Volume 4
Capítulo 157: Embate
Jonas mal teve tempo de parar o carro e descer. Wagner jogou Eduardo dentro do veículo e gritou:
— Gledson, leva ele daqui!
Gledson passou rapidamente para o banco do motorista. Antes que ele conseguisse se posicionar, uma lança voou em sua direção, mas ficou presa em uma barreira criada por Jonas.
— O Eduardo está muito desgastado por causa da fuga e de usar os poderes para mostrar o caminho para vocês. — Wagner disse — Sem contar que esse não é o lugar para não-combatentes como vocês.
— Acaba com eles! — Eduardo disse, se ajeitando no banco.
— Deixa com a gente. — Jonas fez um gesto com o polegar, sem parar de encarar os dois homens de armadura à sua frente.
Gledson encarou Wagner e Jonas por alguns segundos, mas acabou não conseguindo falar nada para os dois. Mesmo que fossem todos heróis, nunca houve proximidade entre eles.
Enquanto Jonas e Wagner eram respectivamente o escudo e a lança do Reino de Prata, Gledson era a sombra do Reino de Cristal. Suas funções e objetivos eram bem diferentes, e isso gerou uma distância entre eles.
Na verdade, os heróis não eram tão próximos entre si quanto faziam parecer.
Wagner sabia disso, e por esse exato motivo achou que não era justo querer que Gledson enfrentasse uma batalha que não era dele. O Cavaleiro de Prata era um problema que surgiu e se desenvolveu no reino de Prata, por mais que fosse da conta de todos os 33, ele era responsabilidade de Jonas e Wagner.
Pelo menos era essa a opinião dos dois.
Algumas lanças continuaram a surgir e voar em direção ao carro que se distanciava, mas todas foram impedidas por barreiras criadas por Jonas. O embate havia começado em silêncio.
— Jonas… — Um dos homens de armadura disse, seu elmo se desfez em pequenas escamas revelando uma cabeça careca e pálida — Quanto tempo, meu aluno preferido.
— Jafah! — Jonas parecia mais estar rosnando do que dizendo o nome de alguém — O maldito Cavaleiro de Prata.
— O outro ali é o Ritter, ele está com o meu poder. — Wagner apontou para o segundo homem de armadura — Seja lá o que estiver querendo resolver com o Cavaleiro de Prata, se puder não se meter no meu papo com o velhote almofadinha, eu agradeço.
— Não gosto de socar almofadas mesmo, — Jonas se moveu — prefiro encher a cara de um deus de porrada.
— Um deus? — Ritter olhou para Jafah.
— Longa história. — Jafah foi à frente.
Um pequeno cubo apareceu bem à frente de Jafah e expandiu rapidamente, desaparecendo em menos de um segundo. Não causou dano algum, mas foi o suficiente para jogar o Cavaleiro de Prata original alguns metros para trás.
Ainda sem fechar seu elmo, o Cavaleiro de Prata se levantou e disse:
— Barreiras cúbicas? Não conseguiu evoluir nada nesse tempo todo?
— Disse o deus que precisou se fingir de humano por quatrocentos anos! — Jonas retrucou.
— Agora ele consegue responder, antigamente nem isso. — disse Jafah para Ritter —E pensar que o criei para ser um covarde, não um herói altruísta.
Ritter não respondeu, seu foco estava apenas em Wagner, que diferente de Jonas, possuía uma habilidade de combate bem perigosa. Mesmo que tivesse perdido seus poderes, ele estava com uma arma que podia mudar de forma de acordo com a vontade do seu portador.
Jonas e Jafah eram os dois escudos mais poderosos, o deus e o herói guardiões. Enquanto isso, Wagner e Ritter eram o antigo e o atual portadores do poder da guerra. Uma batalha estava destinada a acontecer ali e ninguém poderia impedir.
Também não haveriam espectadores, a história estava fadada a ser contada pelos vencedores. Isso se houvesse um vencedor.
Jonas estava decidido a lutar até a morte, e Wagner ansiava por uma batalha digna da sua posição como herdeiro do Deus da Guerra. Aquele local isolado estava destinado a ser o palco de uma luta magnífica.
— Vamos nos separar. — Wagner sugeriu — Por mais que eu odeie o cara pálida ali, tenho contas a acertar com o outro.
— Tudo bem, mas não se meta na minha luta. — Jonas respondeu.
Wagner se afastou de Jonas enquanto sinalizava para Ritter o seguir.
— Isso é uma tentativa de nos separar? — Ritter perguntou — Acha mesmo que podem nos vencer separados? Nem se lutassem os dois contra cada um de nós, ainda não conseguiriam nem…
Um som estridente seguido por um tinido metálico ecoou.
Parte do elmo da armadura de Ritter havia sido arrancado, um fio de sangue descia pelo seu rosto. Enquanto isso, na mão de Wagner estava uma pistola 9 mm prateada.
— Sua armadura é mais resistente do que eu queria, porém, menos do que eu esperava. — Wagner disse, girando a pistola no indicador.
