O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 63: Crise no Portão Norte

Rextar e seus capangas estavam derrotados e, por algum motivo, o exército dos mortos parou de avançar desde que chegaram à Praça Central.

— O que você acha que aconteceu? — Julie perguntou enquanto corria pelas ruas do vilarejo.

— Não tenho certeza…, mas… chutaria que… estão se preparando… para… um grande ataque — Ragnar respondeu em forma de urso, esbaforido de tanto se esforçar em acompanhar o passo da amiga.

A dupla manteve o passo rápido, ganhando distância do exército adversário. Ao botarem os pés na última rua, avistaram uma multidão aglomerada em frente ao portão norte. Deveria ter mais de quatrocentas pessoas ali.

Ragnar gelou com a cena diante dos seus olhos.

O que aconteceu? Por que não estão evacuando?

Conforme se aproximavam foi ficando nítido o nervosismo e o pânico que acometiam a multidão. Os moradores se empurravam, berravam e imploravam enquanto os soldados tentavam acalmá-los.

Ragnar voltou à forma humana, deu uma boa olhada na situação e encontrou seus amigos e ursos de ferro próximos ao início da aglomeração. Na hora, Havoc virou-se para trás e acenou para a dupla. Reunidos outra vez, a espadachim resumiu o que tinham descobertos até então:

— Parece que tem um grupo bem grande lá fora matando qualquer um tentando fugir. Pelo que conseguimos apurar, a chance é bem alta de serem jogadores PK. Possivelmente da guilda Caminho da Aurora, mas não temos certeza, só uns poucos sobreviventes conseguiram voltar para contar o que viram.

— A culpa disso tudo é minha — Julie pôs a mão no rosto ao falar. — Se eu tivesse preparado o plano de evacuação desde o começo…

Seu lamento foi interrompido quando Ragnar a abraçou de surpresa.

— Está tudo bem, a gente dá um jeito — disse ele.

Julie se permitiu relaxar e focar no problema atual. O abraço foi rápido, um gesto que aproveitou o momento caótico e o fato dos Patas Negras estarem conversando entre si a poucos metros do grupo de Ragnar.

— Minha ideia é a seguinte. Eu irei sozinho lá fora espiar as forças inimigas que estão atacando quem está tentando fugir. Infelizmente, nossa amiga assassina morreu, mas eu tenho uma carta na manga. Se tudo der certo, saberemos em quantos e o quão fortes eles são.

Seus olhos encontraram os de Julie, ela se manifestou:

— Enquanto isso eu cuido do pessoal aqui. Não vai demorar para a Caminho da Aurora se reagrupar e voltar a marchar.

Ragnar anuiu com um aceno e se dirigiu aos seis ursos de ferro sobreviventes reunidos logo ao lado.

— Hardgart — dirigiu-se ao líder do bando. — Preciso pedir um favor. Nós estamos encurralados, então preciso que vocês fiquem aqui para proteger esse pessoal. Estou saindo em missão solo para ver o que está acontecendo lá fora, por isso estou delegando meu comando para ela — terminou apontando para Julie.

— Entendido — Hardgart falou.

Surpreendeu-se com o bom comportamento do urso, mas fazia sentido, estavam a horas lutando contra um inimigo que poderia ressuscitar alguém que ameaçava a existência do Santuário dos Ursos.

Antes de partir, Ragnar reuniu seus amigos, a Guarda Trovejante e os membros da Pata Negra para uma última conversa. O tempo era curto, por isso foi breve e comunicou a importância daquele momento. Informou a eles que sairia em missão solo, que Julie estaria no comando e que os mortos-vivos estavam chegando.

Não houve discordâncias, todos ouviram e concordaram, deixando-o calmo e confiante sobre a situação. Então era hora de partir. Ragnar avançou pela multidão, precisando empurrar e acotovelar cada vez mais e com mais força conforme se aproximava do portão fechado.

— Ragnar! Ragnar! — Ouviu Joshua, o prefeito, berrar seu nome.

Tentou encontrá-lo na multidão, mas acabou que ele o encontrou a poucos passos do portão. O prefeito respirava pesado, sua cara estava péssima, denotando nervosismo. Ele falou:

— É perigoso sair, há um grupo de assassinos lá fora.

