todo, enquanto meche em seu terminal portátil, nos interrompe com um rosto impressionado.

— Haa, nossa, na verdade, estou com muito ciúmes, então você poderia morrer, por favor, Hoshino-senpai?

— Eh? Do que você está com ciúmes…? Não acabei de ser chutado?

— …Que cara é essa, como se você não soubesse do que estou falando? Essa é a atitude do vencedor?

Quando inclino minha cabeça, Kamiuchi-kun apenas suspira mais uma vez e voltou sua atenção para seu terminal portátil.

Ele pode estar agindo dessa forma, mas acredito que consigo me dar bem com ele. Fiquei ansioso ao ver aquele seu lado violento, mas depois de algumas conversas, percebi que ele é bastante sociável.

— Hmm? Ah, entendo — ele coloca o terminal portátil sobre a mesa e se levanta.

— Qual o problema?

— Ah, apenas estava relendo nossas conversas antigas e cheguei a uma conclusão!

Ele foi até Daiya, que está sentado em uma cadeira e dá um leve tapa em seu ombro com um sorriso no rosto. Daiya, incomodado com a atitude familiar dele, franze a testa. Eles se tratam dessa forma recentemente.

— Oomine-senpai. Acredito naquela história sobre ‘caixas’!

Fico surpreso, e pergunto em reflexo:

— Eh? Sério, Kamiuchi-kun?

— Por que mentiria? …Bem, para ser franco, não é mais uma questão de acreditar ou não. Temos que chegar a uma conclusão, agora que o tempo limite está próximo. E já que não temos nenhuma outra pista a não ser a ‘caixa’, não temos outra escolha.

Pensando nisso, Maria tinha mencionado que eles teriam que acreditar em nós quando o limite estivesse próximo.

— OK, o que devíamos fazer mesmo? Se minha memória estiver correta, você disse que isso acabaria ao destruirmos a ‘caixa’, certo? Então, que tal isso.

Ele ergue as mangas de sua camisa branca.

Vamos matar o Oomine-senpai.

 

— …Eh?

Mas não há tempo. Não tenho tempo para perceber o significado dessas palavras. Sem nos dar tempo para perceber, ele desce sua ________ e…

 

Mata o Daiya.

 

— …Ah…

…Eh? Mas que…?

Embora possa descrever o que aconteceu, minha compreensão ainda não está acompanhando a situação. Kamiuchi-kun abre a garganta do Daiya. Sangue começa a escorrer do local ferido. Daiya para de se mover com os olhos abertos. E então ele… morre. Posso confirmar isso. Mas posso apenas reconhecer os fatos, não compreender seus significados. Por isso, apenas fico parado, boquiaberto.

A camisa do Kamiuchi-kun agora está vermelha e seu rosto está coberto pelo sangue do Daiya. Em sua mão, ele está segurando a faca que não deveria ter. A faca de combate que tínhamos recolhido.

— Estranho, não? — Kamiuchi-kun sussurra isso, brincando com a faca que tirou do cinto.

— Vocês não disseram que isso acabaria com a morte do ‘portador’? E o ‘portador’ era o Oomine-senpai, certo?

Ele olha para a Maria.

— Ei, não era isso, Maricchi?

Maria é pega de surpresa, e seus olhos continuam arregalados. Aparentemente, ele não está esperando por uma resposta de qualquer forma, e continua a falar.

— Isso significa que o Oomine-senpai ainda não está morto? Certo, então farei isso.

Ele diz e…

…enfia a faca no pescoço do Daiya mais uma vez. Mais sangue é espalhado.

O corpo do Daiya cai por causa do impacto e sua cabeça bate contra a mesa, produzindo um som alto. O líquido vermelho começa a cobrir a mesa.

— Eh…

Yuuri-san ergue a voz e cai sentada no chão.

— IIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!

Kamiuchi-kun olha para ela e sorri.

— Seu grito é realmente adorável… hmm, mas ele está definitivamente morto, não? O que significa que, ou a primeira teoria da Maricchi estava errada, ou a história da ‘caixa’ é uma mentira, hmmm. Ah, mas decidi acreditar nessa história, certo? Então devo considerar que o Oomine-senpai foi o «errado».

«Errado», ele disse. Entendo o significado disso imediatamente. …Infelizmente entendo.

— Maricchi — o assassino pergunta — Com quem devo continuar?

Ele perguntou quem é o «correto».

De repente, percebo que a mão que está segurando a faca, está tremendo. No começo achei que esse tremor fosse causado pelas suas próprias ações. Mas após ver sua expressão, compreendo o verdadeiro motivo.

A mão dele está tremendo de empolgação.

Aah… por que me enganei com ele? Por que achei que tinha começado a me dar bem com esse assassino? Ele esteve apenas esperando uma chance, para expor sua natureza violenta que esteve escondendo.

[Kingdom Royale] é um jogo de mentiras. Um jogo de assassinato. Nunca houve uma chance de impedi-lo de funcionar. A tentativa do Daiya falha e ele é morto por causa disso. Mesmo no primeiro dia… [Kingdom Royale] já tinha começado.

— Por que você ainda… tem essa faca? — Pergunto, olhando para a faca da qual o sangue do Daiya está escorrendo.

— Essa é a sua primeira questão? Bom, foi brincadeira de criança. Apenas roubei ela durante um [Encontro Secreto] com a Yuuri-chan. Simples.

— …Eh? Então, a culpa é minha…?

Ela ergueu a cabeça e o observa com os olhos arregalados. O assassino sorri para ela e diz:

— Por favor, seja mais cuidadosa!

— Ah… — Sem palavras, Yuuri-san cai em lágrimas.

— Então, quem é o próximo, Maricchi? …Ei, ainda está congelada? Você não está exagerando? Bom, para dizer a verdade, acho que personagens inocentes são bastante adoráveis — dizendo essas coisas indiferentemente, ele examina sua faca ensanguentada. — …Decidi.

Ele declara e começa a se aproximar de mim.

— Acho que vou continuar com o Hoshino-senpai, já que estou com ciúmes dele…Afinal de contas, quero que ele morra de qualquer forma.

Sou escolhido, como se ele estivesse apenas escolhendo sua próxima refeição. Mas a intenção assassina é clara em seus olhos. Fico tenso ao olhar para a faca ensanguentada. Afinal, é a mesma faca que tirou a vida do Daiya.

O assassino se aproxima. Preciso fugir, mas não consigo me mover.

— Espere.

Kamiuchi-kun para obediente, ao ouvir o chamado da Maria.

— O que foi, Maricchi?

Para ele, que está escondendo o desejo de matar em seus olhos, Maria diz:

— Eu sou a ‘portadora’.

Kamiuchi-kun ergue uma sobrancelha.

—Você tem que matar a mim, não o Kazuki.

Ele ri amargamente, ao entender o significado do que ela diz.

— Haha, então você quer tanto salvá-lo que está disposta a se sacrificar? Incrível!

— Só estou dizendo a verdade.

Ele se aproximou dela, enquanto ela o está encarando. Maria ergue os braços para deixar claro que não tem intenção de resistir.

— Ma… Maria…

Ao ouvir meu chamado, ela sorri para mim. Vendo esse sorriso, me convenço. Ela não tem qualquer estratégia. Ela realmente está planejando se sacrificar no meu lugar.

— Estou tocado, Maricchi. Nunca achei que realmente existisse alguém que valoriza mais a vida dos outros do que a própria. Não parece que você está apenas falando por falar. Isso é amor! Amor verdadeiro!

Ela dá uma risada sarcástica.

— Entendo. Que bom que você está emocionado.

— Você realmente não se importa de morrer para salvar o Hoshino-senpai?

— Não.

Kamiuchi-kun expira sem qualquer hesitação ao ouvir essa reposta.

— Isso é problemático. Esse amor não é bonito demais? Aah, tá bom, já entendi! Não é como se eu quisesse ser o cara mau, só queria resolver esse problema o mais rápido possível. Realmente não estou afim de bancar o seu vilão genérico de terceira categoria, que atacaria, dizendo «Então morra por ele!» Então, vocês dois podem viver.

Enquanto passa a mão no cabelo dela, sem se importar em ser reservado, Koudai Kamiuchi complementa:

— Se me deixar fazer com você, Maricchi.

Ele pressiona a faca contra a garganta dela.

— …

O rosto dela se contorce em repulsa. Ela o encara com ódio, ignorando o fato de que ele está pressionando a faca contra ela, e afastou a mão dele que está em seu cabelo.

— …Não me venha com essa. Prefiro morrer do que entregar meu corpo a você.

— Que cruel! Embora tenham várias que me deixariam fazer isso alegremente. Então, não vai aceitar?

— É claro que não!!

— Deixa para lá então.

Ele desiste facilmente… fácil demais.

Então vou fazer com a Yuuri-chan.

É claro que ele não desistiria tão fácil. Yuuri-san fica pálida instantaneamente, quando percebe que ele não está brincando, forçada a perceber pelo sorriso gelado e o desejo nos olhos dele.

— Nã… não!!

— Mas Yuuri-chan, não posso fazer nada, posso? Afinal de contas, a Maricchi me rejeitou… Ah, mas realmente prefiro você, então não faz mal!

— Algo assim, e… eu não consigo…

— Então vou matar a Maricchi e o Hoshino-senpai.

O rosto dela perde ainda mais cor, ao ouvir essas palavras desumanas.

— Por favor, se entregue de uma vez, se não quiser que aqueles dois morram por causa da sua rejeição!

Ela se vira lentamente e olha para mim. Seus olhos cheios de lágrimas. Essas lágrimas são uma mensagem para mim.

«… não me traia.»

