Volume Único

Capítulo 1: Flor de Cerejeira

— Ei, isso parece muito com a neve. — Akari falou.

Faz dezessete anos que ela disse isso. Tínhamos acabado de entrar no 6º ano do ensino básico e sempre andávamos juntos em volta do pequeno bosque no caminho de casa, com nossas bolsas nas costas. Era primavera e um número incontável de flores de cerejeira estavam florando nas árvores, suas pétalas dançando silenciosamente no ar, cobrindo o asfalto sob nossos pés como um cobertor branco. O ar estava quente e o céu pendia sobre nossa cabeça como se fosse uma grande tela de tinta azul clara. Não muito longe de nós estava a estrada principal e a travessia dos trilhos de Odasaki mas nenhum ruído parecia nos alcançar. Somente o cantar dos pássaros podia ser ouvido como uma bênção da primavera. Não havia mais ninguém por perto.

Era como uma pintura de uma cena de primavera.

 

Tudo bem. Pelo menos em minha memória aquele momento era como uma pintura. Você poderia dizer que era apenas uma coleção de imagens. Quando tento reunir essas velhas memórias, sinto como se estivesse olhando um quadro de perto. O garoto tinha acabado de completar onze anos, assim como a garota que tinha a mesma altura que ele. Os observo enquanto eles correm para longe, a luz que preenchia o mundo os envolvia naturalmente. Sempre os observava de costas naquela pintura. E sempre era sempre a garota que corria na frente. Quando me lembro daquele breve momento de tristeza que estremeceu o coração do jovem garoto, faz até mesmo eu, que agora sou adulto, me sentir um pouco triste.

 

Em todo caso, me lembro que Akari descreveu a chuva de pétalas como neve. Mas nunca encarei dessa forma. Naquela época, flores de cerejeira eram apenas flores de cerejeira e neve era apenas neve para mim.

 

— Ei, isso parece muito com a neve.

— Parece? Hmmm, talvez...

— Ah, deixa para lá. — Akari disse friamente dando rapidamente dois passos à frente antes de se virar. Seus cabelos castanhos brilharam quando a luz do céu refletiu sobre eles e mais uma vez, ela disse algo misterioso.

— Ei, ouvi que elas caem a cinco centímetros por segundo.

— O que?

— O que você acha?

— Não sei.

— Vamos, pense um pouco, Takaki-kun.

Eu ainda não sabia o que ela estava falando, então honestamente disse a ela que não sabia.

— É a velocidade que as pétalas de flor de cereja caem. Eles caem a cinco centímetros por segundo.

Cinco centímetros por segundo. Tinha algo misterioso nisso. Deixei ela saber como eu estava fascinado:

— Uau, você sabe de muitas coisas Akari.

— Heehee. — Akari sorriu feliz.

— Dei de muito mais. A chuva cai a cinco centímetros por segundo. As nuvens caem a um centímetro por segundo.

— Nuvens? Você quer dizer as nuvens no céu?

— Sim, as nuvens no céu.

— As nuvens também caem? Eles não simplesmente flutuam?

— As nuvens caem também. Eles não flutuam porque elas são compostas de vapor de água. Parece que elas estão flutuando porque são tão grandes e estão tão distantes. À medida que o vapor se expande, elas crescem cada vez mais e então caem para a terra como chuva ou neve.

— Uau... — Disse enquanto olhava para as nuvens fascinado e depois para as flores de cerejeira novamente. A voz alegre e jovial de Akari fez soar como se fosse uma regra importante do universo. Cinco centímetros por segundo.

— Uau... — Ela repetiu, me provocando e de repente começou a correr.

— Ei, espere, Akari! — Gritei enquanto corria atrás dela.

 

✻ ✻ ✻

 

Naquele tempo, era um hábito entre Akari e eu trocar pequenos conhecimentos que aprendemos de livros e TV quando voltamos para casa. Informação que achávamos importantes - coisas como a velocidade que as pétalas de flores caíam, a idade do universo ou a temperatura da prata derretida. Era como se fôssemos um par de esquilos se preparando desesperadamente para a nossa hibernação no inverno, ou talvez fôssemos viajantes navegando pelos mares tentando aprender astrologia para que pudéssemos reunir a luz das estrelas espalhada pelo mundo. Por alguma razão, tínhamos pensado seriamente que esses pequenos conhecimentos seriam essenciais em nossas vidas futuras.

Sim. Era por isso que Akari e eu sabíamos tanto. Sabíamos em que posição estavam as estrelas durante as estações, ou qual o brilho e direção que Júpiter está antes de ser visível a olho nu. Sabíamos até mesmo por que o céu é azul, por que a terra tem estações, quando os neandertais desapareceram e os nomes das espécies que se extinguiram durante o período cambriano. Ambos estávamos extremamente fascinados por tudo o que era muito maior e longe de nós. Mas para mim, esqueci quase tudo. Tudo o que sei é que eram pequenos conhecimentos que uma vez soube que eram a verdade para mim.

 


Desde o primeiro encontro com Akari até o momento em que nos separamos, pensei que ambos éramos iguais - isso foi por volta de três anos entre o quarto e o sexto ano do ensino básico. Ambos os nossos pais se mudavam muito devido ao trabalho e nós dois chegamos na mesma escola primária em Tóquio. Tinha me mudado para Tóquio de Nagano quando estava no elementar três e Akari se mudou de Shizuoka enquanto ela estava no elementar quatro. Mesmo agora me lembro como ela estava tensa e nervosa, enquanto ela estava na frente do quadro-negro no seu primeiro dia na escola. Ela estava lá, as mãos perfeitamente juntas na frente dela enquanto a luz da primavera brilhava através das janelas da sala de aula sobre ela, lançando uma sombra de seu ombro até o seu cabelo longo. Seus lábios estavam nervosamente apertados e vermelho brilhante, seus olhos abertos sem pestanejar, sua visão fixada em um único ponto. Ela me lembrou da minha própria expressão quando cheguei um ano atrás e imediatamente senti que estávamos mais perto um do outro. Acho que fui eu quem falou com ela primeiro e rapidamente nos demos bem.

Akari era a único que tinha as mesmas opiniões que eu - sobre como os estudantes que foram criados em Setagaya pareciam mais maduros, o quão difícil era respirar no meio das multidões na estação, como a água da torneira era surpreendentemente desagradável. Para nós, tudo isso era problema. Éramos pequenos adoecíamos fácil, então preferimos ficar na biblioteca do que nos playgrounds e foi por isso que as aulas de educação física foram muito desagradáveis ​​para nós. Ambos Akari e eu éramos como adultos que preferiram desfrutar uma conversa com alguém ou ler um livro. Naquela época meu pai estava trabalhando em um banco e nós estávamos vivendo em um apartamento de propriedade da empresa e, talvez fosse o mesmo para Akari talvez por isso nosso caminho de casa era o mesmo. Naturalmente, como se precisássemos um do outro, sempre gastamos nosso tempo depois da escola juntos.

Claro, fomos muito provocados por muitos de nossos colegas. Agora quando paro para pensar, a maneira que eles agiam e as coisas que eles falavam era realmente apenas algo que as crianças comumente fazem, mas naquela época, realmente não podia lidar com essas situações muito bem e cada vez que algo acontecia, eu estava machuca, ficava triste. A necessidade que tínhamos um do outro cresceu mais forte por causa disto.