— Eu sei — respondeu. — Só estou indo investigar.

— Que bom, achei que você iria tentar enfrentá-los. Ragnar…, eu sei que é questão de tempo até sermos cercados por todos os lados, mas precisamos resistir. Pouco depois da invasão começar eu enviei alguns soldados para os vilarejos e cidades vizinhas para solicitar ajuda.

Para um jogador comum esse fato poderia ser um sinal de esperança, afinal, pensando no tamanho dessa ameaça, era de se imaginar que as cidades próximas iriam se unir para repelir um inimigo tão poderoso.

Mas a verdade passava longe disso, porque para conseguir o apoio de uma cidade ou de um pequeno vilarejo era necessário provas da ameaça e uma reputação elevadíssima com o lugar para obter qualquer ajuda.

— Foi uma boa tentativa, mas duvido que eles virão nos ajudar.

Foi difícil dizer a verdade, e ela acabou tirando a pouca esperança ainda restando no semblante do prefeito.

— Não perca as esperanças, senhor prefeito. Estamos aqui para lutar até o fim. Prometo que faremos o possível para evacuar o restante da população.

— Obrigado, mas… estamos condenados.

Ragnar manteve-se firme, esperançoso, e munido desse ímpeto, ordenou aos guardas no portão.

— Estou de saída, abram o portão, por favor.

Ele não esperava ouvir guarda dizer:

— De jeito nenhum.

Ragnar o encarou, incrédulo e, sem que precisava dizer uma palavra, o guarda se justificou:

— Se abrirmos o portão eles virão nos matar.

Era só o que faltava, pensou.

O prefeito foi até o guarda e falou na cara dele:

— Abra o portão, agora!

Ele recusou sacudindo a cabeça, outros dois guardas vieram apoiá-lo.

— Nem pensar.

O prefeito berrou para que abrissem, mas eles se recusaram. Vendo que essa discussão ia a lugar nenhum, Ragnar assumiu a forma de aranha, espantando todos ao seu redor. Sem dar satisfação a ninguém, subiu a muralha, escalou a torre esquerda do portão e observou a escuridão além da muralha.

Nenhum sinal inimigo foi avistado nas proximidades, entretanto, era impossível enxergar alguma coisa além da silhueta da mata mais próxima. Mesmo constatando a ausência de inimigos nas imediações, ainda havia a chance de estarem sendo vigiados por algum caçador ou assassino habilidoso.

Por conta disso, Ragnar se afastou do portão e andou até a torre mais próxima à oeste. A situação ali não era muito diferente, os dois guardas pareciam nervosos e também se assustaram ao vê-lo em forma de aranha.

O druida continuou sua jornada em busca de um local mais seguro, e o achou na próxima torre. O lugar estava quieto, mal se ouvia o barulho da aglomeração no portão norte.

Ragnar desceu a muralha com cautela, avançou pelo mato raso, escalou até o último galho firme da primeira árvore, pulou para o tronco da próxima e foi avançando de árvore em árvore, sempre observando o entorno em busca dos assassinos.

Um ruído reverberou nas proximidades. Com uma rápida olhada na direção do som, avistou a ponta do chapéu de um caçador escondido atrás da próxima árvore.

Seria arriscado avançar para o galho em cima dele. Ragnar estava perto o bastante para um farfalhar forte das folhas chamar a atenção do inimigo. Por isso fixou uma teia no tronco em que estava e a usou para descer dois metros.

De cabeça para baixo, suspenso no ar e fixado à própria teia, começou a se sacudir para iniciar um movimento em pêndulo, ganhando força a cada iteração, e rezando a todos os deuses para o caçador não olhar para cima.

Ragnar calculou o salto, se impulsionou mais uma vez e se jogou contra o espião.

Ativar forma de serpente.

O caçador estava concentrado, espiando as proximidades, e só viu a cobra voando em sua direção tarde demais. Ragnar mordeu-lhe o pescoço com força e enrolou-se no tronco dele, prendendo os dois braços e aplicando a habilidade da forma animal Enrolar e Esmagar.

O caçador se debateu, jogou-se quatro vezes contra o tronco da árvore para tentar se livrar de Ragnar, mas o druida perseverou e continuou o mordendo no pescoço, arrancando de 10% a 12% de vida a cada mordida.