…Ah, certo. Yuuri-san estava temendo que isso acontecesse desde o primeiro dia. E prometi a ela. Prometi não trair mais a «Yanagi-san». Mas se eu tentar salvar a Yuuri-san, a Maria vai…

— …Pare.

Não fui eu quem sussurrou isso, foi Maria. Koudai Kamiuchi abre a boca, contente:

— Hmm? Bom, se estiver com vontade de me agradar agora, vá em frente.

Ela certamente previu que ele diria isso. Maria morde os lábios, com tanta força que chega a sangrar. E então desvia o olhar de mim e… diz claramente:

— …Tudo bem, então se contente apenas comigo.

…O que…O que você está dizendo, Maria?

— Eh? Sério?

Koudai Kamiuchi arregala os olhos.

— …hu, huhu, ahahahaha!

Essa determinação… Embora ela prefira morrer, está prestes a se entregar para salvar a Yuuri-san… Essa é a força da determinação dela… e Koudai Kamiuchi aponta para ela e começa a rir.

— Ahahahaha! Sério? Se fosse para salvar seu amado Hoshino-senpai ainda entenderia! Mas faria isso pela Yuuri-chan, embora vocês tenham passado apenas alguns dias juntas? Ahaha, isso é ridículo demais!!

— …O que é tão engraçado?

— É um choque cultural para mim! Seus valores são estranhos! É absurdo priorizar os outros acima de si mesma! Espera, por acaso você acha que isso é bonito?!

Realmente, também não consigo apreciar a atitude dela. De tempos em tempos essa personalidade chega a ferir os meus sentimentos. Essa atitude não pode ser chamada o tempo todo de “viver pelo bem dos outros”.

Mas. Mesmo que a atitude esteja errada… Isso não significa que um cara desses possa rir dela.

— Então, o sofrimento dos outros é pior do que o seu próprio? Ah, então retiro o que disse. Você não vai servir como substituta. Vou estuprar a Yuuri-chan não importa o que você faça.

— …O que… você está dizendo, maldito?! Não tem qualquer significado nisso, tem?!

Não é mais divertido assim?

Até Maria fica sem palavras. Koudai Kamiuchi zomba ao vê-la em choque. Ele está se divertindo. Ele vê a natureza inspiradora dela como algo patético, e se diverte brincando com ela. Não posso permitir isso. Absolutamente não posso permiti-lo insultar o orgulho dela…Mas, embora não possa permitir isso… Mesmo não podendo suportar isso, por que…

— Uh, uh, uuuuuh…

A voz de choro da Yuuri-san ressooa. Maria está com a faca pressionada em sua garganta…Por que não consigo fazer nada!

— Vocês não querem morrer ainda, certo, senpais?

Ninguém pode se opor, então ele declara.

— Certo, então a partir de agora vocês são todos meus escravos.

 

± [Daiya Oomine], artéria carótida aberta por [Koudai Kamiuchi], morto.

 

Sexto dia <C> Quarto de [Kazuki Hoshino]

«Escolha – um parceiro – para o – [Encontro Secreto]!»

Mesmo com o Noitan me apressando, não consigo me mover, sentindo total desespero. Não posso fazer nada. Embora Yuuri-san e Maria estejam sofrendo. Não posso fazer nada para salvá-las.

Yuuri-san foi forçada a escolher «Koudai Kamiuchi» como parceiro para o [Encontro Secreto] mesmo sabendo o que aguarda por ela, ela não tem escolha a não ser escolhê-lo. Quão cruel isso pode ser…?

— …Gh!

Mordo meu lábio. Deveria… eu deveria ter sido capaz de fazer algo. Mesmo que não seja mais possível, se tivesse considerado a ameaça que Koudai Kamiuchi representa mais a sério, poderia ter evitado isso.

Certo, se tivesse tomado providência no momento em que Yuuri-san me disse ter medo dele, isso não teria acontecido. Essa situação é o resultado que conseguimos por ter subestimado o [Kingdom Royale] e ter perdido tanto tempo.

…Mas não é como se estivesse tudo acabado ainda. Estou prestes a apertar o botão «Yanagi Yuuri»…

«Você só teve três [Encontros Secretos] comigo!»

Quando por alguma razão me lembro do que Maria disse…Por que estou me lembrando disso? Isso não importa agora, importa? O melhor que posso fazer nesse momento é confortar a Yuuri-san.

Claro, Maria está em perigo também. Assim como Yuuri-san, ela também foi forçada a escolher Koudai Kamiuchi. Mas não pelas mesmas razões. Ele apenas não quer dar a ela a chance de consultar um de nós. O objetivo principal dele é sobreviver, então está tentando eliminar qualquer possibilidade de conspirarmos e montarmos um plano contra ele.

Provavelmente, ele sequer está se preocupando sobre o ‘portador’. Ao invés de procurar e matar o ‘portador’, cuja própria existência é duvidosa, está pensando em vencer o [Kingdom Royale]. Koudai Kamiuchi é o [Cavaleiro]. Para vencer, ele precisa matar o [Rei] e o [Príncipe]. E esses alvos são Iroha-san, o [Rei], e Yuuri-san, o [Príncipe].

Portanto, Maria ainda está mais segura do que aquelas duas. Claro, ela ainda está em perigo, mas a dimensão do perigo é diferente.

 

Portanto…

Portanto… escolho «Yanagi Yuuri»

 

[Iroha Shindou] ->

[Yanagi Yuuri]

17:00~17:30

[Yanagi Yuuri] ->

[Koudai Kamiuchi]

15:20~16:00

[Daiya Oomine]

Morto

 

[Kazuki Hoshino] ->

[Yanagi Yuuri]

16:20~16:50

[Koudai Kamiuchi] ->

[Yanagi Yuuri]

15:00~16:00

[Maria Otonashi] ->

[Koudai Kamiuchi]

16:20~16:50

 

Sexto dia <C> [Encontro Secreto] com [Yanagi Yuuri], Quarto de [Yanagi Yuuri]

No momento em que entro no quarto dela, sou abraçado.

Yuuri-san imediatamente aperta o rosto contra o meu peito, o que provavelmente significa que ela quer esconder seu rosto. A expressão vazia em seu rosto que vejo por um mero instante antes dela correr em minha direção.

— …Eu não queria morrer.

Ela diz com uma voz contida, com o rosto ainda pressionado em meu peito.

— Não queria morrer de forma alguma. Então, então, eu…

Coloco minha mão nas costas dela, para fazê-la parar de falar.

— Uh, uuuuuh…

Ela está chorando. «Yanagi-san» está chorando. Aah… o quão egoísta sou. Mesmo num momento como esse, em que devo dar apoio a Yuuri-san, só consigo pensar na «Yanagi-san». Mas, ouvir as lamentações de uma garota, enquanto abraço ela… naquele tempo, ela me forçou nessa mesma situação várias vezes.

Agora que ela me faz lembrar desses sentimentos, acabo me iludindo…de que agora, estou sentindo a mesma coisa que uma vez senti por «Yanagi Nana».

 

Aah, suas lágrimas estão molhando meu uniforme. Que desperdício…

Quero bebê-las.

— …

Sinto ódio por mim mesmo, por estar tendo essas ideias. No que estou pensando? Não decidi que não iria passar pela mesma coisa de novo? Definitivamente não posso ter o direito de fazer isso por outra pessoa. Não posso repetir o mesmo erro que cometi, com o meu amor que deu errado. Não vou… deixar alguém que sequer me ama, depender mais de mim. E mesmo assim,

— Eu, amo você.

Ela diz, com o rosto ainda pressionado contra o meu peito.

— Eu te amo. Eu te amo, Kazuki-san. Portanto, absolutamente não quero que ele faça essas coisas comigo.

— …Ah.

Depois que «Yanagi Nana» desapareceu, fico repetindo uma questão, várias e várias vezes, todo dia, em minha mente. Se ela tivesse dito que me amava... O resultado teria sido diferente?

Sempre soube que isso era apenas uma ilusão covarde, que uso para tentar justificar meu pecado. Mas mesmo sabendo disso, queria saber. Sempre quis saber a resposta para essa questão.

— …Eu te amo…

«Yanagi-san está dizendo que me ama.»

A menos que a traia agora, ela certamente me aceitará. Se isso trouxer felicidade… Serei libertado daquele passado?

— …Desculpe, por dizer isso tão subitamente.

Ela finalmente ergue o rosto. Seus olhos não estão mais vazios, estão vermelhos por causa de suas lágrimas. Posso ver sua determinação neles. Se afastando de mim, ela se senta na cama. Me sento ao lado dela.

Em cima dessa cama, Yuuri-san foi…

Antes de conseguir pensar mais adiante, ela colocou sua mão sobre a minha. Seguro a mão dela e a aparto com força.

— …Não quero passar por aquilo de novo… não importa o que aconteça.

— …Hum.

Ela consegue expressar sua dor com bastante clareza.

— …Vou dizer algo horrível agora. Mas por favor… não me odeie.

— Não vou te odiar!

Em um murmúrio, parecendo extremamente ansiosa. Ela diz.

 

— Me, salve.

 

— …Isso é horrível…?

Ela assente levemente.

— Quero que você me salve imediatamente. Você entende o que isso significa?

Ainda estou confuso, então ela adiciona, deixando seu olhar cair.

Você é o [Revolucionário], não é, Kazuki-san?

Ahh, então é nisso que ela quer chegar.

Você quer que eu mate Koudai Kamiuchi?

Quando coloco isso em palavras tão claramente, ela fica em silêncio.

— Mas você sabe, matar é…

— …Até eu!

Ela me interrompe com um grito. Sou pego de surpresa e acabo deixando meu olhar cair também.

