Volume 1

Capítulo 5: O Resgate

— Onde ele está!? Porque Gideon ainda não voltou pra casa!? — questionou Dolbrian, enquanto andava de um lado ao outro.

Estava escuro, a única luz era a fornecida pela lua e alguns postes, as ruas depois da ponte estavam vazias, havia poucos guardas patrulhando. Gideon e a garota desconhecida caminhavam em direção ao calabouço, que ficava próximo à fronteira com Re'Loyal. 

Gideon tomou a dianteira se esgueirando pelas ruas, a desconhecida seguiu o exemplo.

— Nem perguntei seu nome, qual seria? — sussurrou em dúvida para a garota, enquanto a olhava. Eles tinham andado por todo esse tempo sem dizer uma única palavra sequer.

Ela por um momento travou e abaixou sua cabeça, por algum motivo ela não conseguia olhar nos olhos de Gideon.

— Me- meu… nome é Astrid. —  gaguejou, entrelaçando os dedos.

Gideon se surpreendeu, este nome não era comum por aquela região, talvez ela não pertencesse ao centro do continente? Sem tempo para ficar pensando nisso. Eles continuam a se esgueirar.

Guardas passavam próximos com tochas em mãos, mas não os viram. Ao se aproximarem do calabouço, também chamado de prisão; ficaram atônitos com a vista a frente deles.

Erguendo-se majestosamente, o lugar exibia um colossal muro que se estendia ao longo de toda a fronteira com Re'Loyal, destacando-se com um portão de aço escuro, uma passagem única através da imponência da barreira. Construída com pedras massivas e imensas, cada estrutura presente no local emanava uma aura de solidez. Duas torres imponentes abrigavam gigantescos refletores mágicos, enquanto entre elas, uma estrutura menor, identificada como a prisão pelos relatos de Aldemere, abrigava os criminosos mais perigosos.

O chão era coberto por terra ou areia, conferindo uma precariedade surpreendente a um local que, apesar de sua imponência, parecia estar à beira do colapso.

"Droga como faremos para entrar, e ainda não ser vistos", pensou aflito, enquanto tentava procurar uma solução.

"Porque eu quis ajudá-lo? Porque eu o vi nas minhas visões? O que ele tem?", tudo isso tomava a mente de Astrid, enquanto ela estava encostada no muro.

— Astrid! Astrid!

Ela se assustou, mas era Gideon a chamando, fazendo sinais com a mão. Ele havia encontrado um jeito de entrar.

O mesmo apontou para uma passagem, pela sujeira e odor podre, deduziram que era saída de esgoto da prisão. Gideon tomou a frente sem medo, ele só pensava em uma coisa: salvar seu irmão.

— Ei…e-eu. — ela não conseguia terminar a frase.

— Você quis dizer alguma coisa? — perguntou Gideon, que tinha escutado um leve murmúrio atrás de si.

Ela ficou um pouco vermelha e olhou para baixo.

— Nã-não. 

Gideon apenas seguiu seu caminho, após alguns minutos de caminhada. Eles chegaram a um suposto ralo. Logo, acima havia dois guardas conversando.

— Tem uma movimentação estranha na fronteira — dizia o primeiro guarda preocupado.

— Sério? Não tinha percebido — falou o segundo guarda estranhando tais informações.

Gideon apenas ignorou tudo isso e continuou avançando. Estava determinado a encontrar seu irmão.

Em uma cela da prisão se encontrava um jovem acorrentado, parecia estar abatido e ao mesmo tempo com ódio.

— Eu não devia estar preso e, sim, morto — falou o jovem com a voz carregada de desespero, enquanto encarava as grades geladas da cela.

A cela era bem precária, chão de concreto coberto por feno e uma pequena janela que permitia a entrada da luz, pertencente à lua. Duas correntes estavam presas nas paredes de pedra, as correntes iam até os dois braços do rapaz. Ele estava sentado no chão.

Sua expressão era a de tristeza com um misto de ódio, só estava ele na cela. Um guarda estava na porta pronto para o matar, assim que o mesmo fizesse qualquer movimento estranho.

Na sua mente passava tudo e ao mesmo tempo nada, estava confuso.

— Um assassino não merece estar vivo.

Ele desejava a morte, muito mais que a vida, ao mesmo tempo que batia a cabeça contra a parede.

— Alaric! Alaric!

