Volume 1

Capítulo 6: Sou Simplesmente Alaric

Um cavaleiro, imponente em seu cavalo e empunhando uma enorme bandeira, galgou à frente do exército. Sua voz trovejou, ecoando pelo campo de batalha:

— Cidadãos da Reven! Em nome do reino de Re'Loyal, declaramos guerra ao reino de Aldemere! Pois abrigam em suas ruas e vielas nossos inimigos mais perigosos, um ato imperdoável! Entreguem-se sem lutar e a promessa de paz vos será concedida. Nem sofrimento, nem escravidão os aguardam!

Aproveitando a comoção, a garota demônio se esgueirou por entre as fileiras, fugindo da iminência do conflito.

Aldemere oferecia refúgio aos soldados da revolução Espinhard, acendendo a fúria de Re'Loyal. Mais do que justiça, a cobiça por seus ricos recursos naturais alimentava a ambição do reino invasor.

Re'Loyal, junto a outros dez países, recusava-se a assinar o tratado de igualdade, perpetuando a abominação da escravidão em um mundo de raças diversas.

Dois vultos emergiram das muralhas, os irmãos magos Dalian e Delilian. Traidores infiltrados, seus sorrisos malignos prenunciavam o caos.

— Meu irmão e eu declaramos nossa traição!

Com um gesto rápido, Dalian ergueu as mãos. Espadas desembainhadas reluziram na luz do dia, revelando a presença de outros conspiradores entre os soldados de Aldemere.

— O que significa isso, senhor? — questionou um soldado, confuso.

Dalian, com um sorriso cruel, cravou sua espada no peito do soldado:

— Ora, não vê? Estou do lado de Re'Loyal!

Delilian, com voz gélida, ordenou:

— Abram os portões!

Os irmãos se viraram e seus olhos se fixaram em dois jovens. Uma lembrança acendeu em suas mentes, os rostos envelhecidos daqueles garotos.

— É quem eu estou pensando? — perguntou Dalian ao irmão.

Delilian confirmou com um aceno de cabeça. Uma aura estranha emanava dos jovens, despertando a desconfiança dos magos. Encontros repetidos não podiam ser mera coincidência.

Enquanto os irmãos avançavam sobre os garotos, os portões se abriam, desencadeando o inferno na terra. Soldados de Re'Loyal invadiram a cidade como uma horda impiedosa.

Morte e destruição reinavam. O chão, antes marrom pela terra, agora se tingia de vermelho com o sangue dos homens. Cabeças rolavam, corpos eram brutalmente mutilados. O desespero tomava conta dos defensores, enquanto os soldados de Re'Loyal riam sadicamente, embriagados pelo massacre.

— Não recuem!! — gritava desesperado o comandante de pelotão. — Mantenham a formação!! 

Mas não adiantava, os soldados estavam apavorados e começaram a tentar fugir. O que ocasionou em suas mortes impiedosas com flechas e espadas nas suas costas.

Um pobre jovem corria por sua vida. O garoto havia acabado de ingressar no exército e estava fazendo um teste na fronteira para finalmente realizar seu sonho, e não deixar mais seus pais passarem fome. Contudo, seus sonhos desmoronaram, e sua vida estava prestes a ser retirada por um homem impiedoso a cavalo.

— Vamos, corra! Hahaha! — Ele ria enquanto o jovem tentava correr, pedindo por misericórdia.

— Por favor, eu só queria dar um futuro digno aos meus pais... — O jovem chorava. Suas pernas perdiam as forças, não suportando mais correr. Suas narinas tragavam o odor pútrido do sangue de seus colegas mortos ao seu redor.

— Não se preocupe, eles terão um futuro digno.

— Sério!? — perguntou ele, correndo, uma ponta de esperança surgindo em meio ao desespero. No entanto, essa esperança foi cruelmente destruída pelas próximas palavras de seu perseguidor:

— Sério! No campo de escravos, hahaha! — debochou. Até que finalmente conseguiu aproximar-se do pobre jovem. Com uma estocada de lança, espetou as pernas já cansadas do jovem, que sucumbiu à dor e tombou ao solo.

