Projeto Corrompido Brasileira

Autor(a): IDK Lyly


Volume 1

Capítulo 1: Matsuda 1

Monte Yama, Ayumi

24 de junho de 1052, 19hrs

Rebeca Matsuda

 

Estava tudo bem naquele dia. O som das folhas e das árvores que balançavam ao vento, as crianças brincando nas ladeiras do morro, os fortes raios alaranjados do pôr do sol iluminavam aquela bela paisagem; se fosse uma pintura seria digna de estar num museu chique, mas era o Monte Yama, um grande monte com diversas construções espalhadas ao seu redor, com uma enorme cidade em sua base, e a única escola dali no seu topo, servindo como centro de ensino para todos, desde o ensino infantil até o fim dos estudos. Uma das cidades mais prósperas do mundo, a melhor para se viver em todo Império Ayumi.

 

Uhm… – E lá estava eu, dormindo sobre a mesa da sala de aula. – Droga…

 

Eu sempre dormia durante as aulas, assim como em qualquer outro lugar que eu estivesse. Não era por preguiça ou algum tipo de doença, mas eu sempre dormia onde desse vontade.

 

– Eu não devia ter dito pra pararem de me acordar – suspirei. – Me atrasando de novo.

 

Olhei para o lado e notei que todos da minha turma já haviam saído, fazendo companhia a mim apenas a luz do sol que passava pelas janelas.

Levantei da minha cadeira e estiquei os braços, logo então peguei minha mochila e andei até a porta da sala, olhando o longo corredor fracamente iluminado.

Já fazia um tempo desde que todos se acostumaram a me deixar dormindo na sala, já que eu sempre ignorei quando me chamavam, mas não pense que eu era uma preguiçosa que ia mal nas aulas! Minhas habilidades acadêmicas eram de alto patamar, ou pelo menos era isso que as pessoas diziam.

Seguindo meu caminho para fora da escola, vi apenas alguns alunos rondando sem preocupação enquanto os portões ainda não haviam se fechado, claro, não havia motivos para preocupação em deixar os jovens soltos pela escola nesses horários, afinal Yama era 110% segura.

 

Ah… andar é um saco – reclamei enquanto descia pelas ladeiras. – Eu queria poder voar ou coisa do tipo… Ao invés de ter só isso – ao estender minha mão um fraco brilho veio e pude materializar uma chave prateada. – Pff.

 

Meu pai costumava me levar para a escola antes usando o carro dele, mas chegou em certo momento que ele viu aquilo como inútil. Além de gastar muita gasolina subindo o morro, andar a pé até a escola não tomava 15 minutos da minha vida. E daí que minhas pernas não vão cair? Minha casa fica quase na metade do monte. Até tentei usar esse argumento, mas…

 

– "Há jovens que vêm andando desde a base até a escola" – ele diria, com certeza. – Que merda… – suspirei profundamente enquanto me aproximava da minha casa.

 

Era consideravelmente grande, paredes de tijolos e telhado de madeira como uma casa antiga, e era realmente velha, pertencia aos meus ancestrais e segue como um tesouro de família – ao que tudo indica, meus pais morrendo a casa fica para mim.

 

– Quanto será que fica se eu vendesse ela, hehe… – E fui até a porta, entrando. – Mãe, cheguei!

 

Ah, Beca – respondeu minha mãe, sua voz veio da cozinha. – Finalmente chegou, quase chamei a polícia.

 

Uh, haha

 

– Dia cansativo?

 

– O mesmo de sempre, você sabe – respondi enquanto tirava meus sapatos.

 

– Claro. Ah, sim: hoje irei sair com minhas amigas.

 

– Noite das garotas, hein?

 

– Sim, mesmo que quem deveria fazer isso é você; tão nova, aproveite a vida enquanto não é uma adulta ainda. – Era possível ouvir o som da panela de pressão. – Vou deixar o jantar pronto, é provável que eu volte tarde.

