Volume 3
Capítulo 132: O Outro Lado da Fuga
Alice estava com a cabeça fervendo.
Tudo que tinha feito era mais uma de suas provocações costumeiras, e do nada aqueles tais heróis resolveram fugir. No começo ela achou que era um tipo de brincadeira ridícula, depois começou a pensar que tinha um pouco de verdade ali.
E quando deu por si, uma onda vinda de sabe deus onde estava engolindo o seu acampamento. É o que dá reunir um monte de jovens com poderes estranhos que passaram a adolescência em outro mundo.
Ela não queria ter que trazê-los, mas a diretoria da Aliança Internacional garantiu que eles estavam sob controle. A ideia de envenenar as famílias de cada um dos heróis foi bem elaborada, mas esqueceram que Felipe era meticuloso.
Quando os 32 voltaram, anos atrás, foi um evento de repercussão mundial. Toda a imprensa ao redor do planeta só falava disso, as pessoas ficaram felizes por terem super-heróis na terra, e os governos de cada país aplaudiu.
Mas nos bastidores as coisas foram diferentes.
Agências científicas lançavam suposições sobre as possíveis doenças que eles poderiam ter trazido de uma dimensão paralela. Os países mais desenvolvidos diziam que o Brasil tinha criado os heróis em laboratório para serem uma espécie de arma viva. E o governo brasileiro buscava uma forma de impedir que os heróis saíssem de controle.
A solução veio quando um grupo de empresários de todo o mundo sugeriu criar a Aliança Internacional, uma agência que não pertenceria a um país, mas a toda a humanidade. Eles solucionaram os três principais problemas de forma simples.
Primeiro, isolaram os heróis, explicando para eles que era para o bem de cada um. E isso foi fácil, eles estavam tão felizes de voltar, que acreditavam em qualquer coisa que dissessem.
Depois, eles foram separados uns dos outros, com a desculpa de que seus poderes eram importantes e tinham a responsabilidade de proteger seu mundo original. Como eles se diziam heróis, foi fácil também, a responsabilidade de servir e proteger os deixou vulneráveis.
Mas o difícil mesmo foi garantir que eles não teriam nenhuma síndrome de adolescente revoltado. Manter eles sob controle total, com garantias de que nunca se voltariam contra a Aliança Internacional.
Foi quando apareceu Johan Ritter, um gênio da manipulação.
Ele manipulou as pessoas na diretoria até que fosse escolhido como conselheiro chefe, acima de Getúlio, Sônia e Alice. Então ele apresentou o plano para manipular os heróis:
— Existe um veneno que não deixa rastros. — Ele havia dito — Mas se a pessoa envenenada não tomar o antídoto dentro de intervalos regulares, morre como se fosse de causas naturais.
Após as famílias serem envenenadas em uma reunião para os heróis e seus familiares, a AI contou aos 32 o que tinham feito, e que a partir daquele momento teriam que obedecer a cada ordem dos conselheiros.
A maioria quis discutir. Alguns poucos ficaram calados. E Jonas até tentou agredir um sargento, mas desistiu quando o militar apontou uma arma para a cabeça da irmã mais nova dele, demonstrando que não estava ali para brincadeira.
Talvez fosse por isso que Jonas o matou, anos depois, quando André já tinha voltado.
Ah… André! O cara que fez tudo dar errado.
A forma de fazer as coisas estava indo bem até demais até ele aparecer do nada. Abrir um portal no meio da praça de uma cidade foi um espetáculo inesquecível para os cidadão dali. Mas os problemas que ele causou depois, foram os piores.
A Aliança já desconfiava que Felipe estava agindo em silêncio, mas com o aparecimento do mal falado André fez tudo ser jogado de uma vez no ventilador. Mesmo que a AI tenha o mantido em coma induzido por um tempo, mas a maioria dos heróis começou a fazer perguntas sobre ele.
Não houve jeito que não fosse acordá-lo. O maior erro foi deixar ele falar com Felipe, as duas mentes traiçoeiras tramaram um plano diabólico e colocaram quase tudo a perder. A Aliança Internacional se viu obrigada a acelerar seus planos. Pessoas morreram, dois equipamentos para abrir portais foram destruídos, e a maioria dos heróis saíram do controle da AI.
A para jogar a pá de cal no túmulo das esperanças de Alice, Os seus superiores haviam mandado informações de que Felipe havia de alguma forma encontrado um antídoto definitivo para as famílias de cada um dos heróis, e agora elas estavam desaparecidas, assim como os funcionários da Divisão de Inteligência e Segurança Mundial.
Mesmo tanto tempo depois de sumir, Felipe ainda era irritante.
Agora, Alice estava sentada sobre uma das árvores que foram arrancadas pela onda gigante criada por Mirian. Sua armadura estava ensopada por dentro, e era muito desconfortável, mas um dos soldados estava fazendo o relatório da fuga dos heróis, e ela tinha que ouvir.
Se Ritter estivesse ali, com certeza estaria decepcionado e brigando com ela.
Tudo que Alice queria era apenas descobrir alguma pista do seu pai. Saber se ele estava ou não naquele mundo. E também matar Sônia, a mulher cuja ganância fez o pai de Alice ser arrastado para dentro de um portal dimensional.
Essa era a sua motivação de vida.
Tudo que ele fez foi salvar a vida daquele moleque catarrento, o filho mais novo de Sônia, era André o nome dele. Talvez o nome fosse coincidência, mas era um dos motivos para ela odiar ainda a mais o último dos heróis a retornar.
Seu pai salvou a vida do garoto, foi sugado para dentro do portal, e o pirralho morreu! Se pai jogou sua vida fora a toa. Isso era o que mais a irritava.
Será que ela também estava jogando sua vida fora?
Alice viu que o soldado já tinha terminado o relatório e o dispensou. Então foi procurar o que sobrou de sua barraca, para ver se tinha alguma coisa seca que ela pudesse vestir.
Olhando para todos os lados, ela não era capaz de reconhecer onde estavam cada barraca anteriormente. Alice suspirou e disse:
— Comando 9-9. Abrir!
A armadura se desfez em pequenas escamas, que foram se juntando nas costas de Alice, até formar uma mochila metálica. Ela tirou a mochila e jogou no chão, era mais confortável assim, descalça e com o corpo livre. Aquelas histórias de cavaleiros medievais que vestiam armaduras pareciam ser muito mentirosas.
Ela sempre sonhou em ter uma daquelas peças metálicas desde que seu pai lhe contava as histórias de seus antepassados. Seu ta-ta-ta-ta-ta-taravô havia sido um cavaleiro muito importante, segundo ele, mas agora ela começava achar que era tudo uma fantasia idiota.
Estava bem melhor só de shorts e camiseta. Talvez pôr um sutiã fosse melhor, assim os caras ao seu redor parariam de encarar seu corpo. É o que dá, trazer apenas homens para um lugar isolado sob o comado de uma mulher linda como ela.
O sol estava nascendo, isso era bom. Ela achou sua barraca graças à luz natural do dia. Mas todas as roupas estavam arruinadas. Alice bufou, em seguida voltou até onde havia deixado a armadura, tirou o short e a camiseta, depois vestiu a armadura mais uma vez.
Então ela ouviu uma voz grave, vindo do meio dos destroços. Era um comunicador de longa distância que havia sobrevivido.
<O que acontece se eu apertar nesse botão?>
<Senhor Long-Hua, é melhor não tocar nas coisas dessas pessoas> Disse outra voz.