Volume 1

Capítulo 7: Amon

— Deus? Não faço ideia do que sou, mas por agora, sou simplesmente Alaric.

Ao dizer isso retraiu as duas espadas, que estavam cravadas nos peitos dos soldados. Elas saíram pingando sangue, pedaços dos corações ainda podiam ser vistos nelas. 

Alaric começou a correr pelo chão terroso em direção aos três restantes, sem expressão alguma. Passou ao lado do primeiro e balançou sua espada levemente da direita para a esquerda, o que, já foi o suficiente para partir o homem em dois.

Os soldados entram em formação defensiva, mas não era o suficiente, Alaric já havia aparecido por detrás deles. Em um movimento girando o corpo, fez a sua espada se aproximar do pescoço do homem, o tempo desacelerou subitamente.

— Por favor… não — implorava o soldado enquanto sentia a lâmina a aproximar-se.

A vida do soldado passava diante de seus olhos. Os rostos de seus familiares e entes queridos que tinham ficado no reino de Re'Loyal surgiam em sua mente. Ele estava ali por necessidade, precisando de dinheiro para comprar a liberdade de seus filhos, agora escravizados por não poderem pagar os impostos exorbitantes cobrados por Re'Loyal.

À medida que a espada entrava em contato com a pele, ele sentia o calor emitido pela lâmina mortal. Esta atravessava a cartilagem, os ossos, seguindo seu curso até o outro lado. Em segundos, duas cabeças rolavam, e Alaric se tornava um matador cada vez mais frio e metódico.

Soldados de ambos os lados estavam atônitos com o que presenciavam: Alaric passando como uma flecha, dilacerando tudo à sua frente.

A cor de suas roupas se igualava à de seus cabelos, tingidas de vermelho. Re'Loyal já havia perdido cerca de dez soldados para Alaric, o que era inconcebível.

— Irmão… — Gideon via seu irmão se tornar um assassino, o que o entristecia e amargurava sua alma. Todo esse caos e essa visão deturpada da guerra, com seu irmão matando sem pudor, formaram um turbilhão na mente do jovem, levando-o a uma crise. O ar começava a faltar, seu coração pulsava como nunca, suas pernas cederam, fazendo-o cair de joelhos no chão. Sua visão se tornou opaca, sem um pingo de luz dentro. O jovem sucumbiu ao desespero.

Um soldado avistando o jovem ajoelhado no chão totalmente indefeso, decidiu acabar com a vida do próprio, ele ergueu a espada até o mais alto que seus braços alcançavam. E os soltou, a espada viajava a uma velocidade alta, com um único alvo: o pescoço de Gideon.

— Gi-gideon! — O jovem não sentiu nada, nenhuma dor; o toque gélido da lâmina não percorreu sua pele. Ele apenas ouviu o grito e, ao levantar o olhar, viu a jovem Astrid à sua frente, protegendo-o com o corpo.

— Vo-você está bem? — perguntou ela, preocupada.

— S- cuidado!!

O soldado não compreendia o que havia ocorrido, mas ainda desejava sangue. Não precisava ser o pescoço de Gideon; podia ser a jovem garota. Porém, ao acertar o fio de sua lâmina na pele dela, algo estranho aconteceu. A arma não a penetrou; na verdade, parou. O soldado estranhou, até que percebeu um padrão estranho na pele da garota, próximo aos seus olhos.

— Escamas!? — exclamou o soldado. — Você é uma Dragonoide!?

— Astrid!!!! — Gideon não percebeu o que havia feito, mas com seu berro odioso... Algo foi invocado ao campo de batalha.

Em um piscar de olhos, sua mão direita, antes vazia, foi envolvida por uma lâmina. Esta era diferente de todas as outras, com um padrão em forma de cobra entalhado na lâmina prateada. Seu cabo simples estava revestido com couro, e a guarda tinha o formato de uma cruz.

A própria atravessou a cabeça do soldado, sem que Gideon notasse.

E naquele momento, o jovem havia se tornado um assassino.

Aaah! Você me paga, Dolbrian! — gritou Dalian, seu tom era repleto de ódio e rancor.

Ele retornou a Dolbrian em um voo furioso, tão intenso que até os netos do ancião podiam sentir sua ira. Ao perceberem isso, cessaram todas as suas atividades e dirigiram seus olhares para Dalian.

Seu ódio era tão intenso que atraiu a atenção de algo ou alguém que não encontrava-se no campo sangrento.

