Volume 2
Capítulo 172: Convívio Amoroso; A Buscadora de Joias Que Guarda a Sabedoria Que Transborda
— É claro que é tem uma grande diferença entre Qin Xa e Liu Qin Xa. — disse Qin Xa, colocado a xícara com café infinito sobre a mesa, e sorrindo para sua mãe. — Falta o Liu!
— Elan, você pode falar sério? — um suspiro escapou dos lábios de Katarina. — Eu já estou confusa com essa coisa do Qi, se você ficar brincando com essas palavras vai ser difícil conversar.
— É Qin Xa agora, e eu estou falando sério. — Qin Xa levantou os dedos. — A partícula "Liu" faz toda a diferença, porque quando os pais vão nomear seus filhos, é comum que usem 3 partículas para representar o "passado", o "presente" e o "futuro" da criança.
Isso atraiu a atenção de Katarina. — E você diz que não tem nada de místico no mundo. Por que é assim?
— Pelo que eu pesquisei, essa tradição nasceu da época em que as fontes de poder do mundo estavam caóticas, causando destruição e ainda mais caos por todo lugar, o que fazia com que os nomes também não tivessem muito significado.
— Agora isso parece mais uma mitologia.
— Mas é uma mitologia. — deu de ombros. — As datas do livro que eu li diziam que esse tempo aconteceu a mais de 1 bilhão de anos. Se isso não é mitologia, eu não sei mais o que é. Eu nem sei se o mundo tem 1 bilhão de anos.
— Hmm, se é uma tradição, acho que faz sentido os nomes serem estranhos. E qual o resto dessa história?
— Naquele tempo de caos, os povos descobriam que quando, por meio do nomes dos recém-nascidos, se firmava sua posição no mundo através desse nome, essas pessoas quando cresciam conseguiam sobreviver por muito mais tempo, e serem mais poderosos que a geração passada. Então eles começaram a nomear seus filhos seguindo essa estrutura de passado para o sobrenome, presente para o nome externo, e futuro para o nome íntimo.
— 3 nomes para uma pessoa só é uma complicação desnecessária. — Dessa vez Qin Xa discordou.
— Nem tanto. O sobrenome é meio óbvio, mas o nome externo, que o meu é Qin, serve também para impor um certo limite na forma como você fala com os outros. Para quem não me conhece, poderia me chamar de Liu. Para aqueles que são conhecidos, chamar de Qin é permitido, já que não são estranhos. Enquanto o nome íntimo, Xa, só pode ser chamado por amigos próximos ou família.
Katarina estava um pouco confusa. — Isso é estranho. O que faz com que os outros respeitem esse limite?
— Nomes tem poder também, mãe... — Qin Xa derramou um pouco de café sobre a mesa e usou para escrever seu próprio nome.
— Imagine que o nome serve para proteger seu filho dos infortúnios do futuro, que de acordo com a mitologia eram as fontes de poder caóticas. — após escrever, ela circulou o nome. — Se ele serve para proteger, então é claro que também serve como uma forma de ataque.
Ela pensou um pouco, — Deixa eu ver... — enquanto Katarina encarava os caracteres complexos que mais pareciam um monte de galhos, enrolados e trançados uns sobre os outros, num emaranhado caótico... e muito suave.
— Por que eu acho que a sua letra é bonita mesmo sem entender ela?
Qin Xa piscou repetidamente, intrigada com o comentário. — Porque eu tenho uma letra bonita. Não era a minha mãe que dizia que...
— Quem não tem letra bonita, nem gente é. — Katarina sorriu com o canto dos lábios. E Qin Xa, parecendo encontrar um jeito simples de explicar, olhou para o canto da mesa.
— Pergaminho, por favor. — falou para a pessoa invisível à seus olhos, que prontamente se dispôs a fazer surgir sobre a mesa um pergaminho limpo e uma bela caneta preta.
— Aqui. Para entender como o nome pode servir de ataque, a mãe tem que entender como o meu nome funciona.
Escreveu o caractere "Liu" no pergaminho.
Claro, ela prontamente ignorou que acabou de sujar a mesa com café por motivo nenhum, visto que precisou pedir por um pergaminho. E já que sua mãe não deu atenção, não seria ela quem iria atrapalhar a conversa apenas para limpar a mesa.
Não era por preguiça, com certeza. Conversar era mais importante que a limpeza!
— A família Liu, antigamente, há umas 7 gerações, era uma família de mineiros. Mas não eram qualquer tipo de mineiro, eles eram mineiros de pedras preciosas. Joias para ser mais exata... — enquanto falavo, também escrevia.