— Até eu… gostaria de usar outro meio. Não desejo uma solução que requer que matemos alguém. Mas existe outra opção? Existe outra maneira, para não precisar passar por aquilo uma segunda vez, e podermos sobreviver? Ou… você quer me dizer que ainda existe uma possibilidade de persuadi-lo?

— Bem…

Não consigo dizer. Até eu sei que não é mais possível persuadi-lo. Mas isso é razão o bastante para condená-lo a morte, por conta própria?…Não pode ser. Não importa o quão imperdoável ele seja, não importa o quão justificável seria mata-lo, não importa se todos digam que é a coisa certa a se fazer, no momento em que me tornar um assassino, minha vida mudará completamente.

E não poderei mais voltar para o meu cotidiano. Então, não posso fazer isso. Mas mesmo assim…

Não me traia.

 

Eu, estive esperando por essa oportunidade durante todo esse tempo. Estive esperando pela chance de refazer aquele passado. Para dizer a verdade, tinha percebido. Tinha percebido que Yanagi Nana não era daquele jeito simplesmente porque queria que eu a confortasse em relação ao Touji.

Ela realmente era irreparável, mas até ela tinha percebido que seu amor pelo Touji era distorcido. Ela queria amar outro alguém corretamente. Incapaz de lidar com os próprios sentimentos pelo Touji, ela me fez beber suas lágrimas. Me fez lembrar do gosto dela. E dessa forma, meu coração foi roubado, exatamente como planejado.

Também acho que o método dela foi errado. Mas esses sentimentos não eram falsos. Eu sabia o que ela queria, sabia, mas fingi não saber. Afinal, eu era o melhor amigo do Touji, e Yanagi-san era sua namorada. Portanto, não tinha permissão de sequer admitir meu amor por ela. Não tinha como responder as expectativas que Yanagi-san tinha por mim.

Mas isso não muda o fato de que eu sabia dos sentimentos dela. O fato de que sabia, e intencionalmente os ignorei, não vai mudar. O fato de que a abandonei, não vai mudar. Portanto, é minha culpa no final das contas.

 

«Yanagi-san» fecha seus olhos inchados e vira os lábios em minha direção. Sua expressão realmente me lembra a de «Yanagi Nana». Não posso mais fingir que não sei de nada. Preciso responder aos sentimentos da «Yanagi-san».

Segurei os ombros dela, o que os fez tremer levemente. Fecho os olhos e me aproximo dos lábios dela…

isso está errado.

 

Paro de me aproximar dos lábios dela, e abro os olhos. Não sei de onde essas palavras vieram. Também não sei porque elas surgiram em minha mente. Só que, essas palavras soaram como ela. Maria…Isso é irresponsável da sua parte, Maria! Então o que faria no meu lugar?

Mas o resultado não vai mudar, mesmo que eu a amaldiçoe em minha mente. Não posso mais fazer o que a «Yanagi-san» quer de mim. «Yanagi-san» está esperando pelo meu beijo. Após alguma hesitação, a beijo no rosto. Ao abrir os olhos, ela sorri mesmo assim.

Esse beijo estava com gosto de lágrimas. Mas é estranho.

Minha sede não foi saciada apenas com isso.

 

Sexto dia <C> Quarto de [Kazuki Hoshino]

Enquanto estou tentando pensar no que fazer sobre isso tudo, as coisas continuam progredindo.

«[Iroha Shindou] foi executada por não cumprir os horários»

 

[Iroha Shindou], executada por não retornar ao seu quarto as 17:40. Morte por decapitação.

 

Sexto dia <D> Sala de Reunião

Duas malas estão colocadas sobre a mesa, na sala de reunião. O conteúdo delas é o mesmo da minha, mas a cor dos relógios são diferentes. Suas cores são preto e laranja. As cores usadas por Daiya e Iroha-san.

Os dois dias de alimento restante, quatro dias no total, foram obviamente tomados por Koudai Kamiuchi. Mas mesmo vendo isso, a morte de Iroha-san me parece surreal. Em primeiro lugar, ela morreu por não cumprir os horários? Isso sequer é possível, afinal, Noitan até vem para nos avisar do horário.

— Um claro caso de suicídio

Koudai Kamiuchi diz.

— Ela não conseguiu aguentar essa situação e escolheu ser executada ao invés de se mover. Provavelmente porque prefere morrer do que se entregar a mim ou algo do tipo. Uaaah, já estou sendo rejeitado novamente, depois da Maricchi, essas garotas são tão rudes…

Iroha-san cometeu suicídio? Aquela Iroha-san? Isso não parece certo. Só estive com ela por alguns dias, mas não posso acreditar que ela escolheria isso. Yuuri-san parece estar tendo problemas para aceitar a morte dela também. Ela pega o relógio laranja entre suas mãos e o está observando em silêncio. Maria está vendo essa cena, com os olhos cheios de suspeita.

— Yanagi.

Ainda meio atordoada, Yuuri-san reage ao chamado da Maria.

— Você não está triste?

Apenas quando ouve essas palavras, seu rosto começa a revelar suas emoções. Com lágrimas nos olhos, ela se agachou e fixa seu olhar no chão.

— …

Maria desvia o olhar, após balançar a cabeça, aparentemente incapaz de suportar a cena.

— Que gentileza sua, em ensinar a ela quando deve chorar, Maricchi.

— …Hmpf.

Ele apenas zomba da Maria, diante dessa reação.

— Que friiiia… falando nisso, Hoshino-senpai.

Seu olhar se volta em minha direção.

— Você é o [Revolucionário], certo? Então você pode me matar durante o próximo bloco. O que significa que preciso te matar nesse bloco…

…Dong.

Ele joga sua faca sobre a mesa.

— Quer tentar resistir? Por favor, vá em frente! Bom, embora você só terá os punhos e eu usarei a faca. Ah, vocês podem tentar me atacar em bando se quiserem.

— …Três contra um?

— Se acham que podem vencer, por favor, vão em frente.

…Impossível. Não importa quão boa Maria seja em artes marciais, ela não tem força. Não acho que poderíamos derrotar Koudai Kamiuchi usando violência, a menos que tenhamos algum tipo de plano. E mesmo assim…

— Em outras palavras, já está decidido que você vai morrer, senpai.

Koudai Kamiuchi pega a faca da mesa, a apontou para mim e ergueu os cantos dos lábios.

— …Ou era o que você pensava.

Fico sem palavras, incapaz de entender o comportamento dele. Então ele gargalha, porque minha expressão aparentemente é engraçada para ele.

— Estava pensando, não seria chato uma vitória esmagadora dessa forma? Podemos deixar as coisas um pouco mais interessantes, não concorda? Não faço ideia do que ele está dizendo. Não me importo com vitória ou derrota, interessante ou não.

— Vamos fazer uma aposta.

Ele continua, ignorando minha expressão.

— Me deixe confirmar isso novamente, você pode usar o comando [Assassinato] no próximo bloco <E>, certo? Cheguei à conclusão de que você não o fará. Portanto, vou apostar nisso.

— …?

— Como-eu-disse, vou ser morto se você usar [Assassinato] em mim, certo? Se isso acontecer, eu perco, obviamente. Então vamos dizer que é minha vitória, se você deixar o tempo passar, sem usar o comando. Isso é tudo.

— …Não te entendo! Que tipo de aposta é essa? Você não tem nada a ganhar com isso, tem? Você quer que eu use [Assassinato], ou o que?

— É claro que não. Já não disse? Não tem graça se minha vitória for tão fácil!

— É exatamente isso que não entendo!

— Aah… hmm, vejamos. Assumir riscos em si é excitante… entende?

Só posso franzir a testa.

— Por exemplo, vamos dizer que entro na copa do mundo, o que é impossível é claro, mas enfim, consigo marcar um gol. Meu time vence. Nesse caso, me tornarei uma superestrela, não importa que tipo de perdedor eu seja. Contudo, se ao contrário, deixar o oponente marcar um gol e o Japão perder por causa disso, serei odiado por várias pessoas, e me tornarei um vilão. Realmente, isso seria um jogo de alto risco por um alto retorno. Quase que uma aposta.

— Você é do tipo que preferiria evitar tal jogo, certo, senpai? Porque teme ser odiado por tantas pessoas. Mas sou o oposto disso! Seria pura adrenalina, adoraria fazer isso.

…Entendo, acho que compreendo. Mas…

— …É estranho… apostar a própria vida!

— Bom, posso realmente estar passando dos limites.

— Em primeiro lugar, o que você ganha apostando sua vida?

— Existe uma «recompensa», não é mesmo?

— Eh?

Nunca ouvi nada sobre isso.

— Estive almejando essa «recompensa» desde o início! Acho que também mencionei isso naquela hora.

Ainda me lembro de suas primeiras palavras. Lembro de já ter lido várias vezes em meu terminal portátil. Certamente, elas foram…

«Bom dia. …Oh, temos três gatas! Sorte minha!»

— …Espere…

— Já consegui uma!☆

Eu achava que ninguém estaria possivelmente desejando pelo início de [Kingdom Royale]. Tinha certeza absoluta disso. Mas estava errado. Koudai Kamiuchi esteve aproveitando essa situação desde o princípio.

— Não consigo te entender. Suas ações não têm consistência. O que diabos você quer, afinal de contas?

— Costumam muito dizer isso sobre mim.

Ele respondeu à pergunta da Maria, com um sorriso largo no rosto.

— “O que você quer fazer”, “arranje um objetivo”, “seja mais sério”… cuide dos seus problemas! Isso tudo faz algum sentido? Sou melhor do que esses pregadores irritantes. Não preciso aturar a inveja deles!