Quando o oponente estava para morrer, Ragnar notou que, além dos pontos de vida, a energia dele também reduzia.

Estou aplicando o efeito da arma? Isso é novidade, comemorou em pensamento, largando o alvo no chão ao finalizá-lo.

Sua felicidade foi cortada quando ouviu vozes nas proximidades, seguidas pelo ruído de passos e o farfalhar do matagal. Seu coração acelerou, a resposta inimiga foi rápida. Ragnar voltou a forma de aranha e escalou a árvore.

— Eu ouvi barulho vindo de lá. O novato não está respondendo.

Três jogadores se aproximaram do corpo do caçador.

Eram todos da Pata Negra. Ragnar perguntou-se o que eles estavam fazendo ali.

— Pode ter sido o druida — disse o cavaleiro do grupo. — É melhor avisar o chefe.

— Ele vai ficar maluco — disse o assassino à direita dele. — Espera, o novato mandou uma mensagem no chat da guilda. Ele disse que foi atacado por uma cobra.

— Uma cobra conseguiu matar ele? Vamos andar juntos daqui em diante.

Os outros dois colegas concordaram e, juntos, sumiram na escuridão.

Ragnar respirou fundo, o caçador que havia abatido nem desconfiou que ele era um jogador. Mas era compreensível, seu ataque foi rápido e fatal, o inimigo sequer teve tempo de analisar suas informações.

Enquanto pensava, deu-se conta de um detalhe importante: havia um grupo de Patas Negras dentro do vilarejo. Por outro lado, eles haviam os ajudados a repelir a Caminho da Aurora, o que indicava que os dois grupos não estavam trabalhando juntos.

— Mas então por que os Patas Negras estão aqui? — perguntou-se, falando baixinho.

De qualquer maneira, precisa avisar seus amigos no vilarejo.

***

Havoc avançou pela multidão, empurrou um coitado para o lado e deu uma pancada no nariz de Malorn com o pomo da espada. O feiticeiro da Pata Negra caiu de costas no chão, resmungou, levou a mão direita ao nariz e berrou ao ver o sangue em suas mãos:

— Que merda foi essa, hein, Havoc?

Ela parou na frente dele, se agachou e o pegou pelo colarinho.

— Quem deve explicação é você, traidor, achei que você era meu amigo.

O guerreiro da Pata Negra puxou Havoc para trás, afastando-a do colega feiticeiro, que disse ao se levantar:

— Não tô te entendendo, eu não fiz nada.

— Então porque o seu chefe e seus colegas de guilda estão lá fora cercando a saída.

— Fui em quem chamou eles — admitiu o guerreiro, primeiro olhando para Havoc, e depois se dirigindo a Malorn. — Desculpa, cara, mas eu entrei na guilda para espalhar o caos.

Um misto de emoções floresceu em Havoc, primeiro veio a raiva pelo guerreiro que uma vez chamou de amigo, depois, culpa por acreditar que seu bom e velho amigo tinha conspirado com o verdadeiro culpado.

— Você parou pra pensar que você também vai morrer por causa disso? — Malorn indagou.

O guerreiro deu de ombros ao dizer:

— Não me importo, o druida humilhou nossa guilda, ele merece perder.

Havoc precisou se conter para não fatiá-lo com sua espada.

— Para mim já deu, cansei — disse Malorn, fechando os olhos e pondo uma mão no rosto.

— Você não pode desistir ainda. — Havoc tentou animá-lo. — Nós precisamos de você.

— Calma, amiga, estou falando da Pata Negra.

Segundos depois, o nome da guilda Pata Negra desapareceu do perfil de Malorn.

— Você vai se arrepender – disse o guerreiro.

A conversa foi interrompida quando o ruído de dezenas de trombetas e tambores reverberou pelas ruas do vilarejo.

— Eles estão vindo! — Julie berrou.

Enquanto Havoc e seus colegas discutiam, a lutadora andava para lá e pra cá organizando a disposição das poucas tropas que tinha para defender o portão. Havoc sabia que não durariam muito tempo, seria um massacre completo.

Tudo graças a Pata Negra.


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