Volume 2

Capítulo 57: Flor do Deserto

Jonas, Victoria e as Pessoas Livres do Leste estavam acampados em uma área rochosa, com pouca vegetação, um terreno elevado com boa visibilidade para todos as direções e várias possíveis rotas de fuga.                                                                                                                                     

Jairo estava sentado sobre uma rocha alta olhando para longe, mas não estava na vigia, apenas divagava sobre o mundo e as pessoas. Uma silhueta escura se aproximou dele e sentou-se ao seu lado, vestia uma roupa toda escura, com capa de capuz e máscara cobrindo seu rosto, era a pessoa que decepou as mãos de Lu-Ji.

— Será que ele virá? — Perguntou Jairo.

— Fala de Deco? — A pessoa misteriosa respondeu com outra pergunta — Espero que sim, a presença dele mudaria as coisas a nosso favor.

— Mesmo assim… Acha que ele vai querer vir? — Jairo olhou ao longe, onde uma fenda gigante cortava o continente ao meio — Não acha que Deco já sofreu demais nesse mundo?

— Sim, todos nós sofremos… — A figura moveu seus olhos por baio do capuz olhando em uma direção diferente da que Jairo olhava — Todos temos nossas cicatrizes, traumas e momentos vividos que não gostamos de relembrar.

Jairo suspirou e olhou para a pessoa ao seu lado, em seguida deu um soco de leve no ombro dela.

— Você é mesmo forte para um ser humano! Eu não sei se conseguiria viver depois de passar o que você passou.

A pessoa misteriosa baixou a cabeça como se lembrasse de seu passado trágico, e falou.

— Quando Deco me tirou daquele lugar, eu pedi para que ele me matasse e acabasse com o meu sofrimento, mas ele disse que deu muito trabalho para me manter com vida, então eu teria que continuar vivendo ou tudo que ele fez seria em vão.

— Foi o mesmo quando vocês me resgataram, lembro de ficar assustado com o seu sorriso, achei que iam nos matar. Mas ele pediu para que eu fosse livre e fizesse a escolha que quisesse…

Em seguida Jairo levantou-se e erguendo uma de sus cimitarras em direção à Grande Falha, continuou.

— Eu escolhi seguir a pessoa que me deu liberdade, esse foi meu primeiro desejo como uma pessoa livre, eu me tornei uma pessoa livre do Leste!

Jairo voltou seu olhar para a pessoa de capuz, que permanecia com a cabeça abaixada, e mesmo que não conseguisse ver o seu rosto, o rapaz sabia que aquela pessoa estava sorrindo.

— Vamos trabalhar, você dois aí! — Uma voz feminina ecoou abaixo — É o turno de vocês!

— Vamos, Brogo… Se nos atrasarmos a capitã vai comer o nosso fígado na janta! — Jairo disse enquanto pegava suas armas e descia da rocha em um pulo. A figura misteriosa, chamada de Brogo fez o mesmo movimento, porém com mais suavidade.

Ao pé da rocha estava uma mulher jovem de bela aparência, porém com cara de poucos amigos. Tinha cabelos escuros amarrados em um coque, pele bronzeada, era relativamente alta, e usava um conjunto de roupas composto por blusa, couraça e calça marrons, além de uma capa acinzentada. Mantinha os braços cruzados como se fosse a chefe ali. E ela realmente era.

— Capitã Adenia, Soldado Jairo se apresentando. — Brincou o usuário de cimitarras.

Adenia não disse nada, mas respondeu com um chute lateral visando a cabeça de Jairo, que defendeu com o braço direito e usando o esquerdo para reforçar o apoio. Mas o corpo dela não parou de girar após o chute ser defendido. E assim que o impacto do ataque começou a perder força, seu outro pé estava acima da cabeça de Jairo.

Jairo se viu em uma situação complicada, sua guarda foi forçada e não tinha como ele avançar, recuar não era possível devido a rocha atrás de si, e aguentar o impacto de um chute direto em cima da cabeça seria doloroso. Ele estava encurralado.