 

Um dia, algo aconteceu. Eu tinha ido ao banheiro e estava no meu caminho de volta para a sala de aula quando vi Akari sozinha na frente do quadro-negro. Havia um desenho de um guarda-chuva com o meu nome e o de Akari escrito abaixo (que poderia ser considerado assédio agora que penso nisso), nossos colegas estavam parados de longe murmurando uns com os outros, olhando para Akari. Ela tinha ido até o quadro negro para parar o assédio, mas provavelmente estava muito envergonhada e tinha parado no meio caminho. Fiquei rígido ao vê-la assim de pé sem uma palavra, entrei na sala, peguei o apagador e rapidamente limpei o desenho. Não sabia por que, mas agarrei a mão de Akari e saímos correndo da sala de aula. Podíamos ouvir as vozes atrás de nós se animarem, mas nós ignoramos e continuamos correndo. Mesmo eu não podia acreditar o quão ousado era fazer o que eu fiz, mas me lembrei como a suavidade da mão de Akari fez meu coração bater mais forte, estava quase tonto e pela primeira vez, senti que não havia nada no mundo que eu tivesse medo. Tinha certeza de que muitas coisas ruins ainda estavam por vir pelo resto de nossas vidas, mas não importava o que era - se era transferir de escola, fazer exames, ir para o exterior ou se sentir desconfortável ao conhecer novas pessoas, enquanto Akari estivesse lá eu seria capaz de suportar tudo. Acho que ainda éramos jovens demais para chamar de amor, mas na época, estava claro que eu gostava de Akari e podia sentir claramente que Akari gostava de mim também. Enquanto corríamos com as mãos firmemente juntas, mais eu tinha certeza desse sentimento. Contanto que tivéssemos um ao outro, não importa o que aconteceria, acreditávamos que não havia nada a temer.

Por três anos esses sentimentos continuaram fortes enquanto Akari e eu passávamos tempo juntos. Ambos decidimos que iríamos para a mesma escola secundária que não ficava longe de nossas casas e estudamos muito, gastamos mais e mais tempo juntos. Nós provavelmente nos tornamos conscientes de como éramos mais maduros do que outras crianças e que éramos introvertidos, presos no nosso pequeno mundo, mas estávamos convencidos de que tudo era parte da preparação para a nossa escola secundária. Estávamos indo para longe dos colegas que não nos damos bem com e começaríamos uma nova vida com novos alunos e nosso mundo ia crescer. Também esperávamos que isso nos ajudasse a identificar e expressar claramente os fortes sentimentos que tínhamos um pelo outro. Poderia ser o momento em que seríamos capazes de expressar nosso amor. A distância entre nós e nossos arredores, a distância entre Akari e eu certamente ficaria menor. Teríamos mais poder e mais liberdade.

 

Agora que penso nisso, talvez soubéssemos que perderíamos algo quando trocávamos conhecimento. Claramente fomos cativados um pelo outro e desejamos ficar juntos para sempre, mas - talvez fosse por causa de tantas transferências - sabíamos ao mesmo tempo que esse desejo não poderia se tornar realidade e sentíamos medo em nossos corações. Talvez tenhamos tentado deixar tantas lembranças de nós dois juntos, porque sabíamos que um dia estaríamos separados.

 

De fato, no final, Akari e eu nos separamos e frequentamos diferentes escolas secundárias. Uma noite de inverno, quando ainda estávamos na escola primária, Akari ligou para me contar.

 

Era raro Akari me ligar porque quase nunca conversávamos um com o outro pelo telefone e era tarde (naquele tempo era em torno de nove horas). Tive um mau pressentimento quando minha mãe me disse que era Akari e entregou o telefone para mim.

— Desculpe, Takaki-kun. — Akari disse em uma voz baixa. O que se seguiu foram palavras que não queria ouvir ou acreditar.

Não podemos mais ir para a mesma escola secundária. Ela disse que seu pai decidiu se mudar para uma pequena cidade na parte norte de Kantou para trabalhar. Ela estava tremendo como se fosse chorar. Simplesmente não conseguia entender o porquê. De repente senti algo que queimava por dentro, mas minha cabeça estava fria. Simplesmente não conseguia entender por que Akari tinha que me dizer isso.

— O que... mas e sobre a escola Nishinaka? Eles já aceitaram você lá. — Finalmente consegui dizer.

— Ele diz que ajeitar para eu ir para Tochigi... Me desculpe.

Eu podia ouvir o som de um táxi no fundo o que significava que ela estava ligando de um telefone público. Embora estivesse no meu quarto, me sentei no tatami, abraçando minhas pernas como se pudesse sentir a frieza de lá em meus dedos. Eu não sabia o que deveria dizer a ela, mas senti que tinha que dizer algo.

— Não, não é culpa sua Akari...

— Disse a ele que queria morar com minha tia em Katsushika para que eu pudesse ficar, mas ele disse que eu tinha que ser mais velha...

Enquanto ouvia Akari tentando parar de chorar eu queria desligar porque não queria ouvir.

Antes que eu percebesse, gritei para ela, “...Já entendi o que você está dizendo!” Ainda podia ouvir sua respiração, isso não me impediu de continuar.

— Esqueça... — disse para ela com uma voz firme. — Apenas esqueça isso... — repeti desesperadamente tentando segurar minhas próprias lágrimas. Por que... Por que tem que ser dessa maneira?

Após dez segundos de silêncio, Akari conseguiu dizer “desculpe” novamente com sua voz soluçante. Mantive o telefone pressionado contra o meu ouvido com a minha cabeça pendendo para baixo. Não podia tirá-lo do meu ouvido e também não conseguia desligar. Eu sabia que o que eu tinha dito machucou Akari. Mas não havia nada que eu pudesse fazer. Não tinha aprendido a controlar meus sentimentos. Depois que a ligação desagradável da Akari finalmente terminou, só sentei lá abraçando minhas pernas.

 

Nos dois dias seguintes, me senti muito mal. Estava muito envergonhado de mim mesmo que não consegui dizer nada de bom para Akari, embora saiba que ela deva estar muito preocupada. Com esses sentimentos ainda em nossas mentes, Akari e eu nos separamos desajeitadamente no dia de nossa cerimônia de formatura. Naquele dia, logo após a cerimônia, ela se aproximou de mim e disse com sua voz agradável: “Então, isso é adeus...”, mas tinha abaixado minha cabeça em vergonha, incapaz de dizer qualquer coisa de voltem resposta. Pensei que não dia fazer nada. Tinha dependido de Akari até agora. Tinha planejado tentar me tornar mais maduro porque ela estaria lá comigo, mas agora não podia. Ainda era muito uma criança pequena. Pensei comigo mesmo que não posso ficar assim para sempre e deixar uma força invisível tirar tudo de mim. Mesmo se Akari não tivesse escolha, não deveríamos nos separar assim. Nunca devíamos nos separar.