Ele escutou alguém chamando seu nome. Ao olhar para o ralo próximo, viu uma silhueta conhecida. Era Gideon tentando chamar sua atenção.

— Espere, eu irei te tirar daí!

— Gideon!? O que faz aqui? Como chegou aqui? — questionava Alaric, surpreso e ao mesmo tempo já vinham outras palavras: — Gi… Me escute, eu agora sou um assassino... Me deixe aqui, devo pagar por meus crimes.

Ha, ha, Já chego aí. — Ele ignorava os desejos de Alaric e procurava uma maneira de chegar lá.

Ao andar mais um pouco, pelo sujo e lamacento esgoto, chegou a uma escadaria, ao fim dela era avistada uma porta. A porta estava destrancada.

Gideon correu através da porta, adentrando um corredor estreito ladeado por paredes de pedras maciças, iluminado por tochas ao longo do caminho. Apesar da surpresa inicial diante da iluminação não mágica, ele continuou até alcançar as celas da prisão no final do corredor. Ao chegar avistou o guarda que estava à frente da cela de Alaric, sua única ideia foi provocar o homem.

— Venha me pegar, seu idiota!

Gideon fez caretas e correu logo em seguida.

O guarda sem entender o que acabava de acontecer, correu atrás do garoto. Astrid com a deixa, atravessou a porta e caminhava em direção a cela de Alaric.

Ao atravessar o mar de celas, ela via muitas figuras; um elfo estava de joelhos ao que parecia orando para seu deus, em outra cela observou uma garota que inicialmente parecia normal, mas logo seus olhos demoníacos foram vistos, assustando Astrid.

Ele começou a correr. Em meio a sua corrida, visões vieram à mente.

Ela já estava acostumada com isso, mas dessa vez era diferente, parecia ser mais forte.

"Vá Alaric e me deixe aqui, salve ela também… Amo você irmão..." Isso era o que ela via em sua mente. Essa visão a apavorava; a fazendo vomitar em desespero, mas a mesma não podia parar. Enxugou as lágrimas e continuou seu caminho.

Ao chegar na cela de Alaric, a cena era deplorável. Ele estava cabisbaixo, parecia que já havia desistido da vida.

— Quem é você? — questionou Alaric, com uma cara séria.

— E-eu sou… ami-amiga de Gideon — falar tanto foi difícil para jovem garota.

— …Vá embora e, convença ele a ir também. — Alaric chorava e olhava para baixo.

"Vamos Astrid, fale algo. Você precisa ajudar ele… mas eu não consigo falar sem gaguejar ou me envergonhar muito", pensava Astrid.

— Me deixe! — gritou, enquanto batia a cabeça mais forte na parede. Parede, que já estava manchada de sangue.

"Uma única palavra, por favor mente… uma única palavra", pensava a garota, tentando convencer a si mesma a falar algo.

— Vai! 

— Não! — exclamou ela,  ficando toda vermelha, mas com brilho em seus olhos pouco amarelados.

— Nã-Não irei te deixar aqui! Não sei o que aconteceu, mas não quero ver um homem em situação tão deplorável! — gritava, mexendo-se inteira, fazendo seus cabelos prateados voarem para todos os lados.

Tais palavras fizeram Alaric voltar a si e pensar em toda situação. Inclusive, lembrando das últimas palavras de seu amigo "descubra suas origens", ele não entendia muito bem o que isso queria dizer, mas sabia que não poderia morrer antes de cumprir o último desejo, de seu amigo e mestre.

Ele deu um impulso tentando quebrar as correntes, mas elas eram grossas demais. Astrid se aproximou devagar, colocou as mãos em seus ombros. Que estavam largos, seus braços estavam musculosos, se desenvolveram bastante com os treinamentos. Com o toque, Alaric se arrepiou inteiro.

Após o toque, ela afastou um pouco as mãos e mandou um golpe a toda força na direção das correntes, as quebrando.

— Que força é essa? — questiona, curioso. — Você é de alguma classe? 

— E-eu sou.

"Quem é essa garota afinal? E parece ser um pouco timida. Bom, não podemos perder tempo aqui", pensava Alaric, mas logo foi interrompido.

— Ei, você aí, volte para sua cela agora! — disse o guarda com a espada no pescoço de Gideon, era uma ameaça clara.

