Volume 3

Capítulo 119: Fuga dos Heróis

Aproveitando que os dois líderes estavam se conhecendo, Bruno usou seu poder e criou um caminho de decomposição de argila seguindo a direção que acreditava ser a correta. As rochas que ficavam serviam para Arlene construir golens que eram ordenados a fechar a rota de fuga atrás dos dois.

Usando as raízes das árvores como parâmetro de profundidade, e também de direção, os dois fugiram fazendo o máximo de silêncio possível. Eles temiam ser capturados por Long-Hua ou Getúlio, não importava o vencedor do confronto, ainda seria um incômodo.

O medo maior era de que os dois resolvessem fazer uma aliança. Aí sim os heróis estavam ferrados de vez, um louco e um gênio unidos, com magia e tecnologia de ponta à disposição… Não havia possibilidade de final feliz.

Bruno criou ramificações no túnel de fuga para garantir que se alguém tentasse segui-los, teria um atraso. Mas o foco principal era fugir em linha reta, e sempre pelo subsolo. Haviam pessoas capazes de identificar movimentações debaixo da terra, mas haviam muitas mais capazes de achá-los acima.

Após fugirem o mais ráipdo que conseguiram por quase uma hora, Bruno criou um espaço maior para descansarem. Arlene criou dois golens e os fez sustentarem a parte de cima do espaço para evitar desabamentos.

— Nunca tinha percebido que nossas habilidades são complementares. — Arlene comentou.

— Não são, apenas somos capazes de nos adaptar à situação. — Bruno respondeu ofegante.

— E nunca havíamos trabalhado em cooperação, você era do União Maior do Oeste, eu do Reino de Bronze. — Ela adicionou — Mesmo assim não acho que minhas habilidades são compatíveis com as do Lucas e do Hugo.

— Então você se sentia isolada dos dois? — Bruno encostou na parede argilosa e fechou os olhos por alguns segundos.

— E quem não se sentiria isolado?

— Ouvi histórias semelhantes sobre os reinos de Cristal e de Aço, sempre havia alguém deslocado.

— No Reino de Aço, com certeza foi a Amanda. — Arlene riu como se sentisse pena da companheira — Ela não teve oportunidade de se desenvolver, e acabou sendo considerada inútil.

— Não acho o poder dele inútil, apenas mal aproveitado.

Arlene assentiu com a cabeça, concordando.

— Nenhum poder é inútil. — Bruno continuou — Vê o Helder? O cara manipula papel, e por causa disso foi mandado para o Reino do Norte. Ele criou uma fábrica que produz papel em larga escala e se tornou o mais rico dos 32 heróis em menos de quatro anos.

— Enquanto isso nós conseguimos apenas cicatrizes.

Os dois riram do fato como se fosse uma piada. Em seguida continuaram fugindo pelo túnel de decomposição, seguindo o mesmo esquema do início. Até que perceberam que as raízes estavam cada vez mais finas e o solo mais arenoso. Não demorou muito até que não houvessem mais raízes, e o solo ficou cada vez mais insustentável.

— Voltamos ao deserto! — Bruno sorriu e exclamou.

— Ótimo, agora vamos sair desse buraco antes que eu comece a me identificar como um tatu. — Arlene empurrou ele.

Bruno lançou um caminho de decomposição de sólidos, isso aliminaria qualquer material sólido nequela direção. Um buraco se formou sobre suas cabeças revelando o céu noturno, a areia começou a descer e os dois ficaram soterrados até a cintura.

— Conseguiu não nos enterrar totalmente. — Arlene disse tentando sair da areia — Um ponto pro carequinha.

— Transforma essa ruma toda de areia aqui em um golem gigante e tira a gente daqui então. — Ele retrucou.

— Você sabe que não é assim que o meu poder funciona. — Arlene já havia saído da areia e ajudava a puxar Bruno — Quanto mais “pedaços” eu uso para criar um golem, mais energia gasto, logo, eu estou cansada demais para criar qualquer coisa com areia.

Arlene deu dois socos de leve nas costas de Bruno, dizendo:

— Agora vamos cair fora daqui.

Mas ele não disse nada, apenas apontou para o centro do deserto onde algo brilhava como um cristal gigante. Arlene não disse mais nada, e os dois foram em silêncio na direção do brilho misterioso.

Para a surpresa dos dois, era uma espécie de construção cheia de torres, que tomava uma área incalculável. Parecia ignorar totalmente a infinidade de areia em volta.

