A Aurora Dourada Brasileira

Autor(a): W. Braga


Volume 1

Capitulo 7: MISTÉRIO

Clareou o dia, a aurora estava esplendorosa.

O clima era ameno naquela manhã e todos já estavam descansados e recuperados dos ferimentos recebidos na luta dentro do pântano.

Montados em seus cavalos, voltaram a seguir o caminho em uma cavalgada firme e veloz.

Deram muitos galopes até chegarem a uma vasta planície. Era toda florida e conhecida como Irenes.

Os ventos suaves traziam o aroma das flores daquele campo, que encantavam tanto quanto os lindos cantos dos raros pássaros ali presentes.

Essa cena fazia a princesa alegrar-se um pouco. Apesar da tristeza em seu coração pelas perdas das vidas dos seus valorosos cavaleiros reais. Onde se sacrificaram para protegê-la.

Ao seu lado, iam os sete guardas reais que restavam. Mais próximo, era Zabuana, sempre conversando com ela sobre seu povo e seus costumes. Assim para ajudar a distraí-la e ao mesmo tempo confortá-la.

À frente, estava Walery, sempre atento e cuidadoso. Na vanguarda do grupo, vinha Darion.

Logo adiante, o caminho dividiu-se.

O príncipe Darion olhou para a sacerdotisa e perguntou:

— Por onde, minha senhora?

— Devemos seguir por aqui! — disse Niara, indicando a direita, ainda com a voz e o semblante triste.

Tomaram, então, esse caminho. Galoparam por mais algum tempo.

Quando o sol já estava no topo de suas cabeças, mostrava ser quase meio-dia.

Chegaram a trotes leves a um simples e humilde vilarejo.

Os aldeões os admiraram, pois há muito tempo cavaleiros com tais vestimentas haviam deixado de passar por ali.

O grupo havia perdido suas capas maiores na luta anterior.

Então usavam somente as capas de suas armaduras, as quais eram de tecidos mais refinados e comprimentos menores, onde encobriam partes de suas vestimentas reais.

Continuaram a seguir em frente, até acharem uma taberna: de aparência bem antiga.

Desceram lentamente de seus cavalos e olharam em volta, para se certificarem sobre segurança da sacerdotisa Niara.

Deram alguns passos até o início da escadaria de madeira que dava acesso a instalação.

Até começarem a subir os degraus daquela antiga construção rústica: o piso da instalação cedia e rangia com o peso dos cavaleiros reais.

À frente seguia príncipe Walery, enquanto os príncipes Darion e Zabuana protegiam a sacerdotisa pela retaguarda.

O herdeiro do trono de Vanesia levantou as suas mãos para abrir as duas portinholas. Ao movimentá-las, rangeram de tão antigas e secas que estavam às dobradiças.

Adentraram o lugar com passos firmes e calmos. Coragem em seus corações e olhos atentos em todas as direções.

Lá dentro havia muito barulho de gargalhadas, gritos e palavras que homens honrados e de educação refinada jamais diriam.

A taberna tinha vários odores forte: de bebida, suor e madeira queimada que se misturavam.

Foi o que a sacerdotisa sentiu de imediato naquele local pouco iluminado e nada arrumado.

Todos os tipos de homens e mulheres observavam com atenção os novos visitantes foram na direção do balcão.

Os viajantes tentavam manter ocultas suas armaduras com as capas, protegendo suas identidades.

Ao alcançarem o bar, a sacerdotisa tomou a frente dos demais, dirigiu-se ao taberneiro.

Homem sem barba, de muito pouca beleza, corpo mostrando o excesso de peso para sua altura mediana. Usava roupas sujas e molhadas de suor que escorria pelo rosto e pescoço. Sem contar o fedor que dele exalava, e ela perguntou:

— Por favor, meu senhor, onde é o reino Vanires?

Silêncio total...

— Não sei, minha linda e bela jovem! Mas se quiser permanecer conosco para nos agradar... ficaríamos gratos! — falou o taberneiro cheio de maldade e malícia em suas palavras e expressão facial.

Ele e os demais riram, quebrando o enorme silêncio que se encontrava o local.

O príncipe Darion passou à frente da sacerdotisa, segurou o taberneiro pelo pescoço com sua mão direita e, com a outra mão que segurava um punhal apontou para a garganta do taberneiro.

