Volume 2
Capítulo 164: Um Dia, Todos Morrerão
— Como a mãe sabe dessas coisas? — sem pressa Qin Xa fugiu do assunto da sua sexualidade confusa e foi para algo mais intrigante. — Você também é uma cultivadora?
Era difícil associar as palavras dessa mulher, sobre algo tão sobrenatural quanto milhões de mundos diferentes, a imagem da mulher gentil que um dia foi ao parque de diversões com ela. Ele... se considerar que isso foi em sua vida passada.
— Não, eu não sou. Além disso, esse poder não é meu, é apenas emprestado. Mas não vamos falar dos outros, diga para sua mãe: O que te fez ficar tão triste? Tenho certeza que te ensinei a encarar o mundo de cabeça erguida. Por que você estava chorando com tanto desespero?
As duas se sentaram a mesa e Qin Xa tomou um gole de café. A sensação extremamente nostálgica se espalhou pela sua boca. Não podia dizer que era um gosto bom, visto que nesse mundo os gostos das coisas eram arrebatadores… mas lhe trazia memórias enterradas.
Qin Xa respirou fundo.
— Eu... não suportei a sua morte. Então, eu desisti de tudo.
Qin Xa sentiu-se muito mal ao falar essas palavras. A dor que ela sentia naquela época era tão grande que tomar qualquer decisão foi simplesmente impossível, então seu único caminho foi desistir de tudo.
Foi desolador o sentimento de perder tudo de uma forma tão abrupta.
E desistir naquele caso foi cometer suicídio no meio de uma rodovia… parecia tão certo fazer aquilo naquela época. Mas agora…
— Parece que eu falhei como sua mãe. Eu não imaginei que te deixar fosse algo tão grave assim. O que aconteceu com tudo o que eu te ensinei? Por que você desistiu da sua vida, a coisa mais preciosa que você tem no mundo, por algo tão pequeno como a minha morte?
— Pequeno? Foi a sua morte, foi a morte da pessoa que eu mais admirava e confiava no mundo! Por que diz que isso é algo pequeno? Não é pequeno!
— É pequeno. Tenho certeza que já disse isso para você antes, mas já que parece que você esqueceu disso, eu vou repetir: A morte não é o fim, ela vem para todos e não deixa ninguém para trás. Quantas vezes você viu alguém escapar das mãos da morte? Por que a minha morte foi algo tão especial assim, sendo que mesmo que eu tivesse morrido, você ainda continuaria vivo?
Qin Xa não podia acreditar nas palavras que estavam saindo da boca de sua mãe. Não acreditava que mesmo após morrer ela ainda diria algo assim, com o mesmo ar de “minha mãe” que ela sempre teve. Mas isso era exatamente algo que ela já escutou há muito tempo.
— Você era a minha mãe, não tem como sua morte ser algo pequeno. Eu dediquei tudo para salvar você, mas ainda assim eu falhei nisso, não havia como eu suportar algo assim.
— Não dê desculpas. Eu sempre tive orgulho do que você fez enquanto estava viva, sempre achei você a pessoa mais brilhante do mundo. E não era só porque você era meu filho. Mas aqui está você, remoendo algo tão simples e fútil como a morte.
A mãe de Qin Xa estava claramente chateada com como seu filho, ou filha, estava lidando com isso. Não foi assim que ela foi ensinada, nunca que Elan recebeu exemplo de que nos momentos mais difíceis ele deveria abaixar a cabeça e desistir de tudo, só porque falhou em algo.
Por que essa criança ainda estava chorando por algo tão pequeno assim? Onde estava aquela figura orgulhosa e alegre que dominava tudo em sua presença?
A pessoa que se tornou um dos maiores nomes do país apenas com seu esforço, aquela pessoa estava longe de ser vista na aparência fofa, adorável e fraca de uma garotinha frágil e indecisa na sua frente — que nem mesmo encarava ela nos olhos apesar de estar chorando a poucos minutos, dizendo que nunca mais queria se separar da sua mãe.
— Fútil...
— Sim, Qin Xa, a morte é algo inevitável e sem dúvidas nenhuma, algo pequeno diante de toda a grandeza que você podia alcançar enquanto ainda tinha vida. É assim que a morte deveria ser vista, como o fim inevitável de todos, mas que nunca chega para todos de uma vez. Então tudo o que podemos fazer quando enfrentamos algo difícil, é aproveitar a vida o máximo que pudermos sem nenhum receio ou medo, não foi isso que você fez antes mesmo quando parecia que seus negócios não dariam certo? Quantas vezes você desistiu só porque parecia difícil? Por que esqueceu de algo tão simples assim?
— A sua vida era diferente, mãe! — Qin Xa mordeu os lábios. — Você era tudo o que eu tinha.
— A mesma baboseira que todo mundo repete quando tem que escolher entre sua família ou seus bens… — a mulher estalou a língua. — O que vem agora? Vai dizer que se pudesse sacrificaria toda a sua fortuna para me salvar?
— Eu faria sem pensar 1 vez sequer!
A mulher a encarou com calma, tomando pequenos goles do café que naquela antiga vida, que parecia tão distante, era tão apreciado pela manhã .
