O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 2

Capítulo 69: Primeiros Recrutas

Depois de entregar a Espada Arcana de Salazar para Ragnar, Julie se despediu e deixou a Loja de Itens Mágicos para voltar às suas obrigações de instrutora da Red Crows. Ragnar e Sinistro continuaram conversando na bancada até o druida receber uma mensagem de Havoc.

“Você, online a essa hora?”

Ragnar retrucou na mesma moeda: “Estou de folga hoje. Você não trabalha durante o dia?”. Ela respondeu: “Também estou de folga”.

A conversa terminou com eles combinando de se encontrar na cidade. Ragnar ponderou sobre o que poderia fazer para matar o tempo até ela chegar.

— Sinto que meus dias nessa cidade estão chegando ao fim. — Decidiu ter uma conversa profunda com um NPC.

— Você está de partida para alguma nova aventura? — Sinistro semicerrou os olhos e continuou: — E a seita?

— Quis dizer depois disso. Quando essa situação acabar, seja por bem ou por mal, pretendo restaurar meu Santuário Druídico e delegar sua gestão a alguém de confiança. Preciso ir atrás de desafios maiores para ficar forte.

— Uau, não esperava por isso. Quer dizer que o rei dos Necromantes não é um desafio grande o suficiente? E quanto aos filtros solares, vais me deixar sem?

— Mergraff é uma grande ameaça por enquanto. Duvido muito que apareça algo maior do que ele por aqui durante um bom tempo. Sobre o filtro solar, fique tranquilo, tenho uma solução para isso.

No fim das contas, estava conversando sobre o metagame com um NPC. Era óbvio que Sinistro não iria entender suas verdadeiras intenções de precisar sair de Salem para enfrentar inimigos mais fortes e encontrar missões de nível mais alto.

O sistema por trás do jogo fazia de tudo para seus habitantes reagirem da maneira mais natural e não intrusiva possível. Havia uma máxima em Nova Avalon: era impossível fazer um NPC sair do personagem.

Ragnar relembrou das vezes que tentou “quebrar” um NPC. Primeiro fez o óbvio: disse na cara deles que estavam em uma simulação, que eram programas de computador e que tudo aquilo era uma simulação criada para satisfazer eles, os jogadores.

Só que por mais que tentasse, o máximo que os NPCs faziam era ficar confuso, repetir que não entendiam o que era dito e pedir aos jogadores se estava tudo bem.

Do outro lado da bancada do estabelecimento, Sinistro exibia um meio sorriso e balançava o copo de vinho na mão direita. Quando seus olhos se encontraram, ele levantou o copo e perguntou:

— Mais vinho?

Ragnar negou com um gesto de mão. O Vampiro esticou o pescoço em direção à entrada, e disse:

— Outra amiga sua acabou de chegar.

— Mas já? — Ragnar falou, olhando para trás.

Sinistro tirou um copo de baixo da bancada, o pôs sobre a mesa e o encheu com vinho. Havoc os cumprimentou, pegou o copo, mas não se sentou.

— Podemos sentar no lugar de sempre? — Havoc apontou para a mesa do canto em que costumavam sentar.

— Mas por quê? — perguntou Ragnar.

— Vindo para cá, recebi mensagens de alguns amigos meus querendo se encontrar.

— Vocês marcaram de se encontrar aqui?

— Não, claro que não — Havoc negou sacudindo a cabeça. — Eu falei para nos encontrarmos na cidade. Ainda não especifiquei o lugar porque queria confirmar com você antes.

Ragnar não se manifestou, preferiu cruzar os braços e ficar a encarando, até ela abrir o jogo:

— Tá bom, são meus antigos colegas da Pata Negra, eles querem se juntar a Ragnarok.

— Não, não dá pra confiar neles. Ainda mais depois daquele seu amigo nos entregar ao seu chefe lá no vilarejo. Quase perdemos tudo por causa dele.

— Eu sei, eu sei. Mas daquele grupo eu só conhecia o Malorn, agora é diferente.

— Diferente como?