— Por que faltou com o respeito à minha senhora? — disse com firmeza nas palavras o portador do arco místico.

No mesmo instante, todos se levantaram empunhando espadas e outras armas.

A ação dos cavaleiros que acompanhavam a sacerdotisa não foi diferente. Logo estavam com suas armas em punho e prontos para atacar.

O medo da morte estava nos olhos do taberneiro.

— PAREM! — gritou uma estranha voz no fundo da taberna.

Todos olharam para a direção de onde vinha a voz: os homens e as mulheres ficaram surpresos com ordem.

— Não é dessa forma que tratamos honrados visitantes em nosso reino! — disse um homem com voz de autoridade.

Usava uma capa com capuz, de tecido grosso azul-escuro, dessa forma escondendo a sua identidade.

Estava em um canto aos fundos da taberna. Sentado em uma mesa com pouca claridade, onde era iluminada apenas pela entrada da luz natural, por uma janela entreaberta.

Muitos dos que estavam ali reconheceram a voz do misterioso homem, embainharam as espadas e outras armas, sentaram-se, voltaram a beber, a comer e a conversar em tom mais baixo.

Outros demoraram mais a perceber, mas logo fizeram o mesmo, criando um silêncio respeitoso.

Os príncipes e a sacerdotisa ficaram surpresos com a autoridade do misterioso homem.

Logo, Darion retirou sua mão do pescoço do taberneiro e ficou prestando atenção no estranho homem encapuzado.

— Vocês já estão em Vanires! — respondeu o estranho que continuava sentado. — Para onde querem ir? — perguntou de cabeça baixa, ocultando o rosto.

— Para a cidade principal deste reino! — disse a sacerdotisa Niara voltando sua atenção para a misteriosa figura.

— Muito bem, eu os levarei até lá! — falou o estranho homem encapuzado.

— Eu o agradeço. — disse a sacerdotisa, surpresa com a atitude.

Em silêncio. Ele se levantou da cadeira, deixando para trás, em cima de uma mesa de madeira rústica. A caneca de barro onde bebia seu suave e doce viéves.

Andou passivamente em direção à porta da taberna.

O grupo de cavaleiros de Nincira, a sacerdotisa Niara e os três príncipes atentos saíram da taberna com esse desconhecido homem, enquanto escondia o rosto sob o capuz de sua escura capa.

Walery, Darion e Zabuana olhavam-se desconfiados, mas sem pronunciar nenhuma palavra para Niara.

Montaram nos cavalos e partiram rapidamente a galope, indo à frente o estranho homem, seguido pelo grupo.

Ao entardecer, já se encontravam na entrada da cidadela de Hanires com seus grandes portões em madeiras grossas e resistentes, barras e correntes duplas de hortis, que reforçavam ainda mais a estrutura defensiva.

Esse reino era um dos mais cultos e com a ciência mais avançada de toda Téryna.

Fora da grandiosa muralha, em sua volta: havia muitas casas de aldeões.

Eram estruturas de grande, médio e pequeno porte. Feitas de madeira e pedras ou barro batido. Cobertas por palha ou placas de cerâmica.

O povo mostrava-se harmoniosos e bem-aventurados.

O grupo passou pelos portões que já começavam a fechar lentamente ao soar de uma tuba: assim era chamado pelos habitantes de muitos povos das Terras de Téryna.

Muitos habitantes entravam e saíam da cidadela por causa do aviso do fechamento.

Junto daquele povo, estava a estranha figura encapuzada. Misturando-se a eles, assim se mantendo oculto.

Trotavam cuidadosamente pela estrada principal: muito larga feita de pedras retangulares e amarelada.

Havia também, belas construções de pedras brancas e de outras cores claras. Diferentes daquelas vistas por eles fora da muralha.

O grupo viu muitos habitantes bem-vestidos junto dos mercadores e comerciantes.

— Sejam todos bem-vindos à linda cidadela de Hanires, governada pelo grande rei Gales e sua linda esposa, a rainha Vanir. — falou o enigmático homem.

— Que linda cidade. Por isso é descrita como a cidade erudita? — disse a sacerdotisa, admirada por ver tanta beleza.

