Volume 4

Capítulo 158: Combate

Jonas nunca foi o cara da violência.

Por mais que precisasse fazer um ou outro trabalho sujo de vez em quando, ele sempre teve alguns guardas à sua disposição. Isso fez com ele se tornasse um preguiçoso, covarde e inútil em combates.

Sua habilidade permitia que ele criasse campos de força, também chamados de barreiras. Sua pouca imaginação o levou a treinar barreiras na forma cúbica, mesmo que o conceito original fosse de que qualquer forma era possível, dependendo da vontade do criador.

Agora Jonas se arrependia de todo o tempo desperdiçado achando que era forte. A força nunca foi sua, tudo que ele tinha era uma defesa forte, mas em termos de ataque, ele era um dos mais fracos.

Até Amanda, que já foi considerada a mais inútil entre os heróis, agora estava poderosa, e Jonas havia estagnado. Aquele que no início foi considerado o segundo mais forte foi ultrapassado por todos os outros antes que fosse capaz de perceber.

Ele se culpava.

Mas a culpa não era apenas sua, o homem à sua frente, ou melhor, o deus, esse sim era o verdadeiro culpado. Ele se fingiu ser amigo e fez com que Jonas cometesse erro atrás de erro. Graças à falsa proteção do Cavaleiro de Prata, Jonas havia se tornado um fraco.

Ódio era o que ele sentia. Finalmente estava entendendo o ponto de vista de André. Finalmente Jonas estava compreendendo o quão errado esteve nos últimos doze anos em julgar as ações imprudentes de André.

Uma pena que não dava de voltar no tempo.

Ainda dava tempo de se retratar, e a melhor forma estava bem na sua frente: Jafah, o maldito deus das barreiras, aquele que se fingiu de Cavaleiro de Prata por doze anos e enganou a todos.

Aquele foi o momento que Jonas esperou.

Sons de tiros ecoaram vindo da direção aonde Wagner tinha seguido, o que significava que os outros dois já estavam se enfrentando. Lá estavam as duas lanças mais fortes, aqui estavam os dois escudos mais resistentes.

Um espetáculo estava prestes a começar.

Ele já tinha usado sua barreira para derrubar Jafah e sabia que o mesmo truque não funcionaria uma segunda vez, então apelou para uma abordagem mais direta. 

Com a penas movimento de um dedo de Jonas, dez camadas de barreiras sobrepostas apareceram, pendendo Jafah em um cubo revestido e translúcido. Jonas não queria apenas prender seu oponente, ele comprimiu a barreira interna tentando esmagar Jafah.

Esmagar um deus não era tão simples quanto foi com Flek, o Rei de Prata. Por isso mesmo Jonas criou tantas barreiras dessa vez. Mesmo que achasse que não conseguiria acabar com Jafah, ele precisava conseguir tempo para Wagner, que enfrentava Ritter.

As barreiras implodiram uma a uma, até que todas fossem finalmente usadas. Aquela foi apenas uma fração do poder de Jonas, ele poderia simplesmente ter ido com tudo, mas a sua cautela dizia que não fazia sentido.

Se ele gastasse tudo que tinha e mesmo assim não fosse capaz de derrotar Jafah, tudo teria sido em vão. Mas para a surpresa dele, Jafah estava caído.

Não caído de uma forma derrotada, mas estava apoiado sobre um joelho e de cabeça baixa. E sua respiração estava pesada, o que indicava que talvez o ataque de Jonas tivesse algum efeito.

— Que merda foi essa? — Jafah perguntou, levantando a cabeça.

Um golpe de sorte ou um ataque surpresa que acabou saindo melhor que o planejado, Jonas não sabia, mas estava feliz em sair na frente.

— Para alguém que se diz um deus, você é bem mais fraco do que eu esperava. — Jonas puxou conversa para ganhar tempo.

— Você me surpreendeu. — Jafah se recompôs — Não ache que vai conseguir fazer isso outra vez.

— Eu sei que não. — Jonas disse e respirou fundo.

Como se ensaiado, os dois se afastaram ao mesmo tempo, ambos tentavam capturar o adversário sem ser capturado. Jonas tinha vantagem de não estar de armadura, por isso era mais rápido.

Em um movimento improvisado de saltar em direções aleatórias enquanto evitava ficar parado, Jonas conseguiu ficar longe o suficiente de Jafah. Ou era o que ele achava.

No momento em que parou de saltar, seu corpo travou.

Jonas ficou igual a uma estátua. Parado. Preso. 

Ele xingou mentalmente Jafah com todos os palavrões que conhecia, quando acabaram, ele inventou alguns. Ao mesmo tempo, o Cavaleiro de Prata não teve pressa em se aproximar. Talvez estivesse com medo de Jonas ter preparado alguma armadilha.