Do chão ensanguentado emergiu um círculo mágico vermelho, engolindo os corpos sem vida. No centro do círculo, uma porta materializou-se, abrindo caminho para a chegada de uma figura demoníaca. Sobre sua cabeça dois grandes chifres se projetavam para frente, sua pele era vermelha e os olhos pretos. Ele vestia uma túnica negra sobre o corpo esguio.

Era um demônio.

Alaric lembrou de algo: "Basta você chamar atenção de alguma existência que seja capaz de atribuir uma classe. Seres que fazem isso são raros." Essas eram as palavras de Galdric.

"Se seres poderosos podem atribuir classes, também devem poder fazer outras coisas" pensou Alaric e..!

O demônio estava na sua frente o encarando.

— Ora, ora, temos algo que andou interagindo com deuses por aqui...  — ele falou isso enquanto olhava nos olhos de Alaric. O brilho dos olhos do jovem, perdiam-se na escuridão dos olhos do demônio.

Alaric e os demais foram privados do direito de mover-se, como se o mundo inteiro tivesse sido congelado em suspensão. A aura emanada por aquele ser era verdadeiramente demoníaca.

— Bom, você está com ódio né…!? Oh, você deve querer poder, não é? — dizia o demônio que tinha se teleportado à frente de Dalian.

— Sim, eu quero — respondeu Dalian, ao demônio 

— Claro que quer, esse velhote não pode lhe atrapalhar, né?

— Não pode.

Ao ouvir essas palavras o demônio invocou outro círculo, Dalian foi puxado para ele. Dentro do círculo algo o banhou. — Ó, Pandora, mãe dos demônios e senhora do inferno. Banhe este ser, em meu nome! Nome de seu filho, Amon!

Hahaha! só cuidado para não fazer um estrago muito grande em… Hihihi! até mais… — com essas palavras ele desapareceu.

Após isso, Dalian emitia uma aura diferente.

— Agora eu tenho poder... Sim... Eu tenho, e todo este local irá sentir as labaredas infernais, que farei questão de proporcionar...

E assim ele fez, e todo o local pegava fogo, um fogo que incinerava qualquer um que se aproximasse.

"Ele mudou a especialidade de sua magia? Antes era invocação, agora é magia de fogo? Infernal? Demoníaca?" se questiona Dolbrian.

Dolbrian voa em direção a Dalian.

Alaric como uma flecha aparece próximo a Delilian, que havia pousado sobre cadáveres uns instantes antes.

— Você aí! É um dos causadores disso tudo e irá pagar! — com essas palavras, Alaric avançou.

— Morfocampo! — A magia de Delilian se transformava, adquirindo pontas afiadas.

Delilian era uma mago ou mais especificamente arcano, com especialidade em magias de proteção, entre várias habilidades a de criar barreiras que o envolviam era mais poderosa, essas barreiras tinham a capacidade de mudar de forma, bastava ele ativar sua magia.

Alaric ia a uma velocidade absurda, ao perceber as pontas. Ele tentava frear antes de se chocar com a barreira, mas parecia que não iria conseguir. Seus pés deslizavam pela terra do local, escorregadia pelo sangue dos mortos. O que o impedia de parar, quando próximo a se espetar inteiro. Gideon apareceu, o segurando.

— irmão! — gritou Alaric feliz, mas algo em Gideon estava diferente.

— Deixe que eu cuido dele, Alaric.

— Mas! 

— Me deixe cuidar disso — pediu novamente Gideon. Alaric decidiu obedecer e fornecer ajuda aos soldados.

— Você! — Gideon apontou para Delilian. — Você é o causador disso tudo! 

Gideon partiu em direção ao mago. Que de novo, ativou sua magia de barreira modificada, mas algo estranho aconteceu, Gideon não parou. Apenas colocou a espada apontada a sua frente, e ao toque da espada, contra a barreira.

Simplesmente a desfez.

O mago não acreditava no que via, só existia uma espada capaz de afetar a magia.

— Escolion!? Como essa espada está com você? — questionou Delilian.

— Não importa. Me responda você, o porquê de estar fazendo tudo isso!? — Gideon estava com ódio, mas mesmo assim seu lado bondoso tentava entender, Delilian.

— Tenho meus motivos, garoto, você não iria entender — respondeu Delilian a Gideon, enquanto tentava achar uma brecha para fugir. Já que ele era um mago defensivo, sem muita chance de atacar.

"Cadê meu irmão?" se questionava Delilian.

