Volume 3

Capítulo 131: Divisão

— Acho que pode não ser uma boa ideia! — Gustavo disse, se afastando de Hugo.

— Tá com medo? — Hugo perguntou — Depois de todas as merdas que cada uma passou, vamos ter medo disso?

— É justamente pelas merdas que passamos que estou com medo! — Gustavo retrucou.

— Então fica aí como um moleque medroso, eu vou dar no pé! Nada mais me prende, minha família está segura graças ao plano do Felipe, e o Lucas está por aí. Preciso achá-lo.

— Então essa revolta toda é só porque foi separado do namoradinho? — Valquíria perguntou.

— Não, não é! — Hugo se voltou à garota, que cobriu toda sua pele com metal — E não precisa ter medo, não me importo que façam piadinhas…

Antes de terminar de falar, Hugo sentiu uma mão tocar seu ombro. E quando se virou, uma luz forte o cegou.

— Desgraçado! — Ele disse estendendo a mão direita aberta, com a palma virada para baixo.

No mesmo instante, tudo veio abaixo. A tenda, as pessoas, a mochila que ele segurava. Apenas seu corpo era imune à gravidade intensa que ele criava, mas foi algo que demorou a controlar.

Demorou um pouco até que seus olhos voltassem ao normal. Então Hugo viu Gustavo, Valquíria e Fabiane caídos perto dele. A gravidade foi dispersada, e ele pulou para longe evitando olhar na direção de Gustavo.

Então tudo ficou escuro.

Meio óbvio, quem pode controlar a luz, como é o poder de Gustavo, pode fazer ela deixar de existir em um determinado local. Mas Hugo não deixou se assustar com tão pouco, e lançou um raio de gravidade inversa ao redor de si. Se alguém tentasse se aproximar dele, seria arremessado para cima a uma velocidade contrária com o dobro da velocidade da gravidade natural, era muito assustador.

Mas ninguém veio. Em vez disso ele voltou a ver, e estava cercado por soldados da Aliança. Mas esses eram os de menos, o que realmente preocupava Hugo era precisar enfrentar outros heróis.

— Eu já disse que ninguém vai sair daqui sem minha ordem! — Era a voz de Alice.

Hugo estava ficando enjoado da voz de gazela da loira de armadura. E aquele sotaque meio francês forçado fazia ele sentir vontade de dar um soco no meio da cara dela. Mas ele respirou fundo e lembrou a si mesmo qual era a ideia. Fugir dali!

Então veio um tremor de terra.

Era Raíra fazendo sua parte. E Helder parecia estar fazendo algo também, mas Hugo não entendia. Parecia um origami… Um avião de papel… ah, não!

De tudo que poderiam fazer para fugir, um avião de papel era o mais idiota, na opinião de Hugo. Mas para a surpresa dele, Helder não subiu na coisa, apenas o atirou no ar.

No meio de uma fuga, com vários soldados armados de fuzis, heróis contra heróis, e o cara estava brincando de aviãozinho de papel… Talvez o soco em Alice devesse ficar para depois, Helder viria primeiro na lista dos esmurrados.

Uma pequena explosão aconteceu sobre suas cabeças, não foi muito, mas chamou atenção o suficiente. E um drone em pedaços caiu, junto com um avião de papel pegando fogo.

— Então era isso?! — Hugo finalmente entendeu.

Com a rede de drones seria fácil identificar a rota de fuga que eles tomassem. Incrível que de todos ali, justamente Helder tenha pensado nisso. Mas parece que ele tinha mais um plano, e esse surpreendeu mais ainda o pobre Hugo.

Novamente, Helder tirou um folha de papel gigante do nada. Um momento não havia nada, e depois tinha um papel de uns quatro metros quadrados ou mais na mão dele. Magia é claro, mas pereceu mais um truque de circo. E ficou mais bizarro ainda quando o papel se dobrou no ar e formou um sapo-origami.

Como se não bastasse, Helder pulou no sapo de papel, e o sapo saltou com Helder em suas costas. Aquele era o poder mais sem noção que Hugo já tinha visto. Mas não há nada ruim que não possa piorar, e o herói e o sapo de papel estavam indo em direção a Hugo, saltando e desviando dos soldados da AI.

Hugo deixou seus ombros caírem, ele estava entendendo as intenções de Helder. A barreira de gravidade invertida foi desfeita a tempo da montaria de papel saltar por cima dela sem ser afetada. E Hugo, sem muita vontade, lançou a gravidade invertida apenas no seu corpo, se arremessando em direção ao sapo e Helder que o esperava de mão aberta.

Hugo ficava imaginando como seria que as pessoas estavam vendo dois homens em um sapo de papel saltando sob o luar… Que droga, em meio a toda bagunça havia anoitecido e eles não conseguiram fugir.