A sacerdotisa virou-se para falar com o homem misterioso, mas ele havia desaparecido no meio da multidão. Não só ela, mas também a guarda real e os príncipes ficaram surpresos.

— Vamos procurar um lugar para passarmos a noite e amanhã procuraremos o rei. — disse Walery com uma expressão de cansaço.

— Iremos agora! — protestou a sacerdotisa. — Já perdemos tempo demais. — concluiu ela, muito preocupada com seu povo e com o bem estar de sua amada mãe e rainha.

Sem questioná-la, Walery e os demais continuaram a seguir em frente.

Avistaram uma sentinela perto de uma pequena torre de observação.

Perguntaram a ele em que direção ficava o palácio real.

O soldado apontou qual direção deveriam tomar e, assim, foram em frente em marcha lenta, pois havia muitos residentes e mercadores na rua.

Galoparam por um curto tempo.

Até que avistaram uma grande muralha, na qual cercava todo o palácio.

Em sua entrada, havia dois portões feitos de madeira robusta, com tiras de hortis reforçando-os.

Havia uma sentinela no alto da muralha fazendo a vigília. Observou a chegada deles e tocou um sino, pendurado acima de sua cabeça por uma haste de madeira.

O sinal dado aos cavaleiros próximos dos portões, que se puseram a abri-lo prontamente.

Sem que o grupo da sacerdotisa esperasse, de trás dos portões, surgiu uma tropa de treze cavaleiros do palácio de Hanires. Estavam montados em belos e impávidos cavalos.

A guarda trajava armaduras robustas, com poucos detalhes, mas com o brasão do reino no peito, em formato menor nos ombros e nas capas de tecidos grossos.

Estavam muito bem armados: com duas espadas cada, escudos, e arcos curtos e lanças.

Foram de encontro a eles para recebê-los.

— Quem são vocês e o que desejam no palácio do nosso rei? — falou o chefe do grupo dos cavaleiros reais de Hanires.

Prontamente a sacerdotisa Niara respondeu:

— Eu sou Niara, a sacerdotisa do reino de Tanys da cidadela de Nincira. E esse comigo... é o príncipe Walery do reino de Vanesia. O príncipe Darion do reino de Salantis e, junto conosco, o príncipe Zabuana das Tribos do Oeste! Venho para pedir uma audiência urgente com sua majestade!!

O silêncio tomou conta por um breve instante.

Pensativo, o comandante olhou firmemente para a sacerdotisa e viu a verdade em suas palavras.

— Aguardem todos aqui! — ordenou ele.

Ele retirou-se rapidamente a galope para dentro do portão da muralha que cercava o palácio real, deixando os soldados tomando conta dos estrangeiros.

Algum tempo depois, o comandante do grupo retornou acompanhado por outros dez cavaleiros interno do palácio.

Todos montados em cavalos e ainda mais bem apresentáveis. Esses eram da guarda pessoal do rei.

Vestiam armaduras e trajes magníficos, repletos de detalhes: os elmos reluziam em prata, assim como os cinturões que portavam duas espadas, uma de cada lado, sendo uma delas maior que a outra. As capas ostentavam o símbolo do reino: um cruzeiro formado por cinco estrelas.

Em suas mãos, seguravam lanças de duas pontas muito afiadas e fortes, que atravessariam uma armadura com a maior facilidade.

O comandante disse a eles:

— Todos vocês sigam estes cavaleiros. Irão guiá-los até o nosso rei. Meu senhor já os aguarda.

Niara, com um lindo sorriso, agradeceu e concordou com um gesto de cabeça.

Logo saíram a galope, acompanhados dos tais cavaleiros da guarda pessoal do rei.

Passaram rapidamente por este segundo portal.

Desta vez, os galopes foram curtos, pois quando perceberam, estavam em um pátio repleto de cavaleiros, servos e servas e muitas outras pessoas.

O grupo da sacerdotisa viu uma escadaria de uma cor amarela bem clara: eram poucos, porém largos os degraus.

Todos desmontaram dos cavalos e entregaram as rédeas aos servos do palácio.

Niara e os demais sentiram a gentileza dos habitantes do reino.

