Volume 4

Capítulo 153: Confronto

No momento em que Zita morreu, uma torre de escuridão ascendeu de seu corpo e cobriu o céu. O sol acabara de se pôr no horizonte, e as trevas dominaram toda a visão da paisagem.

Os heróis se ajoelharam em respeito àquela que foi a mais poderosa dentre eles, em seguida as pessoas livres repetiram o gesto. Até mesmo os guerreiros do Sul, que assistiam ao longe, demonstraram respeito à sacerdotisa da montanha de fogo.

Sônia via aquela situação toda bem de perto, trêmula, incapaz de fazer algo para ajudar. Poucas dezenas de metros à sua frente estava seu filho com a mulher que amava em seus braços, morta.

O grito que André deu foi o suficiente para congelar todos onde estavam.

Então eles sumiram. Diante dos olhos de todos, André e o corpo de Zita desapareceram no ar, como fumaça, sem que ninguém visse para onde foram. O coreano também não estava mais ali.

Sônia ainda se perguntou se não ficou absorta o suficiente para sua mente travar e ela não ver André sair dali. Mas os que estavam ao seu redor também comentavam o sumiço repentino dos dois e mais o cadáver de Zita.

— Ele usou uma das magias proibidas. — Victoria, a heroína de cabelos prateados e com uma cicatriz nos lábios, disse — Não sei quando ele preparou uma magia tão complicada, mas posso sentir o rasgo no espaço por onde ele teleportou.

— E para onde ele foi? — Leonardo perguntou.

— Na direção noroeste. — Victoria apontou — Eu chutaria que o destino foi a montanha de fogo.

— Ele acha que pode impedir que ela morra? — Lucas se intrometeu.

— Eu digo que é tarde demais. — Victoria cruzou os braços e suspirou — Mas não custa nada ir dar uma olhada.

Então ela desapareceu.

Sônia olhou então para o acampamento dos soldados da Aliança Internacional, onde uma movimentação se formava. As pessoas corriam de um lado para outro carregando lanternas, e holofotes focavam na coluna de poeira formada onde antes ficava a formação rochosa de onde partiu o tiro que matou a heroína.

O ataque de André havia vaporizado a rocha, certamente não restavam sobreviventes, mesmo assim ainda tinha aquela arma longa que era capaz de disparar projéteis criados especialmente para eliminar os heróis. Era importante para a AI recuperar a arma, e mais importante ainda, os heróis impedir isso.

Sônia não precisou alertar nenhum deles. Rapidamente Leonardo e Lucas cruzaram o espaço entre o acampamento e a nuvem de poeira, e em seguida foi ouvido um estrondo sônico provocado por Josiley. Amanda e Mirian também foram em busca de evitar que os inimigos recuperassem a poderosa arma.

Hugo ficou no acampamento, mas usava seu poder à distância para impedir que a nuvem de poeira dispersasse. Enquanto Helder, Raíra e Catarina se colocaram à frente do acampamento formando uma barreira de proteção. Logo atrás, Kawã e Arlene faziam a proteção de retaguarda.

Os demais heróis se espalharam pelo acampamento enquanto grupos de guerreiros se organizavam em um esquema defensivo complexo e bem estruturado. Ao passo que os soldados do Reino de Cristal se mantiveram no centro da formação em linhas coordenadas formando padrões hexagonais.

Tudo foi rápido e silencioso, apenas os passos eram ouvidos, mas nenhum comendo foi declarado. Uma coordenação militar que deixou Sônia de boca aberta. Sentindo uma mão tocar seu ombro, Sônia olhou para trás e viu uma guerreira de olhos e cabelos vermelhos.

— A senhora estará mais segura na tenda da Rainha Esmeralda. — Rubi disse — Caso fique aqui fora pode acabar atrapalhando.

— Me consiga uma arma e eu mostro o que posso fazer. — Sônia retrucou.

— Essa guerra não é sua. — Rubi pegou o pulso de Sônia com firmeza e a levou para a tenda onde Esmeralda e mais alguns não-combatentes estavam.

Entre as pessoas na tenda, estavam Anne e Iffy. Como a heroína antes dita da telecinese, e recentemente descoberta que na verdade ela manipulava fios, ainda estava com a restrição mágica sobre seus poderes.

O silêncio do lado de fora foi subitamente trocado para uma série de gritos, estampidos e dezenas de outros sons impossíveis de serem compreendidos.

 

 

Quando Leonardo e Lucas adentraram a nuvem de poeira, a visibilidade era praticamente zero, não apenas devido às partículas suspensas como também pelo fato de ser noite e uma nuvem densa cobrir totalmente o céu impedindo a presença de qualquer luz natural.

Mesmo que tivesse vento externo à nuvem, a poeira continuava ali, mantida pela gravidade controlada em forma de domo que Hugo criou. Para Lucas isso não era problema, com seu poder de controlar o vento, ele criava pequenos espaços de vácuo para procurar qualquer vestígio da arma.

Josiley também procurava, mas às cegas, entretanto, seu poder o permitia cobrir uma área maior em menos tempo. O problema para ele era ter que tatear o chão para tentar achar alguma coisa. Às vezes ele achava um pedaço humano, mas seguia em frente.

