O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Enrico Ferr


A1 – Vol.3

Capítulo 55: Invisível

— Não.

…Olivia empurrou a porta com força, com a intenção de deixar seus visitantes plantados na neve. Mas a porta não se fechou. Magda usou o pé para impedir, olhando para a loira com seriedade no olhar.

— Acho que você ainda tá irritada comigo, né?

— Isso já deixou de ser raiva há muito tempo. A essa altura eu chamaria de autopreservação. Vai embora! — disse, forçando a porta contra o pé de Magda, que parecia uma pedra.

— Olívia, eu não viria aqui se não fosse importante. Ao menos escuta o que a gente tem a dizer.

— A gente? Quem são esses dois, Magda? Ou melhor, como vocês encontraram minha casa? Nunca te contei onde eu morava.

— A Liv me deu a localização da última vez que nos vimos. Acho que ela sabia que eu ia precisar de você no futuro.

— É sério? — A loira exclamou irritada, virando o rosto, como se falasse com outra pessoa.

“Eu não podia arriscar deixar você se isolar totalmente. Eu também guardei o contato dela, por via das dúvidas.”

— Se serve de consolo, ela pediu pra eu vir aqui apenas se fosse caso de vida ou morte — completou Magda.

— Engraçado, por que não parece que nenhum dos quatro estão prestes a morrer. — Olivia desistiu de empurrar a porta, mas ainda não tinha a aberto completamente.

— Mas a minha irmã pode, em breve. — Yohane interviu, com olhos marejados. — Minha irmãzinha foi sequestrada, Srta. Romanova. Ela só tem 11 anos, e você é a única que pode me ajudar.

Olívia baixou a guarda, encarando a sinceridade na voz trêmula da ruiva.

“Não esperava por essa… Eu sei que você ainda se culpa pelo que eu fiz, Olívia. Ajudar essa garota talvez deixe a sua alma um pouco mais leve.”

— Você vai usar isso contra mim? — A loira resmungou, apertando a ponte do nariz, de cabeça baixa. Ela abriu a porta relutante, permitindo que as visitas entrassem. — Eu não prometo nada… mas acho que posso ouvir o que você tem a dizer, garota.

O quarteto entrou na casa Romanova e Olívia os levou até a sala de estar, estendendo a mão em um pedido silencioso para que se sentassem no sofá. Mas quando chegou a vez de Tera se sentar…

— Não, cadela feia. Cães ficam no chão! — A anfitriã puxou a longa orelha da raposa.

— Eu vou te queimar até sobrar apenas os ossos, bruxa nojenta! — Tera rosnou.

— Não antes de eu usar seu focinho pra limpar meu tapete, deidade de araque!

No fundo da discussão entre bruxa e deusa, Adam discretamente olhou para Magda.

— Por que elas estão brigando? — ele perguntou

— A Olívia e a Tera nunca se deram bem. A Olivia tem zero respeito por divindades, e a Tera tem um grande desprezo por bruxos. Elas até se suportavam no início…

— E o que houve?

— A Tera comeu o salmão que a Olívia tinha comprado pro Dia de Ação de Graças… e depois fez xixi na cama dela…

Adam colocou a mão no rosto para não gargalhar na frente da dona da casa.

— Srta. Romanova. — Yohane chamou a atenção para si, com preocupação tomando conta de seu rosto.

Quando a ruiva chamou a atenção, Tera mordia a barra da calça de Olívia, que a lançou para longe com a perna e pigarreou, recuperando o foco.

— Me desculpe. Pode me dizer seu nome, garota?

— Yohane. Yohane Pride.

— Ta certo. Eu imagino que você está aqui por que a Magda disse que, de alguma forma, eu poderia ajudar a encontrar sua irmã, certo, Yohane? Uma ajuda que você não encontrou na América.

A ruiva assentiu, apreensiva.

— E eu posso perguntar por que você acha que as autoridades do seu país não podem resolver isso? Forçando você a vir ao outro lado do planeta me encontrar.

— Por que eu estou com receio de que isso não seja um sequestro qualquer. Desde que me tornei Caçadora, eu…

— Calma, deixa eu te interromper aqui. Como assim “se tornou Caçadora”? Humanos não podem entrar para Ordem. Me surpreende você sequer saber quem são eles.

— Eu sou uma nefilim pura.

— O que? — Olívia parecia mais chocada com a revelação do que o esperado. Quase assustada.

— E não uma nefilim pura qualquer — disse Magda. — Mostra pra ela, Yohane.

Pride fechou os olhos e, após respirar fundo, estendeu o braço e o incendiou. Chamas alaranjadas e vibrantes dançavam sobre o antebraço da jovem, que parecia nem sentir.

Olívia se afastou por um segundo. Aquilo a deixou trêmula. Encarando Yohane, seus olhos foram totalmente inundados por um brilho rosa, e o que ela viu em seguida fez seu queixo cair.

Como em uma espécie de raio-x espiritual, Olívia era capaz de aumentar sua sensibilidade mágica, a permitindo enxergar a aura de todos a sua frente. A silhueta de Tera, que estava sentada no tapete, era reluzente, quase cegante. As silhuetas de Magda e Adam eram sutis, como se houvesse apenas um traçado brilhante ao seu redor, uma coisa comum em seres com baixo ou nenhum potencial mágico.

Mas o que era sinistro era a silhueta de Yohane.

Ou melhor, a falta dela.

Em sua visão espiritual, Olívia era capaz de enxergar apenas auras, não corpos. E, naquele momento, Yohane tinha desaparecido, não havia quaisquer sinal de uma aura mágica, nem sequer um resquício.

— Isso é impossível…

Ela tentou repetir o processo, reiniciando sua visão espiritual, mas nada mudou. Yohane era invisível.

— O que é impossível? — A garota questionou.

— Como pode uma pessoa com esse poder não possuir uma aura?

Magda soltou um pigarro, encarando Olívia em um pedido indireto para que ela focasse na garota ruiva.

— Enfim… pode continuar, Yohane.

— Então… desde que me tornei caçadora, eu matei muitos monstros. Eu fiz inimigos, querendo ou não, e estou com medo de que eles possam ter sequestrado a Abigail para me atingir.

Olívia sentia a angústia na voz trêmula da jovem enquanto ela explicava seus temores.

— De fato, isso é alarmante. — A loira se sentou na poltrona ao lado do sofá, tomando um gole do chá.

— Exato… E depois do que houve em Londres, meu rosto e meu nome são mais do que públicos.

— O que houve em Londres? — Olívia perguntou, curiosa.

— Você não acompanhar o noticiário? — perguntou Adam, surpreso pela ignorância da loira sobre o assunto.

— Eu não tenho televisão.

— Meu Deus…

“Você pode ajudar essa menina. Você sabe que pode. Não seja uma megera ao ponto de negar ajuda a ela, Olívia” — disse a voz, quase implorando, trazendo de volta o foco a conversa.

Respirando fundo após um longo gole, Romanova colocou a xícara sobre o pires na mesa de centro e olhou para a jovem de sardas.

— Olha, Yohane, sinto muito pela sua irmã, de verdade. Eu nem sei o que faria caso algo assim acontecesse com minha priminha, Yelena. Mas eu abri mão da maior parte da minha magia após meu último trabalho com a Magda, há alguns anos. Atualmente, eu só consigo identificar auras e acender velas. — Ela formou uma pequena esfera de energia rosada nos dedos, a girando como se fosse uma moeda. — Não conseguiria rastrear nada à mais de um quilometro de distância com isso… me desculpa, eu te ajudaria se pudesse.

“Você é uma cretina patética, Olívia.” — A voz falou em tom decepção novamente.

— Entendo… — Yohane apertou as unhas nas coxas e olhou para o chão, tentando pensar no que faria a partir daquele momento.

— Olívia, posso falar com você lá fora? — Magda se levantou e foi até a saída, sem esperar uma resposta.

— Claro? Eu te levo até a porta. — Com sarcasmo, a loira seguiu Vernichter até o lado de fora da casa.

Com as duas sentindo o frio do inverno russo, Romanova desviou o olhar de Magda, já imaginando o que poderia vir.

— Me desculpa.