— Entendo. Você é um completo idiota.

— Cale a sua boca!

Maria fica em silêncio como ordenado, diante dessa voz fria.

— Muito bem, vamos voltar a nossa aposta, Hoshino-senpai. Estamos apostando nossas vidas… você entende isso, certo? Então vamos as exigências. Já que sou tão gracioso em propor isso, mesmo que possa facilmente vencer originalmente, sou o único que tem o direito de fazer uma, certo?

Como se ele fosse permitir qualquer rejeição.

— Tudo o que você tem que fazer, é me mostrar um bom desempenho!

Eu já sabia que não poderia ser algo bom. Mas…

Apenas me mostre como você será morto pela Yuuri-chan.

Mas essa exigência excedeu todas as minhas expectativas.

— …O que você quer dizer?

— Exatamente como eu disse. Se eu vencer, nós todos vamos naturalmente chegar ao bloco <C> de amanhã, intactos. Então, serei novamente capaz de aproveitar alguns bons momentos com a Yuuri-chan, durante nosso [Encontro Secreto]. E daí, cooperarei com a Yuurichan e usarei [Ataque Fatal] em você, senpai.

— Do que você está falando? Yuuri-san é o [Principe], não?

— Ela é o [Rei]!

Koudai Kamiuchi declaa tranquilamente.

— Eh? Não pode…

Paro no meio da frase. Yuuri-san está me encarando com o rosto pálido.

— …Yuuri-san…?

— Nã… não é assim… não me leve a mal, Kazuki-san!

Por quê? Por que ela já está pedindo desculpas, se ainda não disse nada?

— Resumindo, Yuuri-san mentiu sobre sua [classe]. Ela trocou de [classe] com a Kaichou.

— …Com que propósito?

— Para sobreviver, é claro!

A expressão pálida dela é a melhor confirmação que posso receber.

— Não tem como a Yuuri-chan resistir a minha ameaça, já que ela quer sobreviver tanto, a ponto de usar esse tipo de truque! Serei capaz de te matar facilmente.

— …Eu não vou.

Yuuri-san sussurra. Koudai Kamiuchi zomba dela, fingindo estar surpreso.

— Você não vai usar [Execução]? Haha, você vai!

— …Nã… não me faça de idiota. Jamais faria algo assim para o Kazuki-san, não seria capaz. Então como você pode dizer isso com tanta certeza…?

— Oras, afinal de contas, você é a garota que entregou seu próprio corpo para mim só para poder sobreviver, não é mesmo, Yuuri-chan?

Ela não consegue responder a isso e seu rosto fica tenso.

Yuuri-chan definitivamente matará para poder sobreviver!

— Eu não faria…

— Ei, devo contar a eles como você me implorou pela sua vida?

Os olhos dela se arregalaram.

— Nosso garoto de coração-puro pode não gostar mais de você se souber o que me disse.

— …Pare.

— Realmente fascinante. Você não tem qualquer tipo de orgulho, tem? Como sou apenas um puro garoto mais jovem, com vários ideais sobre as garotas, aquilo foi realmente um choque para mim…

— Pa…re, pare, pare…!! Não diga!!

Ela cai em lagrimas no mesmo instante.

— Você realmente chora fácil… não se preocupe! Estou apenas brincando!

Obviamente, ela não para de chorar. Koudai Kamiuchi ergue os braços.

— Bom, é sua escolha acreditar nela ou não. Sugiro que não confie!

Ainda chorando, Yuuri-chan olha de relance para mim. Sinto pena dela, mas acho que é possível ela me [Executar]. Afinal de contas, ela até mentiu sobre sua [classe]. Se ela for ameaçada de morte, duvido que seja capaz de resistir. Ela quer sobreviver acima de tudo.

— Bom, é isso, quanto a nossa aposta. Você não tem escolha, senão aceitar. Mas certamente você não se importa, certo? Afinal, não vai perder nada com isso.

Após finalizar o assunto por conta própria, Koudai Kamiuchi coloca o braço ao redor dos meus ombros e me puxa para perto como se fossemos amigos, quase como ele fazia antes do assassinato.

…Huh?

No instante em que penso nisso, ele coloca algo no bolso da minha calça. Quando o olho, ele pressiona o dedo indicador contra os lábios. Porque ele está com o braço em volta dos meus ombros, Yuuri-san e Maria não podem ver o que acontece.

Após ter feito o que quer, ele larga de mim. Coloco minha mão no bolso e sinto algo fino. Papel…? Ele me passou uma mensagem que não quer que elas vejam, ou algo assim…?

— Kazuki.

Imediatamente tiro a mão do bolso. Maria continua, sem ligar para o meu comportamento.

— Não acho que isso seja um problema, mas me deixe dizer novamente.

Maria fixa seu olhar em mim e diz:

— Não mate.

…Bom, sim. Já esperava que ela fosse dizer isso. Não importa a situação, não importa quem seja, Maria jamais desejaria por uma solução em que alguém precisa morrer.

— …Também prefiro não ter que fazer isso. Mas então o que devemos fazer? Ainda estou bem, mas você e a Yuuri-san vão…

— Você quer se sacrificar por isso? Não entende? Se matar alguém, mesmo que usando [Assassinato], isso mudará a sua vida para sempre.

Sei disso. Assim que matar Koudai Kamiuchi, não serei capaz de retornar ao meu cotidiano. Mas…

«Não me traia»

Yuuri-san ainda está chorando. Quando a vejo dessa forma, as palavras que disse aquela vez voltam a minha mente.

«Não consigo mais aguentar sua companhia»

Não vou mais fazer algo assim. Não vou cometer o mesmo erro duas vezes. Portanto, tenho que…

— Você não precisa se preocupar em nos salvar, Kazuki.

Desvio o olhar, porque sinto como se ela tivesse lido meus pensamentos.

— Você não precisa se sacrificar por isso. Apenas se preocupe em proteger sua própria vida.

— …Mas não serei morto se perder a aposta?

— Não se preocupe.

Maria diz como se fosse óbvio:

Vou te proteger, Kazuki.

 

Sexto dia <E> Quarto de [Kazuki Hoshino]

Antes de ler a folha, já sei que não pode ser algo bom.

«Tudo será resolvido se você matar a Yuuri-chan!»

Mas não esperava por uma mensagem tão idiota. Claro, a [classe] da Yuuri-san é oposta à minha, já que sou o [Revolucionário]. É o mesmo para Koudai Kamiuchi, o [Cavaleiro]. Por outro lado, o [Revolucionário] e o [Cavaleiro] podem coexistir. Em termos de jogo, é inútil matá-lo.

E daí? Ele apostou comigo achando que iria [Assassinar] a Yuuri-san ao receber essa mensagem? Não me menospreze desse jeito.

Amassei o papel e o jogo sobre a mesa. Então, olho para o monitor.

«Por favor, escolha um alvo para [Assassinato]»

Me lembro como pensei que jamais selecionaria alguém, no primeiro dia. Mas… Não sei mais. Não faço ideia do que fazer. Está claro que ninguém será salvo se não fizer nada.

…Então, devo matar Koudai Kamiuchi no final das contas? Isso significa me entregar a ‘caixa’. Minha derrota. E… jamais retornar ao meu cotidiano. Mas isso sequer importa. Afinal, se conseguir salvar a «Yanagi-san», o cotidiano que tanto prezo, pode se tornar indiferente. Está certo! Se puder desfazer o meu erro, se puder criar um novo início, junto da «Yanagi-san», eu… Eu… não me importo em abandonar o meu cotidiano.

Ergo minha mão na direção do monitor. É uma pena, Koudai Kamiuchi, mas venci a aposta! Vou salvar a «Yanagi-san». Estarei bem com isso. Essa é a minha justiça. Então, está tudo bem, certo, Maria? Você está bem com esse resultado, certo?

Faço essa pergunta com a expectativa de que a Maria em minha mente responda a meu favor. Mas o que ela diz é…

«Vou te proteger, Kazuki»

…As palavras que ela me disse mais cedo.

— …Ah.

Paro minha mão porque percebo que algo nessas palavras soa estranho. Certo, por que ela disse algo assim…? Deixei escapar algo por acaso?…Ah, certo. Pensando nisso, qual foi a razão da morte da Iroha-san? Iroha-san jamais desistiria de sua vida tão facilmente. Tem algo errado nisso… Mas e se ela já estivesse à beira da morte quando foi executada? Ou então, e se a morte dela já estivesse decidida naquele momento?

Pego meu terminal portátil e checo as regras novamente. Mesmo que alguém seja selecionado como alvo de [Ataque Fatal], não será executado até às 17h55min. Iroha-san morreu às 17h40min. E se, naquele momento, ela já soubesse que seria morta por [Ataque Fatal]…

Ela não tentaria nos deixar uma mensagem?…Não, não pode ser. Afinal de contas, Iroha-san era o [Rei]. Ela não escolheria a si mesma como alvo de [Execução]…Espere, está errado. É diferente. Iroha-san era o [Príncipe]. O [Rei], que seleciona o alvo de [Execução], é…

 

...Yanagi Yuuri.

 

Não, não, isso é impossível. Não vamos nos precipitar. Isso foi apenas uma ideia minha, do meu atual ponto de vista, de que isso foi uma mensagem da Iroha-san. Mas...Checo novamente o terminal portátil. Não há dúvidas. Até a hora de sua morte… Iroha-san esteve em um [Encontro Secreto] com a Yuuri-san.

Ela não respeitou os horários e foi executada. Porque não voltou ao seu quarto até às 17h40min. Porque ela não voltou do quarto da Yuuri-san, para o seu próprio. Resumindo… Yuuri-san testemunhou a morte da Iroha-san com os próprios olhos.

