Volume 2

Capítulo 85: Frente Unida

Em uma pedreira localizada entre a extremidade sul da Grande Falha e o Deserto Congelante estava localizada a base secreta do grupo atualmente liderado por Jonas. A geografia irregular, junto à grande quantidade de pedregulhos e cavernas desconhecidas tornavam o lugar bastante propício para um esconderijo. Não era o tipo de ambiente que Jonas estava acostumado, mas as Pessoas Livres do Leste já haviam passado por situações piores.

As Pessoas Livres do Leste eram um grupo de órfãos e crianças de rua resgatados e treinados por André, guerreiros espcializados em diversas áreas, desde espionagem de alto nível até assassinatos silenciosos. Não havia lugar impenetrável ou informação secreta o suficiente para aquelas pessoas selvagens.

Cada um ali tinha sua própria habilidade, e até Ametista, uma das guardas da princesa Esmeralda, havia se juntado ao grupo novamente. Em parte se devia ao fato de que Victoria estava no grupo atualmente e as duas eram muito unidas, mas Jonas desconfiava que a garota de cabelos e olhos lilases retornou ao grupo para garantir a segurança de seus antigos irmãos.

Mas quem estava precisando de segurança? Jonas via cada um ali como ameaça em potencial, depois de tanto tempo em lados opostos não seria de admirar se todos ainda desejassem ver o heroi guardião morto. Mas ele seguia em frente, não demonstrar medo foi uma das primeiras coisas que aprendeu nesse mundo. Embora não tenham havido muitas oportunidades de por em prática.

Como se não fosse suficiente os seguidores de André lhe causando arrepios e tirando o seu sono, agora Jonas tinha mais pessoas para torturá-lo com as lembranças de suas escolhas erradas.

Leonardo, Van-Nee e Andréia haviam chegado pela manhã, e agora estavam contando aos outros membros do grupos as suas aventuras durante a viagem até o local de encontro. Por mais que Van-Nee tenha reagido normalmente, e Léo tenha fingido que nada aconteceu, a garotinha assustadora o olhava como se quisesse matá-lo. E o pior, ela carregava algo que parecia ser um orbe, se fosse um verdadeiro era melhor manter distância, alguns quilômetros deveriam ser suficientes.

Mas havia outro item que chamava mais atenção ainda, como se estivesse atraindo os olhos do herói. Preso à mão esquerda da ex-sacerdotisa e tomando quase metade do seu braço estava uma espécie de luva metálica, com articulações no pulso e nas juntas dos dedos.

— Um item divino!? — Jonas exclamou, chamando a atenção de todos ao redor para a manopla presa à mão esquerda de Van-Nee — Como coseguiu algo tão raro?

— Minha família escondeu a localização de três deles por muito tempo. — Explicou a ex-sacerdotisa.

— Então você sabe onde os outros dois estão? — Os olhos de Jonas brilharam.

— Sim, os anciões diziam que mantê-los escondidos era importante para o equilíbrio dos reinos, mas eu nunca entendi bem. Alguns eram contra manter o segredo, então quando o Reino de Prata encontrou a Semente da Mãe Terra e manteve em segredo, finalmente compreendemos a importância que um item desses tem.

— Então os filhos do Leste roubaram a semente e começaram uma guerra — Jonas deixou escapar.

— Mas eles não “simplesmente” roubaram. — Van-Nee respondeu prontamente — Não esqueça que quando a guerra começou, a semente já tinha sido entregue ao Templo de floresta.

— Me pergunto qual foi o objetivo de Miraa em fazer tudo aquilo — Leonardo entrou a conversa — Digo, uma guerra de proporções continentais, tantas mortes, e no final todos saíram perdendo.

— Uma guerra sem objetivos. — Completou Jonas.

— O mais estranho é que depois que tudo acabou, ela simplesmente desapareceu. — Josiley comentou.

— Muito estranho mesmo. — Van-Nee concordou.

— E se ela tiver conseguido alcançar o seu objetivo próprio? — Sugeriu Leonardo — Talvez não sejamos capazes de reconhecer por não saber qual era esse objetivo.

— Então… — Josiley levantou a mão, chamando atenção — Falando em objetivos, qual é mesmo o nosso objetivo em começar uma nova guerra nesse mundo que não se recuperou da primeira ainda?

— Ordem! — Respondeu Jonas — Precisamos restabelecer a ordem e o equilíbrio entre os sete reinos.

— E a forma mais eficaz de fazer isso é com uma guerra? — Josiley questionou.

