Volume 4

Capítulo 152: Uma Heroína Forjada nas Chamas (2)

Resgatar André não foi fácil, mas foi divertido.

Os dois embarcaram juntos em uma jornada pelo continente em busca de reunir informações e criar laços com os outros heróis. Não foi fácil, mas eles aprenderam muita coisa juntos.

Os resquícios da revolução antiescravagista ainda estavam visíveis, a economia no centro do continente estava uma bagunça, revoltas populares estourava a todo momento.

Uma guerra estourou.

Não uma guerra qualquer. Foi a guerra que envolveu os sete reinos em batalhas sangrentas. Não dava para entender os motivos de cada reino, parecia que eles apenas queriam guerrear e estavam esperando uma desculpa adequada.

Ela teve que se separar de André.

Foi muito difícil encarar toda aquela situação sem ele ao seu lado, mas como Zita era a mais poderosa entre os 33, cabia a ela ir às linhas de frente para forçar um tratado de paz.

Pelo menos foi isso que o Cavaleiro de Prata a convenceu a fazer.

Quando se deram conta das verdadeiras intenções dele, já era tarde demais. O estrago estava feito, as relações rompidas, milhares de vidas perdidas e a situação havia chegado a um impasse.

Foi a primeira vez que Zita refletiu sobre o verdadeiro significado de ser uma heroína, chegando à conclusão de que tudo aquilo que haviam ouvido desde o início era apenas uma lavagem cerebral.

Heróis escolhidos para salvar o mundo? De quê?

Profecia? Quem profetizou?

Destino sagrado? Em que sentido?

Sua fé naquilo que a fez seguir em frente foi abalada. Zita reuniu então seus amigos mais próximos e disse o que pensava:

— O Cavaleiro de Prata está nos usando!

— Para o quê? — Jonas questionou.

Era óbvio que ele seria o primeiro a questionar, logo Jonas que fora treinado pelo Cavaleiro de Prata para ser um guardião do reino. Ele foi o que teve a maior lavagem cerebral entre todos.

— Você só está dizendo isso para proteger aquele seu namoradinho esquisito. Anne disse.

Essa foi uma surpresa.

Zita considerava Anne como sua melhor amiga, sempre lhe confidenciou tudo, e agora teve que escutar uma crítica dessas. Ela ficou mal.

Mas Léo e Lucas a apoiaram. Os dois não disseram seus motivos, mas estavam dispostos a ajudá-la a pôr um fim naquela guerra de uma vez por todas. E assim fizeram.

Enquanto os sete exércitos se enfrentavam, e quase todos os herói participavam, os três se uniram para acabar com a batalha e forçar um acordo de paz.

Aquele foi um dia histórico.

Então Felipe revelou que havia descoberto a existência de uma “chave” que poderia leva-los de volta ao seu mundo original. Mas a maioria foi contra levar André, ainda haviam cicatrizes mal resolvidas.

Antes que pudessem se preparar, o portal foi aberto. O Cavaleiro de Prata se revelou como um traidor e tentou passar a perna nos 32. Em meio ao seu desejo de rever sua mãe, ela deixou para trás o homem que amava. Uma escolha difícil que doeu muito a ela.

Mai uma vez Zita e André foram separados pelo destino.

Mas quando pisou em seu mundo, a felicidade de estar de volta foi imensa. Não demorou muito até que conseguisse encontrar sua família.

Também não demorou até que fosse encontrada pela Aliança internacional. Aquele pessoal estranho apenas chegou na casa dela e disse que precisava conversar sobre o que ela tinha passado.

Estavam preocupados com a saúde física e mental daqueles que ficaram oito anos presos em outro mundo. E ainda diziam querem estudar um pouco sobre as habilidades que eles haviam ganhado e trazido consigo.

Entorpecida pela emoção do retorno e toda aquela maravilha que era estar em um mundo pacífico sem a pressão de ter que, em teoria, proteger todo um povo, Zita confiou na AI, e quando percebeu o quão errada estava era tarde demais.

Ela não foi a única dentre os heróis a cair no fingimento daquelas pessoas falsas de falas mansas e sorrisos encenados. Apenas Felipe manteve um pé atrás, mas jogou o mesmo jogo dos executivos.

Suas famílias foram contaminadas com um veneno que não poderia ser retirado do organismo. A partir daí os 32 ficaram à mercê da Aliança Internacional. Alguns quiseram se rebelar, obviamente, outros não tiveram forças para recusar.

Passar tanto tempo longe de suas famílias e saberem que agora seus pais, irmãos e avós corriam risco de vida fez o espírito deles se quebrarem. Mas Felipe os reuniu e pediu que fingissem estar seguindo os planos da AI até que ele conseguisse encontrar uma forma de reverter a situação.

Foram quatro anos complicados.

Representar a aliança Internacional em eventos públicos, participara de testes físicos e análise do seu poder. Exibições de heroísmo, propostas de casamentos por homens influentes e muito ricos, ameaças à sua família e a falsa sensação de que ela era importante para o mundo.

Zita, assim como os outros, estava apenas sendo ocupada com um monte de bobagens inúteis para não ter tempo de se rebelar. Cada um foi mandado para um país diferente para se manterem o mais incomunicáveis possível.