«Você não está triste?»

Essa foi a pergunta que Maria fez à Yuuri-san, que estava observando o relógio laranja. Naquele momento, Yuuri-san começou a chorar, como se a barragem tivesse finalmente sido levantada. Como se ela tivesse se lembrado que deveria chorar.

«Não quero morrer de forma alguma. Então, então, eu…»

Porque ela não quer morrer? Porque ela não quer morrer.

«Eu te amo. Eu te amo, Kazuki-san.»

— …

Estico minha mão em direção à mesa. Desamasso o papel que tinha jogado fora.

«Tudo será resolvido se você matar a Yuuri-chan!»

…Vamos assumir que eu mate Koudai Kamiuchi. Obviamente, o jogo continuaria, porque sou o [Revolucionário], Maria é o [Duble] e Yuuri-chan é o [Rei]. Então o que ela faria? O que Yuuri-san faria, se ela não quer morrer de forma alguma? Koudai Kamiuchi disse.

«Yuuri-chan definitivamente matará para poder sobreviver!»

Seguro o meu peito, que está chacoalhando violentamente.

«Não mate.»

Por que Maria não adicionou «Koudai Kamiuchi» no final dessa sentença? Relutante, opero meu terminal portátil. E então ouço novamente as palavras da Maria.

«Vou te proteger, Kazuki»

Não importa quantas vezes ouça a gravação, as palavras não mudam. Maria já sabia. Então por isso ela, apesar da Yuuri-chan estar chorando, apesar dela querer salvar a todos, não disse:

«Vou proteger todos vocês»

Entendo porque ela não disse isso.

 

E então, eu…

 

Sétimo dia <B> Sala de Reunião

— Venci.

Perdi a aposta que fiz com Koudai Kamiuchi.

 

Sétimo dia <C> [Encontro Secreto] com [Koudai Kamiuchi], Quarto de [Kazuki Hoshino]

 

[Iroha Shindou]

Morta

 

[Yanagi Yuuri] ->

[Kazuki Hoshino]

15:40~16:40

[Daiya Oomine]

Morto

 

[Kazuki Hoshino] ->

[Yanagi Yuuri]

15:40~16:40

[Koudai Kamiuchi] ->

[Kazuki Hoshino]

15:00~15:30

[Maria Otonashi] ->

[Kazuki Hoshino]

16:50~17:20

 

Jamais pensei que ele me escolheria para o [Encontro Secreto].

— Heh, julgando pelo seu rosto, não me assassinou porque percebeu a verdade, certo?

Apesar de sua vida ter estado em perigo, Koudai Kamiuchi está falando com seu mesmo tom tranquilo de sempre.

— …Você sabia que acabaria assim?

Ele mostra um sorriso leve.

— De forma alguma! Não te disse? Gosto de arriscar!

No final das contas, a forma de pensar dele ainda é um mistério para mim.

— Então, agora quer que eu te ajude a matar a Yuuri-chan? …Claro que não, huh. Se quisesse, já teria assassinado ela ontem. Uahahaha, Yuuri-chan estava bem nervosa, quando revelei que ela estava pronta para te matar, não é mesmo, senpai?… Aquilo foi realmente adorável.

— …Por quê?

— Hmm?

— Por que você escreveu aquilo? Por que apenas não me contou diretamente o plano dela?

Ele responde tranquilamente:

— Não podia ter feito isso.

— Mas por quê?!

— Bom, porque me apaixonei por ela.

Primeiro acho que isso é apenas uma piada. Mas seus olhos não estão mentindo.

— …Mas você percebeu que estava sendo usado? Também percebeu que ela vai te matar, certo?

— Bom, sim.

— E mesmo assim, se apaixonou por ela?

— É isso que estou tentando dizer esse tempo todo.

Isso é estranho. Não é normal pensar dessa forma.

— Que cara é essa? Ela não fez a mesma coisa com você? Você deveria entender os meus sentimentos.

— Não tem como eu…

— Então, senpai, você pensou em matar ela por sequer um instante?

— …Eu… — fecho minha boca, inconscientemente. Não, ele tem que estar enganado.

Eu não mataria, não importa quem. Mas é verdade que estive perto de matá-lo, enquanto sequer pensei, nem por um momento, em matar a Yuuri-san. E mesmo agora que ele diz isso, ainda não quero.

— Mesmo sendo enganado, ainda é impossível resistir ao charme da Yuuri-chan. Isso se aplica a nós dois, certo? Porque nós entendemos muito bem que ela quer sobreviver, acabamos querendo perdoá-la. …Bom, resumindo, nós continuamos sendo enganados, mesmo depois de perceber. Hah… droga, Yuuri-chan realmente é forte demais nesse jogo.

…Nós continuamos sendo enganados…Acho que sim. Ainda estou pensando que Koudai Kamiuchi pode estar inventando essa história toda para me enganar. E quero que seja isso. Então, para me livrar desses pensamentos ingênuos, resolvo explorar o assunto mais a fundo.

— …Desde quando você esteve cooperando com a Yuuri-san?

— Desde o [Encontro Secreto] no primeiro dia! Bancar o cara mal daquela vez também foi um pedido da Yuuri-chan.

Então realmente foi desde o início. Yuuri-san esteve buscando uma forma de sobreviver desde o princípio, mesmo quando ainda estava pálida.

— …Foi ela que te disse para matar o Daiya também?

— Bom, sim. Parece que a Yuuri-chan praticamente acreditou naquela história sobre ‘caixas’, e acreditava que tudo terminaria com a morte do Oomine-senpai.

— Ela acreditou no que dissemos sobre as ‘caixas’…?

Mesmo tendo negado o tempo todo…? Aah, entendo. Aquilo foi uma performance para evitar que o resto de nós duvidasse dela.

— Você lembra que eu estava olhando para o meu terminal portátil naquela hora, pouco antes de fazer aquilo? Na verdade, estava relendo as instruções da Yuuri-chan!

— …Quão detalhadas foram as instruções dela?

— Ela especificou por cima como eu deveria agir. Basicamente, ela queria ter certeza que não atrairia suspeitas para si mesma. Bom, embora essa não tenha sido a razão que ela me deu.

Yuuri-san estava sorrindo tranquilamente até o Kamiuchi-kun causar aquele incidente. Mesmo sabendo o que iria acontecer.

— …Maria…

— Hmm?

— Por que Maria ficou em silêncio, mesmo sabendo que a Yuuri-san estava envolvida nisso?

— Ah, você percebeu até isso?

Maria teve um [Encontro Secreto] com Koudai Kamiuchi antes daquilo. Então ele a forçou a ficar em silêncio de alguma forma?

— Para falar a verdade, Maricchi já tinha percebido tudo ontem. Embora não estivesse totalmente convencida, apenas suspeitando. Então, ela me perguntou sobre meu envolvimento com a Yuuri-chan durante nosso [Encontro Secreto].

Me lembrei do que Maria tinha dito.

«…Bom, o que quero dizer é… você já gastou quatro [Encontros Secretos] com a Yanagi, certo?»

— …Não me diga…

Maria já estava suspeitando da Yuuri-san naquele tempo? Ela estava suspeitando do comportamento da Yuuri-san, quando do nada começou a me pressionar para ter um [Encontro Secreto] com ela?

Mas fui incapaz de perceber o aviso da Maria e tive um [Encontro Secreto] com a Yuuri-san. Porque não consegui escapar do meu passado com a «Yanagi-san». E isso resultou no pior cenário possível.

— Mas você não acha que a Maricchi é franca demais? Ela não estava preocupada com a própria segurança quando me questionou sobre a Yuuri-chan?

Tenho que concordar com ele, mas essa é a única maneira que a Maria pode atacar.

— Bom, já que não sabia mais como manter tudo em segredo, acabei contando a verdade toda para ela. Ah, como você deve ter pensado, também garanti que ela ficaria em silêncio sobre isso.

— …Como? Maria não pode ser ameaçada tão facilmente! Mesmo que a própria vida dela esteja em risco, ela não responderia a uma ameaça!

— Acho que sim. Ela não obedece, não importa como seja ameaçada. …Portanto, ameacei fazer algo com você, Hoshino-senpai.

— …Eh?

— Não, não tinha planejado aquilo, sério. Simplesmente anunciei que mataria você em seguida, Hoshino-senpai. E então ela fez a proposta por si mesma «Ficarei em silêncio sobre isso como você quer, então não machuque o Kazuki. Pode me matar se quiser».

Sério, quanta coragem…Aah, agora entendo. «Vou te proteger, Kazuki» Foi esse o significado daquelas palavras.

— Acabei concordando. Apesar de não ter qualquer intenção de seguir à risca. Ou você vê algum sentido nisso? Quero dizer, Yuuri-chan não pode deixar o [Revolucionário], inimigo dela, vivo.

…Maria está mais do que ciente o bastante disso. Ela certamente sabe que o seu sacrifício não resolveria nada. Mas mesmo assim ela não pôde me abandonar. Porque esse é o orgulho dela. Contudo…

— Me pergunto se ela é, inesperadamente, uma idiota… a Maricchi.

…Koudai Kamiuchi é incapaz de compreender isso. Já que ele vive em um lugar muito distante desse tipo de orgulho.

— …Kamiuchi-kun.

— Qual o problema?

— Se Yuuri-san não tivesse te dado a ordem para matar o Daiya, você o teria deixado viver?

A resposta foi imediata.

De forma alguma.

Provavelmente essa sequer foi uma pergunta difícil para ele.

— Ela apenas me deu o último empurrão. Mesmo que não tivesse me dado uma faca, teria feito algo similar, eu acho. Quero dizer, seria idiota esperar até dar o tempo limite.