 

✻ ✻ ✻

 

Aqueles sentimentos não reprimidos permaneceram comigo quando o novo semestre na escola secundária começou. Tive que enfrentar aqueles desconfortáveis ​​dias sozinhos, mesmo que eu não quisesse. Mesmo que eu devesse estar frequentando a mesma escola com a Akari, comecei a ir sozinho, lentamente fazendo novos amigos, entrando no clube de futebol e trabalhando duro. Os dias eram muito mais ocupados do que meus dias de escola primária, mas isso era bom para mim, porque manteve minha cabeça ocupada. Quando tinha tempo sozinho, me sentiria muito desconfortável assim como antigamente e não conseguia aguentar. Foi por isso que tentei permanecer proativo, passando a maior parte do meu tempo com os amigos, ia direto para a cama assim que terminava meu dever de casa e acordei cedo para que pudesse me concentrar em treinar no clube.

 

Tinha certeza de que Akari também estava ocupada todos os dias em sua nova casa. Queria que aqueles dias a ajudassem a esquecer de mim. Até porque, fui o único que a machuquei quando nos separamos. Eu também deveria ter esquecido Akari. Já deveríamos ter aprendido a fazer isso, depois de todas as nossas experiências de transferência de escola.

 

E então, em um dia quente de verão, chegou uma carta de Akari.

Me lembro que quando vi aquele envelope rosa claro preso na caixa de correio do apartamento me senti mais confuso do que feliz. Pensei comigo mesmo, por que agora? Estava tão determinado a me acostumar com um mundo sem Akari. A carta me fez lembrar o quanto sentia falta dela.

Sim, em vez de tentar esquecer Akari, de repente minha mente não tinha nada além dela. Fiz muitos amigos, mas cada vez que eu estava com eles, eles me fizeram perceber o quão especial Akari era para mim. Me confinava no meu quarto lendo a carta uma e outra vez. Mesmo durante as aulas, eu a escondia no meu livro para que eu pudesse olhar para ela. Li tantas vezes que quase decorei.

 

“Querido Takaki Tohno” começa a carta. Foi um sentimento tão nostálgico de ver a caligrafia de Akari novamente.

“Já faz tanto tempo. Como você está? O clima de verão é muito quente aqui, mas tenho certeza que é muito mais fácil de suportar do que em Tóquio. Mas agora que penso nisso, prefiro os verões quentes e úmidos em Tóquio — o asfalto quente que parece estar a ponto de derreter, os edifícios no sol e o ar condicionado quase gelado dos apartamentos e estações de metrô.”

Curiosamente, entre a escrita madura, haviam ilustrações minúsculas (como o sol ou as cigarras) que me fizeram imaginar a diferença entre a Akari que conhecia e a que o que a que agora está crescendo lentamente. Foi uma carta muito curta que me disse como ela está indo. Ela me contou como foi para a nova escola pelo trem de quatro vagões, como se juntou ao clube de basquete para se manter em forma e como decidiu cortar o cabelo curto para que ficasse na altura do ouvido. Surpreendentemente, tudo me perturbou. Ela não escreveu que sentia saudades de mim e das suas palavras poderia dizer que sua nova vida estava indo bem e ela estava se acostumando com isso. Mas de alguma forma, não tinha dúvida de que ela teria se sentido muito triste se escrevesse que sentia falta de mim e queria falar comigo. Se não fosse assim, ela nunca teria escrito uma carta para mim. Eu senti exatamente do mesmo jeito com relação a ela.

 

Desde então, Akari e eu trocamos cartas uma vez por mês. Senti que era muito mais fácil seguir a vida do que era antes. Por exemplo, poderia claramente admitir aulas chatas eram chatas. Desde que fui separado de Akari, pensava que todo o treinamento duro e instruções irracionais que meus treinadores me davam eram como deviam ser, mas agora eu podia sentir que era tudo um pouco insuportável. Meus sentimentos voltaram. Estranhamente, foi por me sentir assim que tudo se tornou mais fácil de suportar. Nunca escrevíamos sobre as coisas ruins ou coisas bobas que aconteciam, mas podíamos sentir fortemente que havia apenas uma outra pessoa neste mundo que poderia nos entender.

O verão e o outono de nosso primeiro ano na escola secundária passaram logo e agora era inverno. Completei treze anos, era sete centímetros mais alto, crescia mais musculoso e já não pegava resfriado tão facilmente quanto antes. Me sentia como se tivesse ficado relativamente mais perto do mundo. Tinha certeza que Akari também tem treze anos agora. Cada vez que olhava para minhas colegas de classe em seu uniforme, imagino como Akari se parece agora. Uma vez que ela tinha escrito que um dia queria ver as flores de cerejeira comigo novamente, como nós fizemos quando estávamos na escola primária. Ela disse que havia uma grande árvore de cerejeira perto de sua casa. Ela escreveu: “Tenho certeza que essas pétalas de flores também caem a cinco centímetros também.”

 

Estava no meu terceiro semestre quando foi decidido que eu ia transferir as escola novamente.

Iria me mudar durante as próximas férias de primavera e que iria para Kagoshima, uma ilha perto da região de Kyuushuu. Demora cerca de duas horas de voo do aeroporto de Tóquio, Haneda para chegar lá. Para mim, não era diferente de viver no fim do mundo. Mas naquela época, estava acostumado a essas mudanças em minha vida e não estava preocupado com isso. Minha principal preocupação foi minha distância da Akari. Desde que saímos da escola primária, não tínhamos mais nos encontrado, mas não estávamos tão longe um do outro quando pensei nisso. Era apenas uma viagem de trem de três horas entre o norte de Kansai onde Akari estava e Tóquio onde eu morava. Poderíamos nos encontrar durante os sábados. Mas uma vez que eu mudasse para o sul do Japão, nunca mais seria capaz de vê-la novamente.

 

Foi por isso que decidi escrever para Akari e deixá-la saber que eu queria vê-la mais uma vez antes de me mudar. Sugeri uma lista de lugares e horas onde poderíamos nos encontrar. Ela respondeu prontamente. Nós dois tínhamos exames para o terceiro semestre. Tive que me preparar para a relocação e ela tinha atividades de clube para participar, por isso só foi depois da última prova no final do semestre que pudemos nos reunir à noite. Depois de verificarmos nossos horários, decidimos que poderíamos nos encontrar em uma estação perto de sua casa às sete horas. Dessa forma, poderia pular minhas atividades do clube e ir direto após a aula, depois de passar duas horas com Akari, poderia tomar o último trem para casa. Em todo caso, contanto que pudesse voltar para casa no mesmo dia, seria capaz de pensar em alguma desculpa para explicar aos meus pais. Teria que pegar o trem nas linhas Oda e Saikyou, em seguida, mudar de trem na linha Utsu para Ryouke, para chegar lá que ia custar cerca de três mil quinhentos ienes para as passagens. Não era uma pequena quantia que eu poderia juntar até lá, mas não havia nada mais importante do que ver Akari novamente.