— Como diria André… — Victoria entrou na conversa — A única lígua que as pessoas desse mundo entendem é a guerra.

— Exato! — Jonas disse estalando os dedos — Se tentásssemos ser cordiais, nem todos os reinos concordariam, e teríamos começado uma guerra de qualquer forma.

— Só estamos pulando a parte chata. — Explicou Leonardo.

— Incrível como o nome do André sempre acaba entrando nas conversas, não? — Van-Nee comentou.

As palavras certeiras de Van-Nee evocaram um silêncio constrangedor sobre o grupo. Ela estava certa, por mais que André fosse desafeto da maioria dos outros heróis, ele ainda era a medida central no qual os outros se inspiravam a fazer ou não alguma ação.

Buscando fugir do constrangimnto que a conversa amigável havia se tornado, Jonas se levantou e fingiu olhar os arredores. Mas sem deixar de ouvir o que os outros falavam.

— O que você conseguiu descobrir nesse tempo transitando entre o acampamento e a Montanha Solitária? — Leonardo perguntou para Josiley.

— Pouca coisa. — Mais veloz entre os humanos respondeu — Aquele pessoal lá é bom em manter segredo.

— Por falar em manter segredo, onde está o Kawã? — Leo continuo perguntando.

— Está na patrulha do dia. — Respondeu Victoria — Ele acabou se enturmando rápido com a turma da Adênia.

Enquanto ouvia essas conversas, Jonas se lembrava que as habilidades animais de Kawã foram recebidas como um espetáculo pelas Pessoas Livres do Leste. Quando ele mostrou suas transformações, que muitos considerariam assuatadoras, os soldados de André pularam de alegria e aplaudiram.

Pessoas estranhas, gostos estranhos.

No dia seguinte Kawã já era tratado como alguém do grupo, como um lobo que fora reconhecido por sua matilha, enquanto ele, Jonas, estava há meses com o grupo mas ainda não parecia ser bem vindo.

Em pé sobre uma rocha de dois metros de altura, Jonas olhava os arredores do acampamento, por mais que parecesse observar se tudo estava bem,ele tinha certeza de que aquilo não era necessário. Mas ainda assim, no seu treino anos antes, aprendeu que um bom líder mostra atenção às atividades dos soldados.

Algumas dezenas de metros a frente estava localizada a tenda de Adênia, a líder atual dos soldados de André, em grande parte se devia a ela o fato de ninguém receber bem o herói das barreiras. Parecia existir uma barreira entre eles dois, e Jonas achava isso uma ironia.

Mais um pouco a frente, estavm Jairo e Brogo, duas pessoas assutadoras, porém, de corações generosos, além de sempre estarem juntos, os dois sempre ajudavam em tudo, nunca ficavam parados. E sem contar que sempre tinham uma história sobre André para contar. Adênia alertou que haviam alguns exageros, mas Jonas já havia percebido.

Os outros soldados, que eram tratados como irmão por Adênia, sempre estavam alertas, mas com um sorriso no rosto. Cada um deles interagia com os demais sem nenhum nível de hierarquia ou poder superior. Até a líder deles ajudava em tarefas mais básicas como armar tendas e preparar as refeições.

Durante o tempo que passou no Reino de Prata, jonas nunca viu um militar de alta patente preparar um tenda ou fazer a comida para seus soldados, pelo contrário, quanto mais alo o posto militar, maiores as regalias.

Finalmente ele estava entendendo o porquê de André ser tão querido por aquelas pessoas. Era a liberdade que ele as deu, e a liberdade que deu a si mesmo de ser como eles.

Enquanto Jonas se perdia no entendimento da felicidade que as coisas mais simples proporcionam ao ser humano, Van-Nee se aproximou dele dizendo:

— Se tivesse chegado lá com um sorriso gentil como esse, eu teria te acompanhado de bom grado.

Só então Jonas percebeu que estava sorrindo.

— Desculpe… — Ele disse.

— Não precisa se desculpar, o Leonardo disse que você está se esforçando muito para ser uma pessoa melhor. Então eu vou dar uma chance.

— Você tem certeza que não guarda mágoas pela forma como agi contra você e a sua filha?

— Claro que não. — Van-Nee disse com um sorriso leve — Mas se se tornar a repetir eu juro que te mato de uma forma bem dolorosa.

Jonas sentiu seu sorriso se transformar em uma careta de medo. Ele sabia que ela não estava brincando, e pelo que aconteceu da última vez, a ex-sacerdotisa tinha poder para realizar a ameaça.



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