Dalian, estava em uma luta intensa contra Dolbrian, o ancião deu outro soco poderoso com sua mão direita no mago. Que aceitou o golpe parado, seu corpo nem se mexeu, ele virou os olhos encarando Dolbrian. Enquanto, o mesmo ainda estava com punho na cara do mago.

— Manto Infernal. — Seu corpo ficou envolto em chamas. As chamas pareciam se moldar a seu corpo, formando uma armadura, e do elmo infernal na sua cabeça, dois chifres emergiram.

Dolbrian sentiu sua mão queimar e recuou, enquanto ainda tentava pensar em um modo de vencer, não percebeu a aproximação perigosa de Dalian. Quando se deu conta, só viu o rastro de fogo infernal avançando em sua direção. Antes que pudesse reagir, algo o atravessou, era a mão de Dalian que abriu um buraco em seu peito.

A imponente lua no céu iluminava o corpo ensanguentado do ancião que despencava em direção ao solo.

O mago partiu em direção a seu irmão. Alaric, ao observar o corpo de seu avô caindo dos céus, começou a correr para pelo menos amortecer sua queda.

Três soldados tentaram bloquear seu caminho, mas Alaric estava determinado a alcançar seu avô. Suas espadas agiram por vontade própria, voando ao redor do corpo do jovem. Agora, elas se lançavam em direção aos soldados, que não tiveram tempo para reagir.

A derradeira visão que tiveram foi a de um jovem deslizando como um deus ou um demônio pelo campo.

— Irmão, está com problemas para lidar com esse garoto? — perguntou Dalian a Delilian

O mago apontou a palma de sua mão a Gideon e lançou bolas de fogo infernal. O jovem ao perceber isso começou a correr em direção às bolas de fogo, a primeira chegou até Gideon. Que apenas ergueu sua espada, um brilho intenso foi emitido dela. A bola de fogo foi desfeita em pleno ar.

As próximas chegaram por seus flancos, em um movimento rápido ele balançou a espada da esquerda para direita, cortando as magias ao meio.

Dalian, espantou-se de início, mas logo deu um sorriso de confiança. 

— Se acha que será capaz de fazer algo, olhe para os lados, veja o mar de corpos e preste bastante atenção… — enquanto falava isso, ele preparava algo.

— O que? — Gideon olhou para o lado, viu pilhas e mais pilhas de corpos e ao meio deles; seu avô nos braços de Alaric, isso o distraiu.

Haha! idiota! — ao dizer isso, um círculo formou-se embaixo de Gideon ainda no ar.

Novamente, o tempo parecia desacelerar. O mago ria enquanto Gideon entrava em desespero, seus olhos se arregalaram ao ver sua vida se desenrolar diante dele desde o início. Observando Alaric com uma expressão angustiada, ele lembrou-se do encontro deles nos esgotos, da batalha contra o rei dos ratos e da conversa com a deusa. Tudo isso passou em um turbilhão pela mente de Gideon.

"Acho que aqui que minha vida se acaba", pensou ele em lamento.

Alaric observava, imóvel, o desenrolar dos eventos, segurando o corpo quase sem vida de seu avô nos braços. Seus gritos ecoavam pelo campo, mas ele se sentia impotente, incapaz de agir. Sua grande agilidade se mostrava inútil, pois mesmo com ela não conseguiria chegar a tempo. No fim, seus olhos seriam forçados a testemunhar a morte de seu irmão.

Como um anjo salvador dos abençoados, um ser majestoso cruzou os céus com uma rapidez impressionante. Em um piscar de olhos, alcançou Gideon e, num instante, o tempo voltou a correr normalmente.

— Um dragão!! — gritava os soldados.

— E-eu não vou deixar que você morra! — disse Astrid, em uma forma majestosa.

— Astrid!? Como? — questionava Gideon, até olhar para baixo e ver todo caos. — Quer saber, não precisa responder, só vamos fugir daqui. Pegue Alaric com meu avô.

— Sim! — respondeu firmemente.

Em milésimos ela passou e pegou Alaric com o avô em seu colo ainda. Eles fugiram dali com um gosto amargo de derrota, iriam para longe, mas com uma promessa: iriam voltar.

— Isso! Fujam seus covardes hahaha! — gritava e caçoava Dalian. — Sejam bonzinhos e não voltem hahah!

A cidade Reven, do Reino Aldemere Dominium, acabava de cair. Isso iria ter consequências muito graves.

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