— Não é à toa que você sempre foi idiota. Mesmo que minha vida fosse salva naquela hora… e depois? Você acha que eu ainda iria viver mais 20 anos? Mais 30? Acha que eu ficaria viva tempo o suficiente para que você ficasse desapegado de mim ao ponto de não se abalar com a minha morte? Meu filho… é por isso que o passado tem que ficar no passado, porque uma hora tudo acaba, e a minha vida acabou antes do que você queria. E não tinha nada que você pudesse fazer.
Qin Xa arregalou os olhos e o café dentro da xícara em sua mão tremeu. A voz gentil e as palavras cheias de amor e carinho, mas ainda assim duras, fizeram sua mente balançar.
De verdade, com essa conversa a coisa que ela esperava de sua mãe era compreensão...
Mas por que não estava sendo assim?
— Então tudo o que eu fiz foi em vão? Está dizendo que nada do que fiz iria importar, já que a sua morte não podia ser mudada? — era óbvia sua indignação pela expressão, e por colocar a xícara na mesa.
— Você sabe que eu não disse isso. Você pode imaginar o que todo seu trabalho e empenho fizeram, não é? Você está negando todos aqueles anos de trabalho, só porque não quer aceitar essas palavras?
Qin Xa franziu o cenho, fazendo uma expressão feia. — Mas como eu vou aceitar que a morte é algo que eu não… posso mudar...?
Conforme falava sua indignação e raiva foi se transformando numa pergunta estranha, até que chegou a uma constatação.
Qin Xa sentiu que dentro dela algo se desmanchou ao vocalizar aquilo.
O que foram essas palavras?
Elas foram a pergunta e a resposta que ela nunca buscou, apesar de tanto querer encontrar.
A mãe de Qin Xa sorriu gentilmente, como se para essa questão ela tivesse a resposta desde o princípio, mas também sorriu vendo a cara de choque no rosto adorável de sua filha… filho…
— Viu só? Mesmo você estando indignado por não poder me salvar, você esqueceu que também morreu, não foi? A minha morte foi inevitável, mas a sua poderia muito bem ter sido evitada se você tivesse aceitado essas palavras naquela época.
A morte é inevitável. Mas não é impossível de ser contornada. Ela sempre esteve presente entre as criaturas, e sempre vai estar, isso era imutável. Era uma força da natureza impossível de ser vencida e ignorada.
A morte só fere quem se apega a ela… e Qin Xa se apegou demais a essa coisa tão vaga, clara, ilusória e presente.
Qin Xa finalmente entendeu algo com tudo isso. — A morte não é uma inimiga…
Um sorriso sem graça se espalhou pelo seu rosto, enquanto a xícara voltava a sua mão. Ela sempre lutou contra a morte de sua mãe, mas foi somente agora que ela soube o que estava fazendo.
Estava jogando seus esforços no lixo, porque não dá para ir contra a morte. Não é possível controlar ela.
Por que a morte seria uma inimiga de Elan, quando ele nem mesmo podia aceitar que não tinha influência nenhuma sobre ela. Sua mãe morreu, e isso lhe trouxe dor demais. Mas sua vida nunca se resumiu apenas àquela dor.
Mesmo que anos da sua vida tenham sido repletos de trabalho, negócios e planejamentos meticulosos cujo único propósito era lhe trazer riqueza, sua vida não era apenas isso. Nunca foi.
E a luta contra a morte… também nunca foi sua.
Era de sua mãe. Foi ela quem sofreu, chorou e viu de perto o que era estar na própria pele. E se ela que passou por aquilo estava alí, sorrindo e vendo a irrelevância que a morte tinha, como Qin Xa poderia compreender alguma coisa sobre toda a situação?
Era uma verdade tão simples…
Todo mundo morre. Um dia.
— Por que eu não pensei nisso antes?
— Burrice. — as pálpebras de Qin Xa se contraíram ao ouvir essa palavra saindo da boca de sua mãe, e destruindo todo o seu raciocínio.
Ela estava prestes a xingar interiormente, quando…
Pah!
— Au! — uma pequena vara surgiu na mão de sua mãe e ela bateu com força na mão de Qin Xa que estava segurando a xícara de café. O café derramou, deixando uma mancha no tecido amarelo.
— Respeite sua mãe! Quando foi que eu criei alguém tão boca suja?
— Mas eu nem falei nada!
— Mas estava prestes a pensar. Você era uma criança tão boa antigamente, o que esse mundo fez com você? Com quem você aprendeu a ter tão pouco respeito?
Mais uma vez a vara bateu, bem na testa, e ela gritou e sorriu de dor. Essa era exatamente a forma de sua mãe agir, fazendo uso da violência para ensinar coisas simples!
Mas ainda assim sendo gentil e amorosa.
Essa dor de agora iria fazer ela lembrar de não pensar besteiras na frente de sua mãe, que recolheu a vara para o canto da cadeira, pegou o café e a encarou nos olhos.
— Deixando todo o assunto sem sentido de lado, vamos ao que interessa? Por que você se transformou em uma mulher? Você não tinha nenhuma inclinação estranha naquela época não, não é?
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