Faltavam duas semanas antes do dia prometido e passei esse tempo escrevendo uma longa carta que eu queria dar a Akari. Foi provavelmente a primeira carta de amor que escrevi na minha vida. Escrevi nele sobre o futuro que eu tinha pensado, o que eu gostava, os livros que eu li e a música que escutei e, o quão importante Akari significa para mim – talvez ainda fosse só uma semente de amor entre nós, mas fui honesto com meus sentimentos e os expressei o melhor que pude. Não consigo lembrar o que escrevi, mas acho que deu cerca de oito páginas. Naquela época, havia muitas coisas que realmente queria deixar Akari saber. Contanto que ela leia a carta, pensei que seria capaz de suportar os dias em Kagoshima. Era a parte de mim que queria que ela soubesse.

Enquanto passava os dias escrevendo, sonhei com Akari muitas vezes.

No sonho eu era um pássaro ágil. Batendo minhas asas voei através do céu noturno, através de uma cidade cheia de edifícios altos e ferrovias. Fiquei emocionado e encantado com o meu pequeno corpo e voei em uma velocidade centenas de vezes mais rápida do que poderia correr no chão, voando para aquele lugar para ver alguém especial. Em pouco tempo pude ver uma cidade repleta de luzes ao longe, cintilando como estrelas enquanto voava no forte vento noturno, a luz de trens correndo ao longo de veias e artérias. Logo consegui atravessar as nuvens e voava onde a lua os iluminava de cima, como se estivesse em um vasto oceano. O luar azul transparente fez os vários picos das nuvens brilharem como se fosse outro planeta. Tinha o poder de ir a qualquer lugar do mundo que quisesse e meu corpo emplumado estava tremendo de felicidade. Quando cheguei perto do meu destino, mergulhei animado, o lugar onde ela morava se expandia rapidamente diante dos meus olhos. Havia campos rurais que se estendiam ao longe, telhados de casas escassamente povoadas, remendos de floresta aqui e ali e no meio de tudo, havia um único raio de luz em movimento. Era um trem. Eu também devia estar no trem. E na plataforma avistei uma garota esperando por aquele trem. Tinha o cabelo na altura das orelhas estava sentada num banco sozinha e perto havia uma grande árvore de cerejeira. As flores ainda tinham que florescer, mas podia sentir um sopro de vida dentro de sua casca dura. Pouco tempo depois, a jovem notou minha presença e olhou para o céu. Logo poderíamos nos ver novamente...

 


Estava chovendo no dia que Akari e eu prometemos nos encontrar. O céu tinha um único tom de cinza, como se escondido atrás de uma tampa gigante, gotas frias de chuva caiam e se acumulavam no chão. Era como se a primavera tivesse mudado de ideia e ido embora, deixando apenas o clima do inverno para trás. Coloquei um casaco marrom de duas camadas sobre o meu uniforme e depois de pôr a carta que escrevi para Akari na minha mochila, fui para a escola. Eu esperava estar de volta tarde da noite, então deixei uma nota para os meus pais saberem e não se preocuparem muito. Nossos pais não se conheciam e duvido que eles teriam permitido que fizéssemos o que tínhamos planejado mesmo se tentássemos explicar a eles.

Me senti muito perturbado durante o dia e passei todo o meu tempo olhando para fora da janela durante as aulas. Era como se não conseguisse entender nenhuma das lições. Provavelmente estava imaginando como a Akari parecia em seu uniforme escolar, do que estaríamos falando, ouvindo sua voz agradável novamente. Sim, naquela época eu não estava ciente disso, mas estava claro que eu amava sua voz. Sua voz enviava ondas para o ar e eu adorava isso. Sua voz gentil e suave sempre estimulava meu ouvido. Logo poderei ouvir sua voz novamente. Toda vez que eu pensava nisso, meu corpo ficava quente como se estivesse pegando fogo e isso me deixava perturbado, mas então olhava pela janela para a chuva fria.

Cinco centímetros por segundo. Era de dia e mesmo assim tudo tinha uma cor cinza claro e eu podia ver muitas janelas iluminadas em edifícios enquanto eu olhava para fora da janela da. As luzes da pista de dança distante de um determinado apartamento podiam ser vistas balançando de vez em quando. Enquanto eu continuava a olhar pela janela, a chuva engrossou e, à medida que o horário de ir embora se aproximava, elas se transformavam em neve.

 

Depois da aula, me assegurei de que nenhum dos meus colegas estivesse por perto antes de tirar a carta e o memorando que eu tinha. Ainda estava um pouco inseguro sobre a carta, mas a pus dentro do meu bolso. Queria dar a Akari não importa o que acontecesse, então queria tê-la em algum lugar onde pudesse tocá-la e ter certeza que ainda estava lá. Quanto ao memorando, ele tinha uma lista dos trens que eu tinha que pegar e as horas que eles iriam chegar. Já tinha olhado a lista várias vezes, mas olhei ela mais uma vez.

Primeiro eu pegaria o trem 354 na Estação Goutokuji na linha Oda para Shinjuku. Então mudaria para a linha Saikyou e viajaria para a estação de Oomiya, mudaria para a linha Utsunomiya e chegaria a estação Koyama. Então mudaria para a linha Ryouke e, finalmente, chegaria ao meu destino na estação Iwafune em volta de seis quarenta e cinco. Estava indo me encontrar com Akari às sete horas em Iwafune o que eu deveria conseguir a tempo. Foi a primeira vez que viajei tão longe de trem sozinho, mas disse a mim mesmo que ficaria tudo bem. Sim, vai ficar tudo bem. Poderia ser difícil, mas tinha certeza de que nada iria acontecer.

Segui meu caminho pelas escadas mal iluminadas da escola e no hall de entrada abri meu armário para trocar de sapatos. Estava deserto o que fez o som da porta de aço soar mais alto que o habitual. Isso fez meu coração bater um pouco mais rápido. Decidi que deixaria o guarda-chuva que trouxera comigo de manhã e saí olhando para o céu. A fragrância de chuvas era agora a de neve. Um cheiro que era mais fácil de sentir do que a chuva e isso fazia meu coração ficar mais vivo do que antes. Enquanto estava lá, olhando para o céu, senti que seria engolido pelos incontáveis ​​flocos brancos que caíam. Rapidamente coloquei meu capuz e corri para a estação.

 

✻ ✻ ✻

 

Era a minha primeira vez na estação de Shinjuku. Uma estação que nunca tinha visto em minha vida, mas agora que penso sobre isso, tinha ido lá para assistir a um filme com um amigo uma vez. Naquela época, fomos para Shinjuku na linha Oda e depois passar pelas catracas na saída leste, ficamos um pouco perdidos antes de sair da estação. A experiência da complexidade e do ambiente lotado da estação Shinjuku deixou uma impressão mais forte em mim do que o próprio filme.

Deixei a linha de Oda e parei olhando o mapa na parede para que não me perdesse e procurei rapidamente o local marcado “linha JR bilheteria”. Do outro lado dos pilares havia uma grande fila de máquinas de tickets, eu segui para a fila mais curta, esperando pela minha vez. De alguma forma senti como se meu peito estivesse com dor quando senti o perfume vindo da mulher na minha frente que se vestia como alguém que trabalha em um escritório. A fila ao meu lado andou e desta vez me senti estranhamente desconfortável quando senti brevemente o cheiro de naftalina vindo do casaco de um homem idoso. A estação estava cheia de tantas vozes misturadas em um único som. A ponta do meu sapato coberto de neve estava fria. Minha cabeça estava um pouco tonta. Quando finalmente chegou a minha vez de comprar a passagem fiquei um pouco confuso quando descobri que as máquinas não tinham botões (naquela época, a maioria das máquinas ainda tinha botões). Olhei para a pessoa ao meu lado e descobri que tinha que tocar na tela.