— Uma pistola? — Ritter falou assustado, enquanto seu elmo se regenerava.
— Arma das Armas. Uma pistola é uma arma, ou achou que apenas armas brancas eram válidas? — Enquanto Wagner falava, a pistola começou a se modificar, com o cano alongando e várias partes pareciam se desdobrar.
— Pelo visto, a transformação em armas de fogo é um pouco lenta… — Ritter concluiu apenas de olhar.
— É um detalhe. Preciso criar cada parte individualmente, não dá para apenas imaginar a arma pronta e ela surgir. — Wagner disse, olhando submetralhadora que terminava de ficar pronta — A vantagem é que eu tive bastante tempo para estudar armas de fogo nos últimos quatro anos.
— Armas de fogo ainda são ineficazes contra essa armadura construída com nanotecnologia! — Ritter cantou vitória.
— Vamos testar. — Wagner sorriu e se posicionou.
Dobrando os joelhos e puxando o gatilho, Wagner mirou em Ritter. As balas saíam como se fossem infinitas. Elas não eram, mas Wagner podia fazer a Arma das Armas criar novas balas no pente antes que ele ficasse vazio. Era uma vantagem ter essa arma.
Cada bala que acertava a armadura de Ritter era ricocheteada, produzindo um tinido e faíscas. Mesmo que os projéteis não o ferissem, Ritter parecia estar com dificuldade para manter o equilíbrio, quanto mais esboçar uma reação de contra-ataque.
Lanças começaram a surgir e voar ao encontro de Wagner, mas ele esquivava de cada uma enquanto mantinha a sequência de disparos. Uma infinidade de aspadas de folha larga apareceram entre ele e Ritter impedindo que as balas continuassem acertando.
Wagner mudou de arma de fogo para uma espada. Ele estava confiante em suas habilidades de combate em ambos os estilos. Ritter tinha a vantagem de estar usando armadura, mas isso deixava suas reações mais lentas.
A distância entre os dois oponentes foi rapidamente encurtada, duas espadas colidiram em pleno ar enquanto outras dançavam em volta, Wagner usou sua vantagem de estar mais leve para girar no ar e impedir de ser atingido pelas lâminas extras enquanto chutava o elmo nanotecnológico de Ritter.
Assim que seus pés tocaram o chão novamente, Wagner se lançou par longe de seu adversário em um movimento de esquiva, mesmo que não tivesse certeza se estava sendo atacado. Prevenir nunca era demais, e ele havia acertado na intuição, uma lança passou raspando o seu corpo.
Se não fosse pelo seu movimento, estaria empalado, igual um churrasquinho no espeto.
Wagner viu ainda Ritter tentar avançar e sua direção empunhando uma espada longa de duas lâminas. Um sorriso se formou na face do herói quando viu seu oponente ser arremessado para cima por uma explosão.
Um truque sujo, mas eficaz. Wagner tinha criado uma granada com o pouco que restou de seu poder. Desde que havia voltado para o Outro Mundo, ele sentiu seu poder lentamente retornando. Primeiro ele conseguiu criar uma faca, depois armas mais sofisticadas, até chegar em uma granada de mão.
Obviamente, ele precisava de uma distração para entreter Ritter enquanto lentamente criava o explosivo. Por isso usou a Arma das Armas na versão metralhadora. E seu ataque a curta distância foi apenas para deixar a granada nos pés do oponente sem que ele visse.
O plano era idiota, mas deu certo.
— Chupa, André, meus planos funcionam! — Wagner murmurou enquanto corria em direção ao oponente caído.
A armadura supertecnológica era uma chatice, ela impedia que os ataques de Wagner fossem efetivos. Mas agora havia uma abertura no peitoral e outra no elmo, elas estavam se consertando, mas Wagner não perderia a oportunidade.
Não havia tempo para transformar o artefato divino em uma arma maior, então ele usou para fazer um soco inglês. Uma peça de metal simples e em uma única parte, mas com o potencial de infligir muito dano em apenas um soco.
Ritter conseguiu levantar a postura antes que Wagner o alcançasse. A armadura continuava a se regenerar, ao passo que Ritter só conseguia manter os braços erguidos à frente do rosto. Wagner continuava usando a Arma das Armas na forma de um soco inglês para agredir seu adversário.
Como antigo usuário do poder das armas, Wagner sabia que para criar cada uma era preciso imaginar cada parte dela, e isso exigia uma concentração formidável. Não dar tempo para Ritter se concentrar era fundamental e estava funcionando.
Após perder para André devido sua arrogância, ele havia aprendido algumas coisas.
O próximo passo era imobilizar o oponente, e para isso ele criou um Taser a partir da arma das Armas. Um choque elétrico poderia ser eficiente, mas ele precisava aproveitar que a armadura ainda não estava totalmente regenerada.
Quando a descarga elétrica foi disparada, nada aconteceu.
Havia uma barreira entre a arma e a pele de Ritter. E isso não estava no plano de Wagner.