— Aquilo é um castelo de vidro ou estou vendo uma miragem? — Bruno perguntou enquanto limpava a areia de suas roupas.

— Espero que não saia uma loira cantando “livre estou”… — Arlene comentou em meio a uma careta.

Bruno riu da piada e continuou seguindo em direção ao castelo misterioso.

Somente quando chegaram à escadaria os dois perceberam que havia alguém de pé na porta. E essa passoa era Amanda.

— Não fode. — A heroína de vidro diz com uma voz rouca e cansada — De todo mundo que poderia aparecer, foram logo vocês?

— A gente não se separou, tipo, uns quatro dias atrás? — Bruno olhou para Amanda e teve certeza que era ela, mesmo que a única luz fosse a da lua, ela era refletida por todo aquele vidro.

— Muita coisa aconteceu… — Amanda coçou a cabeça — Eu não sou boa em me orientar, então criei um tipo de farol para refletir a luz da lua e fazer alguém vir aqui me ajudar…

— Sua voz está estranha. — Arlene comentou.

— Eu fui burra… — Ela fez uma careta autodepreciativa — Eu enterrei eles sem pegar agua nem comida…

— Eles quem? — Bruno deu um passo para trás, desconfiado.

— Longa historia… — Amanda desviou o olhar.

— Também não temos água nem comida. — Arlene explicou.

— Estamos fugindo de Long-Hua e Getúlio. — Bruno completou.

Os três ficaram em silêncio mais uns segundos.

— Se pelo menos o retardadado do Gledson não tivesse dormindo…

— Onde ele está? — Bruno perguntou.

— No carro…

— Carro? Como assim “no carro”?

Amanda não respondeu, apenas apontou para a garganta e fez sinal que estava no limite. Arlene concordou que não era fácil falar com a garganta seca, e novamente o três fizeram silêncio.

E o silêncio perdurou. Na verdade, nenhum dos três sabia como sair do deserto. Andar em uma direção aleatória poderia significar ir para o extremo oposto da direção correta, onde, depois do deserto, havia apenas mar. E a água salgada não ia servir para matar a sede deles.

Os três se revezaram em suspiros desiludidos por mais alguns minutos. Até que o frio da noite mostrou o motivo de chamarem aquele lugar de deserto congelante. Mesmo que fosse muito frio durante o dia, a noite era aterrorizante.

O vento frio trazido desde a costa carregava a umidade do oceano até o centro do continente. E a influência dos efeitos oceânicos esfriava as correntes de ar, podendo congelar uma pessoa se esta não estivesse bem preparada para uma noite no deserto.

Entre um suspiro e outro começava e ser ouvido um leve bater de dentes, era o frio aumentando. Amanda sinalizou para que eles entrassem na torre de vidro. Mas antes que pudessem se mover, Bruno sinalizou em outra direção, onde uma sombra se movia por entre as dunas de areia.

— Gledson… — Amanda disse emocionada, e quase sem voz.

Em mais alguns minutos o herói das sombras chegou à escadaria do castelo de vidro.

— Que porra é essa? — Gledson gritou.

— Água… — Amanda implorou.

A sombra atrás de Gledson tremeu e um cantiu saiu dela. Gledson jogou para Amanda, que tomou quase tudo antes de passar para Arlene. Gledson ficou de braços cruzados esperando, mas sua expressão não era de felicidade.

— Qual é a da cara emburrada? — Amanda finalmente perguntou.

— Sério que está perguntando isso? — Gledson disse entredentes — Você sabe que o meu poder me permite viajar pelas sombras, e mesmo assim cria um lustre gigante refletindo a luz da lua em todas as direções. Eu tive que vir a pé até aqui, enquanto dava para ter tirado nós quatro em poucos minutos!

Os outros três se olharam, e disseram juntos:

— Oooh, faz sentido.

Gledson apenas bateu na testa.

— Então é só eu desmontar o castelo e você tira a gente daqui, certo? — Amanda sugeriu.

— Agora é tarde, estou cansado demais. — Gledson passou pelos três e foi para dentro da primeira torre — Preciso dormir.

— Porra, de novo? — Amanda suspirou e entrou atrás dele — Pelo menos dessa vez acho que não haverão batedores do Sul.

Bruno e Arlene se entreolharam, e como não havia o que ser feito, entraram também. Os dois estavam muito cansados de fugir, e precisavam de uma boa noite de sono.



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