Cercados e escoltados pela guarda real. Começaram a subir rapidamente a escadaria, sob olhares surpresos de todos ali presentes.

Num piscar de olhos, a sacerdotisa, seus guardas e os três príncipes se encontraram diante das imponentes portas douradas do palácio.

Feitas de madeira rústica e adornadas com intrincadas barras entrelaçadas, as portas emanavam uma sensação de segurança inabalável.

As insígnias esculpidas nelas eram complexas e misteriosas para os recém-chegados.

Passaram por essas portas e viram grande beleza no interior do corredor principal do palácio. Era longo e bem iluminado, um caminho que levava até o salão real.

Pelo trajeto, havia muitas mulheres e homens de trajes da nobreza, eram os nobres da cidadela e suas guardas pessoais.

Continuaram a passos largos até a sala do trono.

Ao chegarem, avistaram o rei Gales e sua bela rainha Vanir, à espera dos novos visitantes.

Havia muitos guardas reais, servos e servas pessoais da rainha... além de sacerdotes de alguns dos templos que existiam na cidadela e muitos outros nobres.

Todos olhavam surpresos e admirados para aqueles que entravam na sala do trono.

No lindo e bem decorado altar, encontrava-se o rei, em pé, enquanto a rainha se mantinha sentada em seu trono, com um lindo sorriso no rosto.

Próximo a ela havia um terceiro trono, um pouco menor, onde estava a filha dos dois soberanos daquelas terras.

Uma linda jovem de aparência mais nova que a sacerdotisa, mas de beleza equiparável, seu nome era Waleska.

Com passos lentos, a sacerdotisa e os três príncipes aproximaram-se do rei, da linda rainha e da jovem princesa.

Antes de chegarem ao primeiro degrau, pararam e curvaram-se.

O rei sentou-se em seu trono os saudou:

— Sejam todos bem-vindos a minha cidadela e ao meu palácio. O que traz vocês aqui, tão longe de seus reinos?

Niara se levantou, tomou a frente e respondeu:

— Eu agradeço por nos receber majestade! Venho até sua presença majestade... pois precisamos de ajuda para encontrar um desconhecido que possui um objeto místico! Este tal homem vai nos ajudar a impedir que os nossos reinos sejam destruídos por uma poderosa e terrível criatura!

Todos que ali estavam murmuraram uns para os outros por causa dessa notícia aterradora.

Alguns já haviam ouvido rumores sobre a profecia e a tal criatura. O rei notou o murmúrio na sala do trono, levantou a mão direita e, com o gesto... todos silenciaram-se.

— Quem seria esse desconhecido e o que seria esse objeto, minha jovem? — perguntou ele com ar de curiosidade, embora soubesse de quem se tratava, enfim, queria mesmo testá-la.

— Foi revelado a mim, em meus sonhos majestade. São como duas estrelas do céu.  Prateadas de três pontas, lançadas por um estranho. Elas cortam tudo o que estiver em seu caminho, até mesmo metal feito pelas mãos dos homens. Só sei disso, majestade... sobre ele nada tenho a dizer!! — respondeu serenamente a sacerdotisa.

O rei Gales olhou para sua amada rainha, que continuava sentada em seu trono.

Ele começou a refletir sobre o que a jovem sacerdotisa acabara de falar.

Olhou novamente para a rainha, abaixou lentamente para aproximar-se de seu ouvido e sussurrou algo inaudível.

O silêncio tomou conta da rainha Vanir, que pensou por um instante. Ela concordou, abrindo um lindo sorriso em seus lábios e fazendo um gesto de cabeça, com o que o rei havia dito.

— Muito bem, minha jovem sacerdotisa, veio ao lugar certo. Conheço este de quem você fala.

Niara abriu um lindo sorriso e olhou para os demais que também compartilharam de sua alegria.

— Esperem que mandarei chamá-lo! — pediu o rei Gales gentilmente.

Com um gesto de uma das suas mãos, chamou um dos seus cavaleiros reais.

Este, agilmente, subiu no altar do trono, ajoelhou-se perante o rei, que passou sussurrando a ordem em seu ouvido.

O homem se levantou e, fazendo um sinal positivo com a cabeça, acatou a ordem de seu rei.

Saiu veloz do salão real, demonstrando pressa, à procura do tal homem.

