Volume 1

Capítulo 72: Erros

No reino de Aldemere, mais precisamente na cidade de Reven, que havia sido conquistada por Re’loyal, encontravam-se nas dependências do castelo Dalian e Delilian.

Dalian estava sentado no trono, agora sob seu domínio, segurando uma taça de vinho, enquanto Delilian estava perto das portas, trancando-as.

— Realmente havia necessidade de trancá-las? — indagou Dalian, observando seu irmão se aproximar. — Às vezes você é paranóico demais...

— Paranóico? — Ele franziu o cenho. Os dois acabaram de trazer um Primordial à terra depois de milênios. Delilian não queria nem pensar no que aconteceria se isso vazasse. — É melhor mantê-las trancadas, por enquanto...

Entendendo que não ganharia a discussão, e reconhecendo sua futilidade, Dalian simplesmente optou por deixar as coisas como estavam. Sua atenção voltou-se então para a taça em sua mão, onde o líquido vermelho dançava suavemente de um lado para o outro.

Sem muita reflexão, ele ergueu a taça dourada aos lábios e permitiu que seu paladar se deliciasse com o sabor adocicado do vinho. Enquanto bebia, percebeu que seu irmão parecia ansioso, com os braços cruzados.

— Os vinhos de Aldemere são realmente divinos — comentou, em tom contemplativo. — Gostaria de um pouco para relaxar?

— O que faremos se aquele primordial decidir destruir tudo? — Ignorando completamente seu irmão, concentrou-se no que verdadeiramente o atormentava. — O que faremos, Dalian!?

Vendo que Delilian estava prestes a se perder em preocupações, ele recostou-se no trono, apoiando o cotovelo no braço do assento para sustentar o queixo.

— Está se preocupando à toa; tudo o que ele deseja são aqueles garotos — Seu olhar voltou-se para a taça que ele balançava suavemente. — Sua atenção estará completamente neles...

Seu tom era imperturbável, calmo, quase inexpressivo. Seus olhos continuavam a vagar, seguindo as ondulações do vinho na taça. Enquanto Delilian ainda parecia nervoso, seus braços não se descruzaram; na verdade, se apertaram ainda mais.

Ele não acreditava nisso; um demônio sempre buscaria o caos, não importam seus objetivos. Mesmo assim, Dalian parecia tão certo disso, como se soubesse algo mais, algo que escondia.

— Onde o Equitiliun se encaixa nisso tudo? — indagou ele.

Ao escutar, Dalian levantou-se do trono e pôs-se a caminhar, descendo os degraus. Seus passos ecoavam pela sala vazia, quase em um tom ameaçador, até que ele passou por seu irmão, tocando-lhe o ombro.

— Sabe, Delilian, tenho a leve impressão de que aquele demônio não irá matar os garotos — Sua voz transparecia confiança, como se realmente soubesse disso. — Ele buscará maneiras de aumentar seu poder, e o que tem todas as respostas, inclusive de como aumentar o poder, Delilian?

O mago esbugalhou os olhos, quase recuando. Se fosse o que ele estava imaginando, seria uma loucura, significaria…

— Você está sugerindo trabalhar com um primordial para encontrar o Equitiliun? — Era loucura pensar em colaborar com um ser tão poderoso, tão maléfico; bastaria um movimento em falso e os dois estariam mortos. 

— Você sabe que o Equitiliun desaparece e reaparece em lugares aleatórios. — Ele começou a avançar, levando a taça à boca mais uma vez, saboreando o líquido vermelho. Ao baixar a taça, passou a língua pelos lábios. — Realmente delicioso... Onde eu estava? Ah, acontece que ele deixa rastros, e como contém informações de maldade e caos, um demônio poderoso pode senti-lo.

Dalian dirigia-se às portas da sala do trono, deslizando suavemente pelo tapete vermelho enquanto suas roupas azuis resplandeciam ao sol que entrava pelas janelas laterais. Seu irmão o observava, se perguntando no que ele havia se tornado, o que o pacto havia feito com ele.