Ele continua, alegremente:

Quando podemos aproveitar algo tão divertido!

Aah, entendo. Os planos secretos da Yuuri-san não importam nesse caso. Não posso perdoá-lo, não importa o que aconteça. De forma alguma. Enquanto estou cerrando meu punho em silêncio, Koudai Kamiuchi começa a vasculhar a bolsa dele ao meu lado.

— Como tenho pena de você, te darei isso!

Ele me oferece a faca.

— …O que está planejando?

— Use isso como defesa pessoal por hora. Parece que a Yuuri-chan não planeja te selecionar como alvo de [Execução] até o fim do [Encontro Secreto] com você. Se matá-la rapidamente, pode conseguir sobreviver.

— …Tá falando sério?

— …Hmm? É estranho tentar te ajudar? Disse que estou fazendo isso por simpatia, sério. Considere isso como um presente de despedida de um membro do “Clube das Vítimas de Yanagi Yuuri”!

— Não é isso que estou falando! O que quero dizer é… você não a ama?

Seu olhar fica perplexo enquanto ele está me observando, como se não tivesse me entendido. Aah, entendo. Ele não tem nada para proteger. É como se não pudesse ver seu coração em suas emoções. É por isso que não conseguíamos ver consistência nas ações dele. Manter a Maria em silêncio, e me dar dicas dos esquemas da Yuuri-san, isso não o incomoda nem um pouco. Já chega. Não tenho mais vontade de conversar com ele.

— …Não preciso disso.

— Tá certo.

Sem demonstrar qualquer emoção, ele joga a faca sobre a mesa. A conversa termina nesse ponto. Ele se senta na cama e começa a mexer em seu terminal, entediado. Me sento no chão, e pressiono minha testa contra os joelhos. Não quero mais falar com ele, mas tem algo que preciso confirmar.

— Kamiuchi-kun.

Pergunto sem erguer o rosto.

— Você vai matar a Yuuri-san depois que eu morrer?

Já que Yuuri-san e Koudai Kamiuchi são o [Rei] e [Cavaleiro], eles não podem sobreviver juntos. Se ele quiser vencer o jogo, precisa matá-la. Ele responde:

— Honestamente, não sei.

Com seu tom tranquilo habitual. Despreocupado.

— Não tem problema considerar isso outra aposta?

Ergo minha cabeça e olho para o rosto dele. Como sempre, esse rosto está com uma expressão relaxada. Koudai Kamiuchi não mudou nem um pouco. Ele não sente qualquer remorso por ter matado o Daiya e Iroha-san.

— …Ei, Kamiuchi-kun. É a primeira vez que vou dizer algo assim, mas preciso tirar isso do meu peito.

— Apenas ponha para fora.

Respiro fundo e reuno toda a hostilidade possível.

Espero que a Yuuri-san acabe com você.

 

Sétimo dia <C> [Encontro Secreto] com [Yanagi Yuuri], Quarto de [Yanagi Yuuri]

A Yanagi Yuuri que eu conhecia não está mais aqui. Qualquer traço daquela garota adorável sumiu de seu rosto pálido, o que resta é pura exaustão.E em seus olhos, está aquele vazio. Esses são os olhos que vi ontem, antes dela me abraçar. Naquela hora, achei que o motivo deles era a ferida emocional, que ela tinha sofrido. Mas estava errado. Esse vazio é o resultado dela conter os próprios sentimentos por um longo tempo, para poder atuar na nossa frente.

E… eu não consigo mais compará-la com «Yanagi Nana» quando ela está assim…Não, não é apenas por causa de sua expressão. Provavelmente, já tinha percebido quando beijei o rosto dela. Provavelmente, eu já tinha percebido quando pensei que suas lágrimas eram diferentes das de «Yanagi Nana» quando elas não saciaram minha sede.

 

Simplesmente observo a garota a minha frente. Simplesmente continuo olhando para ela, sem qualquer sinal de desviar o olhar, mas também sem qualquer emoção profunda sobre isso. A garota pálida pressiona as mãos contra o peito. Sua respiração errática. Apesar de estar tentando manter meu olhar o mais livre de emoções possível, ela entende o significado disso e começa a sofrer.

…Por estar consciente de seus pecados. Seu corpo treme de leve, e ela cobre sua boca imediatamente. Mas sua resistência é inútil, ela não pode evitar que seu vômito escape pelo espaço entre seus dedos.

— Uh, gue…

Contudo, sou incapaz de me preocupar com ela e apenas continuo observando. Odeio ela. Odeio ela. Deveria odiá-la, por ter nos enganado, nos acuado, nos trago a essa situação. Seria mais fácil para mim dessa forma. Além disso, se considerá-la como minha inimiga, pode ainda haver alguma chance. Preciso odiá-la. E mesmo assim, ela começa a se lamentar, com uma aparência vergonhosa.

…Isso dói. Ela lamenta.

…Isso dói, isso dói, isso dói, isso dói isso dói isso dói isso dói isso dói isso dói dói dói dói dói dói dói dói dói.

— …

E daí? Yuuri-san também acuou e atormentou os outros. Ela merece sofrer dessa forma. Essa aparência dolorosa pode até ser outra de suas artimanhas. Não seria absolutamente idiota sentir simpatia por ela? Mas mesmo assim…

— …Você está bem?

Digo essas palavras gentis e acaricio as costas dela.

— …Eu, sinto muito.

Agora que penso nisso, ela sempre esteve se desculpando.

— Eu sinto muito.

Após pedir perdão como sempre, ela continua.

Mas ainda vou te matar, Kazuki-san.

Sei disso! É claro que não abriria mão de sua vida, após se machucar tanto para mantê-la.

— …Yuuri-san, é melhor você se deitar.

Quando sugiro isso, até sentindo compaixão por ela, ela segue minha sugestão e se deita na cama. Mas não vira o rosto em minha direção. Nessa posição, ela me pergunta.

— …Você não vai resistir?

— Não vou.

Fico surpreso com minhas próprias palavras. Embora estivesse em dúvida sobre me opor a ela ou não, consigo respondê-la imediatamente. Mas provavelmente está tudo bem dessa forma. Essa resposta que dei por reflexo, certamente será minha resposta final.

— …Então por que quis ter um [Encontro Secreto] comigo?

— Porque tenho um pedido.

E então disse a ela, o motivo de não ter escolhido a Maria, mas ela como parceira do [Encontro Secreto].

Não mate a Maria.

Percebo que ela respira fundo, em surpresa.

— …Por que você acha que mataria a Otonashi-san? Quero dizer, sou o [Rei], ela é o [Dublê]. De acordo com o jogo, não preciso eliminar a [classe] dela para sobreviver.

— Você tentou me fazer matar Koudai Kamiuchi, certo?

— …Sim.

— Mesmo que o matasse, o jogo não terminaria. Contudo, você não seria capaz de usá-lo para me matar. Portanto, não importa quem você use para matar o outro, no final você precisa eliminar o restante com suas próprias mãos. Então, me pergunto: por que você particularmente pediu que eu o matasse?

Yuuri-san fica em silêncio, mas consigo a resposta por mim mesmo.

Porque é fácil matar alguém como eu, certo?

A cabeça dela treme de leve.

— Seria arriscado demais deixá-lo para o final, já que precisaria matar o último com uma faca. Mas no meu caso, quase não há perigo. Portanto, queria me deixar por último. Estou errado?

Ela fica em silêncio por um tempo, mas responde.

— …Está certo.

Fico um pouco chocado por ela ter admitido. Mas escondo esse sentimento e continuo.

— Mas agora, você precisa matar Koudai Kamiuchi por conta própria. Além disso, precisa fazê-lo diretamente, com uma faca, embora não tenha qualquer chance de derrotá-lo em uma luta direta. Então, me pergunto, o que vai fazer? Como você aumentaria suas chances de sobrevivência?

— …

— …Acho que você já entendeu o que estou tentando dizer, certo? Para aumentar suas chances de sobrevivência… você usaria Maria Otonashi.

Ela se encolhe ao ouvir essas palavras.

— Bom, não sei exatamente como planeja fazer isso! Apenas, acho que é absurdo pensar que se restringiria após ter feito tudo isso. Yuuri-san, na pior das hipóteses, você até mataria a Maria para sobreviver.

Me aproximo do rosto dela e olho em seus olhos.

— Portanto, por favor.

Repito minhas palavras.

Não mate a Maria.

Não a deixarei desviar o olhar. Preciso fazê-la prometer. Parecendo um pouco assustada, essa garota com os olhos vazios responde:

— …É fácil prometer isso. Só preciso dizer, mesmo que seja uma mentira.

— …Hmm?

— Afinal, você não tem como confirmar se cumprirei a promessa ou não, porque estará morto quando eu usar a Otonashi-san. Então não é sem sentido fazer uma promessa dessas agora? A essa altura você já deve saber que posso mentir se precisar.

Ela só precisava fazer a promessa, mas está me dizendo isso intencionalmente.

— …Você é diferente de Koudai Kamiuchi.

— Eh?

— Você tem noção de seus pecados. Portanto, vai ceder a minha ameaça.

Ameaça. Ela arregala os olhos quando uso essa palavra.

— Se matar a Maria… vou arruinar sua vida.

Não estarei mais vivo se a Yuuri-san quebrar essa promessa. Mas isso não quer dizer que não possa ameaçá-la. Só preciso preparar algo que será invocado no momento que a promessa for quebrada.

— Se matar a Maria, vou te amaldiçoar e atormentar até o último dia de sua vida. Vou me tornar um espírito que te amaldiçoará vinte e quatro horas por dia. Não vou deixá-la esquecer do fato de que é uma assassina nem por um instante. Vou fazê-la perder o sentido de viver e estará acabada.