Mas nada poderia prepará-la para as palavras que saíram da boca daquela mulher de cabelo curto.

— Foi mal, acho que não ouvi direito. Por acaso você acabou de se desculpar? — A loira estava muito chocada com aquela quebra de expectativa.

— Eu sei que você mentiu pra Yohane. Sei que você só não quer arriscar soltar a Liv outra vez, mesmo que seja por um bom motivo. Eu sei de tudo isso, ainda me culpo por não ter chegado a tempo naquela noite para impedir ela… e mesmo assim vim aqui, jogar esse problema nas suas costas. Por isso, me desculpa.

— Uau… isso foi surpreendentemente sincero. — Olívia arregalou os olhos com outra surpresa. Não era do feitio de Magda falar daquela forma. — Olha, eu ainda sinto raiva sempre que olho pra você… pois sempre lembro daquela noite, e lembro que você podia ter a impedido… mas nunca te culpei pelo que houve. É como você disse, não quero arriscar. Eu já tenho que conviver com a voz dela na minha cabeça.

— Eu imaginei… mas tinha que tentar. Eu sei que tivemos nossos problemas, mas queria que soubesse que te considero bastante… como amiga.

Os olhos de Olívia se arregalaram novamente, eram muitas palavras inesperadas saindo da boca de Magda. Aquela que sempre foi a cruel e mal educada, que odiava se envolver com qualquer pessoa, estava ali sendo gentil como uma donzela.

— Se desculpando, falando dos sentimentos, ajudando uma menina certinha. Essa não é a Magda que eu conheço. — Ela cruzou os braços, rindo com surpresa no olhar.

Magda sorriu levemente, colocando as mãos nos bolsos.

— E agora você também sabe sorrir?! — A loira exclamou.

— Foi um longo inverno… querendo ou não, tudo isso é graças a Yohane. Não vou negar, tentei matá-la duas vezes. Ela me irrita com aquele altruísmo fantástico. Mas mesmo assim, ela salvou a minha vida e a da Astrid, sem pedir nada em troca. Por isso eu vou fazer de tudo para achar a irmã dela. — Magda olhou para Yohane pela janela, que chorava enquanto Adam tentava acalmá-la.

— Eu entendo... E sobre isso, parece que você finalmente encontrou seu irmão, né?

— Você percebeu?

— Qual é, vocês são a cara um do outro.

— Ainda estamos nos acertando. Ele não tem memórias de mim ou da nossa mãe, mas sabe que tem alguma coisa familiar em mim. Vamos resolver isso em breve.

— Espero que sim. E desculpa mesmo não ajudar a menina…

— Tudo bem, eu vou dar um jeito. Acho melhor entrarmos então, pra tentar acalmar ela.

E assim, as duas retornaram para dentro da casa, encontrando Yohane com os olhos fundos e avermelhados. Adam estava colocando um pouco de chá em uma xícara, oferecendo para a ruiva logo em seguida.

Magda respirou fundo, se preparando para dar a má notícia. Porém, antes que pudesse falar alguma coisa, uma voz exclamou do lado de fora, enquanto batia na porta.

Olívia!

— Tia Natalya? — Ela murmurou, reconhecendo a voz. Quando abriu a porta, viu a mulher de cabelos vermelhos. Suas bochechas estavam rosadas e havia um pouco de preocupação em seus olhos. — Está tudo bem, tia? — Perguntou em russo assim que a viu, pedindo para ela entrar.

Querida. — Ela olhou para Magda e companhia, surpresa, enquanto esfregava as mãos. —  Ah, desculpe. Não sabia que estava recebendo visitas.

Tudo bem, eles vieram de última hora. Essa é a Magda, Yohane e Adam.

Muito prazer. — Natalya acenou para os três, que responderam da mesma forma, com sorrisos desconcertados.

O que foi, tia? Você não devia ficar saindo nesse frio.

Eu não pretendia, mas não achei a Yelena lá em casa. Então imaginei que ela poderia ter escapado pra vir te atazanar mais um pouco. Ela está aqui?

O rosto de Olívia foi inundado por preocupação enquanto a voz em sua mente ecoava por cada neurônio.

“Eu avisei.”

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