Volume 1 – Arco 5
Capítulo 46: Pai e Filhos

Ricardo estava numa extremidade do campo de treinamento, na sua mão estava sua espada de metal vermelho, os cabelos longos estavam presos num rabo de cavalo alto, e usava roupas simples em tons marrons. Na outra ponta, com uma espada acinzentada estava Ian, com roupas simples iguais às do pai, ambos em posição de luta.
Avançaram um contra o outro, a espada vermelha sendo incendiada pelas chamas do monarca, a espada do príncipe por outro lado brilho em tons de azul e água tomou conta dela.
As armas se chocaram, o vapor da água subiu, as chamas de Ricardo eram mais fortes que o elemento água de seu filho, não demorou para o mais novo ser subjugado, sendo empurrado para trás, cambaleando alguns passos antes de ter que desviar de outro golpe de seu pai, girando o corpo para o lado e correndo para ter distância.
Ricardo era um homem grande, mas sua agilidade ainda era impressionante.
Voltou a partir pra cima do filho que entrou em uma postura defensiva com a espada já com o elemento de água de novo, estava propositalmente usando esse elemento para tentar anular seu pai, mas além de ser seu pior elemento, seu pai era bem mais forte e experiente em batalhas que ele:
— Ian, você está subestimando seu pai, usando seu elemento mais fraco?
— Estou sendo estrategista. — Ian tentou argumentar.
Mas estava realmente dando errado, suas mãos estavam cedendo aos poucos sob a força de seu genitor, até que finalmente escutou o primeiro trincado de sua espada.
Não deu mais para pensar, a força e as chamas de seu pai não foram suportadas pela espada que acabou se partindo ao meio, por sorte, seu pai era habilidoso o suficiente para desviar o corte da espada que quase ia sendo fatal para o filho:
— Você… Ainda é forte demais. — Ian riu caindo de joelhos
Ricardo deu uma risada, estendo a mão para o seu filho caído:
— Você precisa de mais treinos práticos, e confiar nos seus instintos, água não é seu melhor elemento.
Nas arquibancadas estavam Ferrer e sua irmãzinha Eliassandra estava sentada em seu colo, e ao lado dos dois tinha Lynn, o coelho azul com antenas que dormia calmamente, nesse dia em específico, o rei tinha tirado para ficar com seus filhos, logo mais os convidados iriam chegar, então precisaria aproveitar aquele tempo com eles.
O dia começou com Ian sendo desafiado, o que fez o príncipe do meio entender que seu nível ainda estava longe de ser ideal, perto de seu pai parecia um amador:
— Às vezes o pai pega pesado. — Ferrer comentou com sua irmãzinha.
Eliassandra por outro lado mostrava mesmo uma curiosidade de ver seu pai lutando, não teve oportunidade de ver o rei humano lutar naquela época, e ver agora…
Se perguntava se ela iria conseguir bater de frente com ele, o homem das chamas era mesmo forte, mas talvez não tão forte como ela naquela época. Quem queria enganar? Ninguém era.
Aquele era um dos momentos que podiam usar roupas mais “leves” Ferrer usava uma calça preta e uma camisa azul clara de mangas longas, seus longos cabelos presos num rabo de cavalo baixo, já Eliassandra pôde usar um vestido leve lilás, com sapatos confortáveis, não usava sua tiara que tanto lhe irritava.
Ricardo e Ian tinham voltado a conversa sobre luta, que os dois outros irmãos não escutavam daquela distância, Ferrer não se importava, gostava dessa folga:
— Príncipe Ferrer! Princesa Eliassandra! — Ouviram mais de uma voz os chamando.
Subindo as arquibancadas, com roupas pesadas demais para um dia ensolarado, algumas jovens damas sorriam de forma quase meiga demais, Ferrer revirou os olhos e respirou fundo, finalmente se levantando com sua irmã nos braços.
No rosto, a mais pura e neutra expressão, queria apenas passar um tempo com seu pai e seus irmãos, e não ser paparicado por garotas que mal o conheciam. Será que essa adoração continuaria quando ele não fosse o príncipe herdeiro?
Todas elas pareciam ter a mesma cara para ele, completamente desinteressantes para ele, jovens damas nobres que viviam ao redor e tinham como missão o conquistar, não apenas ele, mas seu irmão também, esse que parecia ainda mais distante que ele:
— Bom dia, donzelas, no que posso ajudar nessa manhã ensolarada? — Sua voz era fria.
“Frio como Leopolda.” — A pequena princesa pensou.
Os olhos bicolores da princesa vagavam pelos rostos quase iguais das moças, o mesmo sorriso deslumbrado, o mesmo jeito quase oferecido para jovens de tão pouca idade, nem sua tia estava tão desesperada assim.