Ao entender minha determinação, Yuuri-san muda sua expressão para uma que está, ou sorrindo, ou prestes a chorar, não consigo dizer qual.

— Ela é importante para você, heh.

Ela sussurrou.

— Otonashi-san é alguém importante para você, não é mesmo?

Estou aliviado por ela ter entendido minhas intenções.

— Sim… por isso, não vou perdoá-la se você a matar.

Essa ameaça só é efetiva, porque Yuuri-san tem noção de culpa. Agora, se matar a Maria, ela será consumida pelos próprios sentimentos de culpa no mesmo instante. Portanto, ela não irá mais ferir a Maria.

Me afasto da cama e me sento em cima da mesa.

— …Então, por que você quis ter um [Encontro Secreto] comigo, Yuuri-san?

— …

— Você me escolheu como parceiro para o seu [Encontro Secreto], não foi?

Olho para ela, de cima da mesa.

— Realmente… escolhi.

Ela ergue o rosto para observar o teto.

— Tem uma última coisa que queria te dizer. Pode ser difícil para você ouvir, mas posso te contar sobre minhas ações? …Bom, apesar de que você já parece saber a maioria.

— …Uma confissão?

— Não. Afinal, seria mais fácil não falar nada.

— Então por quê?

Porque isso vai te ajudar.

Franzo o rosto.

— Vai me ajudar? O que vai?

— Os detalhes, de como criei essa situação, será útil para você.

Não entendo. Não vou morrer em breve? O que me é útil ou não, não importa. Mas Yuuri-san não dá mais detalhes de suas intenções e começa a falar.

— Estive pensando em uma maneira de sobreviver, desde que cheguei no [Kingdom Royale].

Sua voz está tremendo. Aparentemente, ela realmente não quer falar sobre isso.

— Temendo pela minha vida, pensei em como poderia aumentar minhas chances de sobrevivência. Em outras palavras, estava planejando vencer esse jogo-assassino desde o início. A conclusão que cheguei, foi de que, por hora o ideal seria fazer dos outros meus aliados. Especialmente queria o [Revolucionário] e o [Feiticeiro] do meu lado. Portanto, queria saber quem possuíam essas [classes]. Para isso, tinha a intenção de propor que todos revelassem suas [classes]. Mas surpreendentemente, foi Oomine-san quem propôs isso.

— Você queria o [Revolucionário] e o [Feiticeiro] do seu lado…

— …Para poder matar.

Ela declara, sem hesitar. …Talvez ela tenha se tornado um pouco franca de mais, sobre suas ações.

— Mas o [Feiticeiro] era o Oomine-kun, e ele não quis se tornar meu aliado. Acredito que ele percebeu minha atuação, e que minhas lágrimas eram falsas. E o [Revolucionário] acabou sendo você, Kazuki-san. Mas você não mataria ninguém, mesmo que eu pedisse.

— Então, você fez Kamiuchi-kun, o [Cavaleiro], seu aliado…? Mas sua decisão foi rápida, não foi? Ele me disse que já tinha recebido instruções suas no primeiro dia.

— Era… bem, óbvio que ele tinha uma queda por mim. Sou perceptiva para esse tipo de coisa. Portanto, rapidamente fiz dele meu aliado e o fiz causar aquela confusão para aumentar a tensão.

— Por que você precisava fazer aquilo?

— Para forçar o resto de vocês a fazerem algo rápido. Ao se sentirem ameaçados, as pessoas tentam armar um plano contra essa ameaça. Com isso, fiz vocês quererem planejar algo.

Entendo… realmente, se todos concluíssem que o jogo não poderia começar, não haveria necessidade de bolar novos planos.

— Conclui que o que vocês contaram sobre as ‘caixas’ era verdade. Portanto precisava eliminar o Oomine-san.

— Por isso pediu para Koudai Kamiuchi matá-lo?

— Sim. Mas o [Kingdom Royale] não terminou com a morte dele. Por isso, mudei meu foco, de matar o ‘portador’, para vencer o jogo. …O resto você já sabe, certo?

Concordo. Estou confiante de ter entendido a maior parte…Mas ainda tenho uma questão.

— Então, e a Iroha-san…? Assumi que ela se suicidou para mandar uma mensagem, mas o que exatamente aconteceu?

Percebo claramente o rosto dela ficando mais tenso. Posso ver pela expressão que a morte da Iroha-san foi algo que causou impacto nela. Apesar de ter declarado tão abertamente seus crimes, parece que esse assunto ainda causa alguma relutância.

Ela morde o lábio, mas volta a falar.

— …Acho que foi como você imaginou. Nós escolhemos a Iroha como alvo para [Execução]. E quando ela descobriu, decidiu morrer daquela forma para deixar uma mensagem para você e a Otonashi-san.

Sua voz claramente está suprimindo suas emoções. De repente, percebo algo. O relógio que ela está usando no pulso direito. Seu relógio original era bege. Mas… o que ela está usando agora é laranja.

— Mesmo nesse jogo… ainda não consigo vencer… a Iroha…

E então ela fica em silêncio. Tenho o pressentimento de que ela não responderá mais perguntas sobre a Iroha-san. Então decidi não incomodá-la mais com esse assunto.

— Certo, entendo o que você fez… mas ainda não entendo, como isso pode me ajudar?

Para responder, Yuuri-san se levanta da cama e me encarou com os seus olhos vazios.

— …Por que você acha que acreditei na história da ‘caixa’?

— Eh?

— Você pode, por favor, acreditar no que vou dizer agora? …Não, desculpe. Após te trair dessa forma, é estúpido esperar que você continue a acreditar em mim, não é mesmo?

Hesitante, ela continua.

— Mas já que você me perguntou, vou te contar. Diferente dos outros, posso me lembrar do que aconteceu pouco antes de chegarmos aqui.

— …!!

Arregalo os olhos, deparado com essas palavras inesperadas.

— Lá, eu recebi uma explicação do ‘portador’. Ele me disse que eu iria jogar um jogo assassino chamado [Kingdom Royale].

O ‘portador’…? Então ela conhece o ‘portador’, quem está por trás do [Kingdom Royale], desde o início?

— …Quem é o ‘portador’…?

Ela me responde:

— É o Oomine-san.

Daiya é o ‘portador’…?

Prendo minha respiração. Honestamente, isso não é inesperado. Na verdade, é apenas natural ser ele. Ela provavelmente acreditou na Maria, porque já sabia que Daiya era o ‘portador’. Mas…

— Mas… a ‘caixa’ não foi destruída, apesar da morte do Daiya.

Certo, se Daiya fosse o ‘portador’, a ‘Game of Idleness’ teria sido destruída.

— Como já disse, também achei que o jogo terminaria. Mas como você vê, não terminou. Com isso, imediatamente entendo o motivo.

O motivo que ela disse:

— O Oomine-san que estava aqui… não era «Daiya Oomine».

— …Do que você está falando? Então o que era aquele Daiya?

— Bem…

Ela hesita.

— …Sinto muito, mas prefiro não te dizer. Se disser isso agora, você provavelmente não vai acreditar em mim de qualquer forma. Mas pense nisso por um instante, não pode ser considerado uma prova, mas o Oomine-san daqui, não tinha qualquer consciência de ser o ‘portador’ dessa ‘caixa’, certo?

— Bom, acho que sim…

Se não fosse o caso, ele não teria permitido ser morto tão facilmente. Mas mesmo que isso esteja certo, não quer dizer que Yuuri-san está dizendo a verdade. Não consigo mais dizer o quanto das palavras dela são verdade.

— Yuuri-san, vou morrer logo, certo?

— Sim.

— Então, se não acredito em você agora, quando serei capaz de acreditar?

Essa pergunta provavelmente é um pouco cruel, já que não pode ter resposta. Contudo, ela responde imediatamente.

 

Quando chegar a sua vez.

 

— Minha vez…? Vez do que…?

Mas ela não responde mais. Essa provavelmente é outra coisa que «ainda não posso acreditar». Talvez… [Kingdom Royale] não acabe após a vitória dela e a minha morte? Talvez se inicie de novo? Mas até quando? Não me diga que vai ser até o ‘portador’ estar satisfeito…?

— Nós teremos que enfrentar uns aos outros, dessa mesma forma, de novo…?

Ela desvia o olhar ao ouvir a pergunta. Ao invés de me responder. Ela diz:

—…Kazuki-san, tenho um pedido. Pode ouvi-lo?

Com um rosto, que parece estar à beira de cair em lágrimas.

— Sim, vou ouvir.

Ela mostra um sorriso fraco, e continua:

— Muito obrigado. Então, por favor, me prometa. Da próxima vez, ou na próxima, ou mesmo na última, de qualquer forma, alguma hora sua vez vai chegar com certeza. Quando isso acontecer, com certeza vamos nos enfrentar de novo. Quando isso acontecer…

Ela se levanta e vem cambaleante em minha direção.

— Quando isso acontecer…

Lágrimas escorrem do rosto dela.

— …Por favor, me mate.

E então ela se encosta em mim. Contudo, ao invés de me abraçar, ela apenas se apoia no meu corpo.

— Absolutamente, absolutamente, me mate, por favor, se você não fizer, não serei capaz de me perdoar. Não… já não posso me perdoar, mas se não o fizer, vai ser pior. Então, por favor, me mate. E me deixe te encontrar novamente depois. Por favor. Por favor, por favor, por favor…Não me traia.