— Eu sei que faz pouco tempo, mas ninguém lá soube do Zed desde… a humilhação. Todo mundo acredita que ele não voltará mais pro jogo, pelo menos não tão rápido. Portanto, a Pata Negra está sem cabeça por enquanto.

— Você confia nessas pessoas interessadas?

— Sim, todos foram bons amigos meus enquanto estive lá. Nenhum deles gostava do nosso líder.

— Vou confiar em você, então vamos entrevistar cada um deles lá — falou apontando para a mesa do canto. — O resto vai esperar aqui no balcão, e você irá chamá-los um por um.

— Combinado.

Sinistro os acompanhou até a mesa indicada por eles, limpou a superfície com um paninho e deixou uma garrafa de vinho de presente. Ragnar sentou-se de costas à parede, Havoc ocupou a cadeira à sua esquerda e falou após se sentar:

— Eles estão a caminho. — Havoc levantou o copo, deu uma mexidinha e bebericou um gole.

Ragnar aproveitou o momento para mostrar o presente do duque. Sem dizer uma palavra, largou a Espada Arcana de Salazar sobre a mesa.

— Uau! — Ela se empolgou, pegando a espada sem pedir permissão.

Como Ragnar havia largado a arma, o sistema permitia qualquer pessoa próxima ao jogador de pegá-la.

— Ela é linda, parece muito com a minha Lâmina de Salazar.

Ela soltou um gritinho e passou a ponta do dedo indicador sobre a guarda.

— Olha esse entalhe em formato de folha e esse acabamento de primeira.

Ragnar pendeu a cabeça para o lado, perguntando-se por que ela estava tão animada com uma espada. Seria ela uma fanática por lâminas?

Havoc desembainhou sua espada e, segurando a outra com a outra mão, as comparou.

— São muito parecidas, mas é nítida a superioridade do aço dessa daqui — disse balançando a espada de Ragnar. — Ragnar, obrigado, muito obrigado, fico te devendo uma.

— Ah, não… Havoc… ela não é um presente.

— Como assim? Então porque você me mostrou ela. Por acaso sua classe tem proficiência com espadas?

— É uma obra-prima de Bjorn. Vou usá-la de alimento para a minha lança quando chegar no nível 40.

A felicidade na face dela se esvaiu num piscar de olhos.

– Ah, tá, que papelão…. — Desviou o olhar, colocou a espada de Ragnar sobre a mesa e depois embainhou sua espada.

Um silêncio constrangedor se instaurou naquele canto da loja por quase um minuto, pois Ragnar ficou repassando aquele o momento em sua cabeça, achado mais graça a cada vez que lembrava da cara animada dela.

— Você achou que era um presente… — falou tentando conter o riso.

— Quero morrer. — No fim, Havoc acabou dando risada de si mesma.

Nos dez minutos seguintes, a conversa girou em torno do vexame recente e da batalha do vilarejo. Eles teriam continuado a conversa, mas Ragnar ouviu a porta ser aberta e o Vampiro recebendo os recém-chegados.

— Chegou sua hora — disse a ela.

Havoc se levantou e foi até a bancada, sumindo de vista porque o refeitório e a loja eram separados por uma divisória. Ragnar tentou ouvir o desenrolar da conversa, mas era impossível discernir muita coisa, ouviu apenas um:

— Malorn, pode vir.

Seguido pelo som de passos. Instantes depois, Havoc e Malorn apareceram e vieram até a mesa. Ragnar se perguntou se o feiticeiro sempre tinha aquele topete penteado para cima, porém se controlou e ofereceu ao entrevistado a cadeira do outro lado da mesa.

Malorn sentou e ajeitou seu vestido verde-musgo, ficando em frente ao druida, enquanto Havoc ocupou o mesmo lugar de antes.

— Vou pular o que não interessa porque já nos conhecemos um pouco. Soube que você foi o primeiro do grupo a largar sua guilda antiga para nos ajudar durante o evento. Por que vocês querem entrar na Ragnarok?