— No final, usaremos uma deusa, um demônio e um primordial... — falou como se fosse algo trivial, como se esses seres fossem meras marionetes para ele. Em seguida, levou a taça aos lábios uma última vez, e os respingos adocicados entorpeceram seu paladar. — Preciso de mais vinho. Delilian?

Ao voltar a atenção para seu irmão, percebeu que ele estava paralisado, sem qualquer reação após aquele discurso. Usar um primordial? Era loucura, mas nada Delilian podia fazer; afinal, seu irmão se tornara parte da loucura, ele era a própria loucura. Ainda assim, o mago se perdia em pensamentos, alheio aos chamados de Dalian, até que tudo ao seu redor desembaçou e seus ouvidos voltaram a captar os sons do ambiente.

— Desculpe, Dalian, estava perdido em pensamentos...

— Cuidado para não se perder demais, irmãozinho — murmurou para si mesmo, enquanto jogava a taça ao chão e abria as portas da sala do trono. — Vamos, temos que vistoriar nosso domínio. Aliás, recebeu alguma carta de Estudenfel?

Delilian se aproximou, erguendo os olhos para o alto, refletindo, tentando lembrar. Mas pelo que recordava dos últimos dias, as únicas cartas que havia recebido eram de nobres insatisfeitos.

— Nenhuma... — O que era estranho para ele, já que Estudenfel precisava de apoio na sua guerra contra todo o norte. — Acha que recusaram a aliança?

— Talvez sim, talvez não — Suas mãos se cruzaram nas costas. — Nunca entenderei aquele povo; se fecham para tudo e todos, recusam-se a fazer alianças e definham sozinhos...

Após um suspiro resignado e um breve fechar de olhos, ele começou a avançar pelas portas.

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A alguns quilômetros da cidade de Estudenfel, Alaric e seu grupo avançavam sem sequer olhar para trás, deixando para trás Nadine, que se recusara a participar dessa loucura de vingança. Ninguém a julgou; na verdade, ninguém sequer abriu a boca. Eles simplesmente caminhavam com determinação, sem proferir uma única palavra.

O clima estava tenso, com Alaric e Gideon à frente, de olhares fixos e semblantes pesados, como se carregassem o peso do mundo. Mas, no fim, carregavam o peso da vida de seu avô.

"Onde vocês estão!?" Alaric tinha certeza de que Erne e Dorni estavam entre os soldados que atacariam Lidenfel, recuando pela floresta, pelo caminho que ele traçava. E então, como resposta, ouviu um estalar de galhos quebrando à frente, o que indicava a presença de humanos ou animais ali. 

— Gideon — sussurrou, para não chamar a atenção dos inimigos. — Eles estão logo adiante... pronto?

Como resposta, recebeu um leve aceno de cabeça, indicando que sim, ele estava pronto. Na verdade, aquele garoto era um dos mais preparados; sua alma ansiava por vingança, e as palavras de Alaric antes apenas intensificaram esse desejo.

Alaric, sem proferir uma palavra, invocou suas três espadas de mana divina, que resplandeciam em dourado, contrastando com os pinheiros, folhas e arbustos ao redor. Com um gesto, todos se abaixaram e avançaram juntos, caminhando agachados e tentando ao máximo não fazer barulho, passando entre alguns arbustos até avistarem os dois inimigos, que pareciam tranquilos.

— Como sobrevivemos, mestres? — Dorni recordava do momento em que Bleu desferiu aquele golpe que cortou todos ao meio, mas por algum motivo ele e Erne conseguiram sair ilesos. — Mestre!

Erne não respondia, pois em sua mente ecoavam os rostos daqueles que foram mortos, como se fossem nada, simplesmente pelo capricho de um demônio. As cenas de tripas, órgãos espalhados ao redor, e o sangue chegando aos seus pés. Amigos, homens e mulheres fiéis, não um, nem dois, mas mais de mil soldados mortos com um simples movimento da katana.

"Como poderei informar as famílias?" Essa era sua verdadeira preocupação, enquanto sua mente era invadida pelas imagens dos familiares em pranto, de joelhos no chão, numa noite de melancolia.

— Dorni... eu- — Com todo o instinto construído ao longo de sua vida de lutas, seu corpo se jogou para o lado e seus olhos se fixaram apenas no brilho dourado da espada de luz, que passou onde ele deveria estar. — Dorni! Em guarda!

