Volume 1 – Arco 5

Capítulo 45: Dia de Princesa

Eliassandra tentou.

Deuses sabem o quanto ela tentou.

Mas como princesa ela também precisava de aulas de etiqueta, dança, tudo! Mesmo que odiasse cada momento daquilo:

— Que saco… — Reclamou a pequena criança enquanto era arrumada para mais um evento que precisava ir.

As duas servas que a ajudavam caíram na risada com aquilo, achando graça na situação.

A mais alta, Jane, era uma mulher de cabelos castanhos e pele branca, seus olhos cor de âmbar sempre pareciam se divertir com todas as reações de Eliassandra.

— Se está achando isso agora, imagina quando chegar aos seus 15 anos. — Ela disse ao dar risada.

Eliassandra virou o rosto abismada com aquilo, como assim? Piscou completamente chocada com aquela revelação:

— O que acontece com 15 anos?

A outra, uma mulher mais baixa, de pele escura, cabelos negros e olhos azuis também riu, mas mais contida, quase como um segredo que guardava, seu nome era Maria.

— Ah princesa, com 15 anos é seu baile de debutante, quer dizer que está pronta para receber pedidos e ser cortejada.

— É simplesmente lindo, você ganha uma nova coroa, vários vestidos…

Elas falavam como o sonho de qualquer garota, mas o rosto de Eliassandra estava contorcido de terror infantil, como assim poderia ser cortejada!? Isso não era legal, porque gostavam disso?

— Acabamos, está pronta para a prova da comida de seu aniversário. — Ela sorriam olhando o reflexo de Eliassandra.

Os cabelos brancos já estavam maiores, chegando um pouco abaixo dos ombros, bem penteados e soltos, dessa vez usava um vestido solto rosado, que ainda parecia muito mais chique do que queria, mas ao menos era mais leve. Desceu de sua cadeira, deixando suas sapatilhas pretas tocarem o chão, se virou para suas criadas para que vissem o resultado:

— Ah, ela é tão linda! — Jane disse juntando as mãos. 

— Mal posso para ter suas damas de companhia escolhidas, devem ser moças tão lindas quanto você vai ser. — Maria sorria.

O rosto de Eliassandra ficou vermelho, tinham tantas regras para seguir e parecia que todos gostavam dela, ainda sim, era estranho ter aquele amor, afinal na sua vida anterior ninguém gostava dela por perto.

Girou os calcanhares e marchou para sair dali, precisava ir para a sala de reuniões, onde provaria diversas comidas para saber o que lhe agradava.

Preferia mil vezes uma festa simples no jardim apenas com amigos próximos, e talvez com sua família, mas não, os aniversários a cada cinco anos tinham que ser grandes eventos!

— Eu vou comer vidro na frente deles… — Resmungou ainda andando pelos corredores.

Alguns criados passavam e cumprimentaram, outros sorriam como se realmente tivessem afeto por ela, o que realmente era estranho! Ainda tinha para si que iriam querer algo em troca dela, afinal ela era uma princesa! Iriam querer algo em troca de uma princesa como ela!

Nos dias que se seguiram após sua volta começou a pensar se não seria melhor pedir para Ferrer assumir de fato o trono, não sabia se seria uma boa rainha.

Não.

Tinha certeza que não seria uma boa regente! Deveria conversar isso a sua família para se livrar logo de tal coisa.

Mais uma vez estava perdida em pensamentos, seu coelho Lynn, que já tinha se tornado uma constante naquele castelo lhe acompanhava por onde quer que andasse, seus olhinhos sempre atentos e claro, a fome quase constante por frutas e verduras.

Parou de subito quando uma estranha sensação de frieza tomou conta de si, sua caminhada despreocupada parou a passos de esbarrar com um homem alto, cabelos negros penteados cuidadosamente para trás e olhos castanhos de um vazio imensuravel, reconheceu ele de discrições passadas de sua amiga: Lorde Daltom de Vivera, o pai de Daphne.

Mas não foi ele que chamou sua atenção de fato, e sim uma figura ao seu lado, enganchada em seu braço como uma adolescente idiota, com um sorriso que forçava o apaixonado que lhe deu asco: Vivany.

Os olhos da mais velha encontraram os da criança que como sempre estava sem qualquer expressão que pudesse ser identificada:

— Eliassandra! — Ela falou de propósito naquele todo meloso que de fora poderiam pensar que ela era apenas uma tia preocupada.