 

– Tá! – subi as escadas direto para meu quarto. – Finalmente, cheguei…

 

E me joguei na cama, esfregando meu rosto no travesseiro.

 

Olhando para o lado, me vi no espelho. Meu cabelo estava bastante longo, passava da minha cintura com facilidade. Eu devia cortar?, pensei. Talvez eu pergunte pra Naomi o que ela acha.

 

– Ok, vamos tomar um banho. – Cansada de encarar o espelho, fui direto para o banheiro.

 

Comecei a tirar minhas roupas antes mesmo de começar a encher a banheira com água morna; tomei uma ducha antes, e com a banheira já cheia, entrei.

 

Ah… paz. – A melhor sensação possível.

 

O banho era um dos únicos momentos em que eu conseguia me manter acordada de verdade, como se devaneios e memórias estranhas viessem à minha mente. Muitas vezes eu mal me lembrava de que estava no banho e saia apenas quando retornava a realidade.

 

– Estou saindo! – gritou minha mãe.

 

Ahn? – Recobrei a consciência e respirei fundo – Ok! – pude ouvir a porta da frente bater. – Sozinha agora.

 

Só fui sair após um bom tempo.

Me sequei e fui para meu quarto me jogando na cama novamente antes mesmo de vestir uma roupa. Tão tranquilo, pensei. Nada se passava na minha cabeça naquela hora, eu só me sentia calma, quase dormindo.

Até ouvir o som de notificação do meu celular. Cara. Estiquei minha mão para minha bolsa que estava no chão, buscando o celular sem nem olhar. E cada vez mais e mais notificações.

 

– Eu já vou, eu já vou… – Encontrando o aparelho, puxei ele para mim. – Que saco… Uhm

 

Naomi Kurosawa, minha namorada. Quando eu ia entrar no nosso chat, recebi uma ligação dela. Atendi.

 

– Que desespero, hein – falei.

 

Por que demorou tanto? Estava na escola? – Sua voz era tão doce mesmo quando irritada.

 

– Sim, sim. Cheguei não faz nem uma hora – respondi.

 

Hum, você tem que parar com essas coisas.

 

– Por que você não me acordou?

 

Eu te disse que tinha que sair mais cedo hoje.

 

Ah, é. Foi mal. Mas o que foi?

 

Você pode vir aqui pra me ajudar com umas atividades?

 

– Atividades, hein? Sei que tipo de atividades você tá falando.

 

Atividades da escola, Rebeca.

 

– Ok, ok. Eu chego aí em 10 minutos.

 

Valeu, Be! Você é incrível!

 

– Sei que sou. Te amo.

 

Também te amo! Até já!

 

– Até. – E encerramos a ligação.

 

Eu sorri como uma idiota, sempre era assim. É isso que as pessoas chamam de paixão?

Pulei da cama rapidamente, me jogando para o lado e indo direto para o guarda-roupa.

 

– O que será que eu uso? Hein, hein? – Comecei a revirar minhas roupas procurando algo – Aqui, perfeito! – Peguei um short preto e uma blusa branca, não é como se eu tivesse tantas roupas diferentes além do uniforme escolar.

 

Me vesti ainda descendo as escadas para a porta para colocar meus sapatos, mas notei um bilhete na geladeira da cozinha. Uhm?, parei para ler:

 

Voltarei tarde e seu pai ainda está trabalhando. Sua namorada passou aqui mais cedo. Pare de dormir na escola”.

 

– Eu ainda acordei mais cedo que o normal… – Olhei de canto para a mesa e vi um prato feito – Uhm

 

"Se alimente bem♡, Ass.: Mamãe".

 

 

Mandei uma mensagem falando pra Naomi de que iria me atrasar um pouco.

 

– O melhor jantar do mundo. – Tentei comer rápido, mas estava muito bom para não se aproveitar.

 

Acabando de comer, finalmente pude sair. Estava com a barriga um pouco pesada, então tentei não ir rápido demais.

Já calçada me preparei para sair da casa, mas antes de abrir a porta peguei um casaco preto do cabideiro ao lado e vesti, assim, pronta para ir.

Tratei de me certificar duas vezes de que havia fechado todas as portas da casa, e assim comecei a andar.

Tive que descer o Monte em direção à casa da Naomi. Sua casa ficava quase na base, uns 20 minutos de caminhada.

 

– Por que a casa dela tinha que ser tão longe? – reclamei logo ao conseguir ver o prédio que ela morava.

 

Estranhamente as casas na base da montanha eram mais modernas, algo como os antigos dali preferirem morar mais alto no monte.

Me aproximei do interfone e cliquei no número do seu apartamento. 

 

Quem é? – A voz de uma mulher veio.

 

– Sou eu, a Rebeca – respondi.

 

Ah, Beca. A Naomi estava te esperando. Ela já está descendo. – Era a mãe da Naomi falando, uma pessoa incrível que sempre apoiou nosso relacionamento.

 

O prédio onde ela morava era enorme, dezenas e dezenas de andares. Era luxuoso demais.

 

– Beca! – E correndo em minha direção vinha ela, uma jovem garota de longos cabelos castanhos e uma roupa fofa cor de rosa.

 

– Oi, Naomi – respondi com um sorriso, abrindo meus braços esperando o de sempre.

 

– Você demorou! – E com um forte e caloroso abraço ela se agarrou a mim, esfregando seu rosto no meu peito.

 

Ela tinha cerca de 1,56 de altura, 14 centímetros a menos do que eu.  Era como uma boneca, sua pele era tão macia quanto a de um bebê. 

 

– Eu tinha esquecido de comer, com sorte minha mãe deixou algo preparado para mim – falei coçando minha cabeça. 

 

–  Você realmente devia se alimentar melhor – reclamou.

 

– Eu sei, eu sei. Por isso acabei de comer. Mas então, vamos entrar? Me mostre quais atividades você tem pra fazer.

 

Uhm, pra falar a verdade… – Eu sabia, ela era boa demais para precisar de ajuda com deveres da escola. – Que tal darmos uma volta? Tem umas coisas que eu queria comprar no shopping, e quem sabe podemos aproveitar um pouco mais?

 

– Aproveitar, né?

 

– Aproveitar o shopping, Beca.

 

– Sei. Bom, sorte a sua que meu cartão tá sempre no meu casaco – falei mostrando um cartão preto.

 

– Boa, então vamos lá pro shopping.

 

– Claro, claro. O que eu não faço por você?

 

– Você é eternamente minha, tem que aceitar. – Ela então pegou minha mão e me puxou pelo caminho até o shopping. – Vamos lá, aproveita e compra umas roupas também. 

 

– Qual o problema com as minhas roupas?

 

– A cor e o resto. – Dura e direta.

 

E assim se seguiu o resto da minha noite. No shopping, assistimos um filme que ainda estava em cartaz. Mais um dos românticos que a Naomi gosta de assistir, eu particularmente odiava esse tipo de coisa, mas eu aturava qualquer coisa por ela, até mesmo filmes melosos.

Compramos algumas roupas novas para mim e para ela, até mesmo camisas combinando, aquelas do tipo "I Love You" em uma e na outra um "I Love You Too", estranho, eu sei, mas ela gostava.

No fim, já era 1 da manhã e estávamos na rua ainda a caminho para casa. Era… bom, sabe? Não era perigoso, não era frio, não era cansativo. Estar com ela mesmo carregando várias e várias compras ainda era divertido. Sentir ela segurando meu braço como uma criança que precisa de proteção, tudo isso me fazia bem.

 

– Eu não quero que isso acabe nunca – murmurei.

 

– O quê? – perguntou Naomi.

 

– Não, nada não.