Dorni obedeceu, sacando sua espada e encarando com firmeza o local de onde veio o ataque. Seus olhos puderam observar os irmãos emergindo dos arbustos, com feições tão terríveis quanto as de uma besta.

— Aldebaram, Astrid — começou Alaric, já agarrando uma de suas espadas. — Esta luta é nossa, por favor, não se intrometam.

O guerreiro e a dragonoide não hesitaram; deram alguns passos para trás e se apoiaram nas árvores. Astrid juntou as mãos nervosamente, rezando para que Gideon saísse vivo e inteiro.

Assim, os irmãos ficaram lado a lado. Gideon deslizou a mão pelo cabo da Escolion, seus dedos o envolveram e com firmeza a puxaram. A espada começou a sair da bainha, revelando sua lâmina prateada perfeita.

— Vocês irão pagar pelo que fizeram — Ao terminar de sacá-la, assumiu posição de combate.

— O que fizemos? — indagou Erne, invocando sua lança sem hesitar.

— Não se faça de idiota… — Alaric o olhava sério, sem expressar sarcasmo, mostrando-se realmente irado. — Mas você irá morrer de qualquer maneira.

Alaric não esperou resposta; ele não precisava disso, apenas do sangue daquele desgraçado em sua lâmina. Gideon acompanhou o ritmo e juntos saltaram, pairando sobre Erne e Dorni.

A reação dos dois foi erguer suas respectivas armas para bloquear o golpe. No entanto, enquanto Erne conseguiu conter o ataque de Alaric, Dorni fraquejou ao receber o impacto, dando a oportunidade para Gideon desferir um chute em seu estômago, fazendo-o voar longe e colidir com uma árvore.

Argh… — Suas costas pareciam divididas ao meio, as folhas dançavam pelo ar até pousarem sobre ele. No entanto, não havia tempo para lamentações; ao desviar o olhar para Gideon, viu-o avançando em sua direção, com ódio. — Merda!

— Dorni! — Erne desviou sua atenção para seu pupilo ao vê-lo receber o golpe e ficar indefeso. Sua concentração caiu, permitindo que Alaric facilmente cruzasse suas defesas e, com um murro poderoso, o lançasse para longe. — Argh!

Contrariando as expectativas de todos, Alaric não fez nenhuma piada sarcástica sobre a falta de atenção do general; simplesmente continuou a avançar. 

Gideon alcançou Dorni, que se recuperou rapidamente, preparando-se para o golpe horizontal do jovem. Dorni defendeu-se com a lâmina apontada para baixo, enquanto o fio da Escolion roçava o fio de sua espada, faiscas voavam descontroladas e um tinir estridente ecooava.

Ao terminar de passar toda sua lâmina Gideon já preprapava para lançar outro golpe, mas Dorni se adiantou. Aproveitando que sua lâmina estava direcionada para baixo, realizou um movimento ascendente, que acertou o peito do jovem. Ao sentir o toque gelado do corte, Gideon recuou sem hesitar.

Argh… — Sua espada baixou, sua respiração descontrolada ecoava na floresta. Com mãos trêmulas, ele tocou o ferimento, que embora sangrasse, não era profundo. — Seu merdinha…

Enquanto isso, Alaric avançou até Erne, que se levantou prontamente com a lança em mãos. O golpe frontal do jovem foi rápido e certeiro, mas o general reagiu com agilidade, redirecionando a lâmina e desequilibrando Alaric no processo.

Com dois passos involuntários para frente, Alaric sentiu a ponta da lança próxima de seu estômago. Seus olhos se arregalaram em choque enquanto chamava suas outras espadas, que avançaram impiedosamente contra o corpo de Erne.

A única reação do general foi desviar para o lado, observando as espadas se cravarem no chão.

— Te peguei — anunciou o jovem, aproveitando o momento em que o general estava no ar, indefeso. Com um gesto rápido, abriu os dedos e sua espada de luz, como uma flecha, disparou de sua palma com a velocidade de um projétil de canhão.