Enquanto aguardavam, o suspense estava presente. Assim como o silêncio dentro do salão real, pois somente o rei, a rainha e pouquíssimos conselheiros sabiam do tal portador das estrelas.

O tempo do retorno foi curto.

Em poucos minutos, viram passando pelas portas da sala do trono o guarda real acompanhado por um homem encapuzado, sob os olhares de todos os presentes.

A sacerdotisa e seu grupo observavam-no, reconhecendo pelas veste o homem que os havia trazido até o reino de Hanires.

O guarda real parou bem atrás, enquanto o misterioso homem se aproximou do altar do trono do monarca.

Ele posicionou-se perante o rei, curvou-se e levantou-se em seguida. Depois, virou-se e, em um gesto lento, ergueu as mãos e retirou o capuz.

Revelou-se, diante de todos. Um belo jovem com a mesma estatura que Walery e Darion, mas aparentando ser mais novo que os três príncipes.

Sem perder mais tempo o rei falou:

— Este é meu filho, príncipe Igor. Herdeiro do trono de Vanires.

Tanto a sacerdotisa quanto os cavaleiros ficaram surpresos mais uma vez. Menos alguns dos presentes no salão, pois sabiam que o príncipe era o portador das estrelas místicas prateadas, mas haviam jurado guardar segredo perante o rei.

— Foi você que nos trouxe aqui? — disse surpreendida a sacerdotisa Niara, mas estava muito alegre.

— Sim, bela sacerdotisa! Fui eu quem os salvou no pântano contra aquelas malditas criaturas. Os aguardei, pois nosso oráculo do Templo do Senhor do Norte me revelou sobre a chegada de vocês. Estes são os objetos que desejam ver? — indagou o príncipe Igor, revelando um par de estrelas de metal ocultas sob sua capa, a mesma que usava desde o primeiro encontro deles.

Elas eram chamadas de Platinias, devido à sua tonalidade prateada, mas a verdadeira origem de seu metal e poder permaneciam um mistério.

Alguns acreditavam que caíram do céu como estrelas cadentes, outros especulavam que foram criadas pelos feiticeiros da Ordem Suprema.

Havia ainda até rumores de que foram forjadas por um dos Nove Entidades Celestiais.

Cada uma dessas armas tinha três pontas afiadas e reluzentes.

Sorrindo, ela concordou.

— Você está certa... minha encantadora sacerdotisa! Com essas estrelas, posso cortar qualquer coisa, até mesmo metais ou objetos místicos. Com apenas gestos das minhas mãos, guiadas pelos meus pensamentos. Dizem que foram feitas do metal de uma estrela que caiu do céu em algum lugar desconhecido no reino do meu pai. Há tantos outros relatos, mas nenhuma explicação de suas verdadeiras origens! — Igor exclamou, cheio de entusiasmo.

O jovem príncipe de Vanires lançou uma de suas estrelas, fazendo o mesmo som ouvido pelo grupo no ataque contra as criaturas no pântano.

Viram dar uma volta completa pelo salão real. Chegando ao centro, ele estabilizou a mão e a estrela continuou girando em alta velocidade em pleno ar por um instante.

Logo, ele continuou com os gestos até a estrela voltar à sua mão.

— Viu sacerdotisa? — perguntou Igor, com olhar de satisfação.

— Sim! É exatamente como me foi revelado em meus sonhos! — disse a sacerdotisa Niara muito feliz.

O rei, com uma expressão de muita alegria, comentou:

— Vocês ficarão conosco hoje... banhar-se-ão e, mais tarde, alimentar-se-ão do banquete que prepararemos exclusivamente para nosso encontro. Depois, descansarão para partirem logo cedo, pois chegou a hora de impedir dessa profecia se concretizar. Meu amado e corajoso filho acompanhará vocês nessa árdua e perigosa tarefa.

Eles satisfeitos com a descoberta do outro portador dos objetos místicos concordaram. Curvaram-se diante do rei e da rainha e saíram, escoltados até seus aposentos.

Ao passarem pelo salão, viram muita alegria em todos os rostos e nas conversas ditas.

Já era o fim da tarde na cidadela de Hanires.

O lindo entardecer era observado pela sacerdotisa Niara da sacada do seu lindo aposento real.

