Sessão 8

Capítulo 200 — Ichijou Ai

 

 

   Ela começa a me contar sobre si mesma, pouco a pouco.

“Meus pais tiveram o que se chama de casamento arranjado. Meu pai vinha de um conglomerado poderoso e em ascensão, e minha mãe vinha de uma família tradicional. Foi um casamento que tinha valor para ambas as famílias. Mas eles também eram amigos de infância. Segundo minha mãe, provavelmente foram o primeiro amor um do outro. Então, mesmo que tenha sido um casamento político, acho que foi um casamento feliz para ambos. Porque minha mãe, quando falava do meu pai, sempre parecia uma garotinha apaixonada.”

   As palavras são tecidas com calma, mas carregadas de sentimentos mistos.

“Cresci sendo amada pelos dois. Não posso negar isso. Já contei isso ao Senpai antes. Estudei em uma prestigiada escola particular em Tóquio. Quanto mais eu me esforçava nos estudos e nos esportes, mais eles me elogiavam. Meu pai era ocupado com o trabalho e quase não ficava em casa… mas era um bom pai, que sempre encontrava um tempo, mesmo que pequeno, para a família.”

   Acho que crescer em uma família de classe alta geralmente é algo feliz.

   Para mim, conglomerados e famílias famosas existem apenas na ficção.

   Então não consigo formar uma imagem concreta disso. Mas sei que aquela família feliz dela desmoronou por causa de algum incidente. Deve ter sido algo muito cruel.

“Aqueles dias felizes terminaram há dois anos… Sem aviso, de repente…”

   O tom dela ficou ainda mais pesado.

“Ichijou-san. Você não precisa se forçar…”

   Não pude deixar de dizer isso, ao vê-la tão abatida pela dor.

“Obrigada. Já estamos quase lá. Contarei o resto no caminho. Talvez um pouco de ar fresco ajude.”

   Ela parece estar se esforçando demais.

   O carro parou perto do mar. Saí antes dela e estendi minha mão.

   Ela parecia mais pálida do que imaginei. Sua pele, já clara, estava de um branco doentio.

“Obrigada.”

   Ela segurou minha mão com delicadeza.

“Fica longe daqui?”

   Não quero tornar isso mais difícil para ela. Não pude deixar de perguntar.

“Fica a uns dez minutos de subida naquela colina.”

“Me avise se ficar difícil.”

   Em caso de emergência, posso carregá-la nos braços.

   Tentei expressar essa nuance, e ela pareceu entender. Sorriu levemente.

“Sim. Estou contando com você.”

   Começamos a caminhar devagar. Considerando o estado da Ichijou-san, andamos mais lentamente do que o normal.

“Há dois verões, o carro em que eu e minha mãe estávamos sofreu um acidente. Um colapso dentro de um túnel. Talvez tenha passado nas notícias.”

“…”

   Lembro dessa notícia.

   Foi um acidente bem grande. Muitas pessoas morreram. Ouvi dizer que alguém conhecido do meu pai também estava envolvido.

“Nós estávamos dentro do carro, mas, antes que percebêssemos, fomos arremessadas para fora. Acho que desmaiei por um momento. Minha memória antes e depois é confusa. Talvez minha mãe tenha me protegido. Quando acordei, ela estava me abraçando. Foi a primeira a me perguntar se eu estava machucada…”

   Ela escolhe as palavras lentamente, olhando para o chão.

“Pensei ‘que bom’, mas logo me desesperei. Porque havia uma pilha de destroços sobre a parte superior do corpo dela, que me protegeu. E ela já havia perdido muito sangue…”

   Ouvir isso é doloroso demais.

“Eu gritava e pedia ajuda. Acho que minha mãe já estava pronta para partir. Mesmo em tanta dor, ela tentava me tranquilizar, dizendo que tudo ficaria bem. O rosto dela sangrava diante dos meus olhos. Tudo o que pude fazer foi segurar sua mão, que ia ficando cada vez mais fria…”

   As pernas dela pararam.

   Não conseguimos continuar. Estava prestes a dizer para fazermos uma pausa, quando senti um toque suave me envolver. Um toque doce e terno. Ela chorava em meu ombro.

“Desculpe. Só quero ficar assim por um tempo.”

   O que ela carrega é pesado demais.

   É cruel demais.

“Está tudo bem. Respire fundo. Eu sempre estarei com você.”

   Abracei seu corpo até sua respiração se acalmar.

“Obrigada. Já me sinto mais calma.”

   Ela se afastou lentamente. Forçou um sorriso, como sempre faz.

“Ichijou-san, você deveria descansar um pouco mais…”

   Ela balançou a cabeça.

“Estamos quase lá, tudo bem.”

   Ela voltou a caminhar devagar.

“Minha vida mudou completamente depois que perdi minha mãe. Primeiro, meu pai mudou. Talvez pela dor da perda, ele se jogou no trabalho, quase nunca voltava para casa. Começou a tratar as pessoas de forma fria, como se fossem objetos.”

   Perder não só a mãe, mas também o pai… Deve ter sido terrível para uma garota do ensino fundamental. Não consigo nem imaginar.

“E talvez eu não devesse dizer isso ao Senpai… mas também comecei a ser intimidada depois do acidente. Eu sempre fui uma pessoa conhecida, então talvez fosse inveja.”

“Inadmissível.”

   Não consegui conter as palavras. Ela já sofre o bastante.

   E ainda teve de suportar isso.

“Fui apresentada como uma sobrevivente milagrosa. Em parte, por ser famosa. Na superfície, minhas colegas pareciam normais, mas pelas costas diziam que eu era uma criança demoníaca e sem coração, que sacrificou a mãe para sobreviver. Nos piores dias, eu recebia ligações anônimas, e alguém imitava a voz da minha mãe, dizendo: ‘Estou com dor, me ajude. Estou com dor, me ajude.’ Algo assim.”

   Fiquei imóvel, sem palavras.

“Eu devia ter morrido naquele dia junto com a minha mãe. Me odiei por me sentir uma traidora, quando ela lutou tanto para me salvar. Foi por isso que eu estava naquele telhado naquele dia. O desespero de ter perdido tudo só crescia. Acho que fui até aquele lugar sem perceber.”

   Desta vez, fui eu quem a abraçou.

“Senpai? Por que você está chorando?”

   Acho que é impossível não chorar.

“Você acha que existe alguém que não ficaria furioso ao descobrir que alguém de quem gosta foi tratado assim por estranhos?”

“Você é gentil, de verdade. Por isso quero me desculpar. Menti pra você por muito tempo. Eu não sou ‘Ichijou’ Ai. Ichijou (条) é o sobrenome de solteira da minha mãe.”

   Começamos a andar novamente, devagar.

   Talvez o motivo de ela não ter ido a um colégio particular tenha sido para esconder sua verdadeira identidade.

   Ela foi para uma escola diferente e passou a usar o sobrenome da mãe. Acreditava que, de outra forma, não conseguiria se proteger.

“Não se preocupe. Isso não muda a pessoa que eu amo.”

   Havia um cemitério no alto da colina.

   Paramos diante de um túmulo magnífico.

“Minha mãe amava o mar e as montanhas. Por isso ela está aqui.”

   Na lápide, estava escrito o nome de uma mulher:

   Ugaki Hitomi (宇垣瞳).



— Almeranto: MEUS AMIGOS… Que final de capítulo! Dígno do 200… É… Já foram 200. E com isso acabamos a sessão 8 com esse plot magnífico de arrepiar. Vejo vocês no próximo, até lá!

 

 

 

Traduzido por Moonlight Valley

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