Volume 2

Capítulo 54: Convocação

— Levantem-se seus idiotas! — Exclamou Jaiane para os soldados que pareciam esperar um ataque vindo dos céus — Como puderam cair em um truque tão infantil? Esqueceram que ele não tem mais poderes?

— Acha que eu não consegui recuperar meu dantian? — Disse André com expressão arrogante enquanto olhava para os soldados.

— Amor… Não assuste os pobres soldados. — Zita falou com tom de sarcasmo.

— Vejo que as férias nesse mundo estão te fazendo muito bem. — Jaiane passou por André e foi em direção a Zita — Ou será que a companhia da sacerdotisa da montanha de fogo é tão boa?

— Quer provar? — Zita moveu as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior.

Jaiane não respondeu apenas continuou andando por mais alguns metros. Parou e virou para onde todos os outros estavam e falou:

— André Lima, Elizabeth Cruz, vocês estão sendo convocados pela Aliança Internacional a se juntarem ao pelotão que irá incursionar pelo portão de número 4 em missão de reconhecimento das terras denominadas de “Outro Mundo”.

As expressões faciais de André e Zita se fecharam simultaneamente, André deu dois passos à frente, ficando próximo de Zita, que segurou sua mão.

— Partiremos em três semanas, então estejam prontos, outros detalhes estão no memorando que receberão em até dois dias úteis. — Explicou Jaiane.

— E se eu não quiser ir? — André falou com tom sério.

Jaiane bufou e se aproximou de André, apontando o dedo para a face de rapaz que permanecia inalterado.

— Você não tem escolha! É uma ordem direta do cons…

— Não me importo! — André deu de ombros — Vocês não tem como me obrigar.

— Eu vou… — Zita que estava quieta até então, se manifestou — Mas como sabem, eu não tenho poder algum, então não posso lutar.

André olhou incrédulo para a sua amada, no fundo ele sabia que ela não queria ir, mas como Felipe já tinha explicado, a Aliança Internacional tinha meios convincentes de manter os “heróis” sob controle.

— Minha mãe… — Zita olhou para André com seus olhos marejados — Não posso arriscar a segurança dela.

André virou o rosto para Jaiane com olhar de fúria, ele sabia que era tudo uma armadilha pré-montada pela AI, mas não estava disposto a retornar para o inferno onde esteve preso até menos de um ano.

— Pediram ainda para informá-lo que a conselheira Sônia estará no mesmo pelotão como colaboradora civil, a fim de manter uma linha de comunicação com os nativos daquele mundo.

André rangeu os dentes, ele não poderia deixar Zita ir sozinha, mas não era capaz de proteger ela e sua mãe. Além de que Sônia estava envolvida, um fator que com toda certeza havia sido providenciado para abalá-lo psicologicamente.

— E por fim, não precisam se preocupar, a Aliança Internacional reconhece a sua perda de poderes e lamenta muito, mas não fará com que os dois partam para as linhas de frente. — Jaiane continuou em um tom amigável — Vocês serão apenas guias e intérpretes para o pelotão de reconhecimento, que tem como missão estabelecer relações amigáveis com as lideranças daquele mundo.

As palavras de Jaiane fizeram André tremer levemente.

— Então não será uma invasão ao Outro Mundo? — Questionou Zita.

— É só eles não nos atacarem que não haverá necessidade apresentarmos as maravilhas das armas de fogo!

— Escuta aqui sua moleca… — André avançou mais dois passos em direção à Jaiane.

Os soldados rapidamente levantaram as armas e engatilharam, o da frente levantou o punho fechado, indicando que os outros aguardassem.

Ao mesmo tempo a mão de Jaiane ficou transparente e atravessou o peito de André, na altura do coração.

— Escuta aqui você! — Jaiane deu um sorriso maligno — Há muito tempo você já foi o maioral, temido por todos, e a Elizabeth também, era chamada de a mais forte dos 33. Enquanto isso eu e os outros fomos relegados a ajudantes, e ainda ganhei o título de “fantasma” e “não combatente”. Mas agora mudou, vocês dois não tem mais poderes, os outros fortões estão para o outro lado, então é a minha vez de brilhar!

— Técnica interessante… — André comentou olhando o braço transparente que atravessava o seu tórax — Você conseguiria arrancar o meu coração? Ou apenas causar danos internos?

Jaiane levantou os olhos e encarou André, na face do rapaz estava estampado um sorriso assustador que a fez recuar involuntariamente enquanto todo o seu corpo ficava transparente.

— Foi uma boa reação de defesa, reflexos ótimos eu diria… Mas se você fosse uma combatente teria me matado agora mesmo, ou pelo menos usado a sua desmaterialização para se proteger sem ficar longe.

Jaiane ficou em silêncio por alguns segundos analisando as palavras de André e se recuperando da aura maligna que ele emitiu. Naquele momento, por uma fração de segundo ela sentiu a diferença entre uma não combatente e um monstro criado e treinado para matar.

— Isso… Que você fez… — Jaiane voltou ao normal, ficando tangível novamente.

— É algo que só se aprende em campo de batalha! — André respondeu com arrogância — Quando tiver experiência o suficiente, venha me desafiar mais uma vez.

— Está dizendo que eu posso chegar a esse nível de intimidação? — Os olhos de Jaiane brilharam.

— Sim, só te falta experiência. — André deu de ombros — Se tivesse treinado e encarado as mesmas aventuras que os outros, seria uma das mais fortes.

— Por que está me dizendo isso?

— Porque estamos indo para um mundo em guerra, e não tenho poderes, nem Zita tem. Precisamos que alguém seja forte para nos proteger. Além disso você, assim como Zita e eu, é apenas uma peça em um enorme tabuleiro de guerra.

Jaiane piscou várias vezes confusa.

— Então vocês vão mesmo?

— Pensei que você tinha dito que não temos escolha… — Zita se intrometeu.

André não disse mais nada, apenas voltou para a sua rede e pegou o tablet a fim de continuar a sua leitura interrompida. Zita continuou falando com Jaiane, mesmo que não fossem amigas, ainda eram antigas companheiras de Outro Mundo.

— Por que está fazendo isso? — Perguntou Zita.

— Assim como vocês, eu não tenho escolha. — Jaiane fez uma expressão triste.

— Então aquela pose toda era apenas por causa do André? — Zita fez uma cara irritada.

— Me desculpe, eu precisava transmitir um pouco de confiança aos soldados da Aliança.

Zita balançou a cabeça como se estivesse com pena de Jaiane e riu um pouco enquanto dava as costas na intenção de também voltar à rede, dizendo:

— Vamos esperar pelo memorando, se não estivermos na rede, estaremos na cama! Não dormindo…

Jaiane não pode evitar de sorrir, sua missão tinha sido cumprida com louvor, e André ainda tinha, de certa forma, lhe auxiliado e passado confiança. Agora restava a ela se tornar mais intimidadora, para impor respeito dentro do pelotão.

A garota fantasma seguiu por entre os soldados fazendo um sinal para que eles recuassem, entrando em um carro grande de cor preta com vidros escuros. Alguns soldados entraram no mesmo carro, um deles perguntou:

— Mesmo que você tenha dito desde o começo que não importando o que acontece não deveríamos atirar, confesso que foi difícil acreditar que você tinha tudo sob controle. Por que não usou seus poderes para obriga-los, apenas mostrou que poderia matar e recuou…

— Esqueceram que viemos aqui apenas para entregar uma convocação de guerra?

— Desculpe senhorita! — Um dos soldados que possuía padrões diferente dos demais fixado nos ombros exclamou — Nós estávamos aqui para protegê-la, mas não fomos capazes de reagir com seriedade àquela brincadeira de mal gosto do André.

— Me proteger? — Jaiane deu uma risada longa — Senhores, eu que vim aqui para protegê-los, ou esqueceram o que aconteceu com o sargento Fidelis?



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