Volume 3

Capítulo 130: Quando a Areia Cai

— O que foi isso!? — Nilo disse, finalmente saindo do transe.

Os inimigos também estavam assustados, e em parte, soterrados.

Dentre os quatro que chegaram na tempestade de areia, um tentou andar a caiu. Talvez eles estivessem mesmo tontos após viajarem dentro de um tornado de areia. Outro tentou ajudar e quase caiu, a cena era bizarra e hilária.

Adênia ajudou os dois a se equilibrarem. Nilo nem viu quando ela havia chegado lá, então correu para ajudar também. O herói Leonardo o acompanhou, e também outra heroína, Jaiane, se Nilo lembrava corretamente.

A garota fantasma ficou transparente a flutuou mais rápido do que Nilo e Leonardo corriam, chegando ao local pouco depois de Adênia. Quando os dois rapazes chegaram, Jaiane conversava com Amanda:

— O que foi isso? — Ela fez a mesma pergunta que Nilo, momentos atrás.

— Aaaaah… — Amanda fez um gesto para que Jaiane esperasse, e depois vomitou — Ufa, eu tava precisando disso…

Outras pessoas chegaram, e logo o grupo estava cercado. Enquanto tentava entender o que cada um deles falava, Nilo reconheceu os quatro. Além de Amanda, havia Gledson, o herói das sombras; Arlene, a mãe dos golens; e Bruno, o caminho da destruição.

Não eram as pessoas preferidas de Nilo, principalmente pelos problemas que ele havia enfrentado junto a seu irmão, Deco. Pelo menos Amanda era a menos perigosa do grupo… Talvez fosse o momento para uma nova ordenação de periculosidade dos heróis.

Se Amanda conseguiu mesmo criar uma tempestade de areia…

—… e do nada eu consegui sentir todo o deserto, saca? — A fala de Amanda quebrou a linha de raciocínio de Nilo — Era como se cada grão de areia ali falasse comigo, foi muito foda!

— Conta como você fez a tempestade de areia… — Gledson sugeriu.

— Água primeiro… — Amanda gesticulou de forma estranha.

Alguém entregou um cantil a ela, e após esvaziar o recipiente, Amanda continuou:

— Como eu tava dizendo, eu descobri que na verdade meu poder não é vidro, é areia! Eu meio que controlo e sinto o deserto todo, não necessariamente nessa ordem. Então tinha uma parada estranha pra porra no meio da areia, era como se ela me quisesse. Aí eu pensei: Fudeu! Mas não, não… era só mais areia! Mas essa areia era diferente!

— Era vidro em pó! — Arlene completou.

— Puta que pariu! — Amanda resmungou — Deixa eu terminar…

— Vai, fala! — Jaiane disse.

Amanda estava agitada. 

— Tou falando! Bagulho é loko menó, uma hora eu tava tipo, sou uma heróina e talz, aí senti que podia sentir o deserto inteiro, saca? Foi do caralho…

— Sentiu que podia sentir… — Jaiane comentou.

— Sem contar que ela nunca tinha usado tantas gírias em uma única frase. — Raniely assentiu.

— Assifudê as duas! — Amanda revirou os olhos — As gírias eu peguei do Gledson, tentem ficar um dia inteiro com ele e não sair falando estranho. E sim, eu senti que podia… sentir… é ficou estranho mesmo.

Os outros concordaram.

— Era a porra de um artefato divino, pronto, falei!

Então houve um momento de silêncio, como se todos tivessem perdido a capacidade de produzir sons. Apenas o uivar do vento gelado era ouvido, além dos barulhos dos soldados do Sul, que tentavam desenterrar suas tendas e equipamentos.

— Então o deserto te mostrou pó de vidro? — Leonardo estreitou os olhos — Pó de vidro, no meio de um deserto maior que o Reino de Cristal inteiro, e você achou? Misturado na areia? E era um artefato divino?

— De rocha! — Concordou Gledson.

— É pó de vidro ou de rocha? — Leonardo ficou ainda mais confuso.

— “De rocha” significa algo como “pode crer”! — Amanda explicou — Agora não seja cuzão e deixa eu terminar.

— Falei que ela passou tempo demais com o Gledson. — Raniely comentou.

— Então foi você quem libertou a magia perdida? — Lucas perguntou a uma distância, como se não quisesse ficar perto dos demais.

Amanda olhou assustada para o herói do vento, ela fez várias expressões como se procurasse a forma certa de responder àquela pergunta.

— Sim, foi ela. — Bruno respondeu — Algum problema com isso?

— Não, apenas perguntei…

Arlene foi até onde Lucas estava e falou com ele separados do resto. Eles serviram juntos no Reino de Bronze, era natural que tivessem uma proximidade. Ao final, Nilo viu quando os dois se abraçaram e Lucas afagou os cabelos da garota.

Então Lucas sinalizou para Leonardo, que foi até onde Lucas e Arlene estavam. Os três conversaram por mais uns momentos, e Nilo teve que segurar a curiosidade. Mas as expressões dos três não eram boas.

Que informações Arlene havia trazido? Problemas que encontraram no deserto? Problemas do mundo dos heróis? Isso afetaria as Pessoas Livres de alguma forma? Nilo começou a se preocupar.