 

Então, eu percebo. Talvez possamos recomeçar. Talvez ainda haja uma chance de sobreviver. Contudo… não posso salvar a «Yanagi-san». Olhando para ela, me lembro de «Yanagi Nana», mais uma vez. Confund «Yanagi Nana» com «Yanagi Yuuri». Achei que seria capaz de mudar meu passado se me apegasse e protegesse Yuuri-san. Embora isso seja completamente irracional.

Elas são indivíduos diferentes, então salvar uma, não é o mesmo que salvar a outra. Só não percebi esse fato tão óbvio mais cedo, porque não queria perceber. Porque estava buscando alívio. Mas agora sei. Não posso possivelmente obter alívio em uma ‘caixa’ que está sendo usada por alguém, apenas para passar o tempo.

 

Sinto muito, mas vou traí-la.

Digo claramente. Afinal, com certeza… me esquecerei da «Yanagi-san» de novo.

— Mesmo que seja minha vez, não vou te matar.

Talvez Yuuri-san continue a sofrer, mesmo após o fim do [Kingdom Royale] por causa disso. Mas estou decidido. Sem me render a essa ‘caixa’, e sem me render ao meu passado com «Yanagi Nana», vou proteger. Proteger a mim mesmo. Maria. E… o meu cotidiano…Hã, a mesma conclusão de sempre.

— Entendo…

Sussurrando isso, ela volta para a cama, com o rosto baixo. Ao chegar à cama, ela vira as costas para mim, para esconder o rosto. Faço uma pergunta para as costas dela.

— …Posso fazer só mais uma pergunta também?

— …O que?

— Você acha que pode derrotar Koudai Kamiuchi?

Ela vai enfrentar seu último inimigo a seguir, Koudai Kamiuchi. Ela precisa matá-lo diretamente com uma faca, embora ela não tenha praticamente nenhuma chance em uma luta de verdade.

—…É claro!

Ao dizer isso, ela se vira.

— …Ah.

Fico surpreso. Os olhos dela não estão mais vazios. Aquele sorriso charmoso voltou para a sua expressão. É claro que essa não é uma expressão forçada. Mas é exatamente isso o que me surpreendeu. Estou atordoado por ela conseguir esconder um sofrimento tão horrível, perfeitamente.

— Se fosse a Iroha ou a Otonashi-san, até entenderia sua dúvida, mas não tem como eu perder para um inseto como ele, tem?

Ela, que me usou sem depender de mim, diferente de «Yanagi Nana», diz em um tom afiado.

Vou enganá-lo até o fim e matá-lo.

— …Entendo.

Embora eu mesmo tenha sido enganado, mais do que o suficiente, não consigo suprimir minha risada. Com isso, me lembro.

«Estou com medo… estou com medo…!»

«Não queria morrer de forma alguma. Então, então, eu…»

«Me, salve.»

Ela me enganou, é verdade. Mas surpreendentemente, ela não disse muitas mentiras. Afinal, ela realmente estava com medo, ela realmente sofreu e pediu ajuda. E…

— Kazuki-san.

Yanagi Yuuri me mostra um sorriso, igual ao que ela tinha quando a beijei no rosto, e diz:

— Eu realmente gosto de você, Kazuki-san.

 

Sétimo dia <C> [Encontro Secreto] com [Maria Otonashi], Quarto de [Kazuki Hoshino]

Conto tudo o que descobri para Maria.

Não importa o quão difícil seja para ela aceitar esse resultado, não pode fazer nada. Yuuri-san já me escolheu como alvo de [Execução]. Maria sabe que nada mais pode ser feito.

Portanto, estamos apenas sentados na cama, de mãos dadas. Como se quiséssemos preservar o formato da mão, um do outro, em nossas mentes, entrelaçamos nossos dedos, mudando a posição deles várias vezes, apenas para sentir o outro. Sentir o outro pela última vez.

— Kazuki.

Maria chama meu nome.

— Para falar a verdade, tem algo que não te disse de propósito.

— …Eh?

— Recentemente, não possuo mais a ‘Flawed Bliss’.

Sem entender do que ela está falando, apenas continuo a observando.

— Acho que perdi meu poder temporariamente, mas não posso dizer ao certo. Nunca tinha me deparado com uma ‘caixa’ dessas até hoje, mas essa pode ser uma das características da ‘Game of Idleness’.

…Na verdade, isso não é muito importante?

— Por que não me disse?

O olhar dela cai apenas um pouco e ela me diz, com nossos dedos ainda entrelaçados.

— Não sou humana, sou uma ‘caixa’. Sou apenas um ser que existe pelo bem dos outros. Foi isso o que sempre te disse. Maria Otonashi… não, Aya Otonashi precisa ser uma existência desse tipo. É o que me sustenta, o que me permite ser assim, é a ‘Flawed Bliss’. Contudo, não posso usá-lo agora. Então, o que eu sou?

— Maria é Maria!

— …E é assim que terminamos, hein.

Ela aperta minha mão com tanta força, que quase chega a doer.

— Não sou nem capaz de proteger apenas o Kazuki…?

— …Maria.

— Hah! [Dublê]? Queria poder morrer no seu lugar, então.

O mau hábito dela aparece de novo. O hábito de imediatamente desprezar a si mesma.

— …Por favor, pare. Não desejo por algo assim.

— Eu sei! Sei que esse desejo não serve para nada além de satisfazer meu próprio egoísmo!

Arregalo os olhos quando ela grita comigo.

— …Eh?

Maria está ciente disso? Ela não acreditava honestamente que isso ajudaria os outros?

— Afinal de contas, durante «aquela semana», você me ensinou, da maneira mais severa o possível, que isso não passa de minha insolência…

Ela me encara, com uma expressão assustadora.

— Mas mesmo assim! Mas mesmo assim, sou uma ‘caixa’!

Sou completamente derrotado pela intensidade das palavras dela, e fico em silêncio. Ela sabe disso, mas não pode mudar. Porque ela tem uma determinação que não pode mudar. Se mudar, ela deixará de ser a pessoa que é.

— …Desculpe por gritar com você.

Maria desvia o olhar desconfortavelmente.

— Mas isso é mortificante. Absolutamente não consigo aceitar esse resultado.

— …Não se preocupe, Maria. Se a Yuuri-san estiver dizendo a verdade, podemos nos encontrar de novo.

— Isso não importa. O fato de que você vai se separar de mim, mesmo que por pouco tempo, não muda. Certamente vou te perder agora, Kazuki.

— …Maria.

Realmente, também não consigo acreditar completamente que voltarei a vida.

— …Kazuki, como acabei de dizer, você não pode dizer que sou uma ‘caixa’ nesse momento. Portanto, sou incapaz de proteger alguém. Mesmo depois disso, posso precisar assistir ao sofrimento da Yanagi, sem ser capaz de fazer nada. No [Kingdom Royale], sou apenas uma garotinha fraca.

Ao dizer isso, Maria coloca os braços ao redor da minha cabeça.

— Portanto, acho que posso mostrar um pouco da minha fraqueza como Maria Otonashi.

Próxima do meu ouvido, ela sussurra.

— Estou triste!

Os lábios dela tocam levemente minha orelha.

— Não consigo suportar sua morte. Isso parte o meu coração. Não quero isso. Quero ficar com você.

Repentinamente, me lembro da cena, durante aquelas repetições intermináveis, em que me ajoelhei e estendi minha mão para ela.

— Posso ser fraca. Posso ser apenas Maria Otonashi agora. Mas…

Durante aquele tempo, ela certamente se tornou uma garota frágil também, embora tenha sido apenas por um instante. E igualmente, ela é uma garota frágil dentro da ‘Game of Idleness’.

— …Mesmo assim, quero te proteger, mesmo que precise pagar com minha própria vida.

Não sei como está a expressão dela ao dizer isso. Mas sei qual resposta devo dar.

— Sinto muito.

Afinal, decidi no momento em que escolhi a Maria, e não a «Yanagi-san».

— Não importa quão difícil seja para você, dessa vez não é sua função me proteger.

Quando a escolhi, quem me fez ser o que sou agora, eu decidi.

— É minha função te proteger, quando você tiver perdido sua ‘caixa’.

Decidi proteger a Maria. E dessa forma, proteger meu cotidiano.

Para proteger o cotidiano que a Maria não deseja.

 

Sétimo dia <C> Quarto de [Kazuki Hoshino]

E então, sou atravessado por uma lâmina invisível.

 

± [Kazuki Hoshino], morto por [Ataque Fatal]

 


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Vencedores

 

 

[Yanagi Yuuri] (Jogadora)

[Rei], matou Kazuki Hoshino no sétimo dia ao selecioná-lo como alvo de [Execução]. Matou Koudai Kamiuchi diretamente no mesmo dia. Viva.

* Condições de vitória alcançadas com as mortes de Iroha Shindou, Kazuki Hoshino e Koudai Kamiuchi.

 

[Maria Otonashi]

[Dublê], viva.

* Condições de vitória alcançadas com as mortes de Iroha Shindou e Kazuki Hoshino.

 


Perdedores

 

[Iroha Shindou]

[Príncipe], executada no sexto dia por ignorar o tempo limite.

 

[Daiya Oomine]

[Feiticeiro], artéria carótida aberta por Koudai Kamiuchi no sexto dia, morte por sangramento.

 

[Kazuki Hoshino]

[Revolucionário], morto no sétimo dia pelo [Ataque Fatal] de Yanagi Yuuri e Koudai Kamiuchi.

 

[Koudai Kamiuchi]

[Cavaleiro], matou Daiya Oomine diretamente no sexto dia. Matou Kazuki Hoshino, usando [Ataque Fatal] no sétimo dia. Foi esfaqueado no estômago no mesmo dia por Yanagi Yuuri, morte por choque hemorrágico.



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