Elas começaram sua sessão de bajulações sobre como estavam felizes pelo príncipe estar de volta, perguntando coisas banais que Ferrer respondia com respostas mínimas, quase entediado, e talvez ele estivesse mesmo, mas sua expressão neutra não deixava vacilar:
— Já tem par para o baile? — E ali estava a pergunta que queriam fazer.
Claro, ter um príncipe como Ferrer como seu acompanhante era algo impressionante, desde sua aparência, seus modos e seu status, ele era um par ideal para qualquer dama, por isso muitas suspiravam por ele.
Era claro o por que:
— Não, eu irei acompanhar as jovens senhoritas que virão de outros reinos. — Cortou aquela conversa.
Sem dar mais chances para que elas falassem algo mais, apenas seguiu para longe delas, em direção do seu pai e de seu irmão que ficaram em silêncio para observar o filho mais velho:
— Ferrer é popular entre as damas. — Foi Ian que falou com aquele sorriso zombeteiro.
Ganhou apenas uma revirada de olhos do irmão mais velho que claramente não gostava dessa atenção toda:
— Elas gostam da coroa.
— Bem, se acha isso, então não podemos forçar nada. — Ricardo sorriu. — Qual os planos pra hoje?
— Eliassandra tem aula de dança.
Deu para ver a careta que a criança fez, torcendo o nariz para aquilo como se fosse algo horrível.
Ricardo deu uma risada divertida, limpando o rosto do suor que escorria:
— Querida, você precisa treinar.
— Não posso treinar como o Ian?
Aquela fala dela fez todos ficarem em silêncio, não sabiam exatamente como responder àquilo, mas alguém teria que falar de algum modo, talvez fosse melhor que Ricardo falasse?
— Querida, não seria apropriado…
Mas ele acabou se calando, vendo os olhos bicolores de sua filha lhe encarando como se visse até sua alma, e talvez ela estivesse mesmo vendo isso:
— Agora! Não é apropriado começar esse treino agora.
A resposta de Ricardo fez com que os dois príncipes se olhassem antes de dar uma risada, quem diria que seu pai seria dobrado por uma criança daquele tamanho? Se bem que pensando por um lado, talvez eles tivessem caído naquele olhar julgador também.
A expressão da criança suavizou bastante, quase sorrindo, mas ainda estava bem séria, sempre estava séria:
— Mas ainda precisa ir para a aula de dança e etiqueta.
Deu pra ouvir os olhos de Eliassandra se revirando, se fizesse mais isso era quase certo que seus olhos nunca mais voltariam ao estado original, essa atitude arrancou uma risada de Ian mais uma vez, talvez devesse salvar, afinal ele próprio não era fã dessas aulas:
— Que tal adiarmos para amanhã? Hoje queremos passar um tempo com o senhor. — Ian argumentou.
Agora os três príncipes encaravam o rei com expectativa, claro que eles queriam qualquer desculpa para não terem aquelas intermináveis aulas de etiqueta, mesmo que fossem necessários para o grande evento que se aproximava.
Ricardo soltou um suspiro, se dando por vencido por aqueles olhos cheios de expectativa:
— Certo, mas amanhã irão fazer o dobro. — Avisou aquilo, vendo a careta dos filhos, mas era a condição, ou isso ou iriam treinar.
Ao final, apenas concordaram com a cabeça, estavam dispostos a tal:
— Ótimo, agora eu vou tomar um banho, e o Ian também, depois veremos o que faremos.
— Certo, pai.
— Sim senhor. — Ferrer concordou.
E Eliassandra apenas acenou com a cabeça, era sua resposta mais comum.

Era apenas um dia entre pai e filhos, os garotos estavam sentados numa toalha de piquenique na estufa de Ricardo, Ian sorria todo feliz com suas roupas mais leves, Ferrer estava com um sorriso mais calmo e contido.
Já Eliassandra estava mais curiosa, andando de mãos dadas com seu pai, olhando diversas plantas que ela nunca teve oportunidade de conhecer, não eram comuns na sua vida passada.
Eram naqueles momentos que a pequena criança lembrava o quão ruim era sua vida anterior, desde que lembrava que não tinha qualquer paz assim, o que impulsionava seu desejo de manter aquela paz, se bem que por esse lado, aquela paz estava bem protegida.
Aquilo lhe fazia pensar…
“O que será que aquelas pessoas estão fazendo?”
Observando aqueles dois, os príncipes conversavam entre si sobre algumas trivialidades da vida escolar:
—- Assim a gente perde quase todos nossos dias de folga, vamos ficar sem férias… — Ian se lamentou baixinho.
— Bem, sim, mas ver a Eliassandra feliz e em casa vale a pena. — Ferrer garantiu aquilo.
— Sim eu… Como sabe que ela ‘tá feliz? A menina mal sorri.