Gideon respirou fundo, ele não via nenhuma solução. Sabia que ali seria seu fim, mas tudo bem. Porque, seu irmão iria ficar livre e isso o satisfazia.

"Haha! O "escolhido" irá morrer em uma prisão em ruínas, ninguém nunca vai saber que eu morri. No final, ser escolhido nunca foi um papel meu mesmo", pensou Gideon, enquanto se preparava para morrer.

— Alaric! — exclamou Gideon, com uma expressão de paz e dando um leve sorriso puro.

Alaric, no mesmo segundo, dirigiu seu olhar para Gideon. Ele estava se colocando à frente de Astrid, a protegendo com seu corpo. O guarda estava a 10 metros adiante dele, o tempo aparentava ter cessado.

— Alaric, fuja. Já cumpri meu papel nesse mundo — falou com o sorriso ainda em seu rosto, parecia estar orgulhoso de como viveu.

— Não! Não irei te abandonar. Eu voltarei para cela, tá bom? Solte ele.

Alaric tentava negociar com o guarda, enquanto ia abaixando-se com as mãos.

— Fuja! — ordenou, ele olhava com determinação para Alaric. Parecia realmente estar decidido.

Os prisioneiros a volta observavam atentos, e a mulher demônio sussurrou algo.

— Eu sou só um assassino, me deixe… — Alaric pouso a mão em seu rosto e fitou a garota apavorada atrás de seu corpo. Ele segurou suas mãos trêmulas.

Tudo estava acontecendo ao mesmo tempo, o caos parecia instaurado.

— Não, Alaric, você não é um assassino. Você nunca mataria alguém, não estando em posse de sua mente. 

O guarda afrouxou a mão, fazendo a espada descolar do pescoço de Gideon. No mesmo instante, Alaric saltou na direção do homem, seus olhos estavam estreitos, transmitindo apenas a vontade de matar.

Gideon percebendo toda situação, deu uma cotovelada no estômago do guarda. Fazendo-o soltá-lo.

Alaric cruzou os 10 metros em milésimos e agarrou o pescoço do homem, começando a estrangulá-lo. O mesmo se debatia, tentando lutar por sua vida, mas a força do jovem era extraordinária.

— Solte-o Alaric! — gritava Gideon, ao mesmo tempo que tentava puxar seu irmão de cima do homem. — Ele já está desacordado!

Alaric soltou o guarda, as marcas de suas mãos eram visíveis no pescoço agora livre. O jovem se dirigiu à espada no chão, a pegou e retornou ao corpo desacordado do homem. Caminhando lentamente, ao se aproximar, encarou-o e, sem aviso prévio, desferiu uma estocada fatal em seu peito, causando-lhe morte instantânea.

A expressão em seu rosto era neutra, sem nenhuma emoção. Gideon não entendia o que estava acontecendo. Ele recuou, não reconhecendo seu irmão, Astrid escondia-se atrás dele. 

Alaric encarou Gideon, sua expressão neutra e até mórbida, fez seu irmão travar. — Eu estou em posse de minha mente —  disse, segurando a espada toda ensanguentada em sua mão, logo após a soltou.

Antes de Gideon dizer algo, uma explosão abalou a estrutura da prisão alertando a todos. Algo estava acontecendo lá fora, e eles correram para averiguar.

Alaric pensou em correr, mas antes lembrou de fazer algo. O mesmo caminhou até o cadáver do guarda, pegou as chaves das celas, que estavam penduradas em um cordão em seu pescoço.

Ao pegar as chaves, ele avançou até a cela da garota demônio. Abrindo a cela e a agradecendo.

— Obrigado, sua magia sussurrada desestabilizou o guarda. — Ele estendeu a mão na direção dela.

A garota estava sem entender nada, pois ninguém ali deveria ser capaz de perceber o que ela fez, mas um único garoto tinha percebido.

"Quem é ele? E porque eu sinto uma presença divina nele? Meu sangue demônio me diz para tomar cuidado, como se fosse um deus em minha frente", pensou ela sem entender a situação, mas como agradecimento por ele ter a libertado, pegou em sua mão.

Os dois correram para fora juntos. Gideon já estava lá, mas não acreditava no que via.

Ninguém crê, no que suas visões captaram. Um enorme exército, ostentando a bandeira de Re'Loyal, vinha em direção a fronteira. Uma provável guerra vinha em direção ao reino de Aldemere.

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