Barreira ao nível da pele era uma das maiores dificuldades que Jonas teve ao longo de sua vida de herói. Criar uma barreira comum, cúbica, já era bastante chato, mas fazer uma que contornasse o alvo sem espaço para movimentos era um pé no saco.

E era em uma dessas que Jonas estava preso agora.

Conforme Jafah chegava perto, do braço de sua armadura nanotecnológica começou a surgir uma espada feita das microescamas. Jonas não tinha levado em consideração essa possibilidade, um erro básico.

Mesmo não tendo a sorte a seu favor, Jonas tentava não perder as esperanças. E em um momento de descuido, quando Jafah virou sua atenção para Ritter que estava prestes a ser eletrocutado, Jonas o prendeu em uma barreira similar à que estava.

Toda a carga da arma de choque de Wagner foi descarregada em uma barreira invisível, mas Jonas havia conseguido capturar o seu oponente. Agora estavam os dois, imóveis, se encarando com olhares de ódio.

— Muito fraco para quebrar a minha barreira simples? — Jonas insultou.

— Apenas surpreso por você conseguir criar algo que não seja cúbico. — Jafah respondeu.

— Vai lá. Tenta quebrar essa aí. — Jonas disse com um sorrisinho — Eu estava aqui me perguntando o motivo de alguém que se diz ser um deus precisar usar uma armadura mágica. Aposto que seus poderes “divinos” estão muito fracos, senão já teria me derrotado, e não precisaria dessa lata toda aí.

— Muito sagaz, o que é estranho vindo de você. — Jafah falou calmamente — Mas, já que um de nós terá que sair daqui sem vida, não me custa contar a você. Principalmente porque acho que vamos demorar uns minutos aqui igual a duas estátuas…

— Também acredito nisso.

— Já deve ter ouvido falar que os deuses estão presos fora da existência… — Jafah falou em um tom mais pesado.

— Já soube algumas coisinhas a respeito.

— Manter eles presos por tanto tempo me custou muito. Usei todo o meu poder e criei uma barreira entre os outros deuses e a realidade, se não fosse pela benção da imortalidade, eu teria morrido no processo.

— Incrível… — Jonas parecia desconfiado.

— Eu fui enganado por um humano… Haroldo era o nome dele. O maldito conseguiu criar problemas entre nós deuses e passar como o herói. Ele sabia demais, mas quando descobri que ele estava agindo em nome do guardião desse mundo, já era tarde demais. 

— Haroldo? Onde já ouvi esse nome?

— Tudo que sei era que ele veio do mesmo mundo que vocês heróis. — Jafah continuou — Quando vi que tinha cometido um erro se volta, me infiltrei entre os humanos e usei o disfarce de Cavaleiro de Prata para encontrar uma forma de trazer outras pessoas do mesmo mundo que aquele maldito…

— Então fomos invocados e você pode finalmente dar início ao seu plano de trazer seus amiguinhos de volta?

— Se fosse tão fácil eu teria trazido eles por vontade própria, mas a maioria dos 32 deuses agora me odeiam e querem a minha cabeça em uma estaca. Meu plano real era transformar vocês heróis em deuses artificiais, e fazê-los trabalhar para mim.

— Que plano lindo…

Jafah parou de falar.

A barreira que prendia Jonas se desfez, e mesmo assim o homem de armadura à sua frente permanecia quieto. Jonas considerou a possibilidade de aquilo ser uma armadilha e após pensar um pouco, libertou Jafah também.

Algo estava muito errado. O homem que dizia ser um deus agora parecia em pânico. Ele desmontou parte da armadura, revelando uma expressão confusa e aterrorizada.

Seus lábios se moviam como se quisesse dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra saía. Suas mãos estavam trêmulas e sua pele, já pálida, estava quase transparente.

— Aconteceu alguma coisa? — Ritter parecia também ter percebido o estado de Jafah e se aproximou.

— Acabou… — Ele disse quase sem voz — Não era esse o plano…

— O que acabou? — Jafah perguntou estarrecido.

— Sua garotinha fez merda! — Jafah juntou as mãos sobre a cabeça — Graças a ela tudo foi jogado fora…

Jonas aproveitou o momento de distração para reagrupar com Wagner. Os dois heróis estavam e péssimas condições, mas poderiam trabalhar jutos e vencer. Mesmo assim, algo dentro dele dizia que tinha algo grande acontecendo.

Então escureceu.

No momento que sol se pôs, e uma coluna escura subiu aos céus, na direção do acampamento, e a escuridão se espalhou como nuvens negras que cobriram tudo em poucos segundos. Jonas engoliu em seco, ele sabia que aquilo não era um bom presságio.

— Sabe que deu merda, né? — Wagner perguntou.

— Quem você acha que fez isso? André? — Jonas questionou.

— Não. Mas não me importo. — Wagner estalou o pescoço — Não tenho planos de deixar que aqueles ali descubram, mesmo que isso me leve ao fundo do poço.

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