Os ecos agonizantes de dor do jovem vagavam pelo campo de batalha, mas eram abafados por centenas de outros gritos e berros de seus colegas. Na mente do garoto, um alívio em meio à dor alucinante e ao pavor que cessou por instantes, pois as vozes gentis de seus pais o confortavam, provocando lágrimas e um sorriso genuíno. Ele já não sentia nada; o soldado Loyano cortara seus braços, torturando-o, mas o jovem era envolvido pelo calor maternal. No fim, ele já sabia qual seria seu destino e, com um orgulho digno de um deus, não querendo ser morto pelas mãos de um inimigo tão cruel, realizou o ato mais honroso para ele naquele momento: mordeu a própria língua para se matar.

— Não seremos mortos por porcos Loyanos!! 

Os homens e mulheres, imersos em seu desalento e desespero, testemunhavam seres sem alma ceifando vidas como se fossem insignificantes. Observaram o ato corajoso do jovem com intensidade, incendiando uma chama ardente em seus corações. Aos gritos, repetiram o gesto do pobre rapaz, e um por um, começaram a morder as próprias línguas, pondo assim um fim ao seu sofrimento na terra.

Gideon entrou em estado de choque ao testemunhar tais atos, pois nunca tinha presenciado a realidade da guerra de forma tão direta. Por outro lado, Alaric permanecia imperturbável, tudo o que havia experimentado nos últimos dias o havia preparado para enfrentar visões como essa.

— Gi-Gideon, o que está acontecendo!?

Astrid vomitava em pranto, agarrando-se à calça do jovem com firmeza, suas mãos tremendo enquanto implorava para que fugissem dali.

O garoto concordou com a sugestão, e quando se preparavam para escapar, Dalian e Delilian pousaram à frente deles.

— Vocês dois são inte...

Antes de terminar a frase, Alaric já havia partido para o ataque, desferindo um soco monstruoso em seu estômago, fazendo com que Dalian vomitasse pelo impacto.

— Seres Intocáveis! — ao proferir estas palavras, Delilian conjurou uma barreira intransponível, envolvendo a si mesmo e seu irmão em um escudo mágico impenetrável.

Alaric, tomado pela fúria, investiu contra a barreira, golpeando-a com seus punhos cerrados. No entanto, seus esforços foram em vão, pois seus golpes não conseguiram sequer arranhar a superfície da proteção mágica.

Delilian, ainda abalado pelo soco que recebera, recompôs-se e, com um tom de voz carregado de determinação, invocou uma poderosa magia:

— Golem de quarto nível! Venha, Golem lutador!

Ao pronunciar estas palavras, um tremor percorreu o solo e, do meio da terra, ergueu-se um monstro colossal feito de pedra. Sua fisionomia rude lembrava a de um macaco, e ele se movia com a agilidade e a ferocidade de um animal selvagem.

Os dois magos, agora protegidos pelo Golem, elevaram-se pelos ares, observando a cena do alto.

O Golem lutador, guiado por Delilian, partiu em direção a Alaric, que representava a maior ameaça. Com um golpe devastador, o monstro de pedra acertou um soco em cheio no rosto do jovem, deixando-o inconsciente no chão.

Com Alaric prostrado e indefeso, o Golem voltou sua atenção para Gideon, que se encontrava em pânico. Ele nunca havia lutado em sua vida, e sua única experiência em combate se limitava ao confronto com o rei dos ratos, ocasião em que a deusa interveio para salvá-lo. Agora, sem a proteção divina, o jovem se sentia completamente perdido e sem saber o que fazer.

Em um gesto de proteção, posicionou-se à frente de Astrid, erguendo o peito e preparando-se para o que parecia ser o seu fim. O Golem, com seus punhos implacáveis de pedra, avançou contra ele, que fechou os olhos, aguardando o golpe fatal que não veio...

Uma leve brisa soprou em seu rosto. Abrindo os olhos em meio à poeira levantada, Gideon viu um homem de cabelos grisalhos e barba grande em sua frente. 

— Vovô!? — exclamou, incrédulo. Como ele havia aparecido ali? E mais importante: como ele havia parado o golpe do Golem?

— Sem tempo para se impressionar, meu neto — disse o avô. — Vá ajudar seu irmão.

As ordens eram claras, e ele obedeceu.