Devido à surpresa do ataque, o que restou ao soldado foi se abaixar, encolhendo seu corpo o mais próximo ao chão. Mas o ataque esperado não chegou, quando olhou para cima ele viu a perna da capitã presa a fios negros que o protegiam.

— Agiu bem, Brogo! — Elogiou Adenia — Como esperado do trabalho em equipe de vocês dois!

Brogo não respondeu, apenas saudou a capitã com um movimento de “abaixar a cabeça”. Enquanto isso Jairo se levantava confuso.

— O que foi isso capitã? Pensei que a senhora ia me matar agora…

— Sem essa. Eu não mataria nenhum de vocês, apenas estou avaliando pessoalmente se ainda estão em forma. — Adenia gesticulou com a mão para que os dois se acalmassem — Se o Deco vier mesmo, precisamos mostrar a ele o quanto melhoramos.

Jairo respirou fundo por estar bem e tudo não ter passado de um teste da sua capitã. Pela sua fama de carrasca, ela não era de segurar quando atacava, mesmo que sua vida estivesse em perigo, no entanto com seus aliados sempre agia como uma irmã mais velha, se preocupando com todos e fazendo o possível para anima-los em situações difíceis.

— Capitã… — Brogo que não era muito de falar com qualquer outra pessoa que não fosse Jairo, perguntou — É verdade ou apenas boato essa história que o Deco virá?

— Quem sabe? — Adenia deu de ombros com um sorriso de canto de boca — Mas depois de Jonas e Victoria, vieram mais alguns dos heróis. Não podemos descartar a possibilidade de que em breve seja ele!

A resposta de Adenia foi com o seu tom de voz um pouco mais elevado para que mais alguns dos que estavam ao redor ouvissem. Seu intuito naquele momento era aumentar a moral do grupo, e deixá-los com ânimo e energia para as batalhas que se aproximavam.

Brogo deu um passo à frente, baixou a cabeça cumprimentando a capitã, e disse:

— Obrigado capitã! Me sinto mais leve com as suas palavras!

Enquanto Jairo e Brogo saiam para o seu turno de patrulha pela área do acampamento do grupo, os demais que ouviram as palavras da capitã e antiga líder dos ratos comentavam sobre a sua postura de líder desde os tempos em que André fundara o grupo.

Essa foi a reação esperada por Adenia, ela esperou por esse momento desde que Jonas e Victoria a procuraram para reunir as Pessoas Livres do Leste, mesmo que no começo o herói guardião tenha tentado assumir a liderança, agora ela estava mostrando quem realmente mandava ali.

A poucos metros dali estava Jonas que assistiu tudo com um sorriso no rosto, nunca nos seus anos passados de herói no Oeste ele havia liderado um grupo que fosse, e com Adenia estava aprendendo que liderar é mais do que apenas dar ordens. Olhando para Victoria que estava sentada próxima a ele, jogando um jogo de tabuleiro com Ametista, Jonas disse:

— Ela é boa, uma pena que nossa aliança depende das próximas ações de André e Felipe.

— E aqueles dois são difíceis de se prever, tanto quanto uma tempestade no deserto — Victoria sorriu, e sem desviar os olhos do jogo comentou.

— Pense pelo lado positivo, as ultimas noticias que tivemos de Felipe diziam que ele ficará de fora. — Jonas olhou para as duas que jogavam — É melhor ele fora do que contra nós…

— Está contando com Adenia para substituir a experiência tática de Felipe? — Victoria desviou o olhar poucos segundo para encarar Jonas, em seguida voltou ao seu jogo.

Jonas sorriu e disse entusiasmado:

— Ela é um diamante bruto, uma pedra que se fosse corretamente lapidada com a disciplina militar e conhecimento tático, seria uma grande estrategista, digna de alta patente!

Ametista levantou os olhos e disse séria:

— Não! Ela é uma flor, bela e sensível, porém resistente ao que está a redor de si, uma rosa do deserto, é isso que Adenia significa!

Jonas olhou pelas rochas ao redor e viu algumas plantas, todas da mesma espécie, se preparando para florir. Preferindo não ir contra as palavras de Ametista ele tocou em um botão de flor próximo a se abrir e pensou:

— Vejamos o quão belas são essas flores…



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