— Porque a Pata Negra era uma porcaria. A gente era manipulado para trabalhar de graça sob a justificativa de ser uma guilda séria que recompensa trabalhado duro e disciplina acima de tudo. Na verdade, depois que sai, minha intenção era ficar solo por um tempo, mas acabei decidindo dar uma chance a vocês porque gosto de jogar em grupo, e também porque sou um feiticeiro.

Ragnar sentiu firmeza na resposta, e gostou dele não adoçar o discurso com lisonjeios.

— Entendi. Vou ser sincero, apesar de tudo que passamos, principalmente no dia do roubo de ferro, eu gosto de você e acredito em suas intenções. Por mim você já é da casa, mas seus outros amigos, não sei não. Nós já fomos traídos por colegas seus uma vez.

— Você está falando do guerreiro que dedurou vocês lá no vilarejo. Vou ser franco, eu mal conhecia ele, só estávamos juntos naquela ocasião porque ouvimos rumores de uma possível invasão à vila, muitos dos outros jogadores presentes também ouviram esse rumor.

— De quem você ouviu tal rumor?

— Um morador numa vila vizinha.

Ragnar acenou, bebeu um gole de vinho e virou-se para Havoc.

— Você conhece ele bem mais do que eu, o que você acha?

— Eu ponho minha mão no fogo por ele.

Era tudo que precisava ouvir, Ragnar abriu o painel da guilda e enviou um convite ao feiticeiro em sua frente. Malorn aceitou na hora.

— Parabéns, seja bem-vindo à Ragnarok. — O druida levantou-se e o cumprimentou.

Havoc se adiantou e o acompanhou de volta à loja do estabelecimento, trazendo consigo um guerreiro na volta.

— Allen — Ele se apresentou estendendo o braço para um aperto de mãos.

Ragnar o estudou, usava uma armadura boa para alguém do nível 30. Seria uma boa adição analisando apenas os status. Então o respondeu apontando para a cadeira que deveria sentar.

O sorriso confiante do guerreiro se desmanchou com a recusa de seu aperto de mãos, dando lugar a um riso nervoso.

O druida começou com perguntas amenas: há quanto tempo jogava, o que mais gostava de fazer dentro do jogo e outras perguntas para criar um senso de segurança. Apenas depois fez as perguntas que interessava: porque saiu da Pata Negra; opinião sobre Zed; intenções na Ragnarok e coisas semelhantes.

E só depois, quando fez o guerreiro acreditar que estava terminando, finalizou:

— Algum histórico como Matador de Jogador e… já fez trabalhos de infiltração, sabotagem ou espionagem? Lembrando que… agora temos acesso à Pata Negra, portanto consigo saber se está mentindo.

Ele arregalou os olhos, virou-se para Havoc e balbuciou:

— N-não, na-nada, ela sabe.

Havoc acenou, confirmando. Ragnar enviou o convite, levantou-se e só então o parabenizou e o cumprimentou. Allen curvou-se, agradeceu e foi se juntar aos amigos na bancada.

As próximas três entrevistas foram com um conjurador, uma sacerdotisa e, por último, um ladrão tagarela. Ragnar sentiu firmeza nas respostas dos três, porém, continuou com um pé atrás.

Os cinco aprovados agora papeavam no balcão enquanto o vampiro limpava as vitrines da loja com um espanador.

Ainda na mesa, Ragnar perguntou para Havoc:

— Será que é muito cedo para expandir?

— Acho que não, mas não tenho experiência em criação de guildas.

A dupla levantou-se ao mesmo tempo e foram até os cinco membros novos, quando se aproximaram, a conversa cessou na hora.

— Mais uma vez, parabéns por passarem no teste e obrigado por escolherem a minha guilda. Eu estive pensando em, mais tarde, lá pelo início da noite, receber vocês oficialmente em uma festinha de confraternização. O que me dizem, posso contar com a presença de vocês?

— Claro — Malorn falou, acompanhado pela confirmação dos outros quatro.


Tá gostando dá obra? Tá odiando? Então deixa um comentário aí.

A obra também está na gringa, clique aqui dê uma moral lá comentando e deixando um review.


Discord | Apoia-se | Instagram | Facebook

PIX[email protected]

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora