Volume 2

Capítulo 53: Ficção

Kawã entrou a passos largos passando o olhar por todas as garotas no palácio, por mais que desejasse ser possuidor de tal harém, seu coração havia sido fisgado pela doce Anne.

— Meu amor! Você veio por mim? — Anne gritou de onde estava acorrentada.

Os guardas do rei que defendiam o harém se puseram em formação para impedir o avanço de Kawã, mas o poder do herói junto ao amor que ele sentia por Anne era mais forte do que toda a força militar do reino.

Com apenas um soco Kawã derrotou todos os guardas reais e salvou sua amada, ele a puxou pela cintura e beijou-a fortemente. Seus lábios dançaram contra os dela por minutos enquanto as outras garotas do harém se emocionavam de inveja do amor do casal.

— É sério? Derrubou todos os guardas com um único soco?

André começou a rir incontrolavelmente, uma situação inédita para Zita, então ela ficou sem reação. Talvez fazer André ler histórias criadas por fãs dos heróis fosse um pouco demais para ele.

— Além disso Kawã não saberia ser gentil com uma garota nem se tentasse. Até eu conheço uma coisa ou outra sobre gentileza. — André continuava rindo enquanto falava — Além disso, ele deve ser o único de nós que ainda é virgem, e não foi por fata de interesse das garotas…

— Tem uma sobre você também, já leu?

— Li sim, e senti vontade de vomitar, compararam o meu poder com sistema de cultivo. Por que fizeram uma barbaridade dessas?

Zita deu de ombros e continuou a sua leitura, enquanto André voltou para o aplicativo de histórias que lhe havia sido recomendado por Felipe como passatempo.

— Dropei essa do harém do Kawã… — Disse ele enquanto procurava a próxima — Vamos procurar alguma completa que não tenha um milhão de capítulos redundantes.

— E você por um acaso leu alguma até o final? — Zita reclamou.

— Li duas, e uma era de cultivo. Confesso que no começo achei interessante a ideia de obter poder sem fazer absolutamente nada, mas aí o cara foi ficando chato, metido e arrogante…

— Tipo você? — Interrompeu Zita.

— A diferença é que eu treinava em torno de 14 horas por dia, apanhei muito e quase morri em batalha exatas 72 vezes! Nunca ganhei poder ficando sentado, isso é fantasia!

— Fomos para outro mundo, ganhamos poderes divinos, entramos em uma guerra com soldados que usavam espadas e magia… — Zita largou o livro — Eu mesma podia incinerar uma cidade inteira, e você vem dizer que coisas desse tipo é fantasia?

— Não, meu amor… Eu estou dizendo que ficar forte cultivando é fantasia.

André largou o tablet e encarou Zita, a segurando pelos ombros enquanto dizia:

— Você era a mais forte dos 33, mas treinou mais do que qualquer um de nós! Se fosse possível ganhar poder sem fazer nada o Felipe que não é combatente, e só fica lendo, seria o mais forte de nós, os monges de reino de pedra seriam invencíveis, tetraplégicos seriam imortais e os vegetativos seriam deuses!

— Pegou pesado… — Zita disse segurando o riso.

André voltou ao aplicativo em busca de algo que lhe agradasse, enquanto Zita pegava o livro e perguntava.

— E qual foi a outra que leu até o final?

— Uma aí sobre um cara que tem o poder expresso em números, parece que tem alguma coisa dizendo quando ele fica mais forte…

— Novel com sistema..?

— É… 

— Essas são ruins…

Ambos concordaram e continuaram suas respectivas leituras, cada um jogado pra um lado da enorme rede que estava atada entra a casa e o pé de manga do quintal da casa de campo de André, aproveitar os dias de paz na zona rural e longe da correria da cidade, para eles dois era muito importante. Muitas guerras já haviam passado em suas vidas, e muito sangue derramado por suas mãos.

Infelizmente, eles não poderiam contar com mais uma reviravolta no meio de tantas já sofridas. A leitura do casal foi atrapalhada por um som de motor se aproximando, em seguida uma buzina alta.

— Quem ousa me atrapalhar a leitura de fanfics de haréms com protas virjões em uma quarta-feira à tarde? — André levantou resmungando — Estamos no meio da semana ainda, vai trabalhar vagabundo!

Antes que pudesse dar a volta na casa para recepcionar as visitas, André ficou paralisado. Um grupo de soldados uniformizados, mascarados e fortemente armados, estava em formação e pareciam prontos para atirar.

— Ah, droga! Vocês de novo… — André revirou os olhos enquanto levantava os braços.

— Então vai se render facilmente dessa vez? — Uma voz feminina soou por detrás dos soldados.

— É que pelos últimos prejuízos que causei a vocês, se eu matar mais alguém da Aliança, acho que em breve faltará caixão. — André usou a sua melhor arma, o sarcasmo.

Os soldados abriram espaço e pelo meio passou uma jovem de pele morena e cabelos curtos de cor chamativa, usava um vestido azul claro e óculos escuros, destoando das vestimentas dos soldados.

A garota parecia mais estar em um passeio do que em uma missão militar.

— Jaiane… — André olhou para ela com desdém — Estou vendo fantasmas agora?

O poder de Jaiane permitia a ela ficar transparente, flutuar e atravessar materiais sólidos, assim ela acabou ganhando o apelido de heroína fantasma. Entretanto ela odiava o título.

— Você faz piadas agora? — Retrucou ela — Se bem me lembro você só sabia matar…

André forçou um sorriso, mesmo que os movimentos faciais voluntários para expressar felicidade e satisfação fossem difíceis para o mais violento dos 33.

— Quer que eu conte outra piada? — André levantou um sobrancelha.

— Conte! — Jaiane permanecia em frente a ele, séria e de braços cruzados — Se me fizer rir eu finjo que nunca estive aqui…

André deu dois passos para trás, levantou o punho direito em direção a Jaiane, abriu a mão lentamente e perguntou:

— Está pronta?

— Essa é a sua piada? Ficar em uma pose ridícula e mostrar que recuperou o movimento da mão direita?

André não respondeu de imediato, em vez disso levantou a mão aberta em direção ao céu e baixou rapidamente enquanto gritava a toda voz:

— Técnica de destruição em massa. ESMAGAMENTO CELESTIAL! 

A mão de André parou na altura dos olhos de Jaiane, que não só permanecia séria, como estava irritada. Ao mesmo tempo uma gargalhada foi ouvida atrás de André, era Zita que havia assistido a cena inteira e agora ria dos soldados jogados no chão tentando se proteger.

— Eles acham que você ainda tem algum poder… — Zita disse a André em meio ao riso desenfreado.

— Poderia ter levado um tiro por fazer uma brincadeira tão estúpida! — Jaiane reclamou.

— Se quisessem me matar teriam feito isso sem que eu precisasse sair da rede. Para virem aqui assim, precisam de alguma coisa. Só digam o que querem, e caiam fora… Tenho umas novels para começar ler e dropar.



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