Então veio a notícia que mudou tudo: O trigésimo terceiro dos heróis apareceu do nada, no início de uma noite qualquer, em uma cidade no meio do nada.

Aquele foi um acontecimento que a aliança internacional jamais previu, e foi o que pôs tudo a perder. Primeiro eles tentaram manter André em coma induzido por meses, mas alguns dos heróis começaram a questionar a necessidade da ação.

Sem condições de manter o rapaz desacordado e arriscar uma rebelião geral e divisão entre os heróis, a Aliança Internacional cedeu em acordar André, com a condição de que Felipe tomaria de conta dele.

Qual foi a surpresa de Zita quando ela recebeu a notícia de que a primeira coisa que André disse ao acordar foi que precisava reunir os heróis. Ela não pensou duas vezes, arrastou Leonardo e Lucas junto e voltou para seu país, contrariando todas as ordens da AI.

Reencontrar André depois de tanto tempo foi muito bom. Mas despertou em Zita uma quantidade de sentimentos ruins que estavam guardados desde seu retorno. As memórias de todos os problemas do passado, que ela havia esquecido, voltaram com intensidade.

Pior ainda foram as notícias que seu amado trouxe.

Tudo que fizeram foi jogado fora pelos governantes egocêntricos daquele mundo. Fome, crises financeiras, refugiados, aumento na criminalidade, e tantos outros problemas, e quase todos causados pelas ações imprudentes dos heróis.

Além de tudo isso, ele revelou ainda o segredo dos deuses: Eles eram mortais!

Segundo André, tudo não passou de um plano dos deuses com o intuito de escolher jovens para futuramente tomar seus corpos e serem livre mais uma vez. Um plano maligno que visava a imortalidade.

Esse foi um segredo que ele contou apenas a ela em um dos momentos em que os outros achavam que os dois estavam apenas se divertindo e matando a saudade.

Então foi bolado um plano de retorno.

O plano envolvia tirar todos que fossem das famílias dos 32 de cena, levando eles para um local seguro, e isso dependia de Felipe conseguir sintetizar um antídoto a tempo. Depois levar todos os heróis de volta para o outro mundo e assim tentarem resolver as coisas de uma vez por todas.

Eles achavam que tinham salvo aquele mundo.

Zita decidiu que não cometeria os mesmos erros da primeira vez. Agora ela tinha maturidade e conseguia compreender as consequências de cada decisão tomada. Ela ia acertar, custasse o que custasse, não haveria espaço para erros em seu plano.

Só não contava com Jonas perdendo a cabeça e invadindo a Divisão de Pesquisa e Desenvolvimento junto de Victoria para roubarem o portal da Aliança e irem salvar Esmeralda. Isso acabou sendo uma reviravolta problemática, principalmente por haver uma armadilha para roubar os poderes de Zita.

Perder seus poderes foi complicado. Primeiro ela sentiu como se tivesse perdido uma parte de si, como um membro, mas com o tempo foi percebendo que junto com seus poderes se foram as responsabilidades que ela tinha para com a Aliança.

Foi um período bom.

Ela pôde viver um tempo ao lado de André sem que ninguém os incomodassem, em um sítio da zona rural, criando galinhas e aproveitando os bons momentos que uma vida calma tem a oferecer.

E como sempre alguém tinha que acabar com a tranquilidade do casal. Os dois foram convocados para irem para o outro mundo representando a Aliança Internacional.

E assim eles retornaram.

O Outro Mundo estava praticamente de ponta-cabeça. Uma bagunça generalizada, com revoltas internas em cada reino, e uma crise generalizada em todo o continente. Exatamente como André havia descrito.

Finalmente Zita se deu conta de que tudo foi uma grande armadilha criada pelos deuses. Aqueles que diziam proteger o mundo eram apenas um bando de egoístas disputando para ver que era o mais egocêntrico.

André tinha um plano para mudar toda aquela realidade, mas havia um problema, a chave para libertar os deuses e tirar sua imortalidade envolvia tirar a vida de um dos heróis.

Então ela tomou uma decisão.

Confiando que seu amado tomaria a decisão certa, Zita escolheu morrer. Ela sabia que André ia perder a razão, mas acreditava que ele faria a escolha certa quando chegasse o momento.

Quando a oportunidade apareceu, ele não pensou duas vezes. Fingindo estar caminhando para uma armadilha, ela encenou e coreografou uma luta contra aquele que herdou seus poderes. 

Tirando o homem que tinha seu poder do caminho, Zita recebeu um tiro fatal. Ela poderia ter desviado, parado a bala ou até mesmo não ter aceitado o confronto, mas era necessário.

Tentar fugir foi o que causou tantos problemas no passado.

A última coisa que ela sentiu foi o beijo de André, aquele a quem ela tanto amava. Um segundo depois sentiu-se bem, como se tivesse sido abraçada por uma calmaria aconchegante.

— Olá. — Uma voz conhecida, porém etérea, a alcançou.

Zita se viu de pé sobre lava fundida. À sua frente estava uma pessoa coberta de chamas. Aquele era o deus do fogo, o mesmo que a escolheu doze anos antes.

— Eu estava te esperando.

— Eu queria mesmo falar com você… — Zita o encarou.



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