Ferrer deu uma risada leve, de fato, sua irmã era sempre tão séria, mas no fundo sentia que ela estava feliz, e era aquilo que lhe bastava:
— Mas… E você? — No rosto do garoto loiro tinha um sorrisinho divertido.
— Eu? Estou pensando nas aulas que eu vou pegar nessas férias que perdi…
— E o Elborony? — Mencionou o príncipe mais velho, vendo o rosto do seu irmão se alterar em dúvida. — Soube que estão dividindo o quarto.
— Ah, isso é, ele me faz companhia às vezes, mas eu sou bagunceiro demais pra…
— Você gosta dele? — A fala do mais velho interrompeu o mais novo.
O rosto de Ian passou por cinco estágios de confusão antes de rir constrangido daquela situação embaraçosa que o irmão lhe meteu, o rosto até ficou mais corado, talvez fosse um sinal? Ferrer não sabia dizer:
— Depois que a gente se entendeu, ele se mostrou alguém muito legal, é divertido ficar com ele, mas não sei se é algo que seja mais que amizade.
Ferrer naquele exato momento se perguntava se seu irmão querido sequer tinha experimentado nem que seja um momento de amor romântico, talvez um dia ele amadureça tal coisa, mas no momento só se divertia com aquele constrangimento.
Do outro lado estavam Eliassandra, agora nos braços de seu pai, olhando as plantas mais de perto, focados naquilo de forma animada, ou seja lá o que eram aqueles olhos que vasculharam tudo com tamanha atenção que às vezes Ricardo se perguntava se ela era comum.
Mas logo espantava esse pensamento, afinal era claro que sua filha era especial, checar os eventos da sua vida até agora mostraram isso, desde despertar magia até ser daquele jeito tão… Eliassandra. Não podia negar que sua filha era única, desde que lançou um balde na cabeça de uma outra criança mais velha e disse que não se arrependeu.
Aquele dia foi uma das poucas vezes que discordou da sua esposa sobre a punição dela, mas agora… Revendo as atitudes, se perguntava se aquela criança seria realmente uma boa governante, afinal… O gênio dela era bem ruim quando queria, mas por outro lado ela tinha direitos como a filha do verdadeiro casal real, amava suas outras duas esposas, mas Elengaria sempre seria rainha:
— Que flores são aquelas? — O dedo da pequena princesa apontou para dois grandes vasos, um ao lado do outro.
Num dos vasos cresciam pelos lírios brancos muito belos, e no outro, flores vermelhas mais… Fofas, que a princesa não conseguia identificar exatamente quais eram.
Seu pai se aproximou das flores ainda com sua filha no colo, dava para ver aquele olhar apaixonado de seu pai para aquelas flores:
“Ele ama tanto assim essas flores?” — Eliassandra se perguntou mentalmente, achando estranho aquele amor tanto por meras flores.
— Aquelas são lírios brancos, simbolizam sua mãe, meu belo lírio branco.
A boca de Eliassandra abriu num “aaaah” sonoro, aquilo fazia até sentido, ele era um homem completamente apaixonado por sua mãe, se aqueles lírios eram para sua mãe…
— E as vermelhas? — Perguntou focando seus olhos nas outras flores.
— São papoulas vermelhas, a flor de Ana Bael, simboliza luta e guerra. — O mesmo sorriso direcionado às flores de sua mãe, era direcionado agora para as papoulas vermelhas de Ana.
As mãos de Eliassandra alcançaram uma das flores, tocando suas pétalas com cuidado, eram macias ao toque e o cheiro ficou impregnado nos dedos, um cheiro bom, pro gosto da princesa ao menos:
— E a da Lady Leopolda? — Eliassandra finalmente questionou após deixar seu pai admirar suas próprias flores por um tempo.
— Ah! — Ricardo pareceu ter acordado de um transe de admiração, talvez lembrando de suas amadas esposas? A princesa não saberia dizer, mas isso para ela não importava. — Ela é uma flor de lótus, precisa de um local com água.
Dito isso, caminhou até um pequeno lago perto das outras flores, no centro da estufa, e ali estava as belas flores de lótus azuis, o sorriso orgulhoso de Ricardo permanecia, mas não era só orgulho, tinha algo mais que Eliassandra não sabia explicar.
Não quis interromper a contemplação do pai, apenas ficou em silêncio, pela curiosidade de estarem a tanto tempo afastados, os dois filhos mais velhos se achegaram ao pai, não se sabe se ambos entenderam ou apenas Ferrer e impediu Ian de falar, mas os três filhos ficaram ali.
Em um silêncio confortável ao redor do pai.
Era um sentimento que Eliassandra não estava habituada, mas não lhe incomodava, estava se acostumando ainda, foram anos num ambiente hostil e agora tinha uma família amorosa, amigos e tudo mais… Em que momento de sua vida pensaria que estaria nessa situação?
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