Volume 2

Capítulo 75: O Retorno do Herói dos Raios

Após muitos dias de viagem, Leonardo, Van-Nee e Andreia chegaram a cidade mais oriental do Reino de Prata, Desmöriatren. Enquanto a família passeava pelas ruas da cidade em busca de um local para ficarem durante alguns dias, e tentando não serem reconhecidos, desconfiaram que estavam sendo seguidos.

Não demorou muito a Leonardo encontrar uma acomodação simples e barata, não chagava aos pés do seu antigo quarto no castelo, tempos atrás, mas era muito melhor do que o casebre que Van-Nee estava morando e criando Andreia.

Como aquela era a cidade mais próxima de onde eles tinham combinado se encontrar com Jonas, ficariam ali até o dia acertado, fingindo serem uma família de desabrigados em busca de um recomeço.

Como ainda estava cedo, Van-Nee sugeriu dar um passeio, já que tudo que tinham visto nos últimos dias eram árvores e estradas sem fim. E assim saíram pelo mercado, o casal de braços entrelaçados e sua filha andando animadamente à frente.

O objetivo era conhecer a cidade, mas além disso aproveitariam para fazer compras em família, uma atividade corriqueira, mas que nunca haviam feito. Andreia, com era de se esperar de uma criança, estava muito animada com a quantidade de bancas cobertas dos mais diversos produtos, a maioria do que lhe chamava atenção era comida.

Foi quando perceberam que estavam sendo seguidos.

Leonardo e Van-Nee se entreolharam disfarçadamente, ambos já tinham percebido os quatro homens que os seguiam desde que saíram da pousada. Como alguém que fora treinado para ser o líder dos heróis, Leonardo jamais deixaria de perceber quatro pessoas mal vestidas andando atrás dele e o encarando.

Obviamente os homens não eram especialistas em seguir furtivamente as suas vítimas, ao que parecia eram antigos mercenários de reino de Prata que no final da guerra não receberam suas recompensas por terem perdido a guerra, e que agora saqueavam cidades e roubavam viajantes. Era muito comum nessa região ouvir relatos desse tipo.

Fingindo se abaixar para avaliar uma joia, Van-Nee comentou:

— Será problemático se nos envolvermos em algum conflito aqui no mercado da cidade…

— Então vamos levá-los para fora e veremos quais as suas intenções para conosco. — respondeu Leonardo, apanhando o colar que Van-Nee olhava e prendendo em torno do pescoço da jovem.

Não era um colar muito caro, mas era uma joia deslumbrante, com certeza chamaria mais atenção dos seus perseguidores. Leonardo pagou pelo presente, chamou a sua filha, e pondo-a em seus ombros, saiu de mãos dadas com sua esposa em direção ao portão da cidade.

— Agora são sete pessoas nos seguindo… — Van-Nee comentou — Acho que até sairmos aparecerão outros.

Quando chegaram ao portão da cidade o guarda perguntou a eles onde iam, afinal não era comum as pessoas saírem da cidade próximo ao pôr do sol, pelo contrário, nesse horário a maioria dos habitantes estavam procurando pela segurança de seus lares.

Com a desculpa de que iam assistir ao sol se pondo de uma colina próxima, o guarda os permitiu sair, os recomendando que tivessem o máximo de cuidado no lado de fora. O casal seguiu em direção à floresta, fingindo não notar os seguidores.

Van-Nee viu de canto de olho quando os seguidores chegaram ao portão, e em vez de o guarda perguntar as intenções deles, da frente apenas o entregou uma moeda e todos passaram normalmente.

— Agora são onze! — Van-Nee disse baixo — Mesmo que existam outros mais a frente, ainda é muita coragem deles tentaram algo contra nós dois.

— Talvez apenas não estejam no reconhecendo. — Leonardo disse em meio a um sorriso.

— Cinco anos foram mesmo o suficiente para nossos nomes e rostos serem esquecidos? — A ex-sacerdotisa perguntou torcendo o lábio.

— E tem o fato de estarmos disfarçados, se eles no reconhecessem do que teria adiantado manter nossas identidades em segredo?

Van-Nee fingiu que não tinha sentido nas palavras de Leonardo e acelerou o passo por entre as árvores da floresta, o herói apenas sorriu e continuou a seguindo. Chegando a uma colina coberta de grama e com poucas árvores, ela parou.

Sem trocar uma palavra sequer, Leonardo entendeu o plano. Um local aberto dariam mais visibilidade aos possíveis inimigos. O que se mostrou verdadeiro em poucos segundos, quando os bandidos, sem perda de tempo, saíram das sombras os cercando completamente.

Um sorriso desdenhoso surgiu no rosto de Leonardo, seus olhos azuis ficaram mais brilhantes e seus cabelos loiros começaram a se eriçar.

— Acho que vou me divertir um pouco… — Ele disse.

— Tem certeza? — Van-Nee perguntou — Talvez eu possa resolver isso com uma única magia de explosão.