Mas a princesa teve que se conter para não revirar os olhos:

— Bom dia tia, Lorde de Vivera. — Fez uma reverência profunda para os dois. — Que dia agradavel, não?

— Princesa Eliassandra. — O lorde se curvou rapidamente.

Mesmo que Vivany quisesse continuar aquela troca de “afetos” entre as familiares, o lorde de olhos vazios apenas seguiu seu caminho passando pela princesa e seguindo seu caminho no enlaço daquela dama.

Eliassandra quis saber o que raios sua tia estava se engraçando com o pai de sua amiga, mas não tinha tempo, precisava chegar ao seu destino final, já que Lynn lhe lembrou disso empurrando sua perna com a cabeça:

— “Tô indo, calma.

E com isso apenas seguiu seu caminho para fazer a degustação de pratos para seu aniversário, mesmo que no fundo não estivesse nem um pouco afim daquilo.

***

Finalmente Eliassandra teve a confirmação que todos já imaginavam: Odiava chocolate.

Seu rosto estava contorcido numa expressão de desgosto para toda a sobremesa que tinha essa iguaria, o que fazia sua mãe dar risada e seus irmãos acharem graça, mas o chefe… Pobre chef novato que estava tendo seu primeiro jantar assinado para aquela criança. Pensou que ela adoraria chocolate e trouxe bastante, mas odiava a cada mordida, e nem conseguia disfarçar.

Estava apavorado com a ideia de tudo ser rejeitado por conta daquilo.

O chefe era um jovem de uns 20 anos, baixo, de olhos e cabelos escuros, apertava seu avental vendo aquela princesa tentar disfarçar aquelas caras de repulsa, como uma criança poderia odiar tanto chocolate assim?

— Ei, senhor. — Sua assistente, uma garota de cabelos ruivos e olhos castanhos puxou sua manga. — Que tal tentar os doces baseados em frutas?

O rosto do jovem chefe se iluminou com a ideia de que sua oportunidade fosse salva.

Enquanto isso, a pequena Eliassandra tomava água para limpar seu paladar, a rainha dava uma leve risada, de fato, sua filha era incomum:

— Minha soberana, eu tenho algumas sobremesas que a pequena princesa pode gostar. — O jovem chefe sorria colocando um pedaço de torta na frente de Eliassandra. — Sem chocolate.

Falou aquilo principalmente para tranquilizar a criança que já estava fazendo uma pequena careta, o que funcionou, pois ela se deu o benefício da dúvida de provar.

O chef estava suando frio, encarando ela começar a mastigar até ver os olhinhos brilharem e pela primeira vez comer outro pedaço. Soltou o ar aliviado, parece que ela gostava de doces, só não de chocolate!

Estava tão mais calmo que tinha conseguido agradar o paladar tão refinado da princesa, mas Eliassandra estava decepcionada.

Quando estava na vida anterior se fantasiou tantas vezes comendo aquela iguaria, e agora percebeu que não era tão bom quanto pensou:

— Parece que minha irmã gostou. —- Ferrer fez carinho na cabeça da irmãzinha, tomando cuidado com a coroa.

— Tem alguma outra assim? — A voz infantil de Eliassandra se fez presente.

— Ah! Sim, eu tenho uma sobremesa de banana que vai adorar, vossa alteza! — O chef sorriu feliz na vida.

E assim passaram o resto do tempo, decidindo quais sobremesas iriam para a festa e finalmente entendendo que a jovem princesa gostava sim de doces, mas aqueles que eram derivados de frutas:

— Eu gostei desse! — Eliassandra disse após experimentar bastante coisas, apontando para uma sobremesa com várias frutas vermelhas. — Mãe, meu bolo pode ser disso?

— Querida… — Elengaria deu uma risadinha, se aproximando para limpar o rosto da sua filha. — Tem certeza que quer seu bolo de frutas? As crianças preferem de…

Sua voz ficou baixa enquanto sua filha lhe encarava de volta, com a sobrancelha levantava, esperando que ela terminasse de formular aquela frase, Elengaria finalmente entendeu que sua filha sequer se importava com aquele detalhe:

— Mãe, eu preciso mesmo chamar todos esses nobres? 

— Ah, é tradição. — Elengariua respondeu suspirando.

Já estava se preparando para uma longa explicação, mas sua filha surpreendeu a todos:

— Posso ter duas festas então?

— Como? — Foi o próprio Ferrer que falou.