O vento suave acariciava seu rosto, fazendo seus longos cabelos dançarem.

O perfume das belas flores do jardim inundava o ar, acompanhado pelo doce canto dos pássaros.

Entretanto, entre essas sensações, ela carregava uma expressão preocupada e triste em seu coração. Sabia que ainda havia muito a percorrer e muitas vidas seriam perdidas até encontrar todos os misteriosos portadores dos objetos místicos.

Mesmo com as raras flores em vasos de porcelana no aposento não conseguiam desvencilhar sua preocupação por completo.

Do lado de fora, os guardas reais de Tanys faziam a sua segurança, assim como os cavaleiros da guarda real do palácio de Vanires.

Um pouco mais adiante, no mesmo corredor, era o aposento onde se encontrava o príncipe Walery, que treinava sozinho com a sua espada mística.

Por sua vez, o portador do arco de fogo, Darion, descansava em uma macia e gostosa cama.

Enquanto em outro quarto, Zabuana relaxava sentado em um tapete feito de couro de um animal selvagem. Realizava uma meditava em uma profunda oração.

O escuro crepúsculo mostrava as cores das estrelas no céu.

No enorme salão de jantar. Um belo banquete estava sendo servido em uma extensa mesa: com uma linda e decorada toalha de mesa, que estava repleta de muitas frutas e flores em seus lindos vasos.

O aroma das delícias sendo servidas se sentia de longe, de carne assada e outras iguarias da cozinha do palácio.

Todos estavam reunidos; ao centro, toda a família real.

Um pouco mais afastados, se encontravam Walery, Niara, Darion e Zabuana e, atrás deles, a guarda real do palácio de Nincira fazia a segurança da retaguarda.

Ainda havia outras mesas, nas quais se acomodavam alguns nobres, sacerdotes e outros ilustres convidados da família real.

No salão havia muita música, tocada por excelentes mestres do canto com seus raros e clássicos instrumentos.

Seguiam o ritmo da encantadora melodia. As lindas bailarinas dançavam com incrível formosura nos gestos, deixando os convidados cheios de alegria, visível pelos sorrisos estampados nos lábios.

Andando lentamente sem ser percebida, por trás dos pilares do salão, a misteriosa figura observava os príncipes e a sacerdotisa. Sem chamar atenção de ninguém, como se nem estivesse ali. Sem dúvida, era uma presença sobrenatural.

O jantar teve pouca duração, pois muitos teriam de acordar cedo, principalmente os ilustres visitantes.

Os convidados despediram-se de todos, deixando o rei e a rainha por último. Da mesma forma fizeram a sacerdotisa e os três príncipes.

Niara e os demais foram levados novamente pelos servos do palácio aos seus aposentos.

Ao se aproximarem de seus aposentos, despediram-se uns dos outros pelo caminho.

A primeira a ficar foi Niara, em seguida Walery, depois Darion e por último Zabuana.

Lavaram-se, trocaram as suas vestimentas e foram logo para a cama descansarem, sem demorar muito, pegaram no sono.

Outro luar harmonioso virou a madrugada no reino de Vanires.

O dia clareou e todos estavam reunidos, bem alimentados e montados em seus fortes e belos cavalos.

Antes disso, o rei havia oferecido mais cavaleiros para acompanhá-los, mas a linda sacerdotisa recusara, a fim de evitar maiores perdas.

Mas aceitou receber novos mantimentos e mais dois impávidos cavalos.

O príncipe de Salantis havia feito um pedido de novas aljavas de flechas. Sendo assim seu pedido atendido. Agora possuir cinco estojos repletos de mortais flechas.

Faltava montar em seu cavalo o príncipe Igor, que se encontrava em pé, em frente ao palácio.

Aguardava a chegada do rei e da rainha, seus pais.

O príncipe de Vanires viu seus pais e sua irmã chegarem, escoltados por vinte e um cavaleiros da guarda pessoal.

Foram logo o abraçando. A mãe chorava por ver seu amado filho partir, mas sabia que partiria rumo à vitória e para salvar todos da terra de Téryna.

Em seguida, foi à vez de sua irmã mais nova, Waleska, que o abraçou carinhosamente, com um sorriso singelo no rosto.

