Sessão 9

Capítulo 207 — Ugaki

 

   Estou a caminho de casa depois de deixar Ichijou-san.

   Aconteceu tanta coisa hoje. Um encontro no cinema e uma visita ao túmulo da mãe da Ai-san. Pouco a pouco, estamos nos aproximando cada vez mais.

   Isso me deixou feliz, e fiquei realmente grato pelo fato de ela ter me contado algo que nunca quis dizer a ninguém. E eu compreendo a profundidade do desespero dela. Só isso já faz meu coração doer. Talvez até mais do que o desespero que eu experimentei.

   A morte acidental da mãe. A culpa pela morte dela, que aconteceu ao tentar protegê-la. E o bullying constante que se aproveitou da tragédia. A separação do pai.

   Só de pensar nisso, meu coração já se parte.

“Ela é realmente incrível.”

   Apesar de carregar tanto peso, ela nunca parou de tentar.

   Fez o exame de admissão de uma escola particular de ensino fundamental em Tóquio até o nosso colégio e passou em primeiro lugar. Mesmo depois de entrar, continuou mantendo suas notas e é considerada uma atleta completa. Quanto esforço ela deve ter colocado nisso…

   Ela nunca parou de seguir em frente, não importava o quanto as coisas ficassem difíceis.

   Por trabalhar tanto, acabou em frangalhos naquele dia, no terraço.

   E ainda assim…

“Ela se esforçou tanto para me ajudar.”

   Ela estendeu a mão para mim quando eu estava no fundo do meu próprio desespero.

   Ela me deu mais do que eu poderia retribuir, mesmo que levasse uma vida inteira.

   Eu não vou soltar a mão dela.

   Eu não vou deixar ir.

   Sento-me em um banco de parque perto de casa, para acalmar as emoções.

   Então começo a pesquisar sobre o acidente. Encontrei algumas notícias na internet.

   O acidente que aconteceu há dois anos foi ainda pior do que eu lembrava.

   O número de mortos foi muito maior do que eu pensava. E havia a notícia da sobrevivência milagrosa de uma estudante do ensino fundamental. Os nomes das vítimas estavam listados no jornal, e o nome de Ugaki Hitomi estava lá. Fiquei deprimido ao pensar que ela foi alvo de bullying por causa disso. Não havia nomes conhecidos entre as outras vítimas. A causa do acidente era o envelhecimento dos túneis. Problemas com o desenvolvimento da infraestrutura ocupavam a segunda metade do artigo.

“Como eu imaginava.”

   Depois de clarear a cabeça, volto para casa.

   Já está ficando tarde. É hora dos últimos pedidos no Kitchen Aono.

“Cheguei.”

   Abro a porta do restaurante e cumprimento os clientes.

   De forma incomum, os únicos clientes são a família Izumi, que são fregueses antigos.

“Ah, é o Eiji-oniichan.”

   A família Izumi frequentava o restaurante desde a época do meu pai, e parece que trouxeram a netinha junto.

“Mai-chan, faz tempo que não te vejo. É seu aniversário hoje?”

“Sim! Eu queria comer um okosama lunch (prato infantil), então meus vovós me trouxeram aqui.”

   Parece que a família Izumi veio comemorar o aniversário em família aqui no restaurante.

“Eiji-kun, você cresceu tanto. Ouvi dizer que ganhou um prêmio por ajudar pessoas outro dia. Obasan está feliz por você também.”

“Ah, sim. Obrigado.”

   Eles são fregueses simples e gentis, então fico feliz em encontrá-los também.

   Quando eu era pequeno, vinha muito aqui, e os clientes antigos cuidavam de mim como se eu fosse um dos filhos ou netos deles.

   Mamãe coloca a cabeça para fora da cozinha e pergunta em tom de brincadeira:

“Bem-vindo de volta. Se divertiu no encontro com a Ai-chan?”

“Sim. Foi divertido.”

   Estava com calor, então peguei um pouco de água da jarra e bebi um gole.

“Então, que bom. Eu estava com medo de que você não voltasse pra casa hoje.”

“Gah…”

   Quase cuspi a água.

     Se o pessoal da família Izumi tivesse ouvido isso…

   Virei para trás, mas parecia que todos estavam tão focados no bolo que não ouviram nada.

“Brincadeirinha. Mas você tem que cuidar bem da Ai-chan. Ela é uma boa garota. É raro encontrar uma menina tão boa quanto ela.”

“Sim, eu sei.”

   Mamãe ri feliz ao me ouvir dizer isso. Então ela se vira para voltar à cozinha.

“Mãe, posso te perguntar uma coisa?”

   Mamãe olha para mim com uma expressão curiosa e solta uma risadinha.

“O tio Ugaki não tem vindo ao restaurante ultimamente, né?”

 

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