— Espera, como que minera uma joia? — para a pergunta, Qin Xa fez um "Ó" e explicou.
— No primeiro mundo que eu nasci tinha muitas guerras e desastres naturais. Então era comum que cidades inteiras desaparecessem do mapa em certas regiões, sendo enterradas. É aí que entra os Liu, eles escavaram os lugares e coletavam as joias, já que lendas dizem que as joias dos mortos contem uma parte do seu... carma, por assim dizer. É assim que se minera joias. Mas eles também mineravam do jeito normal. Então, no fim, eram mineiros.
No pergaminho, escreveu em palavras o conceito de seu nome.
— Então Liu, no meu nome, tem o conceito de: "Pessoas que procuram joias". E como é o passado da minha família, que veio primeiro do que eu, ele se torna o meu sobrenome, e é o primeiro poder que as pessoas evocam quando chamam o meu nome.
Katarina, encarando o pergaminho, de repente exclamou: — Ei, agora eu consigo entender as letras.
— Parece que atualizaram o tradutor. — Qin Xa riu.
— Para meu nome externo, meu pai não usou o passado da família. Na verdade, meu pai era um homem tão carinhoso, que o meu "presente" era para que eu guardasse o conhecimento da família Liu. Como a quinta cria da família, a minha posição era inferior a de herdeiro, jovem mestre, e pretendente. E como na família o talento para o cultivo dos meus irmãos não eram algo que chamasse atenção, quando chegou minha vez ele desistiu de desejar um futuro promissor.
Novamente ela começou a escrever as palavras que deveriam ser o conceito do seu nome.
— Qin é uma pessoa que guarda o conhecimento da família como um soldado guarda criminosos, apesar de já haver uma cadeia os prendendo. Eu deveria zelar e administrar todo o conhecimento e a sabedoria dos Liu na minha geração, para que a família ainda pudesse prosperar nos tempos vindouros.
Sua fala foi suave e sem nenhum receio ou peso, mas Katarina mordeu os lábios.
— Assim, Qin, no meu nome, significa: "Guarda de conhecimento". Apesar de ter uma origem bem duvidosa, eu gosto bastante. Faz parecer que eu sou bem inteligente. — sorriu, atraindo um olhar confuso de sua mãe.
— O seu pai te batizou te dando um nome com um significado tão triste e você gosta? Eu não te criei para ficar sendo feito de palhaço...
— Onde que alguém que guarda a sabedoria da família é sinônimo de tristeza? — Qin Xa estava confusa. Ela realmente gostava do nome que tinha, se não teria mudado ele completamente quando foi expulsa de casa.
Mas ela gostava tanto que só tirou o sobrenome, afinal essa parte pertencia por direito a família Liu, e a Liu Qin Xa original que nunca chegou a nascer.
Por dever, Qin Xa não tinha direito nenhum sobre esse sobrenome. E apesar dela tê-lo abandonado, sabia bem que nos registros da família seu nome ainda constava como Liu Qin Xa.
E queira ela ou não, aquele era seu verdadeiro nome. Afinal, não é porquê Qin Xa largou Liu, que Liu largou Qin Xa.
Mas sua mãe não precisava saber dos detalhes técnicos.
— Você acabou de dizer que esse Qin significava a desesperança que esse homem tinha em seu sucesso. Que você deveria ficar em casa, sendo inferior aos outros irmãos. Se isso não é triste, o que é que é triste?
— Oh, isso? – Qin Xa colocou a caneta entre o dedo do meio e o indicador e começou a girá-la. — Isso é só uma suposição minha. Nunca conversei com Liu Di Wo o suficiente para entender o que ele sentia por mim ou pelos meus irmãos. O fato é: Qin significa "Guarda de conhecimento", e o que meu pai sentiu ao me nomear pouco me interessa. Mas o que eu mais gosto, é o Xa. Acho o conceito por trás dele a coisa mais linda de tudo isso.
Katarina atiçou as orelhas, enquanto Qin Xa escrevia no pergaminho a partícula "Xa".
— Num geral, Xa é o conceito de rachaduras.
Katarina ficou muda por um momento.
— Elan, o que foi que aconteceu com seu senso para você achar uma coisa dessas linda?
— Calma, mãe. E é Qin Xa. O Xa não é apenas o conceito de rachaduras aleatórias que se encontra por aí, ele é um conceito muito específico de rachaduras que eu aposto que a mãe nunca deu atenção. — ela sorriu, ainda escrevendo.
— Eu ainda não entendi como que uma rachadura é uma coisa bonita...