Apesar dos heróis terem sido muito mais rápidos do que os soldados da AI, estes últimos não demoraram a chegar. Armas em punho, gritos e ameaças, aquele era o jeito “civilizado” das pessoas da Aliança agirem.

Leonardo disparou uma pequena descarga elétrica de aviso em direção às armas dos soldados, mas o raio foi desviado.

— Isolamento magnético! — Leonardo comentou — Eles estão mesmo preparados para nos enfrentar.

— E nós estamos prontos para enfrentar eles. — Lucas retrucou.

No meio da poeira suspensa era possível ver as luzes se movendo, eram os soldados da Aliança, eles pareciam bem coordenados e se moviam em grupos pequenos. Enquanto que do lado de fora estava a maior parte do contingente militar.

A tensão era quase palpável.

Qualquer menor indício que fosse de hostilidade maior por algumas das partes resultaria em uma batalha. E não era como se Leonardo não estivesse desejando um confronto, mas o isolamento magnético dos soldados poderia ser um problema.

— Achei… — Uma voz sussurrou ao lado dele.

Leonardo sorriu. Josiley havia encontrado a arma que podia matar os heróis, isso significava que eles estavam na vantagem, e o fato do herói ter vindo ali apenas avisa-lo indicava que ele estava sendo convidado a entreter os inimigos.

— Lucas, vamos dar um show! — Leonardo avisou ao seu amigo.

— Como nos velhos tempos?

— Não, dessa vez não precisamos nos importar com honra de cavaleiros.

— Eu gosto disso.

Lucas ergueu a mão e disparou uma rajada de ar concentrado no meio de uma das formações da Aliança. A onda de choque espalhou a poeira, deixando os dois heróis e os soldados em um bolsão de ar.

Leonardo preparou outro ataque, mas dessa vez não disparou, em vez disso ele se envolveu com eletricidade. O objetivo naquele momento era ser mais rápido e atacar diretamente, enquanto Lucas ficava com a retaguarda.

Tão rápido quanto um raio, Leonardo se moveu. Os soldados que não tinham caído no ataque de Lucas nem tiveram tempo de ver o que os acertou, e antes que eles pudessem se recompor, Leonardo os desarmou e ainda nocauteou alguns.

Tiros ecoaram alguns metros ao lado fazendo Leonardo se mover mais uma vez. Era difícil andar no meio de tanta poeira, a noite e em um terreno irregular, pelo menos o sistema de isolamento magnético da Aliança Internacional indicava para o herói a posição dos seus inimigos.

Um tiro acertou seu braço.

Não dava sequer para saber de onde veio. E nem havia tempo para procurar o culpado. As balas voavam para todos os lados, indiscriminadamente, os tiros de ar de Lucas também eram sentidos passando pelo meio da poeira e acertando os inimigos, quase sempre pelo menos.

— Recuar! — A voz de Lucas foi alta e clara.

Seguindo a direção da voz, Leonardo se moveu em meio à poeira e arrastou seu amigo para fora dali. Ele não conseguiu encontrar Josiley, mas não se sentia tão preocupado com o mais veloz de todos.

Os tiros continuavam. Leonardo percebeu que Lucas tinha sido acertado também, na altura do abdômen. Campo aberto era perigoso quando seus inimigos possuíam armas de fogo.

Quando finalmente saíram da poeira, Leonardo viu Josiley carregando um equipamento metálico longo e, aparentemente, pesado. Aquela era a arma que eles estavam buscando.

— HUGO! — Lucas gritou e apontou para o que Josiley carregava.

Hugo ergueu a mão e usou seu poder de atração para fazer a arma se deslocar até ele. Era melhor do que depender de Josiley, que era rápido, mas não forte. O longo tubo de metal flutuou em alta velocidade até alcançar um par de mãos.

Uma rajada forte de vento espalhou toda a poeira, deixando o campo de batalha limpo. Com a iluminação artificial da Aliança, a figura de uma jovem loira de baixa estatura, sozinha em campo aberto, era visível a todos. Era Catarina.

A heroína da força e de pele invulnerável estava segurando a tão buscada arma com ambas as mãos enquanto sorria igual uma maníaca. Seu objetivo ali era dar à plateia um belo encerramento daquele show todo.

Os tiros pararam, assim como todos os gritos e magias. As três frentes pararam de atacar, aguardando o próximo movimento de Catarina, enquanto ela ficava lá, parada.

Como se aguardassem o que estava por vir, o silêncio tomou de conta, as luzes todas focaram em Catarina, e ela iniciou sua ação. Erguendo a arma acima de sua cabeça, seus dedos forçaram as extremidades opostas em direção ao centro, uma expressão vitoriosa surgiu em seu rosto.

O som agudo indicando o ranger do metal sob a pressão esmagadora da força incomparável da pequena Catarina, trouxe à plateia absorta sob tamanha demonstração de força bruta um susto. Em meros segundos a menor entre os 33 havia transformado uma arma perigosa em apenas uma bola de metal.

Uma derrota seguida por uma vitória. Leonardo sabia que tinham atrasado as Aliança, mas perder Zita era um prejuízo incalculável. E agora ele e Lucas estavam feridos.

Ordem de recuar vieram de ambos os lados. As duas frentes cansadas e frustradas pelas ações agitadas do dia se retiraram para seus respectivos acampamentos. Descansar era importante para poderem lutar outro dia.



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