— É bom se preocupar mesmo. — Gledson disse, de braços cruzados ao lado de Nilo — Long-Hua está vindo pela retaguarda, e tem um exército furioso e ganancioso vindo do nosso mundo.

Nilo não entendia como Gledson tinha chegado ali sem que ele percebesse, e principalmente como ele parecia adivinhar seus pensamentos. Mas se o heróis das sombras dizia que devia se preocupar, a preocupação vinha em dobro. E para piorar, ele estava falando daquele jeito sombrio, e não do estranho e impossível de entender de sempre.

Nilo olhou mais uma vez para os três heróis que assentiam uns para os outros como se tivessem chegado a um acordo. E quando se voltou para Gledson, na intenção de pedir mais detalhes, ele havia sumido. Típico dele, mas Nilo nunca se acostumou com aquilo.

Enquanto Nilo reorganizava os pensamentos, a pequena multidão foi dispersando. E quando ele chegou de volta ao acampamento, ouviu o estrondo indicativo de que Josiley havia retornado. E lá estava ele, com Iffy, e a garota estava triste.

Pelo visto haviam mais notícias ruins chegando.

— O André está vindo! — Anunciou Josiley.

Ok. Isso era uma boa notícia.

— E a Zita Também!

Ela quase matou Deco e algumas das pessoas livres, mas depois se redimiu, então podia ser algo bom.

— E a Anne também!

Isso não era bom, nenhum pouco.

— E a mãe do André vem com eles!

Miraa não estava desaparecida? Ela havia retornado em segredo? Ou será que as notícias do desaparecimento dela eram falsas?

— Digo, a mãe biológica, não a Senhora do Leste… — Josiley se corrigiu.

Nilo não sabia o que era uma mãe biológica, mas concluiu que deveria ser a mãe verdadeira de Deco. Aquela que deu a ele o estranho nome de “André”.

Um segundo depois Josiley desapareceu. Como só podia carregar uma pessoa por vez enquanto mantinha sua velocidade máxima, ele teria que dar várias viagens para trazer todos, ou eles levariam uns três dias para chegarem.

. . .

Alguns metros dali estava Esmeralda. A rainha de Cristal teve que suprimir toda a sua curiosidade e dependeu do que suas guardas lhe informavam sobre a tempestade e da chegada dos quatro heróis.

Agora sua enorme tenda estava arrodeada de areia, mas ela estava limpa pelo menos. Diferente de Rubi, que estava balançando o fundo da calça para tentar tirar a areia de dentro da roupa. A guarda estava de vigia fora da tenda quando a tempestade de areia cobriu tudo.

Esmeralda estava se divertindo com aquilo. Não havia muito o que fazer no acampamento, ou melhor, havia muita coisa, mas ninguém deixava que a rainha fizesse esforço algum. E Jonas estava com as outras lideranças. Era tedioso.

A dificuldade de Rubi em se livrar dos teimosos grãos de areia foi a única coisa naquele dia inteiro que a fez tirar aquela careta emburrada. Mas a chegada de Turmalina e da pequena Safira, fez Esmeralda ter que desviar o olhar da cena hilária.

— Gledson está aqui para vê-la! — As duas falaram ao mesmo tempo.

Esmeralda sorriu perante a atitude quase infantil das duas mais novas das sete, e pediu que deixassem ele entrar. Ela nunca teve a chance de falara com ele, e agora o herói que trabalhos diretamente para seu pai vinha livremente para vê-la. Uma pitada de ansiedade surgiu em seu coração.

Rubi parou de sacudir a perna da calça e abotoou de novo a sua roupa. Ágata e Topázio se aproximaram de onde Esmeralda estava, em uma formação defensiva. Elas não sabiam quais as intenções de Gledson, e por isso mesmo não era seguro baixar a guarda.

Gledson entrou com aquela expressão boba de sempre. Mas Esmeralda sabia que era uma fachada, dentre os 33, apenas Gledson e, talvez, Helder, poderiam se comparar a Deco do Leste em termo de periculosidade. Uma pena que os outros não eram capazes de reconhecer isso.

— Olá Princesa Esmeralda, quanto tempo. — Gledson disse calmamente — Vim apenas para cumprimenta-la, em nome de tudo que aprendi e pelo tempo que fui hóspede de sua família!

— Agora é Rainha Esmeralda! — Rubi disse enquanto terminava de afivelar o cinto.

— Então… — Gledson apoiou um joelho contra o chão e abaixou a cabeça — Eu saúdo a soberana do estremo oeste, Esmeralda, a Rainha de Cristal.

— Isso aí é novo pra mim… — Ágata comentou.

— Você nunca foi de se ajoelhar à Esmeralda! — Topázio completou.

— Eu sirvo unicamente a quem protege o reino, antes servi ao seu pai, hoje sirvo à Sua Majestade.

Esmeralda se recuperou do choque, e olhando para suas guardas, comentou:

— Bem que vocês poderiam me cumprimentar assim. Acho que vou decretar isso!

— Eu vou preferir a forca! — Rubi fez uma careta.

— Isso seria engraçado, tentem ao menos uma vez! — Esmeralda continuou brincando com suas guardas.

Então elas perceberam que Gledson já não estava mais lá, ele sumiu da frente delas como se nunca tivesse entrado ali.

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