O rosto da princesa ficou vermelho com toda aquela atenção que estava recebendo, o chef e sua assistente até se retiraram para deixar o trio real conversar em paz:

— É que… Bem… Eu queria algo menor, só pra amigos e família… É possível?

Tanto sua mãe quanto seu irmão ficaram encaravam a pequena, até que Ferrer deu uma risada:

— Na verdade, eu adoraria só comer bolo no jardim, senhora Elengaria, tem algo contra?

Elengaria negou com a cabeça, vendo o sorriso contido de sua filha surgir aos poucos, sorriso que fez o coração de mãe se aquecer.

Naqueles momentos ela realmente sentia que a maternidade valia a pena, que sua filha estava aos poucos se tornando uma pessoa mais próxima de sua família, inclusive sugerindo aquela festa:

— Então podemos ter bolo de chocolate no baile, mas na festa do jardim será bolo de frutas. — Eliassandra sorriu feliz da vida com sua resolução daquele problema.

***

Mais um compromisso!

Eliassandra não aguentava mais, agora era espetada por alfinetes enquanto provava um vestido, cheio demais, tanta coisa…

Se prendia para não revirar os olhos, encarava aquela mulher falar sobre a cor de seus olhos, seu corpo, tudo para fazer o vestido vermelho, e também perguntar sobre como seriam as roupas:

— Se for parecido com o do príncipe Ferrer e o príncipe Ian eles vão querer que toda a igual, qual cor ela quer?

Os olhos de Eliassandra finalmente voltaram pra a mulher que era elegante demais, os cabelos eram negros e presos num coque muito bem arrumado, as unhas pintadas de uma cor clara passavam pelos modelos de vestido, e seus olhos castanhos sempre pareciam animados:

— Vermelho. — Eliassandra falou antes de sua mãe.

— Como? — A mulher encarou a pequena princesa. — Vermelho é a cor da familia real.

Eliassandra levantou a sobrancelha, ela sabia com quem estava falando? Ou era alguma piada que fazia com seus clientes?

— Veja bem, a lady Leopolda e a Lady Ana Bael também vão usar vermelho? — Ela falava com um cuidado que a princesa não entendia.

Então Eliassandra fez o que qualquer criança da sua idade faria: virou o rosto para a mãe, encarando ela como se esperasse que ela resolvesse o problema. E Elengaria adorou aquilo, sorrindo com certa felicidade com sua pequena filha, sendo tão independente, estava procurando sua resolução.

Mas era por um motivo simples: Eliassandra não queria mandar aquela estilista a merda, se era o aniversário dela, por que diabos ela estava questionando? Isso era irritante!

— Bem, se é o aniversário dela, por que não? — Elengaria comentou.

Parecia um comentário, mas quem via de fora percebia que a rainha estava apenas encerrando o assunto, fazendo a vontade de sua única filha, a estilista aceitou por fim.

Não era louca de ir contra à esposa amada do rei Ricardo e perder aquele emprego que todos de sua área almejavam, mas mesmo com aquela atitude que para si, foi mimada da parte da princesa, sorriu.

Adoraria fazer roupas vermelhas para toda família real afinal.

A rainha se levantou, sendo seguida por sua filha, faltava apenas um compromisso nesse dia longo e enfadonho que Eliassandra não aguentava mais!

— Mãe… — Tentou falar enquanto os saltos de sua mãe batia no chão.

— Só mais isso, é importante.

— Por que? — Eliassandra questionou.

Não entendia bem sobre aquilo, afinal no fundo era uma criança de quase cinco anos, talvez fosse importante saber, nem sequer sabia sobre isso na sua vida passada, mas quem poderia julgar? Era apenas uma soldado de alta patente:

— Vamos furar sua orelha . — Elengaria sorriu olhando a pequena princesa andando de modo cansado.

— Pra que?

A Rainha parou de andar, ficando na frente da sua filha, se agachou ficando quase do tamanho dela, quase pois Eliassandra era pequena até para uma criança de sua idade, e apontou para o anel labial que tinha:

— É importante, afinal você vai usar muitos brincos.

Quase questionou de novo, mas se resguardou a abrir a boca e bocejar, mostrando seu cansaço.

Elengaria riu, de fato, sua filha estava cansada, os olhinhos estavam pesados, quase fechavam, não iria conseguir passar por aquele procedimento agora, então apenas pegou ela no colo, beijando sua testa:

— Mãe?

— Vamos dormir, certo? Amanhã vemos isso.

Era melhor do que forçar ela a continuar andando por aí quase como um pequeno zumbi sonolento.

 

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