— Não precisa, eu quero me movimentar um pouco. — Leonardo juntou as mãos e esticou os braços, estalando os dedos — Não sei se ainda estou em forma ou se vou precisar reiniciar uma rotina de treinos.

— Deveriam ter seguido o conselho do guarda e ficado dentro da cidade, aqui fora é perigoso. — Um dos bandidos disse sarcasticamente, enquanto lentamente sacava uma faca curvada.

— Uma frase ensaiada e um gesto lento para demonstrar que está calmo em uma situação tensa… — Leonardo disse se aproximando do bandido — Você parece ser mais do que um bandido qualquer, mas ainda não 

— Sabe quem eu sou? — O bandido perguntou, exalando um mau hálito perto de Leonardo.

— Você é um merda! Um qualquer, que não devia ter nos seguido… — Leonardo respondeu, aumentando o tom.

O bandido que encarava Leonardo, e parecia ser o chefe, fez uma careta de insatisfação. Ao mesmo tempo os demais avançaram sobre Leonardo, mas o herói foi mais rápido, desviou do primeiro com um giro e nocauteou o segundo com eletricidade.

— Cuidado! Ele deve ter um item mágico… — Gritou um dos bandidos.

Era de se imaginar que o poder de Leonardo viesse de um item mágico, uma vez que ninguém sabia de seu retorno, e caso fosse um feiticeiro precisaria de tempo para conjurar a eletricidade. O sorriso dos bandidos aumentou mais ainda prevendo a possibilidade de obter um item mágico do tipo elétrico, o mais raro de todos.

Todos os bandidos que ainda estavam de pé avançaram ao mesmo tempo, e Leonardo correu em direção ao que vinha à sua frente, recebendo o bandido com um soco direto no maxilar enquanto desviava por puco da lâmina afiada que o homem carregava. Antes que o inimigo caísse no chão, Leonardo já tinha acertado mais dois com um chute em cada.

Os oponentes recuaram alguns passos, mantendo Leonardo sempre cercado, mas esquecendo completamente de Van-Nee e Andreia. Vendo que os bandidos que antes ansiavam para atacar, agora estavam receosos, Leonardo tomou a iniciativa do contra-ataque.

Usando o seu poder para aumentar a velocidade de suas pernas, ele correu em direção a um dos maiores bandidos, ignorando totalmente o quão armado o ex-mercenário, ele mirou um ataque com o joelho no rosto do oponente. E mais rápido do que o bandido podia prever ou reagir, seu nariz e alguns ossos da face foram afundados.

Tão rápido quanto o ataque, Leonardo chutou o tórax do bandido, lançando seus corpos em direções opostas. Assim que seus pés tocaram o chão, outros dois bandidos o atacaram por trás, mas Leonardo apenas esperou que eles estivessem próximos o bastante e liberou uma quantidade de energia pelo solo, afetando o sistema nervoso das pernas dos dois bandidos.

Enquanto os dois caíam um de cada lado, o herói girou o corpo em pleno ar, abrindo os braços em direções opostas, em seus dedos pequenas faíscas elétricas podiam ser avistadas, para total terror dos seus oponentes. Um clarão seguido por um estrondo encerrou a luta. Leonardo estava de pé emitindo pequenos raios por todo seu corpo, assim como os bandidos caídos ao redor dele.

Ele olhou para o único dos bandidos ainda consciente, e perguntou:

— Sabe quem sou eu?

— S-sim..! Ma-mas é im-impossi-ssível…

Leonardo levantou o braço direito em direção ao céu, e imediatamente as poucas nuvens que flutuavam ao crepúsculo foram se agrupando em um amontoado cinza e relampejante.

— Quem sou eu? — Leonardo gritou.

— Vo-Você é-é o herói do-dos ra-raios! — Gritou o homem no último segundo.

Com muita satisfação e um sorriso estampado no rosto, Leonardo abaixou a mão e um raio de brilho azulado desceu dos céus carbonizando os bandidos, deixando-os totalmente desfigurados. O brilho crepitante foi diminuindo com o passar de poucos segundos, restando ainda algumas fagulhas elétricas.

— Parece que as pessoas estavam se esquecendo de mim.

— Precisava mesmo fazer isso com eles? — Van-Nee perguntou, se aproximando.

— Achei que seria uma boa forma de dizer a esse mundo que voltei.

— Tudo bem, eu não ligo. Agora vamos voltar para a pousada, quero tomar um banho decente!

Van-Nee levou Andreia pela mão, em meio a pilha de corpos carbonizados, retornando para a cidade. Leonardo seguiu as duas poucos passos atrás. Assim que adentraram a floresta Van-Nee perguntou:

— Você está bem? Como seu corpo reagiu?

— É claro que estou, sou um herói!

Após três passos ele parou, segurando as costas como um velho, e olhou para o céu azul-alaranjado acima de sua cabeça.

— É oficial… — Leonardo disse com dificuldade — Amanhã eu começo… uma nova rotina… de treinos…



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