Deixei a máquina prestando atenção em vários sinais de plataforma, abri caminho através da multidão e segui para a linha Saikyou. “Loop esterno da linha Yamanote”, “Linha que vai para Sobu, Nagano”, “Loop interno da linha Yamanote”, “Linha Sobu, Chiba”, “Expresso da linha central”, “Expresso principal da linha central”... Passei por muitas plataformas e ao longo do caminho parei por um grande mapa do complexo da estação e olhei para ele. A Linha Saikyou estava na área mais interna. Peguei o memorando que fiz e olhei para o meu relógio (um preto G Shock que recebi para comemorar a minha entrada bem-sucedida na escola). O trem de Shinjuku passaria às quatro e vinte e seis. O meu relógio mostrava quatro e quinze. Vai ficar tudo bem. Ainda tenho dez minutos, eu iria conseguir.

Enquanto seguia para a plataforma, passei no banheiro apenas para garantir. Seria uma viagem de quarenta minutos, então pensei que seria melhor estar preparado. Lavei minhas mãos e olhei no espelho. Do outro lado do espelho sujo, uma luz branca brilhava sobre meu reflexo. Tinha certeza de que eu tinha crescido e parecia mais velho do que seis meses atrás. Estava envergonhado de que minha mandíbula estava um pouco vermelha por causa do frio lá fora. Eu veria Akari em breve.

 

No início, não pude encontrar um assento porque estava cheio de pessoas voltando para casa. Me encostei contra a parede assim como muitos outros e olhei para os anúncios, para a janela e ocasionalmente olhava para os passageiros. Simplesmente não conseguia me acalmar e meus olhos estavam observando tudo, então não senti vontade de ler o romance de ficção científica que tinha na minha bolsa. Uma menina do colegial estava falando com uma outra que está na frente dela. Pareciam ser amigas. Ambas usavam saias curtas que revelavam parte de suas coxas nuas e as meias vermelhas.

— E aquele cara?

— Quem?

— Você sabe, o do colégio Kita.

— O que? Ele? Você tem uns gostos estranhos.

— De jeito nenhum. Ele é totalmente meu tipo.

Elas provavelmente estavam falando sobre um cara que conheciam ou um amigo. Mesmo que eu não fosse a pessoa de quem elas estavam falando, me senti um pouco envergonhado. Desviei meus olhos e enquanto me certificava com os dedos de que a carta ainda estava no meu bolso, olhei pela janela novamente. O trem estava passando em uma ponte alta há algum tempo. Era a primeira vez que viajava nessa linha. A maneira como o trem balançava e o barulho que fazia diferente de viajar na linha de Oda e estranhamente, me deixou ansioso. A escuridão do sol de inverno tingiu o horizonte de uma laranja fraco, uma fileira de edifícios pode ser vista à distância. A neve não tinha parado de cair. Me perguntava se eu estava em Saitama agora. A cidade parecia estar mais perto do que a paisagem familiar ao seu redor. Todos os prédios altos e apartamentos do centro pareciam enterrados no chão.

Ao longo do caminho, o trem parou na estação Murashiurawa para deixar um trem expresso passar. “Os passageiros que estão com pressa por favor, mudem para a plataforma oposta”, disse o alto-falante. Cerca de metade dos passageiros desceu e seguiu para lá, incluindo eu. Para oeste havia muitas estradas de ferro. A neve continuava a cair e a se acumular enquanto o pequeno sol ocasionalmente aparecia entre as nuvens, sua luz brilhando vividamente em centenas de telhados. Olhei para o cenário e de repente me lembrei de que tinha estado aqui antes.

Sim, não era a primeira vez que eu viajava por aqui.

Pouco antes do elementar três, tinha estado neste trem viajando de Oomiya para Shinjuku com meu pai quando nós estávamos nos mudando para Tóquio de Nagano. Estava acostumado com a paisagem rural de Nagano e o cenário completamente estranho tinha me deixado ansioso. Naquele momento, enquanto olhava pela janela para o cenário onde não havia nada além de edifícios e percebi que era onde eu ia viver, fiquei tão preocupado que senti que ia chorar. Mesmo assim, cinco anos se passaram desde então e agora estava pensando comigo mesmo que consegui viver com isso. Ainda tinha apenas treze anos, mas não acho que foi um exagero. Akari tinha me apoiado. Rezei para que Akari se sentisse do mesmo durante aqueles anos em que estivemos juntos.

A estação de Oomiya não era tão grande quanto a de Shinjuku, era apenas um terminal grande. Desci algumas escadas da linha Saikyou, em seguida, peguei outro lance de escadas atravessei a multidão e fui para a estação Utsunomiya para a troca de linha. Um forte cheiro de neve encheu a estação e todos os sapatos estavam encharcados com ela fazendo um barulho enquanto caminhavam. A linha Utsunomiya também estava transbordando de pessoas que iam para casa e se podia ver longas filas. Fiquei em algum lugar longe delas e esperei o trem sozinho. Não ia conseguir um assento mesmo que me juntasse a fila. Pela primeira vez tive um mau pressentimento. Não demorou muito para que um anúncio fosse feito.

“Os passageiros notarão que o trem na linha de Utsunomiya que dirige a Koyama, Konomiya estará atrasado oito minutos devido à neve”, o locutor nos informou.

Não sei por que não levei em conta que o trem poderia chegar tarde. Peguei meu memorando novamente e olhei para o relógio. Esperava entrar no trem das cinco e quatro, mas já eram cinco e dez. Tremi como se de repente ficasse mais frio. Dois minutos depois não me sentia melhor, mesmo quando o longo assobio soou e as luzes quentes do outro trem brilharam.

 

✻ ✻ ✻

 

A linha Utsunomiya estava muito mais lotada do que a linha Oda ou a Saikyou. Ainda estava no horário de todos voltarem para casa depois de um dia de trabalho ou escola. O trem que chegou era muito mais velho do que os outros trens, os bancos são organizados em conjuntos de quatro voltados uns para outros o que me lembra dos trens de Nagano. Com uma das mãos segurei o apoio de um dos bancos e a outra mão no meu bolso e fiquei na passagem estreita entre os assentos. O aquecimento deixou a cabine quente e as janelas esfumaçadas com pequenas gotas de água deslizando. Todo mundo parecia cansado e ninguém disse uma palavra. A lâmpada que iluminava o vagão fez com eles se encaixassem no ambiente. Senti que eu era o único deslocado então mantive minha respiração baixa e olhei para a paisagem passando lá fora, tentando afastar esses pensamentos.

Os prédios haviam desaparecido do cenário e agora só se viam os grandes campos cobertos de neve à distância. Naquela escuridão distante, as pequenas luzes das casas podiam ser vistas bem distantes uma das outras. Os postes altos com luzes vermelhas pareciam estar alinhados por todo o caminho até o pico das montanhas. Suas silhuetas apareceram como se fossem um exército de gigantes entre os campos de neve. Era um mundo com o qual eu não estava familiarizado. Enquanto olhava para o cenário tudo que pensava era se eu iria chegar a tempo de me encontrar com Akari. Se estivesse atrasado, não havia como deixá-la saber. Na época, os telefones celulares não eram comuns entre os estudantes do ensino médio e eu também não sabia o novo número da Akari. A neve lá fora estava ficando mais forte.