— Merda! — O corpo de Erne parecia flutuar no ar, o tempo parecia desacelerar enquanto ele se via incapaz de se proteger do ataque iminente. Desviando seu olhar para os olhos do rapaz, ele viu apenas uma íris inexpressiva, de alguém que já não se importava.

— Mestre! — Dorni testemunhou horrorizado quando a espada de luz, sem piedade, encontrou o corpo do general, penetrando seu estômago e atravessando-o, rasgando pele, carne e órgãos até emergir pelas costas. — Desgraçado!!

Erne foi violentamente deslocado no ar, seu corpo arremessado até sua coluna colidir com um imponente pinheiro, antes de cair inerte e sem qualquer reação no chão, como uma marionete sem cordas.

— Não deveria tirar os olhos dos seus inimigos — alertou Gideon, cujo semblante sério e olhos ardentes, revelavam a ira de um escolhido que não merecia mais o título. Assim como Alaric, ele avançou com um golpe frontal, a Escolion brilhou ao entrar em contato com a luz solar. A lâmina prateada, imaculada até então, agora se tingia de vermelho com o sangue do jovem, que tremia sua pupilas ao perceber e sentir o golpe certeiro. — Isso lhe custa a vida.

Gideon, sem demonstrar qualquer compaixão, pelo contrário, mantendo uma postura altiva e impiedosa, puxou a lâmina do ferimento do pobre rapaz, cujo corpo derramava um rio de sangue a cada centímetro a mais que a espada se afastava.

Dorni curvou-se, o corpo já havia sucumbia à dor lancinante, cada músculo tenso, a expressão toda contorcida em agonia. Seus passos recuaram em hesitação enquanto ele lutava para suportar o tormento.

Sua mão soltou a espada, deixando-a cair ao chão, e deslizou até o ferimento, seus gemidos eram abafados apenas pela pura força de vontade que o mantinha consciente, e em meio ao recuou hesitante, suas costas encontraram-se com um pinheiro, suas pernas fraquejaram o fazendo cair encostado na árvore.

— Dorni… Cof.. Cof… — O sangue entorpecia seu paladar, escapando em tosses dolorosas. — Não o matem… 

Apesar da dor descomunal que percorria seu corpo e o dominava, o general ainda preocupava-se com seu pupilo.

— Deveria ter pensado nisso antes… — Alaric curvou-se, aproximando seu rosto do general. Seus olhos brilhavam com uma mistura de fúria e dor. — De invocar um demônio, resultando na morte de nosso avô. 

O semblante de Alaric estava carregado de ressentimento, cada palavra impregnada com o peso de uma história mal contada, deixando Erne confuso ao ouvir.

— Você está... fora de si? — Seu olhar ergueu-se para o céu, e então ele compreendeu a origem de todo ódio e amargura, mas surgiram dúvidas em sua mente sobre quem teria invocado aquele demônio. As respostas logo vieram à tona. — Foi... Dalian... Ele estava agindo… de forma suspeita...

No mesmo instante, Alaric sentiu um leve tremor em suas pernas, sua expressão foi transformando-se em choque. Como ele não havia pensado naquele maldito antes? Dalian fora um dos primeiros a invocar um demônio que Alaric testemunhara, alguém que era capaz de tamanha maldade.

— Ele está dizendo a verdade, Alaric?? — Gideon estava incrédulo; sua convicção desmoronou como uma pedra caindo do céu. Seus olhos voltaram-se para Dorni, que se despedia da vida, e ele se questionava sobre suas próprias ações, o que ele havia feito!? — Merda! Alaric, não podemos deixá-los morrer!

Ha... ha... — Erne forçou uma tosse forte, limpando o sangue da garganta para falar de forma mais clara por algum tempo. — Minha vida já está chegando ao fim... Mas ele, deixe Dorni viver…

Dorni, com a visão turva e corpo exausto, mais próximo da morte do que da vida, ouviu o pedido desesperado. Reunindo as últimas reservas de energia, ele esticou a mão em direção a Erne, tentando alcançar seu mestre, aquele que representava tudo o que tinha de mais querido, aquele que fez a palavra família ganhar qualquer sentido, ganhar significado.