— Dolbrian!? — Dalian ficou surpreso.

— Como? É possível isso? O mais poderoso soldado que Aldemere já teve, ainda está vivo? — questionou Delilian, incrédulo.

"Como isso é possível? Ele tinha sido dado como morto, depois de sua batalha contra Rá, um deus encarnado na terra. Como ele está aqui e, mais importante, qual a relação dele com os garotos? Eu ouvi neto, certo?" pensava Delilian, antes de ser interrompido pelo Golem voando em sua direção.

Dolbrian voou para cima dos irmãos a uma velocidade extrema.

— Agitação Incomum... — ao dizer, desfez a barreira dos dois.

— Como!? Minha magia de barreira é de sexto nível! Só se... não! É loucura! Se for assim, ele está no nível dos magos que mantém a barreira dos deuses em Alexandria.

— É impossível um mortal comum ter magia de tal nível.

Haha! Tinha me esquecido de como isso é bom — dizia Dolbrian, que apareceu por trás de Dalian como um vulto.

Ele desferiu um soco que ecoou por todo o campo de batalha, acertando o rosto de Dalian e quebrando seu dente frontal. O mago foi arremessado para o meio do caos.

Gideon já estava com Alaric em mãos, que acordou e observou todo caos ocorrendo, ao ver seu avô, questionou seu irmão. Que o explicou, o que havia entendido até aquele momento.

—Vo-vocês tem que aju…dar eles — pediu Astrid, apontando para os soldados sendo massacrados.

— Está maluca? não vamos nos colocar em perigo!

— Irmão tolo, você não era o "Escolhido," vejo que virou o "Covarde". — Alaric já estava em pé e se preparando para algo.

— Vejo que já está melhor Alaric, mas eu não sei lutar. — Gideon abaixou a cabeça. 

Alaric olhou para seu irmão e apenas disse:

— Aprenda, você é o "Escolhido" não é mesmo?

Ao dizer isso, deu um salto, salto esse que chegava a 10 metros de altura.

— Desde quando ele salta assim? — perguntou Gideon, surpreso.

Um soldado Loyanos estava pronto para matar um velho soldado. O mesmo iria se aposentar ainda esse mês, mas parece que seu descanso chegou mais cedo.

O velho soldado olhou para o céu e avistou uma figura em meio às enormes torres, sob o brilho da lua. Ele se questionou:

— Um anjo ou deus? — Dando um pequeno sorriso.

A figura que lembrava uma divindade, era Alaric. Que pousou em grande estilo atrás do soldado Loyano.

— Acham que podem escolher quem vive ou morre? Pois saibam que agora também posso — declarou Alaric, quebrando com firmeza o pescoço do soldado invasor. O som ressoou como um trovão, marcando a entrada de um novo participante na batalha.

Ele estendeu a mão para ajudar o velho soldado a se levantar. Logo, foram cercados por mais 5 soldados Loyanos. Não havia o que fazer. Bom, talvez havia.

— Espadas de luz, apareçam — logo as lâminas que ceifaram a vida seu mestre, apareceram novamente. Alaric tinha aprendido a invocá-las, graças às fatídicas memórias que ele tanto tentava esquecer.

Novamente seus olhos assumiram um tom branco fraco e adquiriram um leve brilho ou luminescência. Sempre que as invocava, essas mudanças as acompanhavam. Alaric também sentia um leve aumento de força e agilidade, junto com um poder de raciocínio aprimorado. Fazendo assim, ele pensar duas a três vezes mais rápido que um ser humano comum. Apesar de já estar sentindo o aumento de força há algum tempo. Graças a isso, havia dado o salto de 10 metros um pouco antes.

— Você é um deus? — questionou o velho soldado.

Alaric faz duas espadas voarem em direção aos soldados à sua frente, elas chegam como um raio, acertando em cheio seus corações; mortes instantâneas. Os três soldados que restaram ficaram com medo, sem entender o que se passava em suas frentes.

Usando seu mão esquerda, empunhou a última das três espadas que pairava ao seu lado com destreza, assumiu uma postura firme e proclamou com determinação: 

— Deus? Não faço ideia do que sou, mas por agora, sou simplesmente Alaric.

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