— Calma que eu já chego lá. Xa não são as rachaduras de pedras, ou paredes. Xa é o conceito das rachaduras que surgem em lugares que estão segurando um volume muito grande de alguma coisa. Tipo uma barragem que está tão cheia que seu paredão começa a rachar, ou uma represa que já não consegue mais suportar o volume de água que está passando por lá e começa a rachar. São quase essas rachaduras.
— Quase...? — Katarina pensou, tentando imaginar a última vez que ela viu uma rachadura tão específica.
— Sim, quase. Porque o Xa não são todas essas rachaduras, ele é apenas aquelas rachaduras que realmente deixa vazar alguma coisa. Não em grande quantidade para comprometer a estrutura, mas deixa vazar o suficiente para saber que está transbordando. É apenas esse tipo de rachaduras, ou como eu amo pensar, imperfeições.
Terminando de escrever, o sorriso não saiu de seu rosto.
— Então meu Xa significa: "As frestas do que transborda".
Liu Qin Xa.
Pessoas que procuram joias;
Guarda de conhecimento;
As frestas do que transborda.
Escrito no pergaminho, isso fez Katarina encarar a área — pensativa e em silêncio, tentando compreender o que havia de tão bonito — procurando o significado que Qin Xa via e ela não.
E sua filha não lhe atrapalhou, pelo contrário, deixou que a mulher pensasse e tirasse suas próprias conclusões.
"Eu tenho minhas percepções de mundo, e sei que são muito diferente comparadas com as dos outros. Sinceramente eu queria poder ensinar tudo para ela, mas eu não tenho poder o suficiente para subjugar as leis desse mundo, nem tenho vontade de ir contra ele numa luta que só irá colocar a vida dela em risco. Mãe, se realmente estamos separadas por uma barreira de tempo com séculos de diferença, por enquanto é apenas isso que eu posso fazer por você."
Qin Xa entendia muito bem as implicações que essa relação teria. Não havia a possibilidade das duas ficarem juntas do jeito que estavam agora.
Se sua mãe, nesse momento, estivesse no passado, significava que agora — como estava na presença de um ser tão assustadoramente poderoso, no mundo real ela deveria ser uma figura completamente insondável.
Mas também havia a outra possibilidade... A de quê ela estivesse séculos no futuro, e nesse momento houvesse acabado de chegar nesse mundo.
Para isso havia apenas duas possibilidades...
Ou Katarina estava em um lugar tão incompreensível e inóspito do universo, ao ponto que a Qin Xa de séculos no futuro não conseguiria sentir sua presença — a pessoa que ela iria com toda certeza buscar ressuscitar quando atingisse o poder necessário...
Ou Qin Xa havia perdido todos os seus poderes nesse futuro. E não apenas isso, ela perdeu tudo que um deus lhe deu. Ela perdeu sua capacidade irracional de cultivar milhares de vezes mais rápido que os outros. Perdeu sua força monstruosa comparada aos seus pares, e perdeu o corpo capaz de suportar o impossível.
Qin Xa não era tão burra, nem inocente, o suficiente para não pensar que no futuro em que sua mãe chegou nesse mundo, ela já não houvesse morrido.
Pelo contrário, agora que ela descobriu isso, se ela, que com certeza se tornaria uma existência incompreensível no futuro, não conseguiu sentir a reencarnação de sua mãe, boa coisa não aconteceu nesse meio tempo.
"Eu sou ateia... mas que todos os deuses e demônios queiram, rezem e implorem para que eu esteja morta, enterrada, e com nenhuma chance de retornar do mundo dos mortos nesse futuro. Porque se eu estiver viva e minha mãe cair nas mãos de qualquer que seja meu inimigo, eu juro pela minha alma que não restará um ser vivo que tenha tocado nela nessa porra de universo."
Qin Xa era uma covarde incapaz de tirar uma vida inteligente agora... mas é daqui centenas de anos? A cada batalha que passou ela se tornou mais insensível, então daqui 1 século vivendo nesse mundo ela seria tão podre quanto qualquer um...
...
— Então, — Katarina falou, erguendo seu olhar de olhos castanhos. — A tradução do seu nome para palavras é algo como; "A Buscadora de Joias Que Guarda a Sabedoria Que Transborda"?
Qin Xa sorriu para sua mãe, erguendo as mãos para bater palmas.
— Exatamente! Pode mudar um pouco, depende da percepção. Mas essa é uma parte da essência.
Katarina colocou a mão na cintura, tentando esconder um sorriso.
— É bonito... mas os conceitos por trás dele não fazem o menor sentido com você.
— Eu queria poder discordar disso... — o sorriso dela congelou, encarando seu nome que tão pouco lhe representava.
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