 

E ela sorriu. Um sorriso quente. Era isso que fazia o frio daquela noite se dissipar.

Após uma curta caminhada, chegamos ao seu prédio. Eu a acompanhei até o apartamento dela, não queria que subisse vários andares carregando tantas bolsas, mesmo que fosse usar o elevador.

 

– Bom, aqui estamos – comentei.

 

– Sim… – Ela estava tímida.

 

Paradas na frente de sua porta, nos encaramos por alguns segundos.

 

Heh

 

PffHahaha!

 

Começamos a rir. Era engraçado. Embora comum para casais, ainda éramos assim.

 

– Meninas, calem a boca! – A mãe de Naomi surgiu abrindo a porta nos dando um sermão – Os vizinhos estão dormindo.

 

– Desculpa. – Nos curvamos pedindo perdão.

 

Eu me despedi de Naomi ali. Mas depois de dar alguns passos no corredor, vi que ela ainda estava lá na porta, me olhando. Droga, e voltei correndo até ela, a beijando. A agarrei pela cintura e puxei para mim. Foi um beijo longo. Senti seu corpo esquentar e sua respiração ficar ofegante. Quando parei, não esperei falar nem nada, apenas voltei rapidamente para o elevador.

 

– Nós nos vemos amanhã! – gritei.

 

– Nos vemos… amanhã… – Ela era muito fofa.

 

Eu perambulei pelo monte como se fosse uma idiota. Um sorriso estampado na cara, totalmente corada. Claro, aquele tipo de situação era normal entre namoradas, mas eu tenho o direito de me sentir envergonhada. Aaaah, eu pareço uma garota daquelas séries de adolescente.

 

– Hoje… foi um dia incri… – E antes que eu pudesse terminar minha fala, senti algo furar meu pescoço. – Uhm? – Pondo a mão, senti algo grande e gelado.

Tinha um formato cilíndrico. Puxei com força e quando olhei, era algo como uma seringa de tubo preto com uma ponta de agulha. Essa merda entrou em mim?, pensei.

Ao olhar para o lado, notei algo escondido nos arbustos. Estava escuro, mas consegui notar dois pontos verdes ao fundo.

 

– Ei… – Tentei chamar a atenção daquilo, não estava pensando bem no momento, minha visão ficou turva, meu corpo pesado. – Ah, merda…

 

Logo aquilo que se escondia nos arbustos se mostrou: um soldado vestindo um traje preto com uma máscara estranha, semelhante àquelas de gás; ele tinha uma arma enorme, um fuzil. Ele se aproximava de mim devagar, até que atrás dele vieram mais dois, mais três, mais quatro. Era como um batalhão de soldados me cercando na ladeira.

 

– Alvo na mira, senhor – disse um dos soldados. – Não caiu após um disparo de tranquilizante de khaonita… – E como se recebesse ordens através de uma escuta, imediatamente mirou em mim. – Sim, senhor. – E todos os outros seguiram seus movimentos.

 

Iriam atirar juntos, parece que só uma seringa não foi capaz de me derrubar. Mas bem, apenas uma me deixou fraca daquela forma, então eu não deixaria que mais uma me acertasse. Eu corri na direção que haviam menos deles, tentei encontrar uma brecha. Mas os disparos vieram, um a um, todos atiraram em mim sem nem pensar. Pude sentir todas aquelas agulhas picarem cada parte do meu corpo. Foi um choque. 

 

– Não… – Caí no chão na hora, não conseguia mais mover um músculo. – Naomi…

 

– Alvo neutralizado – disse um dos soldados em tom de comemoração.

 

Não pude mais ouvir nada, minha audição já tinha ido pro saco, assim como minha visão e, posteriormente, minha consciência. 

Antes de desmaiar tentei criar uma chave, mas falhei. Droga... Não adiantaria, não haviam nem mesmo portas para fugir. Eu devia ter pensado nisso antes de correr sem rumo. Sou tãoidiota.



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