— Mestre… — Foi a primeira vez que Erne sentiu o verdadeiro peso daquela palavra, embargada pela voz arrastada e chorosa de Dorni. — Não me deixe…

A cena era melancólica, torturante, a atmosfera tornou-se densa, pesada de se suportar, provocando uma dor profunda que ecoava na alma de Gideon. Quando esteve pronto para ceifar uma vida, cometeu o maior erro de sua curta existência. Sua única reação foi dar alguns passos hesitantes para trás, até encontrar os braços acolhedores de Astrid, que tentava acalmá-lo, mas o choque o consumia.

— Eu vou ajudar! — Alaric correu em direção a Dorni, estendendo a palma da mão em direção ao ferimento. A energia divina emanou de sua nuca, serpenteando pelo braço até chegar ao ferimento e começar a tratá-lo. — Não será o suficiente para salvar sua vida, mas te dará tempo para procurar um tratamento adequado.

Aldebaram observava atentamente, e um sorriso suave surgiu em seu rosto. No fim, mesmo consumido pelo ódio, aquele garoto não perdia a bondade que sempre esteve com ele.

Dorni começou a sentir um frescor na região do corte, suas forças retornaram gradualmente, seus olhos recuperaram o foco, até que, com um sobressalto, ele se ergueu em pé.

Urgh! — Virou-se e apoiou o antebraço no tronco da árvore, vomitando, efeito colateral da energia divina que, mesmo quando usada para curar, causava náuseas. Por isso, era reservada para ser utilizada apenas no invocador, que era o próprio Alaric. — Vocês! Eu vou!

Quando ele girou para atacar aqueles que feriram Erne, sentiu o calor, viu a luz dourada e percebeu o fio da lâmina de Alaric em seu pescoço.

— Você pode ser inocente, mas não hesitarei em te matar se representar perigo — Em um tom firme, sem qualquer fraqueza, Alaric o encarava seriamente.

Dorni só pôde erguer as mãos em sinal de rendição.

— Fuja, Dorni… vá! — gritou Erne com o que lhe restava de forças, usando toda convicção que tinha para seu pupilo ouvisse e obedecesse, para que ele vivesse.

— Não sem você! Você é tudo que tenho! Você… você…

— Dorni, sem você, o sobrenome de nossa família Dorkvir… vai sumir… — Foi cruel, o general sabia disso, mas era o que lhe restava, era o que salvaria a vida de seu pupilo… Não, o general já não o considerava seu pupilo, ele era… — Vai, meu filho, fuja e torne-se forte, torne-se alguém melhor que eu…

Ao ouvir as palavras, Dorni não teve escolha senão aceitar. Como poderia recusar? O sobrenome era tudo o que restaria para ele. Ás lágrimas que antes estavam contidas começaram a escorrer por suas bochechas.

— Pai… — Foi a primeira vez que aquele jovem sentiu o peso e conforto de ter um pai, e também a primeira vez que teve que abandoná-lo. — Eu...

— Está tudo bem, Dorni. Vá.

Sem mais palavras, Dorni virou-se e começou a caminhar, ainda com dificuldade. Mas uma coisa não encontrava dificuldade em sua mente: o desejo de vingança contra aqueles que fizeram isso. Eles iriam pagar, iriam pagar com o próprio sangue. 

O jovem nasceu quatros vezes nessa vida: quando respirou pela primeira vez, abandonado por aquela que ele chamaria de mãe; quando Erne o encontrou; quando recebeu seu sobrenome; e neste dia, quando perdeu seu pai. 

Neste momento, Dorni Dorkvir renasceu, e uma nova forma de maldade, fome de poder, ambição e sede de vingança emergiu dentro dele. Seus olhos, escuros como a noite, foram iluminados pelas chamas ardentes do ódio. 

Com determinação, limpou as lágrimas dos olhos, assumindo uma expressão feroz como de um demônio em fúria, cada canto do rosto franziu.

— Nos encontraremos novamente, isso eu juro... Gideon, Alaric — murmurou para si mesmo, que os céus, a terra e o próprio inferno testemunhassem e gravassem suas palavras, para que jamais fossem esquecidas.



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