Por fim, o pai, sem dizer uma só palavra, abraçou-o fortemente. Igor olhou novamente em seus olhos que brilhavam intensamente de emoção, demonstrando toda a alegria e honra por ter um filho como esse.

Então, o rei disse ao filho:

— Vá, meu filho! Que a Estrela Maior proteja você e ilumine seus caminhos, mesmo que estejam cercados pelas trevas.

O jovem concordou com a bênção de seu rei e pai, com um sorriso nos lábios.

Olhou para ambos os progenitores, desceu a escadaria rapidamente e foi ao encontro de seu cavalo que o aguardava.

Montou com uma agilidade incrível e juntou-se ao grupo da sacerdotisa que, por sinal, estava emocionada com a amorosa despedida. Que a fez relembrar-se do que sentiu quando deixou a mãe e rainha Andinara.

Niara, Walery, Darion e Zabuana cumprimentaram a família real com um gesto positivo de cabeça.

Em seguida, começaram a cavalgar lentamente pela estrada principal que cortava a cidadela, o caminho mais curto para chegar aos grandes portões da muralha mestre.

O tempo percorrido foi curto. Quando chegaram a esse portão, passaram rapidamente por ele, que já se encontrava aberto, pois muitos mercadores chegavam à cidadela naquele horário.

Os aldeões ficaram surpresos ao verem o príncipe usando a armadura real ao lado do grupo de estranhos forasteiros.

Em uma cavalgada veloz, rapidamente saíram da visão das sentinelas da muralha, por causa da urgência colocada pela sacerdotisa.

O clima estava frio. O céu encontrava-se nublado, poderia chover a qualquer momento.

O vento balançava as capas dos príncipes, da sacerdotisa e dos seus cavaleiros, que cavalgavam pela longa estrada daquele reino. Em um rumo que somente a sacerdotisa Niara conhecia.

Num instante de paz, tudo parecia calmo. Contudo, longe dali, no reino de Tanys e na cidadela de Nincira, o caos se instalava.

A criatura profetizada emergira da escuridão, espalhando destruição, caos, morte, terror e pânico pelos povoados e vilarejos periféricos.

Na sala do trono, a rainha e seus generais, junto aos conselheiros reais, discutiam medidas para proteger o povo.

— Minha rainha, até agora nenhuma informação de sua filha? — perguntou o comandante da guarda real, preocupado.

— Fiquem todos calmos, minha filha há de conseguir! Sinto que ela ainda vive! Por isso temos que ter esperança.

— Sim, minha senhora. Perdoe-me! — disse um dos seus generais.

— Mas o povo está sofrendo e morrendo! — comentou com a expressão aflita.

— Estou ciente disso, pois sofro com eles. Cada grito... cada choro, cada perda de vida. Mas temos que ser fortes e resistir! — disse a rainha Andinara com tristeza, mas crendo com fé que sua filha conseguiria. — Onde se encontra meu exército? — perguntou Andinara.

— Sua cavalaria está a algumas luas da cidadela, minha senhora... as demais tropas levaram o mesmo tempo. Estão em marcha forçada! Logo todo o seu exército estará aqui para nos proteger, minha majestade. — respondeu prontamente o general.

— Todos precisam chegar em condições de batalha! — pediu a rainha.

— Sim, minha rainha, todo o seu exército chegará descansado! — informou outro general.

O silêncio tomou conta do lugar.

Os generais curvaram-se e saíram de perto da rainha, deixando-a sozinha, apreensiva e pensativa na sala do trono.

— Minha filha, onde estará você? O seu povo padece. — a lamentava, em voz baixa e chorando.

Muito distante dali, sua filha sentia a tristeza do coração de sua mãe e também começou a chorar.

— O que houve sacerdotisa? — disse o príncipe Walery com arde preocupação.

— Meu coração está com uma dor profunda... sinto a dor do meu povo e ainda falta muito para completarmos a viagem!! — respondeu Niara.

— Acalme seu coração! Logo vamos acabar com toda esta agonia. — falou Walery com palavras de esperança e coragem.

Niara, mesmo com os olhos cheios de lágrimas, que escorriam por sua pele clara e suave, sorriu para ele, pois sentia a força das palavras do príncipe.



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