E os outros estavam ficando para trás… Ah, não, peraí. Uma onda gigante vinha atrás deles, era coisa de Mirian, ela amava fazer coisas exageradas para dizer que é tão forte quanto Elizabeth. E no meio da onda havia uma espécie de iceberg em formato de barco, coisa de Fabiane com toda certeza, ela não podia necessariamente criar gelo, mas poderia congelar qualquer coisa.

Os dois que cavalgavam o sapo seriam engolidos pela onda em segundos, mas o sapo saltou mais alto que a onda, o papel se desdobrou sob os pés deles, e novamente dobrou-se, formando um avião. Hugo se sentia cada vez mais ridículo ali em cima.

Lá de cima, Hugo conseguiu ver o estrago que Mirian causou no acampamento da AI, não foi perda total, mas eles teriam dificuldade em se reorganizar. E mais ao lado, um riacho quase vazio, de onde Mirian tirou tanta água. Bem pensado.

A onda serviu para levá-los longe. Até Augusto e Valquíria tinham ido, presos no gelo de Fabi. Helder pousou o avião de papel, e Hugo foi verificar se os outros estavam bem. Ele achava o poder de Helder cada vez mais estranho, mas preferiu ficar calado.

Mirian já havia espalhado a água, e Fabiane desfez o gelo. Então não havia traços que mostrassem a sua fuga, exceto a trilha de árvores destruídas do acampamento até ali.

— Vocês são loucos?! — Gustavo disse, bravo — Acham mesmo que é fácil assim fugir?

— Eu acho! — Hugo respondeu.

— Também acho… — Helder levantou a mão.

Gustavo esfregou a testa em desapontamento. Valquíria e Fabiane tentaram o consolar. Ao mesmo tempo todos reagiram como se tivessem sendo observados, uma sensação inquietante, como se um par de olhos ilusórios estivesse acima de suas cabeças.

— Não fomos os únicos a fugir. — Luzia comentou — Os outros aproveitaram a bagunça e foram na direção oposta.

— Muito espertos! — Mirian reclamou — Usaram o nosso esforço como distração para eles próprios fugirem na surdina…

Era a primeira vez que Hugo via Luzia usar seus poderes, mas ele lembrava que ela podia ver mais do que os olhos humanos eram capazes. Apesar da sensação de estar praticamente nu diante daquele poder, ele achou útil.

— E tem alguns soldados vindo para cá!

Alguns tiros ecoaram ao longe. Snipers, Hugo sabia, não era seguro ficar ali. Se Valquíria não estivesse usando sua pele de metal, junto com Catarina, que tinha pele impenetrável, para fazer uma barreira de proteção, teria sido uma tragédia. Mas foi muito rápido, e agora haviam duas pessoas feridas, e ele só tinha piscado.

Gustavo estava caído, arfando de dor, e Mirian estava sendo socorrida por Fabiane. Usaram balas de verdade, não tranquilizantes, isso era um recado. A Aliança estava dizendo que os heróis eram descartáveis. Hugo já esperava por isso, mas Gustavo e Mirian, os dois feridos, pareciam estar surpresos.

— Devíamos ter trazido a Mari! — Catarina disse — Numa horas dessas é bom ter quem possa curar a gente, né?

— Não fala merda só porque é a prova de balas… — Gustavo rosnou — A Mari não quis vir! Nem eu queria, me trouxeram à força e agora peguei uma bala na barriga… porra isso dói.

O ferimento de Gustavo era no abdômen, e estava sangrando muito. Já o de Mirian era no ombro, foi uma das balas que passou pela defesa formada por Catarina e valquíria.

Raíra levantou um muro de terra em volta deles, e por enquanto estavam seguros. Mas Luzia avisou que havia um grupo de soldados se aproximando, e eles tinham granadas.

— Precisamos nos separar! — Hugo sugeriu — Fica mais difícil de sermos rastreados.

— Não enquanto tiverem os chips de rastreamento… — Gustavo disse entredentes, enquanto Fabiane congelava o sangue que fluía do ferimento para estancar.

— Chips? — Helder pareceu não saber do que se tratava.

— já se perguntaram o motivo para termos recebido essas roupas? — Gustavo tirou a jaqueta com o logo tipo da AI, em seguida pegou um canivete no bolso da calça e começo a cortar a parte de dentro do colarinho — Seria muito difícil colocarem um rastreador nas nossas roupas, então nos deram uma roupa com rastreador…

— E com a rede de drones servindo de satélites, — Fabiane completou— não temos onde nos esconder.

— Então tudo que precisamos é destruir esses chips! — Hugo deu de ombros, enquanto tirava sua jaqueta.

Mas para a surpresa deles, Helder apresentou uma ideia melhor:

— E se não destruirmos? Vamos usar a arma deles para facilitar a nossa fuga. — Ele disse enquanto fazia surgirem origamis em forma de borboletas — Com esses chips nas borboletas origamis, vai demorar mais até sermos achados.

Uma ideia genial, principalmente vindo da pessoa mais estranha no grupo.



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