A próxima troca de trens era na estação de Koyama mas o trem andou muito devagar nessa última hora. As estações nessa linha eram quase inacreditavelmente distantes quando comparadas às da cidade e o trem parou por muito tempo em cada uma. Toda vez que ele parava, era sempre a mesma mensagem nos os alto-falantes. “Atenção por favor. Devido à programação atrasada de todos os trens este trem deve parar nesta estação por um período de tempo prolongado. Pedimos desculpas por qualquer inconveniente e pedimos para esperar pacientemente...”

Olhei para o meu relógio outra vez rezando muito para que não fosse sete horas em breve, mas isso não mudou o quão longe ainda estava do meu destino. No entanto, o tempo estava passando e cada vez que olhava eu sofria quase ao ponto de me fazer desistir da esperança. Era como se o ar ao meu redor tivesse formado uma gaiola invisível, encolhendo a cada minuto que passava.

Quando finalmente deu sete horas ainda não tinha chegado na estação de Koyama e o trem parou em uma estação chamada Nogi que estava a duas paradas do meu destino. Ainda tinha que trocar os trens na estação de Koyama para uma outra viagem de vinte minutos antes que eu pudesse alcançar a estação de Iwafune onde Akari estava esperando. Durante as duas horas desde que deixamos a estação de Oomiya, a impaciência e a desesperança continuaram a me estressar. Nunca sentia dor por tanto tempo na minha vida. Não conseguia mais saber se o vagão estava quente ou frio. Tudo que podia sentir era a escuridão da noite e meu estômago vazio porque não comi nada desde o almoço. Logo percebi que o vagão não tinha tantas pessoas quanto antes e que eu era o único que estava em pé. Fui para um assento próximo onde ninguém estava sentado e me sentei com um baque, meus pés ficaram rígidos e entorpecidos, todo o cansaço que tinha se reunido em algum lugar no fundo do meu corpo veio à tona. Não havia nada que eu pudesse fazer para me livrar desse sentimento. Peguei a carta para Akari do bolso e olhei para ela. A hora que marcamos de nos encontrar já havia passado a muito tempo e tenho certeza que agora ela estava começando a se preocupar. Me lembrei da última ligação que tivemos. Por que sempre teve que ser deste jeito?

O trem parou por uns quinze minutos na estação de Nogi antes de começar a se mover outra vez.

 

✻ ✻ ✻

 

Já passava de sete e quarenta quando o trem finalmente chegou na estação de Koyama. Saí do trem e corri para a plataforma da linha Ryouke onde eu amassei o memorando inútil e o joguei na lixeira.

A estação de Koyama era um grande prédio mas haviam poucas pessoas. Enquanto eu estava correndo dentro do complexo vi um grupo de pessoas sentadas em torno de um fogão em uma ampla área aberta. Me perguntei se eles vieram aqui para esperar por suas famílias. Parecia que se misturavam naturalmente com a paisagem. Só eu estava correndo impaciente.

Tive que descer algumas escadas e passar por um lugar que se assemelhava a uma estação de metrô antes de chegar à plataforma da linha Ryouke. O solo era de concreto cortado com pilares espaçados em fila, tubulações entrelaçadas e esticadas no teto. O baixo uivar do vento podia ser ouvido enquanto soprava pelos pilares. Luzes brancas iluminavam vagamente a área do túnel. As persianas do quiosque estavam fechadas. Parecia que eu havia me perdido, mas havia um outros que também estavam esperando pelo trem. Havia uma luz amarelada quente de uma pequena barraca de Soba e duas máquinas de venda, mas além disso o local estava frio.

“Devido à neve forte, todos os transportes estarão atrasados. Nos sentimos mal pelo inconveniente e pedimos que você aguarde com a gente”, o anúncio nos informou enquanto ecoava pela estação. Coloquei o meu capuz para ajudar a me proteger do frio um pouco mais e fui para perto de um dos pilares para me proteger do vento enquanto esperava. Um pouco de ar frio atingiu meu corpo enquanto se espalhava do chão de concreto. Minha impaciência e o ar frio estavam roubando o calor do meu corpo e meu estômago vazio fez meu corpo endurecer. Podia ver dois empresários comendo em pé na barraca de soba. Tinha pensado em ir comprar um, mas quando pensei em como Akari talvez estivesse me esperando com o estômago vazio, eu simplesmente não pude ir comer. Mudei de ideia e pensei que poderia pelo menos ter uma lata de café quente e caminhei para uma das máquinas de venda automática. Quando retirei a carteira do bolso, deixei cair a carta que escrevi para Akari.

 

Agora que me lembro, mesmo que isso não tivesse acontecido, não sei se conseguiria entregar a carta a Akari ou não. De qualquer maneira, não acho que teria mudado a forma como terminou. Nossas vidas são feitas de muitos eventos entrelaçados, quer queiram ou não, e perder essa carta foi apenas um desses eventos. No final, não importa o quão forte seus sentimentos são, lentamente eles vão mudar com o longo fluxo de tempo – tendo eu conseguido entregar a carta ou não.

 

A carta que caiu do meu bolso quando estava tentando tirar a minha carteira foi pega pelo vento e em um piscar de olhos foi levada para fora da plataforma e desapareceu na escuridão. Naquele momento, eu queria chorar. Eu apenas cerrei meus dentes e segurei minhas lágrimas. Eu não comprei o de café.

 

✻ ✻ ✻

 

Eventualmente, o trem que embarquei na linha Ryouke parou completamente na rota até o meu destino. “Devido à forte queda de neve, paramos para evitar qualquer potencial problema à frente”, informou o anúncio. “Lamentamos terrivelmente o atraso, mas não temos uma estimativa de quando este serviço será retomado”, continuou. Olhei pela janela e só pude ver as vastas planícies de neve na escuridão. A pesada nevasca podia ser ouvida chacoalhando as janelas. Não entendi por que eles tinham de parar o trem no meio do nada. Olhei para o meu relógio e descobri que duas horas já haviam passado do tempo marcado. Me perguntei quantas centenas de vezes já tinha olhado para o meu relógio naquele dia. Não queria mais ver o tempo tiquetaqueando, então eu tirei meu relógio e coloquei em uma pequena mesa perto da janela. Não havia mais nada que eu pudesse fazer. Só me restava rezar para que o trem começasse a se mover novamente.

 

Akari tinha escrito em sua carta: “Como você está Takaki-kun? Acordei cedo hoje para ir ao meu clube e estou escrevendo esta carta no trem”.

Enquanto imaginava Akari escrevendo essa carta, de alguma forma senti que ela estava sempre sozinha. Também acabei percebendo que comigo era o mesmo. Tinha muitos amigos na escola, mas enquanto eu estava sentado no trem onde ninguém estava sentado ao meu lado, meu rosto escondido debaixo do capuz, percebi que este era o verdadeiro eu. O aquecimento estava funcionando, mas com tão poucos passageiros a bordo, os espaços vazios ainda pareciam frios. Não tinha ideia de como deveria me sentir - eu nunca tinha experimentado algo tão terrível na minha vida. Tudo que eu podia fazer era sentar lá, minhas costas desleixadas, rangendo os dentes para que não chorasse e desesperadamente suportar o tique-taque malicioso do tempo. Senti como se fosse ficar louco quando imaginava como Akari ainda estava esperando sozinha na estação fria e quão impotente ela podia estar se sentindo. Desesperadamente desejei que ela não estivesse mais esperando e tivesse ido para casa.

Mas sabia que ela ainda estaria lá esperando por mim.

Sabia que era verdade e por isso a tristeza e a dor me preencheram ainda mais. Parecia que a neve lá fora cairia para sempre.

 


Outras duas horas se passaram antes que o trem começasse a se mover de novo e passava onze horas quando cheguei a Iwafune, quatro horas mais tarde do que o planejado. Para mim, já era tarde da noite na época. Quando desci para a plataforma, meus sapatos fizeram um som suave enquanto cavavam a neve recente. O vento tinha parado completamente e inúmeros flocos de neve continuavam a cair silenciosamente do céu. No lado da plataforma onde eu saí, não haviam paredes ou cercas, apenas campos de neve que se estendiam até onde podia ver. As luzes da cidade eram distantes e escassas. Estava completamente silencioso, exceto pelo barulho do motor do trem.

Eu cruzei uma ponte aérea e caminhei lentamente para a barreira de bilhetes. Você podia ver toda a cidade da ponte. Havia poucas luzes visíveis e a cidade estava ali silenciosamente enquanto a neve caía e a cobria. Entreguei o ingresso ao atendente e fui para a estação de madeira. Entrei na sala de espera. Meu corpo estava envolto em calor e o cheiro nostálgico de um fogão a óleo chegou até mim. Tudo se aqueceu no interior do meu coração e me fez fechar os olhos para sentir melhor... Quando abri meus olhos novamente, vi uma menina jovem sentada na frente do fogão com a cabeça para baixo.

A garota magra, enrolada num casaco branco, me pareceu estranha a princípio. Lentamente me aproximei dela e chamei, “Akari”. Ela reagiu à minha voz como se eu também fosse um estranho. Um pouco surpresa, ela lentamente levantou a cabeça e olhou para mim. Era Akari. Os cantos de seus olhos estavam vermelhos e havia lágrimas ali reunidas. Akari parecia mais madura do que há um ano e, quando a luz dourada do fogão brilhou suavemente sobre ela, pareceu a garota mais bonita que eu já tinha visto. Estava sem palavras e meu coração pulsava forte. Foi a primeira vez que tive tal sentimento. Não podia tirar meus olhos dela. Olhei para ela como se a visão das lágrimas surgindo em seus olhos fosse um momento inestimável. Akari estendeu a mão e segurou meu casaco, o apertando. Eu dei um passo mais para perto. No momento em que avistei lágrimas se juntando em suas suaves e puras mãos brancas, uma súbita e indescritível sensação me enrijeceu de novo e quando me recuperei, percebi que estava chorando. A água quente no fogão de óleo ferveu suavemente, seu som ecoando suavemente através da estação.

 

✻ ✻ ✻

 

Akari trouxe um obentou¹ que ela fez para mim e um pouco de chá em uma garrafa térmica. Ficamos a um assento de distância para que ela pudesse colocá-los no assento entre nós. Bebi o chá que ela pôs para mim. Tinha um aroma agradável, quente, e com um bom sabor.

— Isso é bom — disse do fundo do meu coração.

— Sério? É apenas chá houji comum.

— Chá houji? Esta é a primeira vez que bebo.

— Você não pode estar falando sério. Tenho certeza que você já bebeu antes! — Disse Akari, mas para mim, foi de fato a primeira vez que bebi chá que tinha um gosto tão delicioso. — É sério... — respondi e Akari retorna, —Sei... — com um olhar divertido.

Pensei que a voz de Akari também tinha amadurecido assim como seu corpo. Seu tom era amável, provocante, mas também um pouco tímido e ouvir isso me fez sentir o calor retornando ao meu corpo.

— Oh, e tem um pouco disso também — Akari abriu a lancheira para revelar duas vasilhas de Tupperware. Uma delas tinha quatro grandes bolinhos de arroz, enquanto a outra foi preenchida com pratos vividamente coloridos. Eram mini hambúrgueres, salsichas, omeletes, tomates cereja e brócolis. Todos estavam dispostos em pares.

— Já que fiz isso sozinha, não posso garantir que o gosto está bom...— Akari diz enquanto os coloca cuidadosamente em seu colo. — ...mas você pode provar alguns, se quiser — diz timidamente.

— Obrigado — finalmente consigo dizer. De repente me sinto quente como se estivesse prestes a chorar novamente. Me senti envergonhado e me abracei desesperadamente. Me lembrei de como estava com fome e rapidamente disse — Estou com tanta fome! — Akari sorriu para mim feliz.

Peguei um dos bolinhos de arroz e dei uma mordida grande. Mesmo durante aquela única mordida, senti como se quisesse chorar. Abaixei a cabeça enquanto mastigava, me certificando de que Akari não notaria. Foi mais delicioso do que qualquer coisa que já comi.

— Esta é a coisa mais deliciosa que já provei — falei honestamente.

— Você não acha isso.

— Estou falando sério!

— Tenho certeza que é só porque está com fome.

— Sério…

— Sim. Acho que também vou pegar alguns — disse Akari alegremente pegando um bolinho de arroz.

Nós continuamos a comer por um tempo. Até mesmo os hambúrgueres de linguiça foram surpreendentemente deliciosos. Quando tentei dizer isso à Akari, ela sorriu timidamente, mas de alguma forma também parecia orgulhosa e disse:

— Voltei para casa depois da escola para fazer isso. Minha mãe ajudou um pouco.

— O que você disse à sua mãe?

— Deixei um bilhete para dizer que chegaria em casa, não importa o quão tarde para que ela não se preocupasse.

— Fiz isso também. Sua mãe deve estar realmente preocupada agora.

— Sim... mas vou ficar bem. Quando fiz o obentou ela perguntou para quem era para e eu sorri. Ela parecia feliz. Talvez soubesse o que eu estava fazendo.

Estava muito curioso sobre o que ela sabia, mas não perguntei o que ela quis dizer e continuei a comer o bolinho de arroz. Eles tinham um bom tamanho e comendo dois de cada prato, enchi o meu estômago.

A luz dourada do fogão brilhava sobre nós. Meu rosto se sentia confortavelmente quente. Nós esquecemos do tempo e falamos sobre tudo o que queríamos enquanto bebíamos lentamente o chá. Nenhum de nós tinha pensado em ir para casa. Nenhum de nós tinha dito em voz alta, mas ambos compreendíamos. Nós dois tínhamos um número incontável de coisas para falar. Nós estávamos contando como tínhamos passado durante o ano. Embora não tenhamos colocado tais sentimentos em palavras, estávamos conversando para deixar claro o quanto queríamos estar um com o outro.

Era perto da meia-noite quando o empregado da estação bateu gentilmente na janela de vidro da sala de funcionários.

— É quase hora de fechar a estação. Não há mais trens chegando.

Era o atendente idoso a quem eu tinha entregado o meu bilhete mais cedo. Pensei que ele estava com raiva de nós, mas ele estava sorrindo. “Eu não queria interromper, já que vocês dois parecem estar se divertindo, mas...” ele disse com um tom gentil.

— Eu tenho que fechar a estação. Tenham cuidado no seu caminho para casa. Há muita neve.

Agradecemos ao atendente e deixamos a estação.

 

A cidade de Iwafune estava completamente enterrada na neve. Ainda estava nevando, mas estranhamente neste mundo noturno, onde o céu e a terra estavam rodeados de neve, não sentia frio. Caminhamos animadamente ao lado um do outro sobre a neve recente. Me senti orgulhoso por ser alguns centímetros mais alto do que Akari. As luzes pálidas clareavam manchas de neve diante de nós. Observei como Akari corria feliz em direção a uma dessas manchas. Ela certamente tinha amadurecido mais do que eu podia me lembrar.

Akari me levou até uma grande árvore de cerejeira que ela tinha me contado em sua carta. Era apenas 10 minutos de caminhada da estação, mas ficava no meio de um campo de onde não se via nenhuma residência. Não havia luzes artificiais nas proximidades, mas a luz refletida sobre a neve brilhava o suficiente. Toda a proximidade foi suavemente iluminada. Era como se a bela paisagem fosse o resultado da refinada habilidade de alguém.

A cerejeira estava erguida no meio dos campos de arroz. Era larga e alta. Uma bela árvore. Nós dois ficamos debaixo dela, olhando para a neve caindo do céu escuro, pousando silenciosamente e pesando os galhos.

— Ei, parece a neve — disse Akari.

— Sim, sim — respondi. Podia sentir Akari olhando para mim sorrindo sob a árvore florescente.

 

Naquela noite, Akari e eu nos beijamos pela primeira vez. Naturalmente nos beijamos.

No momento em que nossos lábios se tocaram, compreendi onde a eternidade, o coração e a alma estavam. Parecia que estávamos compartilhando nossos treze anos de vida, mas depois disso, veio a tristeza.

Não sabia para onde eu poderia levar o calor de Akari e sua alma comigo ou como eu deveria tratá-la. Mesmo que ela estivesse ali diante de mim. Eu não sabia o que eu deveria ter feito. Compreendi claramente que não poderíamos estar juntos novamente depois disso. Ainda tínhamos uma longa e imprevisível vida à nossa frente, espalhada dentro da vastidão do tempo.

Mas em pouco tempo, essa inquietação desapareceu e só o calor dos lábios de Akari estava comigo. Nada no mundo era como o calor e a suavidade de seus lábios. Foi um beijo muito especial. Agora que me lembro, não houve nenhum outro beijo na minha vida inteira que poderia se comparar com a felicidade, pureza e sinceridade que senti durante esse beijo.

 

✻ ✻ ✻

 

Nós passamos a noite em um pequeno galpão no campo. Entre todos os equipamentos agrícolas armazenados dentro do galpão de madeira, Akari e eu encontramos um velho cobertor nas prateleiras e, tirando nossos sapatos e casacos molhados, nos cobrimos e juntos conversamos calmamente. Debaixo do casaco, Akari estava usando um seifuku² enquanto eu estava com um uniforme comum. Já não estávamos solitários e ficamos muito felizes.

Enquanto conversávamos embaixo do cobertor encostado um no outro, de vez em quando os cabelos macios de Akari roçavam minhas bochechas e pescoço. Cada vez que isso acontecia, o seu aroma doce me excitava enquanto o toque quente de seu corpo mantinha meus sentidos satisfeitos. A voz de Akari suavemente fazia o meu cabelo balançar enquanto minha voz também balançava o dela. A neve lá fora estava diminuindo e ocasionalmente, o galpão seria preenchido com a luz da lua que fazendo tudo parecer uma ilusão. Antes que pudéssemos perceber, adormecemos.

 

Quando acordamos era por volta das seis da manhã e a neve já tinha parado. Nós bebemos um pouco do chá que sobrou e que ainda estava ligeiramente quente, em seguida, vestimos nossos casacos e começamos a caminhar até a estação. O céu estava azul e o sol nascente brilhava sobre a crista das montanhas, fazendo os campos cobertos de neve brilharem. Era um mundo deslumbrante.

Na plataforma naquela manhã de sábado, eu era o único passageiro. O trem laranja e verde tinha chegado, seus vagões brilhando debaixo do sol nascente. As portas se abriram e, enquanto andava, olhei em direção à plataforma. Akari, aos 13 anos, estava de pé ali, com os botões de seu casaco branco desabotoado, revelando parte do seu uniforme.

Sim, eu percebi. A partir daquele momento, estaríamos sozinhos novamente e teríamos que voltar para nossos próprios mundos.

Mesmo tendo conversado muito ontem à noite, mesmo estando tão próximo, de repente, íamos nos separar novamente. Fiquei em silêncio, sem saber o que dizer. Foi Akari quem falou.

— Ei, Takaki-kun.

— Huh? — respondi como se eu achasse difícil respirar.

— Takaki-kun... — ela disse mais uma vez, hesitando. Os campos de neve, banhados pelo sol nascente, brilhavam como a superfície de um lago e Akari parecia tão bela contra a paisagem. Ela de repente olhou diretamente para mim e continuou enquanto reunia todas as suas forças.

— Takaki-kun, tenho certeza que você vai ficar bem! Eu sei que ficará!

— Obrigado... —consegui dizer antes que as portas do trem começassem a fechar.

Não poderia deixá-la assim. Eu tinha que responder. Gritei com todas as minhas forças para que minha voz pudesse alcançá-la através das portas fechadas.

— Se cuide também, Akari! Vou te escrever! Eu ligo para você!

Nesse momento, senti que ouvi o grito estridente de um pássaro. Quando o trem começou a se mover, nossas mãos tocaram o mesmo ponto na janela da porta. Elas foram separadas quase que imediatamente, mas apenas por um breve momento, elas tocaram no mesmo lugar.

 

Enquanto o comboio se movia, continuei parado ali, perto das portas.

Não pude dizer a Akari que escrevi uma carta para ela, nem pude dizer que a perdi. Pensei que poderíamos nos encontrar novamente algum dia, mas senti que o mundo inteiro tinha mudado depois do nosso beijo.

Gentilmente coloquei minha mão no local onde Akari tinha tocado.

“Takaki-kun, tenho certeza que você vai ficar bem”, Akari tinha dito.

Era como se suas palavras tivessem atingido algo dentro de mim - algo que eu mesmo não sabia sobre mim - tinha um sentimento misterioso sobre elas. Tive a sensação de que algum dia, num futuro distante, as palavras de Akari se tornariam uma preciosa força para mim.

Mas naquele momento eu só podia continuar a olhar pela janela, para o cenário que passava, e pensar comigo mesmo... se pelo menos eu tivesse o poder para protegê-la.


Notas:

1Tipo de marmita japonesa.

2Uniformes